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NOS BASTIDORES DO TEATRO

Ana Vitória Vieira Monteiro

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Nos Bastidores do Teatro
Ana Vitória Vieira Monteiro

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Documento da Autora

© 2001,2006 Ana Vitória Vieira Monteiro
maraka@zaz.com.br


Índice

Prefácio
Testemunho de Cura Pela Escrita
Vamos ao Que Interessa
Fui em Ritmo de Biografia


 

NOS BASTIDORES
DO
TEATRO

ANA VITÓRIA
VIEIRA MONTEIRO


 

PREFÁCIO

NO TEATRO OS MONSTROS OPOSITORES APARECEM IMPLACÁVEIS E É PRECISO VENCÊ-LOS ATRAVÉS DA ARTE DO ENCANTAMENTO DO CONTROLE DA EMOÇÃO.

 

Extrapolei a imaginação e aceitei os bombardeios de meu consciente vindos do inconsciente, suportando as tensões resultantes, mantendo as possibilidades por ele mostradas, perdida na vastidão do oceano de minhas idéias naveguei até o TEATRO, com a esperança de encontrar um novo porto seguro.

Escrever para o Teatro é um ideal que demorou muito tempo para ser alcançado, depois de muitos anos escrevendo e reescrevendo, rasgando papéis, apagando arquivos no computador, lendo e relendo, aprendendo e desaprendendo, enfim, numa longa iniciação nas terras dominadas por Dionísio, o deus da representação.

Depois de tantas autocríticas em relação à língua, achando que nada estava bom o suficiente, que tenho um péssimo português, errando os ss, os ch, me perdendo no mistério das vírgulas e dos acentos, senti que devia priorizar a idéia criativa embora me perca também nelas, estando longe de sofrer de graforréia, terrível doença que ataca pessoas levando-as a escrever de forma desconexa. Mas a vontade de escrever é maior que meus erros, e assim fui fazendo e refazendo tudo até hoje.

Mas ao retomar, caí na mesma crise; após acabar um texto acho sempre que faria melhor outro texto e outro e outro, assim, nunca faria texto algum pois sempre tenho algo para mudar. Até que cheguei à conclusão que escrever é reescrever. Passei a me acostumar com o que havia sentido no dia anterior, sem arrependimentos, aceitando os registros de minha percepção no dia em que escrevi, sem, no entanto, nada impedir que eu reescreva tudo a qualquer momento, apesar disso ter um limite, pois chega uma hora em que o texto deve ficar como está, se desejo muito mudar, escrevo outra peça, esta idéia me tirou da longa crise, salvando-me, entendi a importância do que a deusa I Ó nos primórdios dos tempos nos trouxe justamente o sentido do fim, o ÔMEGA, além das vogais e duas consoantes, não é sem razão que Dionísio deus da representação grita o seu nome todas as vezes que vem à Terra.

O Teatro, desde que o mundo é mundo, é o único lugar que está sempre em crise e prestes a acabar, no entanto, tem agüentado firme dia após dia, movido somente pelo extremo AMOR que todos, desde o autor, ator, porteiro e platéia dedicam a ele. Fazer Teatro exige um esforço diário, e nada garante que o indivíduo vai ser ou não reconhecido, ou ser aplaudido numa única apresentação sequer, mas os deuses precisam dizer amém em uníssono, é a mesma magia, mistério e magnetismo dos rituais sagrados.

Passada as enormes crises intelectuais silenciosas “sobre o que escrever” e como escrever, senti que a vontade aliada à imensa necessidade interna fez-me expressar através de um texto teatral depois que me tornei poeta. Sem medo de me expor, sem preocupar-me com estilo ou o desejo de fazer a GRANDE OBRA, ou a grande MERDA, obrar afinal não significa evacuar? Esta foi a palavra que ouvi os atores dizerem uns para os outros antes de entrar em cena e assim soube de seu verdadeiro significado que estava oculto até então. Portanto minha OBRA é MERDA, evacuada de meu cérebro, limpado com o papel de textos meus, transformando-me em ecologista de mim mesmo ao reciclar o material que seria jogado no lixo.

Minha capacidade para síntese é muito grande, tão necessária para um texto teatral, mas isso sem poesia nada é, pois é o que confere ritmo. Portanto só depois que a veia poética aflorou, em 1994, animei-me a produzir textos para o TEATRO, com linguagem não rebuscada, bem ao contrário, simples, refletindo meus lados românticos, político, espiritual e realista de ver o mundo. Tenho muitas idéias para transmitir, procuro fazê-lo da forma mais direta e clara possível, estou inteiramente comprometida com o que meus personagens.


 

 

TESTEMUNHO DE CURA PELA ESCRITA

 

Tomei coragem e fui à luta sem medo de me desnudar. Neste ínterim descobri que sofria de artrite deformante e que o meu fim seria triste, pois a doença não tem cura, fiz então um balanço da vida e disse para mim mesma, que desse no que desse, com ou sem doença, iria morrer como é destino do ser humano. Sendo assim escreveria tudo que tinha de escrever, e compulsivamente me atirei ao computador. Até que um dia vi um documentário sobre medicina falando de um médico americano que havia chegado à conclusão que escrever tragédias da própria vida resultava em 80% de chances da doença parar o seu trajeto infeliz.

No ano da virada do 2 000 quando meu filho Guilherme morreu de Hepatite, FUI fazer um exame geral, e pasma recebi a notícia da médica de que nada constava no meu sangue que indicasse a presença da artrite. Estava curada, se estivesse na Grécia antiga diria que Dionísio curou-me; sem duvida dedicaria, todos os meus escritos à sua sagrada sempre virgem mãe Seméle.

Louvado seja seu filho DIONÍSIO — Ió!, Ió!, Ió! —


 

 

VAMOS AO QUE INTERESSA

 

A peça fala da origem do mito feminino que deu nome à grande Floresta Brasileira: “AS AMAZONAS”.

A ação se passa em Cuzco, capital do Império do Sol, governado pelos Incas, chamados Filhos do Sol. Com a vinda dos primeiros espanhóis, em 1527, para a América Latina e a conseqüente chegada de uma nova linguagem e tecnologia mais avançada, o Império é abalado. Rumi, a última Imperatriz Inca, após o seqüestro e morte de seu marido o Inca Atahuallpa, é obrigada a tomar decisivas atitudes que mudariam todo o curso da história de um povo. Retira-se de Cuzco, levando consigo todos os objetos sagrados, entre eles o Disco Solar, passando pela Floresta Amazônica no Brasil, indo para a cidade secreta de Machu Pichu. O texto foi inspirado em fatos reais, fruto de intensa pesquisa, resultando numa obra épica reveladora, onde foi utilizada uma linguagem caracterizada pela harmonização de uma época passada com a época atual, revelando o passado e apontando o futuro.

As pessoas se surpreenderam com a história que apresentei – os últimos instantes da civilização Inca – ao comparecer no Theatro São Pedro que re-inaugurava para peças teatrais depois de anos desativado e na temporada do teatro OFICINA.

Pré-história de uma peça

O tema do “O Disco Solar” se impôs, quando pensei em escrever um livro sobre a minha viagem a CUZCO, no Peru. Apesar de ter escrito o livro, não cheguei a editá-lo, no entanto o tema INCA inspirou a peça. A partir disso iniciei uma grande pesquisa para embasar as idéias e descobri a atuação espetacular da esposa do Inca Atahuallpa na época da conquista espanhola, que foi responsável pela preservação de todos os objetos sagrados do Império, fato que me levou a centralizar a história nesta grande mulher a quem dei o nome de RUMI, pois seu verdadeiro nome é desconhecido, os sacerdotes são conhecidos como Amautas não se tem o nome deles e Filipilho que é um nome até hoje significa: traidor, nos Andes.

Andando pelas leis

Na época em que iria encená-la, uma outra peça minha “Brasil outros 500” estava entrando na Lei Rouanet, e a Diretora/produtora Creusa Borges me esclareceu que seria difícil aprovarem duas peças do mesmo autor. Acreditei e adiei o projeto para o ano seguinte. O “Brasil” foi aprovado com louvor. Mas como autora desta peça tive o choque dos choques, e nem fui em nenhuma de suas estréias até hoje, a peça continua em cartaz, espero um dia falar sobre isso sem chorar, daria tema para uma novela ou quem sabe um filme, os fatos que me envolveram me fez entender porque existem tão poucos autores teatrais no Brasil, mas como ensinamento foi ótimo, perdi as ilusões românticas que tinha “sobre ser dramaturga”.

No ano seguinte o “Disco” entrou nas leis; foi aprovado também. No entanto nenhum recurso financeiro veio através desta Lei, mesmo tendo produtor competente, o recurso financeiro para a produção veio dos patrocínios de empresas particulares e da Secretaria Estadual da Cultura, graças ao imenso trabalho do IMÃ Cia. Teatral, dirigida pela atriz Leona Cavalli, que produziu a peça.

LEITURAS

Fizemos várias leituras em minha casa a primeira foi no meu aniversário de 98, e outras tantas vieram depois, reuníamos eu e a atriz Leona Cavalli dez a quinze pessoas para estas leituras que se seguiam de comentários e críticas, todos concordavam que o tema era mais para cinema do que para Teatro mas ao mesmo tempo eu percebia força do inédito que o texto revelava sobre os Incas. Nós como brasileiros encenamos muita coisa européia mas quase nada sobre a América do Sul, estou convencida que temos muito para contar para o mundo. São tão vastos e ricos os temas que poderiam ser expostos no teatro, na televisão e no cinema que chego a não entender como isso ainda não aconteceu. Estas coisas eram discutidas por nós depois das leituras. Foi neste período que se deu a escolha do elenco.

Leituras públicas são precedidas de leituras solitárias onde me muni de extensa pesquisa sobre os dados que evidenciei na peça me precavendo contra qualquer erro histórico, pois a personagem Rumi parecia quase irreal. Com a ajuda do Joaquim C. Sales, comprei da Espanha o diário do Frei Cavajal que afirmava ter visto mulheres cavalgando em cavalos na selva amazônica, argumento que me bastou para fazer ligação com a rainha Inca e o desaparecimento do Disco Solar do templo do Sol.

Lamentavelmente coincidiu com o período em que meu filho Guilherme Gil Gomes estava internado no Hospital das Clínicas na ala de Cirurgia Experimental pois há dez anos portava o vírus da hepatite C e aguardando na fila a oportunidade de fazer um transplante de fígado. Mal pude participar dos ensaios e muito menos da produção, pois todo o meu tempo era para o meu querido filho. No entanto isso acabou influenciando no texto. “Um dia, vi Guilherme bebendo uma vodka eu disse: — Filho não te dei a vida para fazeres isso. – Ele respondeu: — A vida você me deu mas a morte é minha.”

Esta resposta suicida me impressionou tanto que não saía da cabeça, recebi quase como uma ofensa pessoal – pensei: Se o teatro é um circulo mágico, colocarei a frase do Gui em um dos diálogos do “Disco” entre o Amauta – o pai e Felipilho – o filho. Quando o ator a pronunciou pela primeira vez aconteceu o “esperado inesperado” – a frase saiu da minha cabeça e ficou impactante no palco; desde que os atores começaram a ensaiá-la nunca mais o Gui repetiu aquilo de novo, comecei a acreditar que o Teatro é um mistério e porque quase é uma religião.

Creio que as palavras existem porque precisam ser ditas por “alguém” coisa “viva com vontade e intenção” e quando elas são colocadas na arte teatral diminui a necessidade de serem ditas no dia a dia da mesma forma. O que leva à perfeita compreensão da razão das terríveis tragédias gregas onde os deuses matam e roubam sem piedade, com isso perdi o pudor de escrever coisas tristes, quase religiosamente comecei a desfilar os meus horrores. Ouvi seguidamente atores dizerem que o que é melhor sofrer no palco através dos personagens do que na vida, a não ser que se doe de tal forma ao personagem emprestando a voz o corpo para que ele viva, seja com absoluto AMOR, igual a vida, tudo que não é feito com AMOR resulta em DOR.

SUBTERRÂNEO DE UM TEXTO

Encenar uma peça exige acima de tudo força de vontade e determinação de todos, é quase um esquema de uma batalha, ou de um desafio de NO LIMITE onde o principal objetivo é chegar até o dia da estréia; até este dia chegar muitas lágrimas são derramadas, muitas noites sem sono, insegurança, e muita gritaria. Eu como autora me sinto como uma mãe, pois tudo é por causa do que escrevi, de colocar aquilo no mundo, literalmente a CULPADA.

Normalmente o autor quando não é diretor da peça ou produtor ou ator também, quase nada participa do processo, como é o meu caso que somente escrevo, então tive que confiar que o “filho” ia andar com suas próprias pernas, mas assisti alguns ensaios, me envolvi cuidando de não dar palpites, quase todos eram meus amigos pessoais e não se importariam. Em duas outras peças anteriores eu fui regiamente recebida, numa outra eu parecia uma intrusa então estava cautelosa mesmo. Mas O Disco Solar teve sabor de coisa nova, que não sentira antes, por ser a primeira peça que escrevi.

Veio para o elenco a convite da atriz e protagonista da peça, Leona Cavalli e com a minha sugestão o ator Sérgio Portella que já havia feito duas peças minhas, A VIZINHA DE NOÉ e CASCANDO O BICO, assim como participado da primeira oficina do CAMINHO DAS PEDRAS, e estivera na época da agonia da morte do meu filho, dando especial atenção, doando sangue e indo ficar perto de seu leito de morte, o que naturalmente me comoveu, mas acabamos por estremecer nossa amizade quando após a estréia no São Pedro teve que sair do elenco.

Foi uma loucura, tiveram que ensaiar tudo outra vez sem tempo para isso – o diretor Marcelo Drummond, igualmente convidado por Leona, que teve a mesma impressão que os cineastas que ouviram as leituras, que o ideal seria montar um épico com uma grande produção, mas ele inteligentemente começou a cortar as falas do Amauta e transferir o que podia para outros personagens mas isso pulverizou o personagem que tinha mais força cênica, quase acabou comprometendo também o texto como um todo. Loucura total pois ao mesmo tempo, que eles ensaiavam e eu reescrevia, entregava tudo no dia seguinte e depois reescrevia de novo. O que não dava para transferir foi dado para o ator, o Franklin de Albuquerque, que já estava no elenco como coro quase sem falas. Marcelo Drummont e a Leona Cavalli seguraram com rara maestria o emocional abalado de todos.

Sérgio Portella – Marcelo Drummond – Leona Cavalli

Depois, estrear na reinauguração do Theatro São Pedro em 24/03/98, o que me encheu de orgulho pois é o segundo teatro mais antigo de São Paulo. Tombado pelo Patrimônio Histórico – Condephaat.

Começam os ensaios no Teatro Oficina, igualmente tombado pelo Estado de São Paulo. Chega outro ator para o Amauta, João Signorelli, que já tinha feito papéis de mago e sacerdote em peças anteriores ele já achando o texto dividido em dois, Amauta e Amautinha, que já tinha adquirido força cênica. Mas o personagem Filipilho foi o que cresceu na medida que os ensaios avançavam, exigindo mais da Leona virtuosidade quanto atriz no papel de Rumi, a única personagem feminina. Notei que estes fatos são mais comuns no Teatro do que eu podia imaginar, soube depois de muitos outros casos, o que me deu um imenso alívio.

O Gui morreu no dia 22/2 aos 31 anos de vida, dedicamos a peça em sua memória, coloquei acrescentado no seu nome o pseudônimo de “Comandante Fênix”, pois ele dizia que iria ressurgir das cinzas como a mitológica ave e por entender que o TEATRO tem muito de FÊNIX, renascendo a cada instante e a cada novo trabalho. Quando voltei ao hospital depois que recebi a notícia por telefone de sua morte passei por um imenso painel que anunciava o DISCO SOLAR, criado por um dos mais talentosos cartunistas do Brasil, Libero Malavoglia, bem ao lado das Clínicas, tudo o que eu tinha sonhado e o que não tinha num só dia. Impossível falar do Disco Solar sem lembrar de Guilherme.

ESTREIAMOS DEPOIS NO TEATRO OFICINA

Agradeço a Deus esta peça estar em cartaz neste período pois foi a minha salvação emocional depois da perda de meu filho. Ao rever o meu texto encenado refleti muito sobre mim mesma pois ele fala de agüentar e resistir a uma grande perda, que no caso foi o império Inca, e no meu o meu filho. Revi a cada noite Rumi (a Imperatriz) falar em força por amor a um sacerdócio e eu sentia como se estivesse dando um recado para mim através de um personagem concebido por mim mesma anos antes, são mistérios da mente que jamais vou decifrar.

Temos vontade de encená-lo na Capital Inca em Cuzco no Peru um dia.

O ELENCO E PRODUÇÃO

Meditei sobre esta peça neste dias de dor pessoal intensamente, e amarguei ver o personagem Filipilho na boca do magistral ator Eucir de Souza dizer todas as noites: Você me deu a vida mas a morte é minha. O Inca foi feito por Fransérgio Araújo, comovente ver sair do papel as falas de arrependimento do Inca. Sentada no Teatro senti a força do ator dando vida ao texto, claro quase desnecessário falar de Leona Cavalli que produziu e atuou sendo a alma da peça, que teve a idéia inédita de usar um DJ como sonoplasta, o compositor musical Alex Antunes. A luz foi de Cibele Forjaz, enfim estava entre amigos. Marcelo que fez a direção desdobrou-se bastante, pois estava apresentando a Boca de Ouro no Rio de Janeiro, a peça estreou sem a sua presença. Ironicamente um dos técnicos do som e da luz se chamava Guilherme, coisas de Dionísio. Não posso deixar de mencionar Claudia Chapira, fez a concepção do cenário, e a EIDI que fez pesquisa de roupa de época minuciosa com os detalhes, que foi um capítulo à parte desta história, pois ninguém esperava que os Incas tivessem tanto requinte e bom gosto com as coisas que vestiam e se adornavam. O representante cultural do Peru em São Paulo nos emprestou um autêntico manto andino. E a novidade no meio teatral ficou por conta da Caru filha da Tata Amaral que criou e fez o vídeo usado na peça, com disciplina de profissional experimentada.

MÚSICA XAMÂNICA NO TEXTO

Coloquei na peça cantos xamânicos autênticos, como Disco Solar, e consegui compor o poema por sugestão do diretor Marcelo Drummont cantado por Felipilho com rara beleza pois me sentia traída pelo meu filho, afinal porque ele morreu antes de mim, neste espírito fui jogando tudo nesta peça dor revolta e esperança de sobreviver a tudo. O Império Inca caiu apesar de tudo mas o Disco Solar jamais foi achado e eu tenho sobrevivido também.

É difícil não me colocar naquilo que escrevo, sinto-me comprometida com tudo, cada linha, cada pensamento, pensei que ficaria presa no delírio da peça mas não, logo comecei a escrever outra e outra e outra. Na convivência com os atores com o ambiente de teatro creio que fui entendendo melhor como uma peça deve funcionar, mas o determinante para mim foi o fato de ser poetisa também pois o Teatro exige que sejamos breves e diretos, como só os poetas sabem ser. Resumir em poucas palavras um grande sentimento como: EU TE AMO.

O QUE NÃO FOI DITO

Muita coisa é deixada de contar, quer seja por discrição ou por pudor, tem coisas que no teatro não se falam ficam nos segredos dos camarotes dos bastidores, e que nem eu poderia revelar, o artista tem a tendência de não mostrar pequena coisas do cotidiano de um espetáculo que seriam até divertidas as pessoas saberem, principalmente aquelas que pretendem um dia trabalhar com Teatro. Mas seja como for uma coisa é certa para todos o espetáculo é o foco principal da vida, é o mundo todo mundo, e o Brasil tem tantos atores e pessoas que se dedicam a esta arte que nunca poderia imaginar que fosse assim. Tive sorte em ter de “cara” minhas peças encenadas de ganhar algum dinheiro com elas de ser reconhecida e que para o teatro idade não existe e Dionísio não barra ninguém.

Constatei por experiência própria que todas as pessoas que fazem teatro, a começar pelo autor até o crítico teatral, somente se ocupam do teatro pois as peças de alguma forma têm a ver consigo mesmos, com alguma lição de vida que irão aprender ao encenar e falar aquele determinado texto, no momento de suas vidas em que isso acontece.

O mesmo deve acontecer com a platéia, vendo ao vivo os deuses que habitam no inconsciente coletivo se manifestando em total plenitude, tornando-se todos cúmplices da TRAGÉDIA HUMANA.

NO TEATRO tudo é ao VIVO, de VERDADE no momento real da ENCENAÇÃO, com emoções que jamais serão repetidas em outro dia. Feito exclusivamente por quem teve o privilégio de estar presente naquele instante, pois amanhã será tudo diferente, mesmo que formalmente seja igual, este é o fascínio que leva o escritor a escrever para o TEATRO, o personagem adquire vida, carne e osso, fala, respira e são tão imprevisíveis!

A CRIAÇÃO DE UMA COMPANHIA TEATRAL

Formar uma Companhia de Teatro não é uma decisão que se toma facilmente. Mas quando desejamos escolher os trabalhos, a forma, quando e como os faremos, sem dúvida nenhuma está na hora de tomar essa iniciativa.

A Ímã Cia Teatral nasceu do encontro de Ana Vitória Vieira Monteiro e Leona Cavalli, dramaturga e atriz com a necessidade comum de encontrar uma forma pessoal e autêntica de expressão e a urgência de realizar projetos próprios. Inicialmente com as parcerias de Sérgio Portella e André Chiaramelli, imantados pelo mesmo objetivo, com os quais foram produzidos dois trabalhos: “A Vizinha do Noé” e “Cascando o Bico”, primeira direção de Leona. Atualmente fazem parte da Companhia o artista plástico e gráfico Rogério Cyrillo que também é responsável pelo designer do site e dos atuais trabalhos do Ímã; e o jornalista, poeta e locutor Fabio Malavóglia, com o qual Leona está desenvolvendo um projeto radiofônico-musical.

O TEATRO É UM TRABALHO DE EQUIPE


 

 

FUI
EM RITMO DE BIOGRAFIA

 

Aos 11 anos concluí que para escrever deveria ler muito. Minha avó,vendo o meu interesse, abriu sua biblioteca e orientou nas leituras; minha mãe escondeu certos livros que teimosamente eu lia escondido, eram autores franceses, Stendhal, Balzac, Allan Kardec; os ingleses, Agatha Christie, e a história de Roma em latim. Apaixonei-me pelas fábulas de Esopo, os gregos, Platão, Sócrates, Ésquilo, claro que gostei das histórias Bíblicas das parábolas de Cristo, e dentro de pouco tempo já tinha devorado todos os livros de minha avó e depois de seus amigos. Meu pai me presenteava com livros da editora do Pensamento todos os meses. Achando pouco FUI buscar nas bibliotecas mais e mais – nada escrevi, só li – depois de um tempo cheguei a conclusão de que jamais poderia escrever como aqueles MONSTROS SAGRADOS da literatura e que tudo que pudesse e não pudesse escrever eles já tinham feito – Desisti – Para mim eles eram heróis que por suas idéias e crenças tinham influenciado a maneira de ser da humanidade – mas uma pergunta ainda me martelava a cabeça: ONDE E COMO TINHAM IDO BUSCAR SUAS GENIAIS IDÉIAS? Impossível saber.

Quis fazer pintura, mas todos concordaram que aquilo não era uma boa profissão para mim. Entrei na escola de música, só para ilustrar a educação, mas desisti no oitavo ano. Fiz curso de teatro amador para lidar melhor com a timidez – na primeira apresentação descobri que o palco não era para mim – mas fiquei fascinada pela pronúncia correta das palavras de meus professores, que eram artistas de rádio-novela da Nacional. Meu avô e eu já tínhamos ouvido as novelas “O Dioguinho” e “Direito de Nascer”; eu ficava pensando como teria nascido uma idéia tão bem bolada como aquela, que nos fazia ouvir a história no dia seguinte e durante o ano todo, a ponto de ficarmos tristes quando acabava. Meus avós de vez em quando viam Derci Gonçalves, mas era só para gente adulta, tinha palavrão; eram fãs de Procópio Ferreira, devorei o monólogo “Minhas Mãos” e a peça “Deus lhe Pague”. Minha mãe todo o mês nos levava para assistir, eu e meus irmãos, ao Theatro Municipal e semanalmente às seções de cinema, adorava “Dr. Jivago” – que história bem contada aquela! – “Assim Caminha a Humanidade”, os nacionais, fiquei fã de Anselmo Duarte e Eliana e, finalmente, vi Derci Gonçalves! Jânio Quadros, o político, era a estrela do momento, minha avó dizia que era impossível transcrever na íntegra seus monumentais discursos, ficávamos horas vendo tanto ele quanto Carlos Lacerda falarem de improviso, e ela ponderava: “quem sabe muito, fala de improviso”. Não faltavam também as revistas “O Cruzeiro” e as crônicas policiais de Davi Nasser, lia jornais com crônicas de Nelson Rodrigues e durante anos fui assídua leitora das crônicas de Alfredo Block.

FUI fazer jornalismo,a coluna jovem do jornal de bairro “A Penha”, textos para rádios e free em propaganda; li mais, me envolvendo com grupos de discussão filosóficas e políticas; descobri que meu nome Vitória não foi me dado devido ao fim da guerra, mas porque meu avô se chamava VITORIANO, o que me fazia mais sentido.

Casei então com o radialista Gil Gomes e tive três filhos. Num dia anos depois, em que me sentia muito mal comigo e com o mundo, imaginei escrever uma peça teatral e fiquei surpresa quando apareceram uns LOUCOS querendo encena-lá – mas não tive coragem de ir adiante – mais tarde animei-me ao enviar um conto para um concurso no Paraná – surpresa: não passei, mas me enviaram uma linda carta, pedindo para não desistir – e eu desisti.

Para me expressar artisticamente andei pintando a óleo e ganhando alguns prêmios por isto; estudei astrologia e tarô; bordei tapeçarias; pesquisei histórias da vida de santos católicos para meu marido falar na rádio junto com o meu sogro, que toda semana me dava livros e mais livros raros de presente. A obra de Paracelso me caiu do céu! – Freud e Yung – devorei sua biblioteca recheada de autores alemães, portugueses e clássicos brasileiros, os Dicionários – meu marido ficou amigo do delegado Fleury – e acabou nosso casamento depois de 14 anos – Entrei em DEPRESSÃO.

FUI para o Peru OLHAR as RUÍNAS do IMPÉRIO INCA E DAR UM TEMPO – virar a vida, tomar juízo, fazer alguma coisa. Tomei Ayahuaska na praça de Cuzco sozinha e saí da DEPRESSÃO.

Quando voltei, aprendi a dirigir carro, entrei para tratamento psicológico por dois anos, com o médico psicólogo e contista premiado Humberto Mariotti, que me dedicou um de seus contos. Li tudo de Helena Blavatsky e depois fui fazer algo que me desse sustento. Lia coisas que estavam fora do circuito literário, como “O Tratado do Imperador Amarelo”, Buda, Krishna, e tornei-me terapeuta e acupunturista.

Abri o CEVIP Centro de Estudos Vitalístas Paracelso, uma clínica, e acrescentei no meu currículo a parapsicologia, então foi a vez dos autores alternativos, o não editado, apenas mimeografado.

FUI a milhares de encontros ALTERNATIVOS em comunidades nas montanhas, levando minha mãe e filhos juntos em divertidos acampamentos.

Li Reich, “Escuta Zé Ninguém”. Comecei a namorar, desisti, namorei outra vez, desisti e outra vez, os anos foram passando devagar entre uma feira alternativa (com tarólogos, adivinhos, monges, padres, astrólogos, psicólogos, médicos, escritores, poetas, comerciantes, cientistas e artistas) que fazia pelo interior de São Paulo e outra; vivemos assim 14 anos inteiros, fiquei até conhecida como empresária.

Achei alguém especial, que além de cozinhar muito bem era cartomancista. De vez em quando íamos aqui e ali tomar Ayahuaska – Os amigos começaram a editar seus livros, alguns me citaram enfaticamente outros dedicaram homenagens. Elaborei um jornal alternativo e por dois anos o editei, fiz apostilas, dei palestras, ensinei o que sabia... – pensei em parar para escrever, planejava mudar de casa pra praia até que o namorado morreu, se matou, em São Vicente, depois de saber que era portador de uma doença ainda incurável.

FUI para a Suécia DAR UM TEMPO andei um pouco pela Europa, chorei perto do Sena, levei violetas no túmulo de Paracelso, dei amendoins para os pombos em Veneza – voltei e meus filhos se foram, casaram e se mudaram. Fiz auto tratamento com a AYAHUASKA sob a supervisão de meus alunos e FUI curada daquela depressão; somente então foi que me toquei que fora a Ayahuaska do Peru que tinha me tirado da outra vez – contei para todo mundo. Acabei sabendo que muitos de meus amigos tomavam DAIME, comecei a visitar muitas igrejas, e eu nem imaginava que tivessem tantas em São Paulo.

A minha casa ficou grande demais, cheia de objetos que guardavam muita recordação – dei tudo e mudei de casa e o que não dei queimei em constantes fogueiras, no fundo do quintal – pela primeira vez na vida escolhia uma coisa somente pensando em mim – Quase todos as ilusões tinham caído por TERRA, estava um caco – saí me catando, literalmente falando. Achei que ia pirar de vez, nada me atraía, só existia à minha vista a eterna companheira – a SAUDADES.

Conheci um Xamã no sítio de uma amiga, que um dia, chegou em casa tempos depois trazendo 5 litros de AYAHUASKA escura, dizendo: “tome tudo sozinha” – FUI.

Guilherme se tornou pai e me tornou avó, mas a minha neta morreu 44 dias depois de vir ao mundo, mais SAUDADES – O Daniel logo depois casou e me deu três netas, mas penso muito na Nelcinha apesar dos poucos dias que viveu e ainda aguardo com ansiedade os filhos da minha querida filha VILMA.

Encontrava-me fazendo a minha auto-iniciação, sozinha, ao mesmo tempo em que me sentia como se estivesse caminhando para uma loucura irreversível; morria de medo que alguém percebesse, comecei a fazer o que faria se me sentisse normal – ver filhos e netos – telefonar para meus amigos – ir ao cinema, rezar, falar calmamente, pensar para falar, não brigar por nada, dizer mais vezes obrigada, por favor; não vendo progresso interno tive tempo ainda para um pequeno raciocínio “acho que exagerei, agora já é tarde demais, a cobra vai fumar”.

Ninguém me ajudava e nem arriscava qualquer palpite, minha casa parecia um mosteiro de tão silenciosa, afastei-me de tudo e de todos, até que não suportando mais, entreguei à sorte – “seja o que DEUS QUISER”. Comprei um CD de boleros de Plácido Domingos cantando com Patrícia Sosa, Pandora, Daniela Romo e Ana Gabriel, vi o longo inverno passar e a chegada da primavera, do ano que se arrastou para terminar.

Acordei um dia com um forte sentimento de alegria, e sem saber como me expressar senti que aquela vitalidade transformava-se em letras, então heroicamente peguei o papel e escrevi:

Acariciei a montanha

Como suave brisa da manhã

Como orvalho umedecei teus montes

Como rio fecundei tuas terras

Penetrei em teus mistérios

Explodi em tuas entranhas

Como o fogo de um vulcão

Sacudi teu corpo, te fiz viver

Cobri teus montes de neve

Perpetuei este momento

Imperceptível e suave

No segredo de um silêncio

Fiz-me brisa, me fiz orvalho

Para te tocar me fiz fogo

Agora, como águia

Faço do meu canto um grito

Para que despertes

Para que te lembres

Do orvalho da brisa e do fogo

O PRIMEIRO POEMA o BATIZEI COM O NOME DE “A MONTANHA”.

TORNEI-ME POETA.

FUI, definitivamente Fui.

Atravessei o rio!

Não tem volta!

Queimei a ponte!!!

COMEÇOU UMA NOVA VIDA

Vieram as poesias, não tinham hora nem dia, e se não as escrevesse logo esqueceria para sempre, com o castigo de conservar a lembrança da pedra, o que me era insuportável – A maioria destas POESIAS transformaram-se em cantos que canto com os meus encantados amigos – Senti que podia aliviar minha alma tão cheia de coisas que pareciam inúteis por não saber o que fazer com elas – Mas não me achava dona destas letras, afinal vinham do astral (digo astral por não saber definir corretamente o que seja, ou quem sabe não tenha ainda a coragem de dizê-lo) quase ou totalmente prontas – até que percebi que isso era simplesmente INSPIRAÇÃO!

FUI para Tocantins, na Ilha do Bananal, andei e andei, ouvi e vi os botos nascerem e cantarem e dormi com os jacarés às margens do rio Araguaia, conheci o último dos pajés Avá-Canoá vivo (estão em extinção, são menos que dez pessoas hoje, eram 65 na época).

Fiz um balanço por escrito de minha vida e no fim deste balanço comecei a escrever a primeira peça – de cara notei que escrever é reescrever infinitamente, (o que não é totalmente ruim quando se tem um computador) – percebi também que para ser autor de Teatro é necessário ser POETA, apesar de nem todos os poetas serem dramaturgos – Assistindo Bacantes no Teatro Oficina onde FUI levar Ayahuaska para o elenco, encontrei DIONÍSIO – o Deus do TEATRO – como essa peça é um rito de passagem senti que tive permissão espiritual para entrar – não vacilei – FUI conhecer as Leis que regem o TEATRO e a força que faz desta a mais bela ARTE da REPRESENTAÇÃO para distrair os DEUSES presentes na PLATÉIA, com a GRAÇA que canta e encanta o POVO esperando obter a cumplicidade de ACTOR – o sacerdote do AMOR.

FUI para Rondônia, Amazonas e o Acre – entender mais da Ayahuaska – dormi na rede ao lado de um caldeirão esfumaçante tendo como guardiã uma vaca branca que me olhou a noite toda, enquanto alguém cantava para a LUA, as ESTRELAS e o SOL.

Li e vi na época – textos de Antonin Artaud – Nélson Rodrigues – Gil Vicente – Eurípides – e muitos autores contemporâneos – Participei de algumas leituras de textos teatrais e cinematográficos.

Preparei-me para a primeira leitura pública do DISCO SOLAR – minha primeira peça – quase morri, mas ouvi as críticas – a segunda leitura – mais observações – terceira leitura – eu já pedia críticas – quarta leitura – meu aniversário – os atores dramatizaram as leituras – meu filho Daniel e sua esposa tornaram-se pastores de uma igreja cristã – Uma leitura dramática no palco com público e dois anos depois o espetáculo estava pronto – começaram os ensaios.

No dia 22 de fevereiro de 2.000 meu filho mais velho, Guilherme, morre devido a uma Hepatite C contraída dez anos atrás, aos 31 anos, no Hospital das Clínicas na ala de Cirurgia Experimental, agravado por um vírus hospitalar, antes de poder fazer o transplante de fígado que aguardava com muita esperança, mais SAUDADES – Transbordei minha dor para os versos, coloquei algumas das palavras dele no texto, que ficaram vivas na boca dos atores, dediquei a ele “O DISCO SOLAR” – que estreou no Theatro São PEDRO no dia 6 de abril de 2.000, com a presença de minha filha Vilma e os amigos transplantados do fígado, chorei pois Guilherme já tinha me dito que iria vê-la.

Durante esses anos FUI escrevendo outras peças, que estrearam antes desta peça: “Brasil Outros 500” – “Chico Mendes e o Encantado” – “A Vizinha de Noé” – CASCANDO O BICO – cada uma com uma história peculiar – uma parte de mim, que custou a sair e se expor aos olhos e ouvidos dos outros – SER EU MESMA.

Simultaneamente comecei a freqüentar estréias de autores amigos, a acompanhar ensaios, produções, leituras e a dar Oficinas de Dramaturgia.

Outras peças surgiram, escrevo e escrevo e vou escrevendo, pois FUI à busca do sonho e ele virou VERDADE.

DICA para quem vai começar.

ONDE REGISTRAR a sua peça : Biblioteca Nacional, onde se registram as peças: www.bn.br/index2.html

Depois vem a busca por recursos financeiros, é a hora de entrar nas leis- Ministério da Cultura – tudo sobre as leis: www.minc.gov.br

Mas para ter estes recursos você precisa saber quanto vai gastar com a montagem e divulgação, então é hora do produtor entrar em cena, para isso infelizmente não tenho dica, desculpe, e boa sorte, procure pessoas que já fizeram produção ou faça estágios em outras produções, isso vai ser muito bom.

Em seguida ou juntamente começa propriamente dito As Oficinas Culturais, que são nelas que a peça vai ser levantada, onde começam as leituras, os ensaios, teatros disponíveis mas, como fazer isso, resposta: www.culturapress.com.br


 

© 2001,2006 Ana Vitória Veira Monteiro
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