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Louvação pra Santa Catarina

Wolny de Carvalho Ramos


 

 

Louvação pra Santa Catarina
Wolny de Carvalho Ramos
[26-10-1917 – 7-4-1962]

Versão para eBook
eBooksBrasil

Fonte digital:
Digitalização da edição
dos Amigos de Wolny Ramos (1962)

© Ver nota de copyright


 

Esta edição é dedicada
aos “meninos do Wolny”:
Álvaro Irajá Damiano
(amigo de toda uma vida)
Irene Abramo
Marco Antônio Salomão (Salô)
e aos seus contemporâneos do Sarmiento.


 

Louvação
pra
Santa Catarina

Rapsódia Catarineta

Wolny Ramos


 

ÍNDICE

Ao Leitor
Nota Biográfica
LOUVAÇÃO PRA SANTA CATARINA


 

Wolny Ramos
Louvação
pra
Santa Catarina

Rapsódia Catarineta

 

“Lá vem a Nau Catarineta
que tem muito o que contar!
Ouvi agora, senhores,
uma estória de pasmar!”

***

“Sobe, sobe, meu gajeiro,
àquele mastro real.
Vê se enxergas terras d’Espanha,
areias de Portugal.”
(Do Cancioneiro Popular)

 

WOLNY RAMOS
RUA URBANIZADORA N.º 6
SÃO PAULO — CAPITAL

 

1962


 

 

 

AO LEITOR

Este livro, o último de uma série, é o primeiro, no entanto, que levamos às suas mãos.

Ele é, amigo leitor, o livro de uma Saudade. O livro da imensa saudade que Wolny sentia da sua terra natal — “a mais bonita do mundo”. Saudade de sua infância “correndo de pés descalços pela geada”, “guardando sapos recolhidos na lagoa” nos agasalhantes blusões de lã, pegando passarinhos a estilingue — “no que fui o melhor atirador do mundo”.

Saudades de sua juventude, nas loucas tropelias e no seu profundo entusiasmo pela vida, “nas longas noites de inverno em que o minuano assobiava nas janelas” e “a cama era fria demais para se deitar”. Saudades de suas lutas e decepções políticas, saudades das deusas loiras e morenas da mocidade distante. E, sobretudo, uma saudade imensa da “querência”, com seus prados verdes, dos pampas e dos pinheirais que seus olhos jamais puderam rever.

É também o livro da imensa saudade que temos daquele ser idealista e bom, dedicado, amigo e humano, que soube deixar no mais íntimo de cada um de nós a semente do imenso amor que dedicava a todas as coisas:

às flores do mato, que nosso preconceito alijava dos jardins;

aos animais abandonados, que colhia em nosso lar;

às crianças, entre as quais, era também outra criança;

aos jovens que amparava e procurava compreender e formar;

aos seus semelhantes, a quem sempre olhou com simpatia e procurou emprestar amparo e conforto;

à humanidade infeliz, que era preciso redimir e pela qual, o seu temperamento emotivo e doce de poeta se convertia em revoltado e estudioso dos problemas sociais,

à sua família, da qual a sua própria memória é esteio e incentivo, pois acima de tudo, soube ser Pai e Esposo.

Eis o autor, leitor, e o que representa o seu livro. Possa você nele encontrar a imagem de beleza e o sentimento de saudade, que ora lhe oferecemos.


 

 

 

NOTA BIOGRÁFICA

Nasceu WOLNY DE CARVALHO RAMOS, em 26 de outubro de 1917 na cidade de Lajes, Estado de Santa Catarina, e segundo suas próprias palavras — “de família de origem paulista: os Ramos, de Bananal e os Carvalhos, não sei de onde. Os Carvalhos, ao que parece, de remota origem judia de Portugal, e os Ramos de origem mourisca, da Espanha, que se transferiram para o Brasil nos tempos coloniais, como cristãos novos, em busca de liberdade”.

Fez seus estudos primários na sua cidade natal, os estudos secundários em Curitiba. Completou sua formação universitária em São Paulo, onde se licenciou em Geografia e História pela Universidade de São Paulo, em 1947.

Como professor, iniciou suas atividades no Colégio Estadual “Monteiro Lobato” em Taubaté. Foi Vice-Diretor dos Ginásios Castro Alves e Arihangüera, o primeiro em Caçapava, o segundo, na Capital. Como Diretor, dirigiu os ginásios de Palmital e Pompéia e organizou e dedicou seus maiores esforços no sentido de dar uma mentalidade consciente e progressista aos jovens do Colégio Estadual “Domingos Faustino Sarmiento”, o qual, vaidosamente, considerava sua obra e aos alunos “os seus meninos”.

Estudioso de Política, História e Religião Comparada, escreveu várias obras, as quais não pôde, e ora passamos a editar. “Louvação pra Santa Catarina”, seu último e talvez o mais belo de seus livros; Santa Filomena — Ex-Virgo, Estudo de História do Brasil, Apontamentos sobre o Velho Testamento, Estudos sobre Educação, Contos e outros artigos.

Uma tragédia levou-o, inesperadamente, de nosso mundo, a 7 de abril de 1962. Resta-nos o eco de sua inteligência, os seus princípios, a sua obra inédita, que passamos a publicar.


 

 

 

LOUVAÇÃO PRA SANTA CATARINA

 

Introdução

 

Santas catarinas existem muitas. Em primeiro lugar tem Santa Catarina, moça linda e muito sabida, que morreu virgem e martirizada debaixo de um imperador romano qualquer. Tem a Santa Catarina sueca, virgem apenas, não mártir, filha daquela famosa Santa Brígida que tinha um crucifixo falante. Tem a Santa Catarina de Bolonha, virgem franciscana de 2.a ordem, que é padroeira das graciosas costureirinhas de Paris. Tem a Santa Catarina de Gônova, viúva linda que teve a satisfação de ver morrer o seu infiel esposo, e foi procurar — fora do matrimônio — as alegrias que não encontrara no seu infortunado casamento. Tem a Santa Catarina de Lima, virgem dominicana de 2.a ordem, porém muito linda, que desde os sete anos se desposara com Jesus Cristo, por um voto de perpétua castidade e que, durante oitenta dias, só se alimentou do corpo de Jesus. Tem a Santa Catarina Labouré da Medalha Milagrosa, que muito amou ao seu anjo da guarda, um rapazola imberbe, de cabelos compridos, cacheados, louro de olhos azuis, terno, muito lindo e afrescalhado, virgem canonizada por Pio XII, a pedido — dizem, da irmã Pascoalina, que também era virgem, — dizem.” Tem a Santa Catarina de Ricci, virgem que se venera no Prato, contemporânea e amiga de S. Felipe Neri, favorecida com os estigmas da Paixão de Cristo, embora não passasse de uma virgem dominicana de 2.a ordem. Tem Santa Catarina Tomás e tem, finalmente, SANTA CATARINA minha terra amada, Estado do Brasil, maravilhosa, pequenina mas gloriosa, a mais importante unidade da Federação Brasileira, — que sou catarinense de Lajes, embora não goste de o dizer — por ser deslogio todo o vitupério em boca própria.

—Duvidais? Pois olhai num mapa do Brasil e vereis toda a importância do meu pequenino Estado responsável — ele sozinho — por toda a unidade brasileira. Lá está ele segurando pelas costas o Rio Grande do Sul, que sempre foi meio largado, e agüentando nos seus ombros fortes todo o peso da nossa grande pátria. Arrancai-o de lá e vereis — soltar-se o Rio Grande — e desmoronar-se o Brasil num monte de cacos coloridos. Daí a importância daquela virgem alexandrina, moça linda, padroeira do Estado mais lindo e mais importante do Brasil.

—Santa Catarina, saravá!

De Santa Catarina tudo o que se sabe é muito incerto. Sabe-se que era, ou melhor — que é muito linda nos seus 18 ou 19 anos de idade, com a coroa de Princesa que lhe orna a testa e os seus 94 mil e tantos quilômetros quadrados, seus 2 milhões e tantos mil habitantes, seus campos, suas praias, suas florestas, suas cidades — Lajes em primeiro lugar, o antigo Desterro, Blumenau. Joinvile, Xapecó e o leite de seu seio, vinhos de Urussanga, de Videira e Caçador, irmã do gaúcho valente, — anita heróica, esposa de Garibaldi; amiga do Paraná e que, em certa ocasião, brigou com sua vizinha argentina por uma questão de terras missioneiras, e com o Paraná — briga de irmãos — por causa de umas palmas.

Santa Catarina nasceu e viveu em época incerta, filha de pai incerto, rei de um país incerto. Morreu sob um imperador incerto. Foi, enfim, mártir incerta, virgem que é preciso acertar.

—Santa Catarina Incerta, saravá!

A história que se vai ler é também incerta, baseada em documentos incertos, o Martirológio Romano, o Missal, o Flos Sanctorum, as inúmeras “biografias” que dela nos dão os fiéis e incertos sacerdotes da incerta Santa Madre. E ainda nas recordações e saudades incertas de minha infância e da minha juventude incertas, nas minhas andanças incertas e amores mais incertos pelas coxilhas do pampa lajeano, pelos quintais largos dos vizinhos colhendo butiás e guabirobas, caçando passarinhos e pelas noites de luar, junto ao mar — em Florianópolis — pecados pequeninos, de mãos dados com a moreninha e, maiores, pelos bailes populares do Vale do Itajaí, dançando coladinho com loiras donzelas alemãs... E enormes, nas noitadas impuras de empernadas clandestinas...

—Santa Catarina, saravá. Mil vezes, saravá!


 

I

 

Filha de Costo, bondoso rei da Cilícia e Sabinela, Santa Catarina — princesa samaritana — a mais formosa donzela de seu tempo, foi nascer em Alexandria do Egito, não se sabe como. Mas o fato — atestado pelo Martirológico, documento que não se pode alterar e do qual é pecado duvidar — é que assim aconteceu.

Costo seu pai, de quem era o orgulho e a felicidade, procurou dar a Catarina a melhor e mais apurada educação. Assim, rodeada de ótimos e sábios professores que lhe enriqueceram o cérebro e o coração, Santa Catarina freqüentou a famosa Biblioteca de Alexandria — que já não mais existia, incendiado que fora pelo fogaréu dos amores de Cleópatra e Marco Antônio. Dotada de uma inteligência tão grande quanto a sua beleza, que era tão grande como jamais existiu no mundo, aos 17 anos Santa Catarina já conhecia tudo das ciências e das artes gregas e egípcias: filosofia, astronomia, matemática, magia, ciências físicas e naturais, quiromancia, poesia, geografia, geometria, música, história e muitas línguas, hebraico, aramaico, grego, espanhol, armênio, latim, russo, inglês, sânscrito, alemão, francês, português, esperanto e volapuk.

Só não conhecia Teologia, felizmente, que era pagã; e o Amor, infelizmente, que era Virgem. Mas era linda. Tão bela, que a sua beleza era cantada em todo o mundo por bardos que nunca a viram. Sua fama encheu o século, despertando o desejo de príncipes, monarcas e aventureiros, aspirando todos aquela coisa que, por delicadeza e respeito, geralmente se diz ser a mão. Todavia Santa Catarina não queria se casar. Orgulhosa de sua beleza e vaidosa do seu saber, não achava que existisse no mundo aiguém digno de partilhar com ela a mesma cama. Por isso, entre gregos e troianos, entre gaúchos e paranaenses, ficou com nenhum, fiel a si mesma e à sua liberdade e, embora a todos ame, a nenhum concede os seus favores...

Compreendendo que nada mais tinha a aprender dos livros e sábios de Alexandria, partiu um dia para a Armênia e veio se encostar na América Latina, a ver se aprendia mais no palácio do seu pai.

—Santa Catarina Ingênua, saravá!


 

II

 

Ali viveu como vivera em Alexandria. Estudando e aprendendo sempre mais. Nada porém de Amor ou de Teologia.

Mas era já velho o seu pai, e desejava ter um genro a quem transmitir o seu trono e a sua coroa, e um netinho com quem brincar. O leitor inteligente já percebeu que Costo queria casar a filha.

—Minha filha Catarina, — disse-lhe certa vez — precisamos conversar, saravá.

—Saravá, Costo meu pai. Fala que eu escuto.

—Estou ficando velho, minha filha. Não viverei muito tempo...

—Mas papai...

—Deixe-me falar, não me interrompa. Quero te dizer que não terei sossego enquanto não casares. Desejo um genro para rei do meu país e um neto para brincar comigo.

—Mas...

—És famosa e bela. Inúmeros príncipes te desejam e não te será difícil, saravá, escolher entre eles um que te agrade.

—Impossível, meu pai. Quem há tão digno de mim? Tão belo e tão sábio? Sei que sou bela, imensamente bela, e sábia — extraordináriamente sábia.

—Concordo, filha, concordo. Sei que és diferente e que é impossível encontrar outra pessoa como tu. Mas... saravá, para dormir, saravá, com uma mulher, saravá, — e fazer-lhe um filho, saravá, não são indispensáveis tais qualidades, saravá. O caso é que tens de escolher um marido, saravá.

—Está bem, meu pai. Concordo que um homem me possua, saravá, e que te dê um neto, fazendo em mim um filho, saravá. Mas exijo que se procure um homem tão belo e tão sábio como eu, saravá.

—Pois bem, minha filha. Mandarei apregoar a notícia por todos os reinos deste mundo.

—Saravá meu pai. Muito obrigada, disse a princesa despedindo-se para recolher-se aos seus aposentos cheios de livros, aparelhos e retortas.

Evidentemente aquilo era um artifício da jovem, bela e sábia Catarina, que bem sabia não existir no mundo alguém capaz de preencher aquelas condições. Na realidade Santa Catarina não queria se casar. Preferia continuar pura como estava, embora apertada, ensanduichada entre dois belos rapagões: O Paraná forçando-a pelo norte e o Rio Grande empurrando-a pelo sul, tendo ainda o Atlântico todo azul e verde, carinhoso e malicioso a beijar-lhe a face direita, e um gaúcho argentino bolinando-a discretamente pelo flanco esquerdo. E Santa Catarina, de pele arrepiada de sensualidade, e fremente na beleza ondulante dos seus trigais beijados pelas brisas, esmagava entre os seus dedos longos e afilados o sangue de suas uvas, oferecendo vinhos pros paulistas e cariocas, ao mesmo tempo em que se lhe eriçavam os pêlos macios dos seus pinheiros em taças abertas para o céu, pedindo as carícias das chuvas de verão.

—Santa Catarina Bela e Pura, saravá!


III

 

Algum tempo depois, começou o desfile dos que pretendiam conquistar-lhe a beleza e a fertilidade. Foram inúmeros os que se apresentaram na passarela. Os primeiros foram uns espanhóis sorrateiros, negaceadores, a la fresca, interessados apenas em caçar algumas aves, diziam, naquela, como então se chamava, Costa dos Patos. Mas logo veio Pero Lopes, irmão de Marfim Afonso de Sousa, moço valente a quem D. João III, de Portugal, quis doá-la em 1533. Passou em seguida, em 1541, o garboso espanhol de penacho D. Alvar Nuñes Cabeza de Vaca Adelantado do Paraguai, que de tão apaixonado e quando se viu refugado, quis tomá-la à força com o auxílio de outros heraldos de Castela. E vieram piratas franceses, holandeses, ingleses e mais espanhóis ousados, sem que contudo conseguissem estabelecer-se nas suas costas. Mais sorte contudo tiveram os paulistas vicentinos, a quem de início Santa Catarina pareceu dispensar alguma preferência, e permitiu-lhes umas tantas liberdades:

De um beijo que lhe deu na testa Manuel Lourenço de Andrade, em 1658, nasceu o porto e a Vila de S. Francisco, quieta e parada na beleza das suas igrejas e casas antigas, gostosa de lagostas e camarões insuperáveis. Do beijo de outro vicentino, Francisco Dias Velho, que lhe beijou a flor do ventre, floriu Nossa Senhora do Desterro, Florianópolis da ponte linda e de fala cantada, cartão postal colorido de morros, baías e praias maravilhosas, de palmeiras se acabando na direção do pólo sul, de marinheiros pelas ruas e nobres canhões antigos espalhados pelas praias ao longo de fortalezas arruinadas; do Forte de Santa Cruz, cheio de fantasmas históricos, baluarte republicano de 93; — Florianópolis morna, sensual, malemolente em noites morbidamente preguiçosas, estendida na areia de um mar verde que lhe lambe os pés.

De um beijo de Brito Peixoto, nos pés de Santa Catarina Virgem e Gloriosa, brotou Santo Antônio dos Anjos da Laguna, modorra e heroicidade combinadas, o langor das suas águas quentes e salobras com a energia e a decisão dos “barrigas-verdes” de Rafael Pinto Bandeira, arrasando Santa Tecla e afastando, por desfastio, todo um meridiano — o de Tordesilhas — para conquistarem, troando arcabuzes, todo o Continente de S. Pedro do Rio Grande do Sul! — Pátria de Anita, Heroína de Dois Mundos, Hetaíra da Liberdade, que incendiou um Garibaldi, mais do que este pôde derrotar um Papa!

—República Juliana, salve!

—Irmão gaúcho de Piratini, saravá!

Mas não só pelas suas costas permitiu Santa Catarina aos paulistas as suas carícias superficiais. Pelas lombas do planalto deu-lhes oportunidades de ousadias maiores, e quase consentiu que um sertanista, Antônio Correia Pinto a deflorasse quando fecundou Lajes ao pé do Morro Grande, às margens do Rio Cará, pequenino, de pedras polidas, enorme porém na saudade dos moleques e dos piás que nas suas águas cristalinas se banharam ou procuraram os ninhos longos dos martins-cererês. Histórias velhas de tesouros jesuítas e das “Minas do Arzão”, numa cidade que explodiu para o progresso, matando as pretas velhas contadoras de causos, contos velhos como o Egito, de uma beleza singular — velhaquices de Pedro-Malazarte, estórias apavorantes do “tinhangue”, o capeta na língua dos cainguangues, dos bugres botocudos e coroados, da mula-sem-cabeça, do mão-pelada e das almas penadas... Lajes da igreja gótica primitiva, castelo de cristandade, a anunciar pelos seus sinos grandes — dos maiores do Brasil — até 20 léguas de distância, o toque alegre que a gurizada acompanhava cantando:

“Meio-dia,

panela no fogo,

barriga vazia.

Macaco assobia,

fazendo careta

pra tia Maria”.

Lajes da Coxilha Rica, “Princesa da Serra”, a mais bela cidade do mundo!

—Correia Pinto, saravál

—Irmão paulista, saravá!

E assim desfilaram príncipes riquíssimos, belos, sábios e fortes como os garanhões e os machos que os de Curitiba vinham buscar nos Campos Novos, ou em Curitibanos, para a feira de Sorocaba. Monarcas poderosíssimos. Mas, um a um, Santa Catarina os ia recusando. A todos. Ninguém lhe entendia as charadas, os enigmas, as adivinhações. Porém, Costo, seu pai, foi percebendo o ardil e chamou-a para repreendê-la:

—Não devias fazer assim, minha filha. O último candidato, por exemplo, era jovem e belo, riquíssimo e gentil. Um tanto afeminado, é verdade, o que confesso não me agradou. Mas assim mesmo era um bom partido.

—Mas era um pobre de espírito, meu pai.

—“Bem-aventurados os pobres de espírito, minha filha, pois deles será o reino dos Céus”, já o disse alguém, não me lembro quem.

—Taí, deixa-me anotar essa frase, que eu não conhecia. É idiota, não há dúvida, mas é linda.

—Na realidade, minha filha, tu não queres casar e imaginaste esse artifício pura me enganar.

—Casar-me-ei, meu pai. Um dia eu me casarei, quando surgir o candidato que preencha as minhas condições.

—Mas esse candidato não existe!

—Existe, sim, e um dia há de aparecer, hás de ver.

—Não acredito, minha filha. Não creio e já começo a ter a certeza de que morrerei sem um neto para me fazer de cavalo e de palhaço.

Grossas lágrimas apontaram nos olhos do velho e bondoso rei. Mas Santa Catarina era durona e não se comoveu, pois estava disposta a esperar até o fim dos séculos, se necessário, o desencanto do Cerro do Jarau, onde — suspeitava — existia o príncipe dos seus sonhos.

Mas foi então que ela teve a sua primeira surpresa, e que Catarina começou a temer pela perda da sua preciosa virgindade. Ela descobriu em si mesma o medo do Homem. De Homem propriamente, não. Mas do Amor, e mais particularmente, do objeto e instrumento do amor, daquela coisa misteriosa, alma e arma dos homens, bicho feio e caprichoso, violento e cruel...

Santa Catarina sentia que os rapazes do norte e do sul, de leste e do oeste, começavam a se impacientar. E, o mais grave: dentro de si mesma ela sentia algo estranho e indefinível começando a crescer, algo que a preocupava, dava-lhe ardores e ao mesmo tempo uma certa angústia feita de prazer e dores. Santa Catarina chegara aos dezenove anos, ao tempo justo dos amores. E Santa Catarina tinha temores.

—Santa Catarina Temerosa, saravá.


 

imagem

Irmão paulista, saravá!


 

IV

Havia no reino um velho eremita vivendo tolamente, em penitências e orações, no deserto. Ananias, se chamava. Conhecido e respeitado em todo o reino, pela sua imbecil sabedoria e estúpida santidade. Nascera em Não-sei-o-que do Supucaí. Vestia-se de um camisolão como o “Monge” João Maria, de verde, e por onde ia, levava sempre uma besta letra grega pregada num braço mecânico a levantar-lhe automaticamente toda vez que um louco lhe gritasse: “Heil-auê.

Em certa ocasião, deixou o tonto Ananias o seu deserto e veio anunciar a Santa Catarina o noivo das suas aspirações.

—Que se apresente, respondeu-lhe Catarina.

—Não poderá fazê-lo. Todavia te digo que é o mais belo e o mais sábio dos homens, ó bela Catarina.

—Como hei de vê-lo, então?

—Basta que, no recesso do teu quarto, à noite, quando todos estiverem dormindo, dirijas uma prece a uma virgem chamada Maria, pedindo-lhe: “Senhora! Mostrai-me o vosso filho.”

A bela e sábia Catarina compreendeu imediatamente que era um louco o tal de Ananias; apenas um espírito exaltado e perturbado pelo fanatismo cristão. Mas tão ridícula era a proposição db católico eremita, que Catarina não pôde evitar explodir-se em gargalhadas.

Algum tempo se passou e Catarina esqueceu o incidente. E os candidatos continuavam a desfilar: O Sargento-Mor Francisco de Sousa Faria, em 1727, estabelecendo-se no Morro dos Conventos e ocupando a Barra do Araranguá. D. Pedro Ceballos, em 1777, novamente um espanhol, general de 9.300 homens para despojá-la pela força, mas que foi finalmente e definitivamente rejeitado. E ainda o ciumento irmão Paraná, nos começos do século XX, querendo conter o crescimento da jovem — então abrindo-se em toda a plenitude de sua glória de mulher fértil e exuberante — esforço inútil, que Santa Catarina expandiu-se pelas terras de S. Bento, pelas margens do Rio Negro, conquistou metade do Contestado, vestiu-se de ervais e avançou para além das lindes do Xanxerê, tornando-se mais bela e desejável. Todavia não casava e cresciam-lhe por dentro as angústias da virgindade.

Ananias, entretanto — que era feiticeiro, Sacerdote de Quimbanda, da Seita dos Avejões Negros que mataram a alegria do mundo antigo — trabalhava nos seus ensalmos, despachos e feitiços.

Oferecendo-lhe pólvora, fumo de corda, enxofre, marafa e um “olho-de-cabra”, preto e vermelho, Ananias riscou-lhe o ponto e invocou a um Exu poderoso, Exu-Frimost, ou Quebra-Galho, cuja força se exerce sobre as moças, incitando-as à perversão e que veio, perturbando o juízo e a mente da bela Catarina. E a esta lhe deu na telha — por influência do exu — de querer conhecer “o filho da Virgem”. O Exu-Marabô, também invocado, encarregou-se de tirar o sono de Santa Catarina.

“E se for verdade o que diz Ananias”? — pensava ela nas suas longas noites de não dormir. “Por que não tentar?”. E foi assim por influência de dois Exus fascistas, a serviço do maléfico feiticeiro, que Santa Catarina, numa noite de vigília, fez a oração: — “Senhora, mostrai-me o vosso filho!” e teve a ilusão de uma virgem com uma criança nos braços e a dizer-lhe: “Ei-lo, aqui está. Tu o queres?”

—Sim, respondeu Catarina. Eu desejo uma criança como essa para brincar com meu pai, e quero um jovem bom e honesto que mo faça, e ocupe ao meu lado a metade do meu leito de amor.

O menino, porém — uma ilusão de Jesus — conta-se, voltou para Santa Catarina os seus olhos vagos de criança-deus, não viu Catarina moça linda como jamais houve igual, abrindo-se na floração de um desejo imenso, e a desprezou. Santa Catarina, então — dizem — enlouqueceu e fez-se cristã.

E foi assim, por influência de dois Exus, a serviço do maléfico Ananias, que Santa Catarina teve a ilusão de um noivo impossível e perdeu, no ventre, o gosto de homem que lhe começava a desabrochar.

—Santa Catarina Louca e Sofredora, saravá!


 

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Ananias, entretanto, que era feiticeiro...


 

V

 

Conta-se depois, — de um casamento doido de Catarina moça linda, em plena floração da carne, com um infante que ainda se aleitava nos seios de sua mãe. E que Catarina — distribuídas as suas terras, jóias e castelos, entre os pobres de sua pátria — teria ido residir pobremente em Alexandria... E que houve uma guerra, não se sabe de quem contra ignora-se quem. Que o Imperador Maximino, vitorioso, decretou para comemoração, uma grande festa. Que os pagãos a festejaram numa orgia de coxas nuas e de rios de vinho correndo pelas ruas, ao pé de complacentes deuses frios... Que muitos cristãos, deixando-se arrastar pela onda de pecado, cambaleavam bêbados, cantando pelas ruas, enquanto virgens cristãs, coroadas de flores, deixavam de o ser, entregando-se pelos cantos das vielas, nas portas das casas e nas sombras dos jardins, uivando de gozo, como cadelas em cio... Que até ao recôndito oratório de Catarina subiram a música dos beijos trocados, o ritmo quente das respirações ofegantes e os gemidos finais dos espasmos, tudo incendiando a imaginação de Catarina bela, doida e virgem de amor... E que Santa Catarina enlouquecida levantou-se, ornada apenas dos seus encantos naturais, e dirigiu-se ao Palácio Imperial.

—Salve, Catarina! Eu, o Imperador te saúdo.

—Venho pelos festejos da cidade...

—Louvados sejam os deuses que trouxeram a mais bela das mulheres, para festejar com o mais poderoso dos homens.

—Não vim festejar — conta-se, retrucou Catarina. Vim provar que sois tolo e sem motivos. Não sabeis que existe um Deus único?

—Não conheço nenhum deus desse nome, Catarina. São tantos...

—Sou cristã e venho te provar a existência do meu Deus, que é único e verdadeiro.

—Mas, Catarina... És bela e eu já ouvi falar de tua sabedoria. Que dizes?

—Teus deuses são falsos.

—Todos os deuses são falsos. Mas devo defendê-los, pois são os deuses do Império. E tu, por que não queres adorá-los?

—Meu deus é mais forte!

—Sim? Não conheço o poder dos deuses, não sou teólogo. Discutirás isso com os sábios da minha corte, se quiseres... Mas agora vem.

Mas Catarina não foi, que ela só queria discutir. E fez-se então — conta-se — uma reunião dos cinqüenta velhos mais sábios e mais eruditos de Alexandria. E que Catarina, cheia do Espírito Santo e ainda auxiliada por S. Miguel, o mais macho dos anjos do céu, contra todos discutiu, confundindo-os com os seus argumentos, convertendo, finalmente, ao catolicismo todos aqueles velhos impotentes.

Que o Imperador — conta-se — furioso, mandou matá-los e prender Catarina... Que a Imperatriz, Constança, e seu ajudante de ordens, o famoso Porfírio, general da paz, converteram-se também ao cristianismo e foram mortos por ordem do Imperador... E que o imperador, em seu palácio, procurava um meio de vencer Catarina. — Mas como?

“Santa Catarina é mulher e, como toda mulher, será vaidosa” — conta-se, ele pensara. “E é bela; a mais bela das mulheres! — Por que não fazê-la imperatriz?” — Sim, Santa Catarina era bela e daria uma linda Imperatriz. Mandou chamá-la.

—Às tuas ordens, senhor.

—Casa-te comigo e serás Imperatriz.

—Não posso. Infelizmente não posso — desculpou-se a Santa. Já sou casada.

—Casaste? Mas quando e com quem?

—Com Jesus, filho de Maria.

—Tolice.

—Mas eu recuso.

O resultado, conta-se, foi que o Imperador mandou supliciar e por fim matar Catarina, e que muitas pessoas se converteram pelo exemplo da pobre e bela vítima dos Imperiais desejos.

—Santa Catarina Doida, saravá!


 

VI

 

—Oi gente, lá vem a Nau Catarineta...!

Na realidade porém...

—“Alvíssaras, capitão,

meu capitão general!

já vejo terras d’Espanha

Areias de Portugal.”

Santa Catarina deixou-se fecundar. E teve inúmeros amantes de que resultaram, hoje, seus dois milhões e setenta e poucos mil filhos, enamorados todos de sua mãe e povoando as suas planícies litorâneas, e as ilhas mais belas do mundo, suas cidades praianas — pérolas de um colar magnífico. A germânica Joinvile — de milhares de bicicletas nas ruas; Itajai, na foz de um rio que imita o Reno; Porto Belo, cujo nome é um poema à sua natureza; Camboriú, das praias selvagens, belezas de pedras esculpidas pelo mar; Tijucas dos palmitos e camarões; S. José, Palhoça e Garopaba, sonhando com pegas de baleia; Imbituba, porto de carvão de Crisciúma, metade da produção nacional; Tubarão das lendas; Orleãs, Nova Trento e Araranguá; e Urussanga dos vinhos ambarinos e leves, ou vermelhos, a lembrarem a Grécia dos deuses e os vinhos antigos — Samos, Falerno, Quios e Mitilene, cujos aromas e sabores só conhecem os estetas e os que bebem os vinhos de Urussanga.

No Vale do Itajaí aquele Reno tropical, “Sprachen Deutsch?” — bordejado de palmeiras de indaiá, bananeiras, alternando indústrias, granjas, atafonas e canaviais. Casas brancas de vigas vermelhas, cortinas engomadas, jardins floridos de flores e de lindas tranças loiras de pequeninas valquírias rosadas, Helgas, Valtrauts, Brunhildes e outras maiores — Hildegards doiradas, maravilhosas. Blumenau, Hansa, Hamônia, Indaial, Brusque, Rio do Sul e Jaraguá, tudo dos queijos deliciosos, das toalhas macias, das forjas rugindo e dos martelos cantando como arapongas no ferro alegre, se deixando, gostoso, transformar em arados, máquinas e motores!

—Ó tu Doritz, deusa loira de meus juvenis amores!... Por onde andarás?

—Oi gente, lá vem a Nau Catarineta!...

No alto da serra, S. Bento, Campo Alegre, Itaiópolis. E além, Mafra, Ouro Verde, Perdizes, Porto União e Canoinhas com os seus templos enormes, nas colunatas infindas dos seus vastos pinheirais...

Não! Santa Catarina não feneceu, não fenece e não fenecerá jamais em estéril virgindade. Ela já se rebolou gostosa em amores de mil e um amantes. E de todos foi fecunda e fértil, devolvendo-lhes em filhos gloriosos os instantes de carícias e ternuras. Desvirginou-a o paulista andejo, aquele macho sertanejo das botas de sete léguas, os Raposo Tavares e Fernão Dias que andaram por lá, trilharam os seus caminhos e nela dormiram no macio das praias, no verde dos campos e na catedral dos seus pinheirais. Entregou-se depois...

—Oi gente, lá vem a Nau Catarineta!
...aos filhos dos paulistas, aos curitibanos de Eubanos Pereira — que lhe povoaram toda a região mesopotâmia do Peixe e dos Marombas com os Rodrigues de Almeida, os Coelho, os Gonçalves de Morais, os Pinto Camargo, os Pinheiro, os Ferreira, os Moreira da Costa, os Ferreira de Sousa, os Maciel a acrescentarem-se aos nomes mais antigos dos Peixoto, dos Mota, dos Vieira, dos Ramos, dos Silva Ribeiro, dos Arruda e Costa Carvalho, dos Neves e Andrades com muito sangue mourisco e judeu se misturando com sangues negros e índios, aprendendo destes o chimarrão, e daquelas saudades africanas nos aboios doloridos de centauros parando rodeio, enchendo campos repletos de gados: “Gôu... Gôu... gôu... ôeeeih boi.. .“

Vieram depois, nos meados do século XVIII...

—Oi gente, lá vem a Nau Catarineta!...
...os açorianos para colonizar a zona costeira, desde a povoação de S. Francisco até o extremo sul da possessão portuguesa, até o Serro de S. Miguel — e daí, penetrando terras espanholas, “para o sul athé os montes q. dezagoam pera a llagoa do Imerin”, novamente com muito sangue mourisco e judeu, de cristãos-novos e marranos escapos das fogueiras com que a Santa Inquisição gostou de iluminar as praças de Lisboa.

E vieram mais castelhanos, que eram sobranceiros e muito amavam Santa Catarina. Garbosos, valientes, senhoriais, envolvidos em amplas capas espanholas, pretas de golas e fundos de veludos vermelhos e azuis, ocultando espadas temerárias, recordações de romanescos amores e conquistando as noites amorosas das quais descenderam os Ávila, Rosário, Martins, Rosas, Garcias, Flores, Rodrigues, Lopes e Castilhos. “Y aún hay, en estos de las pampas” — a valentia pessoal do lajeano e do joaquinense, da cidade mais alta e mais fria do Brasil, além do Rio Lava-Tudo, cidade de neve e de fazendeiros cobertos de “poncho”, fumando cigarros crioulos, de fumo de Passo Fundo, irmão dos gaúchos da Vacaria...

—Oi gente, lá vem a Nau Catarineta!...
...guardando saudades de loucas tropelias e de entreveros gauchescos num mundo sem porteiras, com tiros de trabuco e bandeiras tremulantes em pontas de lanças perigosas. Dançadores de valseado e de fandango, e os últimos talvez, que ainda vi, dançando a chula.

—Santa Catarina, saravá!

—Oi gente, lá está Santa Catarina sulina, Santa Catarina do Rio Pelotas, noiva do Rio Grande; das longas colinas verdes a se perderem no horizonte; das lagoas cristalinas de fundo verde, espelhos da Mãe-d’Água, em cujas bordas vivem os queros-queros gritões e valentes, guardiões das fazendas e de seus mistérios; dos tatus mulitos e das corridas de arraia espoucando de tiros e de solenes palavrões; das gargalhadas imensas e das chinas fazendo homens pelearem a pontas de faca, e dominando os vencedores nos laços dos seus morenos braços. E o vaqueano garganteando no galpão: — “Pois foi, compadre. Levei o merda pela frente, de tala erguida, a pelego e a grito... não mais.” E tudo isso morrendo...

Todavia ainda se ouve a voz do sangue ibérico na hospitalidade fazendeira, herança ignorada de velhos amores clandestinos de heróis visigodos e morenas árabes de olhares feiticeiros:

—Se apeie, chê! A casa é vossa. Solte o ca’alo no potrero e venha comer um churrasco que ‘stá especial.

—Que barbaridade, chê! A viajada foi comprida...

—Santa Catarina Alegre e Hospitaleira, saravá!

Vieram depois os “Fritz”, a partir de 1830, e Santa Catarina se lhes entregou. E também aos gringos italianos, aos russos, aos poloneses. A todos, sem exceção, Santa Catarina pertenceu. Até aos “turcos”, sírios e libaneses, honrados e trabalhadores, “jura bra Deus”.

—Santa Catarina Amável e Amorosa, saravá!


 

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Nós catarinenses sabemos que ela protege nossos amores.


 

VII

 

Vários milagres ocorreram quando Santa Catarina bela foi supliciada pelos monarquistas, que quase a dominaram. Mas, finalmente, venceram os “picapaus” e os “maragatos” e a república triunfou. Numa ocasião, enquanto a açoitavam, viu-se descer do céu um daqueles cinqüenta martirizados, para colocar-lhe na cabeça uma coroa. Talvez o espírito de José Henrique de Sousa, soldado florianista, quase uma criança, degolado em Tijucas — ou do Capitão Leprevost, vítimas entre milhares, da cruel rebelião de 93.

Depois colocaram Santa Catarina no mais cruel instrumento de tortura até hoje imaginado: uma máquina de quatro rodas, todas munidas de serras afiadas e de lâminas agudas, para lhe dilacerarem o corpo, girando. Santa Catarina, porém, traçou sobre ela o sinal da cruz e o aparelho desmontou-se milagrosamente. Logo, entretanto, Santa Catarina foi decapitada, por ordem do malvado Imperador.

Anjos desceram do céu e recolheram os despojos desta história tola que se conta no Monte Sinai, lugar misterioso onde Jeová, num tempo distante, com voz de trovão, falou a Moisés.


 

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Depois colocaram Santa Catarina no mais cruel instrumento de tortura até hoje imaginado: uma máquina de quatro rodas...


 

VIII

 

Santa Catarina — dizem — figura entre os 14 Santos Auxiliares. Mas nós, os catarinenses, sabemos que ela é um dos 22 Estados auxiliando a construir o Brasil.

—Santa Catarina Auxiliadora do Brasil, sarcivá. Mil vezes, saravá!

Santa Catarina — dizem — pela sabedoria é padroeira dos filósofos e dos estudantes, e pela roda que desmontou, dos torneiros e amoladores. Mas nós, catarinenses, sabemos que ela proteje os nossos amores.

—Santa Catarina Amorosa, saravá. Mil vezes, saravá!


 

IX

 

—Oi gente, lá vem a Nau Catarineta!...

—De Lenço Colorado, saravá!

—Saravá! Mil vezes, saravá! Um milhão de vezes, SARAVÁ!


 

Nota de Copyright

Esta edição é feita em “fair use”, reputando a publicação como de domínio público e em benefício de um direito moral do autor infelizmente não contemplado pela Lei 9.610 de 19/02/1998 [Lei dos Direitos Autorais].

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Caso haja, nesta publicação, a violação de qualquer direito patrimonial (o que não acreditamos, visto a obra não ter sido republicada e só ter havido dela uma edição, por iniciativa dos amigos de Wolny Ramos, sem menção de Editor, em 1962, hoje rara), os detentores legítimos de tal direito, herdeiros do Prof. Wolny de Carvalho Ramos, caso tenham algo a obstar quanto à divulgação da obra, estão cordialmente convidados a enviar e-mail para livros@ebooksbrasil.org para que o presente título seja prontamente retirado da apreciação pública e possamos informar aos amigos e admiradores de Wolny Ramos onde poderão adquiri-la.

A presente edição está sendo disponibilizada com cessão pública, que aqui fica declarada, de todo e qualquer direito patrimonial sobre ela.


 

© Prof. Wolny de Carvalho Ramos

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Janeiro 2001

 

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