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SEM BANDEIRAS

Teotonio Simões

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Sem Bandeiras
Poesias
Teotonio Simões
(1944 –     )

Fontes Digitais
Documento do Autor
RocketEdition 1999
Edição em cola e papel da Semente Editora, 1981
As poesias após “Um pássaro” não constam na edição impressa de 1981
www.teotonio.org
teotonio@teotonio.org

Foto da capa:
Maria Izabel Frank de Oliveira Simões

© 2006 — Francisco Teotonio Simões Neto


 

capa 1981

Edição Gutenberg: Editora Semente — 1981
1a. Edição EPG (era pós Gutenberg) — 9 de agosto de 1999
RocketEdition

Sobre esta edição: — Não foi por acaso que escolhi o Sem Bandeiras como meu primeiro livro (e talvez o primeiro em lingua portuguesa) a ser publicado para ser lido no Rocket eBook, na forma de eBook, fora de uma tela de computador. Foi para deixar patente minha esperança de que a poesia permanecerá mais importante do que a tecnologia, os sentimentos mais importantes do que os bits, que semear continuará sendo mais importante do que colher...

[Da RocketEdition de agosto de 1999]


 

Teotonio Simões

SEM BANDEIRAS


 

Este livro é da Cibele
Este livro é da Izabel
Este livro é do Leonardo


 

Como se fosse prefácio...

“O mundo está cheio de poetas...e as livrarias cheias de livros de poesia encalhados. (Talvez isso também venha a acontecer com ebooks de poesia:). Mas a poesia continua e continuará sendo uma forma de expressão em que, resumidamente, pelo sentimento, podemos comunicar, muitas vezes, muito mais do que por outras formas.

É, em linguagem parnasiana, o encontro de almas. E, se uma alma só que seja se encontrar com a do poeta, valeu à pena.

Talvez, leitor/a, a alma seja a sua. E, se for, pode ter certeza: foi um imenso prazer conhecer você”


 

 

ÍNDICE

Sem Bandeiras
Semear
Nasceu por nascer
A título do que
Passageiro desta vida
Passageiro (1)
Passageiro (2)
E o encanto?
Liberdade
Você foi feito
E faça-se a ordem
Por onde andou
Será preciso?
Gostaria de entender
Por estranho que pareça
Um dia soube
Nem consigo
Amar não é prisão
Os salvadores
Monumentos de cimento
Isolou-se
As mediocridades
Simples
Harmonia
Apesar de tudo isto
E de repente...
Há algo de morto
Às vezes
Dias inúteis
Dentro de mim
Do Trampolim
Até onde alcança
Quem sabe o que procura
Brincar de viver
Lentamente...
A gente
Nossos sonhos...
Terra a terra
Um pássaro
Teatrinho: A caça
Cizabels
Leozinho
O Lago
Imensidões
Problemas?
Perguntas e respostas
Orvalho
Absolutos
Comunicação


 

 

Sem Bandeiras

Sem bandeiras,
nem hinos, nem credos.
Sem verdades,
mas sem dúvidas insolúveis.
Sem pensar demais
sem sentir demais
nem arruinar-me.

Tudo simplesmente.
Mesmo na eterna complicação da vida.
É como eu gostaria,
e eu gostaria
e eu gostaria
demais.

Mas no mudo rolar das engrenagens
bem lubrificadas
engraxadas
as bandeiras, os hinos, os credos
as verdades tolas, todas,
pensando demais,
sentindo demais,
arruino-me, simplesmente, complicado
na eterna simplificação da vida.

Não é como eu gostaria
e eu gostaria,
e eu gostaria,
demais.


 

 

Semear

Semear
sem pensar que a colheita te pertence.

Sem pensar que a terra te pertence
Sem pensar que a semente te pertence.

Semear.
Sem pensar que é semente única
perfeita
só feita por você.

Semear.
Sem imaginar que é tudo desprendimento.
Achando que a semeadura é tudo
e a colheita nada.

Semear
sabendo que a colheita virá um dia.
Sabendo que o importante não é colher,
mas que a colheita um dia virá.
Apesar de quem semeou.
Porque alguém semeou.
Mesmo que não esteja presente na seara.


 

 

Nasceu por nascer

Nasceu por nascer,
porque nasceu e pronto.

Sem grandes destinos,
sem grandes projetos,
sem grandes virtudes.

Cresceu porque tinha que crescer
e pronto, cresceu.

Sem grandes mistérios,
sem grandes conflitos,
sem grandes amores.

Adulteceu porque tinha que amadurecer
e pronto, adulteceu.

Sem grandes dinheiros,
sem grandes posses,
sem grandes cargos,
sem grandes amores.

Envelheceu porque tinha que envelhecer
e pronto, envelheceu.

Sem grandes pesares,
sem grandes lembranças,
sem grandes esperanças.

Faleceu porque tinha que falecer
e pronto, faleceu.

Sem grandes cortejos,
sem grandes discursos,
sem grandes lajes.

Viveu.


 

 

A título do que

A título do que alguém me tem
senão por meu consentimento?
A própria vida me tem
pelo meu medo
pela minha coragem
minha persistência
teimosia
em continuar vivendo.
Se da minha vida disponho
até ao ponto
de casado naturalmente com ela
poder me separar
dizendo adeus à vida,
quanto mais ao que me prende
pelo meu medo
ou por minha vontade.

A título do que alguém me limita
ou me limito
senão por meu consentimento
senão por seu consentimento?
Meu próprio consentimento
só me tem
pelo meu medo
pela minha coragem
pela minha teimosia
em continuar vivendo
mesmo que a vida não valha à pena
e seja apenas esperança.
E a título do que vivo?
Pela minha opção de viver
até que a vida tome sua própria opção,
na morte.


 

 

Passageiro desta vida

Passageiro desta vida,
tua dimensão, o olhar
que alcança muito pouco
mas que insistes em pensar
que alcança o Universo.
Passageiro desta vida,
que encontras Universos
aonde pões teu olhar.

Dentro de ti, um encontras
mesmo que o vazio, vazio seja
e não vácuo.

Fora de ti, outro encontras
mesmo que a dimensão do olhar
não alcance o sentido do Universo.
Viver, passageiro desta vida,
é mais do que pensar ver
quando só se está a olhar.

Passageiro desta vida,
porque não aprender com o olhar
arregalado da criança
que sabe olhar, só olhar?

Porque não aprender a perguntar,
passageiro de tantas respostas?


 

 

Passageiro

Passageiro
não navegas em alto mar
Nesta corrida de ratos
que parece não parar.
Como não tivesse fundo
nem a terra, nem o mar.
Nesta corrida insensata
que não sabe onde vai dar
Vindo de um começo incerto
teu destino é caminhar
Mas a vida te parece
não ter destino a alcançar.
Como se o progresso indo
não tivesse mais cessar.
Passageiro desta vida,
não sabes onde aportar.

E a Terra vai girando
neste Universo estrelar
girando, girando sempre
sem sequer perguntar
de onde vem tanta estrela
pra onde vai seu girar.

Passageiro desta vida,
nem é teu teu caminhar.
Passageiro desta nave
que está sempre a girar.
Passageiro deste sonho
só te basta o teu sonhar.


 

 

Passageiro

Passageiro,
preso por laços invisíveis
preso na velocidade do carro
preso na velocidade da vida.
Passageiro/prisioneiro
por que saltar, se a velocidade mata
e mata menos depressa do que o saltar?

Soltar
soltar na invisível cadeia dos passos
na cadeia dos laços
e atrás do tempo correr.

Deixando passar,
deixando andar,
sem que o incomodem
o carro, o tempo e os laços.

Mas a velocidade mata
tanto por quem passa
tanto para quem passa
e quem contempla.

De repente, os ponteiros param,
o relógio não toca
as nuvens imobilizam-se
e um segundo entre a eternidade
e o presente
abre-se.

Vislumbro
o efêmero do correr, dos laços.


 

 

E o encanto?

E o encanto, por onde andará?
Sepultado em cimento,
escondido pelo verde,
no sorriso da criança,
por onde andará o encanto?
Olho de volta, não encontro.
Nem nos olhos mortiços,
de onde o encanto se foi.
No sorriso debochado,
do encanto já gasto.

Mas...
e o encanto, por onde andará?
Talvez por aí,
a solto e a bom galope,
dentro de cada um
e cada um reconhece
o encanto dentro de si.
E olha o mundo e pergunta:
e o encanto, por onde andará?

Todos perguntando a todos
e, nos olhos de todos, nada dá para ver
senão a pergunta de todos:
e o encanto, por onde andará?

E sem encanto, com a pergunta nos olhos,
vai-se levando, vai-se vivendo,
sem saber como, quanto e como.
Encantadamente.


 

 

Liberdade

Liberdade, ainda que tardia.
Liberdade, tão necessária,
tão terrível.

A ameaça das gaiolas de ouro,
a comida certa,
o afago correto,
tudo medido, entregue na hora certa,
pela pessoa certa, certamente.

O cotidiano conhecido,
não o se jogar na corrente do tempo.
Tudo torna sedutoras prisões
e a liberdade, abismo.
Então por que este anseio pela liberdade,
mesmo que tardia?
Então por que o pretender seguir
na corrente do tempo,
cruzando vidas,
descobrindo o novo,
rompendo com o velho,
e sendo nem novo mais
nem velho ainda?

Então, por que?
Mas, por que não?


 

 

Você foi feito

Você foi feito de sol
para trabalhar
para labutar
reproduzindo o belo.

É sua forma de adorar
você mesmo parte dele
o Universo.

Você foi feito de estrelas
para criar
dinamizar
e espelhar
o eterno.

É sua forma de adorar
você mesmo parte dele
o Universo.

Você foi feito de pó
para cultivar
e preservar
e adubar
a Terra.

É sua forma de adorar
você mesmo parte dele
o Universo.

Você foi feito
para nascer
para viver
para morrer
no belo, no eterno,
na Terra, no Universo.

É sua forma de adorar
você mesmo parte dele
o Universo.


 

 

E faça-se a ordem

E faça-se a ordem.
Assim foi feita.

Como é, foi, será,
em constante mudança
a ordem no movimento
a ordem/tempo.

E faça-se o caos
Assim foi feito.

Como é, foi, será
em constante ordem
a ordenação na mudança
a ordenação no movimento
O caos/ordem/tempo.

E faça-se o homem.
E assim foi feito.
Em constante ordem
     mudança
     movimento
     ordem/tempo
     vida/morte
Em constante caos
     mudança
     movimento
     caos/ordem/tempo/morte/vida

E os astros estavam girando.
Giravam, giraram, girarão
na muda ondulação da vida
na muda dança das órbitas
na muda existência do Universo.

A ordem que não se encontra no caos
O caos que não se encontra na ordem.

O homem contempla o Universo
Se assusta e não entende.
Admira.


 

 

Por onde andou

Por onde andou o andarilho
senão pelas quebradas da serra,
e, depois, subindo as picadas
chegando ao mirante
e olhando,
o que enxergou?

Nada senão as quebradas da serra,
as picadas
do mirante onde chegou.

Mas o que enxergava o andarilho
enquanto caminhava?
O mirante?
Não, as quebradas da serra,
as picadas.
E, ao chegar ao mirante,
o que encontrou?
De novo a serra,
vendo caminhantes ao longo das quebradas da serra
percorrendo as picadas
em direção ao mirante.

Mirante, miragem,
mirou
o caminhante.

E não é nada disso.


 

 

Será preciso?

Será preciso alcançar as estrelas,
chegar ao limite do Universo
entrar no túnel do tempo,
ultrapassar a luz,
para conhecer o Infinito?

Será preciso conhecer tudo
eliminar barreiras
destruir muros
arruinar limites
para encontrar a Harmonia?

Contra-senso.

Sei que se me deixo fluir,
como parte do Universo imenso,
como unidade do fluxo do correr do rio,
como gota de água que forma a torrente,
sinto-me parte do fluir da vida,
percebo-me como parte do Universo.
E sou, ao mesmo tempo,
estrelas, Universo, luz, tempo,
sem barreiras para eliminar,
muros para destruir e sem limites.

Senso.

Ao mesmo tempo, saber, sentir e ver
e tentar conter
combater
os que constroem barreiras,
edificam muros
impõem limites
e impedem a Harmonia.


 

 

Gostaria de entender

Gostaria de entender
a dança muda das pessoas.
A admiração de alguns,
a indiferença de todos.

Gostaria de entender o que entendo.

Olho, olho de novo,
entendo.
Sem julgar, analiso,
diagnostico,
entendo.

Sei onde alguém se perdeu,
ou quem se busca.

Vejo simples,
e simplesmente vejo:
o que parou, enterrou-se,
o que está agonizando,
o que não tem paz e faz com tudo guerra.
o que carrega seus mortos e se amortalha neles.

Vejo, olho de novo e vejo novamente.
Não é engano meu?
Quem sabe.
Gostaria de entender o que entendo.

E no meio da confusão geral,
sinto-me muito só,
sinto-me muito eu,
mas definitivamente não basta.

Ou sinto-me muito nos outros,
miragem de mim mesmo,
que definitivamente não basta.

Mas talvez me baste
sentir-me vivo, vivendo,
fluindo, passando.
E talvez fazendo.


 

 

Por estranho que pareça

Por estranho que pareça,
quem não se governa, governa,
quem não tem a ambição de se deter,
detém,
quem não se conhece, ensina.
Por estranho que pareça.

Parece estranho
que o estranho seja tão conhecido
e o conhecido tão estranho.

E eles estão lá, brigando
para ver quem vai mandar.
Estranho: alguns olham e levam a sério.

E eles estão lá, mandando
para ver quem vai obedecer.
Estranho: alguns ouvem e obedecem.

E eles vão para lá, prometendo,
para ver quem vai cobrar.
Estranho: alguns esperam.

Alguns querem mandar.
Alguns esperam o mando.
Estranho: são alguns.

A maioria vai vivendo livremente.
Estranho: para a minoria a maioria parece minoria.


 

 

Um dia soube

Um dia soube tudo o que havia
entre o céu e a Terra
pelos lados, no meio e muito além.

Pensava.

Um dia as certezas eram certas
as dúvidas eram certezas
e as certezas, nunca dúvidas.

Pensava.

Um dia, duvidava ser possível
que alguém soubesse o que havia
entre o céu e a Terra,
sequer pelos lados,
quer nos meios
e muito menos além.

Pensava.

Um dia as dúvidas eram certas
e a única certeza.
E as dúvidas, dúvidas
nunca certas.

Pensava.

Um dia as dúvidas passaram a ser dúvidas
as certezas, certezas
sem que as dúvidas fossem certas,
nem as certezas dúvidas.
Simplesmente sendo.

Penso.


 

 

Nem consigo

Nem consigo mais ficar acompanhado.
As palavras, que dizem?
Já ouvi mais do que esperava,
e as palavras sábias me soam tolas.

Cócegas me dá a cercania.
Coço-me e afasto-me
e a coceira some.

Olho e me sinto distante
como se observasse,
e não tivesse nada a ver
com o drama,
como se fosse teatro.

Reajo, tento aproximar-me
e me afasto quanto mais me chego.
É como se esta paisagem
não me recebesse e me enjeitasse.

Sinto-se de passagem
e sei que de passagem estou.
Sei que é transitório
não só o ter, mas, inclusive, o ser.

E vou sendo, vou tendo,
sem ser ou ter,
vendo, vivendo.
De passagem, transitoriamente.


 

 

Amar não é prisão

Amar não é prisão, nem cela.
Ninguém é condenado a amar.
Porque o amor chega como um passarinho.
E fica.
Solto e voando, livre como o vento das asas
solto como o canto no ar.

Mas ai do amor que prende.
O canto cessa e pode até matar.
Porque o amor é como um anjo.
Chega batendo as asas
e sai como veio.

O amor é livre gostar
como se gosta do vento
como se gosta do ar.
É ser gostando
e não gostar de ter.

Porque amar não é prisão, nem cela,
ninguém é condenado a amar.

Mas no tribunal da vida
a prisão pode ser liberdade.
E liberdade pode ser se prender...
Mas conservando as chaves.

E ser apenas sendo
sentir sentindo
amar amando
viver.
É pouco. E basta.


 

 

Os salvadores

Os salvadores estão soltos por aí
salvando almas, corpos, sonhos
para nutrirem suas almas, corpos,
e manterem vivo o sonho.

Os salvadores estão por aí,
regados a álcool, festas e farra.
Perdidos, bem lá no fundo de si mesmos,
planejam o dia do salvamento universal.

Um dia virá em que no planalto central
haverá redentores
e novamente o milênio vigorará na terra.

Enquanto isso, os que devem ser salvos
amam, vivem, comem, dormem, amam.
Criam seus filhos para crescerem,
viverem, amarem, terem filhos dos
filhos, dos filhos.

Enquanto isso, outros compram a vida
dos que amam, vivem, comem, dormem, amam.

Há algo muito errado em tudo isso.

Por que têm uns a vida de outros?
Por que a insistência em salvar os que
só querem que não os matem?

Viver e deixar viver
e ir vivendo
Mas tudo é sobrevivência e nada mais.

Enquanto isso, lá no fundo de cada um
existe uma aspiração de infinito.
Provavelmente é isto a alma.


 

 

Monumentos de cimento

Monumentos de cimento,
que comemoram a cidade,
para mim são um tormento,
motivos de ansiedade.

O cinza que me devolve
a fumaça, este barulho...
A parede que me envolve...
Não sou pessoa, sou embrulho.

O carro que me persegue,
como os meus passos seguindo,
um dia, é certo, consegue
matar-me enquanto vou indo.

É um mar de gente e carro.
Muitos sons, desassossego.
Tosse, bronquite, catarro.
Fome, morte, desapego.

Nossas vidas, em segundos,
servem de aperitivo
ao futuro destes mundos
sem razões e sem motivo.

E no protesto calado,
essa manada de gente,
tudo só, tudo isolado,
sorri, chora, segue em frente.

De onde vêm, quem pergunta?
Pra onde vão, quem se importa?
É tanta pessoa junta...
É muita consciência morta.


 

 

Isolou-se

Isolou-se, desligando o mundo.
E ali ficou, onde se recolheu.
Puxou nuvens lençóis
e, como fazia frio,
se aqueceu com sóis.

O vento passava sobre ele
e as folhas que caiam roçavam-lhe o rosto
A imensidão dos tempos envolveu-o
E ali ficou.

E por ele passaram os hunos,
Roma caiu, Paris ressurgiu,
novas terras foram descobertas
novos horizontes devastados.

E ali ficou.

E por ele passaram as multidões.
Ignorado, como queria,
ali ficou.

E ali está,
sonhando com tudo o que está acontecendo.


 

 

As mediocridades

As mediocridades revestidas de importância,
que importância têm?
Se o tempo passa,
as pessoas morrem,
e os ossos alimentam a terra?

Mil monumentos,
pirâmides.

Megatérios rondam a civilização.
Todas as inutilidades desejadas.
A troca do ainda usável,
pelo novo a ser trocado.
O ar que se rarefaz
e o carbono que se faz diário.
Até respirar se faz difícil.

E mesmo o sol,
grátis até ontem,
vale pela cor que traz.

Civilização.
Cada vez menos civil.
E, não bastasse,
cada vez menos sã.


 

 

Simples

Simples,
Simples, sim
Mas simples como o vento
O vento em movimento
     movendo-se
     pra’qui, p’ra lá
     movendo-se
     O vento/movimento.

Livre,
Livre, sim
Mas livre como as nuvens
As nuvens casadas com a Terra
     acompanhando
     livres
     cercadas
     pela Terra
     pelo movimento.

Igual,
Igual, sim
Mas igual como as montanhas
As montanhas que naturalmente são
     montículos
     montes
     montanhas
     planícies.

Harmônico,
Harmônico, sim
Mas harmônico como o movimento/tempo
Movimento/tempo do vento
que carrega as nuvens
que desabrocham em água
que transformam montanhas em
planícies e tudo mudam.

Simples, livre, igual e harmônico
como o caos.


 

 

Harmonia

Em seu lugar, cada vida,
não parada, em movimento,
vida fluente ou contida,
no tempo, no pensamento.

O interesse da vida,
na própria vida se esgota.
E não há vida perdida,
a vida não se derrota.

Cada ser deste planeta,
azul, bonito, perfeito,
passa feito um cometa,
voltando a vida ao seu leito.

Milhares de anos, vida,
milhares de sofrimento
não são perante a vida
senão um fugaz momento.

Cada vida é um segundo
da vida no universo.
Há universos no fundo
do momento mais diverso.

É o Universo que importa,
é cada vida que vive,
e mesmo quando está morta
na própria vida revive.


 

 

Apesar de tudo isto

Apesar de tudo isto
apesar de ser incerto
eu tenho uma louca idéia
que atravessa meus ouvidos.
Eu tenho a mensagem solta
que atravessa ouvidos surdos
penetra em corações roucos
e derruba certos muros.
Apesar de tudo incerto
apesar de tudo isto
eu tenho a mensagem errada
(que pode ser certa).
Eu tenho a mensagem certa
que atrai o meu ouvido
que atravessa a cabeça
e que derruba meus muros
que me põe no pensamento
que o mundo vale um momento
nos braços do meu amor
que o mundo vale o silêncio
do campo, da brisa, sol
que o mundo vale a paisagem
apesar de tudo incerto
apesar de tudo isto
apesar deste apesar.


 

 

E de repente...

E de repente os motores silenciaram;
a fumaça diluiu-se
a cidade adormeceu.

E de repente as árvores verdejaram;
as pessoas se falaram
e a cidade amanheceu.

E de repente o governo ruiu
os poderosos enfraqueceram
e a gente se descobriu.

E de repente ninguém mais mandou;
os homens se obedeceram
e nada naufragou.

E de repente
as pessoas tiveram um repente
e viram do pouco necessário
à necessidade da vida.

E as pessoas se amaram,
na casa que ocuparam,
no campo que cultivaram,
na fonte onde beberam,
desfrutando o belo.


 

 

Há algo de morto

Há algo de morto no espaço interior.
Sinto o vazio da ausência do morto.
Sinto que ele se foi
(talvez até volte)
mas lá no fundo,
há cova, relva e túmulo.

Não adianta me dizer da ressurreição
nem falar de alma penada.
Quem se foi jaz morto e sepultado
no interior de mim mesmo.

Não adianta me falar do tempo
nem que o endurecimento da alma acompanha o corpo.
Nem adianta me dizer as coisas todas tolas
que reconfortam famílias em funerais.
Eu lhes devolverei o cheiro putrefato
do morto insepulto de mim mesmo.
Às palavras, responderei com berros primais
tentando libertar a criança que nasce do morto.
Nasce do adubo feito pela putrefação do outro,
olha em volta assustada porque nasce velha
e, surpresa, diz: “é belo”
e, chorando, diz: “tenho medo”
e, sonhando, espera.


 

 

Às vezes

Às vezes ainda bato as asas
e vôo.
Sinto-me solto no ar,
como uma pipa.
Do alto, vejo tudo verde e azul.
O horizonte some
sinto-me companheiro da brisa
amigo da paisagem
amante da Terra.
Com ela, danço.
Estendo os braços, envolvo,
acaricio, amo.

Subo como um balão
e sou meu próprio vento.
Me dirijo e sou dono do destino.
Me acompanho e traço meu caminho.
Fecho os olhos e me conservo vivo.
Meus ouvidos ouvem mais que falam
e sonho de estar acordado.

Sem paredes que cerquem,
vou seguindo.
Da atração da Terra, me liberto.
Percorro as rotas do Infinito.
Dilato-me e ocupo o vácuo.
Faço pontes entre Universos.
Aspiro Galáxias, amo estrelas.
Encolho-me em quasars.
Visito universos paralelos.

Às vezes ainda volto
e ocupo o pequeno espaço que me foi dado
ou que me dei.

Às vezes ainda volto e sonho.


 

 

Dias inúteis

Dias inúteis
(o tempo passando)
A transformação,
menos bíblica do que o desejado,
nem água por vinho,
nem pães multiplicados
(que pão e vinho, peixes,
alimentam, nutrem a vida).

A miraculosa transformação
de tempo em papel,
da vida em papel,
que o tempo amarelece,
o fogo queima,
as pessoas esquecem.

E a mais miraculosa das transformações:
de papel em papel.
Em papel que compra,
mas compra as coisas, não o tempo.

E as transformações se transformando:
tempo em papel,
vida em tempo,
vida em papel,
que amarelece com o tempo,
que o fogo queima,
as pessoas esquecem.

E nem serve para embrulhar os sonhos.


 

 

Dentro de mim

Dentro de mim existe um outro
pequeno, ainda de olhos arregalados,
ser.
No meio das grandes coisas,
dos grandes projetos e dos grandes medos
ele sonha
com grandes coisas, grandes projetos
e sente grandes medos.
Ri da vida, pela vida e com a vida,
envolve-se nas brincadeiras mais tristes
e se diverte com as tristezas inchoráveis.

Este ser pequeno,
em que me reconheço eu,
vive dentro de mim
e às vezes se solta por aí.
Corre para sentir o vento,
deixa-se levar pelas cascatas,
sente o cheiro de mato
e passa horas sem conta
     só sentindo
     só olhando
     só
vendo as nuvens passarem,
imaginando imagens
ouvindo a água correr e brotar
imaginando mares
cheirando a brisa e o verde no ar
com o pensamento perdido nas nuvens
com o espírito navegando na água
e o corpo assentado no verde.
O pequeno ser em que reencontro
as recordações de mim mesmo.


 

 

Do trampolim

Do trampolim de tuas mãos
mergulhei fundo nos teus olhos.
Volteei pelos ares
com a sensação da liberdade absoluta.
Piruetas desenhei
e quando mergulhei teus olhos se fecharam.

Nunca mais voltei à tona.
Entrei em tua corrente sangüínea
percorri tuas veias
fiz pulsar teu coração
ventilei-me em teus pulmões
fui digerido
reentrando em tua corrente sangüínea.
Em glóbulos vermelhos
percorri teu cérebro.
Conheci cada um dos mais secretos
pensamentos teus.
Recobrei em mim tua memória
vi-me criança contigo
chorei as dores do parto
vivi teu primeiro amor
e tive ciúmes.

E hoje vivo aqui,
sendo parte de cada célula do teu corpo,
de cada fração do ar que é respirado,
cada palpitação,
cada lamento.

E, se não posso escapar,
também não escapa quem me prende.

Mas cada parte a que pertenço
se renova.
E é certo que vou acabar morrendo,
quanto tudo o que for teu for renovado.


 

 

Até onde alcança

Até onde alcança os sentidos
é o mundo do homem.
E é tão pequeno!
O que está ao alcance das mãos,
do ouvido, do olfato, dos olhos.

O mundo natural do homem:
sua aldeia, seu próximo,
sua dimensão/limite.

A mente estende-lhe os sentidos.
E o mundo tão pequeno se agiganta.
E é o Universo:
o Universo dos Universos
o Universo do infinitamente pequeno
e o Universo infinitamente enorme
além dos Universos que para si mesmo cria.

O mundo natural do homem:
o que existe, o que faz existir
e o que destrói.

Mas, contradição das contradições,
o mundo ao alcance fica cada vez mais incompreensível
e o mundo dos sonhos inacessível.
E o mundo do homem?
Perde a dimensão do belo
Perde a dimensão da existência
Perde-se.
Abismado, refugia-se no sonho
Abismado, se ata à realidade
E não compreende:
seu mundo é apenas o Universo
seu mundo é o Universo das coisas próximas.


 

 

Quem sabe o que procura

Quem sabe o que procura,
por que procura se já achou?
Se sabe o que procura,
de certo modo já encontrou.
Pode não saber onde está,
mas tem, por certo, algumas indicações.
Porque, no fim das contas,
só se procura o que se perdeu
e quem perdeu sabe
“mais ou menos
por ali”
“talvez por aqui”
“em algum lugar”
“aí está”
encontra o que perdeu
a menos que alguém tenha levado.

Será, porém, a melhor maneira de procurar na vida?
Se ela ainda não foi vivida,
como procurar o que não se encontrou?
Principalmente porque, além da Geografia,
a História se impõe no Tempo.
Na própria Vida.
E o único lugar onde se pode procurar
o que se perdeu e se conhece
chama-se Memória.

Não será mais prudente
substituir o procurar por querer,
saber a diferença
entre querer/não querer
possível/impossível
e saber do limite do tempo, das coisas,
na gente, no outro, no tempo?


 

 

Brincar de viver

Brincar de viver, coisa importante
Mais do que viver brincando
(que a vida é muito séria)
Mais do que brincar na vida
(o que é natural, normal,
lógico e necessário)
Brincar de sofrer
porque o sofrimento é inevitável.
Brincar de amar
porque o amor sério é muito chato.
Brincar até de brincar
senão a brincadeira fica a sério.

E fica sendo assim,
nesta brincadeira,
uma grande brincadeira,
para apenas transformar a vida
numa grande gargalhada
talvez com eco.
E se o eco ressoar,
pode ficar muito sério.


 

 

Lentamente...

Lentamente a mão foi se estendendo
Lentamente os rostos se encontraram
Lentamente os olhos se entenderam
Lentamente os lábios se tocaram
Lentamente as mãos se levantaram
Lentamente os braços se abraçaram
Lentamente os corpos se despiram
Lentamente os dois se estenderam
Lentamente as almas se amaram
Lentamente depois se separaram
Lentamente então se despediram
Lentamente, lentamente se esqueceram.

Lentamente a mão foi-se estendendo...


 

 

A gente

A gente tem ao nascer
mil maneiras de crescer
depois vai conhecer mundo
levar uns golpes profundos
que é para a gente aprender.
Segue rumos, corta rumos,
faz atalhos e contornos
escolhe das mil maneiras
umas tantas para viver
e descobre ao fim de tudo
que por trás de todo mundo
tem também gente a crescer.
E crescido finalmente
é quando a gente aprende
mil maneiras de nascer.


 

 

Nossos sonhos...

Nossos sonhos enterremos
çomo se enterram os mortos.
Desta vida passaremos
sem os corpos, sem os sonhos.
Depois de um, de mil portos,
por certo naufragaremos
sem os corpos, sem os sonhos...


 

 

Terra a terra

Terra a terra, pés no chão,
mas a cabeça ao vento.
Que as idéias passem e arejem
Que o pensamento persiga o ar
e a inteligência, estrelas.

Terra a terra, pés fincados
mas o coração à solta.
Que os pensamentos fluam
Que o coração palpite
ao sabor do amor e das saudades.

Pés na terra, sim,
como semente
e que brote e verdeje
o corpo
o coração
a mente.

Pés no chão, sim,
mas que o pensamento voe,
mas que o coração sinta.

Terra a terra, pés no chão,
mas que a alma viva.


 

 

Um pássaro

Um pássaro se crê livre
só porque pode voar dentro da gaiola.
Um pássaro se crê mais livre
só porque pode voar dentro de uma sala.
E mais livre um pássaro se sente
só porque pode voar dentro de uma casa.

Quando da casa sai,
mais livre um pássaro se sente
só porque pode voar por entre os prédios.

E um pássaro é livre
só porque não pode alcançar o sol, o céu e as estrelas
só porque não pode cobrir o mundo com suas asas
um pássaro é livre.

As crianças são pássaros
Mas nem todos os pássaros são homens.


 

 

Teatrinho: a caça

Parou,
olhou para os lados e ouviu a primeira buzina.

Olhou: farol vermelho.
Dez minutos: amarelo.
Fez menção
de ir, quase foi. Parou.

As bestas foram soltas
antes.
Antes e iam com jeito de quem está à caça.

As armas, as mais diferentes possíveis.
(Modelos novos, antigos e até mesmo alguns com tais inovações que faziam às vezes de uma incursão ao futuro.)
Mas não foi desta vez que a caçada terminou bem sucedida para eles.
(Ele continuou lá, vendo os caçadores desfilarem suas armas em parada cívica.)
Esperou pelo amarelo. Outra vez.
(O vermelho anunciava para o outro lado que os caçadores deveriam esperar um pouquinho mais para reiniciar a caçada.)
Regras muito rígidas tinha esta caçada.
E o ritual mais uma vez foi respeitado.
A primeira buzina.
E como se fora o sinal
esperado, outra secundou aquela.
E depois outra.
E outra.
E mais uma.
Os caçadores faziam suas armas uivarem.
A caça assustou-se.
Levou as mãos aos ouvidos.
Ensurdecia. Ensandecia.
Voltou a esperar a trégua amarela.
Ela veio, com o esmaecer do vermelho aos seus olhos.
Com as mãos nos ouvidos,
nada mais viu, nem ouviu.
Dali queria sair, cercado,
acuado por todos os lados pela matilha dos caçadores.
E dali sairia...
não fosse um caçador bem sucedido.
Foi assim que morreu:
como caça, em poça de sangue.
Poça de sangue diferente:
com as mãos nos ouvidos.


 

 

capa 1981

Cizabels

Cabelos de ouro
pequena
tatibitateando
falante.

Olhinhos azuis
(com estrelinhas dentro)
com nome de quem liberta escravos
como programa de fim-de-semana.

Izabel
Zabé
Bebel
Bel
Bela
Beleza
Belinha

Irmã da outra
Belinha
Cibel
Sideral, Cibel, Cibele, Si Belle
Bel, Belinha, Beleza, Belza,
Bel, Bebel, Zabé, Zabel, Izabel.

Bela a vida
com resultados destes
Belvida
Bels ver
Beldades
Verdades
Bels, Cibels, Cizabels.
Vida: Cizabelinhas.


 

 

capa 1981

Leozinho

Leonardo, Leo, Leozinho.
Homenagem a quem não precisa de homenagens:
Da Vinci.
Ciberespacial bebê, apontando novas eras.
Tão criança e vai cruzar um milênio.
—Sou do século passado, do milênio passado, dirá.
Ou então:
—Sou desse século, desse milênio.
O sol brilhava em Áries.


 

 

O lago

Quando olho para o lago interior
olho fundo:
As águas são claras, a impressão, de raso.
(Parece que só de braço alcanço o fundo)
Mas é um engano.
Parece que as águas são claras, mansa a superfície.
Apenas impressão.
Só com a força do olhar
(como fosse ventania)
a água vira turbilhão, inunda as margens.
Até da limpidez da água desconfie.
Basta arranhar a superfície, o lodo sobe.
Sem contar que a vegetação é carnívora.

Mas perto do lago mora um sapo,
que coaxa a vida inteira,
(sapo martelo, por certo)
que coaxando vai esperando
chegar alguém para despertar o encanto.

E o sapo vai virar, amor, amor.
E toda a impressão se tornará definitiva.


 

 

Imensidões

Construímos imensidões,
espaços conquistamos...
e sós estamos.

Conseguimos diminuir espaços,
não sentimentos.

Mesmo quem está ali,
ao alcance da mão ou da palavra
é um universo inteiro,
desconhecido, incompreendido,
ser.
E sós somos.

Até no universo imenso de nós mesmos,
insondáveis abismos
inescrutáveis pazes
nos encerram.

E sós somos.
Até no falar mudo dos afetos
até no olhar mudo que se pretende entender...
sós somos.

E somos sós
mesmo juntos, todos
no meio do silêncio do Universo
na poeira cósmica
dos astros, dos outros,
dos rastros de nós mesmos.

Só somos
E somos sós.


 

 

Problemas?

Problemas?
Só existem nos meios termos da vida.

Entre o viver com o problema
Entre resolver o problema
é aí o endereço do problema.

Pode-se morar na mesma casa do problema.
Comendo da mesma comida
alimentando o problema
sendo alimentado pelo problema.
Por isso os problemas são mornos
deixando pessoas mornas
nos meios termos da vida.


 

 

Perguntas e Respostas

Dê-me suas respostas
e eu te darei perguntas.
As certezas tuas serão minhas dúvidas.
E ficarás em débito comigo.

Um ponto de interrogação serei...
e para respostas tolas
farei perguntas mais tolas ainda.

No final do balanço
das perguntas e respostas
só perguntas sobrarão.
(porque não há respostas para minhas perguntas)

Perguntas tão tolas,
para respostas tão sábias,
o que é mesmo que estou fazendo aqui?


 

 

Orvalho

Lente de aumento feito de água
aumenta os veios da folha.
O beija-flor vem, bebe.
E bebe a borboleta e a joaninha.
E o louva-deus, qual água benta.
É um lago no meio da verde folha.
Da verde árvore,
no verde campo.
Beija o orvalho
o sol
reverberando.
O orvalho seca
a folha seca
o beija-flor morre
e a borboleta e a joaninha
e o louva-deus.
A lua traz de novo o orvalho.


 

 

Absolutos

Qual o aboluto das palavras?
Qual o absoluto das situações?
E o absoluto das absolutas verdades?

Entre nós medeia o absoluto abismo dos absolutos.

Como conviver com absolutos
em vida tão curta
em verdades tão passageiras
e, situações tão mutáveis
e mesmo pessoas tão efêmeras?

Mil anos transcorrerão
mil vidas
mil mortes
mil tudo separarão
o conhecimento do absoluto do sentimento de absoluto.
Entre absolutos buscados
Relativismos vividos
nada mais, nada menos que a vida.


 

 

Comunicação

Não era o que queria dizer
mas eu já disse.

Não é o que devia responder
mas respondeu.

Não era o que eu sentia
mas eu disse.

Não era o que sentia,
mas ouvi.

Eu podia deixar passar,
mas não deixei

Você poderia perdoar,
mas não perdoou.

Mas eu poderia beijar,
e não beijei.

Você poderia abraçar
mas não abraçou

E eu poderia falar,
mas não falei.

Você poderia perguntar,
mas se calou

Eu poderia ficar,
mas não fiquei

Você poderia chamar,
mas não chamou.

Eu poderia voltar,
mas não voltei.

Você poderia ter ido,
mas não foi.

Tudo poderia ter sido
mas não foi


 

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©2006 — Francisco Teotonio Simões Neto

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Fevereiro 2006

 

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