capa

eBookLibris

Nélson Jahr Garcia

Comunicando Comunicação
Últimos Escritos

Ridendo Castigat Mores


Comunicando Comunicação - Últimos Escritos
Nélson Jahr Garcia
[12-10-1947 — 06-11-2002]


Imagem da capa:
Nélson Jahr Garcia, caricatura por Garnel

Versão para eBook
eBooksBrasil.org

Fonte Digital
www.ngarcia.org

© 2002 — Nélson Jahr Garcia


ÍNDICE

Apresentação
O Autor por ele mesmo
Crônicas
Mestres, alunos e pais
Intuição
O Partido Verde amarelou
Poesias
Máscaras
Marketing: qualquer coisa
Felicidade
Verdades relativas
Aromas
Desistir de desistir
Esportes: perdendo a graça
Centrismos
Espernear é preciso
Limites
Individualismo
Livros
Você precisa...
Carisma
Equívocos e tolices
Enigmas da morte
Banheiros


COMUNICANDO
COMUNICAÇÃO
Últimos Escritos

imagem

Nélson Jahr Garcia


APRESENTAÇÃO

 

Nélson Jahr Garcia nos deixou, numa manhã nublada de 6 de novembro de 2002.

Mas, antes de se ir, deixou este mundo um pouquinho melhor.

Em pouco mais de meio século, viveu uma vida plena. Plantou suas árvores, escreveu seus livros, deixou uma filha amada.

Nos milhares de alunos aos quais transmitiu seus conhecimentos e ensinou a perguntar, sua obra prossegue.

Nos livros que pacientemente “escaneou” e colocou na internet à disposição de todos, continuou, de seu recanto em Atibaia, a trazer mais luzes a um país tão carente delas.

Se Shakespeare hoje está disponível na internet em português, obra do Nélson. E não foi só Shakespeare...

Dizia-se “um lobo solitário”, mas nunca um “lobo solitário” teve tantos que o quisessem acompanhar.

Dele se pode dizer o que de poucos hoje em dia se pode: foi fiel a si, aos seus amigos e aos seus sonhos.


O Autor

imagem

“Yo soy yo y mi circunstancia
y si no la salvo a ella no me salvo yo”
Ortega y Gasset (Meditaciones del ‘Quijote’, I, 322)

 

Nélson Jahr Garcia, esse o nome sob o qual fui registrado e batizado em outubro de 1947.

Fiz Primário, Secundário e Colegial em escola pública. O ensino oficial era sério, os professores, respeitados, viviam com dignidade.

Veio o vestibular, fui aprovado para a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Glória para mim, orgulho para a família, inveja entre certos vizinhos.

Advoguei por quase uma década e, ao mesmo tempo, ingressei no magistério superior. Lecionei em várias unidades da USP, principalmente na ECA, e em algumas Faculdades particulares.

Na ECA matriculei-me em Pós-Graduação, fui aprovado e conclui mestrado e doutoramento. Especializei-me em comunicação persuasiva e propaganda ideológica. Valeu, aprendi, além de teorias gerais, propaganda, relações públicas, jornalismo, cinema, televisão, um pouco de artes plásticas. Além disso, consegui superar um pouco do espírito barroco e burocrático que a Faculdade de Direito me havia incutido.

Escrevi cinco livros, três em papel e dois eletrônicos, sem contar centenas de artigos e crônicas. Há três anos sou cronista de “O Atibaiense”, o maior e melhor jornal desta cidade.

Apaixonado pela Internet, criei este site dedicado à comunicação persuasiva, inclusive reproduzindo obras clássicas relacionadas direta ou indiretamente ao tema. Todas as obras são de acesso gratuito. Estudei sempre por conta do Estado, ou melhor, da Sociedade que paga impostos; tenho a obrigação de retribuir ao menos uma gota do que ela me proporcionou.


CRÔNICAS
Nélson Jahr Garcia

...pequenos artigos (...) publicados, semanalmente, no jornal “O Atibaiense”, nas versões em papel e “on line”.

O jornal já existe há mais de cem anos, é o melhor e maior de Atibaia, a cidade que é “o paraiso quase possível na terra”.

Os textos se reportam a questões políticas e sociais. São minhas observações sobre o cotidiano, escritas à luz de meio século de experiências e muito estudo.


MESTRES, ALUNOS, PAIS.

(publicado em 11.05.02)

 

Não se pode generalizar, claro. No Brasil, porém, grande parte dos professores são despreparados, os estudantes preguiçosos e os pais coniventes.

A incapacidade dos professores se deve aos salários insignificantes. Não podem comprar livros, não dispõem de computadores para pesquisar, ministram dezenas de aulas mensais para ganhar o mínimo necessário à sobrevivência.

Os alunos, frutos de árvores deformadas, não querem ler, estudar, fazer trabalhos ou provas. Perdem a motivação frente a professores desinteressados, ambiente escolar péssimo em que falta tudo, prédios insuportavelmente quentes no verão e rigorosamente frios no inverno, número excessivo de alunos nas salas. Além disso, muitos se originam de famílias que têm pouco ou nenhum grau de instrução. Chegam à escola como pedras brutas que só um professor milagroso poderia burilar. Parecem preguiçosos, e são realmente.

Os pais, primeiro elo na corrente da educação, costumam cometer erros terríveis, mesmo sem intenção. Todo pai (ou mãe) tem ou teve sonhos que não pôde realizar, especialmente estudar e formar-se, ter um diploma (muitos dizem “deproma”). Transfere essas e outras fantasias para os filhos que não vivem e, talvez, jamais viverão a mesma realidade e, portanto, não vão nutrir as mesmas ilusões. Resultado: os jovens são obrigados a viver em função de objetivos que não são seus.

Os que vêem seus filhos como concretização de suas ambições pessoais acabam por transformá-los em símbolos de um “status” que não possuem. Jovens, na voz dos pais, passam a ser inteligentes, bons alunos, ágeis, ótimos desportistas, fortes. Os parentes e amigos ouvem com desconfiança, silenciam por respeito. Manter o “status” dá trabalho e custa caro. Ensinar o que não entendem, fazer trabalhos escolares (geralmente de forma desastrosa), pedir ou pagar para que outros os façam, contratar professores particulares,

Durante vários anos desenvolvi um “site” na Internet. O objetivo principal era divulgar, gratuitamente, livros importantes que, ou estavam esgotados ou custavam muito caro. Desanimei. Inúmeros emails, enviado por estudantes ou seus pais, pediam resumos de obras ou até informações que me exigiriam fazer trabalhos escolares inteiros. Em certo período recebi vários pedidos de resumo do livro “A Revolução dos Bichos” de George Orwell. Ora, é um livrinho que, na edição de bolso, tem 87 páginas. Resumir o quê? A verdade é que os professores erram ao pedir resumos, os alunos precisariam ler as obras inteiras e os pais não deveriam apoiar os filhos relapsos. Um fato é indiscutível, quando os pais não lêem freqüentemente, não têm livros em casa, os filhos adquirem uma certa ojeriza pela leitura e quem não lê, não pode ser bom estudante.

As conseqüências desse quadro são graves. Primeiro o precário nível educacional do país que, se não é o pior do mundo, beira o quase. Repetência não é séria, a maioria dos professores não reprova, isso significaria ter o mesmos alunos à sua frente, no período seguinte.

As desistências sim, preocupam. O jovem não agüenta mais a escola, resolve abandonar. Nada pode dizer aos pais que parecem sentir orgasmo quando falam do maravilhoso desempenho escolar de seus filhos. Saem a perambular pelas ruas, correndo todos os riscos. Fui professor e diretor de Faculdade durante duas décadas; cansei de conversar com estudantes que pretendiam desistir do curso, uns no começo outros ao final. Afora os casos de dificuldades para pagar as mensalidades, a maioria pretendia sair porque não gostava do curso, que só escolheram porque os pais queriam.

Qualquer mudança no sistema educacional exigiria interferências sobre os professores, alunos e pais. Não há perspectiva positiva, senão a longo prazo; se começarem algum dia.


INTUIÇÃO

(publicado em 18.05.02)

 

A intuição pode ser definida de diversas maneiras. Aqui me refiro àquelas idéias (ou pressentimentos) que as pessoas têm a respeito de fatos, atos ou pessoas, sem meios comprobatórios seguros que fundamentem e justifiquem suas concepções.

Há uma interpretação que a considera como atributo típico de mulheres. Certas expressões e ditados demonstram a permanência dessa tese: “intuição feminina”; “por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher”; “mãe sabe das coisas”. Não é verdade; a intuição não tem preconceitos de sexo, raça ou nível escolar, é uma faculdade natural humana.

Abstraídas quaisquer concepções metafísicas ou místicas, a intuição é fruto de experiências memorizadas de forma inconsciente.

Várias pessoas conheceram vigaristas, mentirosos, prostitutas, homossexuais, vendedores, pregadores religiosos, advogados, médicos. Viram e ouviram, aparentemente sem perceber, gestos e trejeitos, tons e ritmos de voz, expressões características, formas de olhar.

Mais tarde são apresentadas ou, simplesmente, têm contacto com alguém e ficam com a inexplicável sensação de que se trata de uma pessoa pouco confiável. É a memória inconsciente de experiências anteriores avisando para tomar cuidado. Esse fenômeno já permitiu a criação do tema de uma campanha eleitoral americana, depois copiada no Brasil, em que, sob a fotografia do adversário político, vinha a pergunta: “Você compraria um carro usado deste homem?”

Às vezes se está em casa, fim de semana, feriado, horário de almoço ou jantar. Aparece alguém batendo palmas ou tocando a campainha. Pode ser duas mulheres com saias que escondem os calcanhares, ou homens de terno, pastinha na mão, com ar de incomodados porque aquela não é sua vestimenta habitual. Dão um sorriso amarelo, um cumprimento padrão e pedem licença para conversar. De imediato, como se soasse uma campainha, tem-se a sensação de que se trata de alguém pretendendo converter a uma religião ou vender algo que não se quer comprar. Recusa-se a intuição e recebe-se a pena, eles não vão mais embora até conseguir convencer. É desagradável ser mal educado e expulsá-los, mas não há outra solução. Bastaria ter aceito a sensação inicial e dispensá-los antes, mas não seria lógico, apenas intuitivo e as pessoas ficam encabuladas em aceitar as intuições.

Pode-se adotar posturas que permitam empregar essa capacidade natural de percepção de forma a evitar situações incômodas ou até danosas. Em primeiro lugar é importante evitar qualquer envolvimento emocional: nada de se deixar induzir pela vaidade, pena, temor, ódio, ganância. São fraquezas que os mais hábeis sabem explorar com facilidade. Deve-se estar atento em relação a afirmações contraditórias, fora de contexto, respostas a perguntas que não foram formuladas, observações gratuitamente elogiosas. A autopromoção também deve ser ouvida com restrições: “sou especialista nisto ou naquilo”, “nossa empresa tem muitos anos de experiência”, “nosso remédio tem feito verdadeiros milagres”, “o único do Brasil”.

Estamos em ano eleitoral, é momento de se tomar o máximo cuidado. Circula o temor com a violência, os candidatos prometem providenciar segurança policial. Preocupa a situação econômica, garante-se aumento de salários e redução de impostos. A educação é precária, mas há os que construirão novas escolas e criarão cursos para aperfeiçoamento dos professores. Haverá transporte rápido e confortável para todos.

Sigamos nossos impulsos naturais, compremos com cuidado, evitemos ingressar em associações que não conhecemos e, sobretudo, votemos corretamente ou, em último caso, protestemos não fazendo nada disso.


O PARTIDO VERDE “AMARELOU”

(publicado em 25.05.02)

 

A população de Atibaia, nas últimas eleições municipais, foi às urnas com esperança.

Estávamos todos cansados com as denúncias de corrupção, “impeachment” obstado por uma liminar, asfaltamentos cobrados e não feitos (em meu caso paguei há seis anos por nada).

Súbito surgia um candidato jovem e vigoroso, prometendo renovar. O Beto apresentava-se sob a sigla do PV, em aliança com o PT e outros. O PV era visto como um pequeno partido, em nada comprometido com velhos esquemas de poder. O PT ainda não tinha exposto os absurdos da pseudo-Barbie Marta Suplicy, Lula não havia se tornado irreconhecível, fazendo acordos à direita, aliança com sapos e crocodilos.

Diz um ditado popular: “a esperança é a última que morre”. Mas morre.

É necessário ser justo. Algumas medidas foram benéficas: o esforço para melhorar o atendimento da Santa Casa, a coleta e tratamento do lixo, o cuidado com as fontes d'água e rios, e algumas outras.

Em compensação o Beto, ou se exigirem mais respeito o Exmo. Sr. Prefeito José Roberto Tricoli foi atacado por uma enfermidade, similar à hidrofobia animal, que só contamina homens públicos: a fúria tributária.

Primeiro foi a taxa de lixo, passou a ser cobrada junto com a conta do SAAE. Por que fazer isso? O SAAE é um dos poucos órgão públicos confiáveis desta cidade. Comprometer sua imagem com taxas exorbitantes (tanto que foi reduzida após inúmeras reclamações) é um contra-senso.

Veio o IPTU, não para todos, muitos não receberam (basta observar as filas pedindo segunda via na Prefeitura). Dizem as más línguas que foi um subterfúgio para cobrar multas. Mas o famigerado IPTU veio reajustado (em relação ao ano anterior) por percentual superior aos que cobram os cartões de crédito. Ora, extorquindo o contribuinte dessa forma eu transformaria Atibaia em Nova Yorque, para melhor. O Beto vai ficar conhecido por uma administração com o maior índice de inadimplência na história da cidade.

Eficiência? Há sim. A Zona azul. É o serviço mais eficiente da cidade. Estaciona o carro, anda cinco minutos para comprar a cartelinha do estacionamento, volta e encontra uma moçoila preenchendo o papelucho da multa. Quem ganhou foram os estacionamentos, cobram barato, oferecem segurança e simpatia no atendimento, ficam lotados. Alguns preferem estacionar por perto, fora da zona azul. São furtados, a eficiência acaba no limite.

Recentemente fiquei impressionado. Peguei um exemplar da imprensa oficial da cidade (entregam gratuitamente em qualquer banca de jornal). Tem vinte páginas. O papel é de uma brancura que lembra fralda de bebê. A gramatura, em uma visão superficial, parece ser g/m2 90, papel dos mais caros. Porque não papel comum de jornal? Quem paga? Nós, claro.

Preclaro Sr. Prefeito José Roberto Tricoli. Já existe uma vacina contra a fúria tributária, foi desenvolvida nos EUA, chama-se “demission”.

Não comprometa ainda mais o Partido Verde, já amarelado, caminhando a passos rápidos para o marrom.


POESIAS

(publicado em 01.06.02)

 

Não gosto de poesias. Escritas, não.

Idiossincrasia, sem dúvida, mas não estou só; Graciliano Ramos também não gostava.

Tenho uma casa modesta em Atibaia. Plantei frutíferas e outras. Umas se vão, as demais ficam; até que eu próprio me vá, daí sei mais não.

Jamais pensei em colher os frutos; plantei para ter pássaros, livres, soltos como os homens deveriam ser.

Aconteceu. Um casal de sanhaços, daquele azul quase celeste, fizeram um ninho na mangueira e devoram mamões e jabuticabas. Isso é poesia.

Há o beija-flor. Vem em busca das flores do boldo ou do hibisco que cerca os muros. É tão pequerrucho, mas de cor verde inimitável. Quando ligo a mangueira ele se introduz no meio da água, creio que para banhar-se. Isso é poesia.

Surgem os abacates, com eles os sabiás. Devoram, fazem ninhos, expulsam outras aves. Uns têm peito amarelo, outros bico branco. Todos são poesia.

O tiziu é uma graça, pequenino, pretinho, pula e pia o tempo todo. É poesia pura.

Os tico-tico, um charme, parecem pardais mas não são. Comem tudo, inclusive a ração das minhas cachorrinhas que os atacam em vão. Um deles insiste em ficar defronte à janela e brigar com o seu reflexo. Mais poesia.

Em minha casa não, mas no lago próximo surgem as garças, vôo lento, postura de bailarinas. Que poesia.

Outono, agora, passam as nuvens de maritacas, verdes como a natureza, com seu cantar estridente que só incomoda a quem não sabe apreciar poesia.

O esquilo é versátil e vem sempre. Uma de minhas cachorrinhas, a Ariadne não gosta dele e tenta pegá-lo. Claro, não consegue, com suas garras firmes, a cauda retorcida para cima, salta de uma árvore para outra com a maior facilidade. Para a Ariadne fica a frustração, até a próxima tentativa. Pura poesia.

Abelhas e marimbondos, compreendemo-nos bem. As abelhas devem vir de algum apiário próximo. Passam ao meu redor, inspecionam e vão embora. Um dia coloquei açúcar na mão, foi uma festa, pelo menos três delas disputavam a guloseima. Os marimbondos são mais hostis, mas gosto deles da mesma forma. Um infeliz que corta a grama de minha casa queria queimá-los. Desistiu quando eu disse que o queimaria também. Quem ele pensa que é para destruir a poesia.

Quase esqueci da corujinha, aparece toda noite e fica num canto do telhado. Quando em vez voa e pega alguma coisa, sei lá o quê. Engraçado, parece uma ave boba, inerte, mas ao sair à caça adquire uma velocidade incrível, geralmente bem sucedida, como boa poesia.

Não sou mais um dos ecologistas, até porque eles são chatos e pouco poéticos. Não protejo ratos nem baratas, ao contrário. Tentei conversar com um escorpião, não consegui, pensou que eu pertencesse ao PV e iria cobrar impostos sobre suas picadas. Falando nisso, por acaso, o IPTU nem escorpião suporta.

Quando alguém, esquecendo que a natureza existe, escreve preocupado em contar sílabas, rimar palavras, calcular a quantidade de páginas, promover-se em coquetéis de lançamento, não faz poesia, sequer arremedo.


MÁSCARAS

(publicado em 08.06.02)

 

Máscara é uma reprodução estilizada de rosto humano ou animal, esculpida em barro, madeira, cortiça, papelão, e guarnecida de pêlos, cores, etc., com que pessoas cobrem o rosto, ou parte dele, para caracterização de determinada personalidade

Utilizada desde os tempos primevos por diversas seitas religiosas, tornou-se famosa com o teatro grego, em que cada personagem usava uma máscara que definia seu papel no drama interpretado.

O significado ampliou-se. Qualquer pessoa que se comporte de uma forma que não é a sua peculiar recebe a pecha de “mascarada”. Não é difícil perceber essa situação no cotidiano.

Todos já viram homens (ou mulheres) falando ao telefone. Como é fácil perceber que está falando com alguém de outro sexo: a voz se torna mais suave, o rosto esboça um sorriso largo, as palavras são gentis.

Ambiente de trabalho, os funcionários que trabalham juntos são afáveis entre si, cumprimentam-se ao chegar, despedem-se ao sair; não faltam sorrisos nem tapinhas nas costas. Eis que marcam uma festinha ou reunião. Os que comparecem com as esposas ou noivas ficam irreconhecíveis, um ar de distância, cumprimentos formais.

Estranho mesmo fica o funcionário que é promovido a uma chefia qualquer. Antes um amigo cordial, agora um autoritário com seus gritos, críticas ácidas, ameaças de demissão. Nunca se sabe se usava máscara antes e a arrancou ou se adotou uma nova.

Alguns países criam máscaras para a sua nacionalidade, geralmente com apoio decisivo da propaganda ideológica governamental.

O Paraguai se apresenta e se acredita como se fosse um país de “machos”, patrióticos e trabalhadores. Ora, não produzem nada além de paraguaios; vivem de contrabando, roubo e tráfico. Patriótico é falar guarani e cantar músicas sobre o país e sua história de batalhas perdidas. Até o Lago Ypacaray, em San Bernardino, que a música diz ser azul, na verdade é marrom. Mas dizem tratar-se de água rica em iodo.

Os EUA exageram. São o país mais rico, mais poderoso, mais democrático. Surgiram poucos pilotos treinados por americanos, comandando aeronaves americanas e produziram o desastre de 11 de setembro. Os dólares, mesmo que tenham muitos, não pagam as vidas perdidas nem curam o stress ou a neurose que acometeu os moradores de Nova Yorque. A democracia foi pr'o brejo, suspenderam-se os direitos individuais sob a justificativa de combater o terrorismo. Que grande democracia é essa que tem um Presidente de intelecto reduzido e é suspeito de vencer as eleições através de fraudes. O poder mundial é inegável, mas estranho. Perderam guerras na Coréia, no Vietnã, passaram vergonha na ilhota de Fidel e no Iraque de Hussein.

O Brasil também tem sua máscara. Lembra o ditado segundo o qual “quem tem uma perna mais curta, em compensação tem outra mais comprida”. Só se fala na mais longa e, geralmente, com inverdades. O Brasil tem um povo alegre, cordial e com muitos sentimentos. É o país do futebol, do automobilismo, do tênis; às vezes do volei e basquete. Tem o solo mais fértil do mundo (culpa da carta do Pero Vaz de Caminha).

Agora virou um país democrático em que a população conquistou melhores padrões de vida. Quando e se o IBGE fizer pesquisas mais corretas, levaremos um susto. Talvez conheçamos a verdadeira face deste país.


MARKETING: QUALQUER COISA

(publicado em 15.06.02)

 

Profissionais de marketing têm escrito artigos, colunas, até livros defendendo sua profissão, que se tornou pejorativa. Marketing, afinal, é apenas uma técnica que analisa uma empresa, seus serviços e produtos, mercado, comunicação e procura adequar tudo isso para obter melhores resultados (lucros). Todo profissional de bom senso pode fazer isso; tanto que qualquer vendedor de bijuterias bem sucedido se transforma em “Gerente de Marketing.”

Na tentativa de valorizar sua profissão, os “marqueteiros” resolveram divulgar que tudo é marketing. Criaram marketing de produtos, serviços, hospitalar, educacional, desportivo, eleitoral, político, etc. e muito mais. Em suma, basta que haja um objetivo e uma ação visando realizá-lo para ser marketing. Ora, o chimpanzé que pega um pedaço de galho para derrubar o fruto que não alcança é “marqueteiro”.

Engraçado, porque não utilizam a mesma expressão para atividades que são mais organizadas e lucrativas. Por que não marketing de drogas, marketing prostitucional, ou marketing pedofélico (que está na moda)?

Conseqüência: o sociólogo e estudioso da comunicação, Vanni Codellupi, em entrevista a O Estado de São Paulo de 7.5.02, fez as seguintes declarações: “O marketing é uma ideologia totalizante que está invadindo completamente o espaço social” (...)

“Creio que a lógica de funcionamento da marca e do marketing se estenda progressivamente a todo o social. Entra em âmbitos com os quais não tem nada a ver, como a educação, a política ou o esporte (...) Até a guerra vem concebida como uma marca. Há um nome (“enduring freedom”, a liberdade duradoura) e uma precisa estratégia de comunicação que seleciona a notícia que deve ser divulgada à opinião pública.” (...)

“Também o terrorismo vem permeado por uma estratégia de marca que utiliza habilmente a possibilidade oferecida pela mídia. De modo que até o terrorismo é marketing.” (...)

“No esporte, o ingresso da lógica do marketing e da marca é uma coisa recente, mas já hoje as marcas mais fortes têm enorme poder.” (...)

Misturando estações, os “marqueteiros” fazem coisas incríveis no que chamam de “marketing político”. O candidato tem embalagem; então mudam ternos, gravatas, camisas. Afinam os aros de óculos, treinam falsos sorrisos. Cabos eleitorais viram “pontos de venda”. Vantagens para se filiar ao partido é “estratégia promocional”. O conteúdo pior: mais segurança, emprego, salários melhores, redução de juros, tudo que é impossível cumprir. Pensam que o eleitor é burro, como o consumidor que compra por impulso, fato que não tem maiores conseqüências, senão um pequeno prejuízo financeiro.

Grandes homens públicos se destacaram. Psístrato na Grécia Antiga, Júlio Cesar e Augusto, Winston Churchill, Roosevelt. Todos tinham assessores, mas discretos e ocultos. Nunca se arvoraram em especialistas em marketing e comunicação. Jamais pretenderam ser mais importantes que os líderes que ajudaram erigir. Respeitaram-se e foram respeitados.

Em nossos dias muito mudou, os “marqueteiros” se promovem a responsáveis por tudo: vendas, eleições, nível educacional, sanitário (no bom sentido).

Conscientizem-se, o máximo que têm conseguido é a difusão de produtos inócuos ou prejudiciais, candidatos mal intencionados, mentiras e perversidades. Não queiram valorizar uma profissão honesta e decente que vocês próprios macularam.


FELICIDADE

(publicado em 22.06.02)

 

Existe sim. Não depende de nenhuma entidade mística ou transcendental;. só de nós. Aliás, dizem os religiosos que as divindades habitam a alma de cada mortal. Encontrá-las é complicado, a felicidade também. Há que se procurar.

Nem sempre é preciso buscar; às vezes a felicidade vem espontaneamente, quase um meteoro, não se espera e surge, parece vir do nada.

Quem tem filho sabe a alegria de ver aquela coisinha fruto de um amor e sonhos. O entusiasmo é tanto que induz a considerar lindo o pequerrucho com cara de joelho (todo bebê recém-nascido tem cara de joelho). Mas é lindo.

Nem é preciso ter filhos. Criei pombos durante muitos anos, daí ter assistido ao nascimento de vários filhotes. Cada casal tinha ninhada de dois rebentos, geralmente outro casal. Parecem uma mescla de lagartixa e pterodáctilo: bicos enormes que lhes facilitam a alimentação, pele quase transparente, um papo grande que permite ver os alimentos já ingeridos. Começam a crescer as penas e se transformam em porcos-espinhos. Aos olhos de quem cria são maravilhosos, mas é preciso querer e saber observar.

Recentemente surgiram alguns pequeno-burgueses que, irritados com a sujeira que os pombos deixam em suas janelas e varandas, passaram a divulgar que os columbídeos transmitem doenças. Ora, todos os insetos e animais transportam bactérias de enfermidades, o pior deles todos é o homem. Alguém já ouviu dizer que pombos transmitem sífilis ou AIDS?

A felicidade, claro, não se restringe a filhos ou à criação de animais. Martinho da Vila, aquele que já compôs inúmeras músicas que parecem sempre a mesma, gravou uma que começava: “Felicidade, passei no vestibular”. A maioria dos jovens ambiciona fazer um curso superior, para o que a aprovação no vestibular é um passo fundamental. A alegria de encontrar seu nome em uma lista de selecionados, ter cabelos cortados e rosto pintado é gloriosa, para mim tornou-se inesquecível.

Li, certa vez, que perguntaram a Winston Churchill qual seria o melhor presente que daria a um filho. Respondeu secamente: “obstáculos”. Por cruel que possa parecer a resposta continha um significado profundo. O homem que supera obstáculos, ou como dizia meu mestre de artes marciais, ultrapassa os paredões que a vida lhe antepõe, sente um vigor e uma força interna incríveis, readquire a autoconfiança, sente-se digno.

As plantas também transmitem felicidade. Florescem, são polinizadas por abelhas, pássaros, até morcegos. Geram frutos, esses que nos deliciam o paladar, têm sementes que produzem novas plantas.

Só posso concluir uma coisa: a felicidade é a vida, não apenas a nossa. Nós acabamos, nossos filhos, os animais e as plantas também, a vida continua.

Temos um grande obstáculo, a pobreza generalizada. Lembro-me de uma frase dita no filme “Assalto ao trem pagador”, ainda no tempo do cinema novo. O personagem era o Grande Otelo, em mais uma de suas magníficas interpretações, fazendo o papel de bêbado numa favela. Proclamou: “Quando morre uma criança na favela, a gente devia de comemorar, é um a menos a sofrer esta miséria”.

Um dia, acredito mesmo, teremos igualdade, crianças saudáveis, escolas, assistência médica, habitação, empregos e salários dignos.

Então seremos felizes, todos nós.


VERDADES RELATIVAS

(publicado em 29.06.02)

 

Os fenômenos, fatos ou atos humanos nunca têm causa única. São o resultado de diversos fatores (variáveis), todos fundamentais, embora um ou outro possa ter peso maior que os demais. Nós, humanos, temos a tendência, por preguiça ou incapacidade, a explicar a realidade através de variáveis isoladas, chegando a conclusões aparentemente verdadeiras, jamais absolutas. As fábulas e lendas geralmente estão inquinadas desse vício, não dizem nem garantem nada, mas induzem os incautos a traduzirem suas mensagens como lema de vida, critérios seguros de avaliação quando, realmente, são nada além de frases pitorescas.

Em entrevistas, a maioria dos analistas financeiros costumam afirmar que os investimentos (em ações, fundos, moedas estrangeiras) devem ser feitas “na baixa”. Essa orientação baseia-se na especulação, em que grandes financistas, empresas e bancos conseguem espalhar a notícia de que certos títulos estão perdendo o seu valor; daí os adquirem para em seguida vendê-los, quando o mercado verifica que as notícias não têm base e surge um movimento de alta. Mas a queda pode ter inúmeras outras razões. Por que não investem em ações de empresas argentinas, cuja baixa é extraordinária?

Falácia sugestiva se vê na afirmação de certos candidatos de que, para resolver o problema da violência, é preciso colocar a polícia nas ruas. Primeira dúvida: onde deveria ficar a polícia? Nas delegacias, escritórios ou quartéis? Óbvio que a polícia deve estar onde existe a criminalidade. É a principal solução? Não, os bandidos assaltam os policiais, invadem delegacias, até atacam quartéis do exército para roubar armas. Não seria mais importante que os policiais fossem mais treinados e preparados, inclusive recebessem salários mais decentes?

Ainda pior é a afirmação de que a polícia deva ter armas tão sofisticadas quanto as têm os bandidos. Não, por favor, façam isso não. Só quem não entende absolutamente de armas pode defender uma tese como essa. Uma pistola semi-automática, calibre 380, que usa balas encapsuladas e pode ser vendida a qualquer um, pode traspassar o alvo e matar alguém que está atrás. Como deixar uma arma dessas nas mãos de policiais despreparados? Melhor que fiquem com seus antigos 38. Talvez para equipes especiais, em casos também especiais. Mas lembram de um atirador de elite que atirou no seqüestrador e acertou a seqüestrada?

Significativa é a tese segundo a qual o bom administrador público é o que faz grandes obras. Washington Luís ficou famoso pela frase “administrar é construir estradas”. Educação, saúde, emprego não valem? Melhoraram as condições do povo com a Belém-Brasília, Transamazônica ou o Minhocão de São Paulo?

Amena, mas não menos séria, é a idéia de que produtos naturais são benéficos e não têm efeitos colaterais. A cicuta é um produto absolutamente natural e matou Sócrates. O veneno das serpentes também é natural. Quantas ervas foram freqüentemente anunciadas nos meios de comunicação até que as “Vigilâncias Sanitárias” as proibissem?

Em meio a tudo isso há as bobagens, que alguns levam a sério. Repentinamente resolveu-se que as loiras são “burras”. Geralmente se fala sobre atrizes e apresentadoras de TV que sequer são loiras, apenas “burras”. Quando morre uma criança ou jovem, a imprensa assevera incisivamente: “tinha toda uma vida pela frente”. Por quê? Poderia ter ou não. Existem também frases como “uma imagem vale por mil palavras”, bem contestada por Millor Fernandes: “diga isso por imagens”.

Cuidado, as verdades nem sempre o são, indícios talvez, apenas isso.


AROMAS

(publicado em 06.07.02)

 

Os odores provocam diferentes reações. Há os que não gostam, outros adoram. Alguns têm idiossincrasias específicas, como eu. Não me agradam os perfumes que a indústria química produz, também não incomodam. Há essências de rosas, jasmins e tantos. Nenhuma se compara às próprias rosas e jasmins. Sou mais pelo natural. Alguns podem me considerar esquisito, mas quando vou a uma fazenda ou haras, gosto do cheiro de excrementos de bois e cavalos, é a natureza em vida e transformação.

Já sentiram o cheiro de terra seca regada pela chuva leve? É a felicidade penetrando pelo olfato.

Morei, durante alguns anos, em um apartamento em São Paulo, ficava no 18o. andar. Descia logo cedinho para ir ao trabalho. O elevador era lento. Freqüentemente me defrontava com alguma “perua” (expressão divulgada por uma novela e assimilada pelo povo). Carregada de penduricalhos: anéis, brincos, colar. O perfume, que dizia ser importado da França, não era muito diferente dos que vendem os camelôs nas esquinas. No elevador uma plaquinha: “É proibido fumar”. Adoraria que houvesse um senhor fumando charuto, que disfarçasse aquele perfume horrível e impregnante da “perua”.

Das mulheres me agrada o cheiro, o delas mesmo. Impressiona, agrada, excita, eriça os pêlos, eriça...

Em minha casa há uma espécie de jasmim: a “dama da noite”. Cai o sol e exala seus dotes. Sente-se seu perfume há cem metros de distância, é quase estupefaciente. Tenho também um pé de boldo, aquele que produz flores de cor azulado-violeta, o aroma é leve, mas atrai abelhas e beija-flores. Atrai a mim também.

Mas não devemos nos apegar tanto à ecologia, numa sociedade industrializada e que avança tecnologicamente a passos tão rápidos.

Aquele cheirinho de carro novo, todo forrado internamente por plásticos, também é agradável.

Até os gases de combustível nos fazem sorrir. Gosto de incensos indianos, vários são os aromas, prefiro os de mirra, mas também são agradáveis os de almiscar, jasmim, erva doce, noz moscada. Eles nos transmitem tranqüilidade, uma sensação de bem estar, excitam nossa sensibilidade.

Voltando ao natural; já sentiram o cheiro dos seus cães ou gatos. E o cheiro do filho recém nascido no momento de trocar a fralda. Engraçado, é horrível, insuportável quando dos outros, maravilhoso se nosso. Quando o cão nos lambe ou o filho nos abraça, qualquer cheiro é agradabilíssimo. Existe algo mais gostoso que cheiro de bebê?

Alimentos, melhor sentir que degustar. O forno da pizzaria exala aquele ar de prazer, entra-se, ao experimentar é bom, nunca tanto como o aroma. Café, a torrefadora inunda o ar, dá uma vontade incrível de tomar a rubiácea, cujo sabor nada tem a ver.

Ainda no natural, o odor fétido de trabalhadores da construção civil? Ou dos peões labutando com enxadas na lavoura? Não, não é agradável, a não ser que se pense que estão produzindo, criando, morrendo para transformar esta grande nação em um enorme país.

São todos aromas, simpáticos, irritantes às vezes, outros nos estimulam a memória. Lembram-nos, a todo tempo, que estamos vivos e, por isso mesmo, felizes.


DESISTIR DE DESISTIR

(publicado em 13.07.02)

 

A desistência é uma fraqueza humana.

Algumas vezes é compreensível. A pessoa define um certo objetivo, começa a caminhar para sua realização e, face aos enormes problemas que encontra, abandona.

Em outros casos larga-se por conta de um simples e insignificante obstáculo.

As escolas nos trazem inúmeros exemplos. Ensino fundamental ou superior, conservatórios musicais, escolas de arte têm um índice de rotatividade assustador. São aqueles que criaram um sonho, matricularam-se. Daí uma crítica, nota baixa, brincadeiras de colegas os levam a não voltar mais. Triste mesmo é encontrar um indivíduo desses, bebendo no balcão do botequim com suas queixas lamuriantes: “É, eu deveria ter continuado, hoje poderia ter salário mais elevado e uma condição de vida melhor”

As academias de ginástica em geral e as de artes marciais em particular mostram situações mais radicais. No verão estão lotadas, vazias no inverno. O friozinho insignificante que ocorre no Brasil é suficiente para levar ao desânimo. Inúmeras outras razões induzem os candidatos a atletas amadores deixar tudo em um mês, ou antes.

Empresários não deixam por menos. Tudo é ótimo quando o lucro é certo, basta uma crise para que fechem ou vendam a empresa. A Lacta tem o mais perfeito sistema de distribuição do país; encontra-se o tradicional “Sonho de Valsa” em qualquer recanto do Brasil. À primeira dificuldade, os herdeiros venderam. Matarazzo afundou. Perdigão foi vendida, e tantas mais.

Um pouco por toda parte as renúncias se somam: sacerdotes deixam o hábito, militares pedem reforma, políticos voltam à vida privada, juizes e promotores resolvem dedicar-se a seus escritórios particulares, professores pedem aposentadoria proporcional, operários aceitam as propostas de demissão voluntária.

No relacionamento homem e mulher a situação ficou estranha, ao menos para mim que, nesse aspecto, sou um pouco conservador. Um rapaz conhece uma moça, simpatizam um com o outro, concordam em “ficar”. Saem, bebem passeiam e que tais. Em seguida cada um segue seu caminho, como se nada houvesse ocorrido. É um fato que sempre existiu, mas não era tão generalizado e tinha nome específico.

No geral as pessoas que se entendiam não desistiam tão facilmente.

Em algumas situações a complicação é geral. Os médicos, biólogos, zoólogos são unânimes em afirmar que os homens e animais carregam um forte instinto de auto-preservação e de reprodução da espécie. Mesmo assim há os que desistem de viver. Os especialistas, sem conseguir explicar nada, apelam para a insanidade mental, abuso de drogas. Têm certeza que os jovens oficiais japoneses que se tornaram “kamikases”, ou os palestinos “homens-bomba” eram e são todos insanos?

Aprendi, há muitos anos, que o homem deve cultivar o espírito da persistência. A cada fuga esse espírito se enfraquece, até o ponto que não se luta por mais nada, entrega-se perante qualquer obstáculo.

Os antigos samurais tinham um código de honra, o “Budo”, cuja princípio primeiro dizia: “Avança, mesmo que tiveres apenas uma lança”.

Se aceitarem, deixo um conselho: desistam de desistir.


ESPORTES: PERDENDO A GRAÇA

(publicado em 20.07.02)

 

O ser humano sempre foi um admirador dos esportes. De início prevalecia uma visão utilitarista: valorizavam a capacidade guerreira e de caça. Posteriormente abstraíram esse objetivo e passaram a respeitar a forma física, a força e a velocidade.

Dentre os esportes mais antigos que se conhecem, as Olimpíadas merecem um espaço especial. As primeiras olimpíadas aconteceram no ano 776 antes de Cristo na cidade de Olímpia. Apenas uma competição acontecia: uma corrida a pé de 183 metros, que era a volta ao estádio. Somente homens corriam. Na décima quarta olimpíada já havia duas corridas. Na segunda corrida, os atletas davam duas voltas no estádio.

Mais tarde, os espartanos passaram a competir e introduziram outros esportes. Corridas, saltos e arremessos de disco começaram a ser apresentados e, assim, os jogos passavam a durar cinco dias. Os vencedores não ganhavam ouro, jóias ou títulos de nobreza, eram apenas coroados com um ramo de oliveira e o reconhecimento de serem mais rápidos e tratados como semideuses.

Que diferença com o que ocorre em nossos dias; chega-se a sentir saudades do que não se conheceu.

Vejam o boxe atual. Uma forma de combate antigo, violento sem dúvida, mas que se caracterizava pela força aliada à técnica. Em determinado momento passou a render muito dinheiro, seja proveniente da venda de ingressos, dos patrocínios ou de apostas. Uma simples luta chega a movimentar milhões de dólares. Organizações de características mafiosas passaram a controlar as lutas, decidir quem deve vencer ou ser derrotado. Todos conhecem o papel de Don King no boxe internacional. Aliás, quem não desconfiou que havia algo estranho na última derrota de Mike Tyson?

O automobilismo anda estranho. Já valeram a coragem e audácia do piloto, ainda vale, muito menos porém. Há tantos computadores mantendo tudo sob controle que não me espantaria se tirassem o piloto para que não atrapalhe. Os incautos torcem para o Brasil, por quê? O carro e o motor não são brasileiros, nem qualquer peça ou pneus. Um dos melhores pilotos, por acaso, nasceu no Brasil; mas fala inglês ou italiano o tempo todo. De brasileiro mesmo só o hino nacional e a bandeirinha quando é erguida. De repente, o piloto que ia vencendo é obrigado a frear para permitir a ultrapassagem de outro da mesma equipe. São os interesses econômicos pouco dignos prevalecendo.

O futebol é a “preferência nacional” . Todos gostamos de assistir à raça, competência e até alguma “malandragem” dos jogadores brasileiros. Repentinamente surgem as acusações de corrupção, instalam-se CPIs, responsáveis se escondem ou fogem, há políticos envolvidos.

Alguns fatos começam a nos deixar desconfiados. Não é estranho que desportistas fortes, saudáveis e bem treinados estejam constantemente feridos?

Recentemente, na copa, ficamos todos abismados com a incompetência de árbitros e bandeirinhas. Exageraram demais e todos passaram a sugerir que poderia haver “gatunagem” mesmo. Só parou porque a imprensa internacional passou a discutir os fatos com veemência.

O homem brasileiro sofre com a economia, desemprego, salários baixos. Será que não poderiam deixar incólume pelo menos o prazer de assistir em paz a seu esporte preferido?

Quanto a mim passo a respeitar o jogo do bicho. Os banqueiros foram acusados de tudo, menos de fraudar resultados ou deixar de pagar aos que ganharam numa aposta.


CENTRISMOS

(publicado em 27.07.02)

 

É uma das obsessões dos homens: pensar que eles e seu meio são o centro de tudo. Além de revelar imaturidade econômica, política e cultural, essa postura pode trazer conseqüências inconvenientes.

Tente-se descascar apenas o lado esquerdo de uma laranja. Feito isso, basta um movimento de rotação vertical e o lado descascado estará à direita. As formas esféricas não tem laterais ou partes superiores e inferiores. Apenas por abstração pode se adotar um ponto de referência e, a partir dele, definir-se, no globo terrestre, o que é leste ou oeste, norte ou sul. Veja-se o mapa mundial, em qualquer atlas ou livro escolar de geografia: a Europa encontra-se exatamente no centro. É o chamado “eurocentrismo”.

O problema é esquecer-se que o ponto de referência é apenas uma ficção e, daí, chegar-se a conclusões absurdas. A historiografia ficou comprometida com essa visão. Até hoje se afirma que Napoleão ou Hitler quase dominaram o mundo quando, em verdade, quase dominaram a Europa e só. Também se diz que o fim do Império Romano trouxe uma decadência jamais vista antes. Esquece-se que foi a época de esplendor do mundo islâmico, com extraordinário desenvolvimento da cultura em geral, das artes e técnicas em particular.

O pior do “eurocentrismo” foi considerar que o resto do mundo era composto de países periféricos, habitados por povo primitivos (não civilizados). Daí justificou-se o colonialismo explorador, escravista e assassino.

Já decidiram que a terra, este planeta insignificante, fosse o centro da terra. Galileu quase foi condenado à morte por demonstrar o contrário.

Em matéria de religião é tudo muito pior. Cada crente se julga o dono da única verdade metafísica, apenas a sua divindade é válida. Protestantes mataram católicos e vice-versa movidos por essa concepção. Os judeus (vejam o antigo mandamento da Bíblia) se consideraram o “povo escolhido”. Os egípcios não concordaram e os transformaram no povo escolhido para a perseguição. Os muçulmanos concluíram que os não seguidores de Maomé eram infiéis e mereciam a morte (está no Alcorão). Os espíritas são uns chatos, insistem em ignorar a descoberta de Lavoisier, desconhecendo que a vida se transforma, e poluem o universo de almas que para nada mais servem senão oferecer conselhos inúteis e desatualizados.

Os Estados Unidos impressionam. Como é que um povo pode ficar tão cego para os fatos? O Presidente é um “panaca”. Seu aliado principal, Tony Blair, ainda pior. Juntos estão planejando a invasão do Iraque. Talvez consigam a união dos povos árabes contra si, que não estão simpatizando nem um pouco com a ajuda a Israel em seu genocídio contra os palestinos. Não me surpreenderia se os iraquianos vencessem, os coreanos já conseguiram e o vietnamitas também. Será uma imitação do Galtieri, fazer uma guerra externa para disfarçar os enormes escândalos das fraudes nas maiores empresas norte-americanas?

O Brasil não é muito diferente. Temos as melhores praias, o rio de maior volume d'água, a maior floresta, a maior quantidade de ervas, o melhor clima, os campeões do futebol. É interessante constatar que o desempregado, com a família passando por incríveis necessidades, acredita nisso tudo. A única solução virá quando tivermos o povo mais exigente do mundo, reivindicando, lutando, votando para fazer deste um grande país.

Não precisamos ser o centro do mundo, só uma importante parte dele.


ESPERNEAR É PRECISO

(publicado em 03.08.02)

 

O mundo encontra-se acuado perante uma grave crise. O Brasil também, o que não é novidade.

O problema, neste nosso país, onde em se plantando poucos colhem, é que a conta é paga pelos cidadãos comuns, pelos consumidores.

Alguém já viu o Governo, ou qualquer órgão burocrático, em momentos delicados da economia, reduzir mordomias, diminuir o número de assessores, utilizar automóveis menos sofisticados? Não, aumentam impostos.

As Prefeituras aumentam os IPTUs à vontade, sem justificar, explicar, nem pedir desculpas.

Tarifas: combustíveis, gás, energia elétrica, telefone, tudo aumenta acima da inflação. O consumidor economiza e gasta menos, daí diminui o lucro das concessionárias e, para compensar, aumentam ainda mais as tarifas.

A corrupção está à solta, e não se condena ninguém. Políticos condenados voltam com ardor, vejam o Collor. A parafernália jurídica confundiu, mas sabem que o juiz Lalau foi praticamente absolvido? Foi condenado por remessas ilegais de dinheiro ao exterior e outras bobagens, mas pelo que roubou na construção do famoso prédio do Tribunal, ficou por isso mesmo.

Aposentados, pobrezinhos, recebem uma insignificância face ao que pagaram durante toda uma vida. Enfrentam filas enormes. Recentemente uma surpresa, milhares deixaram de receber porque os computadores da Previdência decidiram que estavam mortos. Como se prova estar ainda vivo?

É tempo de reagir.

Não aquela reação de quem está numa roda de amigos, em casa ou no bar, insistindo na desonestidade dos políticos, na decrepitude das instituições, no fim do tempos. Essa postura incomoda amigos e conhecidos, não leva a nada.

Há o que funciona: escrever para os jornais (muitos têm espaço para leitores), emissoras de rádio e televisão. Quem pode enviar emails, congestionem as caixas postais dos políticos. Telefonem. Mostrem os absurdos que se cometem contra os cidadãos. E, o mais importante, votem com consciência e responsabilidade. Importa, em tudo isso, é que as autoridades saibam que não estamos dormindo.

As manifestações de rua também são úteis, desde que bem planejadas e organizadas. Caso contrário podem ser inconvenientes, até perigosas.

Na Argentina tornaram-se freqüentes os “panelaços”, as pessoas saem às ruas centrais batendo panelas e protestando contra as autoridades. Várias vezes trocaram-se membros do governo, inclusive presidentes, sempre para pior.

No Brasil, o MST faz seus movimentos: passeatas, invasão de terras. Surgem sempre infiltrados que saqueiam, mostram armas e destróem. Justificam a ação policial a jogar bombas de gás, jatos d'água e tiros de borracha. Desmoralizam um movimento que tem reivindicações justas e sérias.

Mas não se pode silenciar, há que ficar atento e agir, mas com cuidado.

Talvez devamos seguir o exemplo da Igreja Católica, que trouxe para a arena política sua experiência de séculos, acumulada desde as catacumbas: a luta contra o poder se faz com paciência, e em silêncio.


LIMITES

(publicado em 10.08.02)

 

O avanço da civilização foi acompanhado de conquistas importantes, em especial o reconhecimento de que todos os homens têm direito à vida, nascem iguais e a liberdade é um direito natural, inerente ao ser humano.

Os direitos humanos não são entidades metafísicas, perenes, dados para todo o sempre. São históricos, conquistas que exigiram séculos para se concretizar, dependendo da experiência, do avanço de técnicas e tecnologias.

Os vulcões, terremotos, maremotos, enchentes já se encarregaram de demonstrar que a natureza não se sensibiliza nem um pouco pelo direito à vida.

Os Estados, em inúmeros momentos históricos, também trataram os cidadãos como meros objetos de leis, não como sujeitos de direitos. Lembrando apenas período mais recente, o do regime militar brasileiro, as torturas, repressão e censura grassavam soltas. Todas as liberdades estavam garantidas, desde que fossem utilizadas “a favor”. Não se podia falar, ler ou assistir salvo o que fosse autorizado. Três pessoas ou mais, reunidas em local público eram, inevitavelmente, consideradas subversivas. Foi um longoatentado à evolução da humanidade.

Nem tudo, porém, pode ser liberdade absoluta. Há limites que devem ser observados, especialmente quando envolvem respeito para com os demais. Quaisquer limitações envolvem alguma censura que, certas vezes é indispensável. Mas não a censura feita por administradores burocratas. Os costumes e as formas de relacionamento entre as pessoas modificam-se com o tempo, os valores ficam mais flexíveis, as regras de conduta também. Os burocratas não, ficam congelados no seu passado, mesmo quando suas concepções já não fazem nenhum sentido.

A censura, não em forma de proibições, mas de conselhos e bons argumentos, cabe a cada cidadão, sua família, comunidade ou à sociedade maior a que pertença. Sim, porque há coisas que se fazem e dizem em certos locais e momentos, mas não em outros, conforme decisão dos que freqüentam. É natural que se diga palavrões em um campo de futebol, jamais em um templo religioso.

Há poucos anos uma apresentadora de TV, a Xuxa, resolveu usar seu programa, de enorme audiência, para divulgar que teria um filho de forma “independente” (isto é, sem ser casada e sem identificar o pai). Seria natural, direito exclusivo dela. Nesse momento, porém, as pesquisas começavam a revelar o número enorme de jovens pré-adolescentes e adolescentes que engravidavam sem condições de enfrentar o fato e nem tampouco de criar os rebentos mais tarde. As manifestações da Xuxa só serviam para incentivar e justificar o fato. Mas deve ser perdoada porque não sabia o que estava fazendo, tudo indica que a loirinha de voz infantil tenha um cérebro de dimensões bastante discretas.

O mundo estaria bem mais tranqüilo se George W. Bush, seu Secretário do Tesouro Paul O'Neill ou o aliado subserviente Yitzhak Rabin fossem orientados a calar a boca de quando em vez.

As campanhas anti-drogas foram e são feitas com mensagens agressivas e que implicam em certa repressão. Começa que a polícia, um dos maiores redutos do tráfico, prende, espanca e aprisiona. A propaganda insiste: “droga mata”, “diga não às drogas” etc. O vício aumenta e o tráfico ainda mais, claro.

Recentemente, alguns ex-drogados deram entrevistas com um tema: “as drogas são ótimas, estimulam a criatividade, causam alegria e desenvoltura; mas em pouco tempo escravizam, neutralizam a iniciativa, fazem perder o respeito de familiares e amigos”. A credibilidade é maior.

Limites são necessários, autocontrole inclusive, repressão censória jamais.


INDIVIDUALISMO

(publicado em 17.08.02)

 

Anos sessenta. A sociedade brasileira se agitava, mostrava temores, a insegurança era geral.. A seca e a pobreza nordestina estavam no auge, a miséria nas periferias também Propunham-se reformas de base, visando impedir que explodissem movimentos populares.

Os militares resolveram tomar o poder, deram um golpe de Estado chamando-o de Revolução para aparentar legitimidade. Alegavam que o Presidente e um Governador riquíssimos, latifundiários, eram comunistas.

Os estudantes, a maior parte de classe média, proprietários de automóveis novos, morando em imóveis confortáveis, vestindo-se muito bem, abriam mão de seus privilégios para contestar, nas ruas, o novo regime que aumentava a pobreza e a espoliação do povo. Foram também acusados de comunistas e daí presos, até assassinados.

Gradativamente fomos invadidos pelo “American way of life” e nos tornamos egoístas. Oduvaldo Viana Filho dizia que a classe média estava mais preocupada com a quantidade de metros quadrados de seus apartamentos que com todos os problemas sociais do país.

Pegou, ficamos egoístas e individualistas até hoje.

Duas pessoas se comunicam, pessoalmente, por telefone ou por escrito. Há um diálogo informal. Cada uma fala sobre seu emprego, dívidas ou lucros, emprego, problemas, em suma, sempre o pessoal e único. Parecem que o único pronome que conhecem é “eu”. Tornam-se cansativas, até insuportáveis.

Eleições. Quantos votam no candidato que presenteou uma camiseta ou produto insignificante qualquer. Outros procuram eleger sob a promessa de que irão conseguir um emprego, uma vaga na escola para o filho, iluminação ou asfaltamento da rua onde moram.

Preocupante é o individualismo nas relações familiares. Um saudoso professor, Egon Schaden, afirmava com freqüência: “A Sociologia insiste em repetir que a família é a célula da sociedade. Foi no passado. Hoje, a família é um casal que se encontra, eventualmente, à noite, na cama.”

Dois jovens se casam. Cada um tem sua própria vida: emprego, estudos, amigos. Têm o primeiro filho; passados os primeiros momentos de entusiasmo começam as preocupações: quem cuidará da criança? Sim porque nenhum dos dois tem tempo e a criança significa um obstáculo a um trabalho mais dedicado que gere promoções futuras, atrapalha as reuniões do “happy hour” com os colegas. Sobra para os avós ou para uma babá contratada.

Passado algum tempo, a criança cresce. Para deixar os pais tranqüilos cumprindo suas obrigações pessoais é matriculada em cursos de judô, ballet, natação, inglês. Passa a ser um órfão.

Por vezes o homem é atingido pela fome, ou ameaçado por um perigo que coloca sua vida em risco iminente. Nesse momento seu único objetivo é obter alimento ou proteger-se, nada mais nem ninguém importa; até mata se necessário. É o emergir do instinto animal de auto-preservação, não egoísmo.

É preciso compreender, porém, que o ser humano não é mais um simples animal, seu bem-estar depende das razoáveis condições de vida dos demais. Qualquer esforço, luta ou reivindicação só fazem sentido se realizadas em nome de toda uma comunidade.


LIVROS

(publicado em 24.08.02)

 

Não é necessário insistir sobre a importância dos livros; custa pouco rememorar.

Os livros transmitem conhecimento, há os didáticos, técnicos e científicos. Até mesmo em ficção se aprende muito, é mais fácil entender Psicologia em Shakespeare, Oscar Wilde ou Machado de Assis do que em Freud. A leitura estimula a imaginação, incentiva as fantasias e daí a felicidade espiritual. O ato de ler é uma prática de lazer que enriquece, acalma, dilui o “stress” do dia a dia.

Infelizmente se lê muito pouco no Brasil; por incrível que pareça, menos que naquela ilhota chamada Cuba. A situação é ainda pior do que os dados estatísticos indicam, porque se referem a livros vendidos que nunca se sabe se são lidos ou apenas utilizados para enfeitar estantes, ou para serem oferecidos como presentes. Tal fato se deve a vários fatores.

Um dos problemas é o preço dos livros em nosso país. Editores, distribuidores e livreiros, como grande parte dos empresários nacionais, querem enriquecer da noite para o dia e pretendem fazê-lo cobrando preços altos. Basta dizer que o livro brasileiro é um dos mais caros do mundo.

Aspecto significativo, também, é o dos pais que não lêem, não têm livros em casa e com isso induzem seus filhos a sentir ojeriza pelos textos. Há ainda pior: pais que para justificar sua própria ignorância alegam que os livros são inúteis, que trabalham há vinte ou mais anos e nunca leram um livro e que a experiência e prática é o que importa.

As nuvens negras já começaram a se dissipar. Inúmeras escolas têm promovido “o dia (ou a semana) da leitura”, em que os professores orientam análise e discussão de textos. Vários escritores famosos têm concordado em ajudar, falando sobre seus trabalhos, explicando-os, ensinando a melhor forma de ler e aproveitar o máximo do conteúdo.

Recentemente uma grande editora, associada a certa indústria de papel, começou a lançar clássicos de ótima qualidade editorial e gráfica, distribuídos em bancas de jornais, a um preço bastante acessível.

E eis que um valor mais alto se levanta: a Internet. Já desabrochou, mas a grande floração só virá em primavera futura. Os jovens estarão adaptados, os mais velhos preferem ler em papel e não gostam de fazê-lo nas telas de computadores. Mas é relativo, tenho 54 anos e me habituei a tal ponto que prefiro ler em telas a num calhamaço de folhas. Além disso pode-se procurar rapidamente uma frase que não se lembra onde está, fazer anotações, corrigir, imprimir. Alguns insistem em que gostam de ler na cama, na beira da piscina ou numa confortável poltrona. Existem aparelhos, do tamanho de um livro comum, onde se pode gravar dez ou mais obras, que podem ser levados a qualquer lugar. O único problema: os tais aparelhinhos custam um pouco caro, mas deverão baratear em breve. Em compensação, há inúmeros “sites” que oferecem acesso gratuito a inúmeras obras. Eu mesmo construi um, com mais de cem livros já disponíveis (www.ngarcia.org.br).

A Internet traz outras vantagens. São várias as obras que os gananciosos editores dos livros de papel não editam. Presumem que venderão pouco porque o autor não é conhecido, evitam livros com ilustrações por terem custo mais elevado, não editam obras clássicas, a não ser aquelas cuja leitura seja obrigatória porque são pedidas nos concursos vestibulares.

Nós, que nos dedicamos a oferecer obras pela Internet, damos prioridade aos autores novos e bons, às obras clássicas e aos livros ricos em ilustrações.

A solução é essa: divulgar, oferecer, estimular a leitura.


VOCÊ PRECISA

(publicado em 31.08.02)

 

O título contém uma expressão que, dentre outras, é das mais incômodas e desagradáveis.

As pessoas têm direitos pessoais e, quando seu exercício não prejudica ninguém, não precisam fazer nada, nem dar satisfações a ninguém, a não ser que queiram. Há, todavia, os que assumem o direito da implicância e vivem a dar palpites sobre como devemos agir, nos comportar, ou o que devemos fazer.

Em minha casa construí um aquário externo, de pedras rústicas, capacidade de dois mil litros d'água, com cerca de trinta pequenos peixes ornamentais. Um conhecido, sempre que aparece, repete que é necessário colocar água corrente para ficar mais bonito. Insiste, também, que deveria colocar alguns peixes maiores e, portanto mais visíveis. Ora o aquário foi feito para que haja mais vida, não para satisfazer os olhos curiosos de visitantes eventuais.

O mesmo conhecido, ao entrar na casa cujo piso é todo de lajotas, alega que o ambiente fica frio tornando necessário colocar carpete; deve gostar de ácaros e pulgas.

Outros repudiam a cor da casa, toda branca, afirmando que deveria ser pintada com cores mais vivas como amarelo, verde ou azul.

Não faltam os atentos às vestimentas. Cores escuras no verão, não pode, esquentam muito. Cores claras sujam com muita facilidade. As mulheres são especialistas em combinar: sapatos com cintos, meias com calças e estas com as camisas.

Os cabelos estão sempre muito longos ou curtos demais, talvez devesse tingi-los para obter um ar mais jovial.

Não se atreva a tossir; uns sugerem que vá ao médico, outros já receitam diretamente: mel, conhaque com limão, chás de agrião ou guaco.

Deixar o carro sujo, jamais, em todo lugar que estacionar há os desocupados a dizer que está na hora de uma limpeza, sem contar aqueles que escrevem com os dedos: “Lave-me por favor”.

Apresentar o filho jovem é outro problema: todos querem saber o que pretende estudar e que profissão irá exercer. Lembro-me de uma jovem que, ao dizer que estudaria “Ciências Sociais”; quase foi engolida pelas críticas, principalmente a de que não havia mercado de trabalho para sociólogos. Não podendo me conter, respondi que uma das vagas seria a de Presidente da República. Mas há sociólogos jornalistas, pesquisadores, escritores, analistas e críticos (o Joelmir Beting é sociólogo), “web designers” e tantos.

Beber ou fumar também é um risco. Não apenas porque faz mal à saúde (e faz mesmo), mas porque os chatos de plantão desandam a recitar os males que as drogas causam para o organismo, a sugerir tratamentos. Há os piores, sentam-se, à noite, na mesa de um bar, pedem um suco de laranja para bebericar durante horas e, basta alguém acender um cigarrinho, para começarem a respirar mal e tossir como asmáticos. Pura frescura de impertinentes.

As situações são incontáveis: “Por que ler tal autor se outro é melhor?”; “Por que abrir conta nesse banco?”; “Não sabia que outro supermercado atende melhor e tem preços mais baratos?”; “Por que essa marca de carro?”; “Não acha melhor passar as férias no campo do que na praia?”; “Por que trocar de mulher, se a anterior é mais bonita?”.

Parafraseando o “slogan” de um antigo xarope: “Largue-me, deixe-me viver”.


CARISMA

(publicado em 07.09.02)

 

“Atribuição a outrem de qualidades especiais de liderança, derivadas de sanção divina, mágica, diabólica, ou apenas de individualidade excepcional.”. Esta é uma definição de dicionário. As explicações dicionarizadas, mesmo sendo úteis, são superficiais e estáticas; não esclarecem sobre a origem, o contexto em que surgem e o desenvolvimento dos fenômenos a que se referem.

O carisma é uma imagem; a imagem de um líder excepcional criada por ele próprio e por seus seguidores. É importante esclarecer os atributos que caracterizam essa excepcionalidade.

Cuidadosamente, a figura do chefe deve ser elaborada de modo a caracterizá-lo como dotado de qualidades excepcionais, onipresente e onisciente, ao mesmo tempo que humano, simples e acessível, líder que personifica os interesses do povo e os exprime.

O dirigente transforma-se assim em gênio político, qualidade que justifica sua liderança e legitima suas decisões, ao mesmo tempo em que é popular o suficiente para compreender e defender os interesses do povo. Sua superioridade o torna merecedor de ser seguido, sua simplicidade demonstra que compreende seus seguidores.

A onipresença é simbólica. Os meios de comunicação leva os discursos e declarações para todo o país. Suportes, geralmente destinados a conter a imagem de grandes personalidades e heróis ostentam a efígie do condutor. Sua fotografia é afixada nas oficinas, nas fábricas, escolas, bares, repartições públicas, aparece nos jornais, revistas e livros. Geralmente uma fotografia solene. Mas há as fotografias mais populares, com o líder sorridente, entre as crianças, nas ruas ou cumprimentando o povo.

Além da onipresença, há a atribuição de qualidades excepcionais. Quando em meio às grandes manifestações, ou a elas se dirigindo, seu porte é ereto, cumprimenta as multidões de forma peculiar, com gesticulação que lhe confere um ar solene.

Além da autopromoção, há os empresários e operários, artistas, escritores, intelectuais, políticos e jornalistas, em discursos, centenas de livros e livretos, na imprensa ou no cordel, na música, onde se mencionam insistentemente os atributos intelectuais, políticos, administrativos e humanos do Chefe.

Se a criação da imagem de ser superior conduz o líder às alturas, distante do mundo terreno de uma população em grande parte inculta, analfabeta mesmo, todo um processo de popularização o torna mais acessível, palpável. Em primeiro lugar é ele próprio que se encarrega de variar o ar solene, adotando posturas que o popularizem. O sorriso franco, aberto, às vezes gargalhada “espontânea”, enfraquece qualquer barreira que se possa antepor entre ele e a massa. Às vezes, realiza passeios a pé pelas ruas. Nesses passeios, sai com os bolsos previamente cheios de balas e para oferecer às crianças que encontrar, cujas cabeças acaricia sempre que surja a oportunidade. Além disso, almoça em restaurantes populares, observa os preços das mercadorias. As cartas recebidas e respondidas são inúmeras.

Várias personalidades, na história, notabilizaram-se pela habilidade em perceber o momento histórico e as circunstâncias em que viviam. Souberam adotar uma postura conforme e acabaram reconhecidos como heróis. Para citar apenas alguns lembraríamos: Lênin, Hitler, Churchill, Roosevelt, Getúlio Vargas, Juscelino. Foram homens admirados por seus povos e erigidos à categoria de heróis.

Será que entre os atuais candidatos há algum que tenha essa capacidade? Ou são apenas farsas.


EQUÍVOCOS E TOLICES

(publicado em 14.09.02)

 

Erros, os cometemos todos; uns mais graves, outros sem conseqüências mais sérias.

Algumas pessoas, pelo prestígio que lograram adquirir, ou pelo cargo que ocupam, deveriam ser mais comedidas em suas ações e parcimoniosas em relação ao que dizem.

Durante o regime ditatorial-militar o escritor e jornalista Sergio Porto, conhecido como Stanislaw Ponte Preta, notabilizou-se pelo livro “Festival de Besteira que assola o país” (FEBEAPÁ). Ridicularizava afirmações e ações de autoridades civis e militares. Hoje, certamente faria sucesso se escrevesse o “Festival de Besteira que assola o mundo”.

O primeiro a ser mencionado seria o “Buffalo Bill do Ocidente”, o Presidente eleito fraudulentamente Sr. George Walker Bush. Confuso e contraditório, errando os nomes dos países da América do Sul, dizendo bobagens o tempo todo, vem demonstrando seu psicótico espírito belicista e vingativo.

A primeira cena, impagável, refere-se ao Afeganistão. Realizado o ataque, Bush declarou ao mundo que Bin Laden estava morto. Logo depois afirmava que sua prisão dependia de horas para, recentemente, acusá-lo de estar preparando novas ações terroristas.

Agora o alvo é o Iraque. Bush resolveu invadi-lo de qualquer forma, mesmo contrariando as posições dos países árabes, da União Européia, da ONU e até de grande parte da opinião pública norte-americana. Primeiro acusou Hussein de financiar o terrorismo, depois de produzir armas químicas e biológicas e, recentemente, de estar produzindo bombas atômicas. Tudo isso sem demonstrações nem provas. Por que não diz logo que quer dominar o país que tem a segunda reserva de petróleo do mundo?

Nossa vizinha Venezuela também merece um bom espaço no livro. Qualquer ação bélica, revolucionária ou golpista pressupões um mínimo de informações e planejamento. É preciso, antes de mais nada, conhecer a força dos adversários e sua capacidade de reação. Um grupo de civis e militares venezuelanos resolveram derrubar o Presidente eleito Hugo Chavez e o fizeram. O problema é que o Presidente tinha o apoio da maioria das Forças Armadas, das maiores organizações sindicais de empresários e trabalhadores, da Igreja Católica e da comunidade internacional. Resultado, o golpe durou dois dias e tudo voltou ao que era antes.

E as brincadeiras têm acontecido ao correr do tempo. Os argentinos já acreditaram que venceriam a Inglaterra no episódio das Malvinas (ou Falklands). Os franceses resolveram se abster de votar e quase deixaram eleger um dos candidatos mais retrógrados e reacionários da Europa. A direção de um presídio brasileiro acreditou que um boneco de palha impediria tentativas de fuga.

Interessante mesmo ocorre no Brasil de hoje. Estamos às vésperas de eleições. Todos os candidatos ao trono presidencial, nas campanhas e debates, prometem fazer as mesmas coisas, com pequenas variações de grau.

Propõem aumentar as exportações e reduzir importações, de molde a aumentar desmesuradamente nossas reservas em dólares. Ampliar a produção e reduzir o desemprego. Aperfeiçoar a educação pública. Sanar os problemas de violência, transporte e habitação.

Começa a surgir uma preocupação: e se o candidato eleito conseguir realizar uma pequena parte das promessas? Haverá uma incrível queda nas Bolsas de Nova Iorque, Tóquio e Frankfurt. Corremos até o risco de sermos invadidos pelos países desenvolvidos que não poderão concorrer com a superpotência em que se transformará o Brasil.

Parafraseando Rui Barbosa: de tanto ver triunfar as tolices, chega-se a sentir vergonha por ter bom senso.


ENIGMAS DA MORTE

(publicado em 21.09.02)

 

O homem é o único animal capaz de observar, perscrutar, pesquisar e produzir conhecimento a respeito de sua natureza próxima e do universo. Essa faculdade o tornou um tanto arrogante, acreditando ser o centro do mundo, escolhido pelas divindades e que tais.

O ser humano torna-se, porém, angustiado, inseguro e perplexo quando lhe ocorre a imagem de um dos cavaleiros do Apocalipse: a Morte.

O fim da vida vem sendo estudado e discutido desde tempos imemoriais. É uma preocupação de médicos, biólogos, químicos, religiosos. Todos eles, porém, se concentram quase exclusivamente nos aspectos físicos .

Foi nas artes que se desenvolveu uma preocupação com o significado do término da existência. As observações mais brilhantes estão em Hamlet (Ato V, Cena I).

Hamlet, caminhando pelo cemitério, manifesta sua indignação com o tratamento que o coveiro dá ao esqueleto de um desconhecido

“Tempo houve em que aquele crânio teve língua e podia cantar; agora, esse velhaco o atira ao solo, como se se tratasse da mandíbula de Caim, o primeiro homicida. É bem possível que a cabeça que esse asno maltrata desse jeito seja de algum político que enganava ao próprio Deus...” (...) “E agora, depois de pertencer a lorde Verme, que lhe comeu as carnes, este sujeito lhe bate com a enxada no maxilar. Se pudéssemos acompanhá-lo em todas as fases, surpreenderíamos nisso uma bela revolução. Levarem tanto tempo esses ossos para se formarem, só para virem a servir de bola! Só de pensar em tal coisa, sinto doer os meus.”

Hamlet expressa sua incompreensão perante o crânio de Yorick, falecido bobo do rei: “Deixa-me vê-lo. (Toma o crânio.) Pobre Yorick! Conheci-o, Horácio; um sujeito de chistes inesgotáveis e de uma fantasia soberba. Carregou-me muitas vezes às costas. E agora, como me atemoriza a imaginação! Sinto engulhos. Era aqui que se encontravam os lábios que eu beijei não sei quantas vezes. Onde estão agora os chistes, as cabriolas, as canções, os rasgos de alegria que faziam explodir a mesa em gargalhadas? Não sobrou uma ao menos, para rir de tua própria careta? Tudo descarnado! Vai agora aos aposentos da senhora e dize-lhe que embora se retoque com uma camada de um dedo de espessura, algum dia ficará deste jeito. Faze-a rir com semelhante pilhéria.”

Hamlet não deixa de comentar que a morte significa a volta ao pó, e o faz utilizando a imagem de Alexandre, O Grande:

“A que usos ínfimos temos de prestar-nos, Horácio. Por que não acompanhar a imaginação as nobres cinzas de Alexandre, até encontrá-las servindo para tapar um barril?

“HORÁCIO: É ir muito longe, considerar as coisas por esse modo.”

“De forma alguma. Acompanhemo-las com bastante modéstia, deixando-nos guiar apenas pela verossimilhança. Mais ou menos deste jeito: Alexandre morreu; Alexandre foi enterrado; Alexandre tornou-se pó. O pó é terra; da terra faz-se argila; por que, então, não se poderá tapar um barril de cerveja com a argila em que ele se converteu?”

A morte é um fato inexorável. De nada adianta encará-la com indignação, incompreensão, angústia ou perplexidade. Os fenômenos devem apenas ser observados, assim como fazemos como o vento, as chuvas ou trovões: com naturalidade.


BANHEIROS

(publicado em 28.09.02)

 

À primeira vista parece tratar-se de um assunto chulo; só aparentemente.

Os economistas e administradores têm sido unânimes em afirmar que o que chamam de “indústria do turismo” tem uma importância fundamental para qualquer país. Realmente o turismo traz moedas estrangeiras, acelera e amplia setores do comércio e serviços, cria novas vagas para trabalhadores.

Para desenvolver o turismo um país precisa oferecer pelo menos uma dentre várias possibilidades. Belezas naturais, patrimônio histórico, águas medicinais, clima saudável, são alguns dos requisitos importantes. Mesmo assim, projetos bem realizados podem atrair turistas. Las Vegas tem nada mais que casinos no meio do deserto; mas um planejamento perfeito oferece diversões com atendimento impecável e o movimento internacional é intenso.

Há alguns aspectos de infra-estrutura básica que os tratados de teoria e técnica de turismo deixam passar como irrelevantes: água potável e sanitários.

O Brasil é um país tropical, o calor é intenso durante o verão, turistas estrangeiros e nacionais sentem sede freqüentemente, onde beber água fresca e limpa?

Todos sabemos o quanto nossa culinária se caracteriza por alimentos pesados e fortes. Feijoada, acarajé, pernil assado, carnes, lasanha, polpettone, salgadinhos. Tudo é feito com muito tempero, desde a mais ingênua salsinha até a mais incendiária pimenta. É preciso acrescentar a nacionalíssima caipirinha, depois seguida do chope ou da cervejinha. São pratos deliciosos mas indigestos, especialmente para estrangeiros. E o pior, são tão bem feitos que nos induzem a comer em excesso.

Nesse contexto seria necessário que houvesse sanitários públicos em locais estratégicos das grandes e médias cidades. Mas há poucos e, geralmente, em condições bastante precárias. O que o turista, ou qualquer cidadão, pode fazer?

Não são poucos os que, ou estiveram na situação, ou assistiram a alguém encostado em uma parede, muro, poste ou esgueirado atrás de uma árvore tentando dissimular o indisfarçável?

Outros preferem entrar em um bar, restaurante ou estabelecimento comercial qualquer. Em si, já se trata de uma situação vexatória que se torna pior quando se precisa perguntar, em alta voz, onde fica e se é possível usar o W.C.. Mais desagradável quando o balconista pega a chave amarrada a um enorme pedaço de madeira e, com ar de mau humor, empresta ao necessitado.

O banheiro, mal conservado e sem manutenção, freqüentemente exala gases fétidos; papel higiênico, nem pensar; a torneira da pia ou não tem água ou espirra para todos os lados.

Em restaurantes de estrada, além dos mesmos inconvenientes, há os banheiros sem fechaduras nas portas e sempre surge um incauto para abri-las e conferir se há alguém dentro.

Há uma solução, especialmente para os que têm sistema digestivo frágil. Se sair para ir a um restaurante ou lanchonete, peça pratos leves, com predominância de folhas e legumes; não coloque pimenta, mostarda ou qualquer outro molho; beba muito pouco. Outra solução é comer em casa, quanto quiser, com todos os temperos, bebendo em qualquer quantidade, deixando sal de frutas à disposição.


 

©2002 — Ridendo Castigat Mores
www.ngarcia.org

Versão para eBook
eBooksBrasil.org

__________________
Novembro 2002

Proibido todo e qualquer uso comercial.
Se você pagou por esse livro
VOCÊ FOI ROUBADO!
Você tem este e muitos outros títulos
GRÁTIS
direto na fonte:
eBooksBrasil.org