capa

eBookLibris

MÁXIMAS, PENSAMENTOS E REFLEXÕES

Mariano José Pereira da Fonseca

—Marquês de Maricá—

www.ebooksbrasil.org


 

Máximas, Pensamentos e Reflexões (1839)
Mariano José Pereira da Fonseca (1773-1848)
—Marquês de Maricá—

Versão para eBook
eBooksBrasil

Fonte digital:
Ministério da Cultura
Fundação BIBLIOTECA NACIONAL
Departamento Nacional do Livro
www.bn.br

Copyright
©2001-2006 Mariano José Pereira da Fonseca


 

Índice

O Autor
Nota Informativa
Máximas, Pensamentos e Reflexões


 

O Autor

Mariano José Pereira da Fonseca, marquês de Maricá, formou-se em filosofia e matemática em Coimbra. Foi preso, em 1794, por suspeita de participação na Inconfidência Mineira, ficando detido até 1797, quando foi perdoado. De 1808 a 1821 foi tesoureiro da Imprensa Régia e da Fábrica de Pólvora. Participou do movimento da independência, da elaboração da Constituição do Império, ocupando os cargos de Conselheiro de Estado (1822), ministro da Fazenda (1823/1825) e senador. Celebrizou-se, contudo, por sua obra de filosofia moral Máximas, Pensamentos e Reflexões, editada em 1839, composta de artigos que começara a publicar na imprensa em 1813.


 

Nota Informativa

Mariano José Pereira da Fonseca, o marquês de Maricá, viveu entre 1773 e 1848, tendo vivido, portanto, até a espantosa idade de 75 anos. Em 1813, começou a publicar, no jornal O Patriota, no Rio de Janeiro, suas Máximas, pensamentos e reflexões, assinadas por "Um Brasileiro". A partir de 1839 até o ano de sua morte, editou a coletânea de suas máximas. Foram várias edições e 4.188 aforismos sobre os mais diversos assuntos, que agora se publicam nesta página.

Na tradição dos livros de sabedoria, desde as referências do Velho Testamento, as Máximas do Marquês de Maricá não foge ao perfil conservador que costuma marcar este tipo de gênero literário, sobretudo em seu recorte moral.

No caso presente, chama atenção a insistência quase obsessiva do autor pelo tema do envelhecimento, que, para o autor, seria o lugar da sabedoria e da prudência. Este tema ocupa mais do 10 por cento dos 4.188 aforismos.

Para o leitor atual, as famosas máximas do Marquês servem talvez de retrato do senso comum, ou melhor: são documento relevante do que pretendiam nossas elites e de como construíam seus valores políticos, sociais, éticos e, acima de tudo, o patrimônio moral, sempre legitimado pela religião.

Por esse último aspecto é que as Máximas ganham subjetividade e se aproximam de uma espécie de memorialismo.

O Marquês de Maricá não soube, porém, ou não quis, resguardar-se das marcas de sua própria enunciação, como aconselhava a tradição do gênero, e registrou, em grande parte dos aforismos, sua amargura e o pessimismo de um intelectual formado na tradição do liberalismo, que não consegue evitar a sensação de glória perdida.

Hoje, a leitura dos aforismos do Marquês pode ser uma viagem arqueológica ao subsolo do continente perdido dos valores burgueses da sociedade brasileira.

 

Carlos Sepúlveda


 

MÁXIMAS,
PENSAMENTOS
E
REFLEXÕES

Marquês de Maricá


 

  1 — Uns homens sobem por leves como os vapores e gases, outros como os projéteis pela força do engenho e dos talentos.

  2 — A beneficência é sempre feliz e oportuna quando a prudência a dirige e recomenda.

  3 — O pródigo pode ser lastimado, mas o avarento é quase sempre aborrecido.

  4 — O interesse explica os fenômenos mais difíceis e complicados da vida social.

  5 — Os maldizentes, como os mentirosos, acabam por não merecerem crédito ainda mesmo dizendo verdades.

  6 — Há muitos homens que se queixam da ingratidão humana para se inculcarem benfeitores infelizes ou se dispensarem de ser benfazentes e caridosos.

  7 — Ninguém considera a sua ventura superior ao seu mérito, mas todos se queixam das injustiças dos homens e da fortuna.

  8 — Os elogios de maior crédito são os que os nossos próprios inimigos nos tributam.

  9 — A modéstia doura os talentos, a vaidade os deslustra.

10 — Os abusos, como os dentes, nunca se arrancam sem dores.

11 — Os insignificantes são como os mascarados, audazes por desconhecidos.

12 — É tal a incapacidade pessoal de alguns homens, que a fortuna, empenhada em sublimá-los, não pode conseguir o seu propósito.

13 — Os soberbos são ordinariamente ingratos; consideram os benefícios como tributos que se lhes devem.

14 — O nosso amor-próprio é tão exagerado nas suas pretensões, que não admira se quase sempre se acha frustrado nas suas esperanças.

15 — Não é menos funesto aos homens um superlativo engenho, do que às mulheres uma extraordinária beleza: a mediocridade em tudo é uma garantia e penhor de segurança e tranqüilidade.

16 — A intemperança da língua não é menos funesta para os homens que a da gula.

17 — Mudamos de paixões, mas não vivemos sem elas.

18 — Nobre e ilustrada é a ambição que tem por objeto a sabedoria e a virtude.

19 — Quando o povo não acredita na probidade, a imoralidade é geral.

20 — A maledicência é uma ocupação e lenitivo para os descontentes.

21 — A velhice reflexiva é um grande armazém de desenganos.

22 — Sem as ilusões da nossa imaginação, o capital da felicidade humana seria muito diminuto e limitado.

23 — O remorso é no moral o que a dor é no físico da nossa individualidade: advertência de desordens que se devem reparar.

24 — É nas grandes assembléias deliberantes que melhor se conhece a disparidade das opiniões dos homens, e o jogo das paixões e interesses individuais.

25 — Duas coisas se não perdoam entre os partidos políticos: a neutralidade e a apostasia.

26 — Como o espaço compreende todos os corpos, a ambição abrange todas as paixões.

27 — O homem que freqüentes vezes se inculca por honrado e probo, dá justos motivos de suspeitar-se que não é tal ou tanto como se recomenda.

28 — O direito mais legítimo para governar os homens é o de ser mais inteligente que os governados.

29 — Os vícios nos velhos são inimigos acastelados que a morte pode somente expugnar.

30 — O moço devasso pode emendar-se, o velho vicioso é incorrigível.

31 — A mocidade viciosa faz provisão de achaques para a velhice.

32 — Esperdiçamos o tempo, queixando-nos sempre de que a vida é breve.

33 — As desgraças que vigoram os homens probos e virtuosos, enervam e desalentam os maus e viciosos.

34 — Há crimes felizes que são reputados heróicos e gloriosos.

35 — Um século censura o outro século, como em nossa vida uma idade condena a outra idade.

36 — A vitória de uma facção política é ordinariamente o princípio da sua decadência pelos abusos que a acompanham.

37 — Os tufões levantam aos ares os corpos leves e insignificantes, e prostram em terra os graves e volumosos: as revoluções políticas produzem algumas vezes os mesmos efeitos.

38 — É bem singular que os moços sejam pródigos podendo esperar uma vida longa, e que os velhos sejam avarentos estando ameaçados de uma morte próxima ou iminente.

39 — Dói mais ao nosso amor-próprio sermos desprezados, que aborrecidos.

40 — Os sábios respeitados por seus escritos são algumas vezes desprezíveis por suas ações.

41 — Os velhos erram muitas vezes por demasiadamente prudentes, os moços quase sempre por temerários.

42 — Os homens mais respeitados não são sempre os mais respeitáveis.

43 — Os homens de extraordinários talentos são ordinariamente os de menor juízo.

44 — Nas revoluções políticas os povos ordinariamente mudam de senhores sem mudarem de condição.

45 — A fortuna cega faz também cegos e surdos aos seus validos.

46 — O homem que cala e ouve não dissipa o que sabe, e aprende o que ignora.

47 — O fraco ofendido desabafa maldizendo.

48 — Os velhos ruminam o pretérito, os moços antecipam e devoram o futuro.

49 — Há empregos em que é mais fácil ser homem de bem, que parecê-lo ou fazê-lo crer.

50 — Os crimes fecundam as revoluções, e lhes dão posteridade.

51 — Há homens que parecem grandes no horizonte da vida privada, e pequenos no meridiano da vida pública.

52 — Na fermentação dos povos, como na dos líquidos, as escumas e impurezas sobrenadam e ficam de cima, por mais ou menos tempo, até que descem ou se evaporam.

53 — A opinião que domina é sempre intolerante, ainda quando se recomenda por muito liberal.

54 — É muito rico aquele homem que possui um grande capital de desenganos e verdades.

55 — Os grandes, os ricos e os sábios sorriem-se: os pequenos, os pobres e os néscios dão gargalhadas.

56 — Os fracos arengam, quando os fortes obram e dominam.

57 — A reforma das Constituições agrada a muitos, a própria desagrada a todos.

58 — A morte que desordena muitas coisas, coordena muitas outras.

59 — É muito difícil, e em certas circunstâncias quase impossível, sustentar na vida pública o crédito e conceito que merecemos na vida privada.

60 — Os mais arrojados em falar são ordinariamente os menos profundos em saber.

61 — O Pai de família é sensível em muitas pessoas: sofre e goza simultaneamente em muitas existências e individualidades.

62 — Os que mais blasonam de honra e probidade, são como os poltrões que se inculcam de valentes.

63 — Os homens não sabem avaliar-se exatamente: cada um é melhor ou pior do que os outros o consideram.

64 — O silêncio é o melhor salvo conduto da mais crassa ignorância como da sabedoria mais profunda.

65 — A Filosofia, quando não extingue, dilui o patriotismo.

66 — A virtude resistindo se reforça.

67 — O luxo, como o fogo, devora tudo e perece de faminto.

68 — As nossas necessidades nos unem, mas as nossas opiniões nos separam.

69 — O interesse bem entendido é raro, o mal entendido vulgaríssimo.

70 — Os benefícios mal empregados se convertem em malefícios.

71 — Há muitas ocasiões na vida em que invejamos a irracionalidade dos outros animais.

72 — No trato da vida humana é mais importante a parcimônia nas palavras que no dinheiro.

73 — Os bens que a virtude não dá ou não preserva são de pouca duração.

74 — Desprezos há, e de pessoas tais, que honram muito os desprezados.

75 — O órgão de que mais abusamos na mocidade é ordinariamente a sede dos nossos males na velhice.

76 — A virtude é comunicável, mas o vício contagioso.

77 — O mundo é um mago que nos traz encantados: o desencanto nos fizera talvez menos felizes ou mais desgraçados.

78 — Não podemos fitar os olhos no sol, nem o pensamento em Deus, sem que fiquem deslumbrados.

79 — Para bem falar, não é o saber que falta a muitas pessoas, mas a proterva e a filáucia da ignorância.

80 — Devemos tratar os homens com a mesma cautela, resguardo e desconfiança, de que usamos em colher as rosas.

81 — A nossa vida é quase toda um sonho, e sonhamos acordados mais vezes do que dormindo.

82 — É mais útil algumas vezes a extirpação de um erro, que a descoberta de muitas verdades.

83 — Dão-se os conselhos com melhor vontade do que geralmente se aceitam.

84 — Ter privança com os que governam é contrair responsabilidade no mal que fazem, sem partilhar o louvor do bem que operam.

85 — É necessário subir muito alto para bem descortinar as ilusões e angústias da ambição, poder e soberania.

86 — A lisonja é o mel que adoça todos os incômodos, azedumes e importunidades dos empregos eminentes.

87 — Muito lucram as nações em que os homens se esqueçam de que são mortais, e que a vida é breve.

88 — Os anarquistas são como os jogadores infelizes ou inábeis, que, baralhando muito as cartas, ou mudando de baralhos, esperam melhorar de fortuna e condição.

89 — Confiar desconfiando é uma regra muito salutar da prudência humana.

90 — O homem mais sábio é necessariamente o mais religioso.

91 — A ambição sujeita os homens a maior servilismo do que a fome e a pobreza.

92 — Não haveria História mais insípida e insignificante que a dos homens, se todos tivessem juízo.

93 — Quem não pode ou não sabe acumular, nunca chega a ser sábio nem rico.

94 — O estudo confere ciência, mas a meditação, originalidade.

95 — Os tiranos são criaturas dos mesmos povos, quando estes os merecem.

96 — Há pessoas que não podem elevar-se a lugares eminentes sem entontecer ou desatinar.

97 — A moderação em muitos homens é o reconhecimento da própria fraqueza ou mediocridade.

98 — Há muitos homens que para escaparem de si mesmos, importunam os outros com visitas.

99 — As revoluções políticas são ordinariamente como os terremotos, destroem mas não edificam.

100 — A civilização moderna é devida mais à derrubada de erros antigos acumulados, que à descoberta de verdades novas.

101 — Os arrufos entre amantes podem ser renovações de amor, mas entre os amigos são deteriorações da amizade.

102 — Não prezaríamos tanto o crédito moral, se não soubéssemos que facilita muito a aquisição dos bens materiais.

103 — Os governos fracos fazem fortes os ambiciosos e insurgentes.

104 — Ninguém é mais adulado que os tiranos: o medo faz mais lisonjeiros que o amor.

105 — Amamo-nos sempre em tudo o que mais amamos fora de nós.

106 — A inveja defende e promove a doutrina dos niveladores.

107 — Fingimo-nos esquecidos quando nos não convém parecer lembrados.

108 — As idéias novas são para muita gente como as frutas verdes que travam na boca.

109 — Há opiniões perseguidas que se podem comparar com as árvores decotadas que vegetam depois com mais vigor e profusão.

110 — A atividade sem juízo é mais ruinosa que a preguiça.

111 — A vaidade de muita ciência é prova de pouco saber.

112 — A Religião supre o juízo e a razão que falta em muita gente.

113 — Os espíritos metódicos são ordinariamente os menos sublimes e transcendentes.

114 — A aura popular é como a fumaça, que desaparece em poucos instantes.

115 — O maior benefício ocasiona de ordinário a maior ingratidão.

116 — Os bons folgam quando os maus pelejam.

117 — O interesse forma as amizades, o interesse as dissolve.

118 — A ambição é um enredo que nos enreda por toda a vida.

119 — Ninguém duvida tanto como aquele que mais sabe.

120 — O desejo da glória literária é de todas as ambições a mais inocente, sem ser todavia a menos laboriosa.

121 — Os eventos extraordinários não deixam de ser naturais, assim como um feto monstruoso não deixa de ser produto da natureza.

122 — A bravura é taciturna, mas a covardia garrulenta.

123 — Quando os moços se consideram com mais juízo e de melhor conselho que os velhos, tudo vai perdido, os males não têm remédio.

124 — A companhia dos livros dispensa com grande vantagem a dos homens.

125 — Renhimos quase sempre porque não definimos.

126 — São infinitos os erros que têm resultado aos homens de haverem personalizado as suas próprias abstrações.

127 — O que mais sabe, menos sofre: a Sabedoria Infinita é impassível.

128 — A falsa ciência não aumenta o nosso saber, agrava a nossa ignorância.

129 — Há tolos velhacos assim como há doidos sagazes.

130 — O erro máximo dos filósofos foi pretender sempre que os povos filosofassem.

131 — A fraqueza é menos indulgente que a força: as mulheres são mais vingativas que os homens.

132 — Os tolos passam muitas vezes por acesso a velhacos, e procuram neste predicamento indenizar-se com usura das perdas que sofreram no primeiro estado.

133 — O homem que despreza a opinião pública é muito tolo ou muito sábio.

134 — Os erros circulam entre os homens como as moedas de cobre, as verdades como os dobrões de ouro.

135 — É bem singular o império que têm os velhacos sobre os tolos; o seu ascendente irresistível é comparável à fascinação das serpentes para com os animais que lhes servem de alimento.

136 — Prezamos e avaliamos a vida muito mais no seu extremo que no seu começo.

137 — Ninguém mente tanto nem mais do que a História.

138 — O velho calcula muito, executa pouco: a mocidade é mais executiva que deliberativa.

139 — A liberdade que nunca é suficiente para os maus é sempre sobeja para os bons.

140 — A liberdade embriaga como o vinho, e nos impele a iguais desatinos.

141 — Os grandes homens em certas relações são pequenos homens em outras.

142 — Os pequenos inimigos, ainda que menos danosos, são sempre mais incômodos que os grandes.

143 — Ninguém é grande homem em tudo e em todo o tempo.

144 — Há muitos homens que se aborrecem, porque se não conhecem imediatamente.

145 — A prudência é uma arma defensiva que supre ou desarma todas as outras.

146 — As revoluções no físico, moral e político não são mais que tendências, movimentos ou esforços naturais, para o estabelecimento de um certo equilíbrio indispensável.

147 — Há muita gente que, assim como o eco, repete as palavras sem lhes compreender o sentido.

148 — Dos especuladores em revoluções muitos se perdem e poucos prosperam por algum tempo.

149 — É uma grande verdade de difícil compreensão, que as discórdias parciais constituem a ordem e harmonia geral no Mundo Físico e Moral.

150 — Não desespereis na desgraça, ela é freqüentes vezes uma transição necessária para a boa fortuna.

151 — Ignorância e pobreza vêm de graça, não custam trabalho nem despesa.

152 — Todos reclamam reformas, mas ninguém se quer reformar.

153 — A impunidade é segura, quando a cumplicidade é geral. A novidade incomoda os velhos, a uniformidade os moços.

155 — Os homens em sociedade são como as pedras em uma abóbada, resistem e se ajudam simultaneamente.

156 — Ignorância e preguiça a ninguém enriquecem.

157-A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.

158 — O soberbo é um tolo: perde sempre sem ganhar, malquistando-se com todos.

159 — Os vícios, como os cancros, têm a qualidade de corrosivos.

160 — A liberdade de mal fazer, a ninguém se deve permitir, a de fazer bem sobeja a todos.

161 — A misantropia é a sátira da espécie humana.

162 — Os moços, por falta de experiência, de nada suspeitam, os velhos, por muito experimentados, de tudo desconfiam.

163 — O mais poderoso corretivo da nímia liberdade é a Religião profundamente sentida e observada.

164 — A opinião pública é sujeita à moda, e tem ordinariamente a mesma consistência e duração que as modas.

165 — Um filósofo eminente é na ordem social o mesmo que um cometa no sistema sidéreo ou planetário, um astro excêntrico, de uma órbita incalculável, que assusta a muitos ou a todos por não ser ainda compreendido.

166 — Para quem não tem juízo os maiores bens da vida se convertem em gravíssimos males.

167 — A constância nas nossas opiniões seria geralmente embaraço e oposição ao progresso e melhoramento da nossa inteligência.

168 — O entusiasmo é um gênero de loucura que conduz algumas vezes ao heroísmo, e muitas outras a grandes crimes e malfeitorias.

169 — Os homens, por não desagradar aos maus de quem se temem, abandonam muitas vezes os bons, a quem respeitam.

170 — Os governos perecem quando não sabem ou não podem desagravar-se das injúrias irrogadas.

171 — É suspeito de ilegítimo o interesse quando a consciência o reprova.

172 — Há muita gente que procura apadrinhar com a opinião pública as suas opiniões e disparates pessoais.

173 — Nada se perde ou se inutiliza neste mundo, nem os excrementos dos animais, nem os erros e disparates dos homens.

174 — A experiência tem mostrado suficientemente que os maiores censores dos empregados públicos não são os seus melhores substitutos.

175 — Os povos têm, como os reis, seus parasitas e aduladores não menos abjetos, impudentes e interesseiros.

176 — Unir para desunir, fazer para desfazer, edificar para demolir, viver para morrer, eis aqui a sorte e condição de natureza humana.

177 — Na ordem moral está consignada aos maus a tarefa de se castigarem entre si e de vingarem os bons.

178 — Na subversão dos tronos não sofrem menos as cabanas que os palácios.

179 — A ignorância que devera ser acanhada, conhecendo-se, é audaz e temerária por que se não conhece.

180 — Os maus não nos levam em conta a nossa bondade e indulgência, reputam-na fraqueza, e tiram o argumento para multiplicar as suas malfeitorias.

181 — A Religião é necessária ao homem feliz para não abusar, ao infeliz para não desesperar.

182 — O amor-próprio do tolo, quando se exalta, é sempre o mais escandaloso.

183 — A exageração é uma mentira de que não escapam ainda as pessoas mais verídicas e honradas.

184 — É fácil avaliar o juízo ou a capacidade de qualquer homem, quando se sabe o que ele mais ambiciona.

185 — A preguiça dificulta, a atividade tudo facilita.

186 — O orgulho é próprio dos homens, a vaidade das mulheres.

187 — Não se pode formar bom conceito de quem não tem boa opinião de pessoa alguma.

188 — O orgulho pode parecer algumas vezes nobre e respeitável, a vaidade é sempre vulgar e desprezível.

189 — No orçamento do juízo humano acha-se sempre um déficit extraordinário e insanável.

190 — A imaginação é o paraíso dos afortunados, e o inferno dos desgraçados.

191 — A modéstia é a moldura do merecimento que o guarnece e realça.

192 — Ninguém se agasta tanto do desprezo como aqueles que mais o merecem.

193 — Não é dado ao saber humano conhecer toda a extensão da sua ignorância.

194 — O que se qualifica em alguns homens como firmeza de caráter não é ordinariamente senão emperramento de opinião, incapacidade de progresso, ou imutabilidade da ignorância.

195 — O espírito de intriga inculca demérito nos intrigantes.

196 — Em certas circunstâncias o silêncio de poucos é culpa ou delito de muitos.

197 — A vingança do sábio desatendido ou maltratado é o silêncio.

198 — A crença nos médicos, que falta aos sãos, sobeja sempre nos doentes.

199 — Os médicos acusam a natureza, os enfermos aos médicos.

200 — É necessário que nos habilitemos, para ser felizes: a felicidade sensual exige poucas habilitações; mas a moral, intelectual e religiosa, reclama um prolongado tirocínio de saber, experiência e virtudes.

201 — Podemos reunir todas as virtudes, mas não acumular todos os vícios.

202 — É grande escândalo da natureza um velho namorado e libertino.

203 — Em vão procuramos a verdadeira felicidade fora de nós, se não possuímos a sua fonte dentro de nós mesmos.

204 — Queremos tudo, porque nos cremos dignos e capazes de tudo.

Tal é a filáucia do nosso amor-próprio!

205 — Muita ciência ocasiona muita incerteza.

206 — A virtude é uma guerra perene conosco por amor de nós.

207 — Falsas doutrinas e maus exemplos depravam os homens e as nações.

208 — A riqueza dos tolos é o patrimônio dos velhacos.

209 — A maior vantagem da riqueza é fornecer materiais para a beneficência.

210 — Quando a cólera ou o amor nos visita a razão se despede.

211 — O louvor agrada por que distingue.

212 — Os pobres se divertem com pouco dinheiro, os ricos se enojam com muita despesa.

213 — É tão fácil enganar, quanto é difícil desenganar os homens.

214 — O nascimento desiguala, mas a morte iguala a todos.

215 — Nunca os louvores que damos são gratuitos; sempre temos em vista alguma retribuição por este sacrifício do nosso amor-próprio.

216 — A avareza ajunta quando a prodigalidade espalha.

217 — São sempre suspeitos os louvores dados à pobreza pelos ricos, ou pelos pobres.

218 — Ninguém nos aconselha tão mal como a nosso amor-próprio, nem tão bem como à nossa consciência.

219 — Raras vezes nos enganamos quando referimos as palavras e ações dos homens aos seus interesses individuais.

220 — A pobreza não tem bagagem, por isso marcha livre e escoteira na viagem da vida humana.

221 — A credulidade e confiança de muitos tolos faz o triunfo de poucos velhacos.

222 — Somos muitos francos em confessar e condenar os nossos pequenos defeitos, contanto que possamos salvar e deixar passar sem reparo os mais graves e menos defensáveis.

223 — Há enganos que nos deleitam, como desenganos que nos afligem.

224 — É mais fácil maldizer dos homens do que instruí-los e melhorá-los.

225 — A civilidade é uma convenção tácita entre os homens de se enganarem reciprocamente com afetada gentileza e benevolência.

226 — O invejoso é tirano e verdugo de si próprio: ele sofre porque os outros gozam.

227 — A Religião é tão boa companheira na adversidade como excelente conselheira na ventura.

228 — Os ingratos pensam minorar ou justificar a sua ingratidão, memorando com freqüência os vícios e defeitos dos seus benfeitores.

229 — Somos muito generosos em oferecer por civilidade o que bem sabemos que por civilidade se não há de aceitar.

230 — Ninguém despreza tanto os homens e os povos como aqueles que mais os lisonjeiam.

231 — Muitas pessoas se prezam de firmes e constantes que não são mais que teimosas e impertinentes.

232 — O poder repartido por muitos não é eficaz em nenhum.

233 — As nações têm ordinariamente os governos e governantes que merecem.

234 — A nossa consciência desmente muitas vezes os louvores que nos dão.

235 — Nenhum governo é bom para os homens maus.

236 — Há ignorantes com muito juízo, e doutores sem muito nem pouco.

237 — Os achaques da velhice denunciam ordinariamente os vícios da mocidade.

238 — Sabei escusar o supérfluo, e não vos faltará o necessário.

239 — Sofrei privações na mocidade, e sereis regalados na velhice.

240 — Os moços se comprazem no prospecto do futuro, os velhos no retrospecto do passado.

241 — É problemático se os homens falam mais vezes para se enganarem ou para se entenderem.

242 — Os velhos tornam-se nulos e inúteis à força de prudência e circunspecção.

243 — O avarento é o mais leal e fiel depositário dos bens dos seus herdeiros.

244 — A única vantagem da ignorância é não custar despesa nem trabalho.

245 — Há benefícios conferidos com tal rudeza e grosseria que de algum modo justificam os beneficiados da sua ingratidão.

246 — Os homens geralmente preferem ser enganados com prazer a ser desenganados com dor e desgosto.

247 — As virtudes se harmonizam, os vícios discordam sempre entre si.

248 — A morte anula sempre mais planos e projetos do que a vida executa.

249 — Em matérias e opiniões políticas os crimes de um tempo são algumas vezes virtudes em outro.

250 — O saber é riqueza, mas de qualidade tal que a podemos dissipar e desbaratar sem nunca empobrecermos.

251 — Os homens em geral ganham muito em não serem perfeitamente conhecidos.

252 — O trabalho involuntário ou forçado é quase sempre mal concebido e pior executado.

253 — Na nossa conta corrente com a natureza raras vezes lhe creditamos os muitos bens de que gozamos, mas nunca nos esquecemos de debitar-lhe os poucos males que sofremos.

254 — A sinceridade é muitas vezes louvada, mas nunca invejada.

255 — Os que reclamam para si maior liberdade são os que ordinariamente menos a toleram e permitem nos outros.

256 — Um homem pode saber mais do que muitos, porém nunca tanto como todos.

257 — Os maiores velhacos são os que geralmente se inculcam por melhores patriotas.

258 — Sucede freqüentes vezes admirarmos de longe o que de perto desprezamos.

259 — Com pouco nos divertimos, com muito menos nos afligimos.

260 — Aquele que se envergonha ainda não é incorrigível.

261 — A mudança rápida da temperatura do ar não é mais funesta à saúde individual do que a das opiniões políticas à tranqüilidade das nações.

262 — É muito provável que a posteridade, para quem tantos apelam, tenha tão pouco juízo como nós e os nossos antepassados.

263 — O amor nos velhos é como o fogo no borralho que em cinzas se entretêm.

264 — Todos querem liberdade, muitos a possuem, poucos a merecem.

265 — Há muitas ocasiões em que a mesma prudência recomenda o aventurar-nos.

266 — Uma grande qualidade ou talento desculpa muitos pequenos defeitos.

267 — Ordem social é limitação de liberdade; desordem, liberdade ilimitada.

268 — A alegria e tristeza são mais intensas e expansivas no homem que em algum outro animal: o seu pranto e riso o manifestam.

269 — Quem muito nos festeja, alguma coisa de nós deseja.

270 — Um desengano oportuno corresponde a um benefício importante.

271 — Dói tanto a injúria publicada como a ferida exposta ao ar.

272 — O homem de juízo aproveita, o tolo desaproveita a experiência própria.

273 — Um grande mérito força o respeito, e afugenta a adulação.

274 — Os velhacos têm de ordinário mais talentos, porém menos juízo do que os homens probos.

275 — É triste a condição de um velho que só se faz recomendável pela sua longevidade.

276 — A esperança descobre recursos, a desesperação os renuncia.

277 — Com trabalho, inteligência e economia só é pobre quem não quer ser rico.

278 — As caveiras dos mortos desencantam as cabeças dos vivos.

279 — A vaidade é talvez um grande condimento da felicidade humana.

280 — Queixamo-nos da fortuna para desculpar a nossa preguiça.

281 — Os templos provam mais a racionalidade dos homens do que os teatros e palácios.

282 — O ignorante se espanta do mesmo que o sábio mais admira.

283 — Os erros de uns são lições para outros, estes acertam porque aqueles erraram.

284 — Em geral o temor ou medo, e não a virtude, mantêm a ordem entre os homens.

285 — Há um mundo intelectual que não ocupa lugar no espaço e compreende o infinito.

286 — Se o homem não fosse passível, seria necessariamente imóvel e inativo.

287 — A democracia é como a tesoura do jardineiro, que decota para igualar; a mediocridade é o seu elemento.

288 — Achar em tudo desordem é prova de supina ignorância; descobrir ordem e sistema em tudo é demonstração de profundo saber.

289 — A paciência em muitos casos não é mais senão medo, preguiça ou impotência.

290 — A preguiça enfada e quebranta mais que o trabalho regular.

291 — Os que governam preferem o engano que os deleita à verdade que os incomoda.

292 — O medo é a arma dos fracos, como a bravura a dos fortes.

293 — A ignorância, exagerando a nossa pouca ciência, promove a nossa grande vaidade.

294 — Bem curta seria a felicidade dos homens se fosse limitada aos prazeres da razão; os da imaginação ocupam os maiores espaços da vida humana.

295 — A ignorância vencível no homem é limitada, a invencível infinita.

296 — Um ente passível não pode ser independente.

297 — As mulheres são mais indulgentes com os defeitos dos homens que com os das pessoas do seu sexo: a rivalidade é quase sempre parcial nos seus juízos.

298 — Os benefícios conferidos levam sempre o ônus da gratidão e reconhecimento.

299 — A covardia, aviltando, preserva freqüentes vezes a vida.

300 — Inveja-se a riqueza, mas não o trabalho com que ela se granjeia.

301 — Há muita gente que tem por oficio arriscar a sua vida para a manter e conservar.

302 — A ignorância, lidando muito, aproveita pouco: a inteligência, diminuindo o trabalho, aumenta o produto e o proveito.

303 — As virtudes são econômicas, mas os vícios dispendiosos.

304 — A diferença nos sexos produz a sua união.

305 — O jogo, assim como o fogo, consome em poucas horas o trabalho de muitos anos.

306 — Deixamos de subir alto quando queremos subir de um salto.

307 — O sábio entra em fila na procissão dos loucos e néscios, com receio de ser multado por ter juízo.

308 — O ódio e a guerra que declaramos aos outros nos gasta e consome a nós mesmos.

309 — A variedade é o distintivo da sabedoria, como a uniformidade e monotonia o da ignorância. A infinita sabedoria de Deus se revela pela infinita variedade das suas obras e maravilhas.

310 — Na mocidade buscamos as companhias, na velhice as evitamos: nesta idade conhecemos melhor os homens e as coisas.

311 — Os homens são geralmente tão avaros do seu dinheiro, como pródigos dos seus conselhos.

312 — Quem cultiva a sua razão aumenta os seus bens, e diminui os seus males.

313 — O juízo que falta a muitos, a ninguém sobeja.

314 — É no mundo intelectual que se admiram e apreciam as maravilhas inumeráveis do mundo sensível e material.

315 — A maior prova da insignificância ou santidade de um sujeito é não ter um só inimigo ou invejoso.

316 — Os maus não podem viver em solidão: têm medo e horror de si próprios.

317 — A vingança comprimida aumenta em violência e intensidade.

318 — Quando os homens que governam não sabem nem podem fazer-se estimar, recorrem à tirania para se fazer temidos.

319 — O medo e o entusiasmo são contagiosos.

320 — Ninguém nos lisonjeia tanto como o nosso amor-próprio, nem nos argúe com mais perseverança do que a própria consciência.

321 — Quando se considera a pugnacidade com que os homens se deixam desenganar, ocorre a suspeita de que se comprazem em ser enganados.

322 — O homem é feito para dominar, e quando não pode exercer a sua soberania sobre os seus semelhantes, tiraniza os animais para ostentar a sua superioridade.

323 — De nada vale a celebridade, quando os grandes crimes também a conseguem.

324 — Descontentes de tudo, só nos contentamos com o nosso próprio juízo, por mais limitado que seja.

325 — Se a ventura embota o fio aos prazeres, a desgraça não faz outro tanto às dores e aflições.

326 — O homem mais sensual é necessariamente o menos livre e independente.

327 — A ingratidão dos povos é mais escandalosa que a das pessoas.

328 — A tirania é o talento dos homens ordinários e ignorantes, quando governam.

329 — A desgraça, que humilha a uns, exalta o orgulho de outros.

330 — Para bem julgar não basta sempre ver, é necessário olhar; nem basta ouvir, é conveniente escutar.

331 — Ninguém se queixa tanto dos males da vida humana como aqueles que têm menos motivos de queixar-se: a felicidade os tornou tão suscetíveis e melindrosos, que o menor incômodo, dor ou contradição, os impele a queixumes intermináveis.

332 — Pouco saber exalta o nosso amor-próprio, muito saber o humilha.

333 — A ignorância, qual outro Faetonte, ousa muito e se precipita como ele.

334 — O medo faz mais tiranos que a ambição.

335 — Há muitos homens que, assim como o sol, parecem maiores no horizonte que no seu zênite ou meridiano.

336 — Não há maior nem pior tirania que a dos maus hábitos inveterados.

337 — A intriga que alcança os empregos não habilita para bem servi-los.

338 — Quem desconfia de si próprio, menos pode confiar nos outros.

339 — A razão, sem a memória, não teria materiais com que exercer a sua atividade.

340 — A dialética do interesse é quase sempre mais poderosa que a da razão e consciência.

341 — Os ineptos se elevam sobre os hábeis como as substâncias leves sobre as mais graves.

342 — Todas as paixões derivam, e são modificações do amor de nós mesmos, paixão essencial e inseparável de nossa vida e existência, e necessária como guarda e sentinela da nossa conservação.

343 — Os tolos são muitas vezes promovidos a grandes empregos em utilidade e proveito dos velhacos, que melhor os sabem desfrutar.

344 — As opiniões de um século causam riso ou lástima em outros séculos.

345 — Muito se perde por falta de inteligência, porém muito mais por preguiça e aversão ao trabalho.

346 — Não se reconhece tanto a ignorância dos homens no que confessam ignorar, como no que blasonam de saber melhor.

347 — O trabalho é amargo, mas os seus frutos são doces e aprazíveis.

348 — O moço, na primavera da vida, preza sobretudo as flores; o velho, no seu outono, aprecia somente os frutos.

349 — O valor mais resoluto é o que procede da desesperação.

350 — Não admira que não compreendamos a Deus, quando somos incompreensíveis a nós mesmos.

351 — A mulher douta ordinariamente ou é feia, ou menos casta.

352 — De todas as revoluções para o homem, a morte é a maior e a derradeira.

353 — O prazer que mais deleita é o que provém da satisfação de uma necessidade mais incômoda e urgente.

354 — O amor é sempre mais sensual do que a amizade.

355 — As pessoas mais devotas são de ordinário as menos religiosas.

356 — Nunca nos esquecemos de nós, ainda quando parecemos que mais nos ocupamos dos outros.

357 — O tempo pretérito se torna presente pela memória, e o futuro pela nossa imaginação.

358 — A maior parte dos males e misérias dos homens provêm, não da falta de liberdade, mas do seu abuso e demasia.

359 — Mudai um homem de classe, condição e circunstâncias, vós o vereis mudar imediatamente do opiniões e de costumes.

360 — Em pontos de civilidade, o soberbo não paga o que deve, e exige sempre mais do que lhe é devido.

361 — Os abusos e prejuízos nos povos são como as verrugas e lobinhos no corpo humano, ainda que feios, conservam-se por ser a sua extração dolorosa e muitas vezes arriscada.

362 — Dizer-se de um homem que tem juízo é o maior elogio que se lhe pode fazer.

363 — Em um povo ignorante a opinião publica representa a sua própria ignorância.

364 — Em matéria de ciência, quanto mais adquirimos tanto melhor descortinamos a imensidade do que nos falta.

365 — Há sempre entre os homens uma sabedoria da moda, como um penteado, um calçado ou um vestuário.

366 — A ignorância dócil é desculpável, a presumida e refratária é desprezível e intolerável.

367 — A impaciência, quando não remedeia os nossos males, os agrava.

368 — O arrependimento é ineficaz quando as reincidências são consecutivas.

369 — O desembaraço tem muito próxima afinidade com a sem vergonha.

370 — A filosofia desagrada, porque abstrai e espiritualiza; a poesia debita, porque materializa e figura todos os seus objetos. Quereis persuadir e dominar os homens, falai à sua imaginação, e confiai pouco na sua razão.

371 — Em diversas épocas da nossa vida somos tão diversos de nós mesmos como dos outros homens.

372 — O espírito vive de ficções, como o corpo se nutre de alimentos.

373 — A morte dos maus é a maior garantia para os bons.

374 — Um grande crime glorificado ocasiona e justifica todos os outros crimes e atentados subseqüentes.

375 — Uns homens ocasionam os males e exigem que outros os remedeiem.

376 — Os cortesãos são como os alcatruzes das noras: quando uns sobem, outros descem.

377 — É condição dos grandes homens serem perseguidos e maltratados na vida, e depois da sua morte lastimados, glorificados e vingados.

378 — Cada geração, parecendo ocupar-se exclusivamente do seu cômodo e felicidade, trabalha efetivamente para as gerações seguintes e a sua posteridade.

379 — Há muitas ocasiões em que os ricos e poderosos invejam a condição dos pobres e insignificantes.

380 — A pobreza sofre inumeráveis privações, mas não é sempre importunada e insidiada como a riqueza.

381 — A paixão da leitura é a mais inocente, aprazível e a menos dispendiosa.

382 — O castigo, sendo pouco, irrita; sendo muito, ameaça.

383 — A má educação consiste especialmente nos maus exemplos.

384 — Muita luz deslumbra a vista, muita ciência confunde o entendimento.

385 — A ambição, para chegar ao poder, toma algumas vezes o caráter desprezível e asqueroso do cinismo.

386 — A economia, quando se apura muito, transforma-se em avareza.

387 — É judiciosa a economia de palavras, tempo e dinheiro.

388 — Haver a maior soma de bens com o menor trabalho e dispêndio possível, eis o grande problema que cada indivíduo procura resolver em seu favor no decurso da própria vida.

389 — A beneficência da vaidade é algumas vezes mais profusa que a da virtude.

390 — Os moços são tão solícitos sobre o seu vestuário, quanto os velhos são negligentes: aqueles atendem mais à moda e à elegância, estes à sua comodidade.

391 — O sábio que não fala nem escreve é pior que o avarento que não despende.

392 — Condenamos por ignorantes as gerações pretéritas, e a mesma sentença nos espera nas gerações futuras.

393 — Muitos figuram de Diógenes, para se consolarem de não poderem ser Alexandres.

394 — Onde os homens se persuadem que os governos os devem fazer felizes, e não eles a si próprios, não há governo que os possa contentar nem agradar-lhes.

395 — Há males na vida humana que são preservados de outros maiores, e muitas vezes ocasionam bens incalculáveis.

396 — A dissimulação algumas vezes denota prudência, mas ordinariamente fraqueza.

397 — Os preceptores dos Príncipes são os seus primeiros aduladores.

398 — Os apologistas e defensores da igualdade são os que mais trabalham por desigualar-se.

399 — Não é a fortuna, mas juízo somente, o que falta a muita gente.

400 — Entes invisíveis nos observam quando nos cremos sós e sem companhia.

401 — O muito juízo é um grande tirano pessoal.

402 — Os sábios duvidam mais que os ignorantes; daqui provém a filáucia destes e a modéstia daqueles.

403 — A vida a uns, a morte confere celebridade a outros.

404 — Os homens afetam desinteresse para melhor promoverem os seus interesses.

405 — Ninguém quer passar por tolo, antes prefere parecer velhaco.

406 — Velhos há que bem merecem ser comparados aos vulcões extintos.

407 — Trabalho honesto produz riqueza honrada.

408 — A opinião da nossa importância nos é tão funesta como vantajosa e segura a desconfiança de nós mesmos.

409 — Há uns pretendidos sábios modernos de singular natureza, nada afirmam, negam tudo, e se apelidam progressivos.

410 — Formam-se mais tempestades em nós mesmos que no ar, na terra e nos mares.

411 — Os bons exemplos dos pais são as melhores lições e a melhor herança para os filhos.

412 — É tal a falibilidade dos juízos humanos, que muitas vezes os caminhos por onde esperamos chegar à felicidade nos conduzem à miséria e à desgraça.

413 — Não existindo no Universo mais que inteligência e matéria, esta é destinada e constituída para significar e simbolizar a primeira.

414 — A importunidade é algumas vezes mais feliz que o merecimento.

415 — A razão destrói nos homens as criações da sua própria imaginação.

416 — Há povos que são felizes em não ter mais que um só tirano.

417 — É necessário saber muito para poder admirar muito.

418 — Afetamos desprezar as injúrias que não podemos vingar.

419 — A civilidade é muitas vezes a mordaça da verdade.

420 — A liberdade é a que nos constitui entes morais, bons ou maus; é um grande bem para quem tem juízo; e para quem o não tem, um mal gravíssimo.

421 — Os bons presumem sempre bem dos outros; os maus, pelo contrário, sempre mal; uns e outros dão o que têm.

422 — A harmonia da sociedade, como da natureza, consiste e depende da variedade e antagonismo dos seus elementos e caracteres.

423 — A moda determina as opiniões de muita gente.

424 — Quando os rapazes se inauguram por sábios, que resta aos velhos? — calar-se e lastimá-los.

425 — São os grandes loucos que perturbam as nações, e os inumeráveis tolos que favorecem e aplaudem os seus desatinos e disparates.

426-O ambicioso, para ser muito, afeta algumas vezes não valer nada.

427 — O arrependimento, se não repara o feito, previne a reincidência.

428 — A tirania não é menos arriscada para o opressor, do que penosa para o oprimido.

429 — Aproveita muito subir aos maiores empregos do Estado, para nos desenganarmos da sua vanglória e inanidade.

430 — Este mesmo mundo que nos engana, nos desengana.

431 — A morte é a executora mais ativa e eficaz da doutrina dos niveladores.

432 — Os bens que a ambição promete são como os do amor, melhores imaginados que conseguidos.

433 — Os povos, como as abelhas, trabalham para si e para os seus zangões.

434 — Os maus nas suas desgraças procuram os bons e virtuosos, como nas trovoadas se recorre às imagens dos Santos.

435 — O que há de melhor nos grandes empregos é a perspectiva ou a fachada com que tanta gente se embeleza.

436 — Há homens que hoje crêem pouco ou nada, porque já creram muito e demasiado.

437 — Os que asseveram que os maus são ou podem ser felizes, não têm noções claras da genuína felicidade.

438 — A maior parte dos erros em que laboramos neste mundo provém da falsa definição, ou das noções falazes que lemos do bem e do mal.

439 — Na arquitetura intelectual, os materiais vêm de fora, mas o plano e trabalho são da razão e do espírito.

440 — Se a vida é um mal, por que tememos morrer; e se um bem, porque a abreviamos com os nossos vícios?

441 — Os homens especulam no tempo de agora em revoluções, como nos fundos públicos.

442 — As verdades mais triviais parecem novas quando se enunciam por um modo mais elegante e desusado.

443 — Os homens sem mérito algum, brochados de insígnias e de ouro, são comparáveis aos maus livros ricamente encadernados.

444 — Ambos se enganam, o velho quando louva somente o passado, o moço quando só admira o presente.

445 — Não há coisa mais fácil que vencer os outros homens, nem mais difícil que vencer-nos a nós mesmos.

446 — Entre as paixões humanas a ambição tem tanto de nobre como a avareza de ignóbil.

447 — Ciência é poder, força e riqueza; a nação mais inteligente e sábia será consequentemente a mais rica, forte e poderosa.

448 — Se as viagens simplesmente instruíssem os homens, os marinheiros seriam os mais instruídos.

449 — Os nossos maiores inimigos existem dentro de nós mesmos: são os nossos erros, vícios e paixões.

450 — Querendo parecer originais, nos tornamos ridículos ou extravagantes.

451 — Nada incomoda tanto aos homens maus como a luz, a consciência e a razão.

452 — No tempo de agora ninguém quer ser governado, porque todos aspiram e se crêem hábeis para governar.

453 — Fazemos ordinariamente mais festa às pessoas que tememos do que àquelas a quem amamos.

454 — A filosofia promete muito e dá pouco; é magnífica nas suas promessas e mesquinha no seus donativos.

455 — Há opiniões que nascem e morrem como as folhas das árvores, outras, porém, que têm a duração dos mármores e do mundo.

456 — Quando o sol se aproxima ao seu nascente, escondem-se as corujas e os morcegos: os inimigos das luzes só se comprazem e são ativos nas trevas.

457 — A vida humana é uma intriga perene, e os homens são recíproca e simultaneamente intrigados e intrigantes.

458 — A luz do sol é gratuita, a do fogo dispendiosa.

459 — A ingratidão faz pressupor vistas de interesse no benfeitor, ou indignidade no beneficiado.

460 — A filosofia pode consolar-nos, mas não tem a eficácia de tornar-nos impassíveis.

461 — Deus se revela em tudo e por todos.

As obras de um agente são as suas revelações.

462 — Que juízo não é necessário que tenhamos para conhecer toda a extensão da nossa loucura!

463 — A riqueza doura a sabedoria e os talentos, mas não os constitui.

464 — Em algumas revoluções o jugo continua como dantes, à exceção do baralho e jogadores que são novos.

465 — As revoluções políticas, quando não melhoram, deterioram necessariamente a sorte das nações.

466 — Somos benfazentes mais vezes por vaidade que por virtude.

467 — O roubo de milhões, enobrece os ladrões.

468 — A moda sanciona e justifica os maiores disparates e extravagâncias dos homens.

469-A imprensa é livre somente para o partido poderoso e dominante.

470 — As nações, como as pessoas, aprendem errando e sofrendo.

471 — Os homens são poucas vezes o que parecem; eles trabalham incessantemente por parecer o que não são.

472 — O futuro, que atormenta a velhice, deleita a mocidade.

473 — Não há escravidão pior que a dos vícios e paixões.

474 — Sucede aos homens como às substâncias materiais, as mais leves e menos densas ocupam sempre os lugares superiores.

475 — Os velhos que se mostram muito saudosos da sua mocidade não dão uma idéia vantajosa da madureza e progresso da sua inteligência.

476 — As revelações da natureza, que são perenes, contradizem e desmentem geralmente as inculcadas revelações de muitos homens, e manifestam a sua ignorância ou impostura.

477 — Não invejemos os que sobem muito acima de nós: a sua queda será muito mais dolorosa do que a nossa.

478 — Trabalhai, poupai, acumulai, sabereis quanto podeis.

479 — É rara a verdadeira gratidão, porque são raros os genuínos benfeitores.

480 — Uma revolução feliz justifica maiores crimes e os eleva à categoria de virtudes.

481 — O nosso espírito é essencialmente livre, mas o nosso corpo o torna freqüentes vezes escravo.

482 — A virtude é o maior e mais eficaz preservativo dos males da vida humana.

483 — Os homens probos são menos capazes de dissimulação do que os velhacos.

484 — Os neutrais entre dois partidos são geralmente maltratados como censores e antagonistas de ambos.

485 — São incalculáveis os benefícios que provêm às noções da incerteza do dia e ano de nossa morte: esta incerteza corresponde a uma espécie de eternidade.

486 — Mais vale ciência intelectual, que riqueza mineral.

487 — Os faladores não nos devem assustar, eles se revelam: os taciturnos nos incomodam pelo seu silêncio, e sugerem justas suspeitas de que receiam fazer-se conhecer.

488 — Não empresteis o vosso nem o alheio, não tereis cuidados nem receio.

489 — Amigos há de grande valia, que todavia não podem fazer-nos outro bem, senão impedindo pelo seu respeito que nos façam mal.

490 — Os velhos prezam ordinariamente os morto e desprezam os vivos.

491 — O meio mais eficaz de vingar-nos de nossos inimigos é fazendo-nos mais justos e virtuosos do que eles.

492 — Se pudéssemos chegar a um certo grau de sabedoria, morreríamos tísicos de amor e admiração por Deus.

493 — Não provoques o Poder, que ele se tornará cruel e despótico no seu desagravo.

494 — Divertimo-nos com os doidos na hipótese de que o não somos.

495 — Não desenganemos os tolos se não queremos ter inumeráveis inimigos.

496 — A riqueza não acompanha por muito tempo os viciosos.

497 — Há homens tão insignificantes que ninguém os ama nem aborrece, quando muito são desprezados.

498 — Os velhos importunam aos circunstantes com os seus achaques, como os litigantes com as suas demandas.

499 — Não subais tão alto que a queda seja mortal.

500 — Não emprestes, não disputes, não maldigas, e não terás de arrepender-te.

501 — O ateu é como o enjeitado que não conhece a seu pai, é como o animal bruto, comensal no banquete da natureza, que não cuida nem pergunta pelo seu benfeitor.

502 — O velho crê-se feliz em não sofrer, o moço infeliz em não gozar.

503 — Há mais homens de juízo do que se pensa, acham-se ordinariamente nas classes médias e inferiores da sociedade.

504 — A admiração é uma das maiores prerrogativas da natureza humana.

505 — A memória não falece aos velhos por falta de idéias, mas pela sua nímia variedade e acumulação.

506 — Deve-se julgar da opinião e caráter dos povos pelo dos seus eleitos e prediletos.

507 — Sempre haverá mais ignorantes que sabedores, enquanto a ignorância for gratuita e a ciência dispendiosa.

508 — A anarquia é tão grande flagelo nas nações, que o tirano que prevaleceu e chegou a suprimi-la é reputado o salvador do povo e o seu melhor amigo.

509 — A civilidade é uma impostura indispensável, quando os homens não têm as virtudes que ela afeta, mas os vícios que dissimula.

510 — O sumário da vida humana são enganos e desenganos.

511 — Observa-se que os fanáticos de liberdade passam a sua vida em prisões, enxovias, presigangas e trabalhos.

512 — Somos muitas vezes maldizentes para nos inculcarmos perspicazes.

513 — Mudai os tempos, os lugares, as opiniões e circunstâncias, e os grandes heróis se tornarão pequenos e insignificantes homens.

514 — Deve-se usar da liberdade, como do vinho, com moderação e sobriedade.

515 — Neste mundo fenomenal, o homem é tão mutável como a mesma natureza.

516 — Nas revoluções dos povos a insignificância é a maior garantia da segurança pessoal.

517 — Amamo-nos sobretudo, e aos outros homens, por amor de nós.

518 — Há muitos homens que receiam ser desenganados pelo desgosto de parecerem crédulos ou tolos.

519 — A maior parte dos homens são autômatos a quem alguns mais hábeis e sagazes fazem mover-se e trabalhar para seu proveito ou recreação.

520 — É feliz e ilustrada a velhice que chegou a conhecer e avaliar os prestígios e as ilusões da vida humana, a descortinar as harmonias do Universo, e a admirar em pleníssima convicção a infinita sabedoria e bondade de Deus que se revela em todos os pontos do espaço e em todos os instantes do tempo, com prodígios e assombros da sua onipotência.

521 — Passamos a vida a invejar-nos, e por fim, invejosos e invejados, todos perecem.

522 — O homem de juízo converte a desgraça em ventura, o tolo muda a fortuna em miséria.

523 — Não há homem que não deseje ser absoluto, aborrecendo cordialmente o absolutismo em todos os outros.

524 — O tolo inutiliza os favores da fortuna, o homem hábil os escusa.

525 — A filosofia não entorpece a sensibilidade quando muito pode chegar a regulá-la.

526 — É tão fácil sentir a felicidade como é difícil defini-la.

527 — Não somos sempre o que queremos, mas o que as circunstâncias nos permitem ser.

528 — Pouco espírito inutiliza muito saber.

529 — O louvor não merecido embriaga como o vinho.

530 — Não é a fortuna que falta aos homens, mas a perícia e juízo em aproveitá-la quando ela nos visita.

531 — O insignificante presume dar-se importância maldizendo de tudo e de todos.

532 — Há homens cuja atividade é semelhante à dos bugios: incessante, destrutiva e turbulenta.

533 — As religiões são sempre úteis aos homens, quando esperançam os bons e ameaçam os maus.

534 — Ser religioso é o atributo mais honroso e sublime do homem sobre a terra: é por este predicado especialmente que ele se distingue de todos os outros viventes: erigindo templos e altares a Deus, também de algum modo se diviniza.

535 — Os patriotas dizem em voz alta que é doce morrer pela pátria, mas em segredo reconhecem que é mais doce viver para ela e à custa dela.

536 — A plena liberdade é como a pedra filosofal, procurada por muitos e por nenhum descoberta.

537 — Quando o interesse é o avaliador dos homens, das coisas e dos eventos, a avaliação é quase sempre imperfeita e pouco exata.

538 — Disputa-se sobre tudo neste mundo; argumento irrefragável do nosso pouco saber.

539 — Muitos homens são louvados porque são mal conhecidos.

540 — Afetar mistério em coisas frívolas e bagatelas é prova irrefragável de alma e coração pequeno.

541 — Deus é o único Benfeitor verdadeiramente desinteressado.

542 — A vida humana seria incomportável sem as ilusões e prestígios que a circundam.

543 — O silêncio é o melhor rebuço para quem se não quer revelar, ou fazer-se conhecer.

544 — O nosso amor-próprio é a causa e a fonte de todos os amores: amamos somente por amor de nós mesmos.

545 — Não são incompatíveis muita ciência e pouco juízo.

546 — O silêncio com ser mudo não deixa de ser por vezes um grande impostor.

547 — Há opiniões que, assim como as modas, parecem bem por algum tempo.

548 — É da natureza humana que muitos homens trabalhem para manter os poucos que se ocupam em pensar para eles, instruí-los e governá-los.

549 — Em saber gozar e sofrer, os animais nos levam grande vantagem: o seu instinto é mais seguro do que a nossa altiva razão.

550 — Não há inimigo desprezível, nem amigo totalmente inútil.

551 — O império mais poderoso e fatal que existe é o das circunstâncias.

552 — Os homens têm geralmente saúde quando não a sabem apreciar, e riqueza quando a não podem gozar.

553 — Os grandes empregos desacreditam e ridicularizam os pequenos homens.

554 — E aos insignificantes e aos homens de maior juízo, prudência e sagacidade, que é dado atravessar incólumes as revoluções políticas das nações.

553 — Aflige-nos a glória alheia contrastada com a nossa insignificância.

556 — A avareza contribui muito para a longevidade, pela dieta e abstinência.

557 — Os que se não prestam a ser lisonjeiros por interesse ou dependência, muitas vezes o são por cortesia e civilidade.

558 — Os homens mais orgulhosos são geralmente os mais irritáveis e vingativos.

559 — O suicídio pressupõe uma desesperação total.

560 — O interesse adota e defende opiniões que a consciência reprova.

561 — As maiores desordens das nações provêm de sua maior divergência de opiniões em matérias políticas e religiosas.

562 — Nos moços predomina a força centrífuga, nos velhos a centrípeta: daqui a mobilidade de uns, a inércia e imobilidade dos outros.

563 — Os homens, em todos os tempos, sobre o que não compreenderam, fabularam.

564 — Ninguém é tão prudente em despender o seu dinheiro, como aquele que melhor conhece as dificuldades de o ganhar honradamente.

565 — A força sem inteligência é como o movimento sem direção.

566 — Os que falam em matérias que não entendem parecem fazer gala da sua própria ignorância.

567 — A vaidade é a bem-aventurança dos néscios, dos tolos, e semi-doutos.

568 — Os bons conselhos desagradam aos apaixonados como os remédios aos que estão doentes.

569 — As paixões são como os vidros de graus, que alteram para mais ou para menos a grandeza e volume dos objetos.

570 — Não se apaga o fogo com resinas, nem a cólera com más palavras.

571 — Ocupados em descobrir os defeitos alheios, esquecemo-nos de investigar os próprios.

572 — Tolo e teimoso são sinônimos freqüentes vezes.

573 — O coração enlutado eclipsa o entendimento e a razão.

574 — A razão também tiraniza algumas vezes como as paixões.

575 — Queixam-se os ricos de poucos cômodos nas suas casas; nas dos pobres, ainda que pequenas, sempre sobeja muito espaço.

576 — Ninguém é tão solícito e diligente em requerer empregos, como aqueles que menos os merecem.

577 — As circunstâncias ordinariamente nos dominam, poucas vezes nos obedecem.

578 — Sempre nos reputamos melhores, e nunca piores do que somos.

579 — O luxo irrita e desagrada a quem o não logra.

580 — Os ignorantes exageram sempre mais que os inteligentes.

581 — A sinceridade imprudente é uma espécie de nudez que nos torna indecentes e desprezíveis.

582 — Nunca apreciamos devidamente o trabalho dos outros, mas sempre exageramos o valor do nosso.

583 — A degeneração moral tem sido por vezes qualificada de regeneração política.

584 — As virtudes são racionais, os vícios sensualistas.

585 — Viver é doce; viver é agro: nesta alternativa se passa a vida.

586 — Enquanto renhimos e disputamos sobre a melhor forma de governo, vem a morte e nos desobriga do interesse que tomávamos em tão embaraçosa controvérsia.

587 — Os prazeres, como as rosas, estão bordados de espinhos; colhê-los sem ferir-se é o requinte da prudência e habilidade humana.

588 — Desesperar na desgraça é desconhecer que os males confinam com os bens, se alternam ou se transformam.

589 — As opiniões circulam como as moedas, poucas pessoas são capazes de verificar o seu peso, toque e valor intrínseco.

590 — Perdem-se e desaparecem nos grandes empregos os pequenos homens.

591 — A herança dos sábios tem sempre maior extensão e perpetuidade que a dos ricos: compreende o gênero humano, e alcança a mais remota posteridade.

592 — A luz do sol e da verdade só a podemos ver em reflexo ou refrangida.

593 — A morte refuta vitoriosamente todos os argumentos a favor da sabedoria humana; morremos por ignorantes.

594 — A gravidade afetada provoca o riso e não granjeia reverência.

595 — A escravidão voluntária é sacrifício temporário para alcançar senhorio permanente.

596 — Os sábios desempregados são melhor aproveitados.

597 — O amigo apaixonado é ordinariamente inimigo inexorável.

598 — O melhor governo é aquele que agrada aos bons e que os maus reprovam.

599 — Os velhos são melhores panegiristas dos finados que dos vivos.

600 — Neste mundo sexual a união é produtiva, a desunião, infecunda e ruinosa.

601 — A razão desencanta a imaginação.

602 — Os velhos caluniam o tempo presente atribuindo-lhes os males de que padecem, conseqüências do passado.

603 — O pedir para quem não tem vergonha é menos penoso que trabalhar.

604 — A inveja, que abrevia ou suprime os elogios, é sempre minuciosa e prolixa na sua critica e censura.

605 — O pobre lastima-se de querer e não poder, o avarento se ufana de que pode, mas não quer.

606 — A fruição desencanta muitos bens e prazeres sensuais, que a imaginação, os desejos e as esperanças figuravam encantadores.

607 — Os homens se disfarçam, como as mulheres se enfeitam, para agradarem ou enganarem.

608 — A familiaridade tira o disfarce e descobre os defeitos.

609 — Não é livre quem não tem suficiente inteligência para haver ou defender a liberdade.

610 — O velho de juízo dá ao mundo a sua demissão antes que este o demita.

611 — A inocência sem virtude corresponde ao idiotismo.

612 — São tão limitadas as nossas forças mentais e corporais que consumimos um terço da nossa vida em dormir para repará-las.

613 — Uma grande reputação é talvez mais incômoda que a insignificância pessoal.

614 — A sabedoria indigente é menos invejada, que a ignorância opulenta.

615 — Os aduladores são como as plantas parasitas que abraçam o tronco e ramos de uma árvore para melhor a aproveitar e consumir.

616 — Queremos governos perfeitos com homens imperfeitos: disparate.

617 — A indiferença ou apatia que em muitos é prova de estupidez pode ser em alguns o produto de profunda sapiência.

618 — A felicidade dos entes racionais aumenta com o progresso da sua inteligência; os de maior intelecto são os que gozam mais da sua existência e do mundo em que residem.

619 — Há muita gente a quem o sol, o frio, a calma ou as bebidas podem fazer corar as faces, porém nunca a vergonha.

620 — É mais difícil sustentar uma grande reputação que granjeá-la ou merecê-la.

621 — O juízo força a fortuna à obediência, ou escusa os seus serviços.

622 — O maior lenitivo dos nossos males deve ser a certeza e convicção de que são finitos e transitórios como os bens.

623 — Aprovamos algumas vezes em público por medo, interesse ou civilidade, o que internamente reprovamos por dever, consciência ou razão.

624 — A inconstância humana é o produto necessário das variações da natureza, das circunstâncias e dos eventos.

625 — O estudo da história acumula sobre a experiência individual a de muitos séculos e milênios.

626 — É felicidade para os homens que cada um deles a defina a seu modo com variedade em sua essência e objetos.

627 — Os acontecimentos políticos humilham e desabonam, mais a sabedoria humana, que outros quaisquer eventos deste mundo.

628 — Quando a fortuna nos maltrata, recorremos à filosofia ou à religião, para que nos console e conforte.

629 — A celebridade, que custa pouco, tem pequeno fulgor e duração.

630 — Entre as pessoas incômodas nas companhias, distinguem-se especialmente os doentes, litigantes e pretendentes.

631 — Os velhacos são tais por ignorantes: desconhecem que a melhor política é a probidade e o meio mais eficaz e seguro de ser felizes, a virtude.

632 — Os povos, como as pessoas, variam de opiniões e gostos, e na sua inconstância passam freqüentes vezes de um a outro extremo.

633 — A verdade é tão simples que não deleita: são os erros e ficções que pela sua variedade nos encantam.

634 — Somos de ordinário caridosos porque nos reconhecemos passíveis, como os objetos da nossa compaixão.

635 — Desempenhar bem os grandes empregos depende muitas vezes mais das circunstâncias que dos homens.

636 — A paciência dispensa a resistência e a reação.

637 — Os princípios liberais lavram e operam em certas circunstâncias e nações, como o fogo, devorando e consumindo.

638 — Todos se queixam, uns dos males que padecem, outros da insuficiência, incerteza, ou limitação dos bens de que gozam.

639 — O ateísmo é tão raro quanto é vulgar o politeísmo e a idolatria.

640 — O poder, adicionando aos nossos braços muitos ou inumeráveis outros, nos converte em monstruosos Briaréus, e convida à tirania.

641 — A ignorância nos empregados públicos é talvez mais danosa do que a sua improbidade. Em um jardim causa menos detrimento um ladrão do que um jumento.

642 — É tão fácil recomendar a abnegação de nós mesmos, como repugnante à natureza executá-la.

643 — Ambicionando o louvor e admiração dos outros homens, provocamos freqüentes vezes a sua inveja e aversão.

644 — Não podemos deixar de ser difusos com os ignorantes, mas devemos ser concisos com os inteligentes.

645 — Os homens de ordinária capacidade, quando governam, não podem tolerar sem dor o contraste de inteligências transcendentes.

646 — Os velhacos têm por admiradores todos os tolos, cujo número é infinito.

647 — Muitos e grandes bens sem alternativa de males são de ordinário prenúncio de graves e futuros infortúnios.

648 — O juízo por mais vulgar é menos apreciado que o engenho.

649 — Há muita gente para quem o receio dos males futuros é mais tormentoso que o sofrimento dos males presentes.

650 — Os extremos se tocam, os abusos por seus excessos se corrigem.

651 — A duração de um bem não assegura a sua perpetuidade.

652 — Os louvores que nos dão os nossos inimigos podem ser diminutos, mas nunca são exagerados.

653 — Ninguém resiste à lisonja sendo administrada, oportunamente, com a perícia e destreza de um hábil adulador.

654 — A religião amansa os bravos e alenta os fracos.

655 — Na ordem moral o castigo, como o dinheiro, vence juros pela mora.

656 — A sabedoria é sintética; ela se expressa por máximas, sentenças e aforismos.

657 — Há homens que afetam de muito ocupados, para que os creiam de muito préstimo.

658 — Agrada mais ao nosso amor-próprio a companhia que nos diverte que a sociedade que nos instrui.

659 — Ordinariamente tratamos com indiferença aquelas pessoas de quem não esperamos bens nem receamos males.

660 — Sobeja-nos tanto a paciência para tolerar os males alheios, quanto nos falta para suportar os próprios.

661 — Quem em Deus confia e espera, nunca desespera.

662 — A ventura do homem imoral se assemelha a uma bela madrugada, que dá princípio a um dia proceloso e desabrido.

663 — Condenamos muitas vezes a nossa memória para justificarmos o nosso procedimento.

664 — Os pobres taxam a esmola quando pedem por empréstimo.

665 — Os anos mudam as nossas opiniões, como alteram a nossa fisionomia.

666 — Os homens nos parecerão sempre injustos enquanto o forem as pretensões do nosso amor-próprio.

667 — É mais fácil perdoar os danos do nosso interesse, que os agravos do nosso amor-próprio.

668 — O homem prudente se humilha pela experiência, como as espigas se curvam por maduras.

669 — Não damos de ordinário maior extensão à nossa beneficência, do que julgamos convir ao nosso interesse.

670 — A alegria do pobre, ainda que menos durável, é sempre mais intensa que a do rico.

671 — Folgamos com os erros alheios como se eles justificassem os nossos.

672 — Afetando por um vão pundonor saber o que ignoramos, deixamos de aprender o que não sabemos.

673 — Somos tão vários nas nossas opiniões, quanto são várias as circunstâncias em que nos achamos.

674 — Os homens de ordinário se humilham para se elevarem, como as aves se agacham para melhor voarem.

675 — O amor abranda os heróis, como o fogo derrete os metais.

676 — A sabedoria humana bem ponderada vale sempre menos do que custa.

677 — A sabedoria é reputada geralmente pobre, porque se não podem ver os seus tesouros.

678 — Há certos passatempos e prazeres ilícitos, que censuramos nos outros, mais por inveja do que por virtude.

679 — Há homens tão vaidosos da sua ciência que presumem que os outros não podem ignorar menos nem saber mais do que eles.

680 — Desprezamos ordinariamente as opiniões alheias, quando se não conformam com as nossas.

681 — Somos enganados mais vezes pelo nosso amor-próprio do que pelos homens.

682 — A morte de um avarento eqüivale à descoberta de um tesouro.

683 — É tão fácil o prometer, e tão difícil o cumprir, que há bem poucas pessoas que se achem desobrigadas das suas promessas.

684 — Os bens de que gozamos sempre exercem menos a nossa razão do que os males que sofremos.

685 — O nosso bom, ou mau procedimento, é o nosso melhor amigo, ou pior inimigo.

686 — Somos tão avaros em louvar os outros homens, que cada um deles se crê autorizado a louvar-se a si próprio.

687 — Custa menos ao nosso amor-próprio caluniar a fortuna, do que acusar a nossa má conduta.

688 — Em os nossos revezes, queremos antes passar por infelizes, do que por imprudentes, ou inábeis.

689 — Os governos tendem à monarquia, como os corpos gravitam para o centro da terra.

690 — Agrada-nos o homem sincero, porque nos poupa o trabalho de o estudarmos para o conhecermos.

691 — O prazer da vingança é semelhante a alguns frutos, cuja polpa é doce na superfície, e azeda junto ao caroço.

692 — Queixam-se muitos de pouco dinheiro, outros de pouca fortuna, alguns de pouca memória, nenhum de pouco juízo.

693 — O hóspede acanhado é um dobrado incômodo para quem o hospeda.

694 — Argüimos a vaidade alheia porque ofende a nossa própria.

695 — Nada agrava mais a pobreza, que a mania de querer parecer rico.

696 — A nossa imaginação gera fantasmas que nos espantam em toda a nossa vida.

697 — A intriga é um labirinto em que de ordinário se perde o seu mesmo autor.

698 — O nosso amor-próprio se exalta mais na solidão: a sociedade o reprime pelas contradições que lhe opõe.

699 — Quando não podemos gozar a satisfação da vingança, perdoamos as ofensas para merecer ao menos os louvores da virtude.

700 — O homem mau nunca é geralmente aborrecido por todos, porque necessariamente faz bem a alguns.

701 — Perdoamos mais vezes aos nossos inimigos por fraqueza, que por virtude.

702 — Muitos se queixam da fortuna e dos governos, que só deveriam queixar-se de si mesmos.

703 — Somos todos invejosos, com a diferença somente do mais ou menos.

704 — Admiramo-nos do que é raro, ou singular, tanto no mal como no bem.

705 — O homem que não é indulgente com os outros, ainda se não conhece a si próprio.

706 — O amor criou o universo, que pelo amor se perpetua.

707 — O nosso amor-próprio é muitas vezes contrário aos nossos interesses.

708 — Há homens que de repente crescem, e avultam, como os cogumelos, pela corrupção.

709 — O lisonjeiro conta sempre com a abonação do nosso amor-próprio.

710 — A conduta do avarento faz presumir que ele não crê na Providência de Deus, nem confia na caridade dos homens.

711 — Há pessoas moralmente sábias a seu pesar: as terríveis lições de uma experiência dolorosa as fizeram tais.

712 — Podemos perdoar afoitamente aos nossos inimigos, na certeza de que os seus mesmos vícios ou defeitos nos hão de vingar.

713 — Há muitos homens reputados infelizes na nossa opinião, que todavia são felizes a seu modo, segundo as suas idéias.

714 — Há rasgos de virtude que provocam lágrimas de admiração; esta é tanto maior, quanto supomos maiores os esforços, e sacrifícios que custaram às pessoas que os produziram.

715 — O mentiroso só tem sobre o homem verídico a vantagem da invenção.

716 — O luxo, assim como o fogo, tanto brilha quanto consome.

717 — A obstinação nas disputas é quase sempre efeito do nosso amor-próprio: julgamo-nos humilhados se nos confessamos convencidos.

718 — Um homem virtuoso e moral, sem princípios e sentimentos religiosos, seria um fenômeno singular; pretendem alguns que os há, como outros que existe a Fênix.

719 — As esperanças, quando se frustram, agravam mais os nossos infortúnios.

720 — Desejamos que prosperem as pessoas de cuja prosperidade esperamos participar por algum modo, e receamos a elevação daquelas cujas intenções não nos são favoráveis.

721 — Enganamo-nos ordinariamente sobre a intensidade dos bens que esperamos, como sobre a violência dos males que tememos.

722 — Há homens que se tornam importunos, desejando laboriosamente parecer corteses.

723 — Ordinariamente nos fingimos distraídos quando nos não convém parecer atentos.

724 — É mais fácil cumprir certos deveres, que buscar razões para justificar-nos de o não ter feito.

725 — Como a luz em uma masmorra faz visível todo o seu horror, assim a sabedoria manifesta ao homem todos os defeitos e imperfeições da sua natureza.

726 — Os homens nos pareceriam mais justos ou menos injustos, se não exigíssemos deles mais do que podem ou devem dar-nos.

727 — Muitos se abstêm por acanhados do que outros fogem por virtuosos.

728 — A prudência é o resultado da consciência da nossa fraqueza: é um receio reflexionado dos males futuros pela experiência dos males pretéritos.

729 — Os vícios e paixões de uns homens são os elementos da ventura de outros.

730 — O tempo, que não existe, é geralmente o que mais nos atormenta ou nos recrea.

731 — Há pessoas que ganham muito em ser lidas, e perdem tudo em ser tratadas: escrevem com estudo e vivem sem ele.

732 — Querendo prevenir males de ordinário contingentes, o homem prudente vive sempre em tortura, gozando menos do presente do que sofre no futuro.

733 — Os homens têm querido dar razão de tudo, para dissimular ou encobrir o seu pouco saber.

734 — Quase sempre atribuímos os nossos revezes à fortuna, e bem raras vezes aos nossos desacertos.

735 — Naturalmente nos alegramos com a morte dos avarentos, como se fôramos seus herdeiros ou legatários.

736 — Capitulamos quase sempre com os nossos males, quando os não podemos evitar ou remover.

737 — Nunca perdemos de vista o nosso interesse, ainda mesmo quando nos inculcamos desinteressados.

738 — Louvamos encarecidamente o estado, ciência ou arte que professamos, para justificar a nossa escolha e honrar as nossas pessoas.

739 — Somos em geral demasiadamente prontos para a censura, e demasiadamente tardos para o louvor: o nosso amor-próprio parece exaltar-se com a censura que fazemos, e humilhar-se com o louvor que damos.

740 — A razão no homem é como a luz do pirilampo: intermitente, pequena e irregular.

741 — A ventura embota e contrai o entendimento, como a adversidade o afina e dilata.

742 — A sabedoria humana bem considerada é uma loucura menos disparatada.

743 — As grandes livrarias são monumentos da ignorância humana. Bem poucos seriam os livros se contivessem somente verdades. Os erros dos homens abastecem as estantes.

744 — Há pessoas tão malignas, que sentem mais o bem alheio que os próprios males.

745 — Se fôssemos sinceros em dizer o que sentimos e pensamos uns dos outros, em declarar os motivos e fins das nossas ações, seríamos reciprocamente odiosos e não poderíamos viver em sociedade.

746 — Somos atletas na vida; lutamos com as paixões dos outros homens, e com as nossas.

747 — Refletindo cada um sobre si mesmo, acha sempre com que humilhar o seu amor-próprio, e com que satisfazê-lo e consolá-lo.

748 — Fingimos desprezar a morte para ocultar o horror que ela nos causa.

749 — A virtude nos diviniza, o vício nos embrutece.

750 — O império da moda é tão soberano, que a mesma sabedoria se vê forçada a obedecer às suas leis, apesar da instabilidade da sua legislação.

751 — O materialismo não pode sugerir grandes idéias aos seus sectários; as obras destes terão sempre ressábios da argila que lhas ditou.

752 — Quando moços, contamos tantos amigos quantos conhecidos; porém maduros pela experiência, não achamos um homem de cuja probidade fiemos a execução do nosso testamento.

753 — Muito contribui para acreditar o nosso juízo confessar ingenuamente a nossa ignorância.

754 — A afetação da virtude custa mais que o seu exercício.

755 — O fruto de um longo estudo, experiência e reflexão, é a sábia convicção da nossa ignorância ilimitada.

756 — A ambição, como a avareza, se afadiga muito para ser cada vez mais miserável.

757 — Os empregos que por intrigas e facções se alcançam, por facções e intrigas se perdem.

758 — A civilidade ensina a dissimular para não ofender.

759 — A probidade é suscetível de heroísmo como o valor.

760 — Por mais sagaz que seja o nosso amor-próprio, a lisonja quase sempre o engana.

761 — A economia com o trabalho é uma preciosa mina de ouro.

762 — Há pessoas que dizem mal de tudo para inculcar que prestam para muito.

763 — Nenhum tempo e nenhum lugar nos agrada tanto como o tempo que não existe, e o lugar em que não estamos.

764 — A amizade mais perfeita e mais durável é somente aquela que contraímos com o nosso interesse.

765 — A riqueza do avarento, transmitida ao pródigo, se assemelha a um fogo de artifício; leva muito tempo a fazer-se, consome-se em pouco, e diverte a muita gente.

766 — A imperfeição é a causa necessária da variedade nos indivíduos da mesma espécie. O perfeito é sempre idêntico e não admite diferenças por excesso ou por defeito.

767 — Ninguém avalia tão caro o nosso merecimento, como o nosso amor-próprio.

768 — O homem mau não conhece os seus verdadeiros interesses.

769 — O nosso amor-próprio argüi de soberbos aqueles que o não lisonjeiam.

770 — O avarento, por um mau cálculo, sofre de presente os males que receia no futuro.

771 — Não obstante a extinção do paganismo, ainda há muita gente que adora a Deusa Fortuna.

772 — Não receamos o cativeiro do amor, porque temos segura a nossa liberdade.

773 — Os que mais possuem não são os que melhor digerem.

774 — Há mentiras que são enobrecidas e autorizadas pela civilidade.

775 — Poucas mulheres se reconhecem feias; nenhum homem, tolo.

776 — Os desenganos não provêm só dos males que sofremos, mas também dos bens de que gozamos.

777 — Há pessoas que, assim como as modas, parecem bem por algum tempo.

778 — Não é raro aborrecermos aquelas mesmas pessoas que mais admiramos.

779 — Bem raras vezes os homens se esquecem do que valem e do que podem.

780 — A mocidade é temerária; presume muito porque sabe pouco.

781 — A vida humana sem religião é viagem sem roteiro.

782 — Um casulo é o túmulo de uma lagarta e o berço de uma borboleta; também a morte para o homem é o principio de uma nova e melhor vida.

783 — A verdade não é suscetível de variedade como o erro; daqui provém que o número dos erros é infinito.

784 — O mal não será a especiaria do bem?

785 — Os nossos inimigos contribuem mais do que se pensa para o nosso aperfeiçoamento moral. Eles são os historiadores dos nossos erros, vícios e imperfeições.

786 — A falsa filosofia convida os homens pelos prazeres sensuais; a verdadeira pelos morais, intelectuais e religiosos; a primeira tudo materializa; a segunda busca espiritualizar a própria matéria; uma isola o homem neste mundo também isolado; a outra lhe dá relações com o sistema universal, e o faz parte de um todo imenso; a primeira lhe confere uma existência efêmera e temporária; a segunda lhe eterniza a duração; aquela o faz bruto; esta semi-Deus.

787 — A religião é um tesouro, que nenhum outro pode escusar.

788 — Quem mas teme a Deus, menos teme os homens.

789 — Nunca erramos o caminho da felicidade, quando nos guiamos pelo itinerário da virtude.

790 — Não são incompatíveis a loucura e a velhacaria: há exemplos de loucos muito velhacos e ardilosos.

791 — Há muita gente boa e feliz, porque não tem suficiente liberdade para se fazer má e desgraçada.

792 — A vida engana a todos, a morte desengana a poucos.

793 — O sol doura a quem o vê, o sábio ilumina a quem o ouve.

794 — Os benfeitores imprudentes fazem beneficiados ingratos.

795 — Os maus queixam-se de todos, os bons de poucos, os melhores de ninguém ou de si próprios.

796 — A vida humana tem fases como a lua; a velhice é o seu minguante.

797 — A preguiça gasta a vida, como a ferrugem consome o ferro.

798 — Os velhacos se associam, mas não se amam.

799 — Há homens para nada, muitos para pouco, alguns para muito, nenhum para tudo.

800 — O silêncio, ainda que mudo, é freqüentes vezes tão venal como a palavra.

801 — O louvor facundo distingue menos que a admiração silenciosa.

802 — A virtude remoça os velhos, o vicio envelhece os moços.

803 — Os males da vida são os nossos melhores preceptores, os bens, os nossos maiores aduladores.

804 — É quando menos se crê em milagres que os povos os exigem dos que governam.

805 — Nunca agradecemos com tanto fervor como quando esperamos um novo favor.

806 — Ninguém se conhece tão bem como aquele que mais desconfia de si próprio.

807 — Os maiores detratores dos governos são aqueles que pretendem governar.

808 — Os maus não são exaltados para serem felizes, mas para que caiam de mais alto e sejam esmagados.

809-O interesse, filho do amor-próprio, conforme é bem ou mal educado, assim é útil ou danoso a seu próprio pai.

810 — Quando os tiranos caem, os povos se levantam.

811 — Os cortesãos vivem sonhando e morrem de pesadelos.

812 — Pouco dizemos quando o interesse ou a vaidade não nos faz falar.

813 — A mocidade é um sonho que deleita, a velhice uma vigília que incomoda.

814 — A verdade toma os trajos da lisonja, quando visita os que governam.

815 — As pessoas doutas e virtuosas são nas nações como os condutores nos edifícios que os preservam dos raios.

816 — Os cúmplices são fáceis e prontos em anistiar os culpados.

817 — O futuro se nos oculta para que nós o imaginemos.

818 — Os filósofos vivem disputando e morrem duvidando.

819 — O sono melhor da vida a inocência o dorme, ou a virtude.

820 — Quando os bons capitulam com os maus, sancionam a própria ruína.

821 — Os sábios falam pouco e dizem muito, generalizando e abstraindo resumem tudo.

822 — A força é hostil a si própria, quando a inteligência a não dirige.

823 — Os anarquistas aborrecem a ordem que os castiga e os não emprega.

824 — O homem de palavra é ordinariamente o que menos fala.

825 — O berço e o esquife são os dois extremos opostos da vida humana, neste intervalo se executa o drama misterioso da nossa existência individual.

826 — Os homens enganam-se miseravelmente quando esperam achar a sua felicidade, mais na forma dos seus governos que na reforma dos seus costumes.

827 — Os moços de juízo honram-se de parecer velhos, mas os velhos sem juízo procuram figurar de moços.

828 — Os povos desencantados tornam-se insubordinados.

829 — Os homens preferem geralmente o engano, que os tranqüiliza, à incerteza, que os incomoda.

830 — As revoluções freqüentes fazem raquíticas as nações recentes.

831 — Invejamos a vida de muitos, e raras vezes a morte de algum.

832 — Os mortos nos instruem e desenganam nas livrarias e cemitérios.

833 — Quem não espera na vida futura, desespera na presente.

834 — O mal ou bem que fazemos aos outros reverte sobre nós acrescentado.

835 — O governo dos tolos é sempre mais infesto aos povos que o dos velhacos.

836 — Deixar de gozar para não sofrer é o segredo de bem viver.

837 — Quando defendemos os nossos amigos, justificamos a nossa amizade.

838 — A escravidão nos amantes é ambição de senhorio.

839 — O sumário da vida feminina são amores na terra e mais nos Céus.

840 — O retiro para o sábio não é solidão, mas sociedade e correspondência com Deus.

841 — As revoluções políticas resolvem-se ordinariamente em deslocações e substituições.

842 — Os velhos dão ordinariamente bons conselhos para se remirem de haver dado maus exemplos.

843 — Não admira que os moços sejam pródigos e os velhos avarentos: no físico e moral, a mocidade é expansão e a velhice, contração.

844 — É mofina a condição dos povos em que faltam lavradores, e sobejam legisladores.

845 — Louvamos por grosso, mas censuramos por miúdo.

846 — Na montanha goza-se mais, porém o vale é mais abrigado.

847 — Um governo sem prestígio e força, aliena e desencanta os povos.

848 — Um sexo é a metade do outro sexo, ambos eles se procuram, porque unidos se completam.

849 — Nenhum homem é tão bom como o seu partido o apregoa, nem tão mau como o contrário o representa.

850 — Há muita gente infeliz por não saber tolerar com resignação a sua própria insignificância.

851 — A razão prevalece na velhice, porque as paixões também envelhecem.

852 — A virtude é agridoce, mas o vício doce-amargo.

853 — A razão dos filósofos é muitas vezes tão extravagante como a imaginação dos poetas.

854 — O nosso orgulho nos eleva para nos precipitar de mais alto.

855 — O temor da morte é a sentinela da vida.

856 — A inteligência humana é um reflexo da Divina, como o clarão da lua é a reverberação da luz do sol.

857 — As revoluções, que regeneram as nações velhas, arruinam e fazem degenerar as novas.

858 — A mocidade se compraz nas revoluções como no movimento.

859 — A gente moça evita a companhia dos velhos, como as pessoas suadas o ar frio, que as pode constipar.

860 — Os que não sabem aproveitar o tempo dissipam o seu, e fazem perder o alheio.

861 — Os importunos são como as moscas que, enxotadas, revertem logo.

862 — Os conselhos dos moços derivam das suas ilusões, os dos velhos, dos seus desenganos.

863 — O mundo floresce pela vida, e se renova pela morte.

864 — Os sábios vivem ordinariamente solitários: receiam-se dos velhacos, e não podem tolerar os tolos.

865 — Os povos em revolução exigem que se lhes rendam graças pelos seus próprios crimes e desatinos.

866 — As crenças religiosas fixam as opiniões dos homens, as teorias filosóficas as perturbam e confundem.

867 — Vivemos no seio de Deus que, sendo imenso, nos compreende a todos.

868 — Os charlatães políticos prometem muito e cobiçam tudo.

869 — Na admissão de uma opinião ou doutrina, os homens consultam primeiramente o seu interesse, e depois a razão ou a justiça, se lhes sobeja tempo.

870 — Os gênios mais sublimes são como as exalações celestes, ardendo e iluminando se consomem.

871 — Reformar, e não inovar, é o voto do legislador prudente.

872 — Os velhos são muito ciosos em amor, porque se receiam da concorrência.

873 — Não vemos os defeitos de quem amamos, nem os primores dos que aborrecemos.

874 — Ninguém se vinga com tanto primor como aquele que, havendo perdoado, se converte em benfeitor.

875 — A virtude resplandece na adversidade, como o incenso recende sobre as brasas.

876 — As flores e as mulheres enfeitam e guarnecem a terra.

877 — Quando saímos da nossa esfera, ordinariamente nos perdemos na dos outros.

878 — Os velhos invejam a saúde e vigor dos moços, estes não invejam o juízo e a prudência dos velhos: uns conhecem o que perderam, os outros desconhecem o que lhes falta.

879 — Os que anarquizam por ambição do poder turvam a água que pretendem beber.

880 — Aborrecemos o absolutismo nos outros, porque o cobiçamos para nós mesmos.

881 — Os homens crêem tão pouco na autoridade da própria razão que ordinariamente a justificam com a alegação da dos outros.

882 — Ainda que perdoemos aos maus, a ordem moral não lhes perdoa, e castiga a nossa indulgência.

883 — O luxo faz empobrecer a uns, e não deixa enriquecer a outros.

884 — Há verdades que é mais perigoso publicar do que foi difícil descobrir.

885 — Todas as virtudes são restrições, todos os vícios, ampliações da liberdade.

886 — O que ganhamos em autoridade, perdemos em liberdade.

887 — Vivemos em um mundo encantado que se renova e remoça envelhecendo.

888 — Como os sábios não adulam os povos, também estes os não promovem.

889 — A ignorância tudo exagera, porque não conhece o justo meio.

890 — Sem referência a Deus toda a felicidade é inane ou incompleta.

891 — Os homens definem e classificam as virtudes, as mulheres as praticam.

892 — No banquete da natureza os comensais se sucedem; a morte exclui a uns, a vida chama e admite a outros.

893 — Nos partidos políticos a calúnia é moeda corrente que circula sem o menor escrúpulo nem reserva.

894 — A autoridade de poucos é e será sempre a razão e argumento de muitos.

895 — O fraco ofendido atraiçoa, o forte e magnânimo perdoa.

896 — Perante um auditório de tolos, os velhacos tornam-se facundos, e os doutos silenciosos.

897 — Tendo nós uma só língua, porém dois braços; devemos ser singelos no falar, mas dobrados em trabalhar.

898 — A experiência que não dói pouco aproveita.

899 — Os homens de inteligência ordinária não sabem encarecer a própria capacidade sem deprimir a dos outros.

900 — Guardai-vos do pródigo; desbaratando o seu não respeita o alheio.

901 — A vida reluz nos olhos, a razão nas palavras e ações dos homens.

902 — Louvemos a quem nos louva para abonarmos o seu testemunho.

903 — Há serviços tão subidos que só a admiração ou a glória os pode recompensar.

904 — A virtude ofendida se desagrava perdoando.

905 — A facúndia dos velhacos é irresistível para os tolos.

906 — Os cortesãos são como as serpentes, flexíveis mas venenosas.

907 — A maledicência pode muitas vezes corrigir-nos, a lisonja quase sempre nos corrompe.

908 — Os desejos se multiplicam na abundância, como a erva nas terras pingues.

909 — A mocidade se expande para conhecer o mundo e os homens, a velhice se contrai por havê-los conhecido.

910 — A felicidade que o luxo confere é temporária; mas a miséria que depois ocasiona, permanente.

911 — Os homens de ordinário abjuram com facilidade as doutrinas que os elevaram a grandes empregos, quando podem servir de embaraço a ulteriores e mais distintas promoções.

912 — Os sentimentos religiosos de admiração, amor e gratidão para com Deus, nos conferem neste mundo uma prelibação da bem-aventurança eterna.

913 — A virtude aromatiza e purifica o ar, os vícios o corrompem.

914 — Os homens são sempre mais verbosos e facundos em queixar-se das injúrias do que em agradecer os benefícios.

915 — A inconstância da fortuna esperança os desgraçados.

916 — Ganhamos freqüentes vezes perdoando oportunamente.

917 — As instituições mais liberais, nos povos menos ilustrados, servem freqüentes vezes para oprimir os bons, anistiar ou absolver os maus.

918 — Há um doce-amargo nas saudades que deleita e contrista; este sentimento misto de prazer e dor nos encanta e penaliza ao mesmo tempo.

919 — A memória dos velhos é menos pronta, porque o seu arquivo é muito extenso.

920 — Arrufamo-nos algumas vezes com a vida, mas os nossos arrufos terminam sempre por amá-la com mais extremos.

921 — A vida tem uma só entrada: a saída é por cem portas.

922 — Os povos desenganam-se como as pessoas: sofrendo, perdendo e pagando.

923 — Há um limite nas dores e mágoas que termina a nossa vida, ou melhora a nossa sorte.

924 — O velho teme o futuro e se abriga no passado.

925 — A barateza dos governos desacredita os que governam, e não honra os governados.

926 — A inveja não sabe avaliar os invejados, porque os vê de esguelha e obliquamente.

927 — Sem a crença em uma vida futura, a presente seria inexplicável.

928 — A igualdade repugna de tal modo aos homens que o maior empenho de cada um é distinguir-se ou desigualar-se.

929 — A ignorância pasma ou se espanta, mas não admira.

930 — O mundo é um vasto mercado de compra e venda, e o artigo mais importante de sua mercancia são os mesmos homens.

931 — Os bons escritores moralistas são como os faróis litorais : advertem, dirigem e salvam os navegantes do naufrágio.

932 — Os bons tremem quando os maus não temem.

933 — Quem não desconfia de si, não merece a confiança dos outros.

934 — A razão se turva como a água, sendo agitada pelas paixões.

935 — Louvamos ordinariamente com modificações, mas censuramos sem restrições.

936 — Os povos exigem tanto dos seus validos, que estes em breve tempo se enfadam e os atraiçoam.

937 — Os velhos que seguem as modas, presumem remoçar com elas.

938 — Ai dos povos quando as tripeças têm mais firmeza e dignidade do que os tronos!

939 — Quem mais confia em Deus, menos desconfia dos homens.

940 — O amor cega a muitos, a fortuna deslumbra todos.

941 — O amor, como o menino, começa brincando e acaba chorando.

942 — A imaginação exagera, a razão desconta, o juízo regula.

943 — Anarquista e patriota são sinônimos freqüentes vezes.

944 — O grito de liberdade nos povos é o precursor ordinário da anarquia.

945 — Há homens que obram por muitos, e alguns que pensam por todos.

946 — A intrepidez em muitos homens não é mais que estupidez.

947 — A morte que tira a importância a todos, a confere a muito poucos.

948 — Nunca pioramos de fortuna quando melhoramos de conduta.

949 — Os vícios são tão feios que, ainda enfeitados, não podem inteiramente dissimular a sua fealdade.

950 — Quando madrugamos e passamos o dia com a virtude, anoitecemos sem remorsos e dormimos sem pesadelos.

951 — O relógio das paixões nunca regula exatamente.

952 — Ninguém se rende à morte senão por vencido.

953 — Acabou-se o tempo das ressurreições, mas continua o das insurreições.

954 — A vida humana parece de algum modo tríplice, quando refletimos que vivemos e sentimos em três tempos, no pretérito, presente e no futuro.

955 — O cinismo perde as monarquias, como o luxo arruína as democracias.

956 — O amor na mocidade é ocupação, na velhice distração ou alienação.

957 — A morte impõe perpétuo silêncio aos melhores oradores, como aos mais importunos faladores.

958 — A nossa vida quanto mais se alonga mais se adelgaça.

959 — Vivemos, como andamos, querendo guardar equilíbrio e escorregando freqüentes vezes.

960 — É falta de habilidade governar com tirania.

961 — A solidão nos liberta da sujeição das companhias.

962 — Todos os cumprimentos e votos dos homens versam de ordinário sobre saúde, fortuna e dinheiro; mas nenhum compreende também o juízo, aliás tão necessário.

963 — A incredulidade que é da moda nas pessoas moças, torna-se o seu tormento na velhice.

964 — A despesa produtiva enriquece, a improdutiva empobrece.

965 — Vivemos entre dois infinitos, no tempo e no espaço: ocupamos um ponto da imensidade e duramos um instante da eternidade.

966 — Os homens não fazem sacrifícios gratuitos do seu amor-próprio; quando rendem adorações a um homem, exigem que ele se assemelhe de algum modo à Divindade pelas suas perfeições e beneficência.

967 — Tudo morre ou perece para que tudo se renove: os tipos são os mesmos, mas as obras publicadas são sempre novas.

968 — A razão é escrava quando a fé e autoridade são senhoras.

969 — O futuro é como o papel em branco em que podemos escrever e desenhar o que queremos.

970 — Se os governos escolhem mal, os povos de ordinário escolhem pior.

971 — A fortuna faz de um tolo um potentado, como o sol no horizonte confere a um anão a sombra de um gigante.

972 — A opinião pública é sempre respeitável, não pelo seu racionalismo, mas pela sua onipotência muscular.

973 — É inconseqüência nossa considerar a Deus presente para nos ouvir, quando lhe pedimos graças ou clemência, e reputá-lo ausente para não ver, quando praticamos ações indecentes e proibidas.

974 — O interesse sempre transparece no desinteresse que afetamos.

975 — Uma velhice alegre e vigorosa é de ordinário a recompensa da mocidade virtuosa.

976 — O prazer do crime passa, o arrependimento sobrevém e o remorso se perpetua.

977 — Nunca os povos sofrem tanto como quando se fala mais em liberdade e menos em virtude e obediência.

978 — É feliz o velho que pode dizer com verdade: — prefiro os meses da minha juventude.

979 — Os prazeres como as dores também gastam a vida, aqueles com mais celeridade pela sua freqüência e atrativo.

980 — A intolerância irracional de muitos excusa ou justifica a hipocrisia ou dissimulação de alguns.

981 — Alguns homens morrem a propósito para a sua glória, e muitos outros vivem fora de propósito para mal de todos.

982 — Em tese geral não há homem feliz sem mérito, nem desgraçado sem culpa.

983 — Há velhacos por grosso e por miúdo, assim como há pessoas que comerciam em grande e pequena escala.

984 — Disputa-se com mais freqüência sobre as coisas frívolas do que nas mais importantes; as primeiras alcançam a compreensão de todos.

985 — É dificílima empresa governar povos que não sabem ser livres, nem podem já ser escravos.

986 — Desagrada aos ignorantes a companhia dos sábios, como aos meninos a sociedade dos velhos.

987 — Os povos, como as pessoas, não padecem por inocentes.

988 — Para bem conhecer os homens, é necessário primeiramente vê-los e praticá-los de perto, e depois estudá-los e meditá-los de longe.

989 — A civilidade chega a limar de tal modo os homens que por fim os deixa, sem cunho nem caráter, lisos e safados.

990 — Disputando, como jogando, perdemos amigos e ganhamos inimigos.

991 — A ignorância tem seus bens privativos, como a sabedoria seus males peculiares.

992 — A mocidade é democrata, como a velhice monarquista.

993 — Estudar a natureza, é aprender de Deus que se revela nas suas obras.

994 — A inveja de muitos anuncia o merecimento de alguns.

995 — O ateísmo é talvez uma quimera: nos homens não há suficiente ignorância para poderem ser ateus.

996 — O zelo do patriotismo, como a luz de um lampião, não se mantém sem provisão.

997 — Os tolos contentam-se com pouco, os velhacos nem com muito: querem tudo.

998 — O louvor que mais prezamos é justamente aquele que menos merecemos.

999 — Nas campanhas da vida humana, a virtude é a nossa melhor aliada.

1000 — A mocidade é a estação da felicidade sensual, a velhice, a da moral e intelectual.

1001 — Desprezamos a nossa saúde enquanto é moça, e a idolatramos depois de velha.

1002 — Exageramos as nossas desgraças para excitar admiração ou compaixão.

1003 — O peso esmaga sem inteligência, mas a força não opera sem ela.

1004 — O louvor acha incrédulos, a maledicência, muitos crentes.

1005 — Sempre nos escudamos com o bem geral quando queremos promover o nosso particular.

1006 — As coroas, quanto maiores e ricas, tanto mais pesam e molestam as cabeças coroadas.

1007 — Não procures a felicidade onde a virtude não tem culto.

1008 — Os cargos eminentes ilustram ou acreditam, mas não felicitam.

1009 — O regresso é o efeito necessário de um progresso precipitado ou mal calculado.

1010 — Quando a consciência nos acusa, o interesse ordinariamente nos defende.

1011 — A honra anuncia virtudes, as honras nem sempre as supõem.

1012 — Os apaixonados do amor acham sem sabor a amizade.

1013 — Os maus não querem liberdade para se fazerem bons, mas para se tornarem piores.

1014 — A religião é como a pátria, sempre nos parece melhor a nossa própria.

1015 — Quando as paixões, por adultas, se emancipam, a razão perde sobre elas a sua autoridade e tutoria.

1016 — Atendamos mais ao que diz de nós a nossa consciência que os homens; ela nos conhece melhor do que eles.

1017 — O progresso e regresso nos povos, como o fluxo e refluxo nos mares, entretêm a sua ação e movimento.

1018 — Quando em um povo só se escutam vivas à liberdade, a anarquia está à porta e a tirania pouco distante.

1019 — Os grandes e sublimes pensamentos vêm de Deus e se infiltram e refrangem em nossas cabeças e corações.

1020 — Homens há que parecem condenados à condição de animais de carga, vivem só para trabalhar, e morrem para que outros gozem.

1021 — Em matéria de injúrias, é mais nobre, cômodo e seguro perdoar, esquecer e não vingar.

1022 — Quando unimos o nosso interesse individual ao geral, damos-lhe corpo, solidez e permanência.

1023 — A ignorância é sempre mais pronta em resolver-se do que a sabedoria.

1024 — Ordinariamente o homem que menos sabe é o que mais fala, como a vasilha menos cheia a que mais chocalha.

1025 — A riqueza exige sempre muito espaço, a pobreza se contenta e vive folgada em muito pouco.

1026 — Cada século tem suas celebridades ou notabilidades que se desvanecem nos séculos subseqüentes.

1027 — É mais seguro escrever do que falar; falando improvisamos, para escrever refletimos.

1028 — A desgraça de muitas pessoas provém de não quererem ser o que são, mas pretenderem chegar a mais do que podem ser.

1029 — A ignorância dos inocentes não prejudica a sociedade, como a inteligência dos velhacos.

1030 — O mundo das verdades e relações é infinito, as suas minas, inexauríveis, as descobertas, ilimitadas, o espírito humano, o seu explorador, descobridor e admirador.

1031 — A modéstia é um véu sutil com que extenuamos o fulgor do nosso merecimento ou talentos, para não ofender a vista e amor-próprio dos outros homens.

1032 — Queixamo-nos sem receio da fortuna que não pode reclamar nem recriminar-nos.

1033 — Os cegos por ambição ainda vêem menos que os cegos por nascimento.

1034 — Os erros dos homens se articulam e se reproduzem como os pólipos.

1035 — O nosso amor-próprio, como o Proteu da fábula, se transforma por tantos modos que é extremamente difícil distingui-lo em todas as suas metamorfoses.

1036 — O princípio das democracias não é a virtude, mas o ciúme ou a inveja: desejando cada um ser rei, todos se opõem e não consentem que o haja.

1037 — Saber viver com os homens é uma arte de tanta dificuldade que muita gente morre sem a ter compreendido.

1038 — Os velhos devem supor-se mortos antes de morrer para assim alcançarem mais longa vida.

1039 — Raras vezes nos arrependemos do nosso silêncio, freqüentemente de haver falado.

1040 — A paixão dominante nos homens é a ambição; nas mulheres, o amor.

1041 — Sem desigualdade não pode haver harmonia nos sons, nas cores e nos homens.

1042 — Há vícios contrários e opostos, mas não virtudes adversas e incompatíveis.

1043 — Nenhum homem se considera tão ignorante como aquele que mais sabe.

1044 — Quando se faz da traição virtude, ela vegeta em toda parte, e sufoca a lealdade.

1045 — Os homens nos forçam a ser prudentes, e depois nos condenam por medrosos.

1046 — Ninguém ama por obediência, mas por sentimento e inclinação.

1047 — Os velhos se ocupam muito da morte, como os viajantes, em vésperas de viagem, dos seus arranjos relativos.

1048 — A bandeira da virtude, em suas campanhas, tem por legenda: — Resistência e Abstinência.

1049 — Os governos são tais quais os povos os fazem, os toleram, ou os merecem.

1050 — Os que se crêem muito espertos descuidam-se, e são enganados muitas vezes pelos tolos.

1051 — Nunca nos cremos bastantemente ricos, porque sabemos que a riqueza é tão fácil de gastar-se como difícil de adquirir-se.

1052 — O dia descobre a terra; a noite descortina os céus.

1053 — A morte que na opinião dos ímpios é extinção, para o homem religioso é promoção.

1054 — A natureza consome tudo, para tudo reproduzir.

1055 — Os vivos se reconciliam facilmente com os que morrem, pela razão de que estes deixam de ser desde logo seus concorrentes e lançadores nos bens da vida humana.

1056 — O fruto mais precioso da sabedoria humana é uma perfeita resignação com a vontade de Deus pela convicção íntima e pleníssima da sua onisciência e infinita bondade.

1057 — A tirania coletiva ou popular é incomparavelmente maior, mais sumária e violenta que a singular, ou de um homem só.

1058 — Julgamo-nos infelizes refletindo nos bens que nos faltam, sem nos crermos felizes ponderando os males que não sofremos.

1059 — Os pequenos homens se ocupam, se ufanam e se agastam de pequenas coisas.

1060 — Ser modesto é transigir com o amor-próprio dos outros homens.

1061 — Há muita gente que se queixa, como outra se ri, por hábito e costume.

1062 — A velhice é tão suscetível de afeções penosas que aqueles mesmos atos e exercícios, que recreiam os moços, incomodam e fazem enfermar os velhos.

1063 — Que galeria de pinturas e retratos em nosso espírito! ela é tão vasta como o mesmo universo, sem ocupar todavia o menor lugar na imensidade do espaço!

1064 — A má fortuna persegue a muitos sem justiça, como a boa favorece a outros sem razão.

1065 — Os homens ordinários consideram a felicidade sensual como fim, os de superior inteligência como ocasião, meio e instrumento para chegar à moral, intelectual e religiosa.

1066 — A virtude é uma escravidão voluntária e racional.

1067 — A ignorância crê tudo, porque de nada duvida.

1068 — A insignificância é tão penosa para os homens que muitos procuram surgir dela de qualquer modo possível, ainda mesmo pelos crimes.

1069 — Não se devem conferir os empregos importantes aos primeiros candidatos que se apresentam, estes são ordinariamente os mais ligeiros de pés e menos graves de cabeça.

1070 — Nunca esperem os anarquistas, chegando ao poder, governar tranqüilamente; os maus exemplos que deram e as más doutrinas que inculcaram reverterão sobre eles e contra eles.

1071 — Há homens que, descontentes de uma insignificância honesta, se arrojam a intrigas e crimes para alcançar uma celebridade infame.

1072 — Os brados de interesse sobrepujam muitas vezes as vozes da consciência.

1073 — O homem, como a flor, desabotoa na sua puerícia e adolescência, ostenta os seus primores na virilidade e madureza, declina envelhecendo, murcha, languesce e morre.

1074 — O nosso amor-próprio nos compromete freqüentes vezes, persuadindo-nos que sabemos ou podemos muito mais do que realmente é verdade.

1075 — Ordinariamente o desejo, plano e execução da vingança, incomodam e abalam mais os nossos espíritos do que as injúrias e ofensas recebidas.

1076 — O amor-próprio dos poetas e pintores é sobremaneira irritável; não se contentam com um desagravo ordinário, procuram imortalizar a sua vingança própria.

1077 — Os maus, intrigantes e velhacos parecem desconhecer que a linha reta é a única mais breve entre dois pontos.

1078 — O sábio em um povo sem ilustração é como a rosa no deserto, onde os insetos a pungem e maltratam, não sabendo prezar os seus perfumes, nem admirar a sua beleza majestosa.

1079 — Os homens de sublime engenho elevam-se como as girândolas de fogo, para luzir, iluminar e consumir-se.

1080 — O grande empenho da inteligência humana deve ser prevenir ou remover o mal, neutralizá-lo ou transformá-lo em bem.

1081 — Não há ciência que exalte e humilhe mais o orgulho dos homens que a Astronomia.

1082 — Há uma facúndia arrojada e semidouta que muita gente néscia qualifica de sabedoria.

1083 — É imprudência rejeitar os serviços dos maus e velhacos quando eles se oferecem a coadjuvar-nos em uma boa causa; é sobremaneira preferível tê-los antes por auxiliares do que por inimigos.

1084 — É fácil governar os homens pelo terror; mas é difícil fazê-lo por muito tempo e impunemente.

1085 — A velhice ilustrada é incomparavelmente mais feliz que a mocidade iliterata.

1086 — O verdadeiro sábio é um paradoxo vivo e ambulante na companhia e sociedade dos homens ordinários e vulgares.

1087 — A paixão pelo jogo pressupõe ordinariamente pouco amor pelas letras.

1088 — Convém usar dos homens como são, e das circunstâncias como elas ocorrem.

1089 — O sentimento mais nobre e feliz da natureza humana é sem dúvida o do amor e temor de Deus.

1090 — Os velhos, porque padecem, acreditam que tudo piora e degenera.

1091 — Alegamos muitas vezes a nossa franqueza para justificarmos a nossa maledicência.

1092 — Há tempos e circunstâncias em que é prova de habilidade parecer e figurar de inábil.

1093 — As sociedades humanas deixam de existir ou se dissolvem quando os vícios e crimes sobrepujam as virtudes.

1094 — Os ingratos tornam-se por acesso inimigos dos seus benfeitores.

1095 — Deixamos o espírito inculto quando só cuidamos em cultivar os corpos.

1096 — A misantropia não é nem pode ser vício ou defeito da gente moça.

1097 — Viver é gozar e sofrer, resistir e batalhar com os homens, as coisas, os eventos e elementos.

1098 — O furor da novidade destrói o amor e respeito da antigüidade.

1099 — Quanto menor é o juízo dos povos tanto maior deve ser o dos que os governam.

1100 — Desaprendemos a sofrer quando nos acostumamos a gozar.

1101 — Quando os sábios se calam, a monção é propícia aos ignorantes.

1102 — Para bem viver importa muito saber sofrer e abster-se.

1103 — O egoísmo nestes tempos figura e representa mascarado em patriotismo.

1104 — O desprezo da riqueza provém ordinariamente do desgosto de a não ter, ou incapacidade de alcançá-la.

1105 — O nosso amor-próprio, muito ocupado de si mesmo, parece não suspeitar nem avaliar o dos outros.

1106 — A ninguém, por mais feio que seja, desagrada no espelho a sua imagem, e na pintura, o seu retrato.

1107 — Há verdades que conhecemos, muitas que pressentimos, inumeráveis que não podemos conhecer nem pressentir.

1108 — Sucede nas revoluções como nas loterias, a perda é de muitos, o ganho de poucos, e, em geral, os mais indignos.

1109 — Os anarquistas se erigem em intérpretes dos povos, como os falsos sacerdotes se inculcam órgãos da Divindade.

1110 — Onde o luxo cresce, a probidade afraca e desfalece.

1111 — A nacionalidade se perde pela imitação e admiração servil das instituições, usos e costumes dos povos estrangeiros.

1112 — A morte nos devora apesar dos nossos queixumes, e, cumprindo as leis da natureza, destrói a uns para dar vida a outros.

1113 — Os sábios enganam-se pensando que são compreendidos por todos; os ignorantes, presumindo que todos ignoram o que eles sabem.

1114 — A idéia do mal é tão inseparável da do bem que uma não pode existir sem a coexistência de ambas.

1115 — Não nos gloriemos de saber mais que os outros, com idênticas circunstâncias eles saberiam talvez mais do que nós.

1116 — Quando mais nos afadigamos para entreter a vida, encontramo-nos com morte que nos forra o trabalho e cuidados de a manter.

1117 — Acresce na vingança ao mal da ofensa, o incômodo e cuidado do desagravo.

1118 — Folgamos de enganar-nos sobre a nossa mortalidade, como as mulheres, sobre a própria idade.

1119 — Nos altos empregos os grandes homens parecem ainda maiores; mas os pequenos figuram de mais diminutos.

1120 — A inveja e ciúme do mérito alheio acusa e revela a mediocridade do próprio.

1121 — Somos mais inclinados a dizer mal que bem dos outros homens; o amor-próprio explica este mistério escandaloso.

1122 — A genuína sabedoria tende ao Infinito, e reconhecendo por muito limitada a felicidade sensual, procura na imensidade do Universo o objeto que lha pode conferir perene, incessante, inexaurível e eterna, e o descobre em Deus que é a vida, a luz, o movimento e a inteligência universal.

1123 — Idéias novas promovem novas combinações, novas opiniões e novas revoluções.

1124 — As armas invencíveis da virtude são resistência às tentações e abstinência dos prazeres proibidos.

1125 — Ler sem refletir é comer sem digerir.

1126 — A religião é a razão e filosofia dos povos.

1127 — A fantasia é a lanterna mágica da nossa alma.

1128 — Quem atraiçoa o seu rei, não é leal a mais ninguém.

1129 — Os bons conselhos desprezados são com dor comemorados.

1130 — Os traidores na monarquia não são mais fiéis na democracia.

1131 — Fazei-vos pequenos para não serdes invejados, o ódio acompanha quase sempre a inveja.

1132 — Devemos temer-nos mais de nós mesmos que dos outros homens.

1133 — Governar ou conspirar, ou governar conspirando, é infelizmente a vocação fatal e invencível de muitos homens ambiciosos.

1134 — Os prazeres ilícitos, ainda que doces na sua fruição, deixam por fim um travo adstringente e amargoso que nunca mais se dissipa.

1135 — Os ambiciosos, como os jogadores, confiam menos na fortuna que na sua habilidade.

1136 — Chamamos ordem ao que nos aproveita, e desordem ao que nos prejudica.

1137 — Pequenos cuidados afugentam grandes idéias e pensamentos.

1138 — As circunstâncias fazem ou descobrem os grandes homens.

1139 — O mundo intelectual deleita a poucos, o material agrada a todos.

1140 — Os homens são mais ativos na vida ordinária por menos sabedores do que por mais doutos.

1141 — As opiniões são fecundas; raras vezes falecem sem deixar posteridade.

1142 — Não tem permanência a virtude que não provém da inteligência.

1143 — Uma boa cabeça não justifica um mau coração.

1144 — O engenho descobre o que a razão vulgar não alcança.

1145 — A inveja habitual deforma o semblante dos enfermos deste mal.

1146 — A autoridade impõe e obriga, mas não convence.

1147 — A razão e a verdade todos afetam querelas, mas bem poucos lhes rendem culto.

1148 — Para quem ama e teme a Deus, não há neste mundo completa desgraça.

1149 — O ciúme procede especialmente do reconhecimento da própria inferioridade.

1150 — Pressuposta a nossa vaidade, raras vezes as ações que praticamos em segredo têm o cunho de morais e virtuosas.

1151 — Os velhacos algumas vezes tomam o caráter de homens de bem, mas o disfarce é tão incômodo e violento que não dura muito tempo.

1152 — A inveja não empece os invejados e atormenta os invejosos.

1153 — A fortuna é cega somente para aqueles que a não compreendem.

1154 — Os viciosos amam os seus inimigos, amando os seus próprios vícios.

1155 — As opiniões se sucedem como as gerações; as de um século contêm os germes, ou elementos das opiniões e teorias de outros séculos e idades.

1156 — A preguiça nos maus é salutar para os bons.

1157 — Os tolos e néscios são animais gregários; eles se associam porque se não estranham.

1158 — A devoção nas mulheres promove a religião nos homens.

1159 — Um dos grandes benefícios do amor das letras e leitura é salvar a velhice da rabugem e mau humor que ordinariamente a acompanham.

1160 — Se este mundo é um hospital de doidos, como alguns deles o qualificam, sem dúvida os maiores são os que mais intrigam e se afanam para serem seus administradores ou enfermeiros.

1161 — Nas revoluções é fácil a aquisição do título de grande homem: audácia, arrojo, atividade, impudência e velhacaria são documentos suficientes.

1162 — O preguiçoso não vê nascer o sol; o homem ativo e laborioso o precede na sua aparição.

1163 — Olhos e pensamentos castos vigoram a saúde, e prolongam a vida.

1164 — Os homens de superior inteligência suscitam, coordenam ou modificam as circunstâncias como lhes convêm; os de ordinária capacidade sujeitam-se e obedecem às que ocorrem naturalmente.

1165 — A ambição se recomenda freqüentemente por amor do bem geral; os tolos a acreditam, os prudentes suspeitam, os sábios a desmentem.

1166 — Lamentamos com especialidade nos outros aqueles males, a que nos cremos mais expostos pela nossa condição.

1167 — Nenhum homem é cópia de outro: cada um é original na sua fisionomia, constituição, caráter e inteligência.

1168 — Os ignorantes invejam aos doutos a sua ciência, e estes aos néscios a sua cômoda ignorância e fácil credulidade.

1169 — Os que aspiram à tirania e dominação dos povos são os que ordinariamente mais afetam pugnar por seus direitos e interesses.

1170 — Nunca devemos recear-nos tanto de nós mesmos como quando gozamos de maior e mais ampla liberdade.

1171 — As verdades descobrem-se, não se inventam; Deus é a fonte única de todas elas.

1172 — Pouco mal faz esvaecer muitos bens.

1173 — Os povos são felizes quando os moços obram e executam em conformidade dos conselhos ou mandamentos dos mais velhos.

1174 — O conhecimento da verdade nos faria a todos uniformes nas nossas opiniões; são os erros que ocasionam tão espantosa variedade.

1175 — Os utopistas modernos parecem persuadidos de que a natureza humana é de arbítrio pessoal e não de necessidade irresistível e impessoal.

1176 — Cavando muito na natureza para descobrir verdades recônditas e profundas, fabricamos abismos em que inteiramente nos perdemos.

1177 — As moléstias do corpo não tolhem a ambição do espírito, antes parecem exaltá-la freqüentemente.

1178 — A natureza tolera os excessos na gente moça, mas castiga-os severamente nos velhos, a quem a sua fraqueza e experiência deveriam ter feito mais acautelados.

1179 — Os maiores lisonjeiros são também ordinariamente os piores maldizentes.

1180 — Deus em sua bondade infinita nos deu olhos para que o víssemos nas suas obras assombrosas, desde o menor inseto ou flor da terra até as estrelas dos céus.

1181 — É grande injustiça condenar a loquacidade das mulheres, quando se considera que sem ela as crianças e meninos nunca aprenderiam a falar.

1182 — Assim como nas grandes trovoadas a chuva penetra de ordinário em todas as casas, nas revoluções populares todos sofrem mais ou menos em conseqüência dos seus movimentos.

1183 — A tolerância de opiniões subversivas da ordem pública torna cúmplices dos males subseqüentes aos que as toleraram, podendo ou devendo resistir-lhes e impugná-las.

1184 — O sexo encarregado de criar e pensar os inocentes é como devia ser, por instinto e natureza, o mais terno, paciente e virtuoso: Deus confiou a inocência da virtude.

1185 — O progresso nos vícios é tão rápido como é lento nas virtudes; o vício é deleitação, a virtude, abstinência.

1186 — Os anarquistas só prosperam onde o espírito público é também sedicioso.

1187 — Toda a harmonia é deleitável; a das cores, a dos sons, e com especialidade, a dos homens.

1188 — A velhice é prêmio para uns e castigo para outros.

1189 — O mal na natureza não é fim, porém ocasião, meio, instrumento ou veículo para o bem.

1190 — Há países em que a fertilidade material da terra emenda os erros de entendimento do pessoal dos povos.

1191 — De bom ou mau grado, vivemos tão bem para os outros, como para nós mesmos.

1192 — A vida humana não é um bem senão porque se articula com muitas outras vidas e a eternidade.

1193 — Desconfiai de vós, dos homens e do mundo, mas confiai sempre em Deus.

1194 — A paixão de liberdade em muita gente não é mais do que desejo de licença e impunidade.

1195 — Os velhos se deleitam e se entretêm com o tempo e o mundo que já passou.

1196 — A virtude é feliz na sua desgraça, o vício infeliz na sua ventura.

1197 — É aborrecida a nobreza quando predomina a vileza.

1198 — Avistamos de longe o melhor e ótimo, raríssimas vezes o alcançamos.

1199 — O que há de pior nos vícios é que conduzem ordinariamente aos crimes.

1200 — Não toleramos de bom grado a felicidade alheia quando nos reconhecemos por infelizes.

1201 — Se os homens não tivessem alguma coisa de loucos, seriam incapazes de heroísmo.

1202 — Nada desmoraliza mais os povos que o desprezo ou descrença da religião que professavam.

1203 — As paixões nos gastam, mas os vícios nos consomem.

1204 — Nunca avaliamos melhor os bens da vida, senão quando infelizmente os havemos perdido: somos mais exatos em calcular os nossos males do que em apreciar a nossa própria felicidade.

1205 — O amor da glória, ou ambição de louvor e consideração geral, pode ser um sonho para os candidatos, mas é de utilidade geral para o gênero humano.

1206 — A imaginação não é menos engenhosa em atormentar-nos do que em deleitar e recrear-nos.

1207 — As enfermidades não enfraquecem menos o espírito do que o corpo; a inteligência se torna pusilânime e receosa.

1208 — Um dos argumentos da racionalidade dos homens é saberem que ignoram; os animais por certo não têm o conhecimento da sua ignorância.

1209 — A criatura sensível e inteligente, que chegou a adorar, amar e admirar a Deus, não pode ser inteiramente mortal: há nela alguma coisa de divino que sobrevive à mesma morte.

1210 — Quando o tufão derruba uma árvore, na sua queda a acompanham todos os animais voláteis e reptis que vivem, se abrigam e têm nela a sua habitação: isto mesmo se observa na mudança ou queda dos governos e ministérios.

1211 — Somos constituídos para sermos ativos, e não sábios; a sabedoria no homem é uma excrescência monstruosa que de algum modo o separa da humanidade vulgar.

1212 — O ceticismo é um abismo em que se precipitam ordinariamente os homens de maior saber.

1213 — Com Deus tudo se explica, sem Deus, este mundo, e o universo, seria mais tenebroso que o mesmo caos.

1214 — Ainda que nos ocupemos muito de nós mesmos, nem por isso nos conhecemos melhor do que aos outros.

1215 — Para o homem brioso e agradecido, os benefícios recebidos vencem juros cada dia.

1216 — Nunca se devem desprezar as advertências dos pilotos velhos que por muitos anos freqüentaram a carreira da vida humana.

1217 — A aquisição de um amigo leal e constante não é difícil, quando o buscamos na raça animal dos cães.

1218 — A maior loucura política é ampliar a liberdade a quem não tem suficiente capacidade para bem usar dela.

1219 — Os falsos patriotas, quando galanteiam a pátria com os nomes de cara e de querida, pretendem seduzi-la ou desfrutá-la.

1220 — Querendo inculcar-nos por doutos ou eruditos, nos tornamos freqüentes vezes incômodos e impertinentes.

1221 — Os povos menos ilustrados crêem com tanta facilidade nas promessas dos charlatães, como nos milagres das imagens.

1222 — A genuína probidade distingue-se especialmente pela sua constante e escrupulosa exatidão.

1223 — Os velhacos necessitam de mais talentos que os homens probos.

1224 — As nações não envelhecem como as pessoas, porque todos os dias se renovam pelos nascimentos.

1225 — A morte é certa, mas o prazo incerto: se a certeza da primeira nos aflige, a incerteza do segundo nos consola.

1226 — Os soberbos, como os cegos, trazem sempre as cabeças hirtas e levantadas.

1227 — Os erros dos povos são mais graves e desastrosos que os das pessoas.

1228 — Alguns homens há, a quem lhes falta até o talento de ser maus.

1229 — Quando temos o poder, queremos a ordem; muitos para o conseguirem promovem a desordem.

1230 — Avalia-se a inteligência dos povos pela natureza e variedade dos produtos de sua indústria.

1231 — O interesse individual é o primeiro elemento da ordem e harmonia social.

1232 — De ordinário os que reclamam mais liberdade são os que menos a merecem.

1233 — A profunda reflexão é também um dos achaques da velhice.

1234 — O melhor governo para os bons é o mais justiceiro; para os maus, o que perdoa e não castiga.

1235 — A guerra mais útil aos povos é a que fazem os maus e os velhacos entre si mesmos.

1236 — Os moços têm amenidade porque gozam, os velhos causticidade porque padecem.

1237 — O pai de família tem muitas vidas; goza e sofre em todas elas.

1238 — O mundo, que é sempre novo para os moços, envelhece para os velhos.

1239 — Há alguma contradição em desprezar os homens, e ambicionar a sua aprovação.

1240 — O mais ativo gastador é ordinariamente o menos hábil ganhador.

1241 — Os que mais se queixam são ordinariamente os que menos sofrem.

1242 — Esta vida mal se entende sem uma outra subseqüente.

1243 — Uns torturam o seu espírito para granjear dinheiro, outros para o gastar e dissipar.

1244 — Os avarentos são penitentes sem devoção, nem merecimento.

1245 — O anão, quanto mais alto sobe, mais pequeno se afigura.

1246 — Os povos mais livres são geralmente os mais ingratos.

1247 — O prazer da beneficência nunca termina com o ato, perpetua-se em nós pela memória.

1248 — A autoridade é tão poderosa entre os homens, que sustentamos e defendemos com ela as nossas opiniões individuais.

1249 — O mundo e a vida humana contêm incomparavelmente mais mistérios e arcanos para os sábios do que para os ignorantes.

1250 — Tempos há em que é menos perigoso mentir que dizer verdades.

1251 — O amor extremoso desculpa, quando não louva, os defeitos do objeto amado.

1252 — O arrependimento pressupõe uma pena que receamos ou que já sofremos.

1253 — O avarento esconde o seu tesouro para que o não roubem; o sábio oculta o seu cabedal para que o não maltratem pessoalmente.

1254 — Poucas das pessoas que condenamos nos pareceriam culpadas, se pudéssemos conhecer perfeitamente todas as circunstâncias que precederam, acompanharam, influíram ou determinaram a conduta que julgamos digna de censura ou de castigo.

1255 — Nos homens e nações a maior independência pressupõe superior inteligência.

1256 — Para o homem brioso e agradecido, os benefícios recebidos vencem juros cada dia.

1257 — Não tomeis o trabalho nem o risco de vingar-vos, é provável que sejais injusto no vosso desagravo; consignai à ordem moral a vossa vingança; não ficareis insultos, e esta será justa sem excesso nem defeito.

1258 — A impunidade não salva da pena e castigo merecido; retarda-o para o fazer mais grave pela reincidência e agravação das culpas e crimes subseqüentes.

1259 — Os charlatães e os velhacos têm o condão de agradar aos tolos e aos povos: os homens probos e doutos são destituídos daquela impudência e desembaraço, que atraem tanto a sua confiança.

1260 — Os homens que intrigam e cabalam para governar os povos, quando não são velhacos, pelo menos são tolos ou imprudentes. Muito mal conhece os homens quem aspira a governá-los.

1261 — Condenamos irrefletidamente nos moços a vergonha e acanhamento que os defendem de muitos males e perigos, suprindo de algum modo a razão e a virtude que ainda recentes não os podem dirigir e resguardar.

1262 — O mal e o bom não são substâncias distintas, ou entidades reais, porém modos ou maneiras de sentir em nós, agradáveis ou desagradáveis, aprazíveis ou dolorosas, efeitos da nossa organização sensível e impressionável interior e externamente.

1263 — A grande e presente fermentação e descontentamento dos povos provêm com especialidade da supressão, ou decadência, das idéias e crenças religiosas; o vazio que ela ocasiona corresponde a um abismo.

1264 — Como não há eventos isolados na plenitude da natureza, as revoluções, ainda que apareçam de repente, são obra e produtos de muito tempo, circunstâncias e antecedentes.

1265 — Deus é infinitamente maior e melhor do que os homens o imaginam.

1266 — A inteligência humana derivada da divina contém alguma coisa da faculdade criadora e produtiva da sua origem, o que se manifesta nas obras inumeráveis dos homens, destinadas ao seu uso, cômodo, recreação e defesa.

1267 — A liberdade de pensar pode ser ilimitada, a de falar, escrever e obrar deve ser muito restrita e definida; não ofendemos com o pensamento mas com as palavras e ações.

1268 — O gênero humano progride e se adianta em conhecimentos e inteligência como se fora um só homem que durasse, estudasse e aprendesse por muitos séculos e milênios.

1269 — Poderíamos existir eternamente aprendendo sempre, sem nunca se exaurir a matéria do saber: tal é a sabedoria infinita de Deus, a imensidade do espaço e das suas obras!

1270 — O espaço que parece limitado aos nossos olhos é infinito e imenso para o nosso espírito.

1271 — A nossa vida se exala como o vapor, e se condensa nos céus.

1272 — Ampliamos a esfera da nossa sensibilidade, multiplicando as nossas relações domésticas e sociais, e nos expomos a maiores cuidados e sofrimentos.

1273 — O homem preenche mal o seu destino, quando não passa do mundo concreto ao abstrato, e das idéias sensuais às noções gerais e universais.

1274 — A felicidade sensual consiste na saúde, a moral na virtude, a intelectual no estudo da natureza e a religiosa no amor e temor de Deus.

1275 — Sem os males que contrastam os bens, não nos creríamos jamais felizes por maior que fosse a nossa felicidade.

1276 — Este mundo é um vasto e complicado labirinto em que o homem se perde e desatina, se a virtude o não dirige e acompanha.

1277 — O martírio pelo céu é santidade, pela terra é sandice ou fatuidade.

1278 — Concebemos sempre mais e melhor do que podemos executar.

1279 — Temos ordinariamente melhor opinião da posteridade que das gerações presentes e contemporâneas; conhecemos os vícios e defeitos destas, e não pressupomos os daquela.

1280 — Julgamo-nos felizes somente quando bem compreendemos como e quanto podemos ser desgraçados.

1281 — Vivemos entre duas eternidades que limitam a nossa existência e nos constituem mortais neste intervalo.

1282 — Os velhos, condenando as travessuras dos moços, censuram a história da sua pretérita mocidade.

1283 — O que o gênero humano sabe é pouco; o que deseja saber muito; o que há-de sempre ignorar: infinito.

1284 — Os homens não se toleram senão porque figuram de tolos freqüentes vezes.

1285 — A fortuna sem virtudes é mais desastrosa que a desgraça.

1286 — A alegria do sábio e do justo é interior e serena; a do ignorante e vicioso, ruidosa e exterior.

1287 — A doçura e beleza das mulheres parecem inculcar que são anjos e serafins que desceram dos céus e se humanaram na terra.

1288 — Os maus se associam com mais freqüência que os bons; reconhecem a sua fraqueza moral na opinião da maioria humana.

1289 — Não nos arrependemos porque erramos ou fizemos o mal, mas porque sofremos ou receamos sofrer em conseqüência dele.

1290 — Ninguém é tão mau na ação e na praxe como o pode ser no pensamento.

1291 — Purificai os vossos pensamentos, e as vossas palavras e ações serão tão puras como eles.

1292 — A importância da riqueza e poder provêm da capacidade que conferem aos homens de fazerem muito mal ou muito bem.

1293 — O maior poder provoca ordinariamente o maior abuso.

1294 — Os moços apaixonam-se pelo bonito e lindo, os homens experientes e maduros, pelo belo.

1295 — A vaidade é tão frívola e fútil que motiva mais riso que compaixão.

1296 — Sempre nos deleitamos mais em falar do que os outros em nos ouvirem.

1297 — Os homens taciturnos têm inumeráveis ocasiões de congratular-se do seu silêncio.

1298 — Como o incenso só recende depois de queimado, a glória dos grandes homens refulge sem eclipse depois de mortos.

1299 — As grandes descobertas são revolucionárias entre os homens, alteram as suas instituições, usos, costumes e opiniões.

1300 — O moço a cavalo prefere galopar, o velho andar a passo; assim a natureza carateriza as idades.

1301 — As amizades, como as árvores bem cultivadas, produzem copiosos frutos.

1302 — Somos mais vezes instrumentos das circunstâncias do que agentes da nossa própria vontade.

1303 — Ganhamos ordinariamente mais em ouvir do que em falar, quando falamos, despendemos, quando ouvimos, arrecadamos.

1304 — As nações não morrem de velhas, as revoluções as remoçam.

1305 — Há muita gente que se considera infeliz em não alcançar o que a fizera realmente desgraçada se chegasse a conseguir.

1306 — As verdades não parecem as mesmas a todos, cada um as vê em ponto diverso de perspetiva.

1307 — Muitos homens presumem honrar a sua insignificância social afetando desprezar os títulos, honras, insígnias e empregos que não podem nem esperam conseguir.

1308 — Não lamentamos de ordinário a morte dos outros, senão porque sugere ou desperta a idéia da nossa própria.

1309 — Os preguiçosos mostram-se algumas vezes muito diligentes para evitar a nota de indolentes.

1310 — O sábio, como a antiga Pitonisa, duvida, estremece e sente violência no emitir os seus oráculos.

1311 — Como a chuva amolece a terra, o pranto da mulher abranda o coração do homem.

1312 — A glória humana murcha como a beleza e as rosas, e os nomes dos grandes homens têm também de sumir-se no abismo do esquecimento e do nada.

1313 — Os que tiram maior proveito dos empregos, são os que ordinariamente mais se queixam do trabalho; cuidados e responsabilidade a que eles obrigam e sujeitam: exageram os seus incômodos para que se não cobicem as suas vantagens.

1314 — A preguiça é tão verbosa como ociosa.

1315 — O sábio e virtuoso estreita cada vez mais a esfera das suas relações sociais a fim de ter menos ocasiões de ofender os outros, ou ser por eles ofendido.

1316 — O exercício ginástico que mais ocupa, diverte e incomoda os homens é o de saltarem uns sobre os outros, por cima de muitos ou de todos.

1317 — A probidade por si só pouco adianta os homens, mas assistida de talentos e ciência é um meio eficaz e poderoso de pessoal exaltação.

1318 — Subir aos maiores empregos do Estado não é sempre argumento de grandes e distintos talentos nos promovidos, mas freqüentes vezes da consumada estultícia ou velhacaria dos que contribuíram para tão injusta e escandalosa exaltação.

1319 — O medo provém da experiência e da falta dela.

1320 — O desejo insaciável de ciência é um argumento entre muitos da imortalidade da alma, e da subseqüência de uma vida futura.

1321 — Um dos maiores obstáculos ao adiantamento e promoção das pessoas de grandes talentos e ciência é ordinariamente o seu mesmo orgulho ou presunção.

1322 — A leitura, como a comida, não alimenta senão digerida.

1323 — Ninguém se conhece tão bem como conhece algum dos outros homens.

1324 — Todos alegam razão quando em tudo só se vê paixão.

1325 — Os importunos roubam-nos o tempo, e nos consomem a paciência.

1326 — O maior trabalho dos que governam é tolerar os importunos.

1327 — A morte desengana sem proveito aos que morrem, e com pouca utilidade aos que vivem.

1328 — Aprendemos da experiência dos outros; as lições que a própria nos dá saem sempre muito caras.

1329 — Homem palavroso e facundo não é seguro no seu trato.

1330 — Se a inteligência humana é fruto da organização cerebral, esta de quem é produto?

1331 — A celebridade do crime perpetua a sua execração.

1332 — A fazenda roubada nunca é bem aproveitada.

1333 — Criamos entidades personalizando abstrações; eis a causa dos nossos maiores erros.

1334 — A ambição nos faz perder freqüentes vezes os bens de que gozamos, correndo inutilmente após daqueles que cobiçamos.

1335 — O juízo dos homens é tão vário que uns consideram como verdades o que outros reputam disparates.

1336 — Todos inculcam apetecer descanso, quando é verdade que nada cansa e incomoda mais os homens.

1337 — Não há beleza material que não expresse uma idéia, pensamento ou sentimento moral.

1338 — Os velhacos pugnam muito por seus direitos, mas prescindem dos seus deveres.

1339 — Deixemos aos imprudentes a ambição de governar os povos; cuidem os prudentes em bem governar a si próprios.

1340 — Os escritores e jornalistas não são sanguinários; vertem tinta e fel, mas não derramam sangue.

1341 — Facilitemos aos homens pela educação a felicidade moral e intelectual, a fim de que menos se ocupem da sensual que tantos trabalhos, incômodos, desgostos e misérias ocasiona.

1342 — Os imprudentes e estouvados ofendem a muita gente, sem intenção nem propósito de ofender a pessoa alguma.

1343 — Nenhum senhorio é tão absoluto como o que conferem os povos aos tiranos de sua escolha.

1344 — Os sábios não dizem tudo, nem o melhor que sabem: receiam com razão não serem compreendidos, mas perseguidos.

1345 — Os velhos, sendo prudentes, são acusados de indiferentes.

1346 — Descobre-se tanto saber no ceticismo dos sábios, quanto ignorância na credulidade dos néscios.

1347 — Os mais sábios legisladores são aqueles que melhor sabem travar este mundo com o outro, a vida presente com a futura.

1348 — Os homens mais invejosos são ordinariamente os menos invejados.

1349 — O invejoso tem em si próprio o seu algoz, patíbulo e suplício.

1350 — A atividade dos maus se resolve finalmente em seu dano e detrimento.

1351 — A embriaguez habitual se anuncia pelo desalinho pessoal.

1352 — A modéstia se contrai; a vaidade, pela sua expansão, ocupa muito espaço de lugar e tempo.

1353 — Como o sol alumia em toda a sua periferia, o homem deve ser benfeitos em todas as direções.

1354 — A soberba não é menor nos pobres que nos ricos, mas as necessidades e dependência dos primeiros a comprimem de maneira que mal se descobre ou aparece muito resumida: é nas revoluções populares que ela faz a sua explosão.

1355 — O nosso espírito esfria e se congela nas companhias que desprezamos.

1356 — Há tempos calamitosos em que o maior tormento da velhice é tolerar a mocidade.

1357 — Os homens nunca aborrecem tanto o poder nos outros, como quando o cobiçam mais para si mesmos.

1358 — Aquele que diz bem de todos, por ninguém deve ser desmentido.

1359 — Declamamos ordinariamente contra os que governam para nos inculcarmos por mais hábeis e capazes de governar.

1360 — Cada homem, tendo uma vocação especial como uma fisionomia privativa, torna-se inútil, incômodo ou nocivo, sendo empregado fora da sua esfera e propensões.

1361 — Não há sujeição igual à que sofrem as pessoas bem educadas e polidas na companhia de homens malcriados, grosseiros e vilãos.

1362 — Ninguém conhece melhor os seus interesses do que o homem virtuoso; promovendo a felicidade dos outros assegura também a própria.

1363 — Aviltam-se os lugares mais importantes, sendo ocupados por pessoas sem prestígio e insignificantes.

1364 — Os vícios dos grandes promovem e de algum modo justificam os crimes dos pequenos.

1365 — Os velhos são ordinariamente mais egoístas e menos filantropos que os moços.

1366 — Os ignorantes se contentam com possuir o mundo material, sem invejarem as descobertas e conquistas que os sábios fazem no mundo intelectual.

1367 — Vivificamos e racionalizamos o mundo externo e material com a nossa própria inteligência e vitalidade.

1368 — O futuro é um teatro em que a imaginação humana faz executar os dramas de sua invenção.

1369 — A morte faz perdoar ou absolve os homens eminentes da sua superioridade ou transcendência intelectual.

1370 — Fica sem caráter ou perde o próprio quem, para agradar, se amolda aos dos outros homens.

1371 — Os velhos impugnam as modas recentes, e defendem as antigas.

1372 — As recordações mais aprazíveis são as do bem que fizemos e dos males que evitamos.

1373 — No laboratório da natureza, a vida e a morte são os dois grandes produtos e instrumentos da sua atividade e operações.

1374 — Alguns homens ganham por tolos o que outros não alcançam por avisados.

1375 — O futuro desmente ordinariamente os nossos cálculos, quando se resolve em presente.

1376 — As revoluções, como os tufões, levantam poeira que cega e faz desatinar a toda gente.

1377 — O progresso dos néscios e velhacos é sempre do mal para o pior e péssimo.

1378 — O futuro é para muitos homens tímidos ou prudentes como as trevas da noite que figuram espectros e fantasmas colossais.

1379 — Fama e fome são dois grandes agentes e instrumentos de infâmia e glória.

1380 — A nossa imaginação é mais leviana, extravagante e indecente do que o nosso procedimento.

1381 — O lisonjeiro é um mentiroso aprazível e mercenário.

1382 — A modéstia é econômica, a vaidade dispendiosa.

1383 — O amor da nossa individualidade faz inevitável o terror da morte que a destrói.

1384 — A inveja para seu tormento exagera o valor dos bens invejados.

1385 — O luxo guarnece os seus devotos do frívolo e supérfluo, e depois os entrega à indigência para os punir com privações.

1386 — A ingratidão coletiva dos povos é punida pela ordem moral por uma pena igualmente coletiva.

1387 — A liberdade da imprensa é talvez o melhor remédio e corretivo do abuso das outras liberdades.

1388 — A avareza é mais um achaque adicional da velhice.

1389 — Custa menos enganar que desenganar os povos: a sua ignorância facilita o engano, a sua credulidade dificulta o desengano.

1390 — Desconhecemo-nos freqüentes vezes, tão diversos somos de nós mesmos em diversas circunstâncias!

1391 — O egoísta é aquele que, referindo tudo a si, não sabe avaliar a dependência e relações em que está com os outros homens.

1392 — O nosso amor-próprio é o maior de todos os sofistas, ninguém defende com tanto zelo e facúndia os nossos erros, defeitos e desvarios.

1393 — As vaidade individuais na sua expansão encontram uma resistência recíproca que impede a sua exorbitância.

1394 — São os homens de maior inteligência os que vivem mais em um tempo dado de existência individual.

1395 — O crer é menos incômodo e penoso que o descrer.

1396 — A ignorância é prolixa em seus discursos, a sabedoria concisa e resumida.

1397 — A economia do tempo é menos vulgar e mais importante que a do dinheiro.

1398 — De toda a nossa propriedade a mais incerta e menos segura é a própria vida.

1399 — O favor dos poderosos é muitas vezes mais incômodo do que o seu desagrado.

1400 — A crença mais razoada é sempre a mais firme e permanente.

1401 — A privança com os poderosos compromete ordinariamente mais do que aproveita.

1402 — A impunidade promove os crimes, e de algum modo os justifica.

1403 — A grande riqueza para ser tolerada, deve manter e divertir os pobres.

1404 — O preguiçoso confia na fortuna, o homem industrioso e probo em Deus, e no seu trabalho.

1405 — A capacidade das inteligências distingue-se pela facilidade de descobrir relações, achar analogias, fazer abstrações, e generalizar idéias.

1406 — Tempos há em que os povos não podem tolerar autoridade alguma, outros sobrevém em que chegam a adorar a mesma tirania.

1407 — O trabalho por fazer nos incomoda, o feito nos desabafa.

1408 — O motivo ordinário da nossa tristeza é a idéia de algum mal que fizemos, ou receamos sofrer.

1409 — É penoso dizê-lo, confiamos menos nos homens à medida que mais os praticamos.

1410 — A genuína virtude não é austera nem sobranceira, mas alegre, amena e jovial.

1411 — Desagrada a todos a ditadura, no saber como no poder.

1412 — O governo de muitos é desgoverno para todos.

1413 — O nosso corpo é todo articulado para que sejamos flexíveis, e possamos dobrá-lo e curvar-nos, quando seja necessário.

1414 — O homem que não é exato não tem palavra, nem probidade.

1415 — O maior sábio da terra fora aquele que melhor conhecesse a extensão da sua ignorância.

1416 — A verdade é simples e luminosa, a impostura, composta e misteriosa.

1417 — Somos fáceis em prometer e difíceis em cumprir; prometemos por surpresa, e cumprimos com reflexão.

1418 — A benevolência não é eficaz sem a beneficência que a completa.

1419 — Tanto cresce o poder dos homens, quanto aumenta o seu saber.

1420 — O universo corresponde a um salão imenso de banquete em que todos os viventes são comensais da divina providência.

1421 — A nossa vaidade atraiçoa e revela freqüentes vezes a nossa incapacidade.

1422 — O homem calado faz-se suspeitoso como o embuçado.

1423 — Agravamos o nosso trabalho e cuidados, aumentando as nossas necessidades.

1424 — A imaginação ora aterra, ora diverte a razão para melhor a dominar.

1425 — A economia é companheira inseparável da probidade.

1426 — O homem bom espera mais do que teme, o mau receia mais do que espera.

1427 — A inexperiência da mocidade ocasiona a sua originalidade.

1428 — As palavras rendem a força, como os fluidos dissolvem os sólidos.

1429 — São caluniados os que não podem ser censurados.

1430 — Não desejamos somente que os outros homens trabalhem, mas também que pensem por nós, e para nós.

1431 — Não é dificultoso governar um povo religioso.

1432 — Como há flores que perfumam os ares, há homens que edificam os povos com seus exemplos e doutrinas.

1433 — A paixão dos moços é desfazer e destruir, a dos velhos, reparar e construir.

1434 — A ostentação intempestiva ou importuna de ciência e erudição é pedantismo.

1435 — O orgulho do saber é talvez mais odioso que o do poder.

1436 — O perdão conferido aos maus torna cúmplices os que lho deram.

1437 — A trapassaria humana diverte e ocupa na mocidade, mas enfada, enoja e incomoda na velhice.

1438 — Observa-se em muita gente que melhora de costumes, piorando de saúde ou de fortuna.

1439 — Os mundos também são sexuais: o sol fecunda a terra e a faz produtiva e populosa.

1440 — É tal a mudança e poder das circunstâncias que os mesmos bens que em um tempo se nos figuram de impossível aquisição, em outro se facilitam, e vêm buscar-nos sem o menor trabalho da nossa parte.

1441 — Os louvores que damos são amigos que granjeamos.

1442 — Vemos os objetos pela luz, e conhecemos a existência da luz pelos objetos que a refletem.

1443 — A imprudência de poucos compromete e incomoda a muitos.

1444 — Os homens que sabem muito dependem pouco ou menos do que os outros.

1445 — O espírito por sutil se evapora, quando o juízo por grave permanece.

1446 — A saúde é um bem de tal importância que ela só constitui o fundo principal da felicidade humana.

1447 — Muito pouco sabe quem mais se ufana do seu saber.

1448 — A roda da fortuna não é outra coisa mais que a mudança de circunstancias, e variedade dos eventos.

1449 — A proteção dos homens é ordinariamente estéril, a de Deus sempre fecunda de bens e bênçãos.

1450 — A organização dos corpos individuais pode servir-nos de exemplo e norma para constituir e organizar os sociais e coletivos.

1451 — De todos os animais gregários e sociais, os homens são os que mais estudam e menos sabem constituir-se e governar-se.

1452 — Os velhos pelos seus achaques ocupam-se tanto de si mesmos que não lhes resta tempo para cuidarem dos interesses alheios ou gerais.

1453 — Pouco nos importa saber porque gozamos, mas interessa-nos muito conhecer as causas dos nossos males para os prevenir ou remover; daqui provém que a desgraça nos instrui muito mais do que a ventura.

1454 — A esfera da ação do nosso corpo é tão limitada, quanto é vasta e incalculável a da nossa inteligência.

1455 — Os ignorantes, porque não conhecem o poder e importância das relações sociais, são mais egoístas que os inteligentes.

1456 — Nada conserva e resguarda tanto a saúde como a virtude.

1457 — Não apreciamos os grandes homens presentes, respeitamo-los ausentes, e veneramo-los depois de mortos.

1458 — O amor, como um incêndio, quanto maior é, menos atura.

1459 — A vida se usa tanto quanto mais se abusa.

1460 — O que mais esperança e consola os homens no extremo da sua vida é a doce recordação dos bens que nela fizeram.

1461 — É necessário não ter caráter e opinião própria, para bem viver com os homens e agradar a todos.

1462 — O prestígio do nascimento é de tal natureza que não se pode comprar, nem vender, trocar ou alienar de modo algum.

1463 — A beneficência nos confere a virtude magnética de atrair os homens e fazê-los contribuir e interessar-se na nossa felicidade.

1464 — O universo é um sistema imenso de amores de que Deus é o inventor, fonte, causa, meio e fim.

1465 — A posteridade celebra os nomes e obras de muitos homens que desprezaria, se os conhecesse e praticasse pessoalmente.

1466 — A admiração exclui o louvor por diminuto.

1467 — Já não vivemos de graça quando temos estudado e meditado profundamente o mundo, a vida e a natureza humana.

1468 — Chegamos a uma idade em que, fatigados da intriga e trapaçaria humana, preferimos o retiro à companhia e sociedade dos homens.

1469 — Os povos e nações são respeitáveis ou terríveis, menos pelas unidades e parcelas de que se compõem, que pela soma total de todas elas.

1470 — Os agentes e instrumentos das sedições e insurreições são ordinariamente os loucos, tolos, famintos e velhacos.

1471 — Os homens, dizendo em certos casos que vão falar com franqueza, parecem dar a entender que o fazem por exceção de regra.

1472 — Quando, em uma idade avançada, rememoramos os eventos da nossa vida, reconhecemos o império das circunstâncias que os promoveram, e a ação permanente de uma providência misteriosa que nos assistiu com o seu favor onipotente.

1473 — Feliz, e três vezes feliz, aquele que, havendo servido os maiores empregos do Estado, não fez verter lágrimas, nem tomar luto a pessoa alguma!

1474 — Quando escrevemos, fixamos o nosso pensamento, e de algum modo o perpetuamos em nossa vantagem ou detrimento.

1475 — Não devemos estudar profundamente os nossos amigos e conhecidos, um tal estudo nos poderia levar insensivelmente a desprezo ou aversão para com eles.

1476 — O mundo pertence especialmente às gerações novas, cheias de ceve, energia e força, e não às velhas, que se destroçam em retirada, sem poderem defender a sua possessão.

1477 — O corpo grave e reptil adere à terra, o espírito volátil e sutil demanda os céus.

1478 — Não admireis as obras dos homens; subi mais alto, admirai aquela sabedoria infinita que lhes delegou inteligência suficiente para as produzir tão engenhosas e variadas.

1479 — A impunidade tolerada pressupõe cumplicidade.

1480 — Os ricos e poderosos devem ser, para os pequenos e pobres, como as montanhas e serras que dão abrigo aos vales, e os fertilizam com as águas e terra pingue que lhes enviam na sua opulência majestosa.

1481 — Grande e sublime é a idéia da onipresença de Deus! O infeliz subterrado em uma masmorra não verte uma lágrima que não seja vista, não exala um suspiro que não seja ouvido, por quem tudo sabe e tudo pode, o criador e protetor indefectível da humanidade!

1482 — O tempo voa para quem goza, e se arrasta para quem padece.

1483 — Os anarquistas em um tempo são os tiranos em outro, se conseguem governar.

1484 — Personalizamos alguns nomes coletivos, e lhes tributamos uma veneração e respeito que não merecem as individualidades que neles se compreendem.

1485 — O pensamento humano, mais sutil e veloz do que a luz, sobe e se eleva mais alto do que as nuvens, e no seu vôo assombroso transcende as barreiras do universo visível, contempla o infinito e se expande na imensidade.

1486 — Calamitosos são os tempos em que a insignificância alcança preponderância!

1487 — A reflexão é fecunda de verdades, a imaginação de erros e ilusões.

1488 — A embriaguez é o refúgio ordinário dos maus e viciosos contra os reproches da própria razão e consciência.

1489 — Há homens dignamente reputados extravagantes, que blasonam todavia de ser singulares nas suas opiniões e teorias.

1490 — Em matéria de amor-próprio o mais pequeno inseto não o tem menor que a baleia ou o elefante.

1491 — A estultícia de uns provoca e suscita a velhacaria em outros.

1492 — É muito incômoda para nós, freqüentes vezes, a opinião exagerada que os outros homens têm de nossa importância pecuniária, mental ou social.

1493 — Os homens, como os polígonos, têm geralmente muitos ângulos, faces ou lados.

1494 — Considerar os povos muito racionais é não conhecer os elementos e unidades de que se compõem, e cuja soma representam.

1495 — Os velhacos não perdoam de bom grado nos outros homens a habilidade de os adivinhar, conhecer e compreender.

1496 — Um órgão desconcertado inutiliza a perícia do organista, uma nação anarquizada, a dos melhores governantes.

1497 — O amor reparte com a ambição a nossa vida: o primeiro ocupa a mocidade, a segunda a outra parte.

1498 — A razão e não menos a consciência é onerosa a muita gente.

1499 — Os ambiciosos não têm lealdade em opiniões, professam interinamente aquelas que julgam mais eficazes e propícias à sua pessoal exaltação.

1500 — A fé desobriga a razão de muito estudo, fadiga e aplicação.

1501 — Os homens não se vendem de graça, o seu amor-próprio lhes marca o preço, mas a concorrência o rebaixa.

1502 — Quando os povos enlouquecem, festejam e solenizam os dias de seus maiores desatinos e ingratidões.

1503 — Ordem, no vocabulário do egoísmo, significa proveito pessoal; desordem, dano individual.

1504 — A imaginação é uma louca estouvada que tem a razão por curadora.

1505 — Nas maiores companhias temos a menor liberdade, somos plenamente livres quando estamos sós.

1506 — O princípio de que não pode haver ação nem movimento sem deslocação é aplicável não somente aos fenômenos materiais, mas também aos políticos e morais.

1507 — A religião, quando impera no coração dos homens, purifica os seus pensamentos, palavras e ações.

1508 — O luxo da nossa imaginação sobreexcede algumas vezes ao da mesma natureza.

1509 — Os males da vida que fazem melhorar os bons tornam piores os malvados.

1510 — Não têm limites a audácia e desembaraço dos velhacos, quando se reconhecem bem conhecidos.

1511 — Para colhermos uma verdade, tropeçamos em mil erros.

1512 — O jardim das verdades tem altas cercas de espinhos.

1513 — Generalizamos as nossas idéias para simplificarmos os nossos conhecimentos.

1514 — Instruir e divertir os povos deve ser o empenho dos escritores; os mais hábeis são os que instruem divertindo.

1515 — As opiniões dos homens são ordinariamente obra das circunstâncias, raras vezes produto do seu exame e raciocínio.

1516 — A poesia orna os moços; a filosofia ilustra os velhos.

1517 — Humilhai o vosso amor-próprio, mas respeitai o dos outros.

1518 — O bom legislador distingue e classifica, o mau mistura e confunde tudo.

1519 — Os anarquistas se envergonham deste nome, e se apelidam republicanos.

1520 — A anarquia é ingrata, proscreve e condena por fim os seus doutores e promotores.

1521 — A névoa encobre aos nossos olhos os objetos próximos e remotos, os erros e prejuízos ao nosso espírito as verdades mais importantes.

1522 — As virtudes enriquecem, os vícios empobrecem os homens.

1523 — Um povo corrompido não pode tolerar governo que não seja corruptor.

1524 — O mal é a pedra de toque dos bens, que faz conhecer os seus valores e quilates.

1525 — A anarquia tem por castigo e corretivo a tirania.

1526 — A civilidade, limando e polindo, nos tira a firmeza e solidez.

1527 — A insignificância é a sepultura das monarquias.

1528 — Os homens de maior inteligência e juízo são os que mais prezam a vida e temem a morte.

1529 — Não há tolo constantemente tolo, nem velhaco sem remissão e intermitência.

1530 — Os governos tornam-se fracos por ignorância, injustiça e despotismo.

1531 — Na imensidade do espaço, todos os pontos são centros, os viventes que os ocupam também podem reputar-se tais.

1532 — O instinto nos homens enfraquece à medida que a sua razão cresce, vigora e se desenvolve.

1533 — Os sábios falam pouco, porque pensam e meditam muito.

1534 — A vida é sempre curta para quem desperdiça e não aproveita o tempo.

1535 — A velhice é uma decadência progressiva cujo limite é a morte.

1536 — Os homens que nada esperam na outra vida, forcejam e trabalham para gozar e possuir tudo na presente.

1537 — O homem benéfico é melhor calculista que o malfazente: a beneficência do primeiro se resolve finalmente em seu proveito, como os malefícios do segundo em seu detrimento e ignominia.

1538 — Nas revoluções populares agrava-se o mal dos povos pela retirada, silêncio ou reserva dos homens de juízo, prudência e sabedoria, e a apresentação tumultuosa dos néscios, intrigantes e aventureiros que aspiram a substituí-los nos lugares e empregos do Estado.

1539 — Quem em Deus se esperança, tudo alcança.

1540 — Não perguntemos a um ou a muitos o que convém a todos, seríamos mal informados pelo egoísmo dos informantes.

1541 — Não há verdadeiro heroísmo sem religião, ela só é capaz pelo incentivo de um prêmio eterno de persuadir aos homens os maiores sacrifícios dos bens deste mundo e da própria vida.

1542 — Pensando que nos determinamos a nós mesmos, somos levados de ordinário e insensivelmente pela torrente das circunstâncias que nos dominam com um poder mágico irresistível.

1543 — Avaliai com exatidão os prazeres da vida para os não comprardes caros com detrimento da vossa honra, saúde e cabedal.

1544 — Podemos dizer que espiritualizamos a matéria e materializamos o espírito: no primeiro caso idealizando os céus, a terra e tudo quanto nela se contém; e no segundo, dando figura e corpo aos nossos pensamentos, afetos e concepções morais e intelectuais.

1545 — Sê prudente e reservado, mas não misterioso.

1546 — A religião promete aos homens, para os fazer bons, o que os governos não podem prometer-lhes: uma eternidade de bens com exclusão de todos os males.

1547 — Quando os códigos decretaram, por penas dos maiores crimes, a privação da liberdade ou da vida, reputaram ser estes os maiores bens da existência humana.

1548 — A leitura deve ser para o espírito como o alimento para o corpo: moderada, sã e de boa digestão.

1549 — Morremos em um instante, e tememos a morte por muitos anos!

1150 — Ninguém é mais liberal em louvar os outros homens do que aqueles que são mais dignos de ser louvados.

1551 — Feliz o gênero humano se os homens fossem tais como geralmente se inculcam, ou desejam parecer que são!

1552 — O temor do mal excita em nós maior atividade que a esperança do bem.

1553 — A ordem física tem uma tão íntima conexão e correspondência com a moral, que, pelos fenômenos de uma, se podem explicar suficientemente os da outra.

1554 — Há homens que são de todos os partidos, contanto que lucrem alguma coisa em cada um deles.

1555 — A austeridade conosco é virtude, com os outros pode ser tirania, injustiça ou imprudência.

1556 — A gratidão também é produto do nosso amor-próprio: julgamo-nos desobrigados dos benefícios se nos confessamos agradecidos.

1557 — Os tolos exultam e agradecem, como benefícios, os males e danos que se lhes faz sofrer.

1558 — Os homens, como os frutos, apodrecem quando estão maduros.

1559 — Há verdades que, assim como as frutas, são verdes e travam antes de amadurecerem.

1560 — Se não fôssemos passíveis não seriamos compassivos.

1561 — Liberdade sem juízo é pólvora em mãos de meninos.

1562 — Os tolos antecedem os velhacos, estes não podem existir nem subsistir sem aqueles.

1563 — O telescópio e microscópio são dois insignes demonstradores da onisciência e onipotência divina.

1564 — O amor-próprio é o amigo leal que nunca nos desampara em os nossos maiores infortúnios.

1565 — O rei justo vive sem susto, o tirano pouco tempo é soberano.

1566 — Os povos gostam de mudar de governos, como os escravos de senhores.

1567 — Muito patriotismo na boca, grande ambição no coração.

1568 — Em política e religião os néscios para seu bem devem crer e não discorrer.

1569 — Vive de maneira que ao morrer não te lastimes de haver vivido.

1570 — Nos nossos votos aos céus, o artigo que mais nos falta é aquele que menos nos lembra pedir: juízo.

1571 — A nudez do amor-próprio é tão indecente e desagradável que recorremos à civilidade para o vestir, ataviar e fazê-lo tolerável.

1572 — Quem estudou e conhece os homens, não os despreza nem aborrece, ama os bons e lastima os maus.

1573 — Faze guerra a ti só, mas vive em paz com os outros homens.

1574 — Há homens que sobem alto, como os papagaios de papel, impelidos pela viração da fortuna e circunstâncias.

1575 — Fazem-se modernamente constituições para os povos, como se fariam vestidos para as pessoas sem se lhes tomar a medida.

1576 — Ainda que as honras pareçam dever compreender a honra, esta por desgraça muitas vezes é delas excluída.

1577 — Não se servem com honra, perícia e integridade os empregos que se alcançam com lisonjas, baixezas e cabalas.

1578 — É a vida que nos incomoda e importuna com as suas incessantes requisições e não a morte que de nada necessita.

1579 — A presunção nos moços promove a sua atividade; a prudência, filha da experiência, os faria inertes e irresolutos.

1580 — Os maus são bons algumas vezes por distração.

1581 — Para mereceres o nome de forte, respeita e protege os fracos.

1582 — Os instintos nos animais, a razão, engenho e os talentos nos homens são inspirações e revelações da divindade.

1583 — Os homens podem ser felizes por tantos modos e maneiras que felizmente é quase impossível definir a felicidade.

1584 — Dá bons exemplos ao menos, se não sabes dar bons conselhos.

1585 — Não há pessoa tão feia que não descubra alguma beleza na sua própria fealdade.

1586 — A ignorância não duvida porque desconhece que ignora.

1587 — É tão natural a variedade de opiniões dos homens, quanto seria extraordinária e inexplicável a sua uniformidade.

1588 — Desesperamos dos homens porque não confiamos nem esperamos em Deus de cuja providência eles são também instrumentos neste mundo.

1589 — Os vícios dão mais ocupação aos homens do que as virtudes; estas têm poucas necessidades; aqueles, inumeráveis.

1590 — Os ignorantes e os povos são os mais tenazes e violentos defensores dos seus próprios erros e preocupações.

1591 — As pessoas do campo são mais religiosas que as da cidade: ali vê-se a Deus imediatamente nas suas obras, aqui indiretamente nas dos homens.

1592 — A beneficência alegra ao mesmo tempo o coração de quem dá e de quem recebe.

1593 — Quando pedimos a Deus não nos vem rubor às faces.

1594 — Os povos são por vezes traídos por seus delegados como as viúvas, órfãos e ausentes pelos seus procuradores.

1595 — Nunca sofremos grátis: as lições da dor e aflição ilustram quase sempre o nosso entendimento ou melhoram a nossa vontade.

1596 — O instinto moral é a razão em botão, a qual se desenvolve com o tempo, experiência e reflexão.

1597 — O poder é corruptor: os povos quando se tornam soberanos exibem algumas vezes as mesmas paixões, vícios e desvarios dos tiranos.

1598 — Os homens são mais vezes maus por ignorância que por malícia ou malignidade.

1599 — Partilhamos o louvor que damos sendo justo e merecido.

1600 — Quando evitamos as ocasiões, removemos as tentações.

1601 — O homem mais preguiçoso é ordinariamente o mais invejoso.

1602 — A amenidade do semblante anuncia a bondade do coração.

1603 — Ainda que passemos a vida a invejar-nos, nenhum quereria trocar-se por algum dos outros, cada qual tem suas vantagens privativas e especiais.

1604 — Assim como o abstrato supõe o concreto, o moral pressupõe necessariamente o físico e material.

1605 — Não há protetor de mais fácil acesso do que Deus: está presente sempre em todo o tempo e lugar para ouvir as nossas deprecações e rogativas.

1606 — Não interrompemos a quem nos louva mas aos que nos censuram, acusam ou contradizem.

1607 — As pessoas que mais temem a morte são ordinariamente as que produzem mais razões e argumentos para provarem que não deve causar medo.

1608 — Os anarquistas se esvaecem quando acabam as revoluções, como as lagartas perecem com a mudança das estações.

1609 — A filáucia dos moços diverte quando não incomoda os velhos.

1610 — Quatro tribunais nos julgam e nos condenam neste mundo: o da natureza, o das leis, os da própria consciência e de opinião publica; podemos escapar de algum mas não de todos.

1611 — Os modernos progressistas são apoucados na sua doutrina do progresso quando o limitam a esta vida mortal, e a este mundo de argila; deveriam ampliá-lo à duração eterna dos nossos espíritos suscetíveis de uma acumulação progressiva e indefinida de conhecimentos, idéias e noções sem termo nem limites e por toda a eternidade.

1612 — A sólida ciência não consiste em conhecer somente os fatos, os eventos e fenômenos destacados e solitários, mas em saber encadeá-los com os seus antecedentes, e descortinar os princípios e leis da natureza que os determinam e os fazem operar como partes e elementos de uma harmonia universal.

1613 — As menores inteligências especificam, as maiores generalizam.

1614 — O orgulho ora se veste de burel, ora de púrpura ou brocado.

1615 — A impostura e o engano alimentam a muita gente, que não teria emprego e morreria de fome se a verdade surgisse com todo o seu fulgor e dissipasse os erros e ilusões do gênero humano.

1616 — O universo material e moral está de tal maneira impregnado da ação e inspirações da divindade que os eventos que parecem mais fortuitos têm a sua origem latente nas disposições predeterminadas daquela infinita sabedoria e providência que vela incessantemente no bem, na ordem e perpetuidade do sistema universal.

1617 — São muito raros os homens privilegiados a quem circunstâncias especiais elevaram a um grau de saber insólito e extraordinário; eles deveriam ser os diretores dos povos, mas infelizmente estes não os sabem compreender e apreciar, nem eles tolerar os seus caprichos e desatinos.

1618 — É mofina a condição humana ! Morremos quando começávamos a saber viver!

1619 — Nunca falta força a quem sobeja inteligência: a ignorância é sempre fraca e impotente.

1620 — Custa mais trabalho a muitos o tornar-se desgraçados do que a outros o fazer-se afortunados.

1621 — O sábio descobre ordem e harmonia onde o ignorante só avista desordem e confusão: o primeiro contempla o quadro inteiro, o segundo apenas distingue uma pequena parte.

1622 — Há muitos homens que parecem dignos de grandes empregos enquanto os não ocupam.

1623 — Cada uma das idades da vida humana tem suas paixões, inclinações e prazeres peculiares: quando queremos alterar ou inverter esta ordem natural, além de infelizes, nos tornamos ridículos e desprezíveis na opinião dos outros homens.

1624 — Há economias ruinosas, como prodigalidade proveitosas.

1625 — Todo este mundo é um vasto sistema sexual de procriação, propagação, sucessão, reprodução e perpetuidade das raças e espécies de animais e vegetais: o amor é o primeiro galã em todos os dramas que se executam no teatro vastíssimo deste planeta sublunar.

1626 — As honras e títulos ilustram os indignos e são ilustrados pelos beneméritos.

1627 — Vestimos a natureza dos nossos afetos e paixões, ela nos parece bela e aprazível quando estamos contentes, triste e lutuosa se o pesar ou dor nos atormenta.

1628 — Somos todos atores e espectadores no teatro deste mundo, cada um executa diversos papéis no drama da vida humana, e nos damos reciprocamente aplausos ou pateadas nas variadas cenas em que somos representantes.

1629 — A filosofia é tão impotente quanto a religião é poderosa para nos consolar nos males da vida, e determinar-nos a suportá-los com paciência e resignação.

1630 — Sem prévia inteligência não aproveita a experiência.

1631 — Pode-se graduar a civilização de um povo pela atenção, decência e consideração com que as mulheres são educadas, tratadas e protegidas.

1632 — Calculamos sempre mal quando prescindimos das circunstâncias.

1633 — Tudo o que não tem a consciência da sua existência e individualidade não existe para si, mas para aqueles entes que são dotados deste sentimento.

1634 — Não admiramos o que não concebemos, nem compreendemos; a admiração pressupõe algum conhecimento das excelências do objeto admirado.

1635 — São inumeráveis as pessoas felizes sem o saberem, ou que o sabem somente porque lho dizem; isto sucede especialmente a quem tem sofrido pouco em sua vida, ou aos que gozam de muitos bens sem lhes custar trabalhos nem cuidados.

1636 — Sabemos qual foi o nosso princípio, ninguém sabe qual será o seu fim.

1637 — São benfeitores da humanidade e promotores do genuíno progresso os que resumem em breves sentenças as grandes verdades, regras e preceitos da vida humana.

1638 — As opiniões têm como as frutas o seu tempo de madureza em que se tornam doces, de azedas ou adstringentes que dantes eram.

1639 — Crer pouco, descrer muito e duvidar infinito, é a condição quase geral dos homens doutos em todos os tempos.

1640 — Os sábios e os cometas são admirados por excêntricos.

1641 — Há homens tão loucos ou néscios que qualificam de progresso a libertinagem e desmoralização nos povos e pessoas.

1642 — Os povos têm sido incomodados em todos os tempos com certos termos abstratos e princípios gerais que, entendidos segundo as suas paixões e curta inteligência, lhes têm ocasionado graves males e terríveis calamidades.

1643 — A inveja cobiça os bens e aborrece os que os possuem.

1644 — A lisonja, que corrompe os bons, torna piores os maus.

1645 — Observando como as flores estão resumidas em seus botões, e abrindo-se alardeiam a sua expansão e desatam os seus perfumes; admiramos a plenitude daquela sabedoria divina, que, ainda nas menores coisas, é sempre infinitamente variada e maravilhosamente assombrosa.

1646 — Somos propensos na mocidade a exagerar pela imaginação os bens que esperamos, e na velhice os males que receamos.

1647 — A amizade de alguns homens é mais funesta e danosa do que o seu ódio ou aversão.

1648 — A benção dos pais é ventura e cabedal para os bons filhos.

1649 — Com Deus tudo podemos, sem Deus nada valemos.

1650 — Poupai o tempo mais que tudo, o que passou não torna mais.

1651 — Os velhacos talentosos são sempre os mais perigosos.

1652 — A prudência em demasia se transforma em tirania.

1653 — A historia é nada para os povos, a experiência tudo.

1654 — A intemperança nos arruina, e depois nos entrega á medicina.

1655 — A felicidade consiste em não sofrer: quando não sofremos, gozamos necessariamente.

1656 — Como nos amamos sobretudo, também tememos a morte mais que tudo.

1657 — A virtude nunca se maldiz, o vício e o crime, freqüentemente.

1658 — Os escritores anônimos são como os mascarados, audazes por desconhecidos.

1659 — A liberdade sem religião se converte em libertinagem e devassidão.

1660 — Vivemos em Deus, com Deus, por Deus e para Deus.

1661 — Os anarquistas mais violentos ou velhacos são nas revoluções os grandes homens dos povos e os seus heróis mais afamados.

1662 — É um erro constante nas pessoas de maior inteligência supor nos homens mais juízo, saber e probidade do que eles realmente possuem.

1663 — É fácil enganar os homens que não são capazes de enganar a pessoa alguma.

1664 — Nada está mais próximo a nós, nem mais remoto da nossa compreensão do que Deus.

1665 — A imaginação exagera de tal modo os nossos bens ou males futuros que nos admiramos, quando chegam, de não corresponderem às nossas esperanças ou receios.

1666 — O nosso espírito não se retira inteiramente deste mundo, quando deixamos nele o fruto dos nosso estudos, pensamentos e cogitações.

1667 — As mulheres enfeitam as cabeças por fora, os homens devem ornar e guarnecer as suas por dentro.

1668 — Se pudéssemos convencer os homens desta grande verdade, que os bons ou maus pensamentos, palavras e obras têm o seu prêmio ou castigo correspondente na ordem física e moral deste mundo, muitos bens resultariam para a felicidade individual e social de tão salutar convicção; a virtude seria amada e observada como um meio seguro e infalível de ser feliz, o vicio e o crime detestados pelos seus efeitos terríveis de pena, dor, miséria e desgraça.

1669 — Os mundos se movem no oceano imenso do éter como as baleias navegam nos vastos mares da terra.

1670 — A barateza dos governos, como a dos artigos de mercancia, inculca a sua inferior qualidade ou avaria.

1671 — Este mundo é a verdadeira fênix que renasce das suas cinzas e se renova pela morte.

1672 — O céu não se retrata em água turva, nem o espírito agitado alcança grandes verdades.

1673 — Os ingratos se esquecem dos benefícios, mas Deus se lembra dos benfeitores.

1674 — Surgimos de uma eternidade para entrarmos em outra: a vida humana é uma ponte entre duas eternidades.

1675 — Quando o pobre não respeita a riqueza, nem o ignorante a ciência, nem o súdito a autoridade, está perdida a sociedade.

1676 — A vida, como a flor, é mais bela dobrada que singela.

1677 — Os soberbos não louvam, os humildes não censuram.

1678 — A paciência é virtude em poucos e fraqueza em muitos.

1679 — Os moços podem diferir e disputar, os velhos devem conferir e concordar.

1680 — Quando todos são culpados, todos se acusam ou se escusam.

1681 — Contra as leis da óptica, os grandes homens parecem muito maiores de longe do que de perto.

1682 — Nada mais prezamos quando chegamos a desprezar-nos.

1683 — A ordem pública padece quando se abrem os clubes, e se fecham as igrejas.

1684 — O poeta figura o abstrato, o filósofo abstrai o concreto.

1685 — Na idade madura mais vezes dissimulamos do que estranhamos.

1686 — A guerra civil pode ser considerada como um suicídio nacional.

1687 — A anarquia é o estado em que todos tiranizam, e nenhum governa.

1688 — Homens há que só brilham entre os néscios, como os pirilampos nas trevas.

1689 — Os homens que não se vingam são sempre os mais bem vingados.

1690 — É planta frágil e sem duração a virtude, que não tem a sua raiz na religião.

1691 — A virtude consiste especialmente na resistência a nós mesmos.

1692 — Têm sido muitos os loucos reputados grandes homens.

1693 — A beleza é uma harmonia, qualquer que seja o seu objeto.

1694 — Os conselheiros dos Príncipes devem ter ciência, prudência e consciência.

1695 — A temperança na fruição lhe prolonga a duração.

1696 — Na velhice com menos vista avistamos mais velhacos do que na mocidade.

1697 — A saúde é uma como a verdade, as moléstias como os erros são inumeráveis.

1698 — Nas revoluções as subidas são tão aceleradas como as descidas precipitadas.

1699 — Ser cultor da virtude é ter aliança com Deus.

1700 — Os comprimentos desta vida se reduzem ordinariamente a parabéns e pêsames, boas vindas e despedidas.

1701 — A ventura dos maus tem o brilho e duração do relâmpago, que precede e anuncia o raio.

1702 — Uns homens são bons porque têm juízo, outros deixam de ser maus por terem medo.

1703 — Os queixosos da vida são amantes arrufados.

1704 — A loucura nos velhos é mais disparatada que nos moços.

1705 — A unidade se destrói quando as frações se consideram inteiras.

1706 — A imaginação é o recreio dos moços, como a reflexão a consolação dos velhos.

1707 — Os intrigantes persuadem-se que a intriga inculca talentos e capacidade; a experiência os desmente: anuncia ignorância e improbidade.

1708 — Não há castigo verdadeiramente justo entre os homens, sendo impossível calcular perfeitamente a sensibilidade e inteligência dos delinqüentes e ofendidos.

1709 — Desculpamos os malvados quando os qualificamos de loucos.

1710 — Quando o amor nos visita, a amizade se despede.

1711 — Homens há como as serpentes que envenenam aqueles a quem mordem.

1712 — As nossas cabeças amadurecem quando encanecem.

1713 — A inocência é transparente, a malícia, opaca e tenebrosa.

1714 — A resistência enfraquece, a resignação fortalece.

1715 — Para os velhacos a palavra não é meio de manifestar os seus pensamentos, mas de os encobrir e disfarçar.

1716 — Avistamos a Deus em toda a parte, mas não o compreendemos em nenhuma.

1717 — Lemos no presente, soletramos no futuro.

1718 — Um trono bem constituído e ocupado é a melhor árvore que se conhece para dar abrigo e sombra aos povos e nações.

1719 — Nunca falta matéria para o nosso estudo: achamos em nós mesmos um mundo inteiro para explorar e ocupar-nos.

1720 — A beleza é uma letra que se vence à vista, a sabedoria tem o seu vencimento a prazos.

1721 — Os andaimes nas revoluções compõem-se da pior gente, como nos edifícios da pior madeira.

1722 — Não disputeis com loucos, ébrios e néscios; a vitória não dá gloria, e a derrota é vergonhosa.

1723 — Sede benfeitores ainda com o risco de fazer ingratos: a genuína beneficência escusa e dispensa a gratidão.

1724 — O sábio deve calar-se para não ser maltratado, o ignorante para não ser desprezado.

1725 — Vivemos em tantas vidas e pessoas que nos sentimos despedaçar quando perece alguma delas.

1726 — Para bom regime dos povos, os moços devem ser a força dos velhos e estes o conselho dos moços.

1727 — A vida humana é o prólogo de um drama misterioso que temos de executar por toda a eternidade.

1728 — O futuro dá muito que entender aos velhos, e o presente ocupa inteiramente os moços.

1729 — Os Reis devem aparecer aos povos como o sol no horizonte, com toda a pompa e gala de sua luz e cores, dourando e branqueando as mesmas nuvens e vapores que procuram eclipsá-lo.

1730 — Congratulemo-nos de saber que ignoramos infinito; teremos de aprender e admirar eternamente.

1731 — Nos velhos, a ambição de poder e dominação é comparavelmente mais atroz e violenta que nos moços: estes podem esperar, aqueles não querem perder tempo.

1732 — Talvez desprezássemos a glória póstuma se não tivéssemos algumas esperanças de a lograrmos.

1733 — O que mais incomoda e atormenta a espécie humana é querer que os homens e as coisas sejam o que não podem ser, ou deixem de ser o que são por sua essência e natureza.

1735 — Somos incomparavelmente mais felizes do que pensamos: tal seria o nosso juízo se refletíssemos profundamente na grande soma de bens de que gozamos, e na dos males que não sofremos.

1735 — Todos navegamos no arquipélago da vida humana, mas poucos têm em lembrança o porto do seu destino.

1736 — O louvor promove o trabalho do corpo e do espírito; é um cordial que alenta e vigora as forças e faculdades de ambos.

1737 — Os maus sofrem uma reação necessária dos ofendidos, e da sociedade que se ressente corporal e moralmente das lesões e ofensas dos seus membros.

1738 — A medida do nosso saber é o maior ou menor conhecimento que temos da nossa própria ignorância.

1739 — A aliança da razão com o coração é necessária e indispensável na peleja e resistência contra as paixões.

1740 — Os homens de bem perdem e empobrecem nos mesmos empregos em que os velhacos ganham e se enriquecem.

1741 — Fazei por merecer os altos empregos, honras e dignidades: elas virão buscar-vos, ou sabereis escusá-las.

1742 — Os homens seriam menos vingativos se não receassem, perdoando as ofensas, provocar a sua repetição.

1743 — A soberba exige louvores, a vileza lhos tributa.

1744 — Deleita tanto ao benfeitor a presença do beneficiado, quanto a este desagrada a do primeiro: um faz lembrar a boa ação, o outro recordar a obrigação.

1745 — Para os sábios é providência divina o que os néscios apelidam fado, sorte, fortuna, acaso e destino.

1746 — A anarquia em alguns países é constitucional, tem a sua origem e fundamento nas próprias constituições.

1747 — O tempo não passa para os que trabalham, eles o condensam e incorporam nos produtos da sua indústria.

1748 — A prudência ou fraqueza dos bons é a causa mais ordinária da vitória e triunfo dos maus.

1749 — As grandes inteligências tendem sempre á unidade, as pequenas à pluralidade.

1750 — Não queremos pensar na morte, e por isso nos ocupamos tanto da vida.

1751 — Desagradar por bem querer e pensar é algumas vezes a sorte dos mais honrados súditos e defensores da Monarquia.

1752 — Desapaixonados damos bons conselhos, apaixonados, os olvidamos.

1753 — As mortalhas das lagartas vestem os homens de gala.

1754 — A probidade abstém-se de fazer mal, a virtude pratica o bem.

1755 — As mulheres são melhor dirigidas pelo coração do que os homens pela sua razão.

1756 — Os homens pensam mais, as mulheres sentem melhor.

1757 — O prazer é para o néscio como o fogo para a mariposa: com tanta imprudência o procura que se queima e morre.

1758 — Quando cresce o nosso saber na razão aritmética, o conhecimento da nossa ignorância aumenta na razão geométrica.

1759 — Tudo é grande nos grandes homens: vícios, paixões e virtudes.

1760 — O patriotismo é estéril se o amor da glória o não exalta.

1761 — Debalde envelhecemos, os nossos desejos remoçam sempre.

1762 — Perdemo-nos no abstrato quando nos alongamos do concreto.

1763 — O silêncio dos prudentes é freqüentes vezes sinal de reprovação.

1764 — Argumentação sem proveito é trovoada que não dá chuva.

1765 — Somos como a mosca da fábula no eixo do coche: pensamos que damos e dirigimos o movimento da fábrica dos eventos políticos, quando rodamos ordinariamente passivos na torrente de suas vicissitudes e revoluções.

1766 — No teatro deste mundo todos os atores e bailes são mascarados.

1767 — Não nos esqueçamos um só dia de Deus: autor da memória não se esquece um só instante de nós.

1768 Na viagem da vida humana são raras as grandes tempestades, mas freqüentes os aguaceiros.

1769 — Vivemos com loucos e entre loucos: é feliz ou muito hábil quem pode tratar com eles sem os ofender nem ser ofendido.

1770 — Povo sem lealdade não alcança estabilidade.

1771 — Quando alcançamos conceber a idéia de um ser ou unidade infinita e misteriosa, compreendendo e animando toda a imensidade, temos chegado à síntese mais sublime a que pode elevar-se o entendimento humano.

1772 — O sábio se compraz em dizer que ignora: o néscio com dificuldade e repugnância o reconhece.

1773 — Velho que não tem juízo nunca o teve.

1774 — Os tolos admiram os loucos e obedecem aos velhacos.

1775 — É ventura para os bons serem ignorados ou esquecidos pelos maus.

1776 — Os homens honrados e leais envergonham — se da sem-vergonha dos traidores e velhacos.

1777 — Homem que diz mal de tudo e de todos para nada presta.

1778 — A razão é a luz do mundo moral e intelectual.

1779 — A vingança deleita projetada, e atormenta executada.

1780 — A religião ensina a crer, a filosofia, a duvidar.

1781 — Os homens mais obsequiosos em palavras são ordinariamente os menos oficiosos em serviços.

1782 — As nações são corpos concretos que não se governam com abstrações.

1783 — A morte é uma credora inexorável, que não concede espera nem moratória aos seus devedores.

1784 — Os que prometem fazer felizes os povos são ordinariamente os que pretendem sê-lo à custa deles.

1785 — Três coisas se não recuperam depois de perdidas: vergonha, lealdade e virgindade.

1786 — No jogo da vida humana os homens baralham as cartas, mas é Deus que as distribui.

1787 — Quando se quebram os cetros, os cajados também se rompem.

1788 — A morte, que fecha as portas da vida, abre os portões da eternidade.

1789 — A morte e as trevas igualam e confundem tudo.

1790 — O caráter da traição é indelével: quem foi traidor uma vez é traidor por toda a vida.

1791 — Há países em que os homens são avaliados como os papagaios; os que falam mais têm maior preço e estimação.

1792 — Os melhoramentos materiais não precedem, acompanham os morais e intelectuais: a inteligência dispõe e coordena a matéria.

1793 — O infinito nos assombra, a imensidade nos circunda e a Eternidade nos espera!

1794 — Confiai na mudança em tudo, desconfiai da permanência em coisa alguma.

1795 — É dado somente ao divino geômetra medir e compreender a imensidade.

1796 — As nações não se amam, quando muito se respeitam.

1797 — Antes de prometer e dar devemos deliberar.

1798 — Podemos subtrair-nos às vistas dos homens, mas não aos olhos de Deus; mais numerosos do que estrelas têm os céus e flores a terra.

1799 — Muitos se consideram com mais valia do que têm: outros ao contrário desconhecem quanto valem.

1800 — Há tolos malignos que fazem mais dano e males que os velhacos consumados.

1801 — As revoluções detonam segundo a resistência que encontram.

1802 — Quanto menos nos conhecemos, mais nos prezamos e admiramos.

1803 — O perdão dos malfeitores desalenta os benfeitores.

1804 — Subi devagar, chegareis ao alto sem cansar.

1805 — Os maus procuram alcançar por assalto e violência os bens que os bons esperam conseguir pelo trabalho, inteligência e virtudes.

1806 — Observa-se que os presumidos liberais são ordinariamente os que menos têm que dar e liberalizar.

1807 — A ambição do poder e honras contrariada na mocidade prorrompe mais atroz e violenta na velhice.

1808 — A nação é sempre leal ao Príncipe justo e liberal.

1809 — Encurtamos a vida, afadigando-nos muito mais do que convém para mantê-la.

1810 — As leis se complicam quando se multiplicam.

1811 — São os bravos que devem governar os loucos.

1812 — Os maus contra a sua intenção trabalham freqüentes vezes em proveito e beneficio dos bons.

1813 — Navegamos em um arquipélago de erros e ilusões, uma providência misteriosa nos guia para que não naufraguemos a cada instante.

1814 — Sem a loucura variada dos homens não haveria novidade ou variedade notável nos eventos morais e políticos deste mundo.

1815 — O pobre preguiçoso murmura do rico laborioso.

1816 — O problema da vida, a morte resolve em pó.

1817 — Sonhamos dormindo, deliramos acordados.

1818 — A magnificência encurta a beneficência.

1819 — Os charlatães e pedantes não perdoam o desprezo que merecem.

1820 — A pobreza orgulhosa explica o cinismo de muita gente.

1821 — As loucuras dos velhos justificam as travessuras dos moços.

1822 — Há fanfarrões de ciência como os há de valor e nobreza.

1823 — Os velhacos nada receiam tanto como parecerem transparentes: a opacidade lhes convém mais que tudo e sobre tudo.

1824 — Frio, pobreza e velhice encolhem e apoquentam os homens.

1825 — Podem os bons não alcançar louvores, mas nunca faltam queixas contra os maus.

1826 — Os néscios poderosos armam os seus inimigos e desarmam os seus amigos.

1827 — Há desenganos tardios que chegam já sem proveito e para nosso maior tormento.

1828 — A força é a razão suficiente dos tigres e dos malvados.

1829 — A inteligência revela-se na extensão e pela extensão.

1830 — Os que não sabem ser felizes governados, menos o podem ser governando.

1831 — A decantada civilização tem multiplicado de tal modo as nossas necessidades e desejos que para os contentar e satisfazer somos forçados, piorando de costumes, a sujeitar-nos a maiores trabalhos e cuidados.

1832 — Conhecem-se os homens pelas suas ações, e os governos pela escolha dos seus empregados.

1833 — Se não podemos somar a indefinidade, nem medir a imensidade, nem sondar a eternidade, como poderemos compreender a Deus eterno, imenso e infinito?

1834 — Os moços devem ser julgados com indulgência e eqüidade, os velhos com rigor e severidade.

1835 — Tudo fala na natureza para quem tem ouvidos: não há movimento, ação, atrito ou resistência sem algum sonido.

1836 — É prova do pouco juízo em um velho interessar-se demasiadamente nos negócios deste mundo, de que a morte lhe anuncia a retirada.

1837 — Os ignorantes se dariam parabéns da sua ignorância se pudessem descobrir o turbilhão de dúvidas, questões, arcanos e mistérios que torturam e agitam as cabeças dos homens doutos e sábios deste mundo.

1838 — Adular os tolos é um meio ordinário de os desfrutar; os velhacos o empregam eficazmente.

1839 — Os homens são bons por natureza, nem podiam deixar de sê-lo, sendo destinados pelo Criador a viverem em sociedade, a qual só pode subsistir por amores e virtudes.

1840 — A mentira infelizmente é mais social do que a verdade: a civilidade a enobrece e recomenda.

1841 — Falai bem dos vossos inimigos, eles serão forçados para não desmentir-vos a abonar o vosso testemunho.

1842 — Querendo imaginar um mundo sem males, somos forçados a suprimir também os bens, fazendo os seus habitantes insensíveis para os tornar impassíveis.

1843 — Tudo é infinito em Deus, e a sua natureza mais que tudo infinitamente misteriosa.

1844 — Os homens suprem com fábulas as verdades que não podem alcançar.

1845 — Evitamos os contrastes que nos são desfavoráveis; a feia não acompanha a formosa, nem o ignorante ao homem sábio.

1846 — Observa-se nos grandes faladores boa memória, pouco saber e muita filáucia ou proterva.

1847 — Os animais também gozam, mas não admiram; o homem inteligente goza admirando, e a sua fruição requinta pela ciência e reflexão.

1848 — A crença universal e instintiva do gênero humano em uma vida futura é argumento irrefragável de sua existência e realidade.

1849 — O calor nos debates e disputas provém mais do amor-próprio ofendido que do interesse prejudicado.

1850 — Quem busca a ciência fora da natureza não faz provisão senão de erros.

1851 — Os homens insofridos são os vingadores dos pacientes.

1852 — No teatro deste mundo, sendo atores enquanto moços, devemos ser espectadores depois de velhos.

1853 — É dos anarquistas que se pode dizer com mais propriedade que procuram dividir para reinarem ou governarem.

1854 — Para não desagradarmos nas companhias devemos freqüentes vezes figurar de cegos, surdos, mudos, tolos, néscios, ou idiotas.

1855 — Não podemos separar-nos nem perder-nos de Deus: existimos e vivemos na sua imensidade.

1856 — Não cativemos o coração nem a razão; para a nossa felicidade devemos sentir e pensar com liberdade.

1857 — O patriotismo mal entendido é egoísmo ou idiotismo.

1858 — A civilização moderna tem reduzido o número dos tolos, mas aumentado proporcionalmente o dos velhacos.

1859 — Há numerosos oradores com melhores pulmões do que miolos.

1860-A vida ocupa os que vivem, a morte desocupa os que morrem.

1861 — O juízo é simples e uniforme, a loucura variada e multiforme.

1862 — Quando Deus quer, o fel se converte em mel.

1863 — O rei que entesoura ajunta milhões, mas não ganha corações.

1864 — A inteligência, que procura a Deus, o descobre em cada criatura e o admira em si própria.

1865 — O entusiasmo dos povos tem como o fogo de palha muito fulgor, mas pouca duração.

1866 — Procurais um patrono? tende-lo presente: é Deus, que com dar muito não empobrece, e com durar séculos e milênios não morre: a sua bondade é infinita e a sua liberalidade inexaurível.

1867 — O amor produz mais heroísmo nas mulheres que a ambição nos homens.

1868 — O maior tesouro da vida é a esperança e confiança em Deus.

1869 — Todos somos mais ou menos usurários; damos para recebermos com grande acréscimo e vantagem, neste ou no outro mundo.

1870 — Há homens tão mal reputados que desacreditam aos que elogiam, e honram aos que vituperam.

1871 — Cada homem zelando especialmente o seu interesse pessoal trabalha sem o pensar para o bem geral de todos.

1872 — O homem rico deve considerar-se esmoler e dispensário da providência divina para com os pobres e miseráveis deste mundo.

1873 — A ignorância é audaz, não sabe avaliar o quanto arrisca.

1874 — A ambição tortura e tritura os homens.

1875 — Ousar — em inumeráveis casos é alcançar.

1876 — Os pequenos ambiciosos fracionam e trincham os estados para haverem o seu quinhão; os grandes cobiçam-nos inteiros; os primeiros são anarquistas e federalistas; os segundos, conquista dores.

1877 — No grande mercado deste mundo os erros se vendem por verdades, e os vícios se inculcam por virtudes.

1878 — Os homens costumados a mandar e ser obedecidos, tornam-se depois impacientes e furiosos quando são contrariados.

1879 — Sobe-se igualmente ao trono como ao patíbulo: dá-se em ambos ascensão e exaltação.

1880 — Na virtude é necessário perseverar para vencer e triunfar.

1881 — Ordem maravilhosa com aparências de desordem: eis a solução completa do grande enigma deste mundo.

1882 — A lealdade refresca a consciência, a traição atormenta o coração.

1883 — O instinto nos animais é uma inteligência sem progresso.

1884 — Há muita gente má por conta dos outros, e não por sua própria.

1885 — Deus, porque compreende tudo, é incompreensível a todos.

1886 — A vida do sábio é uma perene oração e correspondência com Deus.

1887 — Não há sabedoria, mas pode haver ciência sem juízo.

1888 — A austeridade dos cínicos é ambição da autoridade.

1889 — Os louvores extorquidos são brevemente desmentidos.

1890 — Nas cortes, como na natureza, os reptis e lagartas se transformam em voláteis e borboletas.

1891 — Povo sem juízo, lealdade e religião vive sempre em revolução.

1892 — Quem se não receia da liberdade não a merece.

1893 — O possível para Deus não tem limites: a sua medida é o Infinito.

1894 — Os benefícios que recebemos de Deus a cada instante no exercício da vida são tantos que não podemos distingui-los nem enumerá-los.

1895 — Não devemos avaliar a nossa felicidade somente pelos bens que gozamos, mas também pelos males que não sofremos.

1896 — Nunca recorremos a Deus em vão: a sua proteção é misteriosa, mas eficaz e indefectível.

1897 — A bênção dos velhos felicita os moços que a sabem merecer e respeitar.

1898 — Os velhacos ambiciosos se associam com toda a casta de gente, até com os seus próprios inimigos, se nisso esperam vantagem.

1899 — Bem-querer e bem-fazer importa muito para bem viver.

1900 — Há também nas democracias um trono: a anarquia o ocupa freqüentes vezes.

1901 — A anarquia começa a dominar quando todos pretendem governar.

1902 — A desconfiança é a sentinela da segurança.

1903 — Nunca os sábios se acham mais ocupados como quando parecem mais distraídos e sedentários.

1904 — A exatidão e verdade acompanham a probidade.

1905 — Os escritos juvenis têm ordinariamente o sabor e adstringência dos frutos verdes.

1906 — A virtude, se encurta a liberdade, alonga a felicidade.

1907 — Sempre amanhece tarde para o homem diligente, e muito cedo para o negligente.

1908 — A reputação do velhaco esteriliza a profissão.

1909 — Querendo dar-nos muita importância, perdemos ordinariamente a pouca de que gozávamos.

1910 — Pouco valem os preceitos e conselhos da sabedoria sem as lições incisivas e penosas da experiência.

1911 — Os homens parecem extravagantes por loucos ou muito sábios.

1912 — No laboratório da natureza a vida organiza, a morte pulveriza.

1913 — Ninguém diz tanto mal de nós como a própria consciência.

1914 — A consciência para muita gente é uma velha rabugenta, que de tudo ralha e de nada se contenta.

1915 — Os que sabem avaliar as faculdades dos benfeitores pedem muito ou tudo a Deus, e pouco ou nada aos homens.

1916 — Os povos devem ser governados como quantidades concretas e não entidades abstratas.

1917 — Interessemo-nos pouco, sofreremos menos.

1918 — Somos tão maus calculistas que raras vezes conseguimos o que esperamos ou desejamos.

1919 — A virtude não teme, o crime estremece a cada instante.

1920 — A previsão do futuro nos faria talvez infelizes no presente.

1921 — A natureza é muda para os néscios, como os livros para aqueles que não sabem lê-los.

1922 — Beneficiai o vilão, conhecereis a ingratidão.

1923 — A importância que ambicionamos na mocidade nos é incomoda e onerosa na velhice.

1924 — Os ingratos e traidores são também maus pagadores.

1925 — O finito e mortal pode só nascer e existir no eterno e infinito.

1926, — A morte para os velhos quanto mais tarda mais se aproxima.

1927 — O velho que não tem prudência não se aproveitou da experiência.

1928 — A fecundidade em palavras anuncia esterilidade em obras.

1929 — Os bons podem não ter amigos, aos maus nunca lhes faltam inimigos.

1930 — A conquista das vontades e corações assegura a posse das pessoas e seus serviços.

1931 — O homem silencioso infunde respeito em uns, suspeita e desconfiança em outros.

1932 — O nosso pensamento se diviniza quando pensamos na divindade.

1933 — São as plantas humildes as que produzem mais belas flores.

1934 — O castigo dos maus não prescreve: demora-se algumas vezes, para tornar-se mais grave e tormentoso.

1935 — A beneficência perfeita alcança e compreende também os mesmos animais.

1936 — O engano geral dos homens que mais contribui para os seus males consiste em tomarem os meios por fins, e os erros por verdades.

1937 — Quando os loucos e velhacos crescem em número extraordinário, envolvem e levam no seu turbilhão os homens de maior saber e juízo, e os forçam a aprovar e aplaudir os seus desvarios e disparates.

1938 — Os loucos iludem e desorientam os prudentes: estes não podem prever, calcular nem prevenir os erros, contradições e disparates da loucura.

1939 — Governar povos deve parecer negócio de muito fácil execução: não há charlatão, pedante, louco, tolo ou néscio que não se creia habilitado para tão importante ministério.

1940 — Congratulemo-nos de ser aborrecidos pelos maus: o seu ódio nos extrema e discrimina deles.

1941 — Um profundo conhecimento dos homens nos torna misteriosos, reservados ou insociáveis.

1942 — Os grandes homens avistam e descobrem ao longe a sua gloria póstuma: esta previsão os consola da inveja, indiferença, desprezo ou perseguição dos seus concidadãos e contemporâneos.

1943 — Para não ofendermos em nossos escritos a opinião publica dos contemporâneos, expomo-nos a figurar de tolos e ignorantes na posteridade.

1944 — Os homens parecem exigir que vivamos sempre para eles: todavia, na velhice, é justo que vivamos especialmente para nós.

1945 — Este mundo tem duas faces, uma grave, outra burlesca: cada qual o comenta e define conforme se lhe representa.

1946 — A riqueza é um grande bem que nos habilita para darmos e não pedirmos.

1947 — Como o sol doura as nuvens que o eclipsam, o homem virtuoso favorece os mesmos que o maltratam.

1948 — Pequenos, mas freqüentes obséquios nos granjeiam mais amigos que grandes, porém raros benefícios.

1949 — Os homens projetam muito e executam pouco: têm mais imaginação e inteligência do que poder.

1950 — Os anarquistas adulam os povos, como os cavaleiros afagam os cavalos para os montarem sem resistência.

1951 — Máximas há que, sendo tais para uns, para outros são sentenças em que se julgam compreendidos e condenados.

1952 — A sabedoria confere aos seus cultores uma fruição latente e misteriosa que os homens vulgares não podem conceber nem compreender.

1953 — Em política o futuro é mais tenebroso do que em moral.

1954 — Os povos morgados da natureza são como os das famílias: ordinariamente tolos, ignorantes o vaidosos.

1955 — A felicidade humana será sempre frágil e fugaz enquanto não tiver a sua origem e funda mento no amor e temor de Deus.

1956 — As máximas, conselhos e preceitos pouco aproveitam aos povos; graves males padecidos são os seus melhores preceptores.

1957 — O falso merecimento tem um brilho fosfórico e transiente, o verdadeiro, um fulgor solar e permanente.

1958 — Se a ignorância é feliz em não conhecer a gravidade dos seus males, por outra parte não os sabe prevenir, remover ou remediar.

1959 — São numerosas as pessoas que empobrecem por quererem figurar de muito ricas.

1960 — Na sociedade os interesses e opiniões individuais encontram-se, pelejam, capitulam e se harmonizam.

1961 — A liberdade sobeja sempre nos homens; o que lhes falta é juízo.

1962 — Os fracos reclamam tolerância, os fortes a recusam.

1963 — E mais fácil inculcar boas doutrinas que instruir com bons exemplos.

1964 — A simplicidade afetada é refinada velhacaria.

1965 — O tempo nada produz, mas tudo se forma no tempo e com o tempo.

1965 — Aquele que mais pensa e reflete, goza e sofre mais que os outros.

1967 — Há grandes bens que, para serem duráveis, devem ser precedidos de graves males.

1968 — Quando os homens se desigualam, então se harmonizam.

1969 — A natureza não sabe copiar; quanto gera e produz é tudo original.

1970 — Quem arma os seus inimigos, a si próprio se desarma.

1971 — Ainda que nos faltam meios, sempre nos sobejam desejos.

1972 — Deve supor-se má toda a ação que não queremos que chegue à noticia e conhecimento dos outros homens.

1973 — Em Deus precedeu a concepção ideal à execução objetiva do universo, e suas partes: os homens não podem elevar-se ao ideal senão pelo concreto e material desta fábrica assombrosa.

1974 — Os nossos desejos e esperanças murcham e caem geralmente como as flores, sem vingarem frutos.

1975 — As máximas são como os números, que compreendem grandes valores em bem poucos algarismos.

1976 — Anarquizar para governar é o programa da gente louca e ambiciosa em todos os tempos.

1977 — A franqueza tão reclamada, quando efetiva, desagrada.

1978 — Fazei falar o povo, os sábios se calarão.

1979 — A reforma dos costumes nos povos depravados deve começar pela dos seus preceptores, doutores e literatos; são estes os que ordinariamente os têm corrompido com suas doutrinas e maus exemplos.

1980 — Tendo a Deus por nós, quem poderá contra nós! o Autor da inteligência e da força é o nosso maior e melhor aliado.

1981 — Devemos na mocidade fazer provisão para a velhice de idéias, verdades, desenganos e bens da fortuna.

1982 — Acompanhai a virtude, e chegareis à felicidade.

1983 — Vale mais ser invejado que lastimado.

1984 — Quem não tem medo, vive sem resguardo e acaba cedo.

1985 — Nunca falta um cão que nos ladre, nem um zoilo que abocanhe os nossos escritos e nos acuse de plagiários.

1986 — A ciência médica ensina a curar os doentes, a arte da guerra a matar os sãos.

1987 — Tratai bem ao vilão, ele vos maltrata: tratai-o mal, então vos acata.

1988 — É mais tolerável um moço imprudente que um velho impertinente.

1989 — A glória humana bem ponderada nunca vale quanto custa.

1990 — A retribuição ordinária dos povos pelos maiores benefícios recebidos é a ingratidão.

1991 — A nossa cabeça é a oficina da cogitação, como o nosso estômago o laboratório da nutrição.

1992 — Generalizar e abstrair é simplificar e espiritualizar.

1993 — A ingratidão descobre o vilão.

1994 — As cores podem harmonizar-se, mas nunca identificar-se.

1995 — A fortuna por inconstante esperança tanto o desgraçado como intimida o afortunado.

1996 — As esmolas não desfalcam a riqueza, antes a promovem e santificam.

1997 — Bem merecem o sono da noite os que aproveitam utilmente as horas do dia.

1998 — Tudo na natureza desmente o ateu, até a sua própria existência e argumentação.

1999 — Se pudéssemos chegar a um certo grau de ciência e sabedoria, nos tornaríamos impassíveis e impecáveis.

2000 — As velhas não têm amantes, os velhos não têm amigos: recorrem todos aos céus porque a terra os desampara.

2001 — A velhice é talvez menos penosa pelos males que sofremos do que por aqueles que receamos.

2002 — Não confieis os vossos interesses de um tolo, aventurai-os antes de um velhaco.

2003 — Os velhacos não desenganam os tolos para não perderem o seu patrimônio.

2004 — O sábio desabafa escrevendo, o néscio, maldizendo.

2005 — Quem não é grato, menos será pagador exato.

2006 — São dois grandes preservativos de males, a vergonha na mocidade e a prudência na velhice.

2007 — A bondade é inseparável da sabedoria: podemos ser bons sem ser sábios, mas ninguém é sábio que não seja bom.

2008 — Uns vícios excluem outros, como umas paixões deslocam outras.

2009 — A nossa existência neste mundo não é fortuita, mas pré-ordenada pela infinita sabedoria de Deus, para nossa felicidade e exercício perpétuo de sua eterna beneficência.

2010 — O negócio dos velhacos é de segredo; conhecido, está perdido.

2011 — A realidade nunca dá quanto a imaginação promete.

2012 — Sabemos melhor queixar-nos que agradecer.

2013 — Homens há que valem muito mais que a sua reputação; o seu silêncio, retiro, modéstia e reserva não deixam distinguir toda a extensão do seu merecimento, saber e virtudes.

2014 — Não devemos gozar para sofrer, mas sofrer para melhor gozar.

2015 — Não devemos proferir palavras nem fazer ação alguma de que nos envergonhemos ou possamos arrepender-nos: o prazer efêmero de semelhantes ditos e atos não compensa os desgostos que depois sentimos, e as exprobrações amargas da consciência que só condena.

2016 — Os malvados são também inclusivamente loucos.

2017 — Qualificamos de desengano o que freqüentes vezes não é mais que um novo engano.

2018 — Não conhecemos o mundo externo como ele é em si, mas como o sentimos formulado pelos nossos sentidos, e pelas leis da nossa percepção e inteligência.

2019 — O amor de Deus difere muito do profano; este nos enerva e consome; aquele conforta, esperança, e nos confere uma força, confiança e vitalidade sobrenatural, misteriosa e incompreensível.

2020 — O teatro deste mundo é o de maior variedade possível: dramas, cenário, atores e espectadores, tudo varia e se sucede com tanta rapidez e novidade que para uns é objeto de terror e espanto, e para outros, de estudo e admiração.

2021 — É bom consultar a opinião publica, não é seguro confiar nela.

2022 — A soberba não perdoa, a humildade não se vinga.

2023 — Os velhacos açulam os loucos, os tolos aplaudem a todos.

2024 — Os que mais ambicionam os altos empregos são ordinariamente os que menos os merecem.

2025 — Dão-nos mais sujeição os amigos novos do que os velhos.

2026 — A paixão calcula quase sempre mal, a razão, poucas vezes bem.

2027 — É duvidoso se sofremos mais pela própria ignorância ou pela dos outros homens.

2028 — O pranto na ventura é como a chuva no verão, raiando o sol.

2029 — Trabalhando para a nossa glória póstuma a antecipamos de algum modo, e nos deliciamos em tão aprazível esperança.

2030 — A ciência em um velho aloucado agrava a sua insânia e multiplica os seus desvarios.

2031 — A misantropia limita-se aos homens, não compreende as mulheres.

2032 — A vergonha cora as faces, o medo as desbota.

2033 — Os dois sexos não são antagonistas: um é o complemento do outro.

2034 — A avareza promove a temperança e aconselha a dieta.

2035 — Tudo pode o nosso amor-próprio perdoar aos velhacos, menos a filáucia de se reputarem impenetráveis e incompreensíveis.

2036 — Ocorrem lances de dor e aflição na vida em que nos reconhecemos com mais força e resolução para suportá-los, do que havíamos imaginado antes da sua invasão.

2037 — O mundo é lugar desmesurado para o nosso corpo, porém muito diminuto para o nosso espírito; este viajor infatigável se abstrai e passeia freqüentes vezes na imensidade do espaço.

2038 — Os que blasonam de não ceder nem vergar são como as estátuas de pedra ou bronze, que, por materiais e inanimadas, não se curvam nem se dobram.

2039 — A prova da excelência de um bom livro é algumas vezes a escassez dos louvores conferidos ao seu autor.

2040 — A melhor filosofia é aquela que ensina, como a religião, a amar a Deus sobretudo e aos homens, como a nós mesmos.

2041 — A velhice é sempre respeitável; anuncia uma longa e vitoriosa campanha da vida contra os males inumeráveis que a destroem.

2042 — Vivemos simultaneamente em dois mundos, um real, outro fantástico ou ideal: este nos ocupa mais do que o primeiro, e ocasiona como por encanto muitos dos mais notáveis acontecimentos que observamos.

2043 — Os grandes homens não sabem dissimular as suas opiniões e sentimentos, e os revelam ordinariamente com risco da própria vida e fazenda.

2044 — Quando morremos para a vida, nascemos para a eternidade.

2045 — Os que menos sabem governar-se são ordinariamente os que mais ambicionam governar os povos.

2046 — Os moços gostam dos velhos que se parecem com eles em leviandade, imprudência e estouvamento: com tal autoridade e exemplos se julgam justificados.

2047 — O trabalho como o tempo se materializa e incorpora nos produtos da indústria e inteligência humana.

2048 — As inteligências se comunicam por corpos orgânicos, que lhes servem de invólucros, instrumentos e condutores.

2049 — Os poderosos de terra não podem tolerar a verdade sem o condimento e especiaria da lisonja.

2050 — Livros há que quanto mais se lêem mais se admiram: são produções substanciais de profundo saber e experiência.

2051 — As disputas científicas servem ordinariamente mais para demonstrar a nossa ignorância do que para comprovar o nosso saber.

2052 — O aplauso dos tolos e néscios é assuada para os homens graves e ilustrados.

2053 — Começamos a conhecer os homens quando principiamos a desconfiar do seu juízo, saber e probidade.

2054 — Este mundo é propriedade de todos os viventes, e com especialidade dos mais inteligentes.

2055 — Como as plantas e arbustos guarnecem as rumas dos edifícios nobres, os filhos e netos ornam a velhice dos anciãos ilustres.

2056 — Os males das províncias têm ordinariamente a sua origem na insânia e desvarios do sensorium das capitais.

2057 — Tudo no universo é ordem e harmonia: os entes que melhor o reconhecem são os mais sábios e inteligentes.

2058 — O fado ou destino dos pagãos é a providência dos cristãos.

2059 — Os loucos, tolos e néscios têm a vantagem de não sofrerem os males antes que cheguem: os homens prudentes e de juízo os padecem antecipadamente pela sua previdência e reflexão.

2060 — Os homens seriam muito infelizes se Deus anuísse a todos os seus votos e deprecações.

2061 — Vestir e formular dignamente um pensamento é muito mais difícil que concebê-lo.

2062 — A ambição encanecida torna-se mais feroz e homicida.

2063 — Devemos gozar singelo para não sofrermos dobrado.

2064 — É terrível a idéia da morte para quem muito goza, muito possui e muito ama.

2065 — Os anarquistas e desordeiros não têm sistema: desordem não pode ser sistematizada.

2066 — A felicidade das criaturas inteligentes cresce e avulta proporcionalmente com a noção progressiva que concebem de Deus e seus divinos atributos.

2067 — Adular é negociar para muita gente.

2068 — Os homens preferem, a tudo a pátria própria: cada passarinho acha bonito o seu ninho.

2069 — Ninguém goza tanto deste mundo como aquele que melhor o conhece e admira.

2070 — Os tributos mais gravosos são os que a vaidade e a moda nos impõem.

2071 — A curiosidade se apascenta de notícias, e o mundo é um teatro de novidades.

2072 — Os benefícios morosos tornam-se rançosos.

2073 — O bom governante é aquele que melhor sabe conciliar os caracteres diversos e contrários dos homens, como o hábil compositor de música harmoniza os sons discordes e opostos dos instrumentos e vozes.

2074 — A loucura nos homens é tão versátil e variada que os prudentes em seus cálculos não podem compreender todas as suas espécies e variedades.

2075 — Os sábios recusam o poder, os loucos o cobiçam.

2076 — O governo dos tolos é também o dos velhacos, seus assessores e confidentes.

2077 — Lemos em Deus quando estudamos e observamos a natureza.

2078 — Quem emprega e se serve de um traidor a si próprio se atraiçoa.

2079 — Desmentimos ordinariamente na prática as doutrinas e teorias que professamos, quando as temos adotado por moda e sem critério, e não são produtos da própria lavra, estudos e meditações.

2080 — A genuína lealdade é caluniada e proscrita, quando os traidores alcançam o poder e autoridade.

2081 — A inveja a ninguém enriquece ou enobrece.

2082 — A superfina civilização é superlativa escravidão.

2083 — Há uma bondade imbecil que se confunde muitas vezes com o idiotismo.

2084 — Em amor e crença nada vale o mandamento.

2085 — As crianças são acalentadas por dormirem, e os homens enganados para sossegarem.

2086 — É triste a condição do sábio entre ignorantes e do homem probo entre velhacos.

2087 — O homem inconstante difere de si próprio a cada instante.

2088 — Com mais facilidade aconselhamos e consolamos do que esmolamos.

2089 — Os povos não sabem amar nem aborrecer, e muito menos agradecer.

2090 — Tudo temem os delinqüentes, nada receiam os inocentes.

2091 — Todos têm olhos para ver e prezar a formosura, poucos, inteligência para avaliar e admirar a sabedoria: esta vence com o tempo, aquela triunfa aparecer.

2092 — A vida tudo enfeita, a morte desfigura tudo.

2093 — Toleram de bom grado todas as religiões os que não professam alguma.

2094 — O bafo dos jacobinos polui os tronos e marasma os imperantes.

2095 — As injúrias lembram sempre, quando os benefícios esquecem.

2096 — Pouca inteligência dirige, coordena e senhoria muita força.

2097 — O tempo é um capital muito importante para quem o sabe administrar e aproveitar convenientemente.

2098 — Há velhos monstruosos que reúnem os vícios, paixões e desvarios da mocidade com os da velhice, e requintam em todos eles.

2099 — Os tolos nos incomodam, os velhacos nos prejudicam.

2100 — Os louvores comprados são como tais avaliados.

2101 — A lisonja foge da desgraça, a verdade a freqüenta.

2102 — há uma douta ignorância que é mais funesta aos povos do que a ignorância iletrada.

2103 — É nos teatros que os homens choram e se riem de si próprios sem o pensarem.

2104 — As saudades crescem e avultam com os anos, e são inumeráveis na velhice.

2105 — A sabedoria é o maior prêmio na loteria da vida humana: o sábio goza mais que ninguém, porque também ama, conhece e admira a Deus melhor que os outros homens.

2106 — Os anarquistas se revelam pelos seus discursos, como as cobras cascavéis pelo seu tinido.

2107 — Como as flores enfeitam a terra, os astros abrilhantam os campos da imensidade.

2108 — A aranha fabrica a sua teia para viver, a lagarta a sua mortalha para morrer.

2109 — A inveja ambiciosa desdenha o que mais cobiça.

2110 — A noite cobre um mundo e descobre inumeráveis outros.

2111 — Há homens-insetos destinados a pungir, importunar e incomodar os outros homens.

2112 — A alteza dos pensamentos anuncia a nobreza dos sentimentos.

2113 — É muito incômoda, ou antes intolerável, a amizade com pessoas nimiamente cerimoniosas, que fazem alarde de uma civilidade superfina e refinada.

2114 — É impossível e incompatível a existência de um caos com a de Deus.

2115 — Tudo quanto nos circunda limita a nossa liberdade, esta é sempre menos real do que ideal: homem em sociedade é um escravo que se imagina livre, e não pode sê-lo quanto presume, por sensível e passível em infinitas relações.

2116 — O conhecimento do presente e passado nos é útil: a previsão do futuro nos faria talvez muito infelizes.

2117 — Quando subimos a Deus pela oração, descemos abençoados pela sua divina mão.

2118 — Eventos há que por antecipados se tornam desastrosos: seriam felizes se chegassem maduros na ordem natural dos tempos e das coisas.

2119 — A cultura da razão pelo estudo, exame o reflexão, pode conduzir-nos a um grau de saber que nos ponha em contradição com as opiniões vulgares: neste caso, devemos ser prudentes, evitando disputas, e esperando do tempo a madureza das verdades.

2120 — Nos anfiteatros da antigüidade brigavam os animais para divertirem os homens, presentemente, nos salões parlamentares, rixam os doutores para entreterem os néscios.

2121 — Os homens e povos, quando arremedam os outros, de algum modo se desfiguram, tornando-se caricaturas.

2122 — Em matéria de religião, a força pode fazer hipócritas, mas nunca verdadeiros crentes.

2123 — Não é boa a vista que mostra os objetos dobrados, nem seguro o entendimento que exagera as opiniões e doutrinas.

2124 — Há um orgulho nobre e majestoso que descobre os heróis, os sábios e os homens justos.

2124 — A traição se disfarça muitas vezes com os trajos da lealdade, como o egoísmo com a máscara do patriotismo.

2126 — Há grandes verdades que avistamos de longe, e que desaparecem quando as queremos reconhecer de perto.

2127 — A felicidade sensual é a mais incompleta de todas: não pode subsistir sem o contraste e especiaria dos males.

2128 — A vida tem um valor sem par para os que a sabem gozar e apreciar.

2129 — Os velhacos são maus calculistas, professam uma ocupação que se esteriliza pelo seu mesmo exercício e publicidade.

2130 — O que os doutos ganham por seus escritos, perdem freqüentes vezes pela sua presença e trato familiar.

2131 — A audácia dos anarquistas é prodigiosa: ousam muito porque nada aventuram e esperam tudo.

2132 — Folgamos de ser enganados com boas promessas e esperanças, ainda quando suspeitamos que não sejam realizadas.

2133 — O egoísmo é mal sucedido nos seus cálculos e esperanças; não sabe avaliar a resistência que necessariamente deve encontrar, referindo tudo a si, e prescindindo dos interesses dos outros homens.

2134 — A idade de ouro não foi a primeira, há de ser a última das idades do gênero humano.

2135 — Os ricos afetam de pobres para não serem importunados, os pobres, de abastados, para alcançarem crédito e confiança.

2136 — Os velhos são injustos com os moços quando exigem deles qualidades morais que a idade, estudo e uma longa experiência podem somente conferir-lhes.

2137 — Juízo é a inteligência prática e experimental que nos faz conhecer e alcançar os bens e evitar os males da vida.

2138 — Defendemos em um tempo as mesmas opiniões que combatemos em outro: os anos modificam o nosso entendimento como alteram a nossa fisionomia.

2139 — A ambição de ciência é tão serena e aprazível em seu processo e meios quanto a do poder e honras é violenta e tormentosa: a primeira tem sabedoria por objeto, a segunda a dominação ou tirania.

2140 — É incalculável o grau de virtude a que os homens poderiam chegar se cressem em Deus e o amassem como a natureza o revela, e não como as opiniões humanas o representam.

2141 — Os votos dos homens, sendo pela maior parte imprudentes, não admira que sejam desatendidos e rejeitados pela bondade e justiça da divindade.

2142 — O amor sexual é a primeira e principal origem de todos os outros amores naturais e sociais.

2143 — As substancias que não resistem são as que penetram mais profundamente, e dissolvem os corpos mais sólidos e compactos.

2144 — Como entre os povos e nações, há também guerras, tréguas e pazes entre as opiniões dos homens.

2145 — Os homens recomendam e inculcam seus vícios por virtudes: o avarento se diz econômico, e o pródigo, liberal.

2146 — A escravidão avilta o escravo e barbariza o senhor.

2147 — Os tolos e néscios servem de escadas para os velhacos subirem e os oprimirem.

2148 — Todos os vícios e paixões têm o seu martirológio profano.

2149 — Todos nos enganamos reciprocamente: umas vezes de boa fé, outras sem ela.

2150 — Quem não faz sacrifícios não alcança benefícios.

2151 — Se pudéssemos conhecer e prever o futuro, não seríamos livres.

2152 — Passei e vi o mau exaltado e triunfante, regressei depois, e já não achei vestígios da sua existência abominosa.

2153 — A vida e a morte, o bem e o mal, ambos se balançam e harmonizam para a renovação, conservação, e perpetuidade deste mundo planetário.

2154 — Homens há que parecem fadados a trabalhar incansavelmente para se fazerem desgraçados.

2155 — O martirológio político vai sendo muito mais volumoso que o religioso.

2156 — Alcançamos mais vitórias calando do que falando.

2157 — Homens! aprendei a vencer-vos e triunfareis de todos.

2158 — A virtude e lealdade se retiram quando o crime e traição alcançam prêmios.

2159 — Perpetuamos a nossa vida em nossos filhos, obras e escritos.

2160 — Os moços têm suficiente força material para destruírem, mas insuficiente perícia intelectual para construírem.

2161 — Quando vos louvarem, louvai imediatamente a Deus, que vos conferiu qualidades dignas do louvor dos homens.

2162 — A tirania no singular é menos gravosa que no plural.

2163 — O universo natural e concreto é obra de Deus, o mundo abstrato, criação dos homens e origem dos seus maiores erros.

2164 — Sabemos que ignoramos, mas é impossível que conheçamos o quanto.

2165 — As pessoas que mais se ocupam de política, governos e suas diversas formas, são ordinariamente as que menos sabem reger-se e governar-se.

2166 — A vida é um bem tão precioso que os velhos, gozando menos que os moços, são os que melhor a sabem prezar e avaliar.

2167 — Quantos milhares ou milhões de vidas não custa a mantença da nossa própria! vivemos de cadáveres, e nos queixamos da morte!

2168 — Homens há que têm uma celebridade efêmera como a das modas: figuram e desaparecem em pouco tempo.

2169 — Onde se não preza a honra se desprezam as honras.

2170 — O medo é um dos maiores e mais eficazes elementos de ordem e harmonia sociais.

2171 — Há na ventura uma expansão ou dissipação que nos enerva e debilita, como na desgraça uma certa concentração que nos alenta e fortalece: na primeira, pertencemos ao mundo externo, na segunda, a nós mesmos solidariamente.

2172 — Se não houvessem loucos e imprudentes, grandes empregos ficariam vagos em certas crises e circunstâncias.

2173 — Os maus têm a imprudência de se acusarem reciprocamente, para cautela, resguardo e apercebimento dos bons.

2174 — A terra verde esmaltada de flores, e o céu azul abrilhantado de estrelas, ambos concordes, anunciam e proclamam a glória, magnificência e majestade de seu Criador Onipotente.

2175 — Os anarquistas modernos se servem com vantagem das doutrinas do federalismo para desunir e soberanizar as províncias, desconjuntar os estados e acabar com as monarquias.

2176 — Quando chegamos a amar e admirar a Deus, as flores nos parecem mais belas sobre a terra, as estrelas mais brilhantes nos céus, e a natureza, toda radiosa de alegria e magnificência, mais nos encanta com suas maravilhas assombrosas.

2177 — Os publicistas modernos ensaiam constituições nos povos, como as meninas, enfeites e vestidos nas suas bonecas.

2178 — A escravidão é o tributo que a ignorância paga à força dirigida por maior e melhor inteligência.

2179 — Os legados de engenho e sabedoria deixados ao gênero humano são os mais seguros monumentos para perpetuar a nossa memória e renome nos séculos futuros.

2180 — Muito poucas das nossas esperanças se realizam, contamos com circunstâncias que não ocorrem, ou se alteram, ou se coordenam por diverso modo do que pensávamos.

2181 — Os rouxinóis emudecem quando os jumentos ornejam.

2182 — Ninguém deve recear-se tanto da desgraça como aquele que se acha elevado à maior ventura.

2183 — É muito precária a felicidade que depende dos outros e não tem a sua nascente em nós mesmos.

2184 — O universo é a manifestação objetiva da infinita sabedoria, poder, bondade, justiça e providência de Deus, seu autor e criador.

2185 — Ninguém se gaba de ter juízo ou virtude: todos sabem que cada qual presume o mesmo de si e não o acredita facilmente dos outros.

2186 — É na velhice que se sabe melhor avaliar e apreciar saúde, ciência e riqueza.

2187 — As flores mais belas não são as mais vistosas.

2188 — Sede econômicos e poupados, o que hoje e despendeis em bagatelas faltar-vos-á amanhã para o necessário.

2189 — Em política os remédios brandos agravam freqüentes vezes os males e os tornam incuráveis.

2190 — Abstemo-nos muitas vezes de investigar as causas dos nossos males pelo receio de achar-nos culpados, reconhecendo que os havemos merecido.

2191 — Gozar admirando e reconhecendo a divina beneficência é o privilégio especial dos homens sobre a terra.

2192 — Debaixo de uma aparente desordem e confusão, tudo é ordem e harmonia, na terra entre os viventes, como nos céus entre as estrelas.

2193 — Quem não tem medo, não tem juízo: falta-lhe o conhecimento dos males, o que muito importa na ciência humana.

2194 — A morte é mais penosa para quem vê morrer do que para aqueles mesmos que perecem agonizando.

2195 — O fato ou fenômeno mais assombroso sobre todos é a harmonia do bem e do mal no sistema universal da natureza.

2196 — Tudo tende à unidade: a sua falta é anarquia.

2197 — Uns são loucos por falta de juízo, outros o parecem por seu excesso ou transcendência.

2198 — Faltando os bons costumes, multiplicam-se as leis e com elas as transgressões.

2199 — A velhice nos homens é respeitável, nas mulheres, desagradável.

2200 — A fonte dos benefícios se estanca nos homens, em Deus é eterna, infinita e inexaurível.

2201 — Não admira que os néscios se considerem muito sabedores: eles têm a vantagem de desconhecer que ignoram.

2202 — A inteligência se objetiva e manifesta na extensão: ambas se harmonizam e constituem o universo.

2203 — O temor das potências invisíveis contribui mais do que se pensa para o respeito e obediência às visíveis deste mundo.

2204 — Falando bem dos outros fazemo-nos amar; maldizendo, temer ou aborrecer.

2205 — Dissolvei os ódios com benefícios, e tereis por amigos os vossos próprios inimigos.

2206 — Podem-se reduzir todas as paixões a duas, amor e ódio, e estas a uma única, o amor-próprio ou amor de nós mesmos, princípio e fim de todas as nossas apetências e aversões.

2207 — Antecipamos as épocas quando publicamos verdades que os nossos concidadãos ainda não podem compreender, e nos expomos a ser maltratados ou perseguidos.

2208 — Se a cada um dos nossos sentidos corresponde externamente um mundo de fenômenos maravilhosos, de quantos mundos variados não devem gozar as criaturas privilegiadas a quem Deus prendou com muitos outros órgãos de semelhante natureza!

2209 — O preceito de amar a Deus é muito fácil e praticável quando temos aprendido a conhecê-lo e admirá-lo pelo estudo da natureza e de nós mesmos.

2210 — Amor e gratidão à divindade é suprema felicidade.

2211 — O juízo é tão vulgar para alguns homens que no seu procedimento e opiniões parecem preferir a denominação de loucos ou extravagantes.

2212 — Quanto é bela a natureza para quem ama e admira a Deus! Este mundo não é já um vale de lágrimas, mas um paraíso de risos e delícias, onde a bondade divina se expande e manifesta para bem e felicidade das suas criaturas vivas, sensíveis e inteligentes.

2213 — Não conhecemos os homens como eles são, mas como os concebemos, modificados pelos nossos sentidos, paixões e interesses.

2214 — Conquistai os vossos inimigos com benefícios, e os tereis sujeitos e amigos por gratidão.

2215 — A responsabilidade não intimida os velhacos, e dissuade dos empregos aos homens probos.

2216 — As abstrações enganam a muita gente que as supõem realidades.

2217 — Quem é mais digno de ser amado senão Deus, autor e inventor de todos os amores!

2218 — A educação por bons exemplos é mais eficaz do que por boas doutrinas.

2219 — Os velhos sabem e querem, mas não podem; os moços querem e podem, mas não sabem.

2220 — As altas inteligências imaginam e inventam, as pequenas comentam ou arremedam.

2221 — Há muita gente que presume honrar a sua rudeza, grosseria e incivilidade qualificando-as de franqueza, independência e amor da verdade.

2222 — As paixões são escravas que muitas vezes se amotinam contra a razão, sua senhora.

2223 — Bondade e justiça são os dois atributos essenciais para os que governam, e as mais firmes colunas dos tronos dos imperantes.

2224 — Não confieis a vossa fazenda de quem sabe melhor gastar do que ganhar.

2225 — A ignorância é talvez um dos principais elementos da felicidade de muita gente.

2226 — Não é dado a vivente algum distinguir o instante em que adormece ou em que morre.

2227 — A maldade supõe deficiência, a bondade suficiência.

2228 — O grande engenho se exalta no infortúnio, como a água sobe alto comprimida nos repuxos.

2229 — Os maus, como os bons, têm sempre por fim o seu maior bem; mas os primeiros esperam consegui-lo mais brevemente com dano dos outros, os segundos, com segurança e sem risco, zelando e promovendo o bem de todos.

2230 — O homem mais hábil é aquele que sabe criar, coordenar, aproveitar e dirigir as circunstâncias em beneficio próprio, com proveito ou sem detrimento dos outros homens.

2231 — Morremos como nascemos sem termos o sentimento nem a consciência de tais eventos.

2232 — Vivemos porque gozamos incomparavelmente mais do que sofremos: se sucedesse o contrário, morreríamos em breve tempo.

2233 — Há na vida humana, como nos mares, um fluxo e refluxo de bens e males que nos põem em ação e movimento, e não consente que existamos no estado de inércia e apatia.

2234 — Os povos fingem desconhecer as causas dos seus males, nem toleram que lhas descubram quando reconhecem que eles mesmos foram a origem e os motores de suas próprias calamidades.

2235 — Convém muito, para melhorarmos ou não piorarmos, que tenhamos inimigos que nos observem, e nos tornem cautelosos e circunspetos.

2236 — Pesa-nos tanto em um tempo a nossa insignificância como em outro a própria importância: temos saudades da primeira quando possuímos a segunda.

2237 — Não são incômodos neste mundo os que aspiram somente aos bens e delícias da outra vida.

2238 — Tudo é limitado nos homens, menos os seus desejos e ambição, argumento da sua futura destinação.

2239 — Convém não refletir e meditar muito para não chegarmos a desencantar-nos do mundo e da vida humana.

2240 — Os soberbos são também ingratos e invejosos.

2241 — A maior e melhor garantia para o sábio é o silêncio com a solidão.

2242 — É mais difícil ter senhorio sobre nós mesmos que dominação sobre os outros homens.

2243 — A racionalidade dos homens se distingue especialmente pela sua religiosidade.

2244 — A velhice, que enruga o rosto, também faz murchar o entendimento.

2245 — A verdadeira sabedoria não pode ser definida, mas sentida e compreendida somente por aqueles que a possuem.

2246 — Podemos escusar a aprovação dos homens quando temos a de Deus e a da nossa consciência.

2247 — A bênção de Deus é um capital imenso que nos abastece de tudo, e não permite que tenhamos falta de coisa alguma.

2248 — A velhice não tem graça; quando muito, tem juízo ou prudência.

2249 — Não são somente os cegos que não vêem, mas também os que, tendo vista, não têm juízo.

2250 — Guardai-vos das Circes: prometem prazeres e propinam venenos.

2251 — Há mentiras escandalosas que se coonestam com os nomes de hipérboles e exagerações.

2252 — A virtude estudada é melhor observada.

2253 — Os ambiciosos do poder são como os meninos que, correndo após borboletas e pirilampos, tropeçam, caem, e são maltratados por muito tempo.

2254 — Não sabemos quanto valemos e de que somos capazes: as ocasiões e circunstâncias no-lo fazem conhecer.

2255 — Tudo o que é, por isso mesmo que existe, está compreendido, coordenado e harmonizado no sistema geral da natureza.

2256 — A beleza corporal ou material é sempre a mesma e uniforme, a intelectual tem fases sucessivas e uma variedade portentosa.

2257 — Jogo, amor e ambição nivelam por algum tempo as condições.

2258 — Há pessoas cuja aversão e desprezo honram mais que os seus louvores e amizade.

2259 — Os homens de curto saber são tão obstinados nas suas opiniões, como dóceis e flexíveis os de vasta ciência e conhecimentos.

2260 — Os homens de maior saber e engenho são os que têm variado mais vezes de opiniões e doutrinas: a ignorância é estacionaria, pouco ganha ou nada perde.

2261 — Os incrédulos e irreligiosos na mocidade tornam-se na velhice intolerantes e supersticiosos.

2262 — É mais fácil mentir ou fabular que descobrir verdades.

2263 — Os erros também instruem: há muita gente rica de seus próprios desenganos.

2264 — O sábio crê incomparavelmente muito mais que os outros homens: as suas crenças porém são fundadas menos na autoridade humana que no testemunho perene e irrefragável da natureza.

2265 — Homens há que pretendem distinguir-se entre os literatos, não pela alteza dos pensamentos, a que não chegam, mas pela novidade ou antigüidade das palavras de que se servem, o que lhes granjeia com razão o nome de pedantes ou extravagantes.

2266 — Para os escritores eminentes, cada biblioteca é um Panteon.

2267 — No mau tempo recolhem-se os animais grados, e aparecem os reptis, insetos e sevandijas.

2268 — Os homens de bem e de juízo não se desmentem, os velhacos se contradizem a cada instante.

2269 — Em matéria de máximas, a malícia ou malignidade reside ordinariamente naqueles que as aplicam ou exemplificam.

2270 — Não admira que os velhacos, servindo-se de todos os meios para chegarem a seus fins, vençam os homens de bem, limitados somente àqueles que lhes permitem as leis, a honra, consciência e probidade.

2271 — A natureza não nos engana, somos nós que nos enganamos com ela.

2272 — Que aproveita à nossa vida mortal um nome imortal!

2273 — A política modernamente não tem custado menos sangue do que a religião em outros tempos.

2274 — A idéia geral e instintiva de uma vida futura é argumento irrefragável de sua realidade; se o homem fosse um animal efêmero e inteiramente mortal, não seria capaz de tão sublime pensamento nem de esperanças tão transcendentes: essa vida se verifica porque a concebemos.

2275 — Há homens cavaleiros e homens cavalgaduras, aqueles se distinguem por sua inteligência, e estes pela sua força material: uns e outros se prestam recíprocos serviços, e são mutuamente necessários pelas suas qualidades especiais.

2276 — Nada revela tanto a corrupção, indignidade e vilania das pessoas e povos, como a sua ingratidão para com os seus mais distintos benfeitores.

2277 — Somos por vezes órgãos da divindade e instrumentos de vento que o sopro de Deus faz ressoar e proferir verdades imortais e sobre-humanas.

2278 — Nunca nos sentimos tão unidos com Deus como quando nos achamos mais separados dos homens.

2279 — Os tolos são para os velhacos como as cifras para as unidades, que as elevam ao valor de dezenas, centenas e milhares.

2280 — Os homens não têm dúvida em crer tudo o que se lhes propõe, contanto que os dispensem do incômodo e fadiga de pensar e examinar.

2281 — As crenças religiosas inspiram geralmente menos amor e temor de Deus do que incutem terror e medo da divindade : os homens não podem imaginar um poder vastíssimo sem tirania ou despotismo.

2282 — O homem que não é exato em tempo, lugar, palavra, serviço e contas, não tem honra, nobreza, caráter nem probidade.

2283 — Os homens mais sábios são os que freqüentemente se acusam de ignorância: os charlatães e semidoutos presumem de universais e oniscientes.

2284 — Elevai a vossa inteligência à maior alteza possível, dominareis os vossos contemporâneos e as gerações futuras.

2285 — Os que mais declamam contra o despotismo e arbitrariedade, são os maiores tiranos quando alcançam autoridade.

2286 — Sempre nos achamos em Deus quando nos perdemos na sua imensidade.

2287 — Quando moço, admirava os homens; velho, admiro somente a Deus.

2288 — O propósito e pratica de bem fazer são os meios mais eficazes para bem viver.

2289 — Os desenganos mais úteis são aqueles que nos custaram mais caros.

2290 — Não têm permanência o poder e mando alcançados por assalto e violência.

2291 — Deus se revela em suas obras assombrosas, e com especialidade nas suas criaturas vivas, sensíveis e inteligentes.

2292 — A alegria é expansão, a tristeza contração de vida e coração.

2293 — Os moços dormindo sonham com os vivos, os velhos ordinariamente com os mortos.

2294 — A guerra tem aliança com a morte, como a paz com a vida.

2295 — O beneficio capitulado desobriga o beneficiado.

2296 — O governo dos loucos dura pouco, o dos tolos ainda menos que o dos velhacos.

2297 — Quando os homens personalizaram os atributos da divindade, criaram o politeísmo.

2298 — Não se remedeiam os males de que se não quer saber nem reconhecer a causa e origem imediatas.

2299 — Se não houvesse em nós um ser ou unidade distinta da fábrica do nosso corpo, a quem domina e modifica, seríamos incapazes de mentira, fingimento, dissimulação e hipocrisia.

2300 — O louvor dos tolos e néscios aflige e desalenta os sábios.

2301 — Há erros, como doenças hereditárias, que lavram e se propagam por muitas ou inumeráveis gerações.

2302 — Os dias de prazer parecem mais breves que os de dor e mágoa: a nossa sensibilidade alonga e abrevia o tempo.

2303 — Deus, infinito em sua sabedoria e poder, vivifica os átomos como animaliza os mundos.

2304 — Amores e virtudes são os elementos e princípios constituintes e conservadores das famílias, povos e nações.

2305 — Quereis conhecer o juízo? procurai-o nas praças de comércio; aí o achareis em companhia do crédito, ordem, perícia, diligência, economia, exatidão, lealdade e probidade.

2306 — Há dias em que nos admiramos da fertilidade do nosso espírito, outros em que nos espanta a sua esterilidade.

2307 — A inocência tem uma só fisionomia, a malícia e malignidade muitas e variadas.

2308 — Pode julgar-se do caráter e opiniões dos homens pelas máximas que alegam e repetem freqüentemente na sua vida prática e familiar.

2309 — O amor e temor de Deus têm por princípio o reconhecimento da sua infinita bondade e justiça.

2310 — A guerra civil é talvez uma expurgação social, ou expiação de graves erros, ingratidões, injustiças e crimes das nações.

2311 — A temperança forçada da pobreza a salva de muitos males a que o epicurismo da riqueza está sujeito.

2312 — Pretender melhoramentos materiais antes dos morais e intelectuais é querer que os efeitos precedam as causas.

2313 — Tudo vive no universo: a vida, emanada da divindade como a luz do sol, penetra e se difunde por toda a imensidade.

2314 — É quando melhor conhecemos o valor da vida que ela se nos torna menos cômoda e mais gravosa.

2315 — O homem leviano e inconstante diz, desdiz-se e contradiz-se a cada instante.

2316 — O coração é melhor nas mulheres que a razão nos homens.

2317 — Os homens concebem na cabeça, as mulheres no seu ventre.

2318 — Avaliamos os outros homens pelas nossas idéias e paixões: este o motivo que faz ordinariamente inexata ou injusta a nossa avaliação.

2319 — Aquele que atraiçoou a sua pátria natal, não pode ser patriota leal e sincero da alheia e adotiva.

2320 — A melhor doutrina é aquela que nos faz melhores e mais justos.

2321 — Todas as substâncias compostas são mortais, as simples e elementares, imortais.

2322 — Que onipotente aliança, a aliança com Deus! Príncipes da terra, buscai alcançá-la e sereis invencíveis.

2323 — Há verdades morais de suma importância, que só uma experiência dolorosa as pode e sabe demonstrar.

2324 — As cãs ornam as cabeças dos homens, e desencantam as das mulheres.

2325 — A natureza é misteriosa porque o seu autor é também incompreensível.

2326 — Se formos puros perante Deus, seremos felizes apesar dos homens.

2327 — Cuidemos em ser vivendo o que desejaríamos ter sido morrendo.

2328 — Quando dormimos sem sonhar não temos a consciência de que existimos.

2329 — Em um mundo em que tudo é mudável por essência e natureza, os que sofrem devem esperar, os que gozam, recear.

2330 — Sabei vencer-vos, dominareis os outros homens.

2331 — É condição essencial da sabedoria ser expansiva e difusiva como a luz do sol.

2332 — Os talentos não valem as virtudes que os dispensam.

2333 — Os moços sonham mais acordados do que os velhos não quando dormem.

2334 — A ingratidão desanima e estreita a beneficência.

2335 — Em todos os vossos revezes e contratempos recorrei a Deus, e reconhecereis sempre a sua paternal e onipotente beneficência.

2336 — Gozar e não sofrer é o voto geral dos homens: mas sobre os meios de conseguir os bens e evitar os males variam as opiniões de todos.

2337 — Não podemos conhecer e avaliar a felicidade sem haver tomado lições na escola da adversidade.

2338 — A prudência é virtude em poucos e fraqueza em muitos.

2339 — Os mais ambiciosos de autoridade são os menos capazes de bem a exercerem.

2340 — A velhice, quando não melhora, deteriora os homens.

2341 — Quem tudo sabe não pode ser mortal: a onisciência lhe assegura a imortalidade.

2342 — Não vos vingueis, esperai que vos vinguem, e sereis vingados.

2343 — Os moços estouvados são menos incômodos do que os velhos imprudentes.

2344 — Os velhacos que se conhecem não desejam ser conhecidos.

2345 — Os jacobinos federalistas se transfiguram de mil modos, até mesmo em monarquistas.

2346 — Em amor, o heroísmo das mulheres não tem igual nos homens.

2347 — Os velhos não pertencem às gerações novas, são ruínas ou fragmentos das antigas.

2348 — Pouco saber faz o homem popular, nímio saber o constitui impopular.

2349 — É anacronismo escandaloso um velho charlatão, vanglorioso, revolucionário e ambicioso.

2350 — A prudência supre a força que falece na velhice.

2351 — O mundo é tão pequeno para o nosso pensamento, que este, em poucos instantes, o viaja todo inteiro.

2352 — Este século pode ser denominado o do papel; tão importante e geral é o uso e abuso que dele se faz.

2353 — Quando nos lembramos do passado, receamo-nos do futuro.

2354 — Tudo se vende no grande mercado deste mundo, menos juízo, o que falta a muita gente e não sobeja a ninguém.

2355 — Os velhos imprudentes são também ordinariamente insolentes.

2356 — A vida empobrece a muitos, a morte enriquece a alguns.

2357 — Quem mais estudou o passado melhor sabe e pode ler no futuro.

2358 — A história é a bibliografia da espécie humana.

2359 — A fraqueza é a arma defensiva das mulheres.

2360 — Não há melhor companhia que a de uma livraria escolhida.

2361 — As monarquias acumulam e se engrandecem, as democracias se dividem e se enfraquecem.

2362 — Quem não tem juízo perde o seu e não ganha o alheio.

2363 — A ambição, que enobrece a uns, envilece a outros.

2364 — O ceticismo, de que alguns se gloriam, não é outra coisa mais do que ignorância ou idiotismo.

2365 — O nosso pensamento, sentindo-se abafado no ar mefítico da terra, parte, voa, atravessa o éter misterioso das regiões celestes, descobre inumeráveis sóis, mundos sobre mundos, céus sobre céus, e não achando limites ao universo, adora absorto o seu divino autor, e se perde na sua imensidade.

2366 — Na argumentação ordinária, o que mais grita não é o que tem mais razão.

2367 — Prever e adivinhar é mais difícil em política do que em moral.

2368 — Os médicos são algumas vezes os executores involuntários da sentença de morte decretada pela natureza contra todos os homens sem exceção de algum.

2369 — Ninguém pode ser bom que não seja também justo: a bondade não exclui, compreende necessariamente a justiça.

2370 — Agradecei a Deus não somente os bens, mas também os males que vos sucedem, na certeza de que o mal não é nem pode ser fim e objeto dos desígnios e determinações de um ente perfeitíssimo, e necessariamente bom, sendo, como é, infinitamente sábio e poderoso, mas instrumento, ocasião, meio ou veículo talvez indispensável para o bem das suas criaturas vivas e sensíveis, ordem e harmonia deste mundo.

2371 — Quem tudo sabe e pode é necessária e essencialmente bom: tal é Deus.

2372 — Vivificar para felicitar é a divisa e exercício eterno da divindade.

2373 — O universo ou a criação universal é o mesmo Deus simbolizado, objetivo e revelado.

2374 — O sábio avista a Deus em toda a parte, o néscio não o descobre em nenhuma.

2375 — Existimos para gozar, morremos quando gozamos menos do que sofremos.

2376 — A ambição cativa os homens vendem por baixo preço aos que especulam nos seus serviços.

2377 — Padecendo na velhice pagamos à moral e à natureza o saldo de contas que lhes devemos.

2378 — As doenças humilham o nosso orgulho, a morte finalmente o derroca.

2379 — Este mundo é o das metamorfoses, nada se aniquila, tudo se transforma.

2380 — A luz dissipa as trevas e aparecem os objetos, a razão os erros e reluzem as verdades.

2381 — Em ciência, espaço e idade devagar se vai ao longe.

2382 — Homens há que não têm outro mérito que o da sua filiação: são filhos de seus pais e nada mais.

2383 — Temos o usufruto da vida, a propriedade é de Deus.

2384 — As paixões são instintos que a razão deve dirigir e regular, mas não suprimir.

2385 — As sociedades secretas têm o mau cheiro da sua qualificação.

2386 — O nascimento é uniforme, a morte variada em todos.

2387 — A força, que sobeja na língua, falta ordinariamente nos braços.

2388 — A paixão dominante nas mulheres é o amor, nos homens a ambição.

2389 — Os sábios pensam por muitos em beneficio de todos.

2390 — A ciência é cavaleira, a ignorância cavalgadura.

2391 — O sopro da morte apaga o lume da vida.

2392 — Os cetros de ferro a ferrugem os consome.

2393 — Que lições nos cemitérios! os ossos dos mortos ensinam e desenganam os vivos.

2394 — Virgulamos na vida os nossos males com lágrimas, mas deixamos os nossos bens sem pontuação nem acentos.

2395 — O instinto nas mulheres é mais poderoso que a razão nos homens.

2396 — Os títulos ilustram a muitos e são ilustrados por poucos.

2397 — O sábio nas monarquias é o súdito menos cortesão, e o mais leal.

2398 — Nem os males correspondem ordinariamente aos nossos receios, nem os bens às nossas esperanças: somos muito exagerados em temer e esperar.

2399 — O pobre se acanha e parece humilhado perante o rico; o mesmo sucede aos néscios em conjunção com os doutos.

2400 — O velho achacado vive meio amortalhado.

2401 — Os meninos sobejam onde estão, e faltam onde não se acham.

2402 — Os sábios tornam-se incomunicáveis não podendo dizer verdades nem contradizer disparates.

2403 — Deus é a imensidade: tudo nela se forma e se resolve.

2404 — A monarquia tranqüiliza os homens bons e leais, a democracia esperança os traidores e desordeiros.

2405 — Atores por breve tempo no teatro deste mundo, os homens fazem rir e chorar a muita gente.

2406 — Sabei sofrer, merecereis gozar.

2407 — A intolerância religiosa é uma censura, ou condenação da divindade pela sua tolerância universal.

2408 — Com uma ignorância enciclopédica homens há que se inculcam por sabedores universais.

2409 — A morte é o querubim com a espada de fogo que nos expulsa do jardim da vida humana.

2410 — Os anos que uns perdem pela sua morte prematura, outros acumulam por sua velhice prolongada.

2411 — A ambição faz enlouquecer os homens, a paixão, de amor as mulheres.

2412 — Sofremos talvez mais pelos erros alheios do que pelos nossos próprios.

2413 — Estuda-se mais na velhice para bem morrer do que se estudou na mocidade para bem viver.

2414 — Não mudamos sonhando de caráter, reconhecemos nos sonhos a nossa identidade.

2415 — Os vícios antecipam a velhice, as virtudes a retardam.

2416 — O mundo é para o sábio uma lanterna mágica variando constantemente de vistas e objetos para seu recreio, estudo e admiração.

2417 — Os erros em religião provêem da falsa idéia que concebemos de Deus: em política, do conhecimento imperfeito que temos da natureza humana.

2418 — Vemos nas cidades geralmente as obras dos homens, fora delas diretamente as de Deus: respiramos no campo a divindade.

2419 — Todos gozam da vida e do espetáculo da criação, os sábios mais que todos pela ciência e reflexão.

2420 — A nossa vida se torna importante quando nos referimos a Deus em todos os seus atos, acidentes e vicissitudes.

2421 — Nas monarquias a cabeça rege os membros, nas democracias são os membros que governam o corpo.

2422 — As democracias tendem à monarquia como os corpos gravitam para o centro da terra.

2423 — A felicidade pela fortuna é de pouca duração; a que provém do trabalho, inteligência, economia e probidade tem maior extensão e permanência.

2424 — Raras vezes nos enganamos reputando os males da vida como expiações do nosso mau procedimento ou abusos no exercício dela.

2425 — O velho achacado é um padecente, que tem longa residência no oratório.

2426 — Uma doença crônica é ordinariamente motivo de uma vida longa pela temperança, abstinência e cautelas em que vivem os pacientes.

2427 — Para nos desencantarmos da terra florida, convém que olhemos freqüentes vezes para o céu estrelado.

2428 — O sábio vive tão humilhado da sua ilimitada ignorância, como o néscio orgulhoso pela opinião da sua abundosa sapiência.

2429 — Devemos felicitar os bons porque são tais, e lastimar os maus porque não são bons: há um fatalismo de circunstâncias na vida humana que muito contribui para a condição e procedimento de uns e outros.

2430 — O interesse de poucos traz enganados a muitos.

2431 — A poesia fala à imaginação, a filosofia à razão dos homens.

2432 — Os velhacos são maus calculistas, deixam a estrada geral e se perdem nos atalhos.

2433 — Se a vida é um dom de Deus para gozarmos, a morte, suposta a decadência do nosso corpo, é também outro dom para não sofrermos.

2434 — É malefício e não benefício dar liberdade a quem não tem juízo.

2435 — Em matérias graves e importantes os homens geralmente preferem ser enganados ao viverem em incerteza: neste pressuposto, surgem sempre loucos, entusiastas, visionários e impostores, que os salvam desse embaraço.

2436 — É necessário que os homens sejam o que são, para que o gênero humano satisfaça os fins para que foi criado e existe neste mundo.

2437 — Democratas na mocidade, os literatos, geralmente, se tornam monarquistas na velhice.

2438 — Enganar e ser enganado é talvez a sorte inevitável do gênero humano neste mundo sublunar.

2439 — Por uma condição da natureza humana, cada pessoa em sociedade trabalhando para si, trabalha também necessariamente para ela.

2440 — É necessário ocupar os homens, a religião contribui muito para lhes dar ocupação.

2441 — A quinquilharia literária ocupa e diverte a muita gente.

2442 — Somos passíveis pela vida, inofensíveis pela morte.

2443 — A queda dos tronos esmaga as nações.

2444 — O sono da morte exclui os sonhos e pesadelos da vida.

2445 — O riso e choro são freqüentes vezes contagiosos.

2446 — A ignorância nos homens é como a sabedoria em Deus: infinita.

2447 — Os maus e viciosos são algozes de si próprios.

2448 — Povos há que não são originais em coisa alguma, mas copistas servis, ou ridículas caricaturas das nações estrangeiras.

2449 — Os que procuram igualar têm por fim desigualar-se.

2450 — As idades extremas se assemelham, uma por insuficiência, a outra por deficiência.

2451 — Sentir e pensar são as duas faculdades essenciais da nossa alma unida a um corpo: sem a primeira, a segunda não teria princípio nem exercício.

2452 — Os poetas, fabulando e figurando o abstrato, têm feito maior mal à espécie humana, do que os filósofos abstraindo e teorizando.

2453 — A providência divina se difunde infinitamente e alcança o mais pequeno inseto infusório ou átomo vivente, como domina o maior dos mundos e o imenso universo.

2454 — Avistamos a providência e justiça divina nos menores acidentes, como nos maiores sucessos da vida humana.

2455 — As ruínas são neste mundo fecundas e produtivas de obras novas.

2456 — Nenhuma religião tem a seu favor a maioria do gênero humano, a qual professa cultos diversos e adversos.

2457 — Rimo-nos do acaso, quando sabemos que tudo está coordenado para ser o que é no sistema deste mundo.

2458 — A gloria póstuma é um sonho da vida que não alcança os mortos.

2459 — É tão limitada a nossa inteligência que sem o contraste dos males não poderíamos avaliar os bens da vida.

2460 — A imprudência nos moços promove a sua atividade, a prudência, nos velhos, a sua inércia.

2461 — Há uma ilusão muito vantajosa à espécie humana, a esperança individual de uma longa vida.

2462 — O que os poetas fabularam, os néscios acreditaram.

2463 — O mal dá mais ocupação e quê fazer aos homens do que o bem.

2464 — As falsas religiões acham no estudo das ciências naturais o seu maior adversário e contraditor.

2465 — Viver é gozar: o simples exercício das faculdades do corpo e potências da alma confere fruição e felicidade.

2466 — É coisa muito ordinária pensar bem e escrever mal.

2467 — A natureza veste e arma os animais, a inteligência, os homens.

2468 — É notável que os homens, inculcados por mais sabedores das coisas do outro mundo, foram os que mais ignoraram as da vida e mundo presente.

2469 — É necessário que o mundo material nos ocupe e distraia, o intelectual nos consome sem aquela distração.

2470 — Devemos lastimar a sorte e condição dos maus, talvez fôssemos piores do que eles com as mesmas circunstâncias, casos e acidentes da sua vida.

2471 — A preguiça perde e não ganha, a diligência ganha e não perde.

2472 — A paciência é fácil em quem goza e não sofre, mas difícil em quem padece e não goza.

2473 — Os viciosos sujeitos ao jugo de ferro dos seus vícios são os que ordinariamente mais se queixam do despotismo dos que governam.

2474 — A inteligência humana, admirável em suas produções intelectuais, ostenta nas livrarias a pompa da sua fecundidade e variedade.

2475 — Não basta recomendar aos homens a virtude em abstrato, é necessário exemplificá-la em seus numerosos casos, para que reconheçam na prática os seus graves e salutares benefícios.

2476 — O mundo refletido e meditado é mais admirável e admirado.

2477 — A posse ou fruição em sonhos de um bem que muito desejamos, ainda que ideal e fantástica, amortece ou extingue freqüentes vezes o desejo veemente que nos incomodava a seu respeito.

2478 — Amando os objetos vivos e sensíveis, não devemos esquecer-nos de que são mortais, e que havemos de perdê-los pela sua ou nossa morte.

2479 — Tudo é finito e limitado para os olhos, o infinito é avistado somente pela nossa inteligência.

2480 — Ambos consolam e esperançam os homens gravemente enfermos, os médicos e sacerdotes; os primeiros lhes prometem o restabelecimento da saúde, os outros lhes asseguram, no caso de morte, melhor vida no futuro e uma eternidade de bens.

2481 — Onde a ciência, virtude e lealdade não têm admiradores, a sociedade é inválida e conquistada pelos néscios, velhacos e traidores.

2482 — O vilão exaltado torna-se hirto e enfatuado.

2483 — A velhice é a idade dos desenganos, como a mocidade a das ilusões.

2484 — Tirai aos homens a vantagem das línguas e idiomas, e os vereis reduzidos talvez à inferior categoria dos bugios e orangotangos.

2485 — Quando estamos profundamente convencidos da infinita sabedoria, bondade e justiça de Deus, agradecemo-lhe os mesmos males e dores que nos afligem e atormentam na presente vida.

2486 — Nas cortes quem não lisonjeia, pouco granjeia.

2487 — Subi a Deus na vossa ventura, Ele descerá a vós na vossa desgraça.

2488 — Atraiçoamos os bons quando louvamos ou desculpamos os maus.

2489 — A razão humana não vale algumas vezes o instinto dos animais.

2490 — Homens há de muita valia, mas que não podem ser avaliados: são os sábios.

2491 — Custa a viver na velhice, há uma dificuldade de existir que faz a vida onerosa freqüentes vezes.

2492 — Os males da vida são os que nos unem em sociedade, sem eles seríamos insociáveis.

2493 — O que não tem extensão não pode ter mobilidade, nem localidade; os espíritos são incapazes de movimento e lugar sem os corpos organizados que os habilitam para isso.

2494 — A natureza é a sabedoria de Deus revelada nas suas obras.

2495 — A mudez do silêncio fatiga e vence freqüentes vezes a garrulidade da palavra.

2496 — O monarca deve ser para os seus povos como o sol, que, presente, comunica luz, calor, ação e movimento a quanto existe na esfera do seu lume perenal.

2497 — Os néscios tudo acreditam porque de nada duvidam, os inteligentes são refratários, exigem razão de tudo.

2498 — Fazei os homens admiradores de Deus pelo estudo da natureza, e vê-los-eis tornar-se bons e virtuosos por um poder misterioso e irresistível.

2499 — A riqueza doura a sabedoria, e a faz mais respeitável à ignorância.

2500 — Os velhos não devem pretender poder e mando sobre os outros homens, mas demonstrar que o alcançarão sobre si próprios.

2501 — Há muita gente que, como as abelhas, presumem trabalhar para si, quando o produto do seu trabalho é para os outros.

2502 — Em matéria de tirania, a menor é a de um ou poucos, a maior, a de todos ou a anarquia.

2503 — O homem mais ignorante é talvez o que menos sofre nas vicissitudes das coisas humanas: o pretérito o não aflige, nem o futuro o incomoda.

2504 — A vigília é peleja, o sono, armistício, a morte, paz.

2505 — Queremos, os velhos, o que não é possível conseguir: viver, descansar e não sofrer.

2506 — Onde tudo é ação e reação, é conseqüência infalível a recíproca destruição.

2507 — Sem probidade e prudência pouco aproveitam talentos e ciência.

2508 — A memória na velhice perde muito mais do que ganha.

2509 — O futuro existe em Deus: é uma evolução perene e eterna no espaço e tempo da sua infinita sabedoria, poder e bondade.

2510 — A vida mais breve é talvez a mais feliz como a viagem mais curta, a melhor apetecida.

2511 — O genuíno heroísmo é o do homem virtuoso, que espera e confia em Deus.

2512 — Tudo é falível neste mundo, menos a esperança e confiança em Deus.

2513 — A mulher é formada para amar, o homem para dominar.

2514 — Há uma soma de bens e males que se correspondem respectivamente e se tornam necessários para a renovação, conservação e perpetuidade deste mundo sublunar.

2515 — Os pródigos, desbaratando o seu, roubam depois o alheio.

2516 — Na mocidade, somos obrigados a tolerar as impertinências dos velhos, na velhice, os desvarios e extravagâncias dos moços.

2517 — Pelas leis gerais da ordem física e moral, os homens, os governos e as nações têm a sorte e vicissitudes que merecem.

2518 — Ainda que não possamos compreender totalmente o eterno, imenso e infinito, temos na idéia do ilimitado em tempo e espaço, noção suficiente do que significam e representam.

2519 — As nações, como as pessoas arremedando as outras, se desfiguram a si próprias.

2520 — Estudai a natureza, revelação divina, e chegareis a saber o que nenhum homem vos poderia dizer.

2521 — Acumulai riqueza, a morte vos forçará a deixá-la: ciência, podeis levá-la na bagagem da vossa alma.

2522 — Quem recorre à fortuna desconhece a providência.

2523 — Cada um de nós contribui com o seu contingente para o acervo da ciência humana; mas infelizmente este acervo compõe-se geralmente mais de erros e fábulas, do que de verdades.

2524 — A ordem pública periga onde se não castiga.

2525 — Os afortunados não sabem desculpar os desgraçados.

2526 — Sentimos satisfação no que fazemos por devoção, e coação no que executamos por obrigação.

2527 — É tal a diversidade da cor verde no reino vegetal, que se torna impossível qualificar, numerar e denominar as suas variedades.

2528 — As verdades não fazem seitas, são os erros, fábulas e disparates, que as constituem.

2529 — Variedade e reprodução parecem ser os dois principais objetos que ocupam a natureza neste mundo, tão numerosas ou inumeráveis são as providências observadas para que elas não faleçam em tempo algum.

2530 — Nos crimes denominados políticos, os mais ativos advogados dos réus são os seus próprios cúmplices e auxiliares.

2531 — O absolutismo bem entendido é o corretivo da liberdade mal compreendida.

2532 — Um grande mérito intelectual escusa e dispensa a importância vulgar que confere o luxo exterior e pessoal.

2533 — Os velhos de caráter firme e saber profundo só se rendem e são vencidos pela morte.

2534 — Os festejos públicos divertem os moços e dão motivo à reflexão dos velhos.

2535 — Os sábios são loucos de uma superior hierarquia intelectual, ordinariamente insociáveis pelo desprezo ou negligência das fórmulas cerimoniosas, que a civilidade tem estabelecido entre os homens em sociedade.

2336 — Ninguém é tão exagerado em suas pretensões como aquele que menos merece ser atendido pela sua incapacidade ou indignidade.

2537 — O exercício de caloteiro é de pouca duração: em breve tempo inutiliza a profissão.

2538 — Cada vulcão na terra é um farol para o mar.

2539 — É coisa pouca o homem quando se considera que a riqueza, nobreza, autoridade e ciência não o podem salvar da morte e fazê-lo imortal.

2540 — Se a indústria humana nada faz e produz sem um fim e aplicação especial, como é possível que haja uma só obra ou produto da natureza sem uma destinação benéfica geral ou particular?

2541 — O mal é para o bem como a pedra de toque para o ouro, que faz distinguir e avaliar os seus quilates.

2542 — A civilidade contribui muito para perpetuar os vícios e defeitos dos homens fingindo desconhecê-los, ou dissimulando a impressão escandalosa que ocasionam.

2543 — A prudência exaure a paciência.

2544 — As entidades espirituais não podem existir sem corpos organizados que as ponham em relação com o universo material; do que observamos neste mundo podemos inferir o que se passa nos outros globos.

2545 — Os males da velhice podem ser considerados como expiações da vida presente no seu trânsito para a futura.

2546 — Não admira que os tolos e néscios idolatrem os velhacos, quando os governos, por imprudentes ou fracos, os respeitam e promovem.

2547 — Avaliamo-nos sempre mal quando cada um de nós se considera o legítimo padrão da avaliação dos outros homens.

2548 — A viagem para a outra vida é a mais cômoda e a menos dispendiosa possível: não exige provisões, bagagem nem condução.

2549 — Os curiosos e apaixonados de novidades devem desejar morrer: que de coisas novas, desconhecidas e portentosas, na outra vida e nos outros mundos!

2550 — Sabemos pouco da vida presente, e da futura muito menos ou quase nada.

2551 — Todos mentimos exagerando para mais ou para menos o que vimos, ou nos disseram.

2552 — Escrevendo para nossa glória, trabalhamos em serviço e benefício dos outros homens.

2553 — A morte é um grande bem quando a vida se tornou o maior dos males.

2554 — A liberdade é como o vinho, pouco fortalece, muito enfraquece.

2555 — Uma ciência fabulosa constitui a maior parte da humana sapiência.

2556 — A suspensão, remoção ou cessação de um grave mal são reputadas pelos pacientes como um grande bem: deixar de sofrer é também gozar.

2557 — Os povos não se contentam com o natural querem o maravilhoso e nunca falta quem os engane inculcando por tal o que existe e se compreende na ordem universal da natureza.

2558 — O jogo da vida e eventos no gênero humano é (sic) tão admirável como misterioso; parecendo fortuito, está sujeito às leis de uma ordem maravilhosa, e coordenado de maneira que resulta do seu complexo, prêmio à virtude, castigo ao vício e ao crime.

2559 — Os achaques da velhice enfraquecem e eclipsam a nossa razão, e nos entregam sem recurso à influência e autoridade dos néscios, visionários e impostores.

2560 — Os que melhor dissertam sobre a virtude não são ordinariamente os mais virtuosos.

2561 — A ambição pode muito em uns homens, em outros, a vaidade, em todos, o interesse.

2562 — Acautelai-vos das pessoas de uma requintada civilidade, a genuína benevolência tem uma certa rudeza natural que a legitima.

2563 — E necessário, para que haja uma história variada do gênero humano, que ele seja o que é, e como foi constituído pela divina sapiência neste mundo planetário.

2564 — Gozamos sonhando de bens e prazeres que nunca poderíamos esperar conseguir acordados.

2565 — É na velhice que os doutos joeiram os seus conhecimentos adquiridos, e reconhecem com bastante mágoa que poucos têm ou merecem o título de verdades.

2566 — Quereis ser sábios, estudai a natureza: justos, estudai a natureza: felizes, estudai a natureza. A natureza é uma revelação perene da divindade.

2567 — A morte limita-se à vida corporal e orgânica; a substância misteriosa ou princípio simples, sensível e inteligente que a domina em sua união, pode ser mortal e destrutível, é talvez uma emanação do Ser eterno que a difunde sem exaurir-se.

2568 — Os maldizentes serão malditos, como os bendizentes benditos.

2569 — O gênero humano é o que Deus quis que fosse, nem mais nem menos.

2570 — Nunca se acha tanta ignorância como nas pessoas que presumem saber mais do outro mundo do que deste.

2571 — O século da poesia não é ordinariamente o da razão e das verdades, mas o da imaginação, fábulas e ilusões: pode-se unicamente dizer em seu abono que é o precursor da filosofia.

2572 — Os homens gozam e sofrem como tais: são premiados e castigados segundo o seu bem ou mal fazer no mesmo teatro da sua representação social.

2573 — Quando nos comparamos com os outros homens, o nosso amor-próprio, avaliador suspeito, descobre sempre um saldo a nosso favor.

2574 — Todos podem ler na natureza e estudá-la em uma linguagem universal, que tem por alfabeto os sentidos corporais e as potências da alma.

2575 — A extensão substancial rarificada se espiritualiza, condensada, se materializa.

2576 — Em nada os homens desatinam tanto como em política e religião.

2577 — As pessoas distinguem-se também pela voz; esta varia com as idades e nos sexos, e tem um caráter original em cada uma das individualidades de que se compõe a espécie humana.

2578 — De que nos serviria a outra vida se o nosso espírito não conservasse o cabedal de idéias e conhecimentos que adquiriu na primeira, e perdesse a memória da sua identidade individual e intelectual?

2579 — É notável que em certas e importantes matérias o que os homens presumem saber melhor é o que ignoram inteiramente.

2580 — A vida é menos revolucionária do que a morte: esta rompe em um instante a teia dos eventos que aquela fabricou por muitos anos.

2581 — A sabedoria confere aos homens uma especial independência pelos prazeres sensuais que escusa, e os intelectuais que possui.

2582 — São muitos os homens que, descontentes de si e não podendo viver sós, importunam e incomodam os outros com visitas.

2583 — Os males de algumas nações procedem da forma dos seus governos, especialmente depois que publicistas filósofos e utopistas se encarregaram de fabricar-lhes constituições.

2584 — Compreender a Deus seria compreender o infinito, a imensidade: criaturas limitadas no espaço e tempo são incapazes de tão sublime compreensão: Deus somente se compreende a si.

2583 — São idades fabulosas as da puerícia e adolescência, heróicas, as da juventude e virilidade, racionais, as da madureza e senectude.

2586 — A educação das mulheres é mais obra da natureza que a dos homens.

2587 — Toda a felicidade vem de Deus: de qualquer modo que gozemos, é sempre de Deus que gozamos, autor de tudo e da nossa vida.

2588 — A genuína maioridade é o juízo que a confere, e não a idade.

2589 — O castigo acompanha o delinqüente, e, ainda que ronceiro, o alcança finalmente.

2590 — Nenhum sucesso é sobre-humano, ou extramundano: tudo o que observamos no jogo social, moral e político das nações é o que deve ser segundo a constituição, natureza e destinação do gênero humano no sistema deste mundo.

2591 — Devemos lastimar os maus e agradecer a Deus não sermos tais.

2592 — Enganamo-nos com os homens, porque afetam geralmente parecer o que não são.

2593 — Viver em tudo com referência a Deus é viver racional e religiosamente.

2594 — Do teatro deste mundo saem a cada instante inumeráveis atores aos quais sucedem imediatamente outros para que continuem e se executem sem interrupção os dramas infinitamente variados que nele se representam.

2595 — Tudo é falível neste mundo, menos a esperança e confiança em Deus.

2596 — A morte equilibra as vidas mantendo umas à custa de outras.

2597 — São inumeráveis os céus, cada mundo tem o seu privativo, abrilhantado também de estrelas colocadas ou esparzidas por diverso modo do que se nos representa o que avistamos.

2598 — Imaginai outras cores que não sejam o azul nos céus e o verde na terra, e achareis que nenhumas são tão belas, deleitam e fortificam mais a nossa vista do que aquelas.

2599 — Se Deus não compreendesse também o universo, este o limitaria deixando de ser imenso e infinito.

2600 — Os vícios convivem com os crimes e lhes fazem companhia.

2601 — Fala-se muito em economia onde é menos observada, e em liberdade, onde tudo é anarquia.

2602 — Há nas famílias, povos e nações do mundo as mesmas vicissitudes e variações como na atmosfera que circunda a terra, onde tudo tende a equilibrar-se sem que possa verificar-se um perfeito equilíbrio e permanente harmonia.

2603 — Os traidores se associam, mas não se amam nem se confiam.

2604 — Há muitas coisas que os néscios presumem saber, e que os sábios confessam ingenuamente que ignoram.

2605 — É na imensidade de Deus que tudo se forma e se resolve para ser renovado e reformado com variedade e novidade por toda a eternidade.

2606 — Quando nada esperamos dos homens, mas tudo de Deus, preferimos o retiro e reclusão à sociedade e companhias.

2607 — Os lisonjeiros desprezam e aborrecem interiormente aqueles mesmos a quem mais louvam e divinizam externamente.

2608 — Os maus exemplos e más doutrinas revertem ordinariamente em dano daqueles que os deram e as inculcaram, e dos povos que as aprovaram ou toleraram.

2609 — A reflexão é tão necessária à nossa alma, como a digestão ao nosso corpo.

2610 — Os instintos da sociabilidade podem mais que as instituições humanas, e corrigem muitas vezes a sua incongruência ou malignidade.

2611 — Não podemos promover e zelar o nosso interesse individual sem cooperar direta ou indiretamente para o geral: não há egoísmo absoluto.

2612 — Os vícios inveterados nunca mais são extirpados.

2613 — Não podem haver dois infinitos; se o bem é tal, o mal é temporário e limitado.

2614 — A velhice nos torna de algum modo independentes do mundo material, embotando os nossos sentidos, e reduzindo muito as faculdades de gozarmos sensualmente.

2615 — Somos idênticos nas diversas idades quanto à nossa alma, mas não respectivamente aos nossos corpos.

2616 — Se os homens não fossem loucos, a história não teria materiais nem assunto para os seus trabalhos.

2617 — A sabedoria é sintética, resume tudo.

2618 — A vida nos faz dependentes, a morte nos confere a independência.

2619 — Para agradar a todos, fora necessário poder identificar-nos com cada um, o que não é possível.

2620 — Nos governos fracos ou mal constituídos, os ambiciosos e anarquistas especulam em insurreições e rebeliões, esperançados na impunidade, anistias e cumplicidade de muita gente associada aos seus planos subversivos e revolucionários.

2621 — É péssima especulação querer subir maldizendo: o que assim pensa e obra desce, abisma-se e não sobe.

2622 — E necessário que os moços e velhos sejam o que são, para que o gênero humano seja o que dever ser.

2623 — A liberdade da imprensa em alguns países é a faculdade de anarquizar, seduzir e sublevar os povos impunemente.

2624 — Não devemos lamentar os mortos, que já não sentem, mas os vivos, que padecem porque são sensíveis.

2625 — Os homens hábeis para destruir são inábeis para construir.

2626 — Os piores revolucionários são os que se abrigam com o manto da monarquia.

2627 — Quando deixamos de gozar de Deus? todos os bens e prazeres da vida, ou provenham da natureza ou da inteligência humana, têm Nele a sua origem, causa e fundamento. Deus é o bem universal, e o manancial eterno de todos os bens do universo.

2628 — O progresso no conhecimento e amor de Deus pelo estudo, exame e fruição das suas obras maravilhosas, é o que se deve entender por ver a Deus objeto sacrossanto de uma eterna felicidade.

2629 — Sem o estudo das ciências naturais ninguém é sábio nem pode sê-lo: todo o saber vem de Deus, e se revela nas suas obras.

2630 — A inteligência se limita quando se revela nos corpos figurados que a representam.

2631 — A credulidade dos néscios os sujeita à autoridade, promove a sua obediência, e é profícua neste sentido à sociedade.

2632 — Não podendo fazer-nos imortais, cuidemos em produzir obras tais que perpetuem a nossa memória com louvor na geração presente e nas futuras.

2633 — Amai a Deus que não morre, não idolatreis o que é mortal.

2634 — Os maus não têm longa duração: o mal é neles um elemento de indefectível destruição.

2635 — Há impostores em literatura como em política e religião: superficiais e interesseiros têm em vista somente os empregos e promoções que esperam conseguir alardeando de literatos.

2636 — A mocidade encanta, a velhice desencanta os homens.

2637 — Quanta lida para tão pouca vida! assim exclamava um homem quase agonizando.

Que reflexões não sugere o dito deste moribundo! Ambiciosos, que vos agitais em um pélago de intrigas e ilusões, ponderai, na verdade deste rifão e sereis desencantados.

2638 — É necessário que nos reconheçamos velhos quando somos tais, mudando ou alterando razoavelmente a forma e teor da nossa vida ordinária.

2639 — Os moços têm os sentidos agudos, convém-lhes adquirir idéias; os velhos os têm obtusos, deviam já tê-las adquirido.

2640 — O espirito é o ponto matemático da metafísica.

2641 — Quando se considera que é infinito o que podemos aprender, saber e admirar, e a felicidade progressiva que nos pode resultar do estudo e fruição das obras maravilhosas de Deus por toda a eternidade, nos horrorizamos da idéia falsa e terrível da extinção total do nosso ser depois da nossa morte neste mundo.

2642 — Deus nos vê, nos ouve, e conhece os nossos pensamentos e intenções mais secretas: ai de quem o não acredita!

2643 — Quando estamos convencidos profundamente da infinita sabedoria e poder de Deus, não há males na vida humana, por maiores que sejam, que não possamos vencer confiados e esperançados na divina bondade e proteção.

2644 — Um bem infinito exclui e não consente mal eterno.

2645 — Cessa a prudência quando lhe falta a paciência.

2646 — Não há lugar vazio na imensidade do espaço, Deus tudo enche e ocupa com a plenitude do seu ser infinito, e a soma ilimitada das suas obras infinitamente variadas e assombrosas.

2647 — Não é o morrer que dói, mas o viver padecendo.

2648 — A proteção dos maus compromete os bons.

2649 — O velhaco não pode ser sincero, a sinceridade faria abortar os seus planos.

2650 — Entidades fabulosas, umas boas, outras malignas, incorporadas nas crenças e cultos religiosos, antigos e modernos, foram sempre criaturas da imaginação, ignorância e impostura humana: a razão e natureza debalde as reprovam e recusam, a credulidade dos homens é mais poderosas do que elas ambas.

2651 — Devemos amar a Deus por ser bom, temê-lo porque é justo, adorá-lo e admirá-lo por onisciente e onipotente.

2652 — As pessoas pobres e indigentes mantêm muitos animais domésticos para exercerem sobre eles o império e mando, que a sua condição não lhes permite ter sobre os outros homens.

2653 — Pode avaliar-se o estado moral e intelectual das nações pelas pessoas a quem liberalizam o título de grandes homens.

2654 — O homem não seria criatura moral se não fosse social.

2655 — A cada instante se desatam da árvore da vida inumeráveis folhas substituídas por outras que de novo brotam, não convindo que fiquem despidos o seu tronco e ramos, mas sempre cobertos e frondosos. A árvore da vida é o reino animal, as folhas que caem, os viventes que morrem, surgindo outros de novo que nascem para lhes suceder.

2656 — A categoria da nossa existência nas vidas futuras será correspondente ao nosso bom ou mau procedimento nas antecedentes.

2657 — É tal o nosso amor à nossa individualidade, que a morte, porque a destrói, é reputada o maior dos males.

2658 — Não convém parar no caminho do progresso, o que chegou à sabedoria deve cuidar em subir também à santidade, que consiste na perfeição ou excelência moral e religiosa.

2659 — A nossa alma é emanação de uma unidade substancial, divina, misteriosa e ilimitada, que se difunde pela imensidade do espaço, e vivifica todas as criaturas sensíveis e inteligentes sem exaurir nem desfalcar-se.

2660 — O velho desencantado pode avaliar-se inutilizado.

2661 — A renovação e perpetuidade deste mundo e do universo demonstra a sabedoria infinita que os constituiu, e a ordem maravilhosa a que obedecem e estão sujeitos.

2662 — Nada se perde da vida geral e individual, toda provém da divindade e se resolve nela.

2663 — Vivemos e morremos envolvidos em um turbilhão de dúvidas, enigmas, arcanos e mistérios, que não podemos resolver, decifrar, nem compreender.

2664 — Liberal e anarquista são sinônimos freqüentes vezes.

2665 — A mesma substância pode ser qualificada material ou imaterial, conforme se faz ou não perceptível aos nossos sentidos.

2666 — Toda a natureza é simbólica, figura, representa e revela os divinos atributos do criador do universo.

2667 — A vida é misteriosa como a fonte divina de que procede.

2668 — Para o sábio tudo é ordem, o néscio acha desordem em tudo.

2669 — O trovão é a voz do onipotente regando a terra, refrescando o ar, e com o fogo elétrico, reanimando os reinos animal e vegetal.

2670 — Navegando no arquipélago proceloso da vida não devemos perder de vista o porto do nosso destino.

2671 — Vemos a Deus nas cidades, na admirável variedade das produções da indústria humana, vemo-lo nos campos, nas obras maravilhosas e assombrosas da natureza, vemo-lo finalmente em nós mesmos, que o estudamos, admiramos, amamos e adoramos, em conseqüência das faculdades e inteligências com que nos enriquecerão a sua divina bondade e beneficência.

2672 — As virtudes não têm o mesmo polimento dos vícios, mas uma certa rudeza natural que as constitui genuínas.

2673 — Sem extensão não pode haver desigualdade: os espíritos são perfeitamente iguais por sua natureza imaterial; a variedade em suas faculdades e potências depende da diversidade dos corpos organizados a que estão unidos, os quais promovem ou limitam a sua expansão e exercício.

2674 — Podemos consolar-nos de ser mortais, não há exceção na lei geral.

2675 — A morte cura os achaques que a velhice torna incuráveis.

2676 — Somos fortes pela virtude, fracos e covardes pelos vícios e crimes.

2677 — O mal físico é tão importante no sistema deste mundo, que sem ele o mesmo mundo deixaria de ser o que é, e não sabemos o que seria.

2678 — Queremos todos ser felizes; mas cada um de nós define a felicidade a seu modo e diversamente dos outros: é providência divina que assim seja para que a felicidade chegue a todos pela variedade e diversidade dos objetos apetecidos e reputados capazes de fazer felizes pela sua posse e fruição.

2679 — A criação, sendo uma solene manifestação da infinita sabedoria; de Deus é igualmente o objeto, argumento e demonstração da sua eterna bondade e beneficência.

2680 — Na existência neste mundo não podemos duvidar da necessidade de um corpo unido à substância que chamamos alma; poderá esta existir sem ele nos outros mundos e sistemas? é provável que não.

2681 — Os homens enganam-se com a idéia de um progresso material e intelectual que esperam neste mundo, e que só pode verificar-se em outros e outras vidas.

2682 — Não podemos acumular todos os bens nem todos os males da vida humana.

2683 — Enganamo-nos ordinariamente sobre o modo de sentir e pensar dos outros homens quando os avaliamos por nós; cada qual é um original sem cópia.

2684 — A vingança não diminui o mal sofrido, e ocasiona freqüentes vezes outros maiores.

2685 — A facilidade e presteza com que alguns povos adotam as modas estrangeiras demonstram a sua leviandade, falta de caráter, juízo e nacionalismo.

2686 — Os escritores e artistas têm, como as plantas, um tempo de florescência e frutificação, passado o qual se tornam estéreis, exaustos e sem novidade atendível.

2687 — A multidão de legisladores ameaça a ruína das nações, como o grande número de médicos faz recear a morte dos enfermos.

2688 — As fábulas que os homens imaginaram para explicar os fenômenos e sucessos cujas causas ignoravam, serviram depois para ofuscar a razão humana, e torná-la incapaz de atinar com elas e descobri-las.

2689 — Erramos, aprendemos e somos enganados até morrer, por maior que seja a nossa idade, experiência e sapiência.

2690 — São estéreis nos homens a primeira e última idade, e produtivas as intermédias.

2691 — Pode haver, e é provável que haja nos outros sistemas e mundos, criaturas vivas, que não sendo impassíveis pela sua organização corporal, se tornem tais pela sua superior inteligência.

2692 — Nas revoluções populares ou de anarquistas surgem de repente com vida efêmera os falsos heróis e grandes homens, como nos estrumes e madeiras podres, volumosos cogumelos 2693 — Atores no teatro deste mundo, devemos retirar-nos da cena quando, pela nossa velhice e achaques, reconhecemos não poder executar dignamente os papéis que nos incumbem.

2694 — São infinitos os meios de que a providência divina se serve para chegar aos seus fins, muitos deles, que pareceriam à ignorância humana adversos, operam com maior eficácia e prontidão.

2695 — Mundos haverá onde criaturas privilegiadas tenham olhos telescópicos para descobrir o que se passa em outros orbes mais vizinhos.

2696 — Onde a lealdade não está em moda, os traidores se reproduzem como os pólipos.

2697 — As calamidades públicas, castigando os povos corrompidos e anarquizados, os impelem à reforma moral, política e religiosa de que mais necessitam.

2698 — Os insignificantes exaltados tornam-se enfatuados.

2699 — A poesia deleita na mocidade e enfastia na velhice.

2700 — Podemos tornar-nos menos passíveis neste mundo promovendo a nossa inteligência pelo estudo, ciência, experiência e virtudes, conhecendo melhor a natureza dos males e suas fontes, e podendo conseqüentemente preveni-los, removê-los, neutralizá-los e transformá-los em bens.

2701 — A felicidade do velho achacado é negativa, consiste em não sofrer.

2702 — Seus animais trabalham para os homens, estes, em retribuição, são forçados a trabalhar também para os manter e pensar, sendo os seus serviços freqüentes vezes mais abjetos e penosos do que os deles.

2703 — Quanto mais estudamos a Deus nas suas obras maravilhosas, mais o admiramos, e menos o compreendemos.

2704 — Os espíritos ou átomos indivisíveis e imortais preexistem à sua união com os corpos organizados; antes dela, não têm consciência da sua existência, nem podem ter o exercício das faculdades sensíveis e intelectuais que os distinguem, e só podem ser provocadas pela ação do mundo externo sobre os órgãos, sentidos e contextura dos corpos a que são unidos.

2705 — A nossa alma sofre pela velhice do corpo como gozou pela sua mocidade, condutor de bens e de males, ele a sujeita às suas fases e vicissitudes.

2706 — Os enigmas e mistérios da natureza são tantos para os homens que melhor a têm estudado, que por fim, humilhados do seu pouco saber, se declaram profundamente ignorantes.

2707 — Quando os espíritos ou átomos indivisíveis se unem e se condensam, então se materializam, ganham extensão, forma, figura e densidade, e tornam-se capazes de localidade, ação e movimento.

2708 — Os estrangeiros devem admirar-se da docilidade ou imbecilidade de alguns povos, que sem razão alguma suficiente adotam indiscriminadamente as suas modas, por mais extravagantes ou incômodas que sejam.

2709 — As noções sublimes de uma outra vida, e de um progresso intelectual ilimitado, não foram outorgadas pela divindade para nossa ilusão: se o gênero humano crê e espera semelhantes bens é porque tais crenças e esperanças lhe foram sugeridas por Deus, que não engana nem pode ser enganado.

2710 — Embebei-vos em Deus, impregnai-vos de sua sabedoria pelo estudo das suas obras, e tereis nesta vida uma prelibação da bem-aventurança eterna.

2711 — O sábio é o homem menos terrestre e mais celestial que os outros.

2712 — Somos maus calculistas, receamos males que não vêm, e esperamos bens que nunca chegam.

2713 — Há uma felicidade positiva, que consiste em gozar; e outra negativa, em não sofrer.

2714 — Os vocábulos de mais difícil definição são os monossílabos: bem e mal.

2715 — Somos todos os viventes filhos de Deus, a sua paternidade criadora deu-nos o ser para nos fazer felizes.

2716 — O mundo material e mecânico tem uma relação tão íntima com o sensível e vivente que por intuição se conhece serem ambos constituídos essencial e necessariamente um para o outro; sem o primeiro, o segundo não podia existir, sem este, aquele se tornaria caótico, inexplicável e insignificante.

2717 — O jogo das paixões e opiniões humanas é tão variado e complexo que não deve estranhar-se a diversidade assombrosa de casos e sucessos que ocasiona na vida individual, familiar e social.

2718 — É muito limitada a nossa inteligência: não podemos compreender o máximo infinito, nem o mínimo infinitésimo da imensidade.

2719 — Sendo cada homem um original sem cópia, as suas enfermidades tomam também um caráter especial que difere em todos.

2720 — A variedade do procedimentos dos homens deriva geralmente da diversidade de suas opiniões sobre a felicidade: diferindo quanto à sua natureza e objetos, devem também diferir nos meios e atos para os procurar e conseguir.

2721 — A individualidade humana se extingue pela morte; outra qualquer que dela derive e lhe sobreviva é de natureza abstrusa e incompreensível à nossa inteligência.

2722 — Uma boa letra não anuncia ordinariamente superior capacidade.

2723 — Compete somente aos velhos formular máximas e sentenças morais, os moços, por falta de ciência e experiência, não as podem compor nem compreender exatamente.

2724 — A intriga que ocupa e diverte os moços assusta e incomoda os velhos.

2725 — Ainda não morremos uma vez; quem sabe se o instante da morte não é aprazível e voluptuoso? alguns sintomas externos parecem anunciá-lo, como uma epilepsia de sensual prazer.

2726 — Um homem reputado de saber, juízo e virtude, dá sujeição à muita gente.

2727 — Dissimulamos ordinariamente para poupar-nos o trabalho, ou risco de refutar ou impugnar o que vemos e ouvimos.

2728 — Em matéria de religião, deve crer-se tudo o que é compatível com a idéia ou noção de um Deus eterno, imenso, infinitamente sábio, poderoso, bom, justo e providente, e rejeitar quanto for oposto ou repugnante com estes seus divinos atributos.

2729 — É necessário dourar ou envernizar a vida para ocultar a frágil consistência do seu fundo material.

2730 — Enganar e ser enganado é talvez a sorte inevitável do gênero humano neste mundo sublunar.

2731 — As flores deleitam a vista e o olfato, os frutos também, o paladar, pelo seu sabor.

2732 — Figurai-vos extinto o mal para a vida humana, e vereis acabar todo o jogo, ação e movimento dos homens no teatro deste mundo.

2733 — O sistema de impunidade é também o promotor dos crimes.

2734 — A luz dá cor aos corpos e os faz parecer distintos, as trevas os igualam e confundem.

2735 — Não sabemos avaliar a saúde quando a temos, lamentamos a sua falta quando a perdemos.

2736 — O sucesso se torna necessário, pressupostos os antecedentes que precederam e determinaram a sua existência na ordem dos eventos deste mundo.

2737 — Descobrimos tanta ordem, correspondências, proporções, simetria, harmonia e relações tão ajustadas nas obras da natureza que devemos considerar-nos em erro quando se nos figura alguma coisa irregular, anomalia sem desígnio, fim nem aplicação.

2738 — O nascimento ilustra os nobres, o procedimento os que o não são.

2739 — São poucos os homens que chegam idade dos desenganos, a maior parte falece na dos erros, ficções e ilusões.

2740 — Nada sucede que não tenha uma razão suficiente de haver sucedido.

2741 — Tudo é limitado nos entes criados, tudo infinito em Deus; daqui provém que não possamos compreender nem calcular a extensibilidade assombrosa da ação divina sobre os átomos infinitésimos e elementares da matéria universal da criação.

2742 — A leitura é um grande lenitivo para a velhice nos achaques que a incomodam, e reclusão a que obrigam.

2743 — Somos sempre enganados sonhando, e freqüentemente acordados.

2744 — Há mistérios profundíssimos na natureza, que não é dado aos homens penetrar e compreender; se isso lhes fosse possível, deixariam de ser tais, e se tornariam entes de diversa natureza.

2745 — Nas monarquias, as revoluções na corte e ministérios são tão freqüentes como raras entre os povos; aquelas, dependem da vontade de uma ou poucas pessoas, as populares, do concurso de inumeráveis individualidades.

2746 — A mobilidade, que sobeja na mocidade, falece na velhice.

2747 — Há uma ignorância universal que presume saber o que ignora, e explicar o que não compreende, e que se ufana do seu império sobre o entendimento e razão humana.

2748 — Constituídos e organizados como somos, devemos considerar a morte como um grande bem; eterna seria a nossa desgraça e agonia se pudéssemos enfermar, envelhecer e padecer sem morrermos.

2749 — Sem a substância a que chamamos matéria, de que serviria a inteligência? esta se tornaria estéril, inútil ou inteiramente nula.

2750 — A política moderna afugenta a moral antiga.

2751 — Na vida política social como na individual toleram-se ou desprezam-se os pequenos males; mas quando se agravam desmesuradamente, procura-se com ansiedade o remédio, e não se escusa meio algum de o conseguir, recorrendo-se até às operações mais violentas, dolorosas e arriscadas.

2752 — Estudai os instintos, conhecereis os meios, uns e desígnios da natureza nos viventes de sua produção.

2753 — O grande erro dos políticos modernos consiste em aplicarem indistintamente aos povos em geral as instituições mais liberais, sem atenderem à sua especial capacidade moral e intelectual.

2754 — Tudo o que está fora da esfera da nossa sensibilidade é como se não existisse para nós; não pode ser agente nem paciente a nosso respeito, é recíproca a sua e nossa independência.

2755 — Um inundo é um sistema de entidades e coisas concebido na mente divina, e realizado pela sua onipotência; é tal, nem pode ser outro diverso do que o mesmo Deus quis que fosse com relação ao sistema universal da natureza.

2756 — O anarquista maldiz de todos os governos de que não partilha as vantagens.

2757 — O progresso individual é pouco sensível, o coletivo ou geral da espécie humana é mais distinto e notável.

2758 — Uma unidade distinta e prestadia se inutiliza ordinariamente formando parte de um corpo coletivo.

2759 — O verdadeiro sábio é um homem excepcional na família racional da espécie humana.

2760 — Os sonhos, com o nome especioso de visões e revelações, têm contribuído muitas vezes para iludir e enredar os homens nas suas opiniões e crenças religiosas.

2761 — Em um povo ignorante, o chefe deve ter a mesma autoridade absoluta que a natureza confere ao pais sobre seus filhos meninos e menores.

2762 — Somos simultaneamente escravos e senhores do tempo que a abstração humana criou, dividiu e classificou em anos, meses, dias, horas e minutos.

2763 — Pode avaliar-se o caráter das pessoas pela maneira porque tratam os animais domésticos, próprios ou alheios.

2764 — O sono tem por auxiliar o silêncio.

2765 — O suicida marca a hora da sua morte e o limite da sua vida.

2766 — Alegria e riso, tristeza e choro formam o mosaico da vida humana.

2767 — A morte é incorruptível, não se deixa subornar.

2768 — Deus escreve direito por linhas tortas: é um dito vulgar de muito profunda significação.

2769 — De quantos males nos temos queixado neste mundo que deram ocasião aos nossos maiores bens!

2770 — Podemos ver e conhecer de algum modo a Deus pelos nossos sentidos, estudando e admirando as suas obras; mas quando queremos elevar-nos ao estudo e compreensão da essência e natureza, o nosso espírito se confunde, desatina, e se perde na sua imensidade.

2771 — Nunca os povos são tão mal governados como quando muita gente se encarrega de governá-los.

2772 — Há muita gente feliz sem saber que o é, e que se considera desgraçada por não conhecer ou não haver experimentado os numerosos males da vida humana, contrastes indispensáveis para uma exata avaliação dos inumeráveis bens da mesma vida.

2773 — O material é o invólucro do espiritual, o objetivo, do intelectual, e finalmente o símbolo e expressão da inteligência.

2774 — O bem e o mal significam dois modos de sentir e existir em nós, gozar e sofrer: ambos têm a sua origem na sensibilidade orgânica do nosso corpo unido à unidade sensível e inteligente da nossa alma.

2775 — A traição promovida desalenta a lealdade preterida.

2776 — Os homens de juízo e experiência adivinhão com freqüência.

2777 — Nas cortes, pequenos acidentes produzem grandes acontecimentos.

2778 — Os mundos, como os homens, são também mortais.

2779 — No estudo da natureza erramos ordinariamente, inferindo mais do que ela inculca nos seus fenômenos e produções.

2780 — O medo exclui ou amortece o amor.

2781 — Muitos dos fenômenos misteriosos deste mundo, seriam melhor explicados e entendidos, decidindo-se que o mesmo mundo é também criatura viva e animada por um espírito de superior categoria e transcendente inteligência.

2782 — As pessoas de inteligência medíocre ou vulgar são muito ambiciosas de governar; desconhecem importância e risco do poder e mando, e só atendem a sugestões da sua ridícula fatuidade.

2783 — Uma das maiores maravilhas para o estudo e admiração dos homens é a correspondência e relação recíproca dos nossos sentidos com a natureza material deste mundo e do universo 2784 — A impertinência e rabugem da velhice procede em algumas pessoas do tédio e fadiga de sofrer por muitos anos a turba incômoda de loucos, tolos, néscios e velhacos.

2785 — As ruínas de uns governos e cultos religiosos têm servido de elementos e materiais para a formação de outros.

2786 — Se amamos a nossos pais, porque contribuíram materialmente para a nossa existência, que amor não devemos a Deus, que concebeu o tipo do nosso ser, e o realizou no espaço e tempo pela sua paternidade criadora?

2787 — Inventariando e avaliando na velhice os nossos conhecimentos, reconhecemos com mágoa poucas verdades e inumeráveis erros.

2788 — Se os homens fossem impassíveis, seriam inativos e inamovíveis, não haveria motivo algum que os impelisse à ação e movimento voluntário.

2789 — Quando um povo soberanizado se acostumou impunemente ao perjuro, ingratidão e traição, é dificílimo reduzi-lo à lealdade e obediência às autoridades supremas do Estado: a anarquia é o seu elemento predominante.

2790 — A velhice quer descanso, a morte lho dá perene.

2791 — Uns querem ordem porque receiam perder, outros promovem a desordem porque esperam ganhar por ela.

2792 — São os ignorantes os que presumem saber mais das coisas de outro mundo, e os sábios os que confessam saber menos ou nada a tal respeito.

2793 — Lemos os nossos escritos com o mesmo prazer com que vemos a nossa imagem nos espelhos, aqueles retratam o nosso espírito, estes, a nossa fisionomia.

2794 — Os sábios não brilham por modestos, falta-lhes a proterva dos charlatães.

2795 — Os vícios e crimes andam sempre em companhia.

2796 — Perdemo-nos na imensidade porque fomos formados somente para a localidade.

2797 — Não desespereis nas grandes crises da vossa vida, esperai confiando em Deus e vereis prodígios da sua infinita beneficência.

2798 — As máximas salvam os que as compõem de explicações e comentários, que os fariam ainda mais impopulares do que já são ordinariamente por aquele gênero de escritura e composição.

2799 — Os homens vivem em um engano e ilusão constantes, ocupados na curta esfera deste mundo, que consideram como um todo vastíssimo, não sendo mais que um átomo infinitésimo no sistema imenso da criação; dando-se uma importância ridícula a tudo que lhes pertence, parecem desconhecer que as doenças e a morte denunciam a sua miséria e ignorância, e que toda a sua grandeza e glória terrestre se reduzem em breves instantes a pouca cinza e pó.

2800 — A embriaguez do amor, como a do vinho, impele a iguais desatinos.

2801 — Cada povo e nação é um original sem cópia; a forma de governo que lhe convém deve ser regulada pela sua especialidade; a adoção ou arremedo indiscriminado das instituições dos outros povos lhe é funesto quase sempre pela disparidade de circunstâncias em que se acham para com eles.

2802 — A vida e morte estão sujeitas ao regime de uma Providência, que, compreendendo o pretérito, presente e futuro, regula os destinos individuais, familiares e sociais, por um modo infinitamente sábio e justo, porém misterioso e incompreensível à razão e inteligência humana.

2803 — Os homens são mais dignos de lástima que de ódio e desprezo, os seus vícios e crimes provêm mais de ignorância que de malícia e malignidade; com melhor educação, exemplos e cultura, seriam menos maus ou mais virtuosos do que são.

2804 — As religiões, governos, moral, política, indústria, usos e costumes seguem a escala da inteligência humana, e variam segundo esta se adianta ou atrasa nos povos e nações que se sucedem no teatro deste mundo.

2805 — Na mocidade pouco se cuida na religião, é na velhice que as idéias religiosas ocupam especialmente o pensamento dos homens, que vendo escapar-lhes este mundo, necessitam para sua consolação de esperar uma vida futura, mais feliz e melhorada que a presente.

2806 — Não é este mundo concreto e material que assusta os homens, mas o fantástico, abstrato e ideal, que eles mesmos criaram e imaginaram.

2807 — Os sábios são sintéticos, descobrem um universo guarnecido de inumeráveis mundos, um sistema geral compreendendo infinitos sistemas parciais, finalmente um ser ou unidade de natureza eterna e incompreensível, animando, vivificando e racionalizando este todo portentoso com a sua existência, presença e assombrosa sabedoria.

2808 — Quando temos chegado a um alto grão de riqueza, morremos: de ciência, morremos: de honras e autoridade, morremos; se tal é a sorte final do homem, para que nos afadigamos tanto para alcançar riqueza, ciência e autoridade? Próximos à morte, a nossa mágoa pela perda de semelhantes bens será correspondente ao seu volume, extensão e quantidade.

2809 — Os preceptores dos homens, não querendo dar-se o trabalho de os fazer bons pela razão, julgaram mais cômodo fazê-los tais pelo terror, ameaças e castigos.

2810 — Gozar da vida sem referência a Deus, autor de todos os bens, é comum a todos os animais irracionais, gozá-la admirando as obras de Deus, adorando e reconhecendo a divina bondade e beneficência, é especial às criaturas inteligentes, e constitui a felicidade mais plena de que são capazes neste mundo.

2811 — Os velhos são tenazes no seu propósito, não têm a inconstância nem leviandade da gente moça.

2812 — Os tiranos não seriam tais se os povos o não merecessem.

2813 — Os viciosos investem e maltratam os virtuosos, estes os lastimam antevendo o seu opróbrio e punição 2814 — Há prazeres privativos de cada idade, e outros comuns para todas.

2815 — A existência de Deus no universo criado é talvez comparável ao fogo no ferro em brasa, que distinto do metal o tem empregnado de sua substância ativa e luminosa.

2816 — Sendo a providência divina infinita, não admira que os homens a não possam compreender em toda a sua extensão, e a neguem ou recusem nos casos e acidentes mínimos da vida humana, que aliás lhe estão geralmente subordinados.

2817 — Tudo o que vemos no jogo, movimento e evoluções do gênero humano, é o que deve ser conforme a sua natural constituição no sistema parcial deste mundo e universal da criação.

2818 — Na velhice é bom que sejamos esquecidos para não sermos importunados, incomodados ou perseguidos.

2819 — São os velhos os que melhor reconhecem a verdade das máximas e sentenças morais, falta aos moços a experiência para bem as entender e apreciar.

2820 — Avistamos a imensidade e não sabemos respeitar-nos!

2821 — Se conhecemos tão pouco o mundo em que vivemos, que idéia podemos formar dos inumeráveis que mal avistamos!

2822 — Homens há, como as obras de casquinha, que só têm a sua superfície de metal nobre.

2823 — A impaciência em que vivemos provém da nossa ignorância, queremos que os homens e as coisas sejam o que não podem ser, e deixem de ser o que são por sua essência e natureza.

2824 — Quanto saber desaproveitado, porque os seus possuidores não o querem publicar com receio de serem maltratados ou perseguidos por sua intempestiva revelação!

2825 — Na administração e regime da divina providência, os males são também instrumentos e condutores de bens.

2826 — É tal a nossa imprevidência ou ignorância, que tomamos por um grave mal o que freqüentes vezes é origem e ocasião dos maiores bens.

2827 — A doutrina do panteísmo e otimismo universal é mais ou menos implicitamente professada em todos os sistemas religiosos, que aliás rejeitam ou reprovam os vocábulos que a representam.

2828 — Os erros falecem quando as verdades amadurecem.

2829 — Na velhice com menor vista avistamos muito mais do que na mocidade: a ciência e experiência são os vidros de graus que produzem tais efeitos.

2830 — O mundo está constituído e organizado no seu todo e partes para ser o que é, e nada mais nem menos.

2831 — Se não fôssemos sensíveis, seriamos impassíveis.

2832 — A ofensa supõe necessariamente passibilidade no ente ofendido: o impassível é essencialmente inofensível.

2833 — O universo material é animado por Deus, como o nosso corpo pela nossa alma.

2834 — A verdadeira felicidade não pode consistir na fruição dos prazeres sensuais, muitos dos quais deixam freqüentes vezes o travo acerbo de remorso e arrependimento.

2835 — Sem os males e necessidades da vida não haveria ofício, emprego, nem ocupação alguma para os entes vivos deste mundo, faltando-lhes motivos para ação, agência e movimento espontâneo no teatro deste mundo.

2836 — Não admira que o juízo seja censurado, quando a loucura já foi elogiada.

2837 — Os trabalhos da vida afiam uns engenhos e embotam outros.

2838 — Não se pergunta ordinariamente o motivo por que nos rimos, mas por que choramos: o riso é tão freqüente e vulgar, que não causa novidade.

2839 — Os anarquistas e desordeiros falam aos povos em resistência e liberdade; os monarquistas ordeiros em religião, moral, obediência e lealdade.

2840 — Os moços presumem muito porque sabem pouco.

2841 — É argumento muito poderoso de uma outra vida a crença instintiva e universal do gênero humano na sua existência e realidade.

2842 — As religiões são modificadas pela inteligência dos que as professam.

2843 — Não procureis o juízo prático nas academias, universidades, sociedades cientificas e literárias, achá-lo-eis em primeira mão entre os negociantes e lavradores, nas praças de comércio, e estabelecimentos rurais.

2844 — Individuais, tornamo-nos egoístas; coletivos, sociais.

2845 — O ser da criatura vivente é uma fração infinitésima da substância imensa e eterna da qual se separou interinamente pela vida para ser reintegrada depois pela morte no todo infinito de que saiu e se desagregou.

2846 — Variamos com as idades, de instintos, gostos, paixões, opiniões, até mesmo de moléstias.

2847 — Se pudéssemos prever o futuro, não seriamos livres; tal previsão pressupunha uma ordem fatal e inevitável de coisas, casos e sucessos, que não era possível interromper nem remover.

2848 — Nenhum mundo existe estacionário, há em cada um, uma evolução de novos entes, produtos, casos e acidentes que lhe dá uma novidade sucessiva, sujeita às leis gerais da sua estrutura, formação e destinação.

2849 — Os poetas têm feito maior mal à espécie humana com as suas fábulas e ficções do que os filósofos com as suas teorias e abstrações.

2850 — Os males como os bens têm um limite necessário na natureza humana, o que não devemos esquecer quando sofremos ou gozamos.

2851 — A imaginação dos homens figura tudo o que aliás qualifica de imaterial ou espiritual, não podendo conceber nem compreender o que não tem forma, figura nem lugar e limites no espaço.

2852 — É quando as flores abrem, e os frutos amadurecem, que deleitam a nossa vista, olfato e paladar, com suas cores, perfumes e sabores, assim também é nas idades viril e madura que os homens exibem os primores do seu engenho, forças e produções.

2853 — Se não podemos compreender o mínimo de uma flor ou de um inseto, como poderemos compreender o máximo do universo!

2854 — O objeto de um amor eterno não pode ser outro que o bem infinito igualmente eterno.

2855 — A nossa vida é uma partícula infinitésima da vida eterna; desta proveio e tornará para ela.

2856 — Mãe diligente, filha negligente: terra abundosa, nação preguiçosa.

2857 — A civilidade encobre ou dissimula o egoísmo.

2858 — Devemos aos homens e aos seus livros muitas verdades e inumeráveis erros.

2859 — Da ação e reação recíproca dos entes e corpos uns sobre os outros, resulta finalmente a sua morte ou destruição, ocasionando ao mesmo tempo a formação e existência de novos corpos e viventes para os substituir e perpetuar este mundo como foi constituído pelo seu autor e criador onipotente.

2860 — Os males da natureza são muito poucos, comparativamente aos de invenção e apreensão dos homens.

2861 — Temos o mesmo nome nas diversas idades da vida, e contudo somos bem diferentes de nós mesmos em todas elas.

2862 — Sem alteração ou mudança no todo ou parte do nosso corpo, não podemos sentir, gozar nem sofrer: a sensação é produto do uma alteração ocasionada por causa ou ação externa ou interna.

2863 — Há morte e destruição neste mundo para que haja sempre vida, formação e renovação com variedade e novidade.

2864 — O nosso corpo que provoca e excita o exercício das faculdades e potências da nossa alma, é também o mesmo que limita a sua expansão progressiva e restringe a inteligência, para que não transcenda os limites que a divina sabedoria lhe assinalou em relação à natureza humana, ao mundo que habitamos, e ao sistema do universo de que fazemos parte.

2865 — Há para a sociedade uma harmonia na loucura variada dos homens, como para a música vocal e instrumental na diversidade e antagonismo dos sons e vozes.

2866 — O erro e ignorância parecem ser elementos obrigados na constituição do gênero humano, este não seria o que é se tudo soubesse e nada ignorasse.

2867 — Como Deus nada fez nem faz sem propósito, fim e aplicações, segue-se que tudo o que existe é o que deve ser em todos os sistemas parciais e no geral do universo.

2868 — Cada mundo começa como um ovo ou embrião, e se vai desenvolvendo e explicando por séculos e milênios até chegar àquele ponto de maturação, que lhe foi destinado, e se resolve então nas substâncias elementares de que foi formado.

2869 — Se é terrível a idéia da morte ou da extinção da nossa individualidade corporal, que será da aniquilação total do nosso ser! A esperança de uma vida futura é instintiva e salutar.

2870 — Sem os contrastes que a natureza apresenta, os homens não poderiam conhecer nem avaliar as coisas e sucessos deste mundo.

2871 — Quando temos em vista os bens eternos, pouco nos ocupamos e apaixonamos pelos temporais e perituros.

2872 — Há uma idolatria profana, como outra religiosa; têm por objeto os homens e suas obras.

2873 — Devemos recear os juízos dos homens por falíveis, mas adorar os de Deus por infalíveis.

2874 — O desencanto do mundo, da vida humana e suas ilusões, faz parecer extravagantes ou loucos os que assim, desenganados e desencantados, adotam um plano especial de vida que os outros homens não podem avaliar nem compreender.

2875 — Uma felicidade absoluta só compete a Deus, as suas criaturas, por limitadas, são incapazes de outra que não seja a relativa, o que supõe necessariamente a existência do mal físico para contrastar os bens e fazê-los avaliar e apreciar.

2876 — A autoridade humana é muito poderosa: a razão cede ordinariamente aos seus ditames e doutrinas.

2877 — E questão curiosa, se renascendo para uma segunda vida, não seríamos os mesmos que fomos, concorrendo em tudo as mesmas circunstâncias, condições e acidentes da primeira: a afirmativa parece provável com ressaibos de fatalismo.

2878 — Toda a ciência vem de Deus, não a podemos haver senão pelo estudo, exame e observação das suas obras maravilhosas, ou da natureza, sua revelação perene e objetiva.

2879 — A vontade onipotente de Deus opera sobre os átomos infinitésimos da matéria, como a nossa individual sobre as moléculas integrantes dos membros do nosso corpo, e neste sentido poderíamos talvez asseverar que o universo é o corpo incomensurável da divindade.

2880 — Inspirar e promover o amor de Deus e dos homens é a obrigação sagrada dos sábios em seus escritos e discursos.

2881 — Deus se figura e se individualiza de algum modo no universo material e fenomenal, sendo aliás a sua substância eterna, imensa e ilimitada por sua essência e natureza misteriosa e incompreensível.

2882 — O extraordinário também é natural ainda que raro ou menos freqüente.

2883 — Em um mundo em que a destruição anda a par da formação, a morte a par da vida, apaixonar-nos profundamente pelos objetos que nele se criam e figuram por algum tempo é loucura rematada.

2884 — O mal é neste mundo o motivo principal da cultura da nossa inteligência, não querendo sofrer, procuramos conhecer as causas dos nossos males para os prevenir, remover ou mitigar.

2885 — Os homens têm figurado os deuses com os mesmos vícios, paixões e defeitos que neles existem: figurando-os com a forma humana, julgaram melhor compreendê-los e honrar deste modo a própria espécie nas famílias animais da natureza.

2886 — Todos os nossos cuidados, trabalhos e fadigas se dirigem à conservação e regalo do nosso corpo, que é cinza e pó, e muito pouco ou nada cuidamos no aperfeiçoamento do nosso espírito, que reconhecemos de natureza imortal e duração eterna; tal procedimento é bem impróprio da razão e crença religiosa de que tanto nos gloriamos.

2887 — Os olhos atraiçoam muitas vezes a nossa alma descobrindo os seus mais recônditos sentimentos, afeições e aversões.

2888 — Toda a ciência deve ter por principal objeto exaltar o espírito e coração do homem ao amor e admiração de Deus; estes sentimentos são os que mais contribuem para a felicidade terrestre das criaturas humanas, e predispõem para a vida futura, onde no progresso infinito destes mesmos sentimentos consistirá necessariamente a eterna bem-aventurança.

2889 — A riqueza material é de difícil transporte neste mundo e impossível para os outros; a ciência e virtude, identificadas com a nossa alma, podem percorrer a imensidade do espaço sem trabalho nem despesa com a sua condução.

2890 — Tudo está sujeito e subordinado a uma vontade Onipotente; o Universo, os mundos que o guarnecem, e os mesmos átomos infinitésimos viventes e elementares de que tudo e o todo se compõem.

2891 — Os moços não são nem podem ser sábios, não têm suficiente ciência, experiência, virtude e amor de Deus para serem qualificados tais.

2892 — É necessário que, gozando dos bens e prazeres naturais, reconheçamos que gozamos do mesmo Deus, autor de todos eles, e teremos de mais a mais o delicioso sentimento de gratidão pela sua infinita beneficência.

2893 — Congratulamo-nos na velhice de termos sido laboriosos, econômicos e providentes na mocidade.

2894 — O mar flutuante e movediço, a terra firme e estacionária, que contraste no mesmo mundo!

2895 — As sociedades secretas são tais ordinariamente porque a publicidade dos seus atos as faria parecer ridículas ou criminosas.

2896 — Correm grande perigo os Estados onde os ministérios se sucedem com freqüência, como os doentes com repetidas juntas e conferências de professores.

2897 — Há progresso de inteligência nos povos onde a invenção das modas é freqüente ou habitual 2898 — Dizemos sempre mais ou menos do que sentimos e pensamos, a prudência e circunstâncias não permitem que sejamos estritamente exatos e sinceros.

2899 — Forrar o próprio trabalho, gozar e empregar o alheio, é o propósito latente dos ambiciosos do poder e mando.

2900 — Os mundos também perecem como tudo o que neles se compreende, o universo se renova como cada uma das suas partes integrantes, a sabedoria de Deus sendo infinita tem de exercer-se com variedade e novidade por toda a eternidade.

2901 — As paixões eclipsam a razão, como as nuvens, a luz do sol.

2902 — Com o presente à vista, o pretérito em lembrança, e o futuro em esperanças e receios vivemos esta vida terrestre, misteriosa e mal compreendida, incerta em suas vicissitudes, porém certa por sua terminação pela morte e destruição.

2903 — A eloquência consiste em simbolizar a natureza por palavras, que representem os seus fenômenos e excitem os mesmos sentimentos e emoções, que costumam ocasionar nos viventes racionais.

2904 — Quanta gente vi, conheci e pratiquei, que já não existe! Que variedade de caracteres, gostos, costumes e opiniões! Tudo passou para nunca mais tornar.

2905 — O mundo material seria o caos sem os viventes que nele existem e se criam, uma recíproca relação em tudo constitui o mundo tal como nos parece e se acha coordenado.

2906 — É freqüente o riso, e raro o pranto na espécie humana, argumento de que a soma dos bens é incomparavelmente maior que a dos males no sistema deste mundo.

2907 — O pior mal da escravidão é conservar os cativos na ignorância e bruteza, pela opinião de que são assim mais dóceis, humildes e subordinados.

2908 — O ser infinito, por isso que não é limitado, compreende tudo necessariamente na esfera da sua imensidade.

2909 — O mundo que nos engana na mocidade nos desengana na velhice.

2910 — Tudo depende do lugar, tempo e circunstâncias, os incrédulos de hoje seriam fanáticos na idade média.

2911 — Os cuidados perseguem a vida, não incomodam os mortos.

2912 — O sábio é o que mais receia a morte sabendo melhor apreciar a vida e o espetáculo assombroso do universo, no qual existe como agente, ator, espectador e especial admirador de Deus, seu criador onipotente.

2913 — Como os dias e as noites, os bens e os males se alternam e se contrastam.

2914 — O mal não existe na natureza como fim mas como ocasião, meio, instrumento, veículo ou condutor de bens.

2915 — Não devemos estranhar os grandes males que padecem as modernas sociedades, nas quais a desmoralização é qualificada de civilização.

2916 — A razão é forte quando os instintos são fracos, e vice-versa.

2917 — Estabelecido como verdade, um absurdo, este vem a ser o núcleo de muitos outros, o que se observa especialmente em matérias religiosas.

2918 — Para que houvesse uma história geral do gênero humano tão variada como existe, era necessário e indispensável que os homens fossem tais como têm sido, são e hão de ser.

2919 — As mulheres devem mais à natureza, que os homens à sociedade.

2920 — O mal é muito menos durável e mais limitado que o bem; este é conservador, aquele destruidor.

2921 — A literatura inglesa instrui moralizando, a francesa deleita sensualizando: a primeira é racionalista, a segunda, sensualista.

2922 — De qualquer modo que se baralhem as cartas do jogo social, este se executará sempre conforme as leis naturais da ordem física e moral a que está sujeita necessariamente a humanidade em todos os seus atos, voluntários e obrigados.

2923 — Por melhor que seja o resultado de uma revolução, é ordinariamente a gente má, turbulenta e ambiciosa, que a faz ou a promove.

2924 — A faculdade de sonhar dormindo é um argumento poderoso de que existe em nós um princípio ou unidade sensível e inteligente, que, unida ao nosso corpo, o dirige e administra no exercício o processo da vida humana.

2925 — Não podemos conceber um mundo diverso deste em que vivemos; contudo, são inumeráveis os que existem, inteiramente diferentes: uma variedade ilimitada carateriza a infinita sabedoria do Ser eterno e incompreensível que os criou.

2926 — O choque e reencontro das paixões, interesses e opiniões, constituem a vida social e igualmente a individual, tendendo tudo a equilibrar-se sem que se estabeleça jamais um completo equilíbrio.

2927 — Os homens de transcendente engenho e inteligência são ordinariamente menos prezados e admirados pelos seus compatriotas do que pelos estrangeiros e a posteridade; eles antecipam as épocas produzindo obras e escritos que sobreexcedem a compreensão dos seus nacionais ainda não preparados para bem os entender e apreciar.

2928 — Somos constituídos e organizados para este e não para outros mundos, devemos portanto ocupar-nos das relações que nos unem a ele estritamente, e não nos perdermos nas supostas e fantásticas de qualquer outro que não conhecemos, e de que não fazemos parte.

2929 — Um vivente deste mundo transportado a outro deixaria de existir necessariamente não sendo o seu corpo adaptado a esse diverso sistema: assim em o nosso globo morre o peixe tirado d’água e lançado na terra, elemento impróprio para a continuação da sua existência.

2930 — Os homens também têm instintos como os animais, e além disto a razão para os dirigir e regular.

2931 — Em tudo se observa ação e reação, no mar, na terra, nos ares e nos homens.

2932 — O título mais sublime de que nos devemos gloriar é o de criaturas de Deus: o tipo primitivo do nosso ser foi concebido na mente Divina, somos concepção da sua infinita sabedoria, e temos em Deus a genuína paternidade que nos gerou, e nos faz existir neste mundo que criou para habitação da espécie humana.

2933 — A cada um dos nossos sentidos corresponde externamente um mundo de fenômenos maravilhosos, o mundo da luz e das cores, os dos sons, cheiros, sabores, formas, figuras, densidades, calor e frio.

Que sabedoria a do Autor e Inventor dos sentidos!

2934 — Descobre-se na Natureza uma especial aversão à monotonia e uniformidade; ela exulta e blasona sempre de novidade, variedade e desigualdade nas suas produções.

2935 — A matéria é uma substância misteriosa, capaz de uma divisibilidade incompreensível como no éter, e de uma condensação compacta e firme como no diamante, suscetível de infinitas formas, figuras, modos, densidades e aparências, instrumento universal de manifestação da infinita sabedoria de Deus, cuja vontade e onipotência a dominam desde os átomos infinitésimos até os mundos e o universo.

2936 — É necessário que não nos desencantemos inteiramente pela reflexão das ilusões deste mundo, se queremos gozar da vida com maior prazer e extensão.

2937 — Nada sucede nem pode suceder no universo que escapasse à presciência e previsão do seu criador onipotente, em tudo ele é necessário e realmente como Deus o constituiu e quis que fosse.

2938 — É prodigioso o jogo do gênero humano no teatro deste mundo, e mais admirável a variedade infinita de casos e sucessos que ocasiona, efeito necessário da natureza e faculdades que Deus lhe conferiu, pelas quais os homens sentem, pensão e obram neste sistema em que são principais atores e espectadores.

2939 — As mulheres são mais dissimuladas que os homens, a dissimulação protege e defende a sua fraqueza.

2940 — Deus e por essência infinitamente bom, nada fez nem faz sem um fim benéfico: os fenômenos que nos parecem mais terríveis na natureza são aparentemente tais para a nossa ignorância, mas certamente instrumentos, ocasião, veículos ou condutores de bens gerais que não podemos distinguir pela parcialidade, localidade e limitação da nossa inteligência.

2941 — Os mundos e sistemas solares concebidos na divina mente, e realizados pela onipotência do ser supremo, têm, como as sementes vegetais e os ovos animais, um desenvolvimento lento, mas progressivo e variado até chegarem por muitos e inumeráveis milênios àquele grau de madureza e plenitude, em que, dissolvendo-se, se resolvem nas substâncias elementares de que foram formados, e que servirão de materiais para novas formações, futuros mundos, e sistemas solares.

2942 — A poesia deleita os moços, a filosofia interessa os velhos.

2943 — A ambição de poder e mando tem feito infeliz a muita gente que seria feliz senão fosse ambiciosa.

2944 — Não se entende o que seja desordem no universo e nos mundos que compreende; se tal houvesse, deixariam de ser o que são, e acabaria a criação universal.

2945 — O homem mais invejoso é ordinariamente o que menos merece ser invejado, ou que não tem qualidades algumas que provoquem inveja nos outros.

2946 — A dificuldade de existir na velhice com os achaques que a atormentam, nos faz desejar a morte como libertadora de todos os nossos males.

2947 — Nem o extraordinário está fora da ordem, nem o sobrenatural fora da natureza: com estes termos queremos significar a raridade ou menos freqüência dos objetos, sucessos e fenômenos deste mundo.

2948 — Vai-se aos mesmos fins por diversos meios segundo as circunstâncias: uns são cínicos por ambição, outros magníficos e ostentosos.

2949 — Para bem geral dos homens é necessário que eles estejam convencidos desta grande verdade, que Deus está presente a tudo, que conhece os nossos pensamentos e intenções mais secretas com os motivos das nossas ações, e que pela ordem física e moral nos premia ou castiga conforme a bondade ou malignidade dos nossos atos.

2950 — Há em nós duas individualidades, uma corporal e outra intelectual; esta se distingue amplamente daquela, quando sonhamos dormindo: este dualismo foi reconhecido em todos os tempos pelo gênero humano.

2951 — Os nossos corpos variam com os anos, moléstias e idades: a identidade do nosso ser existe somente nessa unidade misteriosa a que chamamos alma.

2952 — Deus é a vida eterna que se difunde sem desfalcar-se nem exaurir-se pela imensidade do espaço, vivifica e animaliza o universo, os mundos e todas as criaturas que neles se criam e reproduzem, desde as mais volumosas até os animais infusórios e microscópicos, e os átomos infinitésimos vivos de que se compõe o todo imenso da criação.

2953 — A solidão dos sábios é proveitosa às nações.

2954 — É fácil recomendar a virtude no seu abstrato, mas dificílimo conhecê-la e observá-la no seu concreto.

2955 — A monarquia deve ser absoluta onde não há uma aristocracia douta, rica, poderosa e influente, secular e sacerdotal, que a possa defender e proteger contra os atentados, desacatos e versatilidade da democracia.

2956 — Os sábios tornam-se insociáveis não por mau humor, mas por bondade e prudência; não querem ofender disputando em companhias com homens pouco inteligentes ou ignorantes, que presumem saber muito e não os podem compreender.

2957 — É mais cômodo e menos penoso o crer do que duvidar e descrer em matérias religiosas: no primeiro caso fundamo-nos na autoridade e crença de inumeráveis gerações, e dos homens mais doutos e distintos das nações; no segundo temos somente a nossa opinião individual, que é uma gota de água comparada com o oceano.

2958 — Todos falam sobre a vida futura, ninguém a conhece nem compreende.

2959 — A ditadura de um homem prestigioso e justiceiro é o corretivo mais eficaz da anarquia geral e popular.

2960 — A perfetibilidade ou o progresso na inteligência do gênero humano nunca chegará a fazê-lo impassível e imortal.

2961 — Em uma nação mal constituída são as pessoas menos importantes ou insignificantes as que incutem mais terror, e ocasionam maiores males.

2962 — A existência das criaturas vivas em sociedade pressupõe uma ordem moral que deve existir talvez igualmente para os animais gregários e sociáveis.

2963 — Exigimos uma perfeição moral nos homens de que eles são incapazes; não os há inteiramente maus nem perfeitamente bons: o procedimento em todos é mesclado de boas e más ações, bons e maus sentimentos.

2964 — O martelo não se gasta menos que a bigorna, nem o opressor sofre menos que o oprimido.

2965 — Talvez se possa dizer que cada um dos átomos infinitésimos de que se compõe o universo é um vivente como o todo universal, mas que se anula neutralizando-se nas suas infinitas combinações e afinidades com os outros seres da sua espécie e natureza.

2966 — Que infinita variedade em fisionomia, caracteres, gostos, talentos, opiniões, costumes o usos no gênero humano! A sabedoria infinita do Criador se revela na variedade e novidade ilimitada das suas obras.

2967 — Nas matérias mais graves e importantes, a opinião geral não é sempre a mais ajustada e racional, tem todavia a seu favor a força muscular que a defende e lhe confere uma autoridade irresistível.

2968 — A variedade de opiniões nos homens procede da diversidade e quantidade de idéias e conhecimentos que cada um deles tem do mundo, coisas e eventos.

2969 — É necessário desmascarar os maus e velhacos para que não abusem da boa fé e franqueza dos bons e virtuosos.

2970 — Há sempre em uma família alguém que incomoda o chefe dela e lhe apura a paciência.

2971 — Não podemos imaginar um mundo sem males, nem criaturas vivas impassíveis: faltando o motivo de ação e movimento espontâneo não haveria liberdade nem escolha, virtude nem mérito, nem ofício, emprego ou modo de vida que os ocupasse a inércia dos corpos inorgânicos seria a sua sorte e estado habitual.

2972 — Com a inteligência limitada que temos, nunca saberíamos avaliar os bens da vida sem os males que os contrastam.

2973 — No quadro da vida humana o que mais se deve admirar e estudar é o claro escuro do bem e do mal.

2974 — Há em nós uma substancia imortal e indestrutível, ela constitui o fundo essencial de toda a fabrica fenomenal dos nossos corpos.

2975 — O sentido do gosto ou paladar é o primeiro que tem exercício, e o último que acaba nas criaturas viventes deste mundo, tão importante é para sua alimentação e existência.

2976 — Aprendei de Deus e sereis sábios: Deus ensina pelas suas obras: a natureza é a expositora e demonstradora da sua infinita sabedoria, poder e bondade.

2977 — Se não fôssemos ignorantes, seríamos impassíveis e imortais; a ignorância é a origem principal de todos os nossos males, convém portanto reduzi-la quando é possível a fim de que gozemos mais e soframos menos, o que se consegue com a cultura da razão, inteligência, pelo estudo e observação da natureza.

2978 — A felicidade sensual é comum a todos os viventes, a moral, intelectual e religiosa privativa das criaturas racionais e inteligentes.

2979 — O fogo elétrico não será o mesmo fogo ordinário, mas sem mistura de matérias heterogêneas e terrestres que o fazem degenerar da sua subtileza e atividade natural e original?

2980 — Todas as obras e produtos da natureza servem de materiais para o trabalho e indústria dos homens, que os alteram, decompõem, combinam, modificam, e os transformam em objetos necessários, úteis e agradáveis à sua existência neste mundo.

2981 — A ciência humana é um agregado ou complexo de inumeráveis erros com muitas verdades, o que se prova pela divergência e variedade incalculável de opiniões e doutrinas entre os homens.

2982 — Quando Deus nos fez surgir da eternidade, dando-nos o ser, contraiu conosco uma dívida de felicidade, que tem solvido na vida presente e há de solver nas subseqüentes pela sua paternidade criadora e bondade ilimitada.

2983 — A nossa existência apenas começada neste mundo tem o seu progressivo desenvolvimento por inumeráveis mundos e vidas na imensidade do espaço e eternidade dos tempos, aproximando-se à perfeição divina sem jamais poder alcançá-la por ser infinita e incomensurável no ser eterno, criador e regedor do universo.

2984 — Há uma trindade de atributos essenciais na divindade, infinita sabedoria, infinito poder e infinita bondade: a sabedoria concebe, o poder executa, a bondade vivifica e felicita.

2985 — Quando nada esperamos dos homens, mas tudo de Deus, preferimos o retiro e reclusão à sociedade e companhias.

2986 — Os homens que se queixam de falta de liberdade são ordinariamente os que menos a merecem.

2987 — Somos injustos exprobrando a muita gente erros, culpas e defeitos que são devidos especialmente à natureza, sociedade e circunstâncias.

2988 — O desengano ou desencanto do mundo contribui mais que tudo para a nossa independência pessoal.

2989 — Os homens de medíocre, ordinária ou vulgar capacidade, não perdoam a superioridade de engenho e inteligência nas pessoas que por ela se distinguem.

2990 — Tudo para o povo, nada pelo povo: é máxima política de muito profunda significação.

2991 — Perguntei ao sol no oriente, quem te deu tamanho brilho? Respondeu-me: aquele mesmo ser que te prendou com esses olhos que me avistam e admiram.

2992 — Variedade infinita em um espaço muito limitado é o quadro e a história deste mundo sublunar.

2993 — A idéia de felicidade é tão variada nos homens, que não admira que eles difiram tanto no seu procedimento para a conseguirem.

2994 — No sistema concreto e material do universo não há vida sem corpo, nem morte sem a sua desorganização essencial.

2995 — A ciência pressupõe juízo, não o compreende necessariamente.

2996 — Somos humilhados freqüentes vezes vendo frustradas e iludidas as nossas esperanças e pretensões por exageradas.

2997 — Apedrejamo-nos com as ruínas do edifício político-religioso que existia sem o podermos reconstruir, nem sabermos substituí-lo por outro equivalente ou menos imperfeito.

2998 — A imaginação serve-se dos materiais que lhe oferece a memória, modificando-os e coordenando-os por modo novo e com variadas formas e imagens não existentes.

2999 — Não devemos desesperar quando sofremos, tendo a Deus presente, que tudo sabe e pode: recorrendo à sua infinita bondade podemos estar seguros da sua indefectível proteção.

3000 — Associamo-nos por fraqueza e nos separamos por suficiência própria.

3001 — Não é sábio quem não é justo: a sabedoria é a excelência moral reunida à intelectual.

3002 — Os homens vivem pelo seu pouco saber; a sua inteligência é proporcionada à organização material dos seus corpos: uma ciência muito superior às suas forças orgânicas os faria enfermar, enlouquecer e morrer.

3003 — Virtude é observância e satisfação do que devemos a Deus, aos homens e a nós mesmos.

3004 — Ignorância e morte são condições essenciais da natureza humana: sem a primeira seriam os homens impassíveis e imortais; a segunda demonstra evidentemente a sua impotente e insignificante sapiência.

3005 — Os doutos ocupam-se do acessório, o essencial lhes escapa por misterioso e incompreensível.

3006 — O louvor agrada, porque distingue desigualando.

3007 — O sábio é o que se considera mais ignorante entre todos, reconhecendo melhor a extensão ilimitada da sua própria ignorância.

3008 — Ninguém poderia viver se não receasse morrer.

3009 — Não há desordem neste mundo, se a houvesse já não existira: a ordem é conservadora, a desordem destruidora 3010 — As revoluções bem compreendidas são reações parciais ou gerais no físico ou moral, nas inteligências ou coisas, ou em ambas ao mesmo tempo.

3011 — Os homens terão chegado ao maior grau de inteligência quando souberem definir exatamente os dois vocábulos monossílabos e abstratos — bem e mal — com todas as relações que neles se compreendem.

3012 — Os velhos se mostram menos sociáveis e conviventes à medida que a felicidade sensual se torna mais diminuta, incômoda ou penosa para eles.

3013 — A ciência humana é coisa muito pouca neste orbe planetário, mas prelúdio de outra progressiva em inumeráveis mundos que os nossos espíritos guarnecidos de corpos correspondentes aos seus diversos sistemas e relações têm de habitar, conhecer, gozar e admirar eternamente.

3014 — Os maiores loucos não são os que os homens geralmente denominam tais, porém os que talvez respeitam e admiram muito.

3015 — As amizades dos maus são contagiosas, pervertem os bons.

3016 — Os pródigos e dissipadores do seu alheio censuram de tacanhos, insociáveis e apoucados os prudentes, econômicos e poupados.

3017 — Os males são os melhores preceptores dos homens.

Um bom príncipe não consegue regenerar um povo corrompido, imoral e anarquizado, são os tiranos os que produzem tais prodígios e maravilhas.

3018 — Subimos da vida sensual à intelectual, das idéias particulares às gerais, dos efeitos às suas causas, e do universo material ao espiritual ou a Deus onipotente criador de tudo.

3019 — A importância que os velhacos ambiciosos insignificantes alcançam pela anarquia, a fazem muito recomendável nos seus planos subversivos da ordem e tranqüilidade pública, e cobiça de governarem.

3020 — A mocidade não sabe apreciar os bens de que goza, nem calcular a soma dos que lhe faltam.

3021 — Não podemos ter uma felicidade absoluta com uma inteligência limitada, são necessários contrastes que assinalem e façam distinguir os bens e avaliá-los como tais: os males produzem este efeito.

3022 — O mal sendo suportável vivemos, sendo intolerável, morremos.

3023 — Os poetas e oradores são também pintores: aqueles pintam com palavras, estes com tintas e cores.

3024 — A memória é uma faculdade tão prodigiosa que ela só bastaria para provar a existência sabedoria e providência de Deus, que a conferiu às suas criaturas vivas, sensíveis e inteligentes.

3025 — A superioridade das inteligências distingue-se pela variedade dos seus produtos: a sabedoria divina é infinitamente variada, e o será eternamente, nas obras maravilhosas e produções da natureza.

3026 — Que prova a variedade de línguas, costumes, usos, governos e cultos religiosos? que Deus, criador e constituinte do gênero humano, assim o quis e quer.

3027 — Os velhos de juízo freqüentam mais as igrejas que os palácios e teatros.

3028 — Os erros hão de variar constantemente, as verdades são invariáveis.

3029 — Os governos fracos promovem os maus, preterindo os bons.

3030 — Queremos saber, sendo homens, o que necessariamente devemos ignorar porque somos tais!

3031 — O gênero humano não pode obrar contra a sua natureza, é presentemente o que foi e há de ser no sistema deste mundo, constituídos ambos pela eterna sapiência.

3032 — Os velhos e sábios receiam mais a morte que os néscios e moços, conhecem e sabem apreciar melhor o valor e dom da existência e da vida humana.

3033 — As fábulas mais graves e importantes são as que a história e tradição antiga nos transmitiram, as modernas são de pouca importância e insignificantes.

3034 — Anda muito o que nunca pára, assim sucede ao tempo.

3035 — O receio dos males futuros atormenta ordinariamente com mais violência e por mais tempo do que os mesmos males realizados.

3036 — Há neste mundo uma ação e reação em tudo, que constituem a ordem, e determinam a conservação e perpetuidade do mesmo mundo.

3037 — É tal a nossa ignorância que não podemos imaginar um mundo diverso deste, sendo aliás certo pela noção que temos da infinita sabedoria de Deus, que não há nem pode haver outro igual, e que todos quantos existem são essencialmente diversos entre si.

3038 — Ai dos que não toleram conselho nem contradição! a sua ventura será de muito pouca duração.

3039 — Os sábios seriam os maiores revolucionários se o amor da ordem, a prudência e circunspecção não fossem qualidades inseparáveis da sabedoria humana.

3040 — Os sábios têm uma especial satisfação em se verem desabafados dos terrores fabulosos de que os ignorantes vivem atormentados dia e noite por falta de ciência e reflexão, e pela má educação que receberam na sua puerícia e adolescência.

3041 — Casos há em que os nossos inimigos contribuem mais para a nossa exaltação pessoal do que os próprios amigos: os males que nos causam servem de lições eficazes para o nosso aperfeiçoamento moral, e subseqüente procedimento honrado e regular.

3042 — A desgraça final dos ambiciosos do poder e mando não desengana os novos aspirantes aos mesmos pretendidos bens; a ambição alucina por tal modo os homens que lhes não deixa estudar e ponderar o passado, nem prever e calcular o futuro.

3043 — Os animais serão mais felizes que os homens neste mundo? Não consta que algum deles se suicidasse, ou tenha atentado contra a própria vida.

3044 — Todas as religiões têm a sua mitologia, sem a qual não podiam ser populares.

3055 — A prudência nos sábios é o conhecimento prévio da incapacidade geral dos homens de compreendê-los e segui-los nas suas doutrinas transcendentes e misteriosas para o vulgo.

3046 — O jogo do gênero humano no teatro deste mundo é muito complicado e de difícil compreensão, mas sujeito às leis da ordem física e moral, que o fazem regular, ainda que pareça fortuito e desordenado.

3047 — Não há uma resposta mais racional sobre a variedade assombrosa de opiniões científicas, morais, políticas, religiosas, idiomas, caracteres, modas, usos e costumes dos homens, do que dizer-se — Deus assim o quis e o quer. — O gênero humano é realmente o que Deus quis que ele fosse.

3048 — As belas letras têm como as flores uma especial beleza, a de precederem e anunciarem os frutos.

3049 — Enquanto o mundo não mudar de estrutura, e os homens de organização, todos hão de ser o que são, e o que têm sido, sem alteração importante ou essencial.

3050 — Os males nos moços passam irrefletidos, nos velhos, são ponderados e ruminados com toda a intensidade da sua amargura.

3051 — Os ingratos são maus amigos e piores inimigos.

3052 — O sol doura somente com a sua luz misteriosa os corpos e coisas que lhe estão presentes, tudo o mais fica em sombra ou no escuro, sem distinção especial.

3053 — Homens há que têm trabalhado incansavelmente para se fazerem incrédulos sobre as crenças religiosas do seu pais e nação, e que reconhecem finalmente que lhes fora muito melhor uma credulidade passiva do que um desengano inane e negativo, ou uma incerteza importuna, vaga e tormentosa. É em semelhantes matérias que se pode dizer ser mais conveniente errar com muitos que acertar com poucos.

3054 — Onde os traidores e rebeldes são absolvidos, anistiados e ainda premiados, não admira que os monarcas sejam atraiçoados; a traição em circunstâncias tais é uma especulação lucrativa.

3055 — Admiramos os grandes conquistadores, a sua sorte final nos desabusa da sua ambição e da nossa admiração.

3056 — No jogo e baralho do gênero humano, cada pessoa representa a figura de uma carta original, especial e sem igual.

3057 — Os velhos riem-se da vaidade e fatuidade dos moços, parecendo esquecer-se de que foram tais.

3038 — Os velhos que condenam a mocidade fazem o processo de si próprios.

3059 — A vida humana é um continuado enredo do que a morte somente nos liberta.

3060 — Observa-se na Natureza o grande empenho de distinguir as individualidades entre si, com especialidade nos vegetais e animais, que são discriminados por caracteres privativos que excluem todo o engano e confusão a este respeito.

3061 — A virtude é um vocábulo abstrato que os homens geralmente não entendem, nem compreendem, se não é especificamente exemplificado.

3062 — Tudo está relacionado e coordenado neste mundo, os efeitos com as causas, os conseqüentes com os antecedentes, os fins com os meios; nada é fortuito, vago e sem razão suficiente da sua existência, o que demonstra a sabedoria infinita com que tudo foi feito, existe, e tem de proceder na extensão do espaço e sucessão dos tempos.

3063 — De que nos serviria a outra vida se o nosso espírito não conservasse o cabedal de idéias e conhecimentos que adquiriu na primeira, e perdesse a memória da sua identidade individual e intelectual!

3064 — São muitos os bens da vida que não sabemos nem podemos avaliar senão depois de perdidos: a sua privação lhes serve de contraste e avaliador.

3065 — O panteísmo ou infinito deísmo, e o otimismo universal bem entendidos são talvez o ultimatum da mais alta filosofia racional e religiosa.

3066 — Sem inteligência, trabalho, virtudes domésticas e civis, não se alcança a riqueza, ou se herde em pouco tempo.

3067 — A velhice quer descanso, a morte lho assegura.

3068 — Escrevi para todos, para muitos e para poucos: intelligenti pauca.

3069 — As fábulas têm ocupado mais o engenho dos homens do que a verdade; esta é simples e uniforme, aquelas muito numerosas e variadas.

3070 — Tudo está vitalizado e figurado no universo, um átomo infinitésimo não existe sem uma vida e figura especial, que o constituí agente e paciente no sistema universal.

3071 — A natureza fala pelos instintos e se revela neles.

3072 — Quando tudo são mistérios na natureza, propor novos mistérios à crença dos homens é agravar a ignorância humana, zombar e abusar da sua credulidade.

3073 — Criar é fazer existir o que não existia: Deus é o criador do universo: os poemas de Homero e Virgílio são criações de seus autores.

3074 — Em matéria de máximas, umas explicam outras pela variedade de estilo, formas e composição.

3075 — Enquanto umas nações se adiantam para a idade de ouro, outras se atrasam para a do papel: aquelas enriquecem, estas empobrecem.

3076 — Os objetos de fruição são tantos e tão variados que os homens podem ser felizes por inumeráveis modos.

3077 — Quereis conhecer o grau de inteligência, o caráter e procedimento de um homem, examinai o que ele entende por felicidade e seus respetivos objetos.

3078 — Com maus materiais e piores mestres não se levanta um edifício nobre, majestoso, firme e permanente, nem pode prosperar e ser respeitada uma nação predominada e influída por ingratos, traidores, anarquistas e revolucionários.

3079 — As constituições políticas modernas são como as obras de casquinha de prata, que pelo uso e fricção a perdem em pouco tempo, e apresentam o seu fundo de metal de pouca valia e azinhavrado.

3080 — Quando a velhice nos faz retirar como atores do teatro do mundo já não servimos nem para espectadores: os sentidos obtusos da vista e ouvido com o torpor geral da sensibilidade nos privam da fruição dos dramas que se executam, restando-nos apenas a satisfação de ruminar o passado pela reminiscência e reflexão.

3081 — Sonhei que, admirando a lua cheia na plenitude da sua luz reflexa, surgia em mim o desejo ardente de a visitar e conhecer de perto, quando uma voz sonora, mas de objeto não distinto, retiniu aos meus ouvidos:
    “Pobre criatura! a tua ignorância te desculpa; sabe que cada um dos mundos da imensidade tem um sistema e construção especial; que os seus habitantes não podem existir em algum outro que não seja aquele para que foram organizados.
    “O teu espírito tem de habitar e admirar inumeráveis orbes pela sucessão dos tempos e progresso da eternidade, mas somente com corpos privativos e adotados ao sistema particular de cada um deles.
    “A sabedoria do Onipotente, sendo infinita, a variedade das suas obras é ilimitada, tudo o que ideou e produz na imensidade do espaço é original e sem cópia.”
    Calou-se, e acordei assombrado com esta inesperada e portentosa revelação.

3082 — Não podendo imaginar espíritos sem corpos organizados que os ponham em relação com o universo material, demonstrador dos divinos atributos pelas maravilhas sem conto que compreende, devemos supor que os bem-aventurados têm uma inteligência transcendente que os obriga e defende dos males a que a sua sensibilidade corporal os expõe e sujeita.

3083 — Quanto mais vivemos e pensamos, mais nos convencemos de uma ordem maravilhosa no todo e partes deste mundo, constituído pela divina sabedoria com relações próximas e remotas, que ignoramos geralmente, sendo a nossa ignorância a causa das doutrinas e opiniões extravagantes que professamos, e constituem ordinariamente o que se chama ciência humana.

3084 — A generalidade se individualiza pela vida, individualidade se generaliza pela morte.

3085 — Quantos erros, fábulas, mentiras e falsidades acreditadas pelos homens como verdades incontestáveis! O gênero humano parece constituído para ser enganado e viver em uma ilusão perpetua neste mundo planetário.

3086 — Os homens de juízo, virtude, sabedoria e santidade, são os menos livres, ou os que menos usam e abusam de liberdade.

3087 — Se quando queremos mover os membros do nosso corpo, uma infinita multidão de átomos integrantes de tais membros obedece instantaneamente à nossa vontade individual, quanto é fácil deduzir deste fato o império universal que a vontade onipotente de Deus deve ter sobre todo o universo, e as suas partes mínimas e átomos infinitéssimos, para os condensar, solidar ou rarefazer e reduzir ao éter imaterial, imperceptível aos nossos sentidos, criando e dissolvendo mundos, e dando formas infinitamente variadas às suas obras assombrosas e fenômenos do universo.

3088 — A guerra mais útil aos povos é a que se fazem mutuamente os ingratos, traidores, velhacos e ambiciosos.

3089 — A vida humana é uma guerra perene de interesses, opiniões e paixões, que, agitando os homens, os conservam em ação e movimento, e lhes não permitem que fiquem inativos e estacionários no teatro deste mundo.

3090 — Não podemos imaginar um sentido diverso dos que temos, havendo aliás inumeráveis outros de que gozam criaturas de mais alta hierarquia e compreensão, sendo por isso incomparavelmente mais inteligentes e felizes do que somos ou podemos ser.

3091 — Um mal exclui outros males, como um bem freqüentes vezes outros bens.

3092 — A sabedoria nos homens é o conhecimento mais amplo da própria ignorância, e da infinita sapiência e poder de Deus.

3093 — São os termos abstratos os que nos têm levado a inumeráveis erros, e suscitado terríveis divergências nas opiniões dos homens; um dicionário destinado somente a defini-los com exatidão seria de grande beneficio à humanidade.

3094 — A vida é fruição muito imperfeita, enquanto não referimos a beneficência divina à nossa existência, os prazeres de que gozamos, os objetos que os produzem, e não reconhecemos em Deus a origem necessária e única de toda a felicidade no universo.

3095 — A morte demonstra que fomos constituídos e organizados para este e não para outros mundos, reduzindo a pó o nosso corpo, quando não pode servir nem ter exercício no presente em que vivemos.

3096 — Os velhacos prosperam por algum tempo para que a sua derrota seja mais sensível e tormentosa.

3097 — Os homens de mais juízo são ordinariamente também os de maior silêncio.

3098 — O gênero humano foi constituído para ser o que é, como os animais para serem o que são.

3099 — O universo não foi criado para deuses, mas para criaturas de inteligência limitada às quais são necessários contrastes para poderem avaliar de algum modo os fenômenos, coisas e eventos da natureza.

3100 — Vemos a Deus neste mundo vendo e admirando as suas obras, gozamos também de Deus gozando das suas obras, aprendemos tudo de Deus estudando as suas obras ou a natureza, que é o complexo de todas elas.

3101 — Os sábios não devem tratar de negócios públicos; a sua boa fé, verdade, franqueza e probidade hão de sempre comprometê-los e prejudicá-los.

3102 — A proteção aos maus compromete os bons.

3103 — A emancipação antecipada nos homens e nos povos é fatal e calamitosa para eles todos.

3104 — É tal a diversidade de opiniões dos homens, que uns consideram como verdades sublimes e sacrossantas o que outros qualificam de paralogismos, absurdos e disparates.

3105 — Os loucos importantes e imprudentes sobem e descem com celeridade; os grandes velhacos elevam-se com menos presteza, porém aturam por mais tempo na sua elevação.

3106 — Gozar admirando as obras do criador é a mais nobre prerrogativa do homem sobre a terra; esta fruição assim qualificada procede de uma inteligência superior que se remonta à causa dos efeitos, e descobre a divindade em todos os fenômenos e produções da natureza.

3107 — Os velhos de juízo desenganados do mundo e retirados das companhias são acusados de misantropos e insociáveis.

3108 — A felicidade sensual não pode ser progressiva; a moral, intelectual é religiosa, é ilimitada.

3109 — Povos, desenganai-vos, não é por amor da liberdade que os anarquistas e inculcados liberais tanto se agitam e perturbam a ordem pública, mas por cobiça do mando, poder e riqueza: querem ser senhores e dominar escravos.

3110 — A mulher é escrava quando ama, senhora, se despreza ou aborrece.

3111 — A ciência humana, não podendo ser absoluta, mas somente relativa, ela se funda inteiramente no contraste e antagonismo dos fenômenos e coisas deste mundo.

3112 — A inteligência delegada aos homens por Deus, para produzirem obras engenhosas nas ciências e artes, é como a luz reflexa do sol, que não tem a ação e energia que acompanham a do mesmo astro operando diretamente na natureza.

3113 — Variam os gostos com as idades; o que deleita os moços incomoda freqüentes vezes os velhos.

3114 — O futuro é pouco ou nada para os animais, para os homens, muito ou quase tudo.

3115 — É menos difícil conhecer os homens em geral que cada um deles em particular.

3116 — A importância que se dão alguns homens é ordinariamente argumento da sua pessoal insignificância.

3117 — Quantos males que dão origem e ocasião a grandes bens! O mal é no sistema deste mundo um elemento necessário e indispensável de ordem, equilíbrio, harmonia e perpetuidade.

3118 — Sabemos todos dar melhores conselhos do que exemplos.

3119 — O buril da dor é o mais penetrante e sutil, entra profundamente na nossa sensibilidade.

3120 — Os que não sonham são somente os que dormem o sono da morte.

3121 — Os homens, porque deixaram o estudo da natureza, revelação perene da divindade, e para o que é suficiente o alfabeto dos sentidos corporais com as faculdades da alma, confiaram na fantasmagoria da sua imaginação, nas fábulas e contos pueris dos néscios e impostores, e se envolveram em um turbilhão de erros e abusos, que, deteriorando o seu entendimento, lhes não permite avistar a verdade nas matérias mais graves e importantes.

3122 — Os traidores exaltados maltratam ou perseguem os leais abandonados.

3123 — As revoluções religiosas seguem ou procedem ordinariamente as políticas.

3124 — Não há duvida: existe em nós uma unidade misteriosa a que chamamos alma, a qual, dominando e administrando o nosso corpo, é influída e impressionada também por ele, com recíproca ação e correspondência.

3125 — O termo do progresso no gênero humano, se fosse possível, seria sabedoria, santidade, impassibilidade e imortalidade, o que não há de ser nem verificar-se em tempo algum.

3126 — Sem o mal físico, origem do moral, não haveria ofício, emprego ou ocupação alguma para as criaturas vivas neste mundo sublunar.

3127 — Quando Deus se definisse às suas criaturas mais inteligentes, elas não compreenderiam a sua definição; é a natureza que apresenta a definição mais apropriada às inteligências criadas, exibindo as suas obras maravilhosas.

3128 — Não faz uma revolução quem a quer, nem introduz uma religião nova quem o pretende: ambas dependem da coadjuvação de inumeráveis pessoas e numerosas circunstâncias antecedentes e concomitantes sobre que um homem simplesmente não pode ter dominação.

3129 — Os males toleráveis ou intoleráveis têm um termo necessário na vida humana: terminam pela suspensão ou cessação da dor ou mágoa ou pela morte. Esta verdade nos deve consolar quando sofremos, é fazer-nos reconhecer a bondade infinita de Deus, que, criando-nos para gozarmos e sermos felizes, não consente que padeçamos ilimitadamente sem alternativa de mudança, e melhoramento em nossa sorte.

3130 — São muito raros no gênero humano os homens verdadeiramente sábios; o concurso de condições e circunstâncias especiais necessário para que os haja, ocorre com tanta dificuldade que não deve admirar a sua raridade: demais a sua aparição pouco ou nada aproveita aos outros homens que os desprezam, perseguem ou motejam, incapazes de compreendê-los, e os obrigam finalmente ao silêncio, retiro e reclusão.

3131 — Não esperem os homens por, maior que seja o progresso da sua inteligência, chegar a conhecer as verdades capitais e primitivas sobre a essência e natureza das coisas: mudarão de erros, fábulas, hipóteses e teorias, mas nunca poderão alcançar conhecimentos que hajam de mudar a natureza humana, e fazer os homens diversos do que farão e do que são.

3132 — O mundo varia aos olhos e nas opiniões dos homens, conforme as idades e condições da vida.

3133 — É tão evidente a existência de Deus e sua infinita sabedoria, que para as demonstrar bastaria simplesmente o exame da ilimitada variedade de flores com a forma, desenvolvimento e expansão dos seus botões.

3134 — As noções do infinito, eternidade e intensidade, da imortalidade da alma e de uma vida futura com as transcendentes da infinita sabedoria, poder e bondade de Deus, autor e Criador de tudo, provam demonstrativamente que a nossa vida não se limita à curta existência neste mundo, mas que terá de prolongar-se pela eternidade com variados corpos em inumeráveis mundos, crescendo a nossa inteligência progressivamente em ciência, virtude, amor, gratidão e admiração de Deus, e conseqüentemente em uma bem-aventurança tal que não é possível qualificar nem compreender. A inteligência humana é muito superior e transcendente à vida animal e temporária deste mundo terreal, e portanto nos anuncia altos e sublimes destinos depois dele em muitos outros subseqüentes e inumeráveis.

3135 — O material e sensual é o invólucro ou estojo do racional e espiritual: o espírito é a substância ativa e inteligente, o corpo, o instrumento ou maquinismo executor e condutor da sua ação e inteligência.

3136 — Na velhice provecta os cuidados e mágoas consomem a vida mais que os achaques e moléstias corporais.

3137 — Este mundo tem relações com o sistema solar de que faz parte e este com o sistema universal da criação, o que nos impossibilita de explicar inumeráveis fenômenos do nosso globo, que sem a nossa ignorância muito profunda seriam explicados com admiração da divina sabedoria que os ordenou e coordenou na formação do universo.

3138 — A individualidade consiste na variedade da organização, humores, forma e figura dos corpos viventes: os espíritos, sendo imateriais, não podem ser distintos uns dos outros, ou desiguais em suas faculdades, desigualdade que só a extensão material lhes pode ocasionar e conferir.

3139 — O sábio rejeita com desprezo e indignação toda a doutrina que é incompatível com a idéia sublime que o estudo da natureza lhe conferiu, de um ente perfeitíssimo, infinitamente sábio, poderoso e bom, qual é Deus autor e regedor supremo do universo.

3140 — Os homens parecem envergonhar-se dizendo que ignoram, e contudo a declaração ingênua da sua insciência muito contribuiria pana fazer avultar o seu pouco saber, inculcando a sua superior inteligência pelo conhecimento da sua mais ampla ignorância.

3141 — Os povos soberanos são como os ídolos, a quem os seus sacerdotes atribuem e referem tudo o que é obra deles mesmos.

3142 — É triste que os homens e povos não possam aprender senão sofrendo, o mal é o preceptor mais eficaz que, com as suas lições incisivas e penosas, lhes confere juízo e prudência, e os dirige no exercício da liberdade que muito prezam, e de que tanto abusam para sua miséria e desgraça.

3143 — Em todos os estados e condições da vida, o que ganhamos por uma parte, perdemos por outra, temos vantagens e inconvenientes, o que provém da correspondência natural e inevitável do bem e do mal neste mundo em que existimos.

3144 — Ainda que antigo pela sua existência, o mundo é sempre novo pelas suas produções animais e vegetais, as quais vão aparecendo sucessivamente com variedade e novidade. As gerações futuras hão de ver gêneros e espécies que nos são desconhecidas presentemente.

3145 — A morte é tão misteriosa como a vida, esta porque principia, aquela, porque a termina.

3146 — Vida e composição, morte e destruição: eis o quadro resumido deste mundo.

3147 — Deus se figura e individualiza de algum modo na natureza objetiva e fenomenal, sendo a sua substância, aliás eterna, imensa e ilimitada por sua essência misteriosa e incompreensível.

3148 — De que nos serviria uma nova vida se o nosso espírito não conservasse na memória o cabedal de idéias e conhecimentos que adquiriu na primeira? Me a acumulação progressiva de ciência nos variados mundos que temos de habitar, em variados e respectivos corpos, não promovesse a nossa felicidade, tornando-nos menos passíveis, e aumentando a soma dos prazeres sensuais e intelectuais pelo progresso da nossa inteligência? Uma felicidade progressiva e sem fim por um progresso ilimitado de ciência e inteligência como o estudo, fruição e admiração das obras divinas: eis aqui a destinação do homem na sua existência multiforme no universo e por toda a eternidade.

3149 — O mal, qualquer que seja, não é tal para todos, mas bem para muitos outros.

3150 — Ninguém receia tanto a morte como o sábio, admirador constante do espetáculo maravilhoso do universo, e comensal refletido no banquete universal da natureza: ele deplora a sua condição mortal pela privação de tão grandes bens, quando se achava mais habilitado para melhor os avaliar e admirar. Ainda que a idéia de uma outra vida o console e esperance, sabe todavia o que perde, e ignora o que tem de ganhar em uma revolução de existência tão estranha como incompreensível; porém no meio das suas dúvidas e receios, reconhecendo a infinita bondade de Deus que a natureza apregoa, e ele tem experimentado no progresso da sua vida, resignado e reconhecido, se entrega à sua divina providência, confiando dela o melhoramento progressivo da sua sorte futura e eterna.

3151 — Dei ao mundo o sumo da minha vida: a minha alma é de Deus: o bagaço do meu corpo pertence à terra.

3152 — A Eternidade compreende o tempo, a imensidade, o espaço. Deus compreende tudo — a Eternidade e Imensidade.

3153 — Deus é Eterno: o Universo foi criado: a obra não pode preexistir ao artista que a concebeu e executou.

3154 — É fruição dobrada gozar amando, admirando e agradecendo a Deus.

3155 — A mocidade goza sem reflexão, padece com ela a velhice.

3156 — Os bens da vida como as rosas estão bordados de espinhos.

3157 — Os homens são como os relógios, uns se atrasam, outros se adiantam, poucos regulam bem.

3158 — No banquete da Natureza, quem mais se demasia, pouco dura.

3159 — Verdades há como as estrelas, que só se avistam nos céus.

3160 — O prazer é o diabo que nos tenta, a razão o bom anjo que nos guarda.

3161 — O coração tem seus mistérios que a prudência não permite publicar.

3162 — Conhecemos a vida presente, fantasiamos a futura.

3163 — A poesia figura o que a filosofia abstrai.

3164 — O pouco que sabemos nos anuncia o imenso que ignoramos.

3165 — Há muita gente má que não consente que a façam boa.

3166 — A vida nos faz sensíveis, a morte, impassíveis.

3167 — Saúde, riqueza e sabedoria, raras vezes se encontram em companhia.

3168 — Verdades há que amargam como o fel, e mentiras que têm o sabor do mel.

3169 — Padecer para merecer é muitas vezes o programa da vida humana.

3170 — A vida é fruição de Deus pelo uso e gozo das suas obras.

3171 — Nos negócios da vida humana, o estômago e barriga têm um voto preponderante.

3172 — Quem fala despende, quem ouve arrecada.

3173 — As fábulas e alegorias do Oriente invadiram e conquistaram o Ocidente.

3174 — O dia não descobre tantos crimes quantos encobre a noite.

3175 — Os sábios discorrem bem e governam mal.

3176 — As pessoas pobres são as que mais exageram o cabedal dos ricos.

3177 — Exatidão e pontualidade são distintivos da probidade.

3178 — Como a aranha na sua teia, a nossa alma é sensível em todo o corpo.

3179 — Em política e religião não há fé sem esperança.

3180 — A beleza sugere a idéia do bem, a fealdade a do que é mau.

3181 — O incenso e louvor por demasiados nunca fedem.

3182 — O ar devora as palavras, os escritos permanecem.

3183 — Devemos agradecer a Deus todas as disposições de sua Divina Providência, inclusive a mesma morte.

3184 — Os jornalistas vivem de folhas, mas não produzem seda, como as lagartas.

3185 — A autoridade de poucos determina a crença opiniões de muitos.

3186 — O nascimento desiguala, a morte iguala a todos.

3187 — A felicidade humana, como a roseira, não dá rosas sem espinhos.

3188 — Fianças e confiança têm arruinado muita gente boa.

3189 — A civilidade e dissimulação são amigas de coração.

3190 — O governo dos tolos e dos sábios é igualmente desastroso para eles e para os povos.

3191 — Viver é um bem, morrer a propósito o maior dos bens.

3192 — A glória dos conquistadores é como a Iluminação dos incêndios.

3193 — O materialismo é a escada necessária e indispensável para subir e chegar-se ao idealismo.

3194 — Não podemos sair fora da esfera da ação divina, esta compreende a imensidade.

3195 — Aprendemos gozando e sofrendo, a vida é uma escola de bens e males.

3196 — O que se ganha pela força, por ela também se perde.

3197 — Pátria, língua e religião é o nascimento que as dá.

3198 — A vida é a arvore da ciência do bem e do mal: viver é sentir, gozar e sofrer.

3199 — Vivemos condicionalmente sujeitos e obrigados a morrer.

3200 — O amor da verdade exclui a lisonja e adulação que são mentiras.

3201 — Dizemos muito falando pouco, quando sabemos expressar-nos bem.

3202 — O fraco é verboso, o forte silencioso.

3203 — É beneficio incompleto fazer ressuscitar a quem tem de morrer segunda vez.

3204 — A companhia dos moços incomoda os velhos.

3205 — A companhia dos velhos dá sujeição aos moços.

3206 — Melhoramos em virtude quando pioramos em saúde.

3207 — O governo dos moços não tolera conselheiros velhos.

3208 — Nem toda a luz é benéfica, a dos incêndios é desastrosa.

3209 — A civilidade ensina a mentir para não desagradar.

3210 — Os homens não são tais que desejem ser bem conhecidos: estimariam que os julgassem como afetam parecer.

3211- O fogo destrói e consome iluminando.

3212 — Os sábios têm poucos admiradores, os ricos e poderosos numerosos aduladores.

3213 — Na velhice, os males se condensam e os bens se rarificam.

3214 — Crer e amar são atos voluntários que não podem ser forçados.

3215 — Não há vida sem corpo, como não há luz sem olhos.

3216 — A austeridade dos velhos afugenta os moços.

3217 — Preferimos o engano que nos debita à verdade, que nos incomoda.

3218 — O verdadeiro sábio avista a luz por entre as trevas, e a verdade pela espessura dos erros.

3219 — A matéria simboliza e revela a inteligência que sem ela seria desconhecida e verdadeiramente nula.

3220 — A vida mais contrastada é talvez a mais ilustrada.

3221 — A Providência Divina é o maior corretivo da ignorância humana.

3222 — A paixão pelo jogo anuncia pouca ou nenhuma inclinação para as letras.

3223 — Sede liberais com os pobres, Deus será pródigo convosco.

3224 — Que podemos dizer da Sabedoria e Poder de Deus que não digam melhor do que nós o céu estrelado, o dia solar, a noite lunar, e a menor flor ou inseto deste mundo!

3225 — O preguiçoso não madruga, o homem laborioso antecipa o dia 3226 — A morte embalsama a memória dos escritores eminentes.

3227 — Os vícios dão mais ocupação e que fazer aos homens do que as virtudes; estas são modestas e econômicas, aqueles, dispendiosos.

3228 — As fábulas ocupam, divertem, e são objeto das crenças de muita gente.

3229 — Em matérias religiosas muito se crê e pouco se acredita.

3230 — Os homens ensinam a temer a Deus, a Natureza a amá-Lo e admirá-Lo.

3231 — Vemos a Deus em suas obras maravilhosas e O admiramos em nós mesmos.

3232 — Não fieis dinheiro de quem não restitui os livros emprestados.

3233 — A civilidade incomoda e faz mentir a todos.

3234 — Os conselhos dos moços prejudicam os velhos.

3235 — A fome boceja, a fartura arrota.

3236 — A importância exterior, que afetam certas pessoas, denuncia ordinariamente a sua interior insignificância.

3237 — Muita gente finge crer o que realmente não acredita.

3238 — Entre as aves é no gênero masculino que se encontram os cantores, oradores e faladores.

3239 — A mulher cigarra e irascível é o maior flagelo de uma família 3240 — A imaginação que avoluma os bens também exagera os males futuros.

3241 — Atores e espectadores neste mundo, vivemos para gozar e morremos para não sofrer.

3242 — São dois grandes benefícios da Divindade, a vida para gozarmos, a morte para não sofrermos.

3243 — A Sabedoria é o maior dos bens da vida: mas quanto custa e quando chega!

3244 — Os homens sinceros dão fácil presa aos velhacos que procuram enganá-los.

3245 — Os mentirosos têm patente de invenção que não compete aos que dizem e falam verdade.

3246 — A velhice é o purgatório da vida pelos males que a invadem, e privações a que obrigam.

3247 — Praticai com os bons e sereis bom; convivei com os maus, sereis um deles.

3248 — Os pródigos em palavras são ordinariamente avaros em benefícios.

3249 — Crer muito, pouco ou nada, carateriza o verdadeiro sábio; crer muito no testemunho da Natureza, pouco ou nada no dos homens.

3250 — Graves desgostos e tormentos acompanham os maus casamentos.

3251 — A inteligência aumenta a força, dando-lhe melhor direção e disciplina.

3252 — O louvor ganha amigos, a maledicência inimigos.

3253 — Com juízo, trabalho, inteligência e economia, é pobre quem não quer ser rico.

3254 — Sente-se a felicidade, não se define.

3255 — Os vícios igualam as condições, as virtudes as distinguem.

3256 — Sofremos no tempo, mas como este não pára, passam com ele os nossos sofrimentos.

3257 — É sábio aquele que melhor sabe avaliar os homens, coisas e sucessos.

3258 — Quando os povos merecem ser governados por tiranos, estes são ordinariamente criaturas de sua escolha.

3259 — O sábio não escreve para individualidades, é preceptor e conselheiro do gênero humano.

3260 — Encarecendo os nossos serviços, rebaixamos o seu valor.

3261 — Benefícios há que valem menos por seu objeto e matéria do que pela forma com que são conferidos e liberalizados.

3262 — A civilidade tem, como as obras de casquinha, o exterior de metal nobre, mas o interior é de cobre.

3263 — A civilidade polindo os homens por fora os deixa broncos por dentro.

3264 — A pobreza envilece os homens, a riqueza os enobrece.

3265 — Há celebridades de pouca duração; são obras das circunstâncias e com dias passam.

3266 — Os pobres acham sempre pouco o que os ricos lhes dão a titulo de esmola, pedindo por em préstimo, taxam a quantia e se consideram menobrigados à sua beneficência.

3267 — Há uma modéstia simulada que faz mais distinta a vaidade dos que a querem inculcar.

3268 — É prova da copiosa transpiração das nossas mãos a rápida contração das folhas e ramos da mimosa sensitiva quando lhe tocamos.

3269 — Os admiradores de Deus não podem ser inteiramente mortais.

3270 — O que chamamos desordem está sujeito também às leis da ordem universal.

3271 — Ainda que átomos viventes, não devemos considerar-nos desapercebidos pela Providência divina: a ubiqüidade e imensidade de Deus nos asseguram a sua onipotente assistência e proteção.

3272 — É necessário desaprender ou refugar muito para sabermos pouco e bem.

3273 — Reconhecemos que Deus é infinitamente bom, e receamos a morte!

3274 — As tormentas da vida, como as tempestades, são seguidas de bonança, esta é tanto mais durável quanto aquelas foram longas.

3275 — O néscio está bem em toda a parte, o sábio nunca melhor que no retiro e solidão.

3276 — A inteligência humana avista pouco, mas quanto basta para avaliar o imenso que não descobre.

3277 — Os males estão de tal modo travados e enlaçados com os bens, que não há condição ou estado algum de vida isento dos seus ataques, mais ou menos freqüentes e penosos.

3278 — E necessário ter lido muito para no fim reconhecermos que sabemos pouco.

3279 — A civilidade requinta nos que professam menos virtudes, porque as supre ou inculca.

3280 — São inumeráveis os sucessos que vêm de Deus e que os homens se atribuem.

3281 — Os moços confiam muito, os velhos de tudo desconfiam.

3282 — A importância que se dá aos que governam redunda em benefício dos governados.

3283 — Os homens são geralmente bons e excepcionalmente maus.

3284 — Os tolos aprendem à sua custa, os avisados à custa deles.

3285 — Há paixão logo que um objeto ocupa exclusivamente o nosso pensamento e imaginação.

3286 — É mais fácil refutar erros que descobrir verdades.

3287 — Há uma reação individual, coletiva e social contra os maus, que lhes não permite sê-lo por muito tempo.

3288 — O castigo dos criminosos é a mais segura garantia para os virtuosos.

3289 — Fazemos mais festa aos maus do que aos bons; estamos seguros da bondade destes, e receamos a malignidade daqueles.

3290 — Como a luz e a sombra, o mal e o bem obedecem a certas leis e condições de um sistema que os constitui.

3291 — Tudo é vida, ação e movimento no universo, em seu todo e partes mínimas; Deus é o agente e motor universal da fábrica imensa da criação concebida na sua mente divina, e executada no espaço e tempo por sua vontade onipotente em beneficio e felicidade de todas as suas criaturas vivas, sensíveis e inteligentes.

3292 — Esquecemo-nos dos bens de que gozamos, e só nos ocupamos e queixamos dos males que sofremos.

3293 — A vaidade constitui uma parte muito importante da felicidade da espécie humana.

3294 — É nos meninos e velhos que se observa ordinariamente o egoísmo mais requintado; a fraqueza é egoísta.

3295 — Sem antagonismo ou oposição não há movimento nem ação.

3296 — Multiplicando as nossas relações familiares e sociais, multiplicamos também os nossos cômodos e incômodos.

3297 — Os sábios avistam ordem e harmonia nos mesmos fenômenos físicos e morais em que os néscios só descobrem desordem, perturbação e discórdia.

3298 — Pessoas há que, bem conhecidas por todos, somente se desconhecem a si próprias.

3299 — As nações novas tomam o caráter da literatura estrangeira a que se aplicam, como os meninos, o talho de letra dos traslados por que aprendem.

3300 — Gozamos muito pelos olhos, pouco menos pelos ouvidos, e consideravelmente pela gula ou paladar.

3301 — Os que adulam os povos são os que mais os desprezam.

3302 — O aplauso dos néscios é, para os sábios, assuada.

3303 — Ocupamo-nos muito conosco, e com os outros por amor de nós.

3304 — A saúde é minguada onde a ciência é avultada.

3305 — As nações têm, como as grandes árvores, muitas plantas parasitas que se criam e vivem à custa delas, sem contudo empecerem substancialmente a sua brilhante vegetação, florescência e frutificação.

3306 — Na indústria humana, a ciência aproveita tudo o que a ignorância desperdiça.

3307 — O lisonjeiro, como o fogo, queima e consome a quem abraça.

3308 — Os néscios, charlatães e pedantes fogem dos sábios como os animais noturnos do fogo que os ilumina.

3309 — Não sabemos agradecer os benefícios dos governos mas só queixar-nos dos seus erros e desacertos.

3310 — Os sábios são tais menos pelo que dizem, do que pelo que calão.

3311 — A ingratidão dos povos corresponde à extensão dos benefícios recebidos.

3312 — Ninguém se considera tão ignorante como o sábio, nem tão sabedor como o néscio.

3313 — A privança com os príncipes custa tão caro que os validos abusam dela ordinariamente para se pagarem do seu alto custo.

3314 — Os validos reinam com os príncipes e ordinariamente sobre eles.

3315 — A aliança com os maus é sempre funesta aos governos.

3316 — Não há neste mundo bem nem mal absoluto: o que é veneno para uns viventes, serve de alimento para outros.

3317 — Há muitos divertimentos que não correspondem aos incômodos e despesas antecedentes e conseqüentes da sua fruição. É melhor, em tal caso, escusá-los e rejeitai-los.

3318 — Poucos querem doutrina, todos, dinheiro.

3319 — A fome aduba o alimento, a sede faz aprazível a bebida, trabalho, o descanso: os males são o condimento dos bens.

3320 — Quantos males que vêm por bem! E quantos bens que ocasionam graves males! A providência divina, na distribuição do bem e do mal, é tão justa como incompreensível.

3321 — Podemos pensar como quisermos, mas devemos falar e escrever como convier, conforme as circunstâncias de lugar e tempo.

3322 — Cintila o céu, verdeja a terra: a divina sapiência por toda a parte se revela.

3323 — A corte fascina os néscios, e desencanta os doutos.

3324 — Como o escultor não é a estátua que formou, nem o pintor o quadro que executou, nem o poeta o poema que compôs, assim Deus não se individualiza nas suas obras maravilhosas; é independente delas ainda que concebidas na sua divina mente e realizadas pela sua onipotência no tempo e no espaço. É deste modo que se deve entender o panteísmo: seria absurdo considerá-lo de outra maneira.

3325 — Viver é lidar, morrer descansar.

3326 — Não é com a embriaguez que se deve (sic) celebrar os sucessos felizes, mas com a sobriedade que nos permite saborear, no exercício da razão toda a nossa felicidade.

3327 — Os bons servidores dos príncipes são ordinariamente os menos atendidos e premiados: sabem melhor servir que pedir.

3328 — Se a vida não é um grande bem, porque se festeja geralmente o dia aniversário do nascimento e se lamenta o da morte?

3329 — A riqueza agrada a todos, não pelo trabalho que custa, mas pelos prazeres e cômodos que oferece.

3330 — Dizer e descobrir verdades é o empenho constante do verdadeiro sábio.

3331 — Os que falam contra a riqueza são ordinariamente os que mais freqüentam, importunam e caloteiam os ricos.

3332 — A inteligência humana tem multiplicado os prazeres e cômodos da vida com tal extensão e variedade, que nos deixa duvidosos se gozamos mais pelos bens da natureza, se pelos de invenção e indústria humana.

3333 — Tudo o que existe e tem limites no espaço os tem igualmente no tempo e duração.

3334 — Males há que servem de crises para os grandes bens.

3335 — Os homens de maior ilustração são os que mais têm estudado a natureza ou a Deus nas suas obras.

3336 — Os homens disputam sobre tudo e demonstram com isso a sua recíproca ignorância.

3337 — A imaginação é mais lasciva e menos honesta que o procedimento habitual dos homens.

3338 — Os males confinam com os bens, homens há que, amanhecendo felizes, anoitecem desgraçados.

3339 — Padecer agradecendo a Deus é reconhecimento salutar da sua infinita justiça.

3340 — Se pudéssemos prever o futuro, não haveria liberdade nos homens, tudo seria fatal e necessário.

3341 — A dissimulação nas mulheres desorienta e extravia os homens.

3342 — O natural é obra de Deus, o mitológico e maravilhoso produto da ignorância, fantasia e impostura humana.

3343 — O bem é ordeiro e conservador, o mal desordeiro e destruidor.

3344 — Uma cabeça má arruina o corpo inteiro.

3345 — Aprendemos sofrendo mais e melhor do que gozando.

3346 — É ventura para o homem viver confiando e morrer esperando em Deus.

3347 — As sociedades humanas estão por tal modo travadas de amores e instintos sociais, que se conservam compactas e indissolúveis a despeito dos erros, desacertos e irregularidades dos governos e governantes.

3348 — O homem mais admirado é ordinariamente o menos freqüentado.

3349 — A maior intensidade do mal anuncia ordinariamente a sua menor duração.

3350 — Ninguém se pode queixar de não ter um amigo podendo ter um cão.

3351 — A companhia dos bons é tão saudável quanto a dos maus é perniciosa à saúde e vida.

3352 — As demandas como as doenças dão ocupação e alimentam muita gente.

3353 — Não podemos sair da esfera da providência divina; ela compreende a imensidade, e nenhuma criatura vivente, por mínima que seja, está fora do alcance da sua benéfica influência e incessantes benefícios.

3354 — Para o velho ilustrado e supra septuagenário, cada ano mais de vida corresponde a um século.

3355 — No retrospecto e recordação da nossa vida passada, reconhecemos que freqüentes vezes em nossas ações fomos menos senhores de nós do que escravos das circunstâncias.

3356 — Mal vai aos tronos e governos quando recorrem aos seus inimigos para que os defendam e sustentem.

3357 — A beleza corporal confere grandes vantagens, a intelectual muito maiores pelo seu progresso e variedade.

3358 — Se os homens falassem menos, trabalhariam mais: o exercício da língua entorpece ordinariamente o dos braços.

3359 — Os grandes faladores são de ordinário muito maus trabalhadores.

3360 — Infinita sabedoria revela-se por infinita variedade nas obras e produções divinas: tal é a que se observa na natureza.

3361 — A beleza corporal raras vezes anuncia superioridade de engenho e inteligência.

3362 — No governo dos tolos os velhacos são os seus validos.

3363 — Os velhos, dando bons conselhos, os desabonam muitas vezes com os seus maus exemplos.

3364 — Os maus retiram-se dos bons no tempo da sua ventura, e os procuram na desgraça para serem consolados, protegidos e aconselhados. Há alguma coisa de divino na bondade e beneficência humana.

3365 — Tudo o que existe é obra de Deus direta ou indiretamente.

3366 — A diligência facilita quanto a preguiça dificulta.

3367 — Se tudo fosse eterno, imortal e indestrutível, não haveria ação, movimento, mudança, variedade nem novidade no universo: tal eternidade poria termo aos atributos divinos de infinita sabedoria, poder e bondade, limitando o seu exercício.

3368 — A virtude é habitual nos homens, o crime, excepcional.

3369 — A natureza educa os animais, a sociedade os homens: a educação daqueles é uniforme, a dos homens variada.

3370 — O mal destrói, não pode ser permanente; o bem conserva, tem por isso mais duração.

3371 — O sábio e o néscio não convivem nem se toleram por muito tempo.

3372 — A vaidade de uns alimenta a muitos outros.

3373 — Imaginai todas as perfeições possíveis em um ente, e sabei que são nada em comparação com as superlativas e infinitas em Deus, criador onipotente do universo.

3374 — Os homens são menos livres do que pensam, e mais escravos do que imaginam.

3375 — Nas mulheres pelejam mais as línguas do que os braços.

3376 — Os moços são verbosos e superficiais, os velhos, concisos e substanciais.

3377 — Há homens para tudo, assim nomal como no bem.

3378 — Afetamos desprezar os bens que não podemos conseguir.

3379 — Tudo se compreende em Deus, extensão e inteligência.

3380 — É prerrogativa dos sábios um ceticismo racional.

3381 — A fraqueza é muitas vezes coonestada com o nome de prudência.

3382 — Deus é o único ente sobrenatural preexistindo à Natureza, que é obra sua.

3383 — Surgem e se somem nas revoluções políticas celebridades efêmeras e brilhantes como os meteoros.

3384 — Em certas e importantes matérias é mais seguro inculcarmos saber menos do que sabemos, e figurar de néscios freqüentes vezes.

3385 — Se não podeis contar as estrelas dos céus, as flores da terra nem as areias do mar, como pode reis numerar e compreender a multidão inumerável das maravilhas de Deus na imensidade do espaço? Tudo é infinito e incompreensível em Deus e nas suas obras.

3386 — No mau tempo da vossa vida, abrigai-vos em Deus: o seu abrigo é seguro protetor e indefectível.

3387 — A natureza é o veículo ou condutor de todas as inspirações de Deus para com os homens: os produtos engenhosos da sua indústria e os pensamentos luminosos do seu intelecto têm aquela origem e derivação.

3388 — O homem ocioso torna-se vicioso.

3389 — O homem é criatura moral e social, Deus, que o formou, assim o quis: é uma necessidade da sua natureza interessar-se no bem comum, a fim de que a sociedade avulte e prospere, sendo ele um dos membros dela, e partilhando a sua sorte no bem e no mal geral.

3390 — O bem e o mal se harmonizam de tal modo que deles resulta a renovação, conservação e perpetuidade deste mundo.

3391 — A imaginação veste o nu e despe o vestido.

3392 — Os homens de grande engenho e inteligência avistam verdades tais e tão sublimes que parecem sofismas e disparates aos néscios e pessoas de vulgar compreensão.

3393 — A soma dos bens da vida é incomparavelmente muito maior que a dos males: estes mesmos são removidos, neutralizados e até transformados em bens pela inteligência humana.

3394 — Em um sistema de bens e males como o deste mundo, não há vivente algum que não tenha a sua quota de uns e outros.

3395 — Discórdia aparente e harmonia real é o estado habitual da sociedade em geral.

3396 — Os anarquistas ambiciosos passam em progresso de traidores, conspiradores e sediciosos a rebeldes.

3397 — Os cultos religiosos que perecem não ressuscitam mais.

3398 — Os que acreditam serem felizes os maus não estão longe também de os imitar.

3399 — Pouco vê quem não avista a justiça e providência divina em todo o jogo, movimento e evoluções da espécie humana.

3400 — Esperamos com impaciência pretendidos bens, que, chegando, dão ocasião a gravíssimos males.

3401 — Gozar com reflexão é qualidade de quem tem juízo e saber.

3402 — A vida é formação, a morte, transformação.

3403 — Uma vida longa está sujeita a grandes vicissitudes, e quanto mais ela se estende, maiores males a invadem e atormentam.

3404 — A independência do sábio consiste na sua esperança e confiança em Deus, e na plena resignação com a sua vontade onipotente.

3405 — Envergonhamo-nos em certas épocas da nossa vida das mesmas opiniões que professamos em outras.

3406 — Os velhos sempre receiam o pior; lembram-se mais dos males que sofreram do que dos bens que gozaram.

3407 — O silêncio não tem fisionomia, a palavra muitas caras.

3408 — O azul dos céus não tem a variedade maravilhosa do verde da terra: nesta, os nossos olhos devem distinguir as inumeráveis espécies e individualidades vegetais, o que se consegue pela diversidade incalculável da cor verde: nos céus, não se descobrem objetos que precisem distinguir-se pelas cores, os que vemos são distintos por suas luzes.

3409 — A fome explica muitos dos atos e fenômenos sociais: a ele se deve freqüentes vezes a mudança rápida e misteriosa das doutrinas e opiniões de muitos homens.

3410 — As opiniões humanas serão sempre tão várias como os interesses, conhecimentos, idades, estados e condições dos homens.

3411 — A sabedoria chega por fim a alguns velhos para os consolar e distrair dos seus males e dores corporais.

3412 — É necessário saber muito para muito admirar, gozando as obras e produções da natureza.

3413 — Este mundo é um vastíssimo viveiro e cemitério das criaturas sensíveis que nele se criam, vivem e perecem.

3414 — Para que soframos menos no exercício da vida, é necessário que nos enganemos e sejamos enganados freqüentes vezes.

3415 — Pagamos com dores na velhice as dívidas contraídas com a moral na mocidade.

3416 — O trabalho é tão necessário para o exercício da vida que os animas, não tendo as paixões morais que tanto impelem os homens ao movimento e ação, são incomodados por inumeráveis insetos que os forçam a um moto contínuo para os matar e repelir.

3417 — Belas flores, quanto vos invejo! murchais e morreis, mas não tendes como os homens na velhice a sensibilidade e consciência dolorosa de seus males, decadência e morte.

3418 — O silêncio agrada tanto aos velhos, quanto o ruído e vozeria à gente moça.

3419 — A familiaridade encurta o respeito e rebaixa a autoridade.

3420 — Nunca espereis agradecimentos das advertências que fizerdes às pessoas eivadas de cacoetes e defeitos na linguagem e gestos: sereis maltratados pela vossa franqueza e lealdade.

3421 — Todos os homens querem louvor e não censura; esta humilha o amor-próprio, aquele o exalta.

3422 — Existir padecendo é viver morrendo.

3423 — A civilidade é um verniz que dá lustro aos homens e os faz parecer melhores do que ordinariamente são.

3424 — É o mal que dá origem à moral; não haveria sem ele crimes, vícios nem virtudes.

3425 — Quereis conhecer a Deus quanto permite a inteligência humana, estudai o consultai a natureza, sua perene revelação.

3426 — Sempre nos enganamos com os homens quando os supomos com juízo, saber, exatidão lealdade e probidade.

3427 — A avareza ajunta, a prodigalidade espalha; esta peca por imprudente, aquela, por nimiamente prudente.

3428 — Como as baleias navego nos grandes mares, os maiores velhacos freqüentam as altas cortes.

3429 — A franqueza pode ser reprovada, a lealdade é sempre apreciada.

3430 — Os homens, como todos os objetos da natureza, são instrumentos, ministros e executores da vontade onipotente: esperai e confiai em Deus, os homens vos servirão.

3431 — Seria um bom conselho para muita gente: deixai-vos de política, aplicai-vos à moral.

3432 — A incerteza do termo da nossa vida lhe confere uma perpetuidade ilusória, mas aprazível.

3433 — Lamentamos na velhice a perda de vantagens e faculdades que não soubemos apreciar devidamente na mocidade.

3434 — O homem de engenho e prudência, que se contrai e resume na sociedade, oferece menos alvo e superfície aos tiros da inveja, ciúme e ambição de seus inimigos e antagonistas.

3435 — Quem em Deus confiou, nunca se enganou.

3436 — Deus é a nossa esperança; quem em Deus confia, tudo alcança.

3437 — Os grandes conquistadores são neste mundo instrumentos e ministros da bondade e justiça divina: castigam e premiam muita gente sem propósito nem intenção de tal fazerem.

3438 — O instinto da maternidade se anuncia nas meninas pelo zelo e paciência com que criam e pensam os pequenos animais por mais incômodos que sejam.

3439 — Podemos dizer positivamente que a causa de nossa existência é Deus, e o fim a nossa felicidade: assim se resolvem as importantes questões por que e para que existimos.

3440 — O mal na natureza não é tal para todos, mas bem para muitos.

3441 — Tudo é temporário, mortal e destrutível no universo, menos a substância fundamental ou substrato de todas as existências e produções fenomenais da Natureza, que é eterna e imortal em sua essência e constituição.

3442 — As mulheres sobejam onde estão, e faltam onde não se acham.

3443 — Que grande espetáculo é para os homens de profundo saber e transcendente inteligência o jogo, movimento e evoluções do gênero humano no teatro deste mundo! A infinita sabedoria, poder, justiça, bondade e providência de Deus se revelam nos atos, sucessos e produções da humanidade como nos fenômenos e formações da natureza material.

3444 — O céu sempre iluminado anuncia e celebra a glória imortal do ser supremo que o criou.

3445 — O receio da morte diminui a fruição da vida: é quando menos receamos morrer que mais nos saboreamos em viver.

3446 — Mal apreciados pelos contemporâneos, os grandes homens em todo o gênero são admirados e venerados pela ilustrada posteridade.

3447 — Temos sempre que agradecer a Deus porque gozamos ou por que não sofremos.

3448 — Comparável ao daguerreótipo, o nosso cérebro é o fundo aparelhado em que se desenham e retratam por meio da luz os objetos do mundo exterior.

3449 — Para que os bens da vida tenham duração, é necessário gozá-los com moderação.

3450 — Todas as obras de Deus são maravilhosas; porém a maior de todas as maravilhas é a existência do mesmo Deus.

3451 — Os velhos são gulosos, querem indenizar-se pelo paladar dos prazeres que têm perdido pelos outros sentidos.

3452 — Os velhos achacados queixam-se do tempo e das estações: o seu mal é a velhice e nada mais.

3453 — O instinto sensual nos faz egoístas, o moral e social, filantropos.

3454 — A ignorância do porvir faz feliz muita gente que goza no presente desconhecendo os males que tem de padecer no futuro.

3455 — É necessário ter muita ciência para crer e descrer muito.

3456 — Os pobres exageram o cabedal dos ricos para se crêem com direito a esmolas mais avultadas.

3457 — Os velhos acham um grande cabedal no passado para os ocupar e entreter no presente.

3458 — Os escritores originais podem ser imitados mas não igualados.

3459 — Riqueza é poder, habilitando os que a possuem para fazerem muito bem ou muito mal.

3460 — Os pobres declamam contra a riqueza para se consolarem ou se justificarem de não serem ricos.

3461 — A melhor entidade da terra é uma boa mulher, a pior, a que é má.

3462 — A imaginação figura o bom ainda melhor, e o mal, muito pior.

3463 — O juízo nunca sobeja a alguém, falta geralmente a muita gente.

3464 — Os fracos argumentam e razoam; os fortes ameaçam e operam.

3465 — Na classe dos animais os maiores aduladores são os cães, na dos homens, os cortesãos.

3466 — Com os maiores bens da vida os homens não se crêem felizes se uma experiência dolorosa os não dispôs para saberem avaliá-los.

3467 — Os homens não podem ser tratados por muito tempo de perto sem se verem rebaixados na opinião dos circunstantes: a par das suas boas qualidades ressaltam os seus defeitos e vícios que são mais patentes na vida privada e familiar onde é mais difícil ocultá-los.

3468 — A prodigalidade é menos censurada que a avareza; goza o prodígio e faz gozar, sucede o contrário com o avarento.

3469 — A inteligência multiplica a força material pela ciência e disciplina; é o ímã armado que avulta muito em sua ação e energia.

3470 — Como o avarento se regozija calculando a soma da sua riqueza material, o sábio se compraz na revista do seu cabedal intelectual.

3471 — A recordação do mal que fizemos contrista tanto o nosso coração quanto o alegra a lembrança do bem que praticamos.

3472 — A criação contínua sem interrupção na imensidade do espaço: a sabedoria, poder e bondade de Deus sendo inexauríveis e sem limites têm e terão exercício no espaço e tempo com variedade e novidade por toda a eternidade.

3473 — Objeto da cobiça de todos é a riqueza, de poucos, a ciência.

3474 — A morte é niveladora, iguala a todos os viventes.

3475 — Os mundos se movem no oceano imenso do éter como os navios nos vastos mares da terra.

3476 — Homens há que afetam de bons para com melhor sucesso serem maus.

3477 — Mentem regularmente os ricos e pobres declamando contra a riqueza.

3478 — Os pobres fingem por inveja desprezar a riqueza que os ocupa e alimenta.

3479 — Os homens mudam de opinião como de estado e condição.

3480 — Gozamos e sofremos simultaneamente em diversas relações: os males nascem entre os bens como as ervas más a par das boas.

3481 — Os homens gostam de novidades, não falta quem as invente para entreter a sua curiosidade.

3482 — O sábio pode avaliar os homens, o néscio não os sabe qualificar.

3483 — A razão e verdade sobrenadam a todos os erros, fábulas, absurdos e disparates populares: podem ser eclipsadas mas não obscurecidas.

3484 — A beneficência dos avarentos e ambiciosos é tão escassa como usurária.

3485 — É imperfeito tudo o que tem limites; a suprema perfeição existe somente em Deus imenso, infinito e ilimitado.

3486 — Os animais gozam, mas não são felizes; a genuína felicidade consiste na fruição com referência a Deus, autor de todos os bens, e no sentimento aprazível de gratidão à sua bondade infinita e inexaurível.

3487 — O homem mais sagaz é ordinariamente o menos sincero.

3488 — A virtude é tão vulgar que não dá celebridade; elevada à santidade, confere veneração.

3489 — Todos se inculcam por sinceros, bem poucos o são.

O mundo se perpetua pela vida e morte; tudo se transforma, nada se aniquila.

3491 — O mal e o bem se harmonizam perfeitamente para a sua duração e perpetuidade.

3592 — Sem uma noção sublime da divindade, não há ciência nem saber profundo.

3493 — Pasta de ministro de Estado e cassamento, uma só vez para escarmento.

3494 — Oh! como somos pequenos em nossos corpos e grandes pela nossa inteligência!

3495 — É lícito todo o prazer que a ninguém ofende direta ou indiretamente.

3496 — Os preguiçosos são tão ativos em mandar, como remissos em servir e trabalhar.

3497 — Bracejam e gesticulam muito as pessoas que menos sabem e podem explicar-se por palavras.

3498 — A lisonja e adulação são sacrifícios do amor-próprio, que não se fazem sem esperanças de correspondente retribuição.

3499 — Devemos beneficiar e não maleficiar os outros homens; os benefícios ou malefícios que fazemos revertem sobre nós acrescentados.

3500 — A vida custa tão cara aos velhos quanto é barata para os moços.

3501 — Os que em saúde afetam desprezar a morte são os que mais a receiam quando estão doentes.

3502 — A loquacidade dos homens é menos incômoda do que a garrulidade das mulheres.

3503 — A ciência é riqueza intelectual que se alcança ordinariamente pelos meios e recursos que lhe oferece o cabedal ou riqueza material.

3504 — A desconfiança é o tormento dos velhos, receiam-se de todos e de tudo.

3505 — Não há mal eterno, a eternidade é privativa do sumo bem, que é Deus.

3506 — A riqueza promove as ciências e as artes contribuindo para o seu progresso pelo uso e consumo dos seus produtos e meios de subsistência que fornece aos seus cultores.

3507 — Fabulistas e fabulados, os homens se enganam e têm sido enganados em todos os tempos.

3508 — Deus é a riqueza por essência, dele derivam todos os cabedais deste mundo, e o luxo incomparável da natureza.

3509 — Vemos um ponto da criação universal e queremos avaliar o todo e seu divino autor pelas idéias e conhecimentos apoucados, locais e parciais que possuímos; eis aqui a origem dos nossos maiores erros, absurdos e disparates.

3510 — As doenças dão tréguas aos pacientes, os crimes e remorsos não as concedem aos delinqüentes.

3511 — A vida é um enigma, a morte não o é menor.

3512 — A morte é o Letes que tudo faz esquecer.

3513 — Mulheres há como as cobras, formosas mas venenosas.

3514 — A sorte final dos validos que abusam da privança dos príncipes, em dano destes e dos povos, é bem conhecida pela história: decadência e queda, desprezo e aversão geral.

3515 — Na soma dos bens da vida o prazer da leitura avulta para os literatos sobre todos especialmente.

3516 — Todos os homens são justificáveis nas opiniões que professam de boa fé, pensam e discorrem com as idéias próprias que têm, e não com as alheias que desconhecem.

3517 — Não entender os escritos e doutrinas dos sábios é culpa dos leitores e não dos autores; como podiam estes rebaixar a sua inteligência para a nivelar com a dos indoutos e iliteratos!

3518 — A grande e falsa confiança que temos em nossa habilidade e talentos nos faz cair em grandes erros, aceitando empregos que sobreexcedem à nossa força corporal e capacidade intelectual.

3519 — Na vida humana as tempestades morais são muito mais tormentosas que as corporais.

3520 — A superioridade da nossa inteligência é contrapesada ordinariamente pela gravidade dos males que invadem os nossos corpos na velhice.

3521 — O néscio inculca-se hábil para todos os empregos, o sábio desconfia da sua aptidão para o exercício de qualquer deles.

3522 — Não podemos viver sem goza; a fruição é essencial à vida humana e animal.

3523 — Deus também transparece e se revela nas obras da indústria humana como nas produções da Natureza.

3524 — Todas as formas de governo como todos os estados e condições da vida têm vantagens e inconvenientes que as recomendam e reprovam.

3525 — A diversidade da forma e organização corporal dos viventes, neste mundo, dá origem à variedade assombrosa dos seus instintos, indústria, inteligência, teor de vida e modos de existência.

3526 — A riqueza é mãe das belas artes, o luxo, seu protetor.

3527 — Os rebeldes anistiados não perdoam aos homens ordeiros e leais que os debelaram.

3528 — Há homens de bem incorruptíveis, como velhacos incorrigíveis.

3529 — Pode haver um orgulho nobre, a vaidade é sempre ridícula e ignóbil.

3530 — Como as aves se alimentam de muitos insetos, os velhacos subsistem de muitos tolos.

3531 — Homens há que são honrados, porque lhes falta ocasião e talentos para serem velhacos.

3532 — Ninguém se retira da companhia de um homem douto ou sábio que não tenha aprendido alguma coisa mais do que sabia.

3533 — É maior a fé entre os homens que a razão: tudo se crê mais por autoridade que por exame.

3534 — A morte é menos penosa presente do que esperada.

3535 — Ação e reação, fruição e sofrimento, é toda a história da vida humana.

3536 — O verdadeiro heroísmo é a virtude que o confere, e não os vícios, crimes e paixões.

3537 — A resistência provém freqüentes vezes donde menos se esperava.

3538 — A virtude e sabedoria têm uma certa rudeza exterior que, encobrindo a sua amenidade e benevolência interna, não previne em seu favor e aliena a muitos que as não conhecem.

3539 — Quem confia em traidores a si próprio se atraiçoa.

3540 — O progresso da inteligência é infalível havendo liberdade de falar, escrever e publicar o que se pensa.

3541 — O Universo animado por Deus é por isso mesmo, também, divino.

3542 — Os ingratos não medram, a beneficência os repele.

3543 — Trabalha-se mais na vida humana para evitar os males que para conseguir os bens.

3544 — Com saúde, riqueza e juízo, o sonho da vida é tão venturoso como aprazível.

3545 — A oposição de opiniões supõe ordinariamente a de interesses individuais ou coletivos.

3546 — Variando e alterando-se tudo na Natureza é conseqüente que as opiniões dos homens também variem: e sua permanência seria uma calamidade para a espécie humana.

3547 — Os avarentos não gozam menos ajuntando que os seus herdeiros dissipando.

3548 — O pintor pinta segundo o número de tintas que tem na sua palheta: o homem pensa conforme a soma de idéias que possui.

3549 — Trabalhamos muito para os vindouros cuidando trabalhar somente para nós.

3550 — Queixamo-nos freqüentes vezes da oposição que achamos aos nossos desejos, não sabendo quanto em muitos casos é propícia e favorável à nossa felicidade.

3551 — A morte é acintosa por vezes, alonga a vida aos velhos e a encurta aos moços.

3552 — A imaginação, sendo uma louca, tem a razão por enfermeira.

3553 — Não espereis moralidade em quem não tem pontualidade.

3554 — O subjetivo humano ou o espírito se serve constantemente do objetivo ou do corpo como instrumento e meio indispensável para a execução dos seus fins, intenções e vontade, e não poucas vezes para encobrir os seus sentimentos e opiniões reais e positivas.

3555 — O juízo de poucos dirige e regula a incapacidade de muitos.

3556 — A morte salda muitas contas que a vida não pode ajustar.

3557 — As revoluções nos Estados vêm, como as tempestades, estabelecer um certo equilíbrio que se fazia urgente e necessário para a ordem geral do sistema físico, moral e social.

3558 — O gênero humano necessita de homens ativos e trabalhadores em todos os ramos de indústria: quanto aos sábios, poucos bastam e sobejam.

3559 — Em tempo de revoluções, a mudança de doutrinas e opiniões é tão freqüente como a dos ventos.

3560 — A virtude acompanhada da fortuna é menos difícil e mais respeitada.

3561 — De todos os prazeres da vida o mais fino e esquisito é sem dúvida o da união dos sexos, sendo também origem e ocasião de todos os amores e relações naturais e sociais da espécie humana.

3562 — A velhice é austera porque sofre, a mocidade amena e indulgente, porque goza.

3563 — Nota-se um bom senso no geral dos homens, mas este é como a luz do pirilampo, pequena, intermitente e irregular.

3564 — Uma discórdia aparente e parcial contribui neste mundo para a concórdia e harmonia geral e universal.

3565 — Os homens mostram-se racionais em certas matérias e relações, em outras, são mais irracionais que os mesmos brutos.

3566 — Procura-se o rico porque dá e não pede; foge-se do pobre, que pede e não pode dar.

3567 — A razão é uma luz que faz descobrir as entidades e relações intelectuais como a do sol os objetos e qualidades materiais.

3568 — As opiniões dos homens ressentem-se da pequena esfera de suas idéias e conhecimentos, e das doutrinas e localidades que lhas sugeriram.

3569 — Aos charlatães nunca faltam palavras e atividade: são panegiristas de si próprio e de suas artes.

3570 — Os homens presumem geralmente ter suficiente juízo, mas não bastante dinheiro ou riqueza.

3571 — O sonho da glória póstuma alenta os vivos, não aproveita aos mortos.

3572 — Pode-se definir a sabedoria, a ciência mais ampla e profunda do bem e do mal.

3573 — Os desejos atormentam os moços, os cuidados os velhos, a vaidade e modas, as mulheres.

3574 — Os insignificantes pela ordem tornam-se importantes pela desordem.

3575 — A poesia não faz os homens mais sábios nem mais ricos.

3576 — Os tolos e néscios sofrem muito menos do que se pensa: a sua estultícia e irreflexão os fazem pouco sensíveis e mitigam muito os seus males.

3577 — Beleza é a perfeita correspondência no seu todo e partes de um ser ou coisa para os fins a que foi destinado no sistema deste mundo.

3578 — O que a natureza bem estudada não nos diz, ninguém nos pode dizer.

3579 — Congratulamo-nos muitas vezes de casos e eventos que têm de ser, para nós, origem ou ocasião de graves males.

3580 — Há uma intervenção divina nos negócios e sucessos humanos a que chamamos providência: esta se opera somente pelas leis e meios naturais.

3581 — Os velhos pouco se inculcam e valem muito.

3582 — A rosa ainda em botão não deleita a vista nem perfuma os ares; mas aberta e expensa com a sua beleza majestosa, contenta os olhos, o olfato e faz a glória da natureza; assim o homem adulto e maduro pela ciência e virtudes honra a humanidade pelos primores do seu entendimento, indústria e talentos.

3583 — Os velhacos tornam-se necessários e valiosos aos néscios e tolos ricos e poderosos.

3584 — Nas cortes, a sabedoria dá sujeição, a folia é bem aceita e agraciada.

3585 — Em um mundo, concepção e obra da infinita sabedoria de Deus, nada existe nem pode existir sem propósito, fim, destinação e aplicação.

3586 — A melhor companhia acha-se em uma escolhida livraria.

3587 — Concebemos esperanças sem fundamento, queixamo-nos depois de não terem cumprimento.

3588 — Os fortes foram feitos para servir os fracos, se estes têm suficiente inteligência para os dominar.

3589 — Os velhacos não são homens de superior inteligência: se o fossem seriam pessoas de honra, verdade e probidade.

3590 — Uma boa letra não anuncia vasta inteligência, nem uma eloquência brilhante, profunda sapiência.

3591 — Por toda a parte se alega razão e não se descobre senão paixão.

3592 — É cabedal que não se perde nem se gasta a esperança e confiança em Deus.

3593 — Vemos em toda a parte matéria ou corpos sem inteligência, mas não podemos conceber inteligência sem corpos ou matéria em que se revele e manifeste as suas faculdades.

3594 — Os homens probos e leais seguem a linha reta, os velhacos preferem o zigue-zague, como os raios e coriscos.

3595 — Para os que governam, os serviços mais importantes são os feitos direta e especialmente às suas pessoas.

3596 — Quando morrem as cidades e os impérios, o homem leva a mal o ser mortal!

3597 — O nascimento confere vantagens que o merecimento mais distinto não consegue.

3598 — Um bom bibliotecário deve ser poliglota e, de algum modo, enciclopédico e universal.

3599 — Arrependemo-nos na velhice de inumeráveis atos que praticamos na mocidade e que então nos não pareceram repreensíveis e dignos de censura, a reflexão senil nos ensinou a avaliá-los como tais.

3600 — Os impostores e inimigos da verdade fazem bem em declamar contra a razão, é a luz que dissipa as trevas.

3601 — A liberdade do homem está sujeita às leis da Natureza, podendo obrar somente nela e por ela.

3602 — O inimigo insignificante torna-se, pelo desprezo, importante.

3603 — Algum dia temos de amanhecer sem anoitecer, ou anoitecendo, não amanhecer.

3604 — Sem as ilusões da mocidade não podemos chegar aos desenganos da velhice.

3605 — A morte é certa, a medicina incerta.

3606 — A inteligência se revela na extensão, ambas identificando-se por um modo misterioso constitui uma unidade a que chamamos universo.

3607 — O motivo do interesse individual é tão pouco decoroso que os homens geralmente querem passar por desinteressados em seu procedimento e ações.

3608 — Um bom poeta será sempre mau filósofo; a imaginação eclipsa a razão.

3609 — A vida é ação e movimento, trabalho, ocupação, fruição e sofrimento.

3610 — A diuturnidade da vida figura mais terrível a sua perda.

3611 — É uma ilusão muito ordinária nos homens suporem-se mais importantes do que são, resultando disto verem muitas das suas esperanças frustradas e tornarem-se objetos de riso e zombaria para os outros homens.

3612 — Não admira que o dinheiro seja objeto da idolatria universal, ele representa todos os bens materiais, e muitos morais, da vida humana.

3613 — Toda a entidade impassível é também necessariamente inofensiva.

3614 — A riqueza de alguns é a fonte de que bebem muitos sedentos; que seria deles se não houvessem ricos!

3615 — Gasta-se a vida gozando, também se gasta sofrendo, sendo porém a fruição, habitual, e o sofrimento, excepcional, o abuso daquela contribui mais que tudo para a brevidade da vida.

3616 — Sofrendo aprendemos a gozar, errando, a acertar e regular-nos.

3617 — Há tolos malignos que fazem mais dano e mal que os velhacos consumados.

3618 — E necessário que saibamos tolerar-nos mutuamente sob pena de vivermos em um tormento continuado de resistência, oposição e contradição entre uns e outros.

3619 — A filosofia e medicina prometem muito e dão pouco.

3620 — Os homens de reflexão descobrem na natureza relações que os irrefletidos nem suspeitam.

3621 — Os que governam persuadem-se que devem primar em tudo e mostram ordinariamente algum ressentimento às pessoas que mais se distinguem em sua presença por seu saber e talentos.

3622 — Não pode haver reflexão onde tudo é distração.

3623 — São muitos os loucos a quem grandes intervalos lúcidos inculcam e representam de racionais.

3624 — Exagera-se a censura, mas rebaixa-se o louvor.

3625 — É bem singular que não possamos familiarizar-nos com a morte, sendo ela aliás tão familiar entre nós.

3626 — Devemos louvar a Deus não só quando gozamos, mas também quando não sofremos.

3627 — O prazer mais fino, porém menos durável, é o da união dos sexos, assim devia ser para promover a procriação sem destruir os procriadores.

3628 — Produzir e destruir é o exercício e ocupação perene dos homens neste mundo.

3629 — Gozamos na mocidade sem reflexão, padecemos com ela na velhice.

3630 — Sem liberdade não haveria moralidade: os entes livres e sociais são os únicos morais ou capazes de moralidade.

3631 — Assim como este mundo se renova constantemente de entidades e coisas, o universo igualmente é renovado por partes nos mundos e sistemas solares que guarnecem a imensidade do espaço, dissolvendo-se uns e formando-se outros com variedade assombrosa em sua estrutura e habitantes. A sabedoria, poder e bondade de Deus, não tendo limites por sua imensidade, o seu exercício será igualmente eterno e infinito.

3632 — A riqueza pelo comércio e navegação é a mais eficaz civilizadora das nações.

3633 — São poucos nas sociedades humanas os facinorosos, como na natureza os animais ferozes e carniceiros.

3634 — No vasto labirinto deste mundo tudo é ordem para os sábios e desordem para os néscios 3635 — Os tronos vacilam onde os rebeldes blasonam de ser ou ter sido tais.

3636 — O mal físico dá origem ou é ocasião do bem e mal moral: se os homens não sofressem, se fossem impassíveis, não seriam bons nem maus, nem sociais.

3637 — Os rebeldes incorrigíveis qualificam de patriotismo e movimentos generosos os seus crimes a atentados patibulares.

3638 — Os governos receiam-se dos sábios como censores, não os querem, portanto, para conselheiros.

3639 — Confiando e esperando em Deus nunca devemos desesperar da sua bondade, o seu socorro chega sempre quando é mais oportuno e necessário 3640 — O pobre diz mal do rico, o fraco do poderoso, o ignorante do sábio, ninguém tolera com resignação a sua inferioridade ou insignificância pessoal, cada qual, em humilde condição, recorre ao arsenal da maledicência para rebaixar aqueles a quem inveja e consolar-se ou justificar-se da sua sorte menos benigna ou desfavorável.

3641 — A velhice ganha ordinariamente em intelectualismo o que perde em sensualismo.

3642 — Se o universo é obra de uma sabedoria e poder infinito, o sistema da sua criação deve ser perfeitíssimo no seu todo e partes, destinado a simbolizar, representar e revelar os atributos de Deus, e a felicitar as suas criaturas vivas, sensíveis e inteligentes a quem deu e dá o ser para que participem da sua vida, inteligência, ação e felicidade 3643 — Descobrir ordem na suposta desordem, harmonia na aparente discórdia, caracteriza o verdadeiro sábio, otimista por estudo, ciência, razão e reflexão.

3645 — Que assombrosa maravilha a destruição produzindo a formação, a morte, a vida, o mal, o bem e tudo harmonizando-se e contribuindo para a renovação, conservação e perpetuidade deste mundo!

3645 — Os verdadeiros sábios não são os que presumem saber mais que os outros homens, porém os que reconhecem saber menos relativamente à extensão ilimitada da sua própria ignorância reconhecida.

3646 — Do homem ativo, sem consciência, não confieis vossa fazenda.

3647 — Homens há que parecem acusar a sociedade da sua pobreza, não refletindo que a devem ordinariamente aos seus vícios, ignorância, fatuidade e inflexibilidade de caráter.

3648 — O terror da morte procede geralmente dos antecedentes que a precedem e dos conseqüentes que a acompanham: a opinião tem uma poderosa influência nesta matéria.

3649 — Lendo a biografia dos homens ilustres, devemos admirar o Ser Supremo, que, concebendo na sua mente divina o gênero humano, o realizou e pôs em ação no teatro deste mundo para obrar e representar nas suas variadas cenas com uma inteligência de algum modo criadora, e com variedade e novidade assombrosa em seus atos e procurações industriais e intelectuais.

3650 — Há bem absoluto, o mal é sempre relativo.

3651 — O exame e análise profunda das palavras, sua significação e objetos, dissipam inumeráveis erros que ofuscam a nossa razão e impedem a descoberta de verdades muito importantes.

3652 — Os víciosos são liberais ou pródigos para a matéria e objeto dos seus vícios, avaros e tacanhos para tudo o mais.

3653 — Nem os leais se podem unir aos traidores, nem estes com aqueles, há uma força repulsiva entre eles que os faz diametralmente opostos e adversos.

3654 — Males há que prolongam a vida, como bens que a fazem breve.

3655 — As grandes verdades não aparecem e fulgirão senão depois que se têm dissipado o espesso nevoeiro de erros, ficções e absurdos que as têm encoberto e eclipsado.

3656 — A Providência Divina circula por toda a parte sem que a possamos distinguir perfeitamente em alguma, nem descobrir os seus variados meios e fins, seguros todavia da sua eficaz e universal beneficência e justiça.

3657 — Tudo neste mundo está sujeito às leis invioláveis da morte e destruição o que vive morre, o que não tem vida se destrói.

3658 — Errando e sofrendo aprendemos a acertar e gozar.

3659 — A guerra produz nas nações mais mudanças, novidades e revoluções do que a paz; esta é conservadora da ordem estabelecida, aquela, subversora ou perturbadora.

3660 — Uma constituição liberal em um povo ignorante e imoral é anel de ouro em focinho de porco.

3661 — A sabedoria divina compreende toda a invenção e ciência possível a um Deus: é inexaurível e eterna.

3662 — As folhas e jornais chegam geralmente ao posterior, mas não alcançam a posteridade.

3663 — Querendo explicar e compreender o intelectual sem o material, ou este sem aquele, caímos em inumeráveis erros e absurdos como os idealistas e materialistas: a inteligência e matéria têm uma correspondência tão intima entre si que de algum modo se identificam ou se harmonizam por uma energia divina, misteriosa e incompreensível.

3664 — É na velhice proveta que, refletindo sobre a nossa vida passada, reconhecemos com evidência que uma grande parte das nossas ações, casos, sucessos e vicissitudes felizes e desastrosas foram devidas a circunstâncias fatais que não podíamos prever, prevenir e remover, e determinaram o nosso procedimento em uma boa parte do processo da nossa vida.

3565 — A intolerância de muitos desculpa a hipocrisia de poucos.

3666 — A nação mais moral e ilustrada é aquela em que os homens se distinguem, especialmente pela sua exatidão e pontualidade em tempo, lugar, palavra, serviço e contas.

3667 — Só Deus conhece os homens como são, nós os avaliamos como nos parecem.

3668 — A prudência não pode subsistir sem paciência 3669 — A ignorância é mãe da superstição e fanatismo.

3670 — Pobres animais de carga, sensíveis como sois, se fôsseis inteligentes, qual não seria a vossa desgraça nas mãos dos bárbaros que vos dominam e conduzem!

3671 — Se as companhias nos distraem e divertem, também nos ocasionam freqüentes vezes graves desgostos e dissabores: uma livraria copiosa e escolhida é sem dúvida a companhia mais cômoda e instrutiva.

3672 — Conhece-se a capacidade ou imbecilidade dos que governam pela escolha que fazem dos homens para os lugares mais importantes do Estado.

3673 — As mulheres, por mais ignorantes, são também mais supersticiosas que os homens.

3674 — O mal é ocasião de inumeráveis bens neste mundo.

3675 — São muitos os males da vida, mas também são inumeráveis os bens.

3676 — Homens há que temem a luz da verdade, como os morcegos a do dia ou do fogo.

3677 — Os homens de curto entendimento são insuportáveis em companhia; mais egoístas que os outros, só falam em seus negócios, interesses, atos, pretensões e família, e se julgam muito importantes para ocupar a atenção da espécie humana.

3678 — A verdade é uma, incapaz de variedade; mentira pode ser variada por infinitos modos sem perder a sua essência e natureza.

3679 — A gente moça não sabe apreciar os bens de que goza, nem avaliar os males que não padece.

3680 — As mentiras têm uma leveza e velocidade admiráveis; o passo das verdades é firme, grave e majestoso; aquelas correm alterando-se, estas chegam tarde mas inteiras e não faltam.

3681 — A superstição é filha da ignorância e produto de idéias falsas a respeito de Deus e fenômenos da natureza; o meio mais eficaz de a reduzir ou extirpar é o estudo das ciências naturais com que se consegue uma noção mais clara da natureza e atributos divinos e se dissipam muitos erros, ficções e entidades fabulosas, criaturas da ignorância, imaginação e impostura humana.

3682 — Para a educação dos homens são boas as máximas, preceitos e conselhos, mas é superior a tudo a experiência com o sofrimento.

3683 — O maravilhoso na história faz duvidar da verdade dos seus fatos.

3684 — Deus é a riqueza por essência, os seus tesouros são imensos, e inexaurível a sua beneficência.

3685 — O avarento é mau para si, o pródigo para si e para os outros.

3686 — Vivemos ao abrigo da providência de Deus sem a vontade do qual nem um só cabelo poderia cair das nossas cabeças.

3687 — A fraqueza do organismo corporal nos velhos é compensada pela reflexão e prudência, qualidades que suprem ou superam a força.

3688 — São ordinariamente as pessoas menos capazes de dirigir o barquinho dos seus negócios os que mais ambicionam o comando e o governo da nau do Estado.

3689 — Tudo é vida no universo, os mesmos mundos são criaturas vivas de superior natureza e hierarquia: a terra é animal crustáceo com uma concha de muitas léguas de espessura, o trabalho humano se exerce sobre a sua superfície, que sendo produtiva mantém os viventes que nele se criam e são suas produções e parasitas. A atmosfera é a sua transpiração, e como os peixes respiram pelas guelras, o animal mundo recebe e rejeita alternativamente as águas do mar, o que constitui as marés.

3690 — Não pode haver concitação entre doutrinas e partidos diametralmente opostos: são indispensáveis combates, vitórias, derrotas, vencedores e vencidos.

3691 — Os que sabem menos são ordinariamente os que falam mais.

3692 — Os entes criados para viverem em sociedade são bons, nem podem ser maus por natureza: uma natural malignidade seria adversa aos seus instintos de sociabilidade.

3693 — Quem não tem juízo perde o favor dos homens e da fortuna.

3694 — Tudo o que tem ação sobre os objetos circunstantes, sendo também por eles impressionado e alterado, é necessariamente mortal e destrutível.

3695 — Admiramos os escritos e obras de alguns literatos e artistas que desprezamos por seu irregular procedimento, extravagância e falta de juízo e exatidão na vida familiar e social.

3696 — São poucas as verdades como as cores primitivas, inumeráveis os erros, como as compostas e combinadas.

3697 — A ciência do homem observador da natureza é derivada da sabedoria divina revelada em suas obras.

3698 — Nas revoluções populares os insignificantes, néscios e velhacos alcançam uma importância que lhes dura pouco tempo e acaba pelo desprezo e esquecimento.

3699 — Deus não desconhece nem se esquece das suas criaturas sensíveis: todas estão presentes à sua imensa compreensão para as beneficiar e felicitar nos inumeráveis mundos em que as criou e residem 3700 — Os maus pensamentos geram e produzem as más ações.

3701 — Os erros e fábulas interceptam o caminho que conduz às verdades; estas ainda que luminosas não podem sempre romper a névoa espessa que as eclipsa e hostiliza.

3702 — Os néscios e velhacos evitam a companhia e sociedade dos homens doutos e probos que podem distinguir e avaliar a sua ignorância e improbidade.

3703 — O silêncio promove a reflexão, o ruído a perturba ou afugenta.

3704 — Os sustos e receios formam uma grande parte da miséria humana: sofremos talvez mais receando os males futuros do que se fossem presentes.

3705 — A ignorância é a causa principal de todos os nossos males: se soubéssemos como Deus, seríamos impassíveis e imortais.

3706 — São desagradáveis e intoleráveis as mulheres, quando, saindo da esfera feminina, tomam o caráter masculino.

3707 — Se entre os viventes são os homens os que gozam mais dos prazeres sensuais da natureza e indústria própria, também por contrapeso sofrem muito moralmente pelas opiniões divergentes, crenças absurdas e paixões desregradas que os atormentam em sua vida terrestre e social.

3708 — O abuso de felicidade nos faz cair em desgraça; o excesso dos prazeres em seus diversos ramos nos conduz à pobreza, miséria, enfermidades e muitos outros males naturais e sociais.

3709 — Os que sofrem e padecem não desesperam recorrendo a Deus e confiando na sua bondade infinita e indefectível proteção.

3710 — Cremos em teoria o que não acreditam na prática. Quem faria o mal se tivesse uma íntima convicção de que Deus está presente a todos os atos humanos?

3711 — A gente moça muda de opiniões como de vestidos e modas: não tendo idéias claras e determinadas, nem sistema de vida fundado em sólida ciência e longa experiência, flutua entre diversas doutrinas, sem convicção plena da verdade de alguma delas.

3712 — Os prazeres que nos fornece a natureza são geralmente gratuitos, os da indústria e inteligência humana, dispendiosos; requerem trabalho para a sua produção, e o trabalho tem um valor e preço necessário nos mercados deste mundo.

3713 — Para estabilidade da ordem e tranqüilidade pública, os inteligentes levam-se pela razão, os néscios, pelo medo ou castigo.

3714 — Os anos rodando sobre nós deixam nas rugas do nosso rosto os estigmas da sua ação e da velhice.

3715 — A garrulidade nos moços e mulheres é argumento do seu pouco saber ou juízo.

3716 — Este mundo é feito para todos os viventes que nele se criam, mas com especialidade para o homem sábio que estudando a natureza ou as obras de Deus o ama, adora e admira, exultando de ser criatura sua com suficiente inteligência para reconhecer a sua paternidade criadora e o benefício incomparável de havê-lo admitido pela vida ao espetáculo assombroso do universo, fazendo-o comensal no banquete universal da natureza.

3717 — A velhice prolongada é morte lenta e demorada.

3718 — Somos bons consoladores, e muito maus sofredores.

3719 — O homem de muito saber e juízo é um flagelo para si e para os outros, pela exatidão, atenção, discernimento e inteligência que deles exige e espera, mas não pode obter ordinariamente.

3720 — Os velhos se entretêm com um pretérito que foi real e concreto, os moços, com um futuro fantástico e ideal.

3721 — Os validos perdem os que governam, não sendo homens de ciência, experiência, prudência e consciência.

3722 — A nação mais imoral e corrompida é a que contém mais ingratos, invejosos e traidores.

3723 — É o homem o único vivente neste mundo a quem Deus conferiu a faculdade de fazer uso do fogo, o que prova a superioridade da sua inteligência sobre a de todos os animais.

3724 — Exigir dos moços juízo e prudência é pretender que os frutos verdes tenham o sabor e perfume dos maduros.

3725 — Com pouco saber admiramos os homens, com muito, somente a Deus.

3726 — A matéria não é substância, mas a forma contingente, aparente e fenomenal com que se manifestam os espíritos, substância primitiva, real e universal, a qual se compõe de átomos indivisíveis e imperceptíveis aos nossos sentidos, enquanto separados e distintos uns dos outros sem extensão sensível, forma, figura, densidade e individualidade.

3727 — Os talentos mal dirigidos e aplicados fazem a desgraça dos que os possuem.

3728 — Os velhacos são cavaleiros, os tolos, cavalgaduras.

3729 — Os velhacos lidam muito e lucram pouco.

3730 — Distinguem-se os homens de bem pela sua escrupulosa pontualidade, e os velhacos pela sua escandalosa inexatidão.

3731 — Os homens são verdadeiros prismas orgânicos em que a luz misteriosa da sabedoria divina, penetrando, se refrange e aparece dividida em variados talentos, engenhos e aptidões intelectuais.

3732 — O remorso ou a consciência acusadora acompanha os maus por toda a parte, nem os deixa um só instante: não é este o menor castigo das suas malfeitorias.

3733 — Cada ano, como cada século que passa, vai onerado de casos, eventos e fenômenos que os distinguem dos antecedentes e os constituem originais na ordem dos tempos e evoluções da humanidade.

3734 — Há ocasiões e circunstâncias em que é vantajoso mal ver, mal ouvir e não poder falar.

3735 — A suprema perfeição existe no infinito, o limitado é sempre imperfeito como tal.

3736 — Se os homens não fossem passíveis, seriam ingovernáveis.

3737 — O imenso e infinito não têm figura, compreendendo aliás tudo quanto existe figurado.

3738 — Não distinguimos bem a ação da providência divina porque os homens são ordinariamente os instrumentos e executores das suas justas disposições.

3739 — De todas as paixões a ambição é a origem dos maiores crimes e males: ela emprega indistintamente todos os meios bons e maus para chegar aos seus fins de riqueza, poder e mando.

3740 — O eterno e infinito, amando-se, amam também todas as suas criaturas que compreende na sua imensidade.

3741 — Quando chegamos a ter uma idéia ou noção mais sublime de Deus, sua natureza e atributos, prezamos a vida e não receamos a morte.

3742 — A gente moça não sabe avaliar perfeitamente as vantagens da mocidade, é a velhice que melhor as contrasta e reconhece.

3743 — Deus é de uma natureza misteriosa e incompreensível a todas as suas criaturas; se houvesse alguma que o compreendesse seria outro Deus.

3744 — Antecipar pela imaginação os males que têm de vir é sofrer duas vezes ou dobradamente.

3745 — Sem o mal que seria o bem? Palavra sem sentido que nada significa.

3746 — O jogo da vida e sociedades humanas compõem-se de ação e reação, atração e repulsão, simpatia e aversão, amor e ódio: destes elementos contrários e antagonistas resultam o equilíbrio, ordem e harmonia social.

3747 — Em política, as conversões são tão freqüentes quanto maiores são as vantagens que se antolham aos que mudam de opiniões e doutrinas.

3748 — Tudo o que Deus faz, fez, constituiu e ordenou, é o melhor possível: a mesma morte é um bem incomparável suposta a decadência progressiva dos nossos corpos, condutores por fim de males e dores, mas não de bens e prazeres.

3749 — A vaidade e orgulho dos homens provam a sua profunda ignorância; seriam modestos e humildes se bem conhecessem a sua pessoal insignificância no sistema parcial deste mundo e geral do universo.

3750 — É um recurso incalculável nas vicissitudes e males da vida, a esperança e confiança em Deus.

3751 — A riqueza tem sempre companhia, a sabedoria vive em solidão.

3752 — Aprendemos gozando, quando estudamos a Deus nas suas obras.

3753 — A sabedoria é um dom de Deus pelas circunstâncias especiais em que faz nascer e viver aqueles a quem há por bem conferir tão eminente prerrogativa.

3754 — Devemos regular a nossa vida de modo que possamos esperar e não recear depois da nossa morte.

3755 — Os sábios nunca foram nem serão validos dos príncipes: são inábeis observadores da etiqueta e cerimonial das cortes, não podem mentir nem adular, e menos intrigar e cabalar para suplantar a uns e precipitar a outros, nem finalmente ocupar-se e entreter-se com as companhias, conversações e controvérsias palacianas.

3756 — Quando pedimos a Deus que nos livre dos males que sofremos, podemos desconfiar da nossa indignidade, mas nunca duvidar da sua infinita bondade e beneficência.

3757 — É o nosso corpo quem nos individualiza e provoca a consciência de que existimos sem ele ou outro qualquer organizado não poderia a unidade misteriosa a que chamamos alma ser consciente da sua existência própria.

3758 — Não sabemos nem podemos avaliar exatamente os bens da vida, quando não temos experimentado os males que os contrastam; há muita gente feliz que desconhece a sua própria felicidade.

3759 — Querendo figurar a Deus, sentimo-nos impedidos pela noção de sua imensidade que não admite limitação no espaço: é a infinita variedade das suas obras assombrosas que o figura aos nossos olhos mortais e materializa os seus divinos atributos.

3760 — Pessoas há em ambos os sexos péssimas para mandarem e governarem, mas excelentes para servirem.

3761 — Como seria insípida a vida se todos soubéssemos a verdade em tudo! É talvez à variedade inexaurível de erros, fábulas, ficções e ilusões que os homens devem grande parte da sua felicidade neste mundo.

3762 — O Dominador eterno dos átomos, o Criador dos mundos e do universo, se personaliza de algum modo na fábrica imensa da criação, obra assombrosa e misteriosa da sua infinita Sabedoria, Poder e Bondade; revelação perene da sua existência eterna, ela anuncia e proclama a imensidade dos seus divinos atributos.

3763 — Se os homens não variassem de idéias, opiniões e circunstâncias, os seus produtos materiais e intelectuais seriam idênticos e uniformes sem novidade nem variedade.

3764 — Os bens e os males constituem neste mundo um sistema especial e se harmonizam para a renovação, conservação, e perpetuidade do mesmo mundo.

3765 — Poesia e mitologia têm sido as fontes dos maiores erros e disparates do gênero humano.

3766 — Os moços dissipam a vida pelos excessos a que se entregam, os velhos economizam o seu remanescente pela dieta e regime que são forçados a observar.

3767 — Nunca nos enganamos quando pedimos e esperamos de Deus o alívio ou remoção dos nossos males: no ato mesmo de recorrermos à sua infinita bondade experimentamos e reconhecemos algum melhoramento na nossa sorte.

3768 — Os erros dos homens entram como elementos indefectíveis na ordem e série dos casos, sucessos e eventos da espécie humana: sem eles, não haveria a variedade infinita de acontecimentos privativos da vida humana, com que se ocupa a história geral e particular da humanidade.

3769 — Grande ciência, vasta incerteza.

3770 — As crenças religiosas são recebidas geralmente pelos homens como as moedas correntes sem o prévio exame do seu peso, quilate e valor intrínseco e real.

3771 — Uma nação já não é bárbara quando tem historiadores.

3772 — Somos passíveis por tantos modos no físico e moral que não há dia em que não soframos mais ou menos de uma ou de outra ou de ambas as maneiras pelos acidentes que ocorrem infinitamente variados.

3773 — Gozar e sofrer, sofrer e gozar, gozar sofrendo, e sofrer gozando: eis o quadro da vida humana.

3774 — A religião conforta os fracos, e abranda os fortes.

3775 — Todos os átomos indivisíveis ou espíritos hão de ter a sua vez na sucessão dos tempos de sentir e pensar, cabendo-lhes a ocasião de achar-se colocados em certos pontos centrais dos corpos organizados, por cujas impressões, sendo excitados ao exercício das faculdades sensíveis e mentais, conseguem a regência e administração dos mesmos corpos.

3776 — Pouco sabemos deste mundo, e dos outros inteiramente nada.

3777 — Os validos nas monarquias sobem e descem como os alcatruzes nas noras.

3778 — Nas monarquias representativas os que se inculcam por democratas ou são tolos que merecem ser desprezados, ou velhacos que se apresentam à venda e desejam ser comprados.

3779 — Há sucessos em nossa vida que julgaríamos impossíveis se nos fossem preditos e que chegam a realizar-se por uma série de eventos e circunstâncias não previstas nem imagináveis.

3780 — Os validos, por velhacos, conseguem em pouco tempo o que não alcançam em toda a vida os mais honrados, ativos e leais servidores dos monarcas.

3781 — É necessário que nos finjamos loucos algumas vezes para que muita gente se persuada que temos juízo.

3782 — Muito fraca ou imprudente é a monarquia que faz aliança com os seus próprios inimigos para se manter!

3783 — Não podemos avaliar a justiça de Deus; é incompreensível pela sua perfeitíssima retidão e imparcialidade.

3784 — Só Deus é perfeitíssimo porque Deus somente tem em si a causa da sua existência e duração eterna.

3785 — Desde que existimos e sentimos, não podemos ignorar o bem e o mal; sentir é gozar e sofrer.

3786 — Os animais devem tudo à natureza, os homens, muito à sociedade.

3787 — Se não existem habitantes nos planetas de Júpiter, Saturno e Herschel, para que servem ao primeiro quatro satélites ou luas, ao segundo sete, e ao terceiro seis? Uma iluminação lunar sem viventes que a gozem é fato fenomenal inexplicável.

3788 — Quem sabe quais serão as vicissitudes da sua vida, onde, como, e quando terá termo esta mesma vida? Em um mundo onde tudo é mudança e alteração, ação e reação, os sucessos são tão incertos e contingentes que se não podem prever nem prevenir. Uma constante resignação com a Vontade Onipotente de Deus e sua Divina Providência sobre os sucessos futuros é o mais eficaz e salutar corretivo às dúvidas e incertezas da vida e sorte humana.

3789 — Há grandes verdades para os sábios, que parecem aos néscios disparates.

3790 — A aliança com os maus é sempre funesta aos bons.

3791 — Os príncipes ganhariam muito na opinião pública se visitassem os sábios, onde os há, para haver deles doutrina, verdades e conselhos que não podem receber dos seus cortesãos e aduladores, gente ordinariamente indouta, interesseira e ambiciosa.

3792 — A filosofia solapa e derruba as religiões, mas não as pode substituir.

3793 — O nascimento enobrece a alguns, o procedimento, a muitos.

3794 — Os validos dos príncipes não são ordinariamente os melhores servidores do Estado.

3795 — Os validos dos príncipes nunca se crendo bem pagos dos sacrifícios que fizeram do seu amor próprio para chegarem à privança, abusam escandalosamente dela para se saturarem de honras, empregos, autoridade e riqueza.

3796 — Não pode haver harmonia sem contrários, desiguais e dessemelhantes.

3797 — O mundo não se renova somente em viventes e coisas, mas também em doutrinas e opiniões.

3798 — No teatro da natureza, os bens e os males trocam freqüentes vezes os papéis e representam diversos do que são.

3799 — A responsabilidade dos viventes acaba com eles, e a morte lhes salda as contas.

3800 — Perdida a sensibilidade, acaba a responsabilidade.

3801 — O juízo chega tão tarde a muita gente que não pode já restaurar a saúde arruinada por falta dele.

3802 — A doutrina do otimismo universal é a mais segura, sólida e compatível com a noção da existência eterna de um Deus infinitamente sábio, poderoso, bom, justo e providente; autor e criador do universo.

3803 — O ceticismo requer ciência, a credulidade a dispensa.

3804 — Deus sendo o idealismo por essência, os homens não podem elevar-se a uma noção sublime do seu ser e atributos senão pelo materialismo que é a sua revelação simbólica, sensível e objetiva.

3805 — Como o fogo nas operações da natureza, o dinheiro, nas dos homens, é o agente mecânico mais poderoso.

3806 — O possível não tem limites para Deus: é infinito por ele e para ele.

3807 — A velhice é um mal incurável de que só a morte nos pode libertar.

3808 — As revoluções transcendem ordinariamente os limites com que seriam proveitosas às nações.

3809 — A civilidade é tanto mais importante em uma nação quanto esta é menos ilustrada e moral: é necessário simular virtudes onde as não há ou deixaram de existir.

3810 — O estigma da rebelião fica indelével nos rebeldes ainda mesmo depois de anistiados.

3811 — A maior parte das nossas esperanças sai frustada porque calculamos com a permanência de circunstâncias sempre incertas e variáveis.

3812 — As nações novas não medram, antes se atrasam, querendo adotar e copiar servilmente as instituições civis e políticas da nações velhas mais ilustradas e civilizadas.

3813 — O suicídio é muito raro nas pessoas idosas e achacadas e ordinário na gente moça e de meia idade que goza de saúde vigorosa.

3814 — Nada pode suceder no universo que não esteja compreendido no sistema geral da ordem constituída pela Infinita Sabedoria de Deus na criação universal: devemos portanto resignar-nos com a sua Divina Vontade na ocorrência de quaisquer fenômenos e acontecimentos que pareçam contrários ao nosso cômodo ou felicidade na consideração de que não são vagos e fortuitos, mas predeterminados para o bem geral no sistema assombroso e misterioso do universo.

3815 — Os maiores absurdos e disparates com o nome de mistérios têm sido admitidos e acreditados pelos homens em todos os séculos e idades.

3816 — Homens há importantes por nascimento, insignificantes pelo seu procedimento.

3817 — O jogo dos interesses, opiniões e paixões individuais no trato da vida familiar, social e política dos homens é tão natural e conseqüente com a natureza humana, que não devemos estranhar a sua oposição, divergência e exorbitância, antes admirar como se coordena e contribui para e felicidade do gênero humano, sua conservação e renovação no teatro deste mundo.

3818 — A credulidade cega dos homens faz duvidar em muitos casos da sua racionalidade.

3819 — Um bem eterno, infinito e absoluto exclui um mal com os mesmos atributos.

3820 — Deus sendo imenso infinito e incompreensível é uma unidade que, compreendendo tudo, não pode ser compreendida ou limitada por coisa alguma.

3821 — Aquele que se embriaga por ocasião de sucessos felizes, afugenta e perde com o juízo a genuína alegria.

3822 — Deus não só sabe tudo, Ele é o manancial eterno de toda a ciência, verdades e relações reciprocas das entidades que criou e tem de criar por toda a eternidade com variedade e novidade assombrosas.

3823 — O homem é o animal vivente que goza muito mais que qualquer outro, sofrendo aliás em maior escala e variados modos.

3824 — Como sabem os nossos nervos, músculos e tendões que devem obedecer imediatamente à nossa vontade no movimento dos nossos membros e distintos serviços do nosso corpo? Eles não a conhecem, nem o nosso espírito os distingue e menos compreende a natureza e variedade das suas funções. Eis aqui um mistério profundíssimo que só se pode explicar dizendo-se que a Vontade Onipotente de Deus quis que a nossa individual fosse obedecida instantaneamente pelos membros e partes do nosso corpo por uma verdadeira harmonia preestabelecida pela sua onipotência.

3825 — É quando as flores desabotam e os frutos amadurecem que deleitam a vista, olfato e paladar: assim também os homens chegando à virilidade e madureza ostentam os primores da sua força, engenho, indústria e inteligência.

3826 — A vida muito refletida não é a mais aprazível.

3827 — Sem prévia inteligência, pouco ou nada aproveita a experiência.

3828 — Sem cobres, pouco valem nobres.

3829 — Custa menos o ter a privança dos príncipes que o valimento dos povos.

3830 — O espírito ou caráter democrático é geralmente vilão, brutal, cínico, tacanho e orgulhoso.

3831 — Homens há tão ambiciosos de riqueza como outros de ciência; estes têm a vantagem, pressuposta uma outra vida, de levar e aproveitar o seu cabedal, aqueles, pelo contrário, perdem necessariamente os seus capitais, sendo forçados a deixá-los pela morte.

3832 — O mal físico é um elemento necessário e indispensável no sistema deste mundo, sem ele, não haveria ação, arbítrio, movimento, emprego, nem ocupação alguma para os viventes que nele se criam e existem.

3833 — O espírito de partido, o interesse individual mal entendido e as paixões exaltadas tornam os homens loucos e irracionais no intervalo em que dominam e prevalecem tais elementos de discórdia, confusão e alienação mental.

3834 — Ainda que limitados no espaço, somos compreendidos em Deus, autor da nossa existência e vida.

3835 — Exaltai a vossa idéia ou noção de Deus pelo estudo profundo das suas obras e vereis dissipar-se um turbilhão de erros, fábulas absurdas e disparates que infestam a razão humana, tolhendo o seu progresso na descoberta das verdades mais importantes.

3836 — Não procureis regularidade no procedimento das pessoas literatas e artistas, é ordinária nelas a falta de exatidão e pontualidade em tempo, lugar, palavra, serviço e contas.

3837 — Em política, o progresso e regresso se sucedem como nos mares o fluxo e refluxo alternadamente.

3838 — Deus tendo criado o gênero humano, e dado-lhe o império da terra, conhecia bem o processo e atos da sua existência, a natureza, organização, instintos, paixões e faculdades dos homens sendo obra da concepção de uma sabedoria infinita, que demais proporcionou o sistema do mundo mecânico ao dos viventes que nele se criam, constituem a espécie humana o que deve ser e para o que foi destinada pelo criador do universo.

3839 — O menor átomo infinitésimo está tão sujeito à vontade onipotente de Deus, como a maior dos mundos e o imenso universo; assim a matéria se figura e coordena pontual e passivamente, segundo os desígnios da eterna sabedoria.

3840 — A bem-aventurança do sábio neste mundo consiste em pensar em Deus, estudando, gozando e admirando as suas obras maravilhosas.

3841 — Vamos em progresso dizendo bem de todos e mal de ninguém.

3842 — Que vastíssima ciência não conferirão aos homens as maravilhosas descobertas do telescópio e microscópio! de uma parte fizeram-nos distinguir astros e mundos de imensa grandeza em pontos luminosos na imensidade dos céus e do espaço, de outra, viventes inumeráveis de organização variada e incalculável em átomos infinitésimos imperceptíveis à nossa vista sem o auxílio de tais instrumentos. A sabedoria e poder divinos se revelarão por eles no máximo e mínimo da criação de um modo assombroso, o que devia necessariamente sublimar a noção que os homens tinham de Deus e seus divinos atributos.

3843 — Quando vemos um homem moço sustentar obstinado uma opinião menos razoável, devemos desculpá-lo, na certeza de que com os anos há de defender, talvez com o mesmo calor e veemência, a contrária, desaprovada e combatida.

3844 — Passamos a vida a invejar-nos, contudo, cada um de nós tem vantagens privativas e especiais, que nos indenizam dos que nos faltam.

3845 — Gozamos melhor da vida quando não receamos morrer.

3846 — O gênero humano foi destinado a pôr tudo em ação e movimento neste mundo planetário sendo agente e paciente ao mesmo tempo executa à risca as condições da sua natureza, que o impele à vida ativa, locomoção, trabalho, indústria, variedade e novidade em opiniões, produções, usos e costumes. O gênero humano é efetivamente o que deve ser, e nada mais nem menos.

3847 — Sofremos por muitos modos positiva e negativamente, ideal e materialmente, e os males de imaginação não são ordinariamente inferiores aos reais e positivos.

3848 — Agradeçamos a Deus os bens que nos liberaliza, e recorramos á sua bondade nos males que nos invadem.

3849 — Toda a ciência vem de Deus, e se incorpora e individualiza de algum modo nas suas obras; Deus é o manancial eterno de todas as verdades, coisas e suas relações: as suas criaturas inteligentes nada podem saber, nem ter idéias e noções algumas que não seja pelo exercício e experiência da vida, e estudo da natureza, manifestação solene e perpétua da sabedoria e poder infinito da divindade.

3850 — Os espíritos são átomos indivisíveis que se tornam viventes, sensíveis e inteligentes, colocados em certos pontos distintos e centrais dos corpos organizados destinados a servir-lhes de meio de comunicação com o universo externo e material, e a provocar deste modo o exercício das suas faculdades naturais, sensíveis e intelectuais.

3851 — Deus é por essência a ordem, beleza e harmonia universal: a eternidade da sua existência excluiu sempre a do caos fabuloso, produto da imaginação e ignorância humana; as suas obras assombrosas, ocupando a imensidade do espaço, a testam a extensão ilimitada dos seus divinos atributos de sabedoria, poder, bondade e providência: Deus é a alma, a vida, ação e movimento do universo, que criou para nele felicitar as criaturas sensíveis e inteligentes, a quem deu e dá o ser para exercício perene da sua eterna beneficência.

3852 — É triste e precária a condição das monarquias, quando recorrem aos anarquistas, demagogos ingratos, traidores, conspiradores e rebeldes para as sustentarem, conferindo-lhes poder, honras e autoridade, e permitindo-lhes que maltratem e persigam os bons, leais e genuínos monarquistas.

3853 — A origem fabulosa e ridícula que os homens têm dado ao mal físico neste mundo é causa de inumeráveis, erros, absurdos e terrores que infestam o gênero humano e agravam a sua miséria. O autor da organização e sensibilidade corporal igualmente o é do bem e do mal, do primeiro como fim, e do segundo como ocasião, meio, instrumento, veículo e condutor de bens gerais e especiais.

3854 — A nossa ignorância é tal que não a podemos avaliar por infinita.

3855 — Quando sofremos, queixamo-nos da Natureza ou da fortuna, para nos justificarmos do procedimento que ocasionou os nossos males.

3856 — Os príncipes ganham muito em viajar; aumentando a soma das suas idéias, dão maior extensão à esfera da sua inteligência.

3857 — Os males multiplicam-se nos velhos, surgem de diversos órgãos do seu corpo gasto e usado pelos anos, prazeres, trabalhos e cuidados.

3858 — O ciúme nas mulheres é horrível quando se reconhecem por feias ou velhas.

3859 — Cada um dos mundos existentes no espaço, sendo uma concepção da sabedoria divina, não pode deixar de ser perfeitíssimo no seu todo, partes máximas e mínimas para o propósito e fim a que Deus o destinou no sistema geral do universo. Em vão se nos antolhem defeitos e irregularidades na sua estrutura e relações, é à nossa ignorância ou limitação de inteligência que devemos tais aparências de desordem e anomalias; a sabedoria imensa de Deus não podia produzir obra ou sistema que não fosse ótimo e perfeito na sua contextura, relações, meios, fins e destinação para exercício da sua eterna beneficência e felicidade das suas criaturas vivas, sensíveis e inteligentes. Se a mais pequena flor ou inseto é um compêndio e demonstração da sua sabedoria infinita, que diremos de um mundo, sistema solar e do imenso universo!

3860 — Há verdades que nenhuma criatura, por mais sublime que seja a sua condição e categoria, poderá jamais conhecer: o seu conhecimento a faria igual a Deus, o que não é possível.

3861 — Acordados ou dormindo sempre pensamos, mas não sentimos do mesmo modo; o espírito, sendo o mesmo, o corpo é diverso nos dois estados.

3862 — Átomos viventes colocados em pontos diversos do espaço imenso, julgamo-nos imperceptíveis e indignos da atenção, providência e beneficência divina: tal opinião é um erro grosseiro, produto da nossa ignorância e irreflexão. Deus pela sua imensidade e incompreensível natureza ocupa o espaço infinito, anima e vivifica toda a criação, e se é licito assim dizê-lo, é sensível em todo o universo, em todas as suas partes máximas e mínimas e átomos infinitésimos, e portanto está presente a tudo, vela sobre tudo, e nenhum vivente, por mais diminuto que seja, está fora da sua providência benéfica, e bondade ilimitada.

3863 — Os homens não têm nem podem formar idéia de substâncias imateriais, as almas e espíritos são considerados por eles como entidades corporais perceptíveis aos sentidos com forma, figura e lugar na espaço, capazes de ação e reação, e, quando muito, os reputam de uma substância material mais sutil e menos densa que a dos corpos viventes deste mundo.

3864 — O mal de uns dá ocasião e origem ao bem de outros: os bens e males se entretecem e harmonizam no sistema deste mundo.

3865 — A matéria não é menos misteriosa e incompreensível do que a inteligência, ambas porém se combinam, harmonizam e constituem o universo.

3866 — São muitos os homens ocupados em propagar os erros, poucos em destrui-los e descobrir verdades.

3867 — Deus é infinitamente perfeito não podemos compreender a imensidade de suas divinas perfeições.

3868 — Os rebeldes anistiados maltratam e perseguem os homens leais e honrados.

3869 — Deus é infinito e inexaurível em dar, beneficiar e fazer graças se tivéssemos uma fé firme, constante e profunda na sua beneficência e bondade, nada lhe pediríamos que não nos fosse concedido: sobejam em Deus poder, vontade e meios de atender-nos, mas falta em nós uma crença e esperança inabalável na sua paternidade criadora e liberalidade ilimitada.

3870 — O pensamento está sempre em atividade, ainda quando o corpo parece mais preguiçoso.

3871 — A sabedoria humana reconhece a sua própria limitação e, admirada do espetáculo assombroso do universo e das maravilhas sem conto que compreende, exclama no seu entusiasmo: imensa é a inteligência que concebeu e realizou no espaço o sistema vastíssimo e incompreensível da criação universal!

3872 — Tudo na natureza é objeto de admiração e pasmo, mas sobretudo o desenvolvimento progressivo do gênero humano no teatro deste mundo.

3873 — O fluxo e refluxo dos partidos políticos nos governos monárquico-representativos constituem a sua vida, ação e movimento, tendendo a estabelecer um certo equilíbrio, que nunca se verifica perfeitamente, e que produziria imobilidade sempre fatal aos Estados.

3874 — Não podemos prever as vicissitudes da nossa vida; os eventos e circunstâncias que as determinam estão de ordinário fora do nosso alcance e arbítrio: um movimento geral em todas as direções ocasiona mudanças tais que encontram o nosso estado e o alteram profundamente em nosso dano ou proveito.

3875 — Muitos nos altos empregos, julgando-se importantes ou necessários, dão ou pedem a sua demissão na esperança de que lha neguem ou não aceitem, e muito se agastam quando o contrário lhes sucede, vendo humilhado o seu amor-próprio e frustadas as suas esperanças.

3876 — Estranha-se a simplicidade dos príncipes que conspiram contra si próprios, fazendo aliança com os ingratos, traidores, inimigos da ordem e monarquia, e esperando deles a defesa e segurança dos seus tronos e autoridade.

3877 — Deus ab aeterno é criador, nunca deixou nem deixará de ser tal; na imensidade do espaço, uns mundos se extinguem, outros se formam sempre diversos na sua estrutura e habitantes: o universo se renova constantemente por partes com variedade e novidade. A sabedoria de Deus sendo infinita e inexaurível, tem necessariamente de exercer-se, ideando novos sistemas e entidades e a sua onipotência em realizá-las no espaço e tempo por maravilhas sem conto, destinadas a felicitar as suas criaturas vivas e inteligentes, às quais conferiu parcelas infinitésimas do seu ser, vida, inteligência, ação, poder, movimento e felicidade.

3878 — Os validos são plantas parasitas de natureza efêmera, que não podem sobreviver ao arvoredo que lhes dá arrimo, importância e subsistência.

3879 — Se conhecêssemos a verdade em tudo, na sua pureza genuína, não seríamos homens, mas criaturas de diversa natureza ou deuses.

3880 — Deus não dá todos os bens a uns e os nega a outros: há uma igualdade na desigualdade de condições, que demonstra a bondade, justiça e providência de Deus, na distribuição dos seus dons pelos homens e países.

3881 — É tal a variedade dos modos de sentir em nós gozando e sofrendo que se torna impossível distingui-los, numerá-los e ainda mesmo classificá-los.

3882 — Devemos ter medo da ignorância e fraqueza dos homens; mas da infinita Sabedoria e Onipotência de Deus, de que é conseqüência necessária a sua bondade paternal e ilimitada, é loucura rematada.

3883 — Sem a precedência e ação da inteligência, a matéria não teria forma, figura, destino e aplicação alguma.

3884 — Procura-se dinheiro por toda a parte, ciência, quanto seja necessária para o conseguir.

3885 — Não tivemos escolha da época de nossa existência no universo, nem do mundo em que devíamos existir: neste em que vivemos, não tivemos igualmente arbítrio sobre a nossa forma vivente, nação, pátria, sexo, país, religião, governo, usos e costumes: tudo isto foi obra da divina providência, que nos criou e constituiu tais como quis que fôssemos.

3886 — A morte é extinção para o corpo e promoção para a alma.

3887 — Formou-se em nós tempestades como nos mares, e quanto mais violentas se figuram, tanto maior e mais durável é a bonança que se segue.

3888 — Não podemos gozar sem sofrer: o mal é ocasião de inumeráveis bens neste mundo em que existimos.

3889 — A bondade de Deus se exerce por infinitos modos, feliz aquele que, recorrendo a ela, espera e confia em Deus.

3890 — Os sustos e receios nos incomodam e atormentam mais nesta vida terrestre do que os males reais que nos invadem e sobressaltam.

3891 — A fábrica deste mundo e o caráter geral do gênero humano são tais como a sabedoria infinita de Deus o concebeu e constituiu: as irregularidades, contradições e anomalias que se nos figuram no seu jogo complexo e misterioso são obra da nossa ignorância e diminuta inteligência.

3892 — A ambição para chegar aos seus fins, umas vezes professa o cinismo, outras, o epicurismo.

3893 — Nas opiniões humanas, têm o estômago e barriga uma influência muito poderosa.

3894 — O moço resolve-se com brevidade, o velho, com muita dificuldade.

3895 — Fala-se em um outro mundo, os nossos olhos avistam milhões deles, que abrilhantam com a sua luz solar a imensidade do espaço 3896 — A noção ou idéia de espírito é negativa, sabe-se o que não é, ignora-se o que seja.

3897 — É depois de velhos que nos chegam bens de que já não podemos gozar, e nos faltam outros importantes ou indispensáveis a uma feliz existência.

3898 — Todas as formas de governos têm suas vantagens e inconvenientes privativos e especiais, nenhuma está isenta destes, ainda que goze de uma grande maioria daquelas.

3899 — O bem e o mal trocam seu nome conforme a inteligência dos que o sentem, suas relações e circunstâncias.

3900 — Contrastam bem as cabeças vulcânicas dos moços com as regeladas dos velhos.

3901 — Tudo foi previsto, providenciado e coordenado por Deus, no todo e partes da criação universal: nenhum fenômeno, acidente ou sucesso Lhe pode ser estranho. O autor das essências de todas as entidades e coisas é também necessariamente a origem de todas as circunstâncias efetivas e possíveis, e conseqüentemente o principal motor de todos os casos ocorrentes, presentes e futuros, salva todavia a liberdade individual, muito restrita e limitada, das suas criaturas sensíveis e inteligentes 3902 — É incompreensível a extensão infinita da bondade e providência de Deus para com as suas criaturas vivas e inteligentes; estas, sendo limitadas em tudo, não podem formar idéia do ilimitado dos seus divinos atributos.

3903 — Homens há que, pela extensão e profundidade dos seus conhecimentos, são incompreensíveis aos outros homens em suas doutrinas e opiniões.

3904 — Uma religião do Estado ou dominante é essencialmente intolerante.

3905 — A eternidade é privativa de Deus, fora dela, tudo é temporário, destrutível e mortal.

3906 — O pensamento, onde existe, tem por assento e objeto a extensão.

3907 — Os homens mais doutos e científicos não são os que menos desatinam em assuntos políticos e religiosos.

3908 — Usamos e servimo-nos dos membros do nosso corpo, sem compreendermos o como, e porquê eles obedecem tão pontualmente à nossa vontade.

3909 — Uma eternidade de penas e dores seria a sorte inevitável da velhice, se fôssemos imortais 3910 — O arrependimento reconhece o crime, o remorso principia a castigá-lo.

3911 — A aliança com os maus, anarquistas, demagogos, insurgentes e rebeldes é o maior argumento da fraqueza e imprudência das monarquias absolutas ou representativas.

3912 — A imaginação encanta os moços, a reflexão desencanta os velhos.

3913 — As virtudes embalsamam o ar, os vícios o corrompem.

3914 — A vida dos velhos é penosa para eles e incômoda para os outros: a morte é o remédio especifico para todos os seus males.

3915 — Nos céus, tudo são luzes, na terra elas se alternam com as trevas.

3916 — A celebridade dos grandes crimes perpetua a sua infâmia e execração.

3917 — Escrevi para todos, para muitos e para poucos: assim se explicam algumas contradições que se encontram nos meus escritos.

3918 — É sábio o homem que se refere, em tudo e por tudo, a Deus; à Sua bondade, justiça providência em todos os acontecimentos da sua vida e fenômenos da natureza.

3919 — Luz do sol, maravilha da criação! Tu afugentas as trevas, patenteias o mundo, individualizas e distingues os objetos à nossa vista: tudo animas, aqueces, vivificas... Mas, sem olhos, de que serviria a luz? Luz e olhos bastariam para demonstrar a existência de Deus, Seu infinito poder, sabedoria e bondade.

3920 — Os democratas, lazzaroni e farroupilhas servem-se, com vantagem, do cinismo, para chegarem ao epicurismo, objeto dos seus votos.

3921 — Sem os males da vida, não teriam os homens em que se entreter.

3922 — Definem-se os homens — animais racionais -; quanto à primeira parte, de acordo; mas a segunda, lá tem que se lhe diga.

3923 — Um velhaco acha sempre outro que o desbanca.

3924 — Aprendemos até morrer; mas na velhice, pela decadência do corpo, são mais penosas as lições.

3925 — Os males do corpo humilham nosso orgulho intelectual, mostrando que, para nos libertarmos deles e da morte, não temos ciência e saber.

3926 — Os avaros não podem fazer testamento; arrepiam-se da palavra - — Deixo!

3627 — Velhice é doença crônica: remédio, a morte.

3928 — Louvor de uns, admiração de outros, respeito de todos, são a mais prezada recompensa dos sábios, por seus escritos de imortal memória.

3929 — A nação francesa tem mais engenho e menos juízo que a inglesa.

3630 — A corte é o paraíso dos néscios e o purgatório dos sábios.

3931 — Maiores nos figuramos em recinto estreito do que em espaçoso local.

3932 — Bens e prazeres são variados até o infinito; males e dores têm limitada extensão.

3933 — Na decrepitude, não pioramos de condição pela morte; se deixamos de gozar, também cessamos de sofrer.

3934 — Os filósofos lastimam a irracional credulidade dos povos. Os povos lamentam a perigosa incredulidade dos filósofos.

3935 — Se o sábio cala, não é conhecido; se diz o que sabe, está perdido.

3936 — A maior desgraça de um homem seria o ser sábio, no meio de bárbaros e ignorantes.

3937 — A nação mais ignorante é para onde concorrem e prosperam os charlatães menos sagazes e mais audazes.

3938 — Os homens, trabalhando por se enganarem mutuamente, preenchem o seu empenho; mais ou menos, todos vivem enganados.

3939 — Os tolos provocam os que o não são a fazerem-se velhacos.

3940 — O louvor que os homens prezam mais é de ter juízo; as mulheres, de serem formosas.

3941 — Quando mesmo uma boa causa não seja feliz, honra a quem a defende.

3942 — O elogio que mais saboreamos é de ordinário o que menos merecemos.

3943 — Querendo gozar muito dos prazeres dos sentidos, tornamo-nos menos virtuosos e mais dependentes dos homens e das coisas.

3944 — Os vícios tornam-se adultos e envelhecem com o homem.

3945 — Tanto é rara a sabedoria, quanto o juízo vulgar.

3946 — A dissimulação repugna aos grandes homens, mas é indispensável aos governantes.

3947 — Acaso! que é ele! Um subseqüente pressupõe um antecedente que o determinou, e assim se caminha por uma série ascendente, só haveria acaso se um evento não estivesse conexo com outros anteriores: mas acaso só significa: ignorância da causa que produziu o fenômeno na espécie humana ou na natureza.

3948 — Ludibrio das circunstâncias, os homens são ordinariamente o que elas os fazem, e não o que eles querem ser.

3949 — As disputas entre os homens denunciam sua ignorância.

3950 — A opinião mais absurda é sempre a que os tolos têm mais tendência para seguir.

3951 — Há verdades importantes, mas intempestivas, que comprometem os que as formulam: e isto sem proveito público e com perigo particular.

3952 — Tendo o mal físico a Deus por autor, não pode existir senão para fins benéficos, gerais e especiais.

3953 — Velhos há cujo procedimento honesto é menos devido à virtude que à impotência.

3954 — Pode haver ciência, engenho, talentos, sem juízo.

3955 — Há na velhice prazeres especiais: suaves recordações de um pretérito longo não são por certo o menor.

3956 — Certo silêncio mais persuade que a palavra.

3957 — Deus é caluniado pelos néscios e exaltado pelos sábios.

3958 — Com más compras e piores vendas, bem depressa empobrecemos.

3959 — Ousaria afirmar que as minhas obras são, de algum modo, de inspiração divina, se para isso bastasse o haver-mas sugerido, em grande parte, o estudo da natureza.

3960 — Mais exato fora Descartes, dizendo: —Sentio, ergo sum / — do que — Cogito, ergo sum! A faculdade de sentir antecede a de pensar.

3961 — A morte nos torna impassíveis. Oh! que benefício para os que padecem, sem esperança de alivio ou melhoramento de seus males!

3962 — Um prazer prolongado passa a tornar-se dor.

3963 — Vaidade nas mulheres, ambição nos homens, revolvem as sociedades.

3964 — Sem uma unidade sensível e inteligente, não pode haver Eu entre os viventes. O que esta unidade seja, ignoramo-lo; mas sabemos que é indispensável.

3965 — Não ofendais o homem justo! Tem a Deus por vingador.

3966 — O exercício comercial e militar habitua o homem a certa ordem e pontualidade, que se não acham nas outras profissões, mormente de literatos e artistas.

3967 — A maior ignorância é a dos que nada admiram. Assim sucede aos animais, que não sabem avaliar nem conhecer os fenômenos e maravilhas da natureza.

3968 — Sou um ponto na imensidade do espaço. A minha vida é um instante na eternidade do tempo. Só Deus é imenso e eterno, compreendendo, no seu ser misterioso e incompreensível, a imensidade e a eternidade.

3969 — Há vícios que se contrapõem; as virtudes sempre se ajustam. O incompreensível é indefinível: tal é Deus!

3970 — Homens há tão insignificantes, que não têm amigos: não são amados nem aborrecidos: vivem e morrem anônimos.

3971 — Os desenganos da velhice são inúteis para os moços; e aos velhos já não aproveitam.

3972 — A morte dá a uns importância, e tira-a aos outros.

3973 — Tenho sobrevivido a muita gente que nunca pensou que tal sucedesse.

3974 — Há segredos, de natureza tal, que é imperdoável imprudência o descobri-los.

3975 — Pobreza não excita inveja: por mais que procure, não lhe acho outra vantagem.

3976 — Para Deus não há segredos, que tudo lhe é patente. Tenham os maus presente sempre esta verdade.

3977 — A pobreza não tem os embaraços e cuidados da opulência; mas tem os da sua condição, que não são inferiores.

3978 — A inveja, para mor tormento seu, exagera muito o valor dos bens que cobiça.

3979 — Não há pior desgraça, para um homem bem criado, do que é dever obrigações a um vilão ruim.

3980 — Os príncipes são por vezes ingratos; os povos são-no sempre.

3981 — Os elementos de formação e destruição, de vida e morte, se ajustam e harmonizam, por um modo maravilhoso, para a renovação, conservação e perpetuidade deste mundo.

3982 — Para que os bens sejam mais duráveis, são os males que deles nos ensinam a usar.

3983 — A morte é mal ou bem, segundo os estados e circunstâncias da vida. Com saúde, vigor, e exercício pleno e livre dos sentidos e faculdades corporais e mentais, na fruição dos gozos da existência, é penosa a morte: mas em um estado inválido, de enfermidade crônica; em uma idade proveta e decadente, com dores e cuidados sem esperança de melhoramento, com o corpo usado, gasto, veículo de males e penas, já não de prazeres e agradáveis sensações, a morte é o maior dos bens, porque, tornando-nos impassíveis, nos salva de todos os males.

3984 — Como havemos do esquecer que temos corpo se ele nos importuna incessantemente com as suas requisições?

3985 — Quanto mais um homem se inculca importante, mais insignificante é.

3986 — Estudos há que não conduzem à sapiência, antes agravam a ignorância.

3987 — Raro somos o que queremos ser, mas sim o que as circunstâncias permitem que sejamos.

3988 — Se não somos senhores das circunstâncias, como o seremos de nós mesmos?

3989 — Os homens audazes em escrever não são, por via de regra, os mais profundos em saber.

3990 — Deus, porque é incompreensível a todos, compreende tudo.

3991 — Preza-se a vida mais, quando na velhice: menos mal.

3992 — Os dobres e repiques dos sinos simbolizam as vicissitudes da sorte humana.

3993 — Quanto existe e sucede na natureza é natural: só Deus é sobrenatural.

3994 — Como a luz e a sombra, o bem e o mal estão sujeitos às leis de um sistema que os constitui e regula.

3995 — Geralmente são caraterísticos do homem ignorância e impostura.

3996 — A ignorância recorre à impostura para se dar importância.

3997 — A loucura nos velhos é mais extravagante que nos moços.

3998 — Ninguém sabe amar como a mulher, nem governar como o homem.

3999 — Demasiada prudência atormenta e tiraniza.

4000 — Injurias deorum diis cura! disse Tiberio no senado romano; o mesmo cumpre dizer aos loucos, que se erigem em vingadores de Deus, pelos erros e ofensas contra ele cometidos.

4001 — Nem sempre é velhaco quem o quer ser: nem todos têm habilidade para isso.

4002 — Devemos congratularmo-nos de saber que ignoramos infinito; teremos de aprender eternamente, com variados corpos, em inumeráveis mundos.

4003 — Entramos, pela vida, no espetáculo imenso do universo; saímos, pela morte, que anula a nossa existência e individualidade humana.

4004 — O mundo antolha-se diverso aos viventes que nele se criam, segundo a variedade misteriosa da sua organização e estrutura dos seus sentidos. O mundo não é para os peixes o mesmo que para os homens.

4005 — Não há pensamento nobre ou sublime que, direta ou indiretamente, não tenha referência a Deus.

4004 — A importância que a vida confere aos homens inteiramente lha arrebata a morte, rompendo-lhes as relações com a sociedade e o mundo circunstante.

4007 — Não só os bens provêm de Deus, mas também os males, como ocasião e instrumentos de bens.

4008 — Homens há que se tornam gravemente incômodos e importunos, à força de quererem passar por muito civis, obsequiosos e prestadios.

4009 — Os moços são tão fáceis como os velhos, emperrados em resolver-se.

4010 — Uns gozam pouco do que lhes custou muito trabalho; outros nimiamente do que nada lhes custou.

4011 — A bem-aventurança eterna deve ser uma felicidade progressiva, ilimitada e insaturável; não como a temporal, limitada e alternada com males.

4012 — Deus é a minha esperança; nunca em sua bondade eu esperei em vão.

4013 — Quem não desconfia de si desmerece a confiança dos outros.

4014 — Os trabalhos são bons amigos, quando deixam uma experiência útil e bem aproveitada.

4015 — Os prazeres encantam porque passam e se sucedem com variedade e novidade. Tomai-os uniformes e permanentes, adeus sabor e deleite.

4016 — Pode a virtude ser perseguida, mas nunca desprezada.

4017 — Que resta dos grandes homens? Pouca terra e alguns ossos.

4018 — Só pode avaliar ao sábio um sábio igual a ele.

4019 — Mendigar, para quem não tem vergonha, é mais comezinho que trabalhar.

4020 — Homens há, dignos de imortal memória; lembrados ausentes, presentes esquecidos.

4021 — Muito pouco se padece na vida, em comparação do que se goza: aliás como se viveria?

4022 — Os que se queixam da vida, quereriam melhorá-la, mas perdê-la, não.

4023 — A morte é sono que principia para mais não acabar.

4024 — A civilização nos povos multiplica os prazeres sensuais e intelectuais.

4025 — As mercês honoríficas mais valiosas chegam de ordinário aos maiores servidores do Estado quando, por sua proveta idade e por seu saber, já nem têm gosto nem vaidade para as apreciar segundo a opinião geral; e para alguns, antes são multas que graças. (sic)

4026 — Se as circunstâncias reclamassem a sua parte nos altos feitos e produções dos homens ilustres, que lhes restaria de sua glória?

4027 — Quantas vezes os vícios contribuem para alimentar a virtude, dando exercício ao trabalho de homens probos que os não têm!

4028 — Não poderíamos pensar, se previamente não sentíssemos: é a faculdade de sentir que ministra os materiais para o exercício de pensar: o pensamento é subseqüente ao sentimento.

4029 — A oposição e divergência de opiniões, em matérias políticas e religiosas, formam parcialidades e seitas, e afinal se resolvem na guerra civil.

4030 — O coração corrige muitos erros do espírito, e o espírito muitos extravios do coração.

4031 — Depois de idealizarmos o mundo material, blasonamos de espiritualistas.

4032 — Surgem, no jogo da vida humana, inumeráveis mistérios, que só podem explicar-se dizendo-se como o vulgo: altos juízos de Deus.

4033 — O coração protesta contra muitas das opiniões e doutrinas do espírito humano.

4034 — Os tolos são cifras; mas, acompanhando os velhacos, que aliás senão unidades, tornam-nos dezenas, centenas e milhares.

4035 — Não existe entidade no universo que não seja ao mesmo tempo agente e paciente.

4036 — Fazer da pobreza virtude é hostilizar a riqueza, que ministra à caridade os recursos do que carece.

4037 — A pobreza é estéril; não assiste nem promove a caridade.

4038 — É necessário que os homens doidejem muitos anos, para chegarem algum dia a ter juízo.

4039 — Se por felicidade se entende uma fruição perene, e não interpolada por males, deveres e mágoas, não existe no mundo em que vivemos.

4040 — O universo está impregnado da ação e essência divina, como o ferro em brasa do fogo que lhe dá calor e o torna luminoso.

4041 — Deus é o único agente que também não seja paciente; por isso, inalterável, impassível e inofensivo.

4042 — As grandes alegrias confinam ordinariamente com gravíssimos males e desgostos: é a alternativa do bem e do mal.

4043 — Tão remissos são os mandriões em servir e executar como ativos em mandar.

4044 — Não tem fita o livro inglês, mas ao francês, é indefectível.

4045 — Todos os bens da minha vida me vieram de Deus: os homens foram instrumentos de sua paternal bondade para comigo. Mil graças lhe sejam dadas!

4046 — Deus se revela nos espíritos, como na matéria; mas sem esta não podem as inteligências manifestar-se.

4047 — Os erros e imprudências da mocidade ocasionam graves males na velhice!

4048 — O juízo vulgar não eleva os homens à eminência nas belas-artes e ao heroísmo: é necessária certa dose de loucura, que, afastando-os do ramerrão, lhes confira superioridade de engenho e singularidade de caráter.

4049 — Quando o contingente chega à existência, é porque esta se tornou, pelos antecedentes, necessária.

4050 — Aprendemos gozando, muito mais padecendo.

4051 — Avistamos a Deus na infinda variedade das obras do homem: a inteligência que lhe foi conferida é também criadora de grandezas intelectuais, que bem demonstram a divina origem donde derivam.

4052 — Economia de cabedal, trabalho e tempo é o primeiro problema nas obras da indústria.

4053 — No Brasil não se podem emprestar livros: os que os recebem, consideram-nos dados e não emprestados.

4054 — Com riqueza, ciência e probidade, só não sobe alto quem não quer subir.

4055 — É raro conhecerem-se os sábios, porque estes têm sumo cuidado, por cálculo, em ocultar que são.

4056 — O infinito máximo compõe-se dos infinitos mínimos: ambos constituem o imenso universo, que Deus criou, anima, vivifica, em que se revelam, simbolizam e figuram os seus divinos atributos de infinita sabedoria, poder, bondade, justiça e providência.

4057 — Confundimos muitas vezes o bem com o mal, porque um e outro ocasionam ordinariamente o seu contrário.

4058 — Enquanto temos medo de Deus, não o conhecemos: principiamos a conhecê-lo quando principiamos a amá-lo, pela fruição refletida, estudo e admiração das suas obras.

4059 — O inferno existe em uma família discorde quando marido e mulher se aborrecem cordialmente.

4060 — Nas obras inglesas de inteligência e indústria, a utilidade prevalece à elegância; nas francesas, sucede o contrário.

4061 — São numerosos os modos de padecer; inumeráveis os de gozar.

4062 — Há certas mulheres que têm uma voz hermafrodita, parte masculina, parte feminina: são intoleráveis sendo loquazes e iracundas.

4063 — Ninguém tanto despreza os homens e os povos como aquele que mais os lisonjeia.

4064 — Os sábios nunca acharam admiradores: néscios, visionários, velhacos e impostores, numerosíssimos têm tido em toda a parte.

4065 — Os moços são mais indulgentes com os velhos do que estes com aqueles. Os moços perdoam as impertinências dos velhos; estes não toleram as imprudências daqueles.

4066 — A variedade do procedimento e dos atos dos homens e dos povos é tal que não há quem os possa compreender e historiar.

4067 — As honras não excluem a honra, mas também não a pressupõem necessariamente.

4068 — Pela fácil credulidade das inteligências se pode graduar a sua mediocridade.

4069 — Somos criaturas de Deus, e temos, como tais, a forma e selo da divindade.

4070 — Muitas das minhas máximas, que menos inteligíveis parecem, explicam-se por outras que lhes servem de comentário.

4071 — Custa pouco aos monarcas ganhar corações e converter inimigos; bastam poucas palavras de benevolência e pequenos símbolos de distinção.

4072 — Na decrepitude achacada, custa mais a entreter a vida do que ela vale.

4073 — Dizemos muito, falando pouco, quando sabemos bem os termos próprios da nossa língua.

4074 — Vires acquirit eundo, diz-se de um rio, outro tanto se pode dizer dos espíritos, na sua eterna viagem por mundos inumeráveis, com variados corpos adaptados a seus diversos sistemas.

4075 — Os velhos ilustrados gozam de prazeres especiais, que ainda aos moços não são permitidos. O seu longo pretérito com o mundo e suas produções idealizadas na mente lhes ocupa o pensamento e lhe ministra materiais para profundas meditações e invento de novas e importantes verdades e relações, na leviana idade juvenil, distraída com os prazeres sensuais e presentes, lhes não houveram podido ocorrer.

4076 — Frugalidade e sobriedade conferem saúde, vigor e alegria.

4077 — Tenho conhecido distintamente as quatro idades da vida. A velhice tem sido especialmente sentida, e estudada por mim com profunda reflexão. Transpôs ela os ordinários términos, sem deteriorar consideravelmente o meu entendimento, mas atormentando o meu corpo com sucessivas e penosas moléstias, que me fazem impacientemente desejar a morte, como remédio único de tão graves males.

4078 — Os homens, para lhes agradarmos, obrigam-nos a mentir; a máxima parte da civilidade são mentiras aprazíveis, de convenção.

4079 — Explicam-se com a palavra circunstâncias todos os atos pessoais e eventos sociais, no jogo da vida humana.

4080 — A velhacaria requinta na velhice, tanto quanto é peca na mocidade.

4081 — As sociedades modernas rejeitam a doutrina velha de padecer neste mundo para no outro gozar. É uma das causas principais da fermentação e movimento geral da humanidade para novas instituições civis e políticas, e melhoramentos morais e materiais dos povos.

4082 — O riso do néscio é longo e ruidoso; breve e silencioso o sorriso do sábio.

4083 — Avistamos muito, mas pouco distinguimos no imenso e complexo jogo da natureza.

4084 — Não é a ciência como o ouro, que tanto perde em solidez quanto ganha em extensão.

4085 — Um grande engenho não se pode ocultar; reluz nos olhos, e tem todas as feições do rosto transparente.

4086 — Seriam mudos os meninos, se as mulheres não fossem loquazes.

4087 — Deus se generaliza em todo o universo, e de algum modo individualiza os seus divinos atributos nas obras da natureza, revelação autêntica da sua infinita sabedoria.

4088 — A entidade que compreende um todo não pode ser compreendida por suas partes.

4089 — Como as baleias nos vastos oceanos da terra, são os astros e os mundos viventes criaturas que se movem pelo oceano imenso do éter celestial.

4090 — Sem filosofia não há sabedoria: quem não é filosofo não pode ser sábio.

4091 — Sem o mal físico não existiria o mal moral; do que se conclui que o autor do primeiro é também indiretamente o do segundo.

4092 — O crédito em comércio é cabedal que, perdido, nunca mais se restaura.

4093 — Para os benfeitores imprudentes ou interesseiros, a gratidão dista pouco da aversão.

4094 — A ingratidão é o vicio dos vilões, e repugna às almas nobres.

4095 — Tudo no universo é movimento e ação. Toda a alteração ou mudança ocasiona um fenômeno ou produto novo. Pode portanto dizer-se que tudo, com variedade e novidade, se remoça na criação universal. Tal é a sabedoria infinita do supremo ente, criador de tudo.

4096 — Consiste a felicidade em não sofrer: quando se não sofre, goza-se; que o simples e natural exercício dos nossos sentidos, faculdades corporais e mentais, confere fruição e felicidade.

4097 — O abuso do crédito conduz à bancarrota.

4098 — O gênero humano nem é, nem jamais será, capaz de um verdadeiro sistema de filosofia ou medicina.

4099 — Juízo é ordem: loucura, desordem.

4100 — Nada existe, nas produções da natureza ou nas obras do homem, sem um prévio ideal que as preceda, determine ou tenha determinado.

4101 — Mais tolerável é moço imprudente que velho impertinente.

4102 — É na natureza, o bem, universal; o mal, individual.

4103 — Mais e melhor nos recordamos na velhice do que fomos e fizemos na meninice.

4104 — Há defeitos que embelezam o semblante e caracteres.

4105 — Os homens não nos levam em conta aquilo que, por vergonha ou modéstia, padecemos: antes nos acusam de acanhados e noviços, e assim promovem a proterva e desvergonha.

4106 — Mais se comprovam a ignorância e loucura dos homens por certas doutrinas que professam do que pelos atos e obras que praticam.

4107 — O ideal, em Deus, é primitivo; nos homens é subseqüente ao realismo ou execução mecânica e material.

4108 — Os velhos devem banhar-se freqüentemente, como as flores ter o pé na água, para não murcharem tão cedo.

4109 — Explicai o acaso e o fatalismo pela providência divina, e tereis resolvido grandes problemas sobre a natureza, sorte e condição humana.

4110 — As flores e frutas que mais cheiram são as que mais cedo murcham e apodrecem. Uma emissão copiosa de partículas sutis as enfraquece, deteriora e consome.

4111 — Quase tudo depende das circunstâncias de tempo e lugar, nas ações, feitos, opiniões e crenças dos homens neste mundo sublunar.

4112 — Para exercício, ocupação, utilidade e recriação da nossa alma, enquanto unida ao corpo vivente, neste mundo em que existimos, é que idealizamos o universo visível e o resumimos de um modo misterioso.

4113 — Louvamos a sinceridade nos homens, mas não a invejamos.

4114 — Extinta a individualidade humana, a morte lhe salda as contas.

4115 — Os néscios caluniam a Deus, os sábios os desmentem.

4116 — A forma e colocação das sementes nos frutos são tão variadas e maravilhosas, que, bem ponderadas, exaltam a sublime noção que os homens têm da incomensurável sabedoria e poder de Deus.

4117 — A imaginação tem contribuído tanto para enganar os homens como a razão para os desenganar: a primeira é fabulista, a segunda realista.

4118 — Deus, autor do amor paterno e materno, amará as suas criaturas vivas, sensíveis e inteligentes, menos do que os pais amam seus filhos? Não. Tais criaturas, antes de existirem, tiveram o seu tipo ideal e primitivo em Deus, e por isso uma paternidade divina que não pode deixar de amar suas obras, produções da sua infinita sabedoria, poder e bondade.

4119 — Os sábios são tais, menos pelo que dizem do que pelo que calam.

4120 — O silêncio dos sábios é a censura dos povos.

4121 — Os velhacos nem sempre são tais; padecem também muitas vezes por tolos.

4122 — Os maus são ordinariamente muito ativos em dano seu e dos outros homens.

4123 — Os maus e velhacos gozam ordinariamente mais em fantasia do que na realidade.

4124 — Quando os povos querem mandar e governar, os sábios se despedem.

4125 — A benevolência é incerta sem a beneficência que a demonstra e completa.

4126 — A benevolência é estéril sem a beneficência que a faz profícua.

4127 — A faculdade de pensar é provocada pela de sentir; cessando esta, acaba aquela.

4128 — Avistamos muito e descobrimos pouco; o universo é imenso, a nossa inteligência muito limitada.

4129 — Afiamos a língua no rebolo da maledicência e censura, e a embotamos nos dos encômios e louvores.

4130 — As revoluções populares dão importância a pessoas que seriam eternamente insignificantes sem elas.

4131 — Se déssemos aos pobres tudo o que possuímos, eles não ficariam ricos, e nós cairíamos na penúria e miséria de que quiséssemos salvá-los.

4132 — Sem corpo não há sentir nem pensar, gozar nem sofrer.

4133 — No jogo, movimento e ações dos homens, no teatro deste mundo, ocorrem freqüentes dúvidas sobre a providência divina, que a razão, por muito limitada, não pode resolver, ciente todavia de que tudo foi previsto, coordenado e regulado por Deus para o maior bem geral e particular da espécie humana.

4134 — A sociedade educa os homens, a natureza as mulheres.

4135 — O instinto pode mais nas mulheres do que a educação nos homens.

4136 — As mulheres são mais sensíveis, os homens, mais racionais.

4137 — A sensibilidade nervosa está na razão inversa da força muscular.

4138 — A sensibilidade nervosa é tanto menor nos homens, quanto maior é a sua força muscular.

4139 — A mocidade dura muito tempo; é crescimento, expansão e plenitude: a velhice atura pouco, sendo contração, decadência, deterioração e morte.

4140 — Não sabemos o que seja a matéria em abstrato e em substância; só a conhecemos em sua forma concreta, figurada e fenomenal, sendo por isso perceptível aos nossos sentidos corporais e capaz de ser idealizada com representações correspondentes aos objetos materiais que fizeram impressão sobre nós.

4141 — É tal a variedade das obras de Deus que não existem nem talvez possam existir duas entidades, coisas ou casos perfeitamente iguais ou semelhantes.

4142 — Todos se acusam ou se queixam de pouco dinheiro, nenhum de pouco juízo.

4143 — Os que quiserem ser sábios em um ano leiam com atenção as considerações sobre as obras de Deus no reino da natureza e da providência para todos os dias do ano, pelo alemão Sturm. Esta obra acha-se traduzida nas línguas inglesa e francesa.

4144 — Se tudo está relacionado no universo e feito com desígnio, propósito, destinação e aplicação, nada é vago e contingente, mas necessário e fatal.

4145 — Sempre nos avaliamos mais caros do que os outros homens nos avaliam.

4146 — Há relações e verdades tão importantes natureza, que a descoberta de uma dá ocasião à de muitas outras correlativas.

4147 — As revelações mais importantes e genuínas são as que provêm do estudo da natureza, obra assombrosa e testemunho autêntico da infinita sabedoria, poder e bondade de Deus.

4148 — A liberdade não consiste só no querer, mas também em podermos executar o que queremos.

4149 — Tudo o que é não podia deixar de ser: supostos os antecedentes que determinaram a sua existência, o contingente realizado torna-se necessário.

4150 — A sede dos nossos maiores males na velhice é ordinariamente o órgão, entranha ou parte do nosso corpo de que mais abusamos nas idades antecedentes.

4151 — No exercício da vida, querendo gozar o mais e sofrer o menos possível, os melhores calculistas são os homens bons e virtuosos; os piores, os maus e viciosos.

4152 — Há muita gente que morre embebida nos vícios e prazeres da vida, como as formigas e outros insetos na calda do açúcar.

4153 — No exercício da vida, os homens, assim como os outros viventes, procuram gozar e não sofrer, os fins são os mesmos, mas os meios de consegui-lo muito diversos.

4154 — Os vícios encurtam a vida, as virtudes a prolongam.

4155 — Queixamo-nos dos homens, mas não das circunstâncias que os obrigam, e por freqüentes vezes, a ser o que são.

4156 — O ideal do universo existia em Deus antes da sua criação, como existe na imensa capacidade da mente divina tudo o que tem de realizar-se simultânea e sucessivamente no espaço e tempo por toda a eternidade.

4157 — O temor difere muito do medo: teme-se a justiça de Deus, Criador e benfeitor do gênero humano; mas tem-se medo do que é mau, cruel, maligno, mal-intencionado e malfazente, como os homens imaginam e qualificam a Satanás ou o diabo.

4158 — O bonito é geralmente diminutivo, o belo aumentativo.

4159 — O que não tem extensão não pode ter localidade, movimento, ação nem relações no espaço concreto e universal da natureza.

4160 — A filosofia do panteísmo resume tudo em Deus e deriva tudo de Deus: no primeiro caso, pelo idealismo; no segundo, pelo realismo.

4161 — O nosso corpo é o telégrafo da nossa alma; significa exteriormente o que ela sente, pensa e quer. São numerosos os modos desta significação; mas o principal é a palavra.

4162 — O oficio de reinar tem perdido muito do seu antigo esplendor e vantagens: na Europa agitada, os diademas se convertem em coroas de espinhos, e os cetros em varas de escorpiões.

4163 — O que não tem extensão não pode ter localidade no espaço. Onde pois existe?

4164 — O sono da morte exclui os sonhos e pesadelos da vida.

4165 — A nação de espírito é talvez a maior das abstrações do entendimento humano.

4166 — Em toda a minha vida me tenho enganado com os homens, supondo-os com mais juízo, ciência e probidade do que eles têm realmente.

4167 — Na contemplação de sua infinita bondade e beneficência consiste talvez a principal parte da felicidade pleníssima de Deus, Criador do universo. Sem dúvida a criação foi devida ao sentimento e desejo de fazer felizes criaturas a quem Deus conferiu o ser e faculdades para gozarem, no decurso da vida individual, dos prazeres que ele predestinou, na sua infinita sabedoria, para as felicitar com a fruição das suas obras maravilhosas que ocupam a imensidade do espaço.

4168 — A literatura inglesa deve servir de antídoto à francesa: esta vicia, aquela moraliza os seus cultores.

4169 — Os pobres divinizam a sua pobreza para se consolarem de não serem ricos.

4170 — Sofre grande desfalque o cabedal do moço, porque não sabe; do velho, porque não pode.

4171 — Quem fala despende, quem ouve aprende.

4172 — A morte quebra em cada homem um tipo de forma especial, que não terá mais cópia ou igual em toda a espécie humana.

4173 — A velhice anula muitas relações dos homens entre si e com o mundo exterior; a morte finalmente todas.

4174 — A virtude tem alguma coisa rude e agreste que a faz desagradável sem o polimento e verniz que lhe dá a civilidade.

4175 — A eternidade se releva no tempo, a imensidade, no espaço, e o infinito no limitado: Deus é a eternidade, a imensidade e o infinito.

4176 — Como a flor dobrada é mais formosa do que a singela, assim a vida dobre dos amantes e amigos é mais feliz do que a simples e individual.

4177 — Homens há que se consomem como os fogos de artifício, ardendo, luzindo e iluminando.

4178 — A beneficência habitual e bem empregada é produtiva de retribuições correspondentes no futuro.

4179 — A vaidade convive com o amor-próprio e o acompanha freqüentemente.

4180 — Em matérias e opiniões políticas e religiosas, os velhos são mais intolerantes do que os moços.

4181 — Uma aureola de glória cinge a cabeça do sábio que ilustrou com seus escritos sua pátria, sua nação e o gênero humano, contribuindo para o seu melhoramento civil, moral, político, e religioso.

4182 — Ninguém sai da companhia de um homem douto e sábio que não tenha aprendido dele algumas verdades importantes.

4183 — A vaidade é um elemento muito importante da humana felicidade.

4184 — A imaginação será a mesma memória, enquanto inventiva e criadora?

4185 — A imaginação tem sido e é a mais fecunda das entidades fabulosas boas e más, que infestam as crenças e religiões deste mundo.

4186 — O engenho é tão raro, como vulgar o juízo.

4187 — A imaginação supõe invenção, a memória a excluí: esta porém lhe ministra os materiais para o seu trabalho de criações novas.

4188 — Que capacidade imensa a da mente divina, compreendendo o ideal de tudo o que existiu, existe e há de existir por toda a eternidade, no espaço infinito e no tempo ilimitado da criação universal!

 

MEU EPITÁFIO

Aqui jaz o corpo apenas
Do marquês de Maricá:
Quem quiser saber-lhe da alma
Nos seus livros a achará.


 

 

eBooksBrasil
www.eBooksBrasil.org

_________________
Fevereiro — 2001

 

Proibido todo e qualquer uso comercial.
Se você pagou por esse livro
VOCÊ FOI ROUBADO!
Você tem este e muitos outros títulos
GRÁTIS
direto na fonte:
eBooksBrasil.org

 

Edições em pdf e eBookLibris
eBooksBrasil.org
__________________
Abril 2006

 

eBookLibris
© 2006 eBooksBrasil.org