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Sofia Perennis
Um Ungüento para Educação no Mundo Pós-Moderno
Dartagnan da Silva Zanela
Versão para eBook
eBooksBrasil.com
Fonte Digital
Documento do Autor
©2002 — Dartagnan da Silva Zanela
dartagnanzanela@hotmail.com
www.jornalexpress.com.br/avoz
SUMÁRIO
[
RESUMO
]
1. [
INTRODUÇÃO
]
2. [
A CHAGA OCULTA DA MODERNIDADE
]
2.1 [
O Caos Como Ordem Cosmológica
]
2.2. [
A Morte do Indivíduo em Nome da Sandice Coletiva
]
2.3 [
O Que é Uma Universidade?
]
2.4 [
O Consenso Como Debate
]
2.5 [
O Ópio dos Intelectuais
]
2.6 [
O Retorno ao Caminho da Sabedoria
]
3.[
AOS OLHOS DE JUNO
]
3.1 [
Nos Jardins de Acádemo
]
3.2 [
Às Sombras das Catedrais
]
3.3 [
O Iluminismo: Da Morte do Espírito à Ascenção do Totalitarismo
]
3.4 [
Qualquer Coisa Como Fim Último
]
4. [
O Ensino Contemporâneo e a Morte da Alma Humana
]
4.1 [
O Relativismo dos Valores
]
4.2 [
Por Uma Hierarquia Noológica
]
4.3 [
Da Mistificação da Educação à Mística na Educação
]
5. [
CONSIDERAÇÕES FINAIS
]
[
REFERÊNCIAS
]
[
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
]
[
NOTAS
]
SOFIA PERENNIS
UM UNGÜENTO PARA EDUCAÇÃO NO MUNDO PÓS-MODERNO
Por Dartagnan da Silva Zanela
dartagnanzanela@hotmail.com
www.jornalexpress.com.br/avoz
RESUMO
O presente estudo monográfico tem o intuito e apreciar alguns dos problemas que em nossa ótica assolam o sistema educacional contemporâneo através do viés da Sofia perennis. Nos acostumamos a sempre observar a nossa realidade presente sempre com os pontos de vistas que nossa sociedade convém e em raras ocasiões procuramos recorrer a sabedoria perene das obras dos grandes Sábios. Se isso não bastasse, ainda procuramos apenas observar as realidades passadas unicamente através de nossas convenções e valores. Doravante, vemos todos os nossos valores e conceitos educacionais balizados em sistemas filosóficos de natureza contingente, historicista, materialista e profundamente relativista. Deste modo, procuraremos dar uma ênfase maior aos problemas frutos dos excessos do marxismo em nosso sistema educacional vigente e bem como em nossa cultura de um modo gera, tentando dar uma visão panorâmica dos mesmos. Para assim contrapor a esta visão, recorremos as obras dos grandes mestres gregos e bem como dos grandes Medievalistas, juntamente com as observações salutares de algumas das mentes mais lúcidas deste século e que estes assim o são não por um mero julgamento de nossa parte, mas sim pelo fato de estes procurarem compreender a sociedade a partir de categorias universais, por compreender que há mais coisas entre o céu e a terra dos nossos vãos desejos e olhares visto que, o único horizonte que vemos ser vislumbrado em nosso sistema educacional e bem como em todos os recôncavos de nossa sociedade seria uma senda limitada pelos nossos desejos materiais em uma realidade cerceada por uma visão tolhida que aponta apenas para uma realidade encarcerada no tempo e do espaço. Acreditamos que o ser humano é uma criatura limitada mas que por sua vez, tende para o infinito e não o contrário como normalmente se apresenta. Todavia, este estudo não procurará realizar um levantamento enciclopédico do que venha a ser a Sofia perennis mas sim, através dos conceitos da cosmovisão deste modo de filosofar procuraremos projetar um olhar diferenciado frente às teorias educacionais e bem como o sistema educacional em sua prática e em sua essência. Em outras palavras este estudo monográfico não se apresenta como uma obra definitiva quanto ao assunto mas sim como um convite à Sofia perennis, parafraseando com Aristóteles, para desta maneira podermos ao mesmo tempo instigar o leitor a meditar e refletir sobre alguns pontos que tangem o fazer e o Ser pedagógico e bem como, se for de sua vontade e interesse deste, iniciar sua leitura seguida obviamente de reflexões que levem o educador a ver a sua pessoa e o seu Ser para além das questões políticas e econômicas, levando-o a ponderar sobre a sua responsabilidade perante não apenas àqueles que estão por vir mas também e principalmente perante aquelas gerações que nos antecederam e que nos legaram além de inúmeros problemas milenares, também nos deixaram sobre nossa responsabilidade, profundas expressões da grandeza da alma humana levando assim, o leitor a meditar quando as conseqüências de seus atos mais corriqueiros e bem como e principalmente, quanto as suas escolhas, visto que, a escolha rege o destino humano e bem como a educação.
1 INTRODUÇÃO
Muitas são as questões que assombram a mente humana e bem como também são inúmeros os percaustos que alimentam a nossa imaginação que muitas das vezes se manifesta de uma forma doentia, criando ficções que acabam por obscurecer a nossa capacidade de compreensão e bem como o nosso potencial de ação.
O ser humano muitas vezes por não conseguir compreender a realidade a sua volta e no intento de querer exigir deste mundo tão imperfeito quanto a nossa natureza a perfeição, acaba este por desencadear uma reação em cadeia que por sua deixa, vai a desaguar no correr dos tempos e não só a afetar as gerações presentes mas também as gerações vindouras visto que a ação humana dentro do universo da linguagem consegue projetar a sua influência para além de seu tempo, para além de sua geração.
Diante disso, vemos a necessidade de se procurar compreender a realidade dentro de categorias universais e perenes pois o relativismo absoluto como vem se apresentando no pensamento contemporâneo esta por levar a uma grande confusão entre categorias essenciais do pensamento com categorias contigentes.
Doravante, sentimos que muitos dos males que nosso sistema educacional está a sofrer é devido a forte presença de educadores de orientação marxista. Assim sendo, o ponto central deste estudo monográfico que aqui se faz presente é suscitar algumas questões entorno do pensamento pedagógico brasileiro que se faz notadamente sob influência marxista. Ao mesmo tempo, procuraremos levantar alguns questionamentos entorno da situação em que se encontra o nosso ensino superior, juntamente com a produção cultural e o debate nacional.
Procuraremos levantar estas questões não dentro do mesmo patamar em que se encontram tais teorias mas sim, a luz dos conceitos de sistemas filosóficos que visão a compreensão da realidade que vislumbram esta com um olhar perene e não meramente impressionado com os aspectos contigentes e acidentais do mundo que nos cerca.
Deste modo, fazemos questão de enfatizar que este estudo monográfico não pretende propor um sistema filosófico e muito menos uma nova teoria educacional mas sim, abrir uma discussão que ao nosso ver além de ser de certa forma inovadora mas principalmente salutar e do mesmo modo que o grande antropólogo Gilberto Freire, nós temos em vista não tanto querer uma nova visão que se coloque de forma totalitária e muito menos querer apresentar a solução final para todos os males que a educação brasileira vem enfrentando mas sim, abrir uma discussão através destas páginas que aí estão e quem sabe e esperamos que assim o seja, que estas palavras evoquem um ungüento que venha a aliviar as dores da alma e assim trazer alguma luz para a mesma para que assim possa caminhar com passos mais firmes em meio ao lodaçal que nos circunda e nos aliviando de muitas das alucinações que nos assombram para que desta maneira possamos destruir a mansão que edificamos em meio a pântano das incertezas modernizantes para que assim possamos de modo obreiro construir uma nova morada para nossa alma, em um rochedo sólido para assim podermos não mais nos abalar tão á facilmente por questões fúteis que muitas das vezes procuram nos apresentar com um certo ar de seriedade levando a nos confundir e não mais a saber qual direção devemos galgar com nosso corcel.
Também, não é o intento de nossa parte apresentar um emaranhado de páginas sobre a Sofia perennis, muito pelo contrário pois cremos que um dos maiores males que afetam os educadores brasileiros e bem como a nossa sociedade de modo geral é justamente o descaso para com a leitura dos clássicos e no caso de Platão, Aristóteles, as Escrituras Sacras das Grandes Tradições Religiosas e demais grandes Sábios da Patrística e da Escolástica e sem desprezar, obviamente os grandes mestres de nosso tempo.
Deste modo, não somos presunçosos a ponto de nos propor uma obra que traga uma interpretação definitiva dos grandes mentores que nos inspiraram a redigir este estudo mas sim, apenas nos apresentamos no intento da tarefa hercúlea de procurar compreender a nossa realidade presente não através dos olhares e das vozes que estão a nossa volta e muito menos e muito menos através dos valores que estão a fluir em nossos dias e que se propõe a julgar a todos nós presentes e bem como as gerações passadas mas sim, procuraremos realizar o inverso. Em outras palavras, procuraremos levantar questões e observações que venham não simplesmente agregar o elenco das elucubrações que estão presentes nos debates viciosos que se arrogam o status de Tribunal da Humanidade mas sim e de forma humilde (mas sem perder a graça), esperamos que as questões que aqui se apresentarem toquem o âmago do leitor para que ele passe a meditar mais sobre a sua condição humana não enquanto um ser dependente sem culpas mas sim e de maneira fundamental, como um ser responsável pelos seus atos e pelas consequências dos mesmos e veja que o recurso a subterfúgios como a deposição da responsabilidade em terceiros, em entes abstratos ao invés de nos apontar para uma solução, tal postura acaba por nos obstruir a possibilidade de um horizonte concreto e nos deixando a mercê dos ventos e das marés de todas as direções, em outras palavras, perdido, aceitando como norte qualquer ponto de luz, qualquer brisa que sobre não por não crer em nada mas sim por crer em qualquer coisa que lhe seja apresentado como razoável.
Dentro deste intento e pelo viés desta perspectiva, procuraremos apresentar nossas indagações e idéias neste estudo que se dividirá em três capítulos, todos redigidos de forma hermética e fazendo uso de uma linguagem de grande rigidez conceitual, procurando na maioria das vezes apresentar uma desconstrução analítica dos que julgamos serem basilares para melhor compreensão da problemática por nós levantada e bem como para uma visão e uma discussão mais clara quanto às questões que aqui se apresentarão. Ao mesmo tempo, procuramos mesclar tais conceitos que faz uso de palavras presentes em nosso cotidiano, sem recorrer a artifício de apelação ou termos vulgares mas sempre, em alguns momentos altos dos textos este se apresentará de uma forma um tanto que apimentada, ao velho estilo do já mencionado Gilberto Freire.
Doravante, quanto ao que tange o conteúdo do primeiro capítulo, procuraremos apresentar um panorama geral de nosso sistema educacional e bem como do debate nacional e da cultura de nosso país. Procuraremos de um modo geral, apresentar um breve diagnóstico quando a situação da alma brasileira.
Já no capítulo segundo, procuraremos meditar e levantar algumas indagações quanto a alguns aspectos históricos a fim de discutir com o leitor algumas afirmações que são apresentadas muitas vezes como se fossem dogmas inquestionáveis. Procuraremos assim, quebrar neste capítulo alguns anacronismos históricos que poluem a nossa mente e esperamos que por intermédio destes exemplos apresentados por nós, o leitor deste estudo possa atinar o seu pensar para outros anacronismos que ele vinha e venha a cometer e assim ter uma visão mais clara da sociedade e bem como de si mesmo.
E por fim, no terceiro capítulo, iremos apresentar algumas ponderações quanto à gravidade do excessivo relativismo dos valores de nossa sociedade e bem como quanto aos riscos que podem acarretar a ausência de uma noção noológica de hierarquia na constituição do sujeito humano e lembrado, dos perigos que a ausência de uma visão mitológica pode trazer na formação de uma criança e bem como o quanto que se torna vago um projeto educativo quando este não medita quanto ao que estes educadores entendem por ser humano.
Em fim, são estes aspectos que nos propomos de forma modesta transcorrer nas páginas que estão a seguir e esperamos que estas palavras possam contribuir de uma forma positiva a sua compreensão do sistema educacional e bem como do cenário educacional brasileiro mas principalmente, que este estudo seja um portal para possibilidades de respostas.
2 A CHAGA OCULTA DA MODERNIDADE
Que vem a ser a final
sofia perennis
? Ou melhor, qual a sua utilidade para educação de nosso país que por sua vez está inserido no mundo pós-moderno? Nenhuma. A
sofia perennis
antes de qualquer coisa é um conhecimento inútil, pelo simples fato de que ela está além da idéia de utilidade.
Doravante, esta é a pergunta que sempre é feita pelos educadores de nossos dias. Sempre se pergunta: pra que serve isso? Qual a relação disso com o cotidiano da criança? É prático? Ele vai utilizar isso algum dia de sua vida? Enfim, perguntas que são típicas de nosso tempo e que refletem o estado caótico de nosso sistema educacional bem como de nossos valores. As pessoas não percebem que reduzir um saber a categoria de utilidade não irá ampliar o seu significado, mas sim, reduzir a sua natureza.
Sérgio Paulo Rouanet (1987) na sua obra
As Razões do Iluminismo
nos lembra que a partir do momento em que reduzimos a existência humana à mera preocupação com nossa existência física e com a manutenção da mesma, nós estaremos a reduzir o sentido de nossa vida ao de um cão. O que nos torna humanos não é a preocupação com a manutenção de nossa existência, mas sim, a nossa capacidade de transcender a nossa existência. Somente o ser humano é religioso, somente nós filosofamos e, somente nós somos cientes de que estamos aqui e um dia iremos morrer.
Diante disso, ao invés de constantemente fazermos aquelas perguntas vagas, poderíamos ouvir os sábios conselhos de Gustavo Corção (1974) que já na década de sessenta nos advertia que ao invés de nos preocuparmos em querer de forma histérica saber tudo o que está ocorrendo a sua volta, á idéia a qual frustra muitas pessoas nos dias de hoje devido à imensa velocidade das informações, deveríamos antes de qualquer coisa nos perguntar não qual a sua utilidade, mas sim em que isso me tornará melhor?
Todavia, como esta pergunta quase que não é feita, vemos a idéia de um fim último morrendo por inanição. No meio educacional sempre se afirma que se deve voltar a educação para formar cidadãos, para preparar os jovens para o mercado de trabalho ou, prepará-los para a vida. Porém, qual é o fim último da educação?
Um fim último é um fim em si mesmo que por sua vez dá sentido a existência de algo. Se perguntarmos a um educador ele não saberá responder, pois, desconhece e não faz a menor questão de compreender a grandeza do que é o ser e o que é fazer parte deste algo. Não apenas os educadores como também a sociedade, quase que em sua totalidade, se vê mergulhada no imediatismo, embalados certas horas por um profundo pragmatismo, vez por outra por um insano praxismo.
Para melhor exemplificar o problema que nos dispomos a abordar, recorreremos à mitologia Hindu. Conta-se, que certa vez, um asceta fora ao templo do Deus Mirtra, para pedir-lhe que lhe mostrasse o seu maya (sua ilusão). O Deus se manifestou diante do asceta e disse-lhe que irá lhe mostrar o seu maya, mas que antes ele teria que ir apanhar-lhe um copo dÆágua. Seguiu então o asceta pelo caminho que Mirtra lhe havia indicado. O sol estava muito intenso. De repente, ele avista uma casa. Bate em sua porta e eis que surge uma bela moça que o convida para entrar. Senta-se e é apresentado para os pais da moça. Ele por sua vez se encanta pela filha de seus anfitriões e casa-se com ela.
Passaram-se os anos, e ele já era pai de família. Os seus sogros já havia algum tempo que tinham falecidos e ele acabou por assumir a responsabilidade pela propriedade. Mas, eis que um dia cai um temporal que inunda todas as suas terras. Ele, em um ato desesperado tenta salvar a sua esposa e seus filhos. Acabou por não conseguir e fora também arrastado pela correnteza do rio que havia transbordado.
Mais tarde, ele se vê a beira do rio e se dá conta que sua esposa e seus rebentos tinham morrido. Ele entra em desespero e se atira ao chão colocando-se a chorar. De repente, eis que ele ouve uma voz vinda do infinito dizendo: — Meu filho, cadê o copo dÆágua que eu lhe pedi há meia hora atrás?
O copo dÆágua é o fim último de nossos atos no correr de nossas vidas e acabamos por nos apegar a banalidades, a mayas, que acabam nos levando pela senda da tragédia do engano voluntário.
Deste modo, o que vemos nos dias de hoje, é uma morte lenta do homem teorético e como consequência, uma morte também lenta e gradual da alma humana, de sua cultura, das mais altas expressões de nosso espírito.
É fato que o meio nos influencia, mas uma coisa que muitas vezes nos esquecemos é que, nós também determinamos o meio e nos determinamos, pois antes de qualquer coisa somos os continuadores da obra do Grande Arquiteto Universal. Aí a relevância da pergunta sugestiva de Gustavo Corção (1974): em que isso me torna melhor, em que isso engrandece meu ser?
Assim sendo, procuraremos analisar não os obstáculos que julgamos secundários da educação como recursos financeiros e materiais. Procuraremos discutir os males que afetam a alma da educação, que são seus mestres e suas posturas, bem como as idéias que norteiam a sua atitude enquanto educador.
2.1 O caos como ordem cosmológica
O que é afinal educação? Muitos livros que enredam este assunto começam afirmando que este conceito varia de acordo com o ponto de vista, mas, é justamente aí que começamos averiguar a loucura do mundo contemporâneo. Se tal pergunta fosse formulada e lançada em uma sala repleta de educadores todos arriscarão uma resposta, mas se perguntássemos: o que quer dizer educar? A pergunta iria ficar sem resposta, tamanha a fragmentação do conhecimento humano nos dias de hoje. A maioria das pessoas fala de inúmeros assuntos com ares dignos de um aristocrata erudito, porém, sem o menor domínio conceitual.
Já que falamos nisso, o que vem a ser um conceito? A palavra conceito vem do latim
con+ceptus
, que quer dizer apanhar, tomar, catar. Neste sentido, um conceito é um símbolo pelo qual nós apanhamos, catamos a realidade. E a educação, o que é? Um conceito, que por sua vez vem do latim
ex ducere
, que quer dizer guiar para fora. Educar nada mais é do que guiar uma pessoa para que saia de seu mundo subjetivo.
Para tornarmos issoá mais claro, pensemos em um bebê de colo. Este recebe apenas informações do funcionamento de seu organismo. Toda vez que este se manifesta (chora no caso), ele está a expressar o recebimento de uma informação de seu organismo (se está com fome, sede, sujo, etc.). As únicas informações que este tem é de seu estado físico e nada mais. Gradativamente um ou mais adultos vão tentando criar laços com a criança, que seria o ensino da linguagem a fim de que esta passe a não só receber informações de seu organismo, mas do que está além de seu organismo. Neste sentido, através da transmissão/apreensão da linguagem a criança gradativamente é conduzida, guiada para fora. Ou então, para ficar mais clara esta nossa posição, faz-se necessário lembrar a história de uma francesa chamada Marie Herdam que, nasceu cega e surda e, ao contrário de Helen Keller, esta não teve acesso a linguagem e, aos vinte e quatro anos, portava-se como uma criança de colo. Um certo dia, quando a freira que cuidava dela, após ter-lhe servido o almoço, viu-a brincando com uma faca. De imediato a freira lhe toma a faca. A moça começa a se debater e a freira lhe entrega a faca de volta e toma-a novamente e, desta vez, com a parte mais estreita de sua mão, a freira cerra o pulso da moça. De imediato a moça apanha a mão da freira e faz o mesmo. Ora, o que ouve aí? A senhorita Marie Herdam tinha acabado de formular o seu primeiro signo, o signo de faca e, começou a adentrar no universo deste milagre chamado linguagem. Esta moça, com o correr do tempo e, apesar de todas as limitações, conseguiu chegar a ter um comportamento adulto. Por fim, ela fora educada, guiada para fora de sua prisão sem muros.
As suas formas podem mudar, mas, essencialmente isso é educar. Todavia, temos aí um sério problema: se educar é guiar, para onde estamos guiando nossas crianças, quais são os caminhos que as instituições educacionais com seus guias estão a enveredar estes mancebos? Em qualquer viagem a um lugar desconhecido, aquele que está a se aventurar sabe a procura de que está e, procura um guia, um nativo que conheça bem os caminhos que podem levá-lo até o tesouro desejado, correto? O problema que os pequenos Indiana Jones não sabem se sua arca perdida está neste território desconhecido que ele freqüenta cinco vezes por semana e, o seu guia, não tem a menor idéia de onde ele o esteja levando ou, muitas vezes de forma mais trágica, estes sabem muito bem para que caminhos eles os estão desviando.
Mas como assim? Para podermos ter uma visão ampla deste problema, observemos somente o estado atual do debate acadêmico. Em um debate que esteja realmente inserido dentro do mínimo de bom senso, deve-se haver ao menos, duas pessoas que divirjam quanto a determinados pontos, correto? Pois bem, mas o que nós vemos nos assim nominados debates e mesas redondas, são pessoas apresentarem suas posições sobre determinado assunto, porém, as suas posições diferem apenas na forma de expor não em seus conteúdos. Vemos inúmeros intelectuais a falarem e escreverem sobre a educação de maneiras um tanto que diferentes, mas sempre, dentro do mesmo eixo.
Parece até um devaneio, mas se nós pararmos para comparar um livro de um autor da escolástica como um Francisco Suarez, veremos este apresentar em sua obra inúmeras posições antes de apresentar a sua (sem falar que muitas vezes os escolásticos apresentavam do âmago de sua obra uma posição 180° diferente da sua).
Aliás, como já é de praxe, é comum se ouvir pessoas afirmarem que a Idade Média era a Idade das Trevas, que este período fora um retrocesso no desenvolvimento humano, porém, estes mesmos acusadores, fiéis ao evolucionismo e ao progressismo, jamais sequer folhearam as páginas de algum medievalista como também, desconhecem totalmente as obras dos Santos Doutores tanto da Patrística como da Escolástica. Sem falar que, como podem os crentes do progressismo acusar este período de nossa história como um retrocesso sendo que eles, afirmam que nós estamos em uma constante evolução? E são estas pessoas que defendem um sistema educacional a nível nacional. Será que não há algo por demais de errado nas afirmações destas pessoas que condenam determinadas posições sem ao menos tomar conhecimento destas?
Todavia, se pegarmos um livro de algum autor contemporâneo veremos do início ao fim este apenas apresentar a sua posição e as suas críticas a posição que lhe é oposta sem apresentar as teses desta segunda.
Caso deveras interessante é o da Filósofa Marilena Chaui que quando fora interpelada sobre as acusações do professor Olavo de Carvalho, sobre as limitações de sua obra disse que não se importava muito, pois nem conhecia o seu acusador e, doravante afirma que suas acusações não teriam a menor relevância, pois este não passava de um canalha. Bem, se não pecamos pelo engano, a renomada Filósofa primeiramente declarou que não conhecia o professor Olavo e em seguida afirma conhece-lo intimamente taxando-o de canalha. Tal leviandade é aceitável saindo da boca de uma pessoa sem um grande formação intelectual, mas, a partir do momento que uma pessoa como ela porta-se assim, quer dizer que há algo cheirando mal nos jardins de Andrómeda. Não seria digno de uma filósofa rebater as acusações feitas a sua obra defendendo-a apresentando seus argumentos ao invés de tecer comentários tacanhos?
Pois bem, se não estamos enganados o que há em nossa academia é um formidável, para não dizer pavoroso consenso de opiniões. Todos (a maioria avassaladora), afirmam que a solução para o nosso processo de subdesenvolvimento é via educação. Fez-se um consenso de que se o Estado provir um sistema educacional que atinja toda a população o país irá ter suas limitações ultrapassadas. Todavia, o grande problema é que esta multidão que afirma que esta postura é o ungüento para os nossos males, em nenhum momento parou para refletir e consultar a história para ver se realmente o desenvolvimento sócio-econômico deve algo a um sistema educacional totalitário.
Enfatizamos esta questão devido à gravidade que se implica, mas, o cenário intelectual brasileiro se encontra mergulhado em um profundo consenso totalitário. O pensamento brasileiro se vê imerso em um maniqueismo aparentemente irreversível onde devido a uma profunda doutrinação marxista gramisciniana se faz presente em meio a nós tendo suas posições aceitas como se fossem verdades irrefutáveis e é justamente neste ponto que vemos o quanto que a mentalidade da Academia Brasileira se encontra mergulhada no caos da incompreensão e da ignomia.
Exemplo deste fenômeno totalitário à “brasileira” é o caso do jornal O INDIVÍDUO que, em meados de 1997 fora lançado por um grupo de estudantes que acreditava que o pensar emana da consciência individual do sujeito. O lançamento do mesmo se deu em meio à semana da Consciência Negra que estava realizando os seus trabalhos no auditório da PUC-RJ. Logo após a distribuição dos exemplares, eis que se ouve os gritos enfurecidos de alguns dizendo: “NAZISTAS!”, e cercaram os rapazes devido aos artigos que se encontravam no jornal em especial, o do estudante Pedro Sete Câmara onde mesmo se colocava em uma posição contrária ao do movimento de Consciência Negra afirmava que a exaltação da raça negra nada mais seria que um racismo às avessas e que, ao invés de consciência negra, judaica, ariana celebrássemos a consciência humana. Por palavras como estas os rapazes do
O INDIVÍDUO
quase foram linchados. E se isso não bastasse, eles quase foram expulsos pelo Reitor da PUC-RJ. O processo do caso é deveras longo para ser relatado em uma breve nota de roda pé, mas, se houver interesse em se aprofundar quanto a este ocorrido, o jornal O INDIVÍDUO é hoje virtual e em seus arquivos tem todo o processo que fora movido contra eles juntamente com artigos de alguns intelectuais que os defenderam. (www.oindividuo.com).
Vejamos alguns exemplos disso: para a maioria dos intelectuais brasileiros a veracidade da existência de Deus não só pode como deve ser questionada, mas, determinadas posturas filosóficas-políticas jamais. Para estes é uma ofensa maior dizer que o marxismo é uma doutrina satânica [
[1]
]
do que afirmar que Deus é uma fraude. Um outro bom exemplo da miopia que afeta nosso país é o excessivo elogio ao relativismo absoluto. A negação das verdades imutáveis e absolutas pela afirmação de um relativismo inegável é tão absurda que os seus defensores não percebem que tal afirmação é em si contraditória. Se estes afirmam que tudo é relativo logo o relativismo se torna uma medida absoluta. Nós chegamos a tal ponto que a própria academia nega a validade de uma postura teorética frente ao mundo.
Mas, o que torna este cenário ainda mais curioso é a forma como são vistos os intelectuais e como estes se vêem. Crê-se que estes sejam figuras quase que Sacrossantas. Todavia, até que ponto os intelectuais são inocentes? Se formos parar para observar uma tribo indígena veremos que em sua hierarquia o homem com maior poder é o Pajé, seguido do cacique e dos guerreiros. O Pajé tem maior poder frente à tribo pelo simples fato de ser ele quem dará as explicações do mundo para a tribo, ele que dirá o que é justo, o que é bom e o que é mal.
Ora, o Pajé nada mais é que um sacerdote, aquele que supostamente detém a sabedoria e que é ouvido. Neste sentido, em nossa sociedade o corpo sacerdotal seria representado pelos intelectuais midiáticos (fazendo uso do conceito de Pierre Bourdieu). Muito bem, e se não estamos errados, toda explicação vem investida de uma postura moral ou política, correto? Pois bem, então nos digam até que ponto os intelectuais não são responsáveis pela inversão dos valores de nossa sociedade? Quem que faz um elogio ao banditismo em suas análises? Quem que nas décadas de sessenta e setenta faziam apologias ao uso de drogas (e que até hoje fazem) e hoje querem apontar as causas e soluções para este problema que assola os lares não só no Brasil como no mundo? Como podemos crer que um indivíduo que afirma que um modelo de sociedade que na tentativa fracassada de sua implantação matou mais de 180.000.000 de pessoas seja honesta? Como que podemos crer em uma intelectualidade que se arroga ares de cientificidade ser maciçamente marxista [
[2]
]
?
É tal situação que nos motiva a redigir estas páginas como fruto de nossos estudos, pois, devido a atual forma de organização do nosso sistema educacional, tudo o que for apregoado pela nossa elite pensante é aplicado automaticamente nas escolas tanto públicas como privadas.
Vemos nos livros que abordam a problemática educacional brasileira uma preocupação maior como a formação de um cidadão militante e com os males gerados pelo neoliberalismo do que com a formação integral do ser humano.
Para que possamos ter uma visão mais clara não procuraremos apenas observar e analisar as soluções consideradas como possíveis para os problemas do sistema educacional brasileiro, mas sim, procuraremos principalmente analisar quais os métodos utilizados para se chegar a tais conclusões, pois, o que leva um bolo a ser gostoso e saudável(no sentido de não estar intoxicado), não é o seu aspecto final, mas sim os ingredientes e a forma como este fora confeitado ou como nos fala o Filósofo Olavo de Carvalho, em seu texto Pensadores e Idéias essenciais de 1900 a 2000:
Comparar as doutrinas dos sábios é um dos meios mais antigos e eficazes para formar opiniões razoáveis.[...] uma das primeiras sutilezas desse método foi à descoberta de que os sábios não divergem somente nas soluções, mas também na maneira, no nível e no ângulo com que enfocam os problemas. Muitas vezes, parecem estar falando da mesma coisa e estão falando de outra, ou vice versa. Portanto, antes de saber quem tem razão, é preciso organizar o debate distinguindo e agrupando as diversas perspectivas, de modo a captar a zona de intercessão onde coincidem estar enfocado o mesmo objeto. (CARVALHO, 1999, p. 03).
Deste modo, cremos poder melhor compreender esta receita de bolo encruado que é o sistema educacional brasileiro que, anda tão sonolento e perdido que não se desgovernou para fora da pista porque os tripulantes além de estarem em um estado de latência estão em meio a um deserto crentes de que estão na BR 277.
Basta lembrarmos o velho conto que é sempre contado tanto nos Colégios como nas Universidades do rapaz que foi congelado e após 200 anos foi descongelado e não se encaixava mais no mundo. Foi para prefeitura, mas lá estava tudo mudado. Foi para a Igreja, mas lá também estava mudado. Até que ele resolveu ir para um Colégio e lá ele se sentiu bem porque nada havia mudado. Tal piada nada mais é que o reflexo da parca compreensão que o professorado tem do que seja educação.
2.2 A morte do indivíduo em nome da sandice coletiva
Em segmento a nossa discussão, percebemos uma super valorização do coletivo em detrimento do indivíduo, um forte elogio de uma suposta consciência coletiva e a um presunçoso intelectual orgânico e assim, a passos largos vislumbramos o enfraquecimento gradual da consciência individual do sujeito pensante.
Mas, o que significa ter consciência de algo, o que afinal significa ser um sujeito consciente? Fala-se tanto em consciência ecológica, de classe, mas o que vem a ser um sujeito consciente e o que o diferencia de um sujeito alienado? Quanto a este ponto, faz-se salutar citar um acontecimento relatado por um professor do Colégio Estadual Engenheiro Michel Reydams onde, pela manhã do dia onze de julho de dois mil e um, os alunos haviam distribuído panfletos sobre reciclagem e, ao final, os professores deram uma palavra sobre a necessidade da preservação ambiental e, quando a diretora dirigiu algumas palavras aos presentes, esta disse o seguinte:
“...que é muito importante nos termos a nossa consciência ecológica, porque nós termos consciência ecológica é nós termos consciência ecológica...”
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Frente a este acontecimento que não é atípico, de nos perguntar de forma preocupada, como que uma pessoa que conceitue o fenômeno da consciência desta maneira seja incumbida de educar crianças? Parece um exemplo simplório, mas, quem é simplista nas realidades espirituais não é digno de se ocupar delas, como nos fala Eric Voegelin e, o que vemos muitas vezes são pessoas totalmente vazias a tratar de uma questão tão delicada que é a formação integral do ser humano (HENRIQUES, 1994, p. 11).
Partindo ainda deste mesmo exemplo, o que houve não fora um processo de educação, mas, um simples cumprimento de requisitos formais na formação curricular dos alunos. Pega-se algo que a mídia esteja abordando de forma festiva e passa-se a trabalhar com o aluno. O que os ditos educadores muitas vezes não percebem é que fazendo isso, além de estarem repetindo o discurso midiático, eles não estão a levar as almas destes pequenos a crescer em nada. Ou estão?
Uma fala comum dos educadores é o de trazer o assunto para o presente, para a realidade. Mas que absurdo é este que é tão repetido? Quer dizer que para que um náufrago saia da ilha a qual ele está aprisionado ele deve trazer a civilização, ou melhor, reduzir a civilização para que caiba em sua ilha? Mas o que é realidade para esta gente? A realidade para estes é tão clara quanto à idéia de consciência que estes tem. Para melhor elucidar este ponto levantado por nós, um bom exemplo são as palavras do presidente da COPEL, o Sr. Ingo Hubert que disse ao jornal FATOS DO IGUAÇU em uma entrevista que, a cada cinco paranaenses, quatro são contra a privatização da COPEL e os quatro, não sabem porque ela não deve ser privatizada. Para muitos isso é ter consciência: apoiar uma causa que não conhece ao certo, mas que todos dizem ser justa.
Bem, estes exemplos levantados acima, nada mais que exemplificam o quanto está fragilizada a consciência das pessoas nos dias de hoje frente aos apelos do atuar conscientemente estando amparados em uma consciência coletiva. Qualquer apelo externo que nos comova e que aparente ser justo nos leva a sua adesão. Ouvimos as palavras de determinadas pessoas como se estas tivessem ares de santidade sem conhecer a sua vida suficientemente para lhe atribuir tamanha confiança.
A educação como a sociedade em si, está entregue nas mãos de cegos, não que se negam a ver, mas que acreditam ver. Frente a isso, vemos como raiz deste problema todo, justamente o enfraquecimento da consciência individual do sujeito pensante em detrimento de uma suposta consciência coletiva. E se perguntarmos qual a diferença entre ambas para um sujeito que acredite que estas questões não têm a menor relevância ele não saberá nos responder.
Não procuramos nesta passagem transpor ares de petulância e orgulho. Mas como nos lembra o saudoso Eça de Queiroz que, para ensinar deve-se cumprir uma simples formalidade: saber. Todavia em nosso país ocorre um fenômeno contrário, na maioria das vezes quem sabe deve se calar frente a ignomia do que não sabe, para não traumatizá-lo, assim como nos lembra o filósofo Olavo de Carvalho (revista Bravo! Abril/2001 – ano IV – n.° 43):
... em nome do dever de ensinar, requer da gente uma dose de humildade que as pessoas em geral estão longe de imaginar. O que entendem por humildade, é outra coisa. Humildade, neste país, consiste em arrotar opiniões sobre o que se desconhece e exigir que o sujeito que conhece as aceite como se valessem tanto quanto as dele. Humildade é complacência deleitosa com a própria ignorância, acompanhada de desprezo pelo saber. Exigir respeito pelo conhecimento, querer que o sujeito aprenda antes de opinar, Ah!, isto sim é orgulho, é soberba, é pecado mortal.
Deste modo, procuremos demonstrar, fugindo ao falatório que contamina a opinião pública brasileira.
Pois bem, mas de que forma a idéia de consciência coletiva enfraquece a autoconsciência individual do sujeito? Bem em que se baseia a idéia de uma consciência coletiva? Ela sempre parte de uma unidade, de uma comunidade imaginada (classe, raça, nação...). A partir deste grupo, esta pessoa irá passar a se justificar no mundo e assim, toda e qualquer atitude sua estará fundada, amparada pela existência deste grupo, que com seus valores justificará toda e qualquer atitude sua, ou seja, ele não é mais um agente solitário, responsável pelas suas faltas, pelos seus atos, ele é membro, um agente da consciência coletiva.
Todavia, a própria idéia de consciência coletiva é uma aberração pelo simples fato de ela ser alienada. Ser alienado é desconhecer algo e mesmo assim tirar um juízo deste algo e, de mais a mais, a idéia de consciência coletiva apenas perverte a autoconsciência do sujeito e, entenda-se por autoconsciência:
A capacidade de autodomínio do no nível do ego. Você tem consciência de algo quanto tem em seu poder não somente (a) uma informação (b) a informação de que tem essa informação e (c) a informação de que essa informação é sua, isto é, de que ela faz parte integrante do sistema do ego. A fórmula para (a) é Sei. Para (b) é: Sei que sei. A fórmula para (c), isto é, a fórmula da autoconsciência, é Sei que sei. (CARVALHO, 2000, p. 01)
Todavia, todo ato norteado por uma suposta consciência coletiva gerava apenas atos inconscientes, alienados desde a raiz pelo simples fato de que uma pessoa que está imbuída de realizar um determinado ato em função da realização de uma determinada idéia sem pestanejar, é em si um ato inconsciente. O indivíduo não reflete sobre sua atitude em si, mas sim, a justifica em relação à coletividade, em outras palavras inverte fins e meios. A consciência coletiva torna-se uma justificativa para os seus atos e não um fórum para julgar as suas atitudes pessoais.
Um bom exemplo disto foram os movimentos totalitários do século XX como o Comunismo, o Fascismo e o Nazismo. Nos três casos o que nós tinha-mos? Uma população insatisfeita com a situação atual de suas vidas. Neste cenário eis que surge alguns que dizem ter uma solução “miraculosa” para todos os males que assolavam suas vidas e que com a ajuda de todos poderiam resolver, acabar com as chagas que assolavam as suas terras, porém, para tanto, eles teriam que eliminar os responsáveis que geraram estes males e, todo aquele que não estivesse do lado deles, estaria no do inimigo, em outras palavras, maniqueismo puro.
Dali para diante nós sabemos o que esta consciência coletiva gerou. Mas o mais incrível disto tudo, é que estes crápulas (Hitler, Lenin, Mussoline, etc.), costumavam massagear os egos dos jovens principalmente, pois todos nós fomos jovens e sabemos o quanto que nós nesta tenra fase de nossas vidas somos arrogantes e presunçosos, nos achamos os seres mais justos do mundo e queremos fazer a justiça ou que se entenda por justiça nesta fase da vida, não é assim? Aí, aparece um hipócrita e lhes enche mais ainda as suas almas destes sentimentos e lhes dá uma arma nas mãos para que possam mudar o mundo. Qual é o resultado disso tudo? 200.000.000 de vidas humanas ceifadas.
Isso é o resultado da morte da autoconsciência do indivíduo. A partir do momento em que se faz uma apologia a um suposta consciência coletiva, automaticamente a responsabilidade pelos seus atos individuais juntamente com a dignidade humana são projetadas para este ente abstrato tornando o indivíduo humano uma criatura totalmente fragilizada.
Com a negação da autoconsciência nega-se também a idéia de unidade do conhecimento. Começam a surgir coisas como ciência burguesa e ciência proletária; educação burguesa e educação proletária, católico progressista e católico retrógrada... Enfim, não se procura mais compreender um fenômeno em sua inteireza, mas simplesmente a partir de uma “óptica”. Neste sentido, se a filosofia era entendida pela busca da unidade do saber na unidade da autoconsciência e vice-versa, dá para se imaginar a gravidade da situação não só da educação brasileira, mas de toda a sociedade.
Não mais há uma preocupação com a unidade analógica de macrocosmo e microcosmo. E é esta unidade, que na mente humana, é o padrão mesmo do nexo entre autoconsciência e cosmovisão, é que cada um só pode sentir que conhece a sociedade onde está se, no mesmo instante, se conhece a si mesmo. Todavia, as pessoas (estamos a nos referir ao professorado) não mais se preocupam com esta questão basilar que é a unidade do sujeito e do conhecimento, o homem por inteiro que nos falava Machado de Assis.
Já a muito, Siddhartha Gautama afirmava que o que somos é a consequência do que pensamos e que, o Eu é o mestre do eu. Que outro mestre poderia existir? Mas o que isso tem a ver com filosofia da educação? Tudo. É bom frisar que para filosofia hindu há uma divisão entre um Eu superior denominado
Atman
, que é imortal, espiritual e eterno. E há um eu inferior que eles chamam de
Aham
que é mortal, material e transitório. Quando damos ênfase ao
Atman,
nós estamos fortalecendo a nossa autoconsciência e, quando privilegiamos o
Aham
estamos reduzindo a nossa existência a um mero reino de satisfação e insatisfações materiais.
Agora, se voltarmos nossos olhos para educação brasileira veremos que ao invés de elevar os horizontes dos educandos ela procura sim, apresentar-lhes um anti-horizonte.
O homem moderno se vê como medida de todas as coisas apesar de nunca se ter colocado a prova nas mãos de outrem. Bem, se nós somos incapazes de refletir sobre os nossos atos e de nos responsabilizarmos pelas nossas faltas, como podemos pensar em uma possível resolução de problemas em uma escala maior, em uma escala nacional, esta articulação entre microcosmo (indivíduo) e macrocosmo (o mundo a sua volta) que não mais se vê? Não mais somos responsáveis pelos males que afligem a sociedade, mas a sociedade que é responsável pelos males que me afligem. Mas afinal de contas uma sociedade é formada pelo que? Não é por pessoas como nós? Então digam-nos, que raio de consciência é esta que nega a responsabilidade pelas conseqüências de seus atos?
O sujeito que está imbuído de uma consciência coletiva irá com a maior facilidade do mundo, reparar os erros dos outros. Com facilidade, este sujeito condena outrem pelos seus atos como sendo um hipócrita, medíocre, crápula, fútil. Após ter chegado a esta conclusão o sujeito coletivamente consciente livra-se do outro e, este livrar-se pode ser desde uma mera sanção até uma medida extrema: a sua morte. Para este, o outro não tem direito à defesa, pois é safado por natureza.
Agora, se formos aplicar com a mesma dureza as categorias que utilizamos para julgar a nós mesmos teremos um grande problema. Se o sujeito concluir que ele próprio é um safado, um hipócrita ordinário, ele não poderá livrar-se de si mesmo, pois isso significaria o suicídio; logo, ele teria que fazer alguma coisa para se corrigir, se autopersuadir a mudar, a melhorar a si mesmo. Mas se este indivíduo não tomar nenhuma atitude em relação a si mesmo ele terá em suas mãos um problema que irá tornar seus futuros atos mais cautelosos e prudentes.
Um bom exemplo do exercício da autoconsciência é a atitude de um adolescente frente às experiências com narcóticos. A autoconsciência lhe diz: “não faça isso. É ilegal, irei magoar as pessoas que amo, irei prejudicar a minha saúde...”. Já a consciência coletiva diz: “fume conosco, nós iremos te amar do jeito que você é. Não reprima os seus desejos. Não caia nesta caretice de que não é bom fumar maconha...”. Ou seja, se a sua autoconsciência for mais frágil que a persuasão do grupo, mesmo ele sabendo que o que ele irá fazer é um erro, ele fará porque o grupo lhe dará a segurança que ele não tem consigo mesmo e o fumar a maconha lhe será algo banal. A aceitação pelo grupo lhe é mais importante do que a verdade sobre os narcóticos. Para o indivíduo agrilhoado a este tipo de consciência lhe é mais importante um sentimento de segurança firmado em um engodo do que a verdade nua e crua.
Eis aí o grande mal da modernidade: esta ânsia insana de querer viver sem culpas. Todos são responsáveis pela desgraça de um, mas este um não é responsável pela desgraça que assola a todos. Então ninguém é responsável por nada porque, dar como resposta o sistema, a sociedade, a nova ordem, etc... Acaba sempre por cair no mesmo ponto porque todas estas entidades só têm sentido de existir porque são compostas por pessoas e nós compomos as três. Nós somos membros da sociedade, parte do sistema e vivemos a nova ordem mundial.
Tudo bem é normal um adolescente ou uma pessoa inculta desejar por viver de forma libertina, sem culpas. O problema é quando os intelectuais começam a afirmar posições como estas como sendo basilares para que a sociedade prospere. É o caso da Filósofa Marilena Chaui que em uma entrevista para Folha de São Paulo de 13 de março de 1999 disse: “É isso que eu procurei a vida inteira: alguém que me dissesse que é possível viver sem culpas.” Mas se é justamente este sentir culpado que nos leva a reparar as nossas faltas, o que podemos esperar de uma pessoa que prega que a sociedade só se tornará melhor a partir do momento em que as pessoas não mais sentirem culpa? O sentir-se culpado leva-nos a sentirmos responsáveis pela consequência de nossos atos logo, nos torna maduros.
A inocência absoluta é um mito, uma qualidade divina que não pode ser concretizada por nós meros mortais. Porém todos os intelectuais progressistas crêem piamente que existam tais seres e que, eles podem vir a ser um deles. Isso é a modernidade: ao invés de almejarmos a pela maturidade procuramos com todas as nossas forças sermos ao máximo crianças mimadas que pensam que o mundo deve alguma satisfação a nós e que nós, por nossa vez, nada devemos senão, culpar a sociedade pelas nossas atitudes inconseqüentes.
2.3 O que é uma Universidade?
Não há na face da terra algo que tenha mudado tanto a sua forma e continuado com a mesma identidade do que as UNIVERSIDADES. Com o passar dos séculos, estas instituições sofreram verdadeiras metamorfoses que a transformaram da água para vinho e do vinho para a cachaça ou vodka. Atribuem-se inúmeras funções e prerrogativas para as Universidades sem ao menos se perguntar o que era uma Universidade quando estas surgiram. Podemos dizer que a Universidade dos dias de hoje é como um homem que era monge e que, em um determinado momento de sua vida resolveu abandonar a vida monástica para casar-se e ter filhos e que, mais tarde, resolveu soltar a franga tornando-se um travesti. Todavia, este homem mesmo após ter se casado, tido filhos e após isso, ter abandonado o matrimônio e se tornado um travesti, continua a declarar que é um monge Dominicano.
O mesmo ocorre com as Universidades, onde podemos ver quase que de forma clara, três fases muito semelhantes à metáfora descrita acima. No nosso entender, a função basilar de uma Universidade seria e de preparar e formar uma elite intelectual, todavia e, sem a menor compreensão da formação histórica desta instituição, o debate fica dividido em dois pólos midiáticos e imediatistas. De um lado estão os que crêem, os que defendem as Universidades privadas e a preparação de profissionais para o mercado de trabalho; do outro, estão aqueles que defendem que todas as Universidades devem ser públicas e devem formar militantes políticos, intelectuais orgânicos gramscinianos.
Afirmamos que a discussão está fora de foco, pois ela só se vê polarizada quanto as suas dimensões pública e privada que por sua vez, é uma discussão vaga, pois ambas tem estrutura o suficiente para realizar a atividade basilar de uma Universidade que é a formação de um elite pensante. O que não se discute é justamente a profundidade da problemática que seria nos perguntar se o estado em que estão as Universidades são o de Universidades. Para que possamos compreender a situação do sistema educacional de nosso país, procuraremos tentar apontar alguns tópicos que julgamos serem indispensáveis para compreender o que são, o que eram e como estão as Universidades.
Para Antônio Gramsci, o intelectual deve ser a priori um militante do partido e, deve priorisar as demandas deste. O intelectual deve procurar construir estratégias para tomar o poder dos atuais donos do poder e nada mais. Nesta perspectiva, a cultura fica reduzida a estratagemas políticos e cacoetes de campanha. Reduz-se a dimensão ontológica da cultura a vil dimensão maniqueista da política. Em outras, na desculpa de se moralizar a política, os intelectuais orgânicos politizam a moral (as campanhas de ética), como também a religião (a teologia da libertação), as relações entre marido e mulher e as relações entre negros e brancos (os movimentos do politicamente correto). Deste modo, estes elementos não apenas fazem uma inversão de valores como também uma profunda perversão destes. Poderíamos citar como exemplo desta postura pervertida, os
NEXO MURIAS
da UNE(União Nacional dos Estudantes), onde todo o corpo estudantil envolvido nesta agremiação grita em um só tom de voz, que são contra o neoliberalismo, que querem FORA FHC. Todavia, nunca leram um von Mises ou algum clássico do liberalismo como Adam Smith, ou Alex de Tocqueville como jamais pararam para ponderar e analisar a atual conjuntura política brasileira frente o cenário mundial. A única coisa que estes pseudo-acadêmicos fazem é gritar pelas ruas palavras de ordem feitas pelos membros do PC do B (como “fora FHC e o FMI, ou “Fernando um, Fernando dois, qual é a ... que vem depois?!”) entoando ao alto bandeiras e faixas, como também, cantarolando canções como esta: “Eu só quero é ser feliz, pegar Fernando Henrique e tirar sangue do nariz/ E poder me orgulhar, pegar Paulo Renato e dar porrada até matar!”. Sem falar que nos congressos da UNE, especialmente nas eleições, o que se vê não é grupo de estudantes a disputar a direção do órgão estudantil, mas sim e apenas, militantes de partidos políticos de esquerda de olho na massa de manobra e nos cofres da mesma (exemplo é o financiamento da campanha do Gomide com o dinheiro das carteirinhas e, os famosos estudantes de profissão que nada mais são que militantes que são pagos para estudar em uma Universidade para poder controlar os CAÆs – Centros Acadêmicos – e os DCEÆs) . Sem saber ao certo em que ele está a se envolver, o cordeiro revoltado sai pelas ruas a gritar pelo mundo palavras de ordem que nem ele compreende, mas, já que é só gente “esclarecida” que as grita, eles seguem o andar da boiada. E isso é a formação de nossa "nata intelectual”.
Vemos um exacerbado culto à cultura popular por parte dos intelectuais ao mesmo tempo que os mesmos olham com um certo desdém para a cultura superior. Tal postura acaba por afetar todo o restante do corpo social, pois estes sempre procuravam apontar para o que havia de melhor e hoje, faz-se um culto do que há de mais medíocre e insolente.
Um bom exemplo disso, é a apologia que os cientistas sociais fazem a movimentos como o RIP ROP, a bandas que fazem constantemente apologias ao uso de drogas, ao narcotráfico e a violência. Que tipo de horizonte uma cultura reduzida a este patamar pode propiciar aos nossos jovens e adolescentes? Mas os cientistas sociais as acham o máximo, pois, como dizem eles, é uma forma de resistência a opressão da sociedade. Foi-se o tempo em que os homens Santos eram símbolo de conduta.
Pois bem, mas se a atual situação dos intelectuais universitários está muito distante do que eram os intelectuais no florescer das Universidades. Mais como estas eram?
Antes de qualquer coisa, as Universidades não nascerem como instituições oficiais, mas sim, como clubes de aficionados que eram movidos unicamente pelo anseio de conhecimento. Era nada mais que grupos de estudos onde não se mediam esforços para se obter o que havia sido criado de melhor pela alma humana. Todavia, o que se vê nos dias de hoje, é uma massa de intelectuais que se movem unicamente pelo anseio ou de realizar a manutenção da eficácia do aparato tecnológico ou a divisão do poder político. Tudo que se diz em público tem apenas duas finalidades: a manutenção da ordem político-econômica ou a sua alteração.
Doravante, o sentimento que movia os intelectuais do final da Idade Média ao estudo era uma profunda devoção religiosa que absorvia por inteiro as suas almas em um movimento de ascensão. São homens animados por estes sentimentos que irão fundar as Universidades.
Os estudantes vinham em grandes grupos para estes centros de estudos e estes, eram designados como
discere turba volens
(do latim: massa dos que querem aprender). Para estas pessoas a atividade mais alta para a alma humana era vida contemplativa, teorética, se sobrepondo em grau de importância a atividades práticas e políticas. Tal era o valor que se dava aos estudantes que estes eram isentos das demais atividades para que pudessem se dedicar de corpo e alma nos estudos, independente dos resultados que estes poderiam vir a proporcionar de sua atividade discente. Não obstante, esta “inutilidade”, era sustentada não pela igreja ou pela nobreza, mas sim pelos homens ricos das cidades e pelos feirantes dos mercados os quais, não exigiam destes nenhum retorno prático ou financeiro, pois sabiam da importância de se procurar elevar a alma humana (a cultura, no caso). O mecenato era uma prática corriqueira e sem se preocupar com a origem do estudante (pois as Universidades não eram ligadas a nenhum grupo político ou nação, eles eram um grupo universal. Aquele que se torna um universitário deixava de lado a sua identidade regional e se tornava um universitário orgulhoso de sê-lo), os mecenas os amparavam.
Outro ponto de basilar importância a ser levantado é de que, a noção de Universidade como transmissora do conhecimento não existia neste momento de seu nascimento como também era ausente tal idéia no correr dos próximos três séculos a contar, da criação da Universidade de Bolonha, a pioneira em 1143. O que havia era apenas a
Universitas magistrorum est scholiarum
(do latim: o conjunto dos professores e estudantes). O que movia as universidades não era a idéia de ser uma transmissora de conhecimento, mas sim, a idéia de ser um centro de procura do conhecimento. Esta pretensão totalitária [
[3]
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só surgirá com o aparecimento dos Estados nacionais e das monarquias absolutistas, quando serão fundadas as primeiras Universidades mantidas pelo Estado.
Doravante, ao contrário de nossos dias, a Universidade não era a única detentora da palavra, não era a entidade oficial incumbida da manutenção do estado da alma humana, não era ela a toda poderosa senhora do saber como é hoje. Além dos Universitários havia as ordens religiosas isoladas, as ordens místicas, os monastérios, que também exerciam uma forte influencia junto à opinião pública, tendo os mesmos méritos que eram cabidos aos universitários. Como também havia os poetas e trovadores errantes que iam de cidade em cidade levando além de sentimentos novos em suas andanças, também novas idéias. Havia também sábios independentes, que geralmente eram alquimistas, que se ocupavam de investigações que raramente um universitário se arriscaria empreitar. Não podemos nos esquecer também das corporações de ofícios, detentoras de conhecimentos espirituais, científicos e técnicos que escapavam aos dedos das mãos da Universidade.
Neste cenário, a universidade era apenas mais uma fonte de conhecimento, mais um grupo de pessoas responsável pelo ensino que eram apenas maior em número de membros integrantes, mas não a mais poderosa e importante. E era esta posição que lhe fazia saltar a sua grandeza e das demais entidades e pessoas, não eram o nome da instituição que garantiria a um homem o título de sábio, mas sim o que ele era. A Universidade não era e nem tinha a pretensão de ser naqueles tempos a senhora do saber, mas sim, apenas procurar o saber.
Doravante, este tipo de relação que havia entre as Universidades e demais entidades passa a se esfacelar com o advento do Estado Absolutista e, irá apenas ressurgir no século XIX com o advento das democracias, todavia, não mais como uma prática real e cotidiana, agora somente como um ideal, e nada mais. Porém, como que se desencadeará todo este processo de decadência das Universidades?
Com o passar dos anos, a comunidade universitária foi crescendo muito em número de integrantes o que despertou o interesse dos senhores do poder entre os séculos XIV e XVII, devido ao potencial apoio político que estes homens representavam. Devido a este fenômeno, novas concepções de ensino foram sendo implantadas nas universidades, de fora para dentro delas. Destes acontecimentos em diante a
"discere turba volens"
passou a ser um foco de influência política onde, de um lado estará o Sacro Império e do outro, os Estados Absolutistas nascentes. Este fenômeno foi lentamente sufocando a criatividade e a iniciativa espontânea que imperava no seio deste centro de saber.
As novas Universidades criadas pelas monarquias Absolutistas irão direcionar as suas energias para a construção de novos valores e crenças, ligados à idéia de nação. No que tange este ponto, a Universidade se descaracteriza por completo do que ela era essencialmente quando surgiu, que era o internacionalismo, o universalismo. A verdade não tem fronteiras, nem cor e muito menos bandeira nacional ou política, porém, a partir daí, para que uma verdade possa ser dita terá ela de se maquiar, de se fantasiar de mascote de uma comunidade imaginária que são as nações e mais tarde terá ela até de ser silenciada para o bom andamento da marcha para o poder de uma facção política. A verdade que era o fim último de qualquer estudo passa a ser vista como um questão secundária, mas como uma vaidade de nossos ancestrais, chegando ao cinismo de hoje vermos textos acadêmicos reconhecidos; como a obra de Paulo Freire onde o mesmo evoca a palavra verdade para perolar suas idéia políticas coloca-as entre aspas. A impressão que se tem é que não ele acredita no que ele está a afirmar e defender. Todavia, a problemática aí levantada é mais ampla, pois, se você afirma que o que você está dizendo é relativamente verdadeiro, você não está solapando apenas a suas idéias, mas, a de todos, inclusive a própria concepção de verdade.
Deste modo, as universidades irão perder a sua capacidade de ascensão intelectual e, em compensação, irão ganhar em poder de influência política. Trocou-se a criatividade, o poder intelectual pelo guiamento ideológico de toda a sociedade.
Tal como nos ensinam as antigas escrituras hindus, a perda ascensional (sattwa) é seguida de uma expansão æhorizontalÆ(rajas) que a compensa de uma maneira mais ou menos ilusória; será preciso aguardar o século XX para que o movimento se complete, numa grande e abissal queda (tamas) que transformará as Universidades em quartéis-generais de movimentos totalitários (fascismo, nazismo, comunismo, fundamentalismo). (CARVALHO, 2001, p. 05)
Doravante, o que é mais incrível nisto tudo, é como que algo que sofreu tantas metamorfoses, transformando-se em coisas distintas e muitas das vezes antagônicas, continue a se afirmar sendo uma coisa só. Como enquadrar em uma mesma denominação a
discere turba volens
medieval, sedenta de contemplação teorética, os elegantes institutos de formação da classe governamental das Coroas Absolutistas, os núcleos de treinamento de mão-de-obra e de distribuição de slogans ideológicos como se vê nos dias de hoje? Como falar que vinho, conhaque, uísque e cachaça têm o mesmo aroma e sabor do primeiro?
A Universidade com a passar dos séculos foi mudando toda a sua composição substancial e continuou a se identificar com o que ela era no princípio, como no exemplo acima das bebidas. Passa ao longe das mentes acadêmicas fazer uma auto crítica refletindo sobre a sua formação histórica. Ao invés disso, ela procura se imbuir da mundanidade do tempo presente e, procura pensar a sua existência a partir dos problemas externos a ela e, ao invés de procurarem meios de reafirmar o seu estatuto originário procuram sim, e cada vez com mais afinco, servir as potestades das trevas que tanto São Paulo nos advertia. Cada vez mais as Universidades procuram, ou servirem de forma prática para formar profissionais que irão atuar na indústria e no comércio ou para servirem de maneira útil como divulgadores e porta vozes dos slogans políticos de grupos que estão ávidos de chegar ao poder. As Universidades se autobajulam e crêem que isto seja autocrítica.
Entidades como o exército, a polícia, as Igrejas, a família, os parlamentos, o empresariado, os sindicatos, as organizações e sociedades secretas, os partidos políticos (e o recordista deles, o partido comunista), todas estas entidades tiveram que um dia enfrentar a hipótese de um fracasso essencial e a eventualidade de uma auto-extinção. Todas elas tiveram que responder as questões que os sucessivos momentos históricos lhe impunham afim de se auto-avaliar e se refazer das cinzas da pós-autocrítica a fim de recompor a suas forças, aprendendo com a experiência o significado da modéstia e muitas vezes do silêncio. A única entidade que nunca duvidou de si mesma, trocando na maioria das vezes a sua missão sacrossanta de seu estatuto de origem por algum papel de ocasião, despindo-se deste quando não mais conviesse aos seus interesses como a um ator vulgar inundado de vaidade e soberba. Esta sim, nada mais é que um recôncavo de oportunistas, especialista em sobrevivência e marketing da própria alma como também um monumento de auto-engano e que se ufana de tal feito.
Na gênese de seu berço esplêndido toda e qualquer idéia para ser aceita deveria passar por um rigoroso estudo e debate filosófico. Um bom exemplo desta postura foi à entrada das idéias Aristotélicas em seu bojo que, primeiramente foram estudadas e profundamente discutidas em debates públicos (para todo público universitário) para só depois, ser aceita e consolidada com a célebre obra de Santos doutores como Santo Tomas de Aquino e Duns Scot. Tal postura nos dias de hoje pareceria cena de “ficção científica” no seio das universidades contemporâneas, pois hoje, ao contrário do esplendor os áureos dias de sua gênese, quando surge algum intelectual que traga a tona e erga alguma acusação contra as potestades da “sapiência”, ao contrário de seus antecessores, eles fazem questão de acobertar o brilho das idéias deste para assim garantir a manutenção de sua inteligência postiça.
Um exemplo de tal postura é o da Filósofa Marilena Chaui que quando estava a ministrar uma palestra em Goiânia, no momento reservado aos questionamentos, fora interpelada por um jornalista que lhe perguntou o que ela teria a dizer das ponderações feitas a ela ( em decorrência do lançamento de seu último trabalho –
A nervura do Real
) pelo filósofo Olavo de Carvalho. Esta ao invés de fazer uma decomposição analítica do discurso de seu crítico ou, dizer que não conhecia tais ponderações ( atitude a qual teria sido mais digno de sua parte), preferiu dirigir a este modesto jornalista a afirmação de que não conhecia a pessoa do filósofo Olavo e que, não fazia a menor questão de conhece-lo, pois para ela, ele não passava de um canalha. Depois disso, seguiu-se uma seqüência de insultos que o mesmo preferiu não apontar no seu ensaio. Pode-se aceitar que uma filósofa de renome tome tal postura? Como pode uma pessoa afirmar ao mesmo tempo em que desconhece alguém e que a conhece intimamente?
Pois este é o cenário da Universidade brasileira. Um ambiente mais preocupado com a sua autopromoção do que com o conhecimento da verdade. Para estes, a sua função se reduz às dimensões funcionais em torno de questões políticas (Utilizamos aqui o conceito de política dado por Carl Schmitt, onde o mesmo define a essência da política. Para este o fenômeno político pode ser resumido na confrontação de um grupo A com um grupo B para a obtenção do poder. O debate cultural como as preocupações por parte dos intelectuais apenas com os fenômenos que permeiem estas dimensões, não apenas é uma piada como uma grande perversão) e/ou ligadas ao desenvolvimento econômico.
Os universitários brasileiros não só acreditam ser os poderosos senhores do conhecimento como também os senhores dos caminhos e descaminhos da humanidade, do destino das pessoas. Acusam a todos de serem alienados, todavia, se vêem imersos na sua própria loucura e em sua vaidade de se auto-enganarem com uma retórica rasa sustentada por argumentos vazios e falsos. Esquecem-se eles que o destino da humanidade é determinado pela decisão tomada pelos milhões de seres humanos que habitam este planeta. Frente a isso, não nos propomos a dar uma resposta que venha trazer uma resolução a todos os percaustos pedagógicos, mas sim, abrir uma discussão. Esperamos que este estudo possa servir como um analgésico serve para um neurastênico. Esperamos que aquele que refletir e ponderar as palavras que estão nestas páginas possam tomar uma atitude diferente frente aos problemas que se apresentam a nós no nosso dia a dia, ou que não lhe sirva para nada e que ela possa continuar a seguir o destino que ela mesma escolheu.
2.4 O consenso como debate
O debate nacional é uma piada. De mau gosto, diga-se de passagem. O Brasil vive nos dias de hoje mergulhado em um profundo consenso e, chamam esta patética situação de “debate nacional”. Por exemplo: todos no nosso país estão convictos que é só através de um bom sistema educacional que nós conseguiremos alcançar um salutar desenvolvimento econômico e só assim, conseguiremos acabar com as mazelas sociais que permeiam o universo brasileiro. Tanto a mídia como os militantes de esquerda, como os intelectuais, como o corpo político tanto de esquerda como de direita (esta direita postiça que temos no Brasil, é claro), estão a debater quais as melhores formas possíveis para se viabilizar via Estado o acesso à educação pública para todos e o que deve ser priorizado nesta proposta, porém, o que ninguém discute é se realmente é assim, com uma educação pública que abranja a todos que se obterá um grande desenvolvimento econômico. Não se perguntaram se esta é a real finalidade da educação.
Todos estão imbuídos em torno de um só tema, falando as mesmas coisas com diferentes trocadilhos de palavras. Todos recorrem a exemplos históricos para comprovar as suas teses quanto à educação dizendo que “o nosso país não vai para frente porque o acesso ao conhecimento sempre fora negado aos menos favorecidos, os poderosos sempre monopolizaram o acesso ao conhecimento.” Bem, já nesta falação percebemos o que estes indivíduos entendem por argumentação.
É fato que durante toda a Idade Média os Nobres Feudais, a casta guerreira, tinha uma profunda aversão ao estudo das letras o que deixava o alto Clero a ponto de perder as estribeiras, pois era vontade destes que se tivesse um dia um Rei Sábio para governar os povos. Um bom exemplo deste repúdio ao conhecimento é o Grande Carlos Magno que, mesmo após ter se convertido ao Cristianismo e ser reconhecido como o braço armado da Igreja, ele se recusava a aprender a ler(que fora uma das condições impostas pelo Papado para abençoar a sua coroa) e, fora a ter acesso as primeiras letras após os trinta anos de idade.
Cabe lembrar que o clero não era basicamente formado por nobres, mas sim, por todo e qualquer cristão que desejasse seguir uma vida religiosa que, na sua maioria, eram pessoas de origem humilde. Também é salutar lembrar que a Igreja nessa época tinha uma profunda preocupação para com o ensino das letras, do ler e escrever, pois era presente uma escola em toda paróquia. Mesmo sem haver imprensa, meios de transporte rápidos e seguros, os sacerdotes dessa época conseguiram preservar boa parte da cultura clássica greco-romana que, se tivesse ficado nas mãos dos poderosos nobres, com toda certeza teriam virado alvo para treino de tiro com arco e flecha.
Se não basta este exemplo para solapar, vejamos um exemplo nacional que é o das Missões Jesuíticas que vieram para estas terras a fim de educar os índios e a todos que tivessem interesse em ter acesso às letras e que, aliás, havia feito um formidável trabalho. Todavia, os nossos debatedores dirão que os Jesuítas vieram para estas terras de além mar para ameaçar os índios com a Catequese Cristã para serem escravizados com maior facilidade. O problema é que os nossos grandes debatedores se esquecem que os Jesuítas não só eram contra como também condenavam a escravidão dos indígenas (Talvez por que estes nunca tenham lido um escrito se quer do grande Bartolomeu de Las Casas ou as Cartas jesuíticas para saberem o que era o índio para um Jesuíta) a ponto de serem odiados por boa parte dos colonos portugueses. De mais a mais, deixamos em voga apenas uma questão, a qual demostra o quanto nossos debatedores são ávidos conhecedores de história e que seus argumentos são de profunda concretude: se os Jesuítas vieram para a América Portuguesa [
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para tornar os índios mansos e que estes eram aliados da Coroa portuguesa, por que o Marques de Pombal exigiu do Papa a extinção da Companhia de Jesus?
Pois bem, é possível que uma alma nos responda que o Marques de Pombal acabou com as missões por que elas estavam se tornando uma ameaça para o Império Português e as Missões Jesuíticas se tornaram uma potência que eram devido a forte preocupação dos Padres para com a educação? Aí chegamos ao ponto crucial de nossa pauta, pois, a educação que se defende para que se instale em nosso país desde os tempos de Anísio Teixeira, é uma educação voltada para fins segundos (no caso para o desenvolvimento sócio-econômico, para formação de militantes políticos, etc.). Já a educação que era ministrada nas Missões Jesuíticas, era uma educação voltada para fins últimos, para a contemplação, e não para o desenvolvimento sócio-econômico.
Outros exemplos de argumentos são a de que países como o Japão, a Alemanha e os EUA que hoje são nações economicamente desenvolvidas, porque teve no passado um forte investimento em educação. O problema é que os defensores destes argumentos se esquecem de que o Japão tem sua cultura profundamente impregnada pelo Confucionismo que é uma doutrina que prima pela disciplina, no caso do Milagre Alemão (Alemanha Ocidental) do pós Segunda Grande Guerra Mundial, cabe lembrar o plano Marshall, para reerguer não só a Alemanha como todos os países europeus que não ficaram sob o domínio Soviético para evitar a expansão do comunismo. E, no caso dos EUA, até pouco tempo atrás, a responsabilidade pela educação das crianças era das comunidades e igrejas e não do Estado. Enfim, enfoca-se com grande ênfase o desenvolvimento sócio-econômico sem dar a devida ênfase às causas deste. É o típico discurso pró-campanha.
Aliás, cabe lembrar que a partir do momento em que o governo começou a propiciar escolas públicas no lugar das que haviam antes que eram mantidas e gerenciadas por pessoas próximas das comunidades, o que se teve fora um aumento da marginalização de jovens e adolescentes. Em outras palavras, enquanto o Estado não havia adentrado tudo ia bem, apesar dos obstáculos da vida, mas a partir do momento em que o Estado retirou esta responsabilidade das comunidades, o trem desandou de vez, como dizem os mineiros.
Doravante, eis aí o problema dos debates de nosso país. Eles não partem de um problema, de uma questão bem formulada, mas sim, de uma afirmação tomada por todos como sendo uma verdade inquestionável sem ao menos ter sido refletida e estudada.
Quanto a este ponto é de basilar importância o depoimento de uma ex-acadêmica de história das Faculdades de Palmas, e hoje acadêmica do curso história da UNICENTRO – Campus de Guarapuava que há anos atua no magistério (alfabetizadora e hoje está como Secretária de Educação do Município de Foz do Jordão), de sua experiência em um encontro de estudantes de história, mais especificamente o II EPEH (segundo encontro paranaense dos estudantes de história). Conta-nos ela que no dia em que fora reservado para as comunicações orais, uma acadêmica da UNIOESTE û Campus de Marechal Cândido Rondom, proferiu uma comunicação a respeito dos PCNÆs (Parâmetros Curriculares Nacional), e nos dizia ela que a única coisa que a jovem falava era: que os PCNÆS foi algo imposto de cima para baixo e aquele falatório que todos nós já conhecemos muito bem. A senhora que nos deu este depoimento afirmou categoricamente que a jovem que proferiu a comunicação, nunca havia lido os PCNÆs, mas o condenava implacavelmente. Isso sem falar o baixo nível da linguagem utilizada pela mesma no decorrer de sua exposição. A aluna nos contou este acontecimento chocada, pois esta jovem seria uma futura educadora. Como pode alguém defender ou condenar algo sem ter conhecimento de causa? É isso que chamam de debate?
Nos debates o que ocorre com freqüência é a repetição de slogans políticos que estão sendo gritados pelo consenso e pela mídia, ecoando na cabeça da população. Os debates não possuem a menor profundidade, são pura retórica.
O que se faz nos debates é meramente falar de questões gerais sem a menor concretude e, quando se reivindica um esclarecimento quanto a um ponto específico da tese apresentada, do debatetor que está a apresentá-la vendo que sua posição é infundada, usa do seguinte ardil para não cair no ridículo: este ao invés de enfocar a sua resposta no ponto específico ao qual fora interrogado, foge para o geral e daí passa a atacar a questão. Ou, em outras palavras, o elemento responde tudo sem dizer absolutamente nada.
Podemos resumir o cenário em que vemos as contendas do debate nacional em torno das questões que permeiam a problemática da educação nas palavras do filósofo Eugen Rosenstock-Huessy que nos fala que, se uma pessoa diz “iii” e o seu interlocutor responde o mesmo som, estas duas pessoas estão se comunicando como animais imersos em um estado anímico comum. Porém, se uma pessoa diz “Escute!” E o seu interlocutor responde “Estou Escutando”, estas pessoas estão no mundo da comunicação humana, graças ao milagre da linguagem articulada [
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E o que vemos é basicamente isso: pessoas a repetir slogans que são repetidos pelos veículos de mídia e que, por triste que pareça, são repetidos pela maioria da intelectualidade brasileira. Não há articulações de posições dentro dos debates, mas sim e unicamente, a afirmação de “diferentes” posturas frente a um problema visto de um mesmo ponto de vista.
Deste modo, se um debate se encontra mergulhado em meros slogans midiáticos temporários, o pensamento também se organizará de forma rasa e momentânea, fundado em questões rasas e de pouca profundidade, que por sua vez dará frutos a respostas infundadas e sem a menor profundidade. Da mesma forma que os gregos julgaram e condenaram Sócrates a morte (ao suicídio), no dia a dia estamos a esmagar a nossa própria inteligência, a nossa capacidade de discernimento do bem e do mal, do certo e do errado por nos apegarmos em demasia a questões rasas que não nos levam a nenhuma solução, pelo simples fato que uma questão mal formulada apenas nos levam ao erro, ao auto-engano.
Chegamos a tal ponto que se dá uma prioridade colossal ao debate quase que se deixando de lado a base para qualquer debate: o conhecimento de causa que é fruto de profundos estudos e reflexões, o que nos faz lembrar as palavras do filósofo americano Richard Rorty, que nos diz que o que vale em um debate, é a forma que você apresenta os seus argumentos e não se estes tem veracidade ou não. Para este a função da linguagem nada mais é do que servir para os mais fortes dominarem os mais fracos. Não há a necessidade para ele de que uma pessoa convença outras através de argumentos concretos, basta apenas que ela convença, mesmo que use de má fé [
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Neste cenário, as falácias tomam ares de argumentos lógicos, os enganos de verdade justificável e, a verdade, é disfarçada de uma mentira bem contada. Como pode frutificar algo de bom de um debate que tenha estas características? Que tipo de preocupação move as pessoas a tomarem uma postura destas?
A Sagrada Escritura nos advertia dos falsos profetas e, o que é uma pessoa que se arroga dizer a verdade desconhecendo-a, de pessoas que se propõe a resolver um problema que mal compreendem por tê-lo mal formulado senão um falso profeta?
2.5 O ópio dos intelectuais
O maior mal não é aquele que está defronte a nossa face, aquele que nos incomoda diariamente, que nos causa urticária. O maior mal é aquele que por sua vez também está defronte às nossas narinas, mas, que não só somos incapazes de reconhece-lo como também quando o identificamos, o fazemos como sendo um regalo em nossas vidas.
Nós enquanto brasileiros sofremos de um mal muitíssimo grave que nos come até a raiz que é o dualismo moral. Percebemos esta postura do Homo Brasiliense no seu dia a dia. Podemos começar com uma rápida observação do intelectual brasileiro do século XIX que freqüentemente era ligado a uma determinada loja Maçônica, grupos os quais eram condenados pela igreja Católica, posições as quais estavam expressamente explícitas na carta Encíclica HUMANUM GENUS da Papa Leão XIII em 1884. Todavia, este era ao mesmo tempo Católico e maçom. Como que alguém pode ao mesmo tempo ser uma e outra sendo que uma nega a legitimidade da outra? Como que se pode ser ao mesmo tempo Maria e João? Este estado de espírito é a típica concretização da famosa lei de Gerson (para tudo se acha um jeitinho).
Nos dias de hoje, vemos a alma brasileira infectada deste dualismo que por sua vez, pode muito bem ser visualizado nas grandes campanhas de caridade como a Criança Esperança. Está lá o sujeito em casa a assistir o espetáculo da campanha e se comove, se pondo a colaborar com a campanha fazendo uma doação via telefone e, deste modo, o sujeito sente sua consciência mais aliviada por ter ajudado a aliviar a dor de uma pessoa a qual ele não conhece e que também, desconhece a sua desgraça. Vamos supor que este elemento seja um comerciante, dono de uma panificadora, certo. No dia seguinte, um domingo, este irá abrir o seu estabelecimento comercial e, em meio ao movimento de pessoas que acordaram mais tarde e foram até lá para comprar um frango assado e uma porção de maionese estão parados próximas a porta de seu estabelecimento um indigente. Discretamente, este comerciante o enxota, pois o mesmo estava atrapalhando o seu negócio.
Eis aí o grande mal do dualismo moral. Este fenômeno nos torna incapazes de refletirmos sobre as nossas posturas pelo simples fato que nós nos aliviamos destas através de um gesto como o primeiro onde, não temos que nos defrontar diretamente com a imagem do sofrimento humano e, quando nos vemos diante de uma situação onde o sofrimento humano não só se faz presente diante de nós como vem diretamente nos pedir socorro, somos incapazes de nos sensibilizar já que “fizemos a nossa parte”. Nestes momentos somos a típica encarnação do ditado popular: faça o que eu digo, não faça o que eu faço.
Ou então, partimos para um exemplo mais próximo do magistério. É típico já nas manifestações de professores grevistas no Paraná ver ônibus partirem do interior para Curitiba para engrossar o caldo como se diz popularmente. Chegando a capital, boa à parte dos professores ao invés de irem a manifestação, se dirigem aos shoppings para fazer algumas comprinhas. E é este que diz ensinar aos alunos que se faz necessário ser um “cidadão participativo”. Ou também, como já é fato comprovado que, inúmeros professores que foram fazer uma especialização, forma simplesmente movidas pela possibilidade de um aumento em seu salário. E se isso não bastasse, ainda são capazes de mandar fazer a sua monografia e, é este mesmo indivíduo que se queixa que os alunos não lêem e escrevem pessimamente. Caso notório é a dos professores que foram fazer especialização em Jabuticabal. Uma especialização onde o tempo que você levava para chegar até a cidade era contado como hora aula. O governo do Estado não reconheceu as especializações feitas nesta instituição o que, além de ser o mais natural fora uma atitude ética tomada por parte do mesmo. Todavia, o que impressiona é a reação enfurecida dos professores que lá fizeram a sua especialização acusando o governo do Estado com os mais esdrúxulos jargões. Isso sem falar das inúmeras tramas políticas armadas pelos diretores para se manterem no poder ou para alcançar um cargo político. Enfim, são estes moralistas chinfrins que dizem estar a ensinar ética aos seus alunos. á Pois é isto que se vê no magistério com uma assustadora freqüência como também em toda a sociedade brasileira.
Pois bem, todos estes fatos narrados nada mais demonstram que o professorado nada mais é que um emaranhado de hipócritas invejosos e rancorosos, um verdadeiro ninho de cobras. Serpentes estas que querem ensinar aos pequenos príncipes as virtudes da vida através do fel de seu veneno.
Foi-se o tempo em que as palavras de Machado de Assis que nos diziam que um homem para ser um homem deveria ser um Homem por inteiro. Somos um verdadeiro amontoado de máscaras que são usadas de acordo com a circunstância, com a conveniência de nossos interesses. Podemos dizer que as melhores palavras que existem para descrever o nosso estado de espírito são as de William Shakespeare que nos diz: Vêde como sopro esta pena e do meu rosto a afasto, e depois como o vento a traz de volta. Agora ao meu impulso ela obedece, para depois obedecer à força estranha, sempre do lado mais forte sopro. Desse modo, leviano, é sempre o povo. E levianos assim somos, por fraqueza e forte volúpia de nossas almas e é, justamente nesta fraqueza que nos domina, nesta limitação que vem a tomar conta da alma brasileira que as idéias de Antônio Gramsci se encaixam como uma luva.
Como assim? De início, Antônio Gramsci reduz os conceitos de intelectual e cultura à apenas um fator meramente político, este substitui o conceito de verdade ontológica por uma mera aparência de verdade que venha a contribuir para a causa há qual ele advogava (o comunismo, no caso). Toda atividade intelectual só é valida para este desde que implique em alguma transformação que converta bônus para a causa comunista, não importando se o que este indivíduo esteja fazendo seja falso, pois, tudo que viesse a contribuir para a sua “grande causa” era aceito como benéfico. Desta posição é que emerge o seu conceito de intelectual orgânico, de um homem comprometido até a medula com uma ideologia política (o marxismo, no caso), onde esta acabava por tomar o lugar da verdade ontológica.
O que este homem conceitua como filosofia é uma visão degrada do ser humano e do mundo. Para melhor discutirmos este ponto, vejamos esta passagem de sua obra Concepção Dialética da História:
É preciso destruir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia é algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. É preciso, portanto, demonstrar preliminarmente que todos os homens são "filósofos", definindo os limites e as características desta "filosofia espontânea", peculiar a "todo o mundo", isto é, da filosofia que está contida: 1) na própria linguagem, que é um conjunto de noções e de conceitos determinados e não, simplesmente, de palavras gramaticalmente vazias de conteúdo; 2) no senso comum e no bom senso; 3) na religião popular e, conseqüentemente, em todo o sistema de crenças, superstições, opiniões, modos de ver e de agir que se manifestam naquilo que geralmente se conhece por "folclore". Após demonstrar que todos são filósofos, ainda que a seu modo, inconscientemente – já que, até mesmo na mais simples manifestação de uma atividade intelectual qualquer, na "linguagem", está contida uma determinada concepção do mundo -, passa-se ao segundo momento, ao momento da crítica e da consciência, ou seja, ao seguinte problema: é preferível "pensar" sem disto ter consciência crítica, de uma maneira desagregada e ocasional, isto é, "participar" de uma concepção do mundo "imposta" mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos muitos grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente (e que pode ser a própria aldeia ou a província, pode se originar na paróquia e na "atividade intelectual" do vigário ou do velho patriarca, cuja "sabedoria" dita leis, na mulher que herdou a sabedoria das bruxas ou no pequeno intelectual avinagrado pela própria estupidez e pela impotência para a ação), ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira consciente e crítica e, portanto, em ligação com este trabalho do próprio cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não mais aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade?”(GRAMSCI, 1986, p. 04).
Neste pequeno trecho podemos perceber o quanto que a noção de filósofo de Gramsci é algo tosco. Primeiramente pela sua classificação dos filósofos entre os profissionais de ofício e os “amadores”, sem formação apropriada, onde o mesmo apenas aponta como única diferença entre um e outro a linguagem que estes utilizam. Antes de qualquer coisa este seu conceito de filósofo é algo tão abstrato que não encontra exemplos no correr da história para lhe dar respaldo. Cabe lembrar que, a idéia de filósofo como sendo um profissional de Cátedra é antes de qualquer coisa uma idéia popular e viciada da era moderna. Anterior a modernidade, só encontramos profissionais de Cátedra como filósofos no período da Escolástica, no Idealismo Alemão e, nos dias de hoje.
Deste modo, podemos verificar que o conceito de filosofia de Antônio Gramsci antes de qualquer coisa concerte uma categoria essencial em uma categoria acidental. Este na ânsia de sua juventude fora incapaz de refletir sobre as suas ponderações e humildemente antes de querer mudar o mundo, procurar enriquecer sua alma com sabedoria ao invés de preenche-la com malícia. Esqueceu-se de que ser um filósofo, antes de qualquer coisa, é um estilo de vida entregue inteiramente a procura da verdade e da sabedoria. Este senhor acreditava que fazendo uma discussão do que ele em sua pretensão julgava ser filosofia estava por discutir a filosofia de todas as civilizações e de toda a história da humanidade.
Gramsci confunde também em este seu singelo conceito de filosofia, com sua cosmovisão. Cosmovisão é simplesmente toda e qualquer visão de mundo, toda e qualquer concepção de ordenação da realidade, por mais caótica que pareça como as crendices populares, o folclore que Gramsci classifica como sendo uma forma de filosofia. Ora, é obvio que toda filosofia é uma cosmovisão, pois esta é uma forma de se ver o mundo. Todavia, a cosmovisão da filosofia é fruto de um profundo esforço do indivíduo que procura melhor compreender a si e ao mundo, começando com a reflexão deste sobre a sua cosmovisão, tarefa a qual, se torna impossível se não houver uma atitude que procure a consciência de si, coisa que, uma cosmovisão calcada em superstições, preconceitos e crendices é incapaz de realizar, visto que a filosofia não se dá fora da vida, como uma visão sem profundidade. A filosofia pertence à vida e ao homem, e busca, através do cosmos, invadir os mais altos terrenos sobre a origem e o destino do ser humano.
Dentro desta perspectiva, não há uma continuidade entre cosmovisão e filosofia, mas sim, uma superação da primeira pela segunda. Gramsci perverte a natureza contemplativa da via da sabedoria (a filosofia), reduzindo-a a uma mera prática. ááá Ou, façamos uso das palavras do filósofo Olavo de Carvalho que, tendo mais competência que nós sobre o assunto nos fala:
Se todos os homens são filósofos e os filósofos
ex professo
só se distinguem deles pelo grau maior de coerência e logicidade com que crêem exatamente nas mesmas coisas que eles, então entre o filósofo com aspas e o filósofo sem aspas não há outra diferença senão aquela que existe entre o conformista incoerente e o conformista coerente, entre o homem-massa espontâneo e confuso e o homem-massa assumido e formalizado. (CARVALHO, 1999, p. 06).
Podemos dizer de forma sarcástica frente ao conceito de filosofia de Gramsci, que uma mulher casada seria igual a uma prostituta já que para ele um filósofo e um não filósofo tem apenas como diferença uma questão formal, do mesmo modo que uma prostituta que se deita com todo e qualquer homem e uma mulher que se enamora apenas com seu amante pai de seus filhos. Realmente, uma diferença quase que imperceptível, aos olhos deste italiano, é claro.
Pois bem, mas outro ponto que nos chama por demais atenção, é o seu conceito de consciência coletiva. Defende este que toda e qualquer atividade intelectual deve estar ligado a uma ideologia política, pois, como diz ele, todo intelectual deve ser orgânico, engajado. Todavia nos perguntamos, o que é consciência coletiva? Nada mais que um outro conceito raso deste intelectual italiano.
Ora, estar consciente nada mais é do que estar ciente de seus estados, idéias, sentimentos e volições. O ato de consciência nada mais é que um ato de conhecer-se e de julgar-se. Neste sentido, todo ato de consciência antes de qualquer coisa é um ato individual e solitário. O sujeito através de seu intelecto reflete sobre si mesmo e seus atos frente ao mundo tomando assim consciência de si e conseqüentemente do mundo. Deste modo, todo ato de consciência corresponde a um sujeito intelectivo, correto? Pois bem, aí nós nos perguntamos: como que se procede o ato de conscientização coletiva? Que se saiba uma multidão não é um sujeito homogêneo. Para mentalidade totalitária de alguns talvez mas via de regra, a idéia de uma conscientização coletiva é absurda pois uma coletividade não é um sujeito singular como um indivíduo mas sim, um sujeito plural. Somente o indivíduo é dotado de consciência pois só este é dotado de intelecto.
Mas aí, os partidários de Gramsci responderiam em uma só voz que a consciência coletiva é obtida através da unidade da ideologia que os norteia, criando assim uma unidade coletiva, que nada mais seria que um intelectual coletivo. Ou melhor, ao invés de criarmos um suposto personagem que seja partidário deste, vejamos o que ele nos diz na nota IV de A Concepção Dialética da história:
Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas "originais"; significa também, e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, "socializá-las" por assim dizer; transformá-las, portanto, em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral. O fato de que uma multidão de homens seja conduzida a pensar coerentemente e de maneira unitária a realidade presente é um fato "filosófico" bem mais importante e "original" do que a descoberta, por parte de um "gênio filosófico", de uma nova verdade que permaneça como patrimônio de pequenos grupos intelectuais. (Gramsci, 1986, 06).
Aí nos indagamos qual seria o progresso científico que a humanidade estaria hoje se todos nós adotássemos esta sua idéia esdrúxula?
Gramsci procura sempre sobrepor a sua posição ideológica a realidade e as demais categorias ontológicas de onde surge todos os seus enganos. Uma ideologia, como nos lembra Olavo de Carvalho,
É um tipo de discurso que, em defesa de valores arbitrários e no mais das vezes implícitos e não declarados, enfatiza determinados aspectos da realidade que sirvam de suporte retórico para esses valores, ocultando ou minimizando os aspectos contrários, por mais evidentes ou importantes que sejam e por mais improvável que seja escaparem à atenção de qualquer observador isento. Ideologia é seletividade deformante da realidade conhecida, em vista de um interesse político.(CARVALHO, 1999, p. 01).
Ou então, fazendo uso das categorias Aristotélicas, o que o Sr. Antônio Gramsci faz é simplesmente inverter as categorias da substância com as da paixão, do que a coisa é com o que você gostaria que ela fosse.
Pois bem, mas o que isso tudo tem a ver com a problemática da educação no Brasil? Tudo. Na metade da década de sessenta, mais especificamente em 31 de março de 1964, a esquerda brasileira sofre um duro golpe em sua espinha dorsal. Frente aquela situação, estes militantes firam os seus sonhos de chegar ao poder ir por água abaixo. Impossibilitado de atingir os seus anseios, a intelectualidade esquerdista passará a viver na clandestinidade e lerá muitíssimo Antônio Gramsci.
Nesta situação, vai-se começar a colocar em prática a estratégia da Revolução cultural onde, ao invés de procurar tomar o poder diretamente, estes procuraram solapar as bases da sociedade se infiltrando lentamente nos meios de comunicação, nos departamentos governamentais, nas instituições de ensino e demais setores da cultura. Lentamente se irá pervertendo os valores desta sociedade a ponto de ela mesma não mais se reconhecer a si própria e a seus valores.
Neste processo de ocupação lenta de espaços, o sistema educacional é um dos principais alvos destes indivíduos que por sua vez, são cientes de que é na mais tenra idade que se forja o caráter do indivíduo. Platão em A República û livro II, já nos advertia de que se deve afastar aqueles que procuram envenenar as jovens almas, precaução a qual os educadores nos dias de hoje perderam de vista no seu suposto intuito de criar “cidadãos críticos”.
A educação nos dias de hoje é feita baseada em jargões midiáticos e slogans politicamente corretos, o que ao invés de levar o jovem a desenvolver uma autoconsciência sadia leva-o a uma visão maniqueísta e deformada da realidade. Desde cedo é ensinado para os jovens através dos livros didáticos que a sociedade está claramente divididas entre os senhores do mal e os cavaleiros da esperança. Tudo que seja conservador é taxado como sendo algo mal através de topus (lugares comuns da linguagem) como reacionário, retrógrada e tudo que seja progressista (entenda-se como esquerda) é caracterizado bom, quase que beático. E, se houver alguma idéia ou preceito tradicional que seja incontestavelmente bom, logo é travestido como um visionário progressista.
Um bom exemplo disso são as profundas deturpações feitas da mensagem de Cristo e bem como do Cristianismo. É comum as comparações feitas por alguns teólogos da libertação entre a figura de Jesus Cristo e Ernesto Guevara. Como pode uma pessoa ver na figura do filho de Deus, que dizia que deveríamos amar uns aos outros como se ama a si mesmo e como ele nos amou (dando sua vida por nós e perdoando seus algozes no calvário) com um guerrilheiro fracassado que pregava que deveríamos produzir mil Vietnãs, que um revolucionário deveria ser um assassino em potencial, que seriamos irmãos pela indignação ao invés de o sermos pelo amor? Não se vislumbra aí uma profunda inversão, ou melhor, uma perversão dos valores cristãos? Como que se pode fazer uma ligação entre o Cristianismo e uma filosofia imanentista como o marxismo? Eis aí uma pequena amostra do que a perversão gramsciniana é capaz.
Doravante vejamos outro exemplo: peguemos alguns trechos do livro Brasil: uma história em construção – vol. 02, de José Rivair Macedo e Mariley W. Oliveira: 1) precisamos mudar a realidade histórica deste país. Precisamos urgentemente de justiça social e respeito aos brasileiros.(p. 09); 2) O Estado brasileiro não pode mais permitir que espertalhões e corruptos se aproveitem das coisas públicas. Lugar de corrupto é na cadeia. Por que tantos outros estão soltos? Acorda Brasil! (p. 28); 3)...A educação é um dos pilares básicos da democracia. Quanto maior a politização, mais difícil será a vida dos demagogos. Não é apenas uma questão política, mas de reclamar por todos os seus direitos. (p. 39); 4) Muitos trabalhadores entram na onda do crediário: só assim poderão adquirir mercadorias. (p. 47); 5) A repressão militar à sociedade civil foi uma constante: estudantes, trabalhadores e quem quer que fosse contra o regime militar sofria com a ditadura. (p. 176)
Procuraremos agora proceder em uma breve decomposição analítica. Quanto ao primeiro trecho, quer maior jargão político correto que a famosa “justiça social?” Este é um conceito tão vago que nem os seus defensores sabem defini-lo de forma clara sem falar de seu imenso conteúdo maniqueista. Podemos dizer que a justiça social nada mais é do que a idolatria da inveja, pois, os supostos defensores dos excluídos nada mais anseiam do que a tomada do poder e, neste sentido, a justiça social nada mais é que um topus que ao invés de levar o aluno a ver a realidade com maior clareza acaba por perverter a sua capacidade de compreensão. Por exemplo: é comum nos dias de hoje ver jovens e pessoas adultas acharem que a marginalidade, o crime, é compreensível devido à desigualdade social. Todavia, estes se esquecem que a miséria não é a causa da violência, mas sim a circunstância em que esta ocorre tanto que, se isso fosse verdade, o sertão deveria ser o local mais violento de nosso país e, sem levar em conta que em uma mesma favela além de viver o ladrão e o traficante há o trabalhador que mesmo em precárias condições não perde a sua dignidade.
No segundo trecho, lá esta o velho slogan que derrubou Fernando Collor e que, por ironia do destino, o elegeu (O caçador de marajás). Sem falar, da viciada visão Hegeliana que apresenta o Estado como símbolo máximo de virtude. Não é responsabilidade do Estado acabar com a corrupção política e muito menos da sociedade, pois, isso apenas gera um circulo de intrigas sem fim que acaba por tornar a vida insuportável. Isso sem falar da redução do significado da palavra corrupção, pois o primeiro foco de degradação somos nós e, apenas nós podemos corrigí-lo já que, cada um é senhor de sua consciência e conseqüentemente de seus atos. E não é a criação de infindáveis mecanismos de controle que irá liquidar com a corrupção, pois este não é um mal da política, mas sim, da vaidade humana. Doravante, tais posturas levam apenas a uma projeção mútua de culpas por parte de moralistazinhos que se fazem uso de bodes expiatórios para focalizar o ódio das massas a fim de chegar ao poder, como nos lembra René Girard. Ou seja, desde cedo ensina-se as crianças a caçar e acusar alguém sem saber ao certo os motivos que o estão levando a fazer isso. Faz isso simplesmente porque se quer fazer justiça apesar de não saber o que seja. Um bom exemplo disso são as prisões recentes do juiz “Lalau” e do Fernandinho Beira mar. Na prisão do havia uma multidão para insulta-lo em uma ânsia insana de vingança que a multidão crê ser justiça. Todavia, na prisão do traficante e assassino Fernandinho Beira mar não havia ninguém. Mas qual dos dois cometeu crimes mais truculentos? Quem que fornecia drogas direta e indiretamente para o seu filho?
Doravante, no terceiro trecho vemos escarnada a face doutrinária sutil. A educação deve visar elevar a alma humana aos mais altos patamares do espírito humano e, a politização nada mais é que uma dimensão diminuta da alma humana. Sem falar, que quando se enfatiza a idéia de politização em educação, está a se falar em uma ênfase a uma doutrina política. Neste sentido, na seqüência da frase esta dito o que se entende por política: a reivindicação dos direitos, um belo prato e bem farto para condução de massas histéricas para tombar um adversário político. Por que não se dar ênfase ao conceito de política do Estagirita que era o de bem estar de toda a polis ao invés da investida de atos furtivos ao deleite do comando de demagogos? Ou você conhece alguma manifestação pública que reivindique regalos que não seja movida sorrateiramente por grupos que fazem da insatisfação popular um meio para chegar a seus objetivos?
Pois bem, a quarta citação é uma legítima piada de mal gosto onde torna o ato de uma pessoa comprar um produto de consumo em várias parcelas um ato de exclusão social. Por fim, na quinta passagem extraída deste singelo livro didático destinado a crianças de sexta série do ensino fundamental, nos mostra a mais profunda distorção histórica. O regime militar reprimiu não a sociedade civil, mas sim grupos que estavam causando uma profunda instabilidade política sem falar, que anterior ao golpe, houve no país inúmeras manifestações contra a situação em que o país se encontrava. Da forma como o texto apresenta, a impressão que nos dá é de que os militares eram um bando de pervertidos que solaparam as bases democráticas de nosso país por pura safadeza. O que se esquece de mencionar é que neste período o mundo estava a viver em plena guerra fria e que, os grupos que estavam causando as instabilidades políticas em nosso país tinham ligações com a URSS e com Cuba.
Tais distorções nada mais são que a estratégia da revolução cultural gramsciniana onde se procura transformar, ou melhor, deformar lentamente os valores e a própria memória (pois a memória sempre será um fenômeno seletivo, o problema é como e com que intenção é feita esta seleção e se esta não é deturpada). Se andarmos na rua e conversarmos com qualquer indivíduo, dificilmente você encontrará um jovem que não tenha um leve senão uma abissal repulsa pelos militares. Se você prestar atenção nos enredos das últimas novelas (em especial a Porto dos milagres, exibida pela Rede Globo) verá nitidamente a imagem dos socialistas pintados de ouro, beático onde em uma cidade fictícia do porte da mesma vemos um signo deveras curioso que é, uma igreja vazia que tem a chave de suas portas nas mãos de uma pessoa avarenta e mesquinha.
O mais engraçado nisso tudo, é que são raros, para não dizer inexistentes educadores de índole conservadora. Praticamente todo educador tem ao pé da cabeceira de sua cama pelo menos um livro de Paulo Freire, mas todos desconhecem a obra de Xavier Ziburi.
Tais menções feitas por nós parecem até Ter ares de devaneio e loucura, mas, nunca esqueçamos que o maior truque do diabo é ter dito a todos que ele não existia. Procuraremos no correr destas páginas, melhor desvelar os males criados por estas imposturas intelectuais que são apreciadas pela maioria não como degeneradoras da alma humana, mas como um regalo divino, pois, é muito mais fácil dominar um homem através de seus vícios do que pelas suas virtudes, como já há muito nos advertia Napoleão. á Nestes instantes é que percebemos o quanto que o homem é fraco diante de sua vaidade e sem esquecer, obviamente, que este é o pesado dileto do príncipe das trevas.
2.6 O retorno ao caminho da sabedoria
Poucas nos são as palavras diante de tudo que cremos ter que falar diante do quadro problemático levantado por nós páginas atrás. Cremos que toda educação deva partir ante de uma reflexão filosófica. Sigmund Freud (2001) escreveu certa vez que a partir do momento em que um homem pergunta sobre o sentido ou o valor da existência, está doente. Esta sua afirmação citada por Victor Frankl (1989) em uma de suas conferências, expressa bem o trato que a sociedade moderna dá a tais questionamentos. Todavia, graças a Deus que existem pessoas com Frankl que afirma o contrário. Para ele a partir do momento em que um homem se pergunta do sentido e do valor de sua existência, é quando ele manifesta a sua humanidade. Este por sua vez, seria o mais alto empreendimento do Espírito Humano.
Anterior a este, já na Grécia o Grande Sócrates nos dizia que filosofar é antes de qualquer coisa aprender a morrer. Mas como assim? Ora, o que é a vida se não um lento caminhar em direção a morte? O que é o dia de nossa morte senão o dia em que terminamos de morrer?
Nós temos uma existência finita neste mundo e agimos, planejamos e programamos nossas vidas como se fossemos viver para sempre neste mundo. Nos esquecemos sempre que cedo ou tarde a chama que nos mantém radiantes se apagará.
Em outras palavras, aprender a viver é aprender a morrer. Aceitando este postulado, percebemos o quanto que nossa sociedade se esqueceu do significado da vida. Quase que todas as pessoas tem um pavor da morte e da velhice. As pessoas vivem em um frenesi alucinado a procura da juventude eterna. As pessoas cada dia mais se vêem apegadas aos prazeres da carne, ao deleite de sua vaidade.
E a escola não fica atrás. O objeto central das falações dos professores em sala de aula e bem como o conteúdo que se encontra nos livros didáticos é de um profundo elogio ao apego ao mundo material. Tudo o que se ensina e se discute em termos de educação tem que estar relacionado diretamente com a “realidade” do aluno, com o cotidiano e que ele possa vir a utilizar para melhorar a sua situação sócio-econômica. E você acredita nisso?
Primeiramente o que vem a ser Realidade? Realidade não é simplesmente o mundo a sua volta, mas sim, e antes de qualquer coisa a capacidade de ação de um indivíduo no mundo. Do mesmo modo que há no mundo exterior uma dimensão espacial e temporal, no mundo interior (nossa alma) também há uma dimensão espacial e temporal. Deste modo, o que vai determinar o conhecimento que será produzido por um indivíduo não é meramente a sua situação sócio-econômica ou os recursos materiais que a escola dispõe (computadores, vídeo, etc.), mas sim, o seu microcosmo, o seu mundo interior.
Conhecimento não é algo dado, mas sim, o produto da relação entre a capacidade intelectiva de um indivíduo e o objeto informante. Por exemplo: coloquemos uma pessoa medíocre e uma freira para assistir a uma série televisiva como
Angel
, que era exibida pela Rede Globo de Televisão e depois, pergunte o que cada uma achou do episódio visto. Esta conclusão que cada uma tirou é o conhecimento elaborado entre a relação de suas capacidades intelectivas e o objeto informante. Do mesmo modo, se entregasse-mos as duas um livro para ler. Suponhamos que a freira leu e deu o seu parecer para nós, ou seja, apresentou-nos o conhecimento que ela elaborou. Aí, suponhamos que a pessoa medíocre não tenha lido o livro. Ela terá elaborado conhecimento? Sim, pois ela realizou uma relação entre a sua capacidade intelectiva e o objeto informante, pois ao renegar a leitura do livro ela tirou um juízo deste ato que seria o seu conhecimento elaborado, medíocre tanto quanto ela. Neste sentido, o conhecimento não é limitado e nem pode sê-lo. O que determinará até onde se pode conhecer algo é à vontade do indivíduo, a sua faculdade intelectiva. E é bem neste ponto que pesa a afirmação dos Escolásticos de que quanto mais eu sei, mais eu sou.
Doravante, dentro de um estabelecimento de ensino, temos o professor que, além de ser um sujeito/objeto informante, é também um indivíduo dotado de capacidade intelectiva. Muito bem, um sujeito informante como uma pedra é o que é, pois, ele é apenas um objeto informante que não é dotado de capacidade intelectiva. Ela apenas transmite e recebe informações (como uma inscrição, ou um significado alheio a sua forma natural), mas jamais as processa.
Todavia, no caso do professor, ele além de ser um objeto informante ele é um indivíduo com capacidade intelectiva. E daí? Ora, o que determinava a unidade da pedra e das informações que ela transmite é a sua própria situação de pedra. Já no caso do professor, o que determinará a sua unidade enquanto sujeito e as informações que ele transmite não é meramente a sua situação enquanto professor, mas sim, a relação que sua capacidade intelectiva mantém com a sua situação enquanto professor e, esta relação que determinará como serão as informações que este indivíduo transmitirá e como será a unidade de seu ser e de sua identidade.
Ou como nos lembra Xenofonte as palavras de seu mestre Sócrates, onde o mesmo dizia
que todos aqueles que ensinam devem praticar o que ensinam a fim de edificar pelo exemplo os que aprendem, da mesma forma que os estimulam pela palavra
(Xenofonte, 1999, p. 87). Em outras palavras, afirmamos que a relação educador/educando, a qualidade do processo ensino aprendizagem, começa na relação que o professor mantém consigo mesmo. Como que um educador quer motivar uma criança a amar as letras sendo que ele é um infeliz que só se preocupa com o seu sustento (salário)? Como que estes querem ensinar o respeito sendo que eles não respeitam aos seus colegas de trabalho e a si próprios?
Deste modo, voltamos ao pondo inicial deste subcapítulo, o ser humano da os seus primeiros passos para a grandeza de humanizar-se quando ele se pergunta sobre o sentido e o significado de sua existência. Em seqüência a esta questão, nós não procuramos primeiramente uma resposta, mas sim, um exemplo de conduta, um arquétipo no sentido agostiniano do termo, como símbolo de transcendência da sua atual situação para aquela que ele julga ideal. Do mesmo modo, este acaba por eleger também um arquétipo do que seja o ideal de decadência e de mediocridade. Neste sentido, o professor pode tanto ser um como pode ser outro. Tudo depende da relação que este mantém consigo mesmo e com a sua situação enquanto professor que resultará na unidade de seu caráter.
Qualquer pessoa crê apenas nas palavras de uma outra pessoa quando esta crê nas palavras que esta a pronunciar. Vocês já imaginaram o que aconteceria se os padres não acreditassem no que eles pregam? As igrejas já estariam mais vazias do que estão. E agora respondam-nos, o professor acredita realmente no ensina? Não esqueçamos que o ato de crer está intrinsecamente ligado ao desejo de conhecer. Este primeiro não nasce sem que exista o segundo.
Sendo assim, o ato de reduzir o ato do conhecer a uma mera necessidade de sobrevivência é um legítimo ato de genocídio do intelecto. Se o ser humano é o único animal ciente de sua finitude neste mundo reduzir as preocupações da educação a uma formação que o leve a ser um bom cidadão, um bom trabalhador e um bom militante são, nada mais do que diminuir a natureza humana.
As escolas modernas em sua maioria aponta-nos como finalidade da educação, levar o aluno a apreender determinados conteúdos de determinadas disciplinas tal como é exposto pelo professor. Ou então, coloca-se como sua finalidade maior, levar o aluno a aprender relacionar estes conteúdos para assim obter um saber prático que lhe seja útil em seu dia a dia.
Mas, se nós recorrermos à obra de um pensador como Hugo de São Vítor (s/d), passaremos a ver a educação com outros olhos. Os educadores, como a maioria das pessoas da sociedade pós-moderna, se apegam aos ditos últimos lançamentos, aos modismos da última hora. Todavia a sabedoria não é uma sintonia com o que há de novidade no mercado editorial, mas sim e, antes de qualquer coisa, uma reflexão sobre o que pensaram aqueles que o antecederam, afim de melhor compreendermos o que somos e consequentemente o que pensamos.
Deste modo, Hugo de São Vítor (s/d) afirmava que a educação não deve ter como finalidade última à motivação para o estudo, mas sim, o seu ponto de partida, pois, o estudo em si mesmo se ordena a uma série de outras atividades do espírito. Por sua vez, todas estas atividades do espírito, se ordenam para um fim último que é a contemplação. Uma coisa que se faz desapercebida é que o ato de estudar é um estado de graça e que se este não for assim, o estudo não faz o menor sentido.
Como assim? Este estado para ser melhor compreendido pode ser comparado com uma paixão a primeira vista. Neste instante o mundo todo terminou para os olhos do apaixonado, passando apenas a existir ele e sua amada e é neste estado de graça que o amante descobre todo um mundo novo que a realidade o impedia de ver. O mesmo deve ocorrer com o aluno na hora do estudo para que este realmente seja significativo. É obvio que isso é um processo em que o professor não tem com interferir, pois, quem o determina é indivíduo e não um terceiro. Este terceiro pode ajudar a se chegar ao caminho da graça, mas só o indivíduo pode encontra-la ou, como estava escrito no Oráculo de Delfos, que a verdade está em nós e basta que a procuremos em nós mesmos.
Neste sentido, quanto mais nós conseguimos nos abstrair das limitações da vida, melhor nos conhecemos e melhor a conhecemos. Um exemplo simples disso é a escrita. O que é um alfabeto senão uma abstração da realidade que é utilizada para descreve-la e melhor compreende-la? Do mesmo modo o ato de estudar. Quando você está estudando, por exemplo, a Revolução Francesa, você esta realizando um profundo ato de abstração da realidade presente para conhecer um acontecimento que a mais de dois séculos acabou. Ou então quando se estuda a Era dos Dinossauros. Você já parou para pensar o quando que você tem que abstrair de nossa realidade presente para aprender o que fora este período?
E aí, eis que vem certos professores que dizem: “temos que relacionar tudo com o dia a dia da criança”.Ou seja, ao invés de levar o aluno aos mais elevados patamares do desvelamento da alma humana, nós a estamos aprisionando em seu mundo imediato. Esta é a grande miséria da educação contemporânea. É este estado de coisas que impossibilita a via contemplativa, bem como a sabedoria. Sendo assim, quando uma ciência se vê reduzida, esta passa a não ser uma coisa agradável e, do mesmo modo ocorre com o ser humano. A partir do momento em que reduzimos as preocupações de nossa existência à mera preocupação com a sobrevivência, estamos a reduzir o nosso intelecto a animalidade que habita em nós.
Já nos lembrava Nietzsche (1999) que a cultura, nada mais é que uma fina película que evolve uma maça, encobrindo o caos incandescente que há no seu interior. E assim é o ser humano. Uma fera bestial que se vê envolta de um fino manto de ceda que é, o que lhe dá sentido a vida, que o torna maior que a sua própria existência.
Quando a esse ponto, é salutar lembrar as palavras de Victor Frankl (1989) onde o mesmo relata a sua experiência em um campo de concentração nazista. Nos falava ele que quando ele estava preso neste ambiente caustico, ele começou a perceber que ao mesmo tempo que havia pessoas entrando em desespero por estarem naquela situação, havia pessoas que mesmo tendo de enfrentar os mesmos problemas, estavam a auxiliar estas pessoas que estavam em desespero. Aí, ele começou a se indagar o que tronava umas pessoas mais fortes do que outras frente a uma situação limite igual?
Era simplesmente que algumas pessoas davam a suas vidas sentido maior que qualquer utilidade ou praticidade, mais intenso que o tempo imediato que os atormentava. As suas vidas não se resumiam a suas necessidades, suas vidas eram maiores que qualquer necessidade, que a própria existência e suas dores. Enfim, eles eram maiores que eles mesmos. Isso é que é ser verdadeiramente sábio. Aquele que se supera a si mesmo com o único interesse de ser maior que a sua vaidade, que a sua carne.
3 AOS OLHOS DE JUNO
Um dos grandes engodos do pensamento moderno é a crença de que o acesso ao conhecimento fora sempre algo restrito e exclusivo das classes e/ou castas mais abastadas. É comum se ouvir em conferências que abordem temas referentes à educação onde aqueles que ministram as mesmas justificam sua fala dizendo que sempre o conhecimento esteve na mão da classe dominante e que os mais humildes sempre foram excluídos, tendo seu acesso às letras tolido pela malvadeza dos grandes senhores.
Tal percepção se deve ao fato de nós vivermos em uma época imersa em uma visão materialista, imanentista, historicista e imediatista da realidade, o que nos leva a cometer inúmeros anacronismos frente à compreensão de determinados sistemas filosóficos. Mas, o que se faz normalmente? Na maioria das vezes procura-se comparar uma determinada realidade concreta com um determinado projeto de sociedade. Tal postura impossibilita qualquer possibilidade de análise séria, pelo simples fato de que algo que tem uma experiência real com uma possibilidade de experiência real. Aí, é uma “briga” em vão, já perdida no início.
Sempre um projeto de mundo, um sonho, será melhor que a realidade, pelo simples fato de este estar nos limites do mundo da imaginação e neste, tudo é possível. Ora, por que não comparar experiência real com experiência real e projeto com projeto? Tomando esta postura, nós temos uma análise dialética concreta da realidade, pois, não estaremos a confundir a dialética das idéias com a dialética das ações.
Um bom exemplo de análise distorcida é as infelizes apregoações feitas à educação medieval. Primeiramente, os defensores de projetos modernizantes dizem que durante a Idade Média, a Igreja Católica Apostólica Romana procurava impedir a população mais humilde o acesso ao conhecimento e as Escrituras Sagradas tanto que, mantinha estas como demais escritos em latim, para restringir o acesso das pessoas a estes livros. Calúnia tamanha é difícil de se engolir, mas, tentaremos regurgitá-la.
Primeiramente é estranho dizer que a Igreja era relapsa quanto aos assuntos relativos a educação sendo que esta mantinha uma escola em cada catedral, em cada paróquia. A diferença é que os padres não obrigavam ninguém a freqüentar as mesmas, pois esta instituição crê que o ser humano é dotado de livre arbítrio para escolher o caminho que deseje seguir. Mas o por que de manter as sagradas escrituras e demais obras em latim sendo que poucos falavam esta língua? Bem, para começo de discussão, poucos se interessavam pelo estudo das letras. Os servos porque estavam mais preocupados com a produção e os senhores feudais eram guerreiros e por sua vez, não viam no estudo uma tarefa digna de um nobre. Em segundo lugar, a tradução de todo em qualquer texto para o latim não era uma restrição ao conhecimento, mas sim uma facilitação do acesso a este. Como assim? Ora, havia tipografia nesta época? Não. Todo e qualquer livro tinha que ser copilado um a um por monges Católicos. Vocês já pararam para pensar que trabalheira seria traduzir e copilar todo qualquer livro para toda e qualquer língua em uma época em que não havia imprensas? Qualquer estudioso da época não precisava saber grego ou árabe para ler Aristóteles. Bastava saber o latim, que este teria acesso toda e qualquer biblioteca em qualquer parte do continente.
E, de mais a mais, os medievalistas se importavam tão pouco com a educação, que nós temos o legado de Hugo de São Vítor, que, aliás, é um grande desconhecido nos cursos voltados ao magistério. E aí, chegamos ao cerne do grande problema. Pior que as comparações de projetos de realidade com realidade, são as comparações e analogias feitas a realidades que se desconhece ou que, se conhece de forma rasa e, o total descaso frente à obra de Hugo de São Vítor mais do que prova que os algozes dos medievalistas, não tiveram nem ao menos a decência de conhecê-los antes de julgá-los.
O pré-conceito Iluminista da “Idade das Trevas” se vê até nossos dias forte e pujante em nossas concepções, mesclado com um profundo historicismo, formando uma teia de confusão juntamente com o pragmatismo e com o materialismo.
Todo pedagogo já leu algum autor marxista ou até mesmo alguma obra de Marx, mas, jamais leu Platão ou Aristóteles. Com toda certeza já leu Paulo Freire, mas nunca um Santo Agostinho ou um Santo Tomas de Aquino. E o pior, é que este desdenha estes Sábios sem ao menos conhece-los o que, aliás, é uma postura típica de nossos dias.
Por fim, é dentro desta perspectiva que procuraremos apresentar alguns breves, mas substancias comentários sobre a história das idéias educacionais e bem como de suas experiências e a partir deste ponto demonstrar que o maior problema da educação nos nossos dias não é a falta de recursos ou a “parca” remuneração dada ao professor pelos seus préstimos, mas sim e basilarmente, que o problema educacional é um problema mal formulado.
3.1 Nos jardins de Acádemo
Uma questão mal formulada jamais nos levará nem a uma nem a meia solução, mas apenas a darmos voltas entorno de nós mesmos o que de fato, vem ocorrendo e muito com o professorado, mas, qual a raiz deste problema? Bem, todo professor para poder lecionar no ensino médio e nas quatro últimas séries do ensino fundamental tem, que passar pelos bancos de uma universidade. Pressupõe-se que este professor tenha sido um universitário, um acadêmico ao invés de um mero estudante de nível superior, correto? Mas afinal o que vem a ser um universitário? O que é ser um acadêmico e, qual a diferença que há entre ambos?
O nome acadêmico era auferido aos freqüentadores dos jardins da casa de Acádemo, onde Platão ministrava as suas lições. Por sua vez, este nome designava uma elite, um grupo de escolhidos, reunida em torno de seu mestre a fim de participar dos diálogos, debates, reflexões e meditações de natureza filosófica e metafísica. Não uma elite como nós compreendemos hoje, como uma minoria privilegiada que detém todos os bens materiais e culturais. A academia de Platão era uma organização exotérica, semelhante a das escolas Pitagóricas onde se tinha uma hierarquia interna a qual designava quem poderia participar de tal e qual lição. Platão julgava que nem todos nasceram aptos para a filosofia afirmando que havia entre os homens alguns com almas de ferro, outros de bronze, uns com uma alma de prata e poucos, com uma alma de ouro os quais, eram aptos a uma vida dedicada a filosofia. Também nos dizia que uma alma de ouro muito bem podia dar a luz a uma alma de ferro e uma alma de ferro dar a luz para uma alma de ouro. Deste modo, Platão reconhecia que nem todos tinham os mesmos talentos, que nem todos eram aptos ao exercício de tão nobre atividade, mas, o que não os impedia de serem muito bem sucedidos em uma outra. Todavia cabe lembrar que a filosofia em seu berço, não era e não é uma atividade de fundo prático, mas sim, de fundo contemplativo, teorético.
Mas, retomando o ponto em que estávamos, vemos hoje as idéias de academia e de acadêmico estarem profundamente depreciadas de seu valor e significação original. Hoje vemos aos acadêmicos de escolas de samba, academia brasileira de letras, academia de musculação e ginástica, etc. Todas estas instituições e este emaranhado de indivíduos que levam o nome de academia e acadêmico em nada lembram a essência da escola de Platão, aliás, distorcem, esvaziando-a de seu significado ontológico.
Doravante, o nascimento das Universidades do século XIII são fruto das Academias nascidas no século V de nossa era e estas sim, fiéis aos moldes da academia platônica, verdadeiros centros do pensar filosófico. Mas todo universitário é um acadêmico? Bem, o nome acadêmico,
stricto sensu,
é auferido apenas aquele indivíduo que fundamente os seus estudos com uma sólida formação metafísica. Chegando a este ponto nos perguntamos, qual a formação metafísica e filosófica que é dada nas universidades hoje ao futuro professor?
Alguns dirão que sim, mas nos perguntamos o que se é repassado como sendo filosofia para os senhores educadores? O pensamento contemporâneo é profundamente infectado por inúmeras pragas da modernidade que são o historicismo, o praxismo, o pragmatismo, o evolucionismo e o imanentismo que perpassa todos estes males. Deste modo, ouvimos definições de filosofia repassada nestes cursos que são ministrados que filosofia tem como função prima formar valores, ou então filósofos do calibre da Filósofa Marilena Chaui que afirmam que a filosofia é um instrumento útil, como a mesma diz:
Qual seria [...] a utilidade da filosofia? Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender o significado do mundo, da história, da cultura for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes. (CHAUI, 1997, p. 18).
Duas concepções perfeitamente contaminadas com as chagas do mundo moderno. Na primeira concepção a filosofia se reduz a um cabedal instrumental para a formação de valores morais e normativos e, no segundo caso, a filosofia além de ter sido reduzida a um cabedal de ferramentas, se transforma em um instrumento distorcido de doutrinação política.
Para uma mente distraída, a definição de utilidade da filosofia acima se faz parecer fantástica, principalmente pelo tom de ironia que a autora apregoa a sua concepção, mas, se nós formos olhar mais detidamente compararmos com a definição clássica de filosofia dada pelos seus mentores, perceberemos que as palavras em destaque acima não passam de um engodo deveras perigoso.
Pitágoras fora o homem quem primeiro fez uso da palavra filósofo para se definir e, certa vez este fora indagado sobre o que vem a ser um filósofo? E este respondeu que um filósofo é como um homem que vai aos jogos para simplesmente assistir o espetáculo e nada mais. Filosofar, antes de qualquer coisa é uma atividade contemplativa. A filosofia é uma postura essencialmente teorética, do grego theorein (esta mesma palavra vem do grego theos – Deus – aí a relação entre o contemplar à verdade e o contemplar a Deus), que quer dizer especular, indagar pela verdade, desvendar o mistério do ser e dos entes. A filosofia é simplesmente a scientia veritatis. Deste modo, a ação, a praxis vem em segundo plano em relação à filosofia e não juntamente com esta. Em outras palavras, a filosofia não é útil, mas sim, inútil, porque esta não tem e nem deve ter um caráter prático, mas sim, contemplativo.
A praxis não tem mistério. Ela põe a trabalhar as leis da natureza ou a manipular a ordem social e pronto. Porém, a postura contemplativa dá ao homem uma abertura ao mistério, àquilo que se oculta por trás do imediato que a praxis tanto preza. Ora, este impulso que guia a alma humana para além do fenômeno deveria ser o princípio norteador de qualquer especulação, pois esta é a atitude fundamental do homem que esta de fronte ao universo. Deste modo, não é de estranhar que as maiores mentes da história da humanidade fossem as de homens tementes a Deus, devido a sua admiração frente ao mistério da vida e de estar vivo.
Assim sendo, filosofar é a busca da verdade, é um caminho pelo qual se procura elevar o espírito ao absoluto, para além da praxis. É se distinguir do profanum vulgus de que fala Horácio. Todavia, distinguir-se não significa uma postura de menosprezo visto que, tal atitude contrariaria de forma verosímil uma pessoa que julga melhor a vida e a realidade das coisas desta. O filósofo procura simplesmente o âmago dos mistérios da existência do universo. Deste modo, podemos afirmar que tal postura pode ser apregoada ao Acadêmico visto que, todo freqüentador do jardim do nobre Acádemo, eram pessoas que vinham ter lições de cunho filosófico e metafísico.
E, para melhor compreender a distorção feita pela filósofa Marilena Chauí e o porque desta distorção, basta que vejamos uma outra citação deste mesmo livro de sua autoria (Convite à Filosofia), algumas linhas acima da citação feita momentos atrás. Diz ela que “Marx declarou que a filosofia havia passado muito tempo apenas contemplando o mundo e que se tratava, agora, de conhecê-lo para transformá-lo, transformação que traria justiça, abundância e felicidade para todos. Merleau-Ponty escreve que a filosofia é um despertar para ver e mudar nosso mundo”.(CHAUI, 1997, p. 18). Mas, para onde foi a scientia veritatis? Para onde foi a postura contemplativa da alma?
Falar isso em nossos dias em um auditório universitário, com toda a certeza causaria profundas e prolongadas gargalhadas, pois uma postura contemplativa é sinalizada como sendo um sinal de alienação da realidade, ou como um indivíduo nefelibático visto que, Marilena Chaui é tida como um ícone para grande parte da comunidade acadêmica. Mas a sua obra Convite à Filosofia está aí, obra a qual parece mais um convite ao marxismo, ou melhor, convite à falsificação do que um convite à filosofia. Cabe lembrar também, que este seu livro fora lançado justamente na mesma época em que a disciplina de filosofia voltou a ser ministradas em alguns Colégios e que, por sua vez está sendo utilizado em larga medida.
Este exemplo por nós levantado demonstra o caráter central de toda e qualquer pedagogia tradicional que, para a qual, o homem antes de qualquer coisa era um ser que se esquece. De Hesíodo a Aristóteles, de Homero a Platão, encontramos constantemente a importância basilar dada à memória no processo educativo. Se indagarmos para qualquer um dos representantes do pensamento clássico quais os fundamentos filosóficos da educação, estes nos responderiam com a breve e cabal sentença para meditarmos: o homem é um ser que esquece.
Para os árabes, desde os tempos imemoriais, o ser humano é definido pela palavra Insan, que quer dizer esquecer. O curioso, é que no Alcorão Sagrado (Taha; 50-52) está que Deus, ao contrário de sua criatura, é aquele que não erra e não esquece. Em tal posição percebemos também na Bíblia Sagrada em Isaías 49; 14-15: “Dizia Sião: æJavé abandonou-me, o Senhor se esqueceu de mimÆ. / æUma mulher olvida a criança de peito? / Não estimará o filho de suas entranhas?/ Embora alguma se esquecesse, / eu jamais te esqueceria.”
Como também percebemos esta visão do homem como sendo um ser que esquece, na cena descrita pelo poeta Grego Píndar. Conta-nos este que o grande Zeus resolve invadir o Caos. Toda a confusão que habita neste começa a se transformar em terra, rios, animais e no ser humano. Após ter concluído a sua obra magistral, Zeus de imediato organiza um banquete para apresentar a sua criação aos demais deuses que atônitos, ficaram a admirar a beleza de sua criação. Todavia, um dos imortais levanta-se e aponta para Zeus um gravíssimo erro cometido por ele na conclusão de sua obra. Este erro era que faltavam criaturas que louvassem e reconhecessem a grandeza divina deste mundo visto que, o homem é um ser que esquece.
Nos dias atuais, podemos dizer que a situação do ser humano enquanto um ser esquecente é mais grave, pois além de ser um ser esquecido, ele se esqueceu que esquece. Como assim? Dando continuidade o mito por nós contado acima, o ser humano foi agraciado pela divindade com a chama do espírito. Este saiu mal acabado tendendo assim ao embotamento, à insensibilidade, ao esquecimento. Deste modo, é a partir daí, desta constatação trágica condição ontológica em que o ser humano se encontra, que se edificará a educação na sociedade ocidental até próximo do advento da modernidade.
E pelos mesmos motivos apresentados pela mitologia Grega e pelas palavras das Sagradas escrituras (A Bíblia e o Alcorão Sagrados), que os grandes pensadores da tradição ocidental consideravam de uma maior importância não as descobertas filosóficas, não o deslumbre com o inusitado brilho radiante do novo, mas sim, a descoberta, o trazer a tona algo já visto, mas que, devido esta nossa condição trágica de esquecimento, acabamos por perdê-la de nossa consciência.
Eis aí a missão mais profunda e mais nobre da educação, que não é nos apresentar algo de novo, de apresentar os antagonismos de classe ou de preparar os jovens para serem cidadãos que façam mudanças no âmbito social, que em linguagem mais clara quer dizer fazer as revoluções. Não, o que há de mais digno no ato de educar é apresentar o que já é sabido, mas que permanecia a nós inacessível, o que é, o próprio sentido da palavra lembrar.
O guiar para fora do ex ducere é justamente este nortear pelo mundo edificado pelas gerações que nos antecederam. É este nativo que é o professor que nos guiará como se fossemos um Indiana Jones a descobrir o mundo que outros seres humanos que nos antecederam nos deixaram, para bem sabermos onde estamos e para melhor escolhermos para onde julgamos ser melhor irmos. Agora, quando o ex ducere se reduz a uma apresentação de algo supostamente novo e que este novo é um caminho para se transformar o que há, vê-se não um guiar para fora, mas sim, um aprisionar.
Como assim? Quando a educação não cumpre o seu papel de lembrar para guiar a alma humana para fora de sua subjetividade e apresenta uma possibilidade subjetiva de mundo como sendo o caminho para o mundo, vemos aí, um profundo e letal engodo, a inversão da categoria da substância com a categoria da paixão. Ora, as possibilidades de mundo são inúmeras pelo simples fato de elas estarem no mundo da imaginação, onde tudo é possível. Porém, não estamos a afirmar que a imaginação seja algo ruim, pelo contrário, consideramos o exercício desta faculdade basilar para o desenvolvimento do raciocínio (ponto o qual trataremos mais detidamente no capítulo 2). O que consideramos letal, é quando um professor irresponsável e iletrado apresenta para uma criança uma concepção de mundo fruto de sua imaginação, e que este mundo em seu entender deve ser transformado em um outro mundo, que por sua vez, também é fruto de sua imaginação doentia que ele chama de utopia, ou de outro que este tenha grande apreço, como sendo o mundo.
E tal postura é uma constante presente nos livros didáticos contemporâneos, bem como nos livros escritos por professores para professores. A pedagogia de hoje não mais é uma pedagogia do lembrar, mas uma pedagogia do esquecimento. Tal postura pode muito bem ser visualizada pela fala de uma supervisora do Colégio Estadual Engenheiro Michel Reydams ao expressar as suas inquietações com a educação e o mundo contemporâneo, onde a mesma dizia: “... professor, eu fico assim preocupada com o que nós devemos ensinar para os alunos, pois hoje tudo muda tão rápido. As informações hoje correm a uma velocidade muito grande que nós não sabemos o que ensinar para as crianças. O que até a pouco era atual, já não é mais...”.
Mas o mundo sempre esta mudando. Às vezes mais rápido, às vezes de forma mais lenta, mas ele sempre está em movimento como nos lembra Heráclito. Podemos comparar o mundo com um oceano turbulento e nós, seres sedentos por conhecer com um navegador (melhor metáfora nos dias de hoje seria impensável). Pois bem, o que leva um navegador não se perder em meio à imensidão do mundo e a não entrar em desespero, não são bons mapas e bons instrumentos de navegação, mas sim saber de onde veio, ter um porto seguro. A preocupação de um marinheiro é sempre com o lugar que ele quer chegar com relação ao lugar de onde ele saiu.
Eis aí a importância basilar do guiar para fora para se saber onde se está e para o que é, e não para onde se quer ir. O querer é uma contingência que por sua vez, é muito volúvel, como as ondas do mar e os vários portos que aparecem em nossa vida.
Todavia, o que a professora faz com freqüência é educar para o volúvel e para o esquecimento. Vê-se isso em sua própria postura frente a determinados assuntos e bem como frente a si mesmo. É típico de muitos educadores ensinar, ou melhor, pregar algo e tomar uma postura totalmente distinta de suas idéias e crer, que ele é o que ele pensa e não o que ele está fazendo, ou como nos falava Jesus Cristo que o pecador é capaz de ver o cisco no olho do outro, mas incapaz de ver a trave que está em sua vista.
Ensinam as crianças que devemos ser honestos e respeitarmos o próximo, mas, vivem envolvidos em intrigas e conspirações uns contra os outros; ensinam que não devemos ser materialistas apesar de só pensarem em seu salário e no seu possível aumento, etc. Um bom exemplo da postura imoral de muitos professores é a Universidade do Professor onde de um local para estudos, acaba por se transformar em um templo a Dionísio, e estes mesmos professores ensinam o que é moralmente correto. Porta-se assim a maioria dos educadores sem perceber que está caindo em uma profunda contradição.
Neste sentido, se volvermos nossos olhos para as sociedades tradicionais, veremos que estas desenvolveram uma pedagogia do lembrar, uma pedagogia baseada na sabedoria dos provérbios dos sábios, na tradição, no amor a verdade, no lembrar. Doravante, o gravar na memória é antes de tudo um ato de amor, como nos lembra Santo Tomás de Aquino que diz que o que não se esquece é o que se faz com solicitude e amor.
Deste modo, lembrar, memorizar algo não é simplesmente um ato de arquivamento de informações, mas sim, e antes de qualquer coisa, um ato de amor. Nós procuramos aquilo que temos apreço, que desejamos do fundo de nossa alma, correto? Como um namoro. Alguém fala a uma outra pessoa que a ama sem a amar realmente? Mas é aí que esta o X da questão. Quando se fala de conhecer, não se está falando de um desejo furtivo, mas sim da vontade mais profunda de nossas almas.
Nós sempre procuramos registrar em nossas lembranças o que nós nos dedicamos com maior apreço, nós procuramos não esquecer as coisas com que mais nos identificamos.
Neste sentido, é salutar uma comparação entre as posturas dos educadores da Grécia Clássica com as dos professores dos dias atuais, no caso, conosco mesmo. áá Cabe lembrar que a filosofia em seu berço não era uma mera disciplina a ser ministrada e o ser filósofo não era uma profissão. Ser filósofo e, deste modo, ser professor, era antes de qualquer coisa uma opção à sabedoria, um estilo de vida.
Para melhor vislumbrarmos como era ser professor na Grécia Clássica, para podermos ter uma idéia do que era a postura de um mestre em Atenas, recorreremos as observações feitas pelo célebre historiador H.I. Marrou, o qual teve um profundo contato com as fontes da época e deste modo, nos deixou um retrato vivo do que era o ensino na Grécia Clássica em seu livro A história da educação na Antigüidade. Fala-nos H.I. Marrou que:
A cultura filosófica confinava-se, na Antigüidade grega, apenas a uma minoria, a uma elite de espíritos que, para assimilá-la, dispunha-se a fazer o esforço necessário. Ela implica, com efeito, uma ruptura com a cultura comum, com sua orientação predominantemente literária, oratória e estética. Supõe até mais: a filosofia grega não é apenas uma modalidade determinada de formação intelectual, mas também um ideal de vida, que pretende plasmar o homem por inteiro. Tornar-se filósofo é adotar um modo de vida novo, mais severo do ponto de vista moral, envolvendo inclusive um certo esforço ascético, o qual se manifesta, de maneira concreta, no comportamento e até no vestuário: reconhece-se o filósofo por sua túnica curta, grosseira e escura. De todos a filosofia reclama, efetivamente, um ideal de vida, que está em oposição com a cultura comum e supõe uma vocação profunda, direi até uma conversão. (MARROU, 1990, p. 324).
Frente a estas palavras, percebemos um fenômeno que nos é estranho que é a idéia de a sabedoria, ou melhor, a vocação a esta, absorver totalmente a pessoa que optou pelo caminho que o levará a ela. Também, logo no início do parágrafo do Sr. Marrou, o mesmo falava com entusiasmo que a cultura filosófica era algo de poucos. Para as mentes embriagadas com o vinho ácido do marxismo, tal postura pareceria já como uma forma de exclusão social, de elitismo, de discriminação e mais outros jargões politicamente corretos seriam atribuídos a fim de condenar a idéia que filosofar não é para qualquer pessoa.
Como assim? O filosofar é um esforço extremo da alma para alcançar a sabedoria, é uma conversão a uma vida dedicada a verdade, correto? Então me digam, filosofar é uma atividade para qualquer um? É obvio que não. Como também não é uma forma de exclusão social afirmar isso visto que, esta postura parte da vontade individual de cada um. Da mesma forma que o boêmio opta em trocar a vida da labuta diurna pela vadiagem noturna, o filósofo troca à vida mundana deste por uma vida dedicada ao caminho da verdade, do amor a sabedoria.
Nos dias de hoje, a noção de hierarquia é estreitamente e unicamente relacionada com a posição sócio-econômica que um indivíduo ocupa, ou com relação a uma ordem de poder político. Com toda a certeza que estes exemplos dados são hierarquias e que, de certa forma são excludentes, mas, cabe lembrar que a nível noológico também a uma ordem hierárquica que por sua deixa, difere das outras duas mencionadas acima.
Nas duas primeiras, o que confere a um indivíduo um posto superior na ordem hierárquica é a sua riqueza ou, a sua capacidade de fazer conchavos e de aliciar as massas por intermédio de seus discursos sofísticos. Uma pessoa numa hierarquia como esta, ocupa uma posição de destaque pelo que ela tem, que por sua vez, este ter lhe faz o que ele é. Este tipo de hierarquia, se assim podemos dizer, é exterior e superficial em ralação a profundidade da alma.
Todavia, uma hierarquia noológica organiza-se com relação ao que o indivíduo é em si mesmo, em sua totalidade. Quando você opta por seguir, por exemplo, uma carreira política, você acaba por se impregnar até as ventas com torpor deste meio e passa a fazer qualquer coisa para obter o objeto áureo de desejo de um político, que é o poder. De modo um semelhante, o filósofo também se deixa invadir pelo caminho pedregoso que é a senda da sabedoria, passando dedicar-se exclusivamente a alcançar o seu objeto de desejo, que é a contemplação da verdade.
Doravante, a duas diferenças basilares entre as hierarquias mundanas e a hierarquia noológica. A primeira diferença é que o caminho a ser percorrido para se acender em uma hierarquia mundana como a hierarquia política, é exterior a alma e deste modo, os obstáculos são construídos por outras pessoas. Já na hierarquia noológica, o caminho a ser trilhado é uma trilha interior e deste modo, os obstáculos que deveremos superar para chegarmos ao cume desta hierarquia são gerados por nós mesmos. Estas nada mais são que nossas paixões e nosso sentimentalismo.
A segunda diferença está ligada à idéia mesmo de hierarquia. No primeiro caso, a das hierarquias mundanas, as posições, sejam elas superiores ou inferiores, só tem o seu significado em relação ao reconhecimento externo. Por exemplo: um governador só o é se tiver o reconhecimento legal e dos próprios governados como este sendo o governador. O diretor de um colégio só é reconhecido como o sendo se tiver o aval do governo Estadual e, por sua vez, o reconhecimento da comunidade escolar. Deste modo, em uma ordem hierárquica como esta, onde toda a sua significação é exterior, vemos o reconhecimento de bons e maus governantes, bons e maus diretores, pois, as pessoas ascendem em uma ordem só pela superficialidade das aparências e não pela plenitude do ser.
Já na hierarquia noológica, o significado, seja este de superioridade a de inferioridade, só existe em ralação a alma da pessoa em relação ao objeto máximo de sua jornada, a verdade. Neste caso, uma pessoa que se dedica a seguir por este caminho, não tem a necessidade do reconhecimento das potestades mundanas para ser tido como um sábio. Basta que o seja, pois, a senda da sabedoria é interior e não exterior. Um bom exemplo disso, é a passagem em que um aceta foi visitar um determinado Papa na Basílica de São Pedro. Chegando lá o maltrapilho aceta, ouviu o Sumo Pontífice lhe diz: “veja meu caro, Pedro não precisa mais dizer que não tem dinheiro algum”.O aceta olha a sua volta e olhado para o fundo dos olhos do Papa e lhe diz: “Agora ele também não pode mais dizer ao aleijado levanta-te e anda”.
Ou seja, a partir do momento em que procurarmos o reconhecimento externo não mais estamos na senda da sabedoria, mas sim do reconhecimento dos bajuladores. Por isso que, para os professores Gregos e bem como para os professores medievais, a opção por este caminho tinha um caráter semelhante, para não dizer igual, ao de uma conversão religiosa, pois um professor antes de qualquer coisa, deveria ser um exemplo de conduta, de retidão.
Um bom exemplo disso, é a história de Pólemon, que certa vez em que estava embriagado, colocou uma coroa em sua cabeça e invadiu a aula do filósofo Xenôcrates. Este, naquele mesmo momento, iniciava uma dissertação sobre a temperança. Este desenvolve a sua exposição de forma magistral que Pólemon se vê diminuído e invadido de uma profunda vergonha, a ponto de abandonar a sua vida mundana e passa a cair nos braços da filosofia a ponto de suceder seu mestre Xenôcrates na Academia.
Outro exemplo salutar do que era ser professor na Grécia clássica, é ode Dion de Prussa. Este era um renomado Sofista que tinha em torno de cinqüenta e cinco anos de idade quando Domiciano o exilou. Dion, em meio às privações da miséria, sofre uma profunda transformação moral, o que leva este a renunciar às vaidades e leviandades da sofística e passa a levar uma vida austera de filósofo.
Diante do acima exposto, podemos refletir sobre a postura do professor e o que é ser professor nos dias de hoje. Nos comparando aos que nos antecederam, no caso específico da Grécia Clássica, vemos o quanto que o ser professor fora reduzido a um mero ofício envolto de mesquinharias.
Poderíamos aqui expor todas as baixarias do magistério é de nosso conhecimento e que, aliás, não são poucas e nem um pouco agradáveis. Poderíamos, mas não iremos fazer isso, pois se tomássemos tal postura, estaríamos tornando estas páginas de um estudo monográfico em um folhetim tão baixo quanto os acontecimentos que aqui seriam relatados e, de mais a mais, já nos advertia Jesus Cristo que não julgueis para não seres julgados. Doravante, todos nós somos cientes das contendas mesquinhas que existem no quadro do magistério e que, muitas das vezes nós mesmos estamos envolvidos. Ao invés de apontarmos para causas externas como sendo o grande mal do sistema educacional em nosso país, esperamos que estas breves páginas procurem nos levar a pensarmos, a refletirmos sobre nossa postura enquanto educadores em relação aos que nos antecederam.
Com toda certeza, por estarmos vivendo em um outro contexto histórico, em um mundo atolado no imanentismo e no praxismo, o que nos limita, impedido-nos de certa forma que nos tornemos almas tão áureas quanto estas. Mas o caminho para a elevação a sabedoria nunca foi e nunca será doce. Nos é difícil que nos tornemos professores tão bons quanto um Platão ou um Aristóteles, mas isso de forma alguma diminuirá o nosso esforço.
3.2 Às sombras das Catedrais
Dando continuidade a discussão desenvolvida páginas atrás, que nada mais é que uma discussão filosófica frente não só ao papel do professor, mas sim, com relação ao ser professor. Para muitos a mera menção a uma moral discussão filosófica de cunho moral já trás certos ares de receio, pois para muitos, desde a ascensão das ciências sociais e consequentemente dos seus sumos sacerdotes, os cientistas, toda e qualquer análise de um fenômeno que parta de um viés moral é tido como uma visão preconceituosa.
Mas vejamos, o que é uma análise moral e, uma análise científica? Bem, ambas fazem suas análises por intermédio de um símbolo interpretativo, que nada mais são que um conceito ou uma alegoria pela qual procuramos entender um fenômeno. A ciência tem métodos direcionados para a análise dos fenômenos físicos e sociais e a moral, métodos para compreendermos os fenômenos noológicos, espirituais. A ciência contemporânea, por sua vez, não se contenta em analisar os seus objetos de análise e se arroga a desbancar a moral, enquanto disciplina filosófica e religiosa para a compreensão do espírito e possível norteamento das almas para este.
Desta maneira, nos indagamos quanto à posição que os cientistas contemporâneos se arrogam com seus métodos é correta, pois estes com seus respectivos métodos, tratam do físico e do social e pretendem, com estes métodos entender e procurar resoluções para os problemas noológicos que afligem o ser humano. Mas, é a carne que se eleva ao espírito ou o espírito que tem que se curvar à carne? Mais uma vez se vê uma catastrófica inversão da ordem dos valores.
Afirmamos isso, pois, cada objeto de nosso conhecimento tem um método apropriado para a sua compreensão. Não há uma genética dos quadrados e das esferas e bem como não há uma geologia dos mamíferos, como nos lembra Edmund Husserl. Quando aplicamos os métodos utilizados para um determinado grupo de objetos em outros distintos destes, o que podemos ter ao invés de um resultado positivo é uma tragédia.
Tragédia a qual nós estamos vivendo dia a dia devido a forte depreciação do conhecimento moral em relação ao conhecimento científico. Um exemplo disso foi o famoso e notório caso da talidomida, medicamento que fora apresentado como solução para as cólicas de inúmeras mulheres. Todavia, o milagre anunciado pelos Sumos Sacerdotes da ciência, nada mais era que um ardil do Inferno. A talidomida aliviava as dores das gestantes, mas, em consequência, gerava efeitos colaterais irremediáveis como o nascimento de crianças com má formações (sem algum membro, sem algum órgão...).
O que gerou esta tragédia não foi à ciência em si, mas sim, a prepotência do pesquisador. Este não tinha como fim último à verdade através do método científico, mas sim, que seu nome ganhasse repercussão dentro da comunidade científica. Tal é o preço que os inocentes tem que pagar pela vaidade dos Sacerdotes da ciência.
Doravante, a tragédia só ocorreu pelo simples fato de o pesquisador que descobriu a talidomida era desprovido de uma simples virtude moral: paciência, para fazer novos testes e verificar se o medicamento era realmente seguro. Este homem de ciência deixou suas paixões serem maiores que o seu senso de realidade e, quando uma pessoa acaba por fazer esta inversão letal, ela acaba por se desviar do caminho da sabedoria, da verdade. De mais a mais, a sabedoria não pode em hipótese alguma ser confundida com a ciência, pelo simples fato de a ciência ser um método que por sua vez é múltiplo, ao contrário da sabedoria, que quando alcançada, se apresenta como um corpo indivisível ou, fazendo uso das palavras de Philippe M.D., citado pelo professor Antônio Donato Paulo da Rosa que nos falam que:
As ciências são necessariamente múltiplas, pois elas aperfeiçoam o movimento da razão; este movimento é especificado por princípios próprios e particulares que são diversos. A sabedoria, ao contrário, na medida em que é a perfeição última da inteligência, é simples e indivisível, mas de uma simplicidade e de uma indivisibilidade completamente diferente daquelas da primeira operação; trata-se de uma simplicidade e uma indivisibilidade de perfeição, análogas à das substâncias separadas e da causa primeira. (Philippe, s/d, p. 530)
No caso, o pesquisador que descobriu a talidomida deveria ter como fim último à verdade, que seria no seu caso, um medicamento realmente eficaz. Como este não tomou esta posição, pecou pela vaidade. E, da mesma maneira que na medicina, percebemos inúmeros casos de talidomidas pedagógicas fruto, da ânsia pelo reconhecimento público, que nada mais é que um grande bajulador. Hoje a categoria de sábio é auferida pela fama e agradabilidade de suas palavras. Hoje, o sábio é identificado de maneira confusa com qualquer um que nos diga o que queremos ouvir. Santo Tomás de Aquino nos afirmava que:
O nome de Sábio, pura e simplesmente, isto é, no sentido estrito do termo, está reservado àqueles que tomam por objeto de sua reflexão o fim ou meta do universo, que constitui ao mesmo tempo o princípio de tudo. É nesse sentido que, para o filósofo, o ofício do sábio é o estudo das causas mais altas. (AQUINO, 2000 – p. 130).
Para o Santo Doutor, o estudo das causas mais elevadas estava relacionada com a compreensão da obra de Deus. Hoje, por sua vez, a causa mais alta e mais nobre que os educadores conseguem vislumbrar para o seu labor é o de transformar a realidade social (em outras palavras, doutrinação marxista), preparar o jovem para o mercado de trabalho treina-lo para o vestibular ou, ensinar-lhe coisas que lhe sejam úteis.
A impressão que podemos ter disso é que o Ícaro da modernidade, em sua prepotência quis chegar tão próximo das luzes da razão que acabou por cair na lama do mundo edificado por seus anseios, por não ter ouvido os conselhos do velho Dédalos, que o advertia que não se deveria querer se aproximar demais do sol, pois seu calor acabaria por derreter a cera de suas asas, o que o levaria a destruição. Ora a verdade deve ser contemplada e não possuída, eis o grande erro da modernidade. Deste modo, podemos comparar a cera das asas de Ícaro com os valores da sociedade. á Podemos dizer que a humanidade vem a cometer pela modernidade a fora, o mesmo erro de Lúcifer que pensava ser a luz pelo simples fato de tê-la. Eis aí o homem moderno.
Doravante, somos cientes de que errar é humano bem como, arrepender-se de seus erros também é uma característica humana. Todavia temos dois tipos de arrependimento que, segundo Benedetto Crocce seriam o arrependimento moral e o “arrependimento econômico”. No primeiro caso, o do arrependimento moral, a pessoa condena um ato seu em si, já no segundo caso, do “arrependimento econômico”, a pessoa não abjura do ato que cometeu, mas sim, apenas das conseqüências deste. Podemos citar como exemplo deste segundo, o caso de um estuprador que violenta uma moça e é capturado pela comunidade sendo, linchado e preso pela polícia. Digamos que ele não se arrependeu do ato em si do estupro, mas sim das conseqüências que ele está a sofrer por não ter realizado o “serviço” de forma mais eficiente.
Deste modo, o que mais percebemos em meio à sociedade e bem como no âmbito do magistério, é esta postura do “arrependimento econômico”, superficial como, aliás, tudo dentro de nossa sociedade, neste nosso mundo desprovido de sentido. Mas, durante a Idade Média nós temos uma postura bem diferenciada em relação ao conhecimento e um exemplo impar de professorado.
Neste período, a religião não tinha um mero caráter privado e pessoal como tem nos dias de hoje, mas sim, de caráter público com grande poder frente aos assuntos que permeavam a sociedade. Pois bem, mas boa parte do que se ensina nas escolas e bem como em muitas universidades a respeito da Idade Média, se vê impregnado daqueles velhos preconceitos Iluministas que identificavam a Idade Média com uma Idade das trevas. Como Cronos, deus do tempo, é o pai da razão, cá esta os dias de hoje para se provar contrário.
Durante este período, devido às incursões das tribos bárbaras e o declínio do Império Romano do Ocidente, o continente europeu mergulha e no Caos e, como é sabido por todos, a sociedade irá, de certa maneira se concentrar no campo. Tínhamos os que lutavam (nobres), os que labutavam (os servos) e os que oravam (o clero). Estes últimos frente as constantes ameaças de conflito entre senhores feudais que havia no início daqueles tempos, fez com que estes, como apreciadores do estudo das letras, a proteger o legado cultural deixado pelas civilizações que os antecederam.
Com a paciência que é característica dos monges, estes começaram a copilar os livros que estes conseguiam salvar e traduzi-los para uma língua comum, que no caso era o latim. O uso do latim não era uma forma de exclusão, como havíamos comentado anteriormente, mas sim como uma forma de facilitar o acesso a estas obras.
Doravante, dentre as escolas dominicais e os professores desta podemos destacar pela sua vida e pela sua obra a escola de São Vítor e, o seu mais célebre representante que foi Hugo de São Vítor. Entre os anos de 1100, data aproximada do nascimento de Hugo e 1300, data aproximada da morte de São Tomás de Aquino, houve uma extraordinária transformação da civilização européia em todos os aspectos, incluindo a vida religiosa, a teologia, a filosofia e a religião.
No início deste período, no ano 1100, São Vítor era uma capelinha situada nos arredores da cidade de Paris. Esta era freqüentada por pessoas que vinham de longe, a fim de fugir do tumulto da vida, consagrar algum tempo para meditar e para orar. Em fins de 1108, um Sacerdote professor da escola anexa da catedral de Notre Dame, chamado Guilherme de Champeaux, transferiu-se para lá junto com vários de seus alunos. Mesmo morando em São Vítor, Champeaux continuou sendo muito procurado tanto pelo seu exemplo como também pelos seus ensinamentos os quais, não deixou de ministrar. Assim nasceu o mosteiro de São Vítor.
Quando Hugo procurou o mosteiro, Guilherme de Champeaux não mais residia nele, pois havia sido consagrado Bispo. Pouco tempo depois, a tarefa de organizar a escola de teologia anexa ao mosteiro seria confiada a Hugo, que passaria a ser conhecido como Hugo de São Vítor. O conjunto de sua obra demonstra que ele elaborou um sistema pedagógico que era um verdadeiro instrumento de ascese em perfeita consonância com os ensinamentos do Novo Testamento, afirmando a necessidade da graça para a prática das virtudes e para a colheita dos frutos que se esperam do desenvolvimento da vida espiritual.
Ele procurou organizar a escola de São Vítor, os estudos e o ensino que eram vividos nesta sem deixar de ser uma escola. Esta, em especial, tinha como meta à santidade. Tal meta não era um mero acréscimo ao que já seria uma escola, como se faz nos dias de hoje nos projetos político pedagógicos, mas era sim, aquilo que ditava a própria essência de sua organização e de seus métodos. Nos dias atuais vemos exemplos como dos Colégios do município de Reserva do Iguaçu (tanto municipais como Estaduais), onde a meta definida pelo corpo pedagógico é a de formar cidadãos críticos. Mas, muitos dos que apontam para uma meta como esta, não sabem o que ela é e muito menos a vivenciam.
As metas dos Colégios contemporâneos bem como os seus projetos político pedagógicos não passam de formalidades, uma maquiagem que procura dar as escolas e a muitos de seus membros um certo ar de seriedade e de comprometimento com a educação.
Pois bem, para Hugo de São Vítor, o estudo era uma forma de ascese espiritual. A educação deveria tornar o ser humano melhor do que ele é. Mas, com o advento da Renascença, a educação passou a ser usado apenas como uma maneira de formar o caráter da pessoa. Esta era a tal da educação humanista. As escolas religiosas continuaram e continuam até hoje a orientar os alunos quanto à vida espiritual, mas, a preocupação com estas questões não mais tinha e nem mais tem um caráter central na formação do indivíduo, mas sim, e meramente secundário.
Mais recentemente, mais especificamente nos dois últimos séculos (XIX e XX), até mesmo uma educação humanística foi deixado de lado e, a educação passou a ter como objetivo maior de sua existência o treinamento do aluno para que este venha a adquirir determinadas habilidades que venham a atender o mercado de trabalho ou para que venham a se tornar eficientes militantes políticos e que deste modo sirvam de eficiente massa de manobra.
Até o fim da Idade Média, a educação tinha como base para fundamentar ûse a tradição, a cultura clássica, as sagradas escrituras. Hoje, ao contrário. A base do ensino e a preocupação basilar dos educadores nos dias de hoje, por sua vez, é para com o imediato, para com o momento e deste modo, o objeto a ser conhecido, os estudos e a sabedoria em si, são os últimos a serem lembrados e os primeiros a serem esquecidos. A educação é esvaziada de conteúdo humano e impregnada de pragmatismo, seja de pulsões revolucionárias, ou seja, de um imediatismo mercadológico.
3.3 O Iluminismo: da morte do espírito à ascensão do totalitarismo
O meio acadêmico, em especial as áreas de humanas vivem hoje mais do ufanismo de alguns nomes do que de idéias. Não precisamos nem nos prolongar em dizer que os Cânones das Cátedras Brasileiras são os filósofos Iluministas e demais continuadores do projeto da Ilustração. Tal apego simpático, afável a um grupo de idéias e, em contrapartida este profundo sentimento de desprezo pelas filosofias que não sejam fruto desta vereda e isso nada mais reflete que a incrível tendência totalitária que há em nosso sistema educacional.
Mas não são os Iluministas que tinham o intuito de livrar a humanidade da barbárie, das trevas da ignorância? Não são os Iluministas que faziam flamejar nos céus os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade? Não são eles os pais do projeto de modernidade? São, todavia esta história é por demais mal contada talvez devido o excesso de plumas e paetês que são firmados nas vestes dos proponentes destes ideais e destes sistemas filosóficos o que torna esta face da história da humanidade, ao invés de uma reflexão sobre o estado de espírito do mundo contemporâneo em um desfile de carnaval com Rousseau como mestre sala do igualitarismo totalitário e Voltaire como chefe da bateria do progresso desmedido.
O sintoma típico da enfermidade da inteligência brasileira (em especial), é o insano sentimento evolucionista e progressista que domina as mentes sonâmbulas, quer dizer, pensantes destas terras ao Sul da linha do equador. Não se para em nenhum instante para se analisar se um sistema filosófico ou científico tem veracidade ou não, pois, no imaginário destas pessoas a humanidade está fadada a caminhar ou para o progresso técnico científico que nos levará a um estado de bem estar absoluto ou que, estamos lentamente caminhando para o Estado socialista, para o fim da luta de classes e para a consolidação do paraíso comunista.
Ora, mas porque não questionar as libélulas filhas do projeto Iluminista? Até hoje os intelectuais, especialmente os esquerdistas, afirmam que para acabarmos com a barbárie que há em nossa volta temos que modernizar a sociedade, investir em educação, etc. Mas, o que é afinal o projeto modernizante proclamado pelos profetas do Iluminismo e quais as implicações deste projeto com relação à organização das sociedades humana e até que ponto este projeto é a luz libertadora, que trará a emancipação da humanidade? Passemos a discorrer um pouco sobre isso.
Uma das principais características da Ilustração foi sua batalha pela secularização do mundo e uma incansável cruzada anti-religiosa. Este, apesar de a maioria ter estudado em colégios religiosos, criticavam a preocupação excessiva que os clérigos davam ao ensino das humanidades. Subjacente a todas estas críticas, que eram auferidas tanto ao ensino secundário quanto ao ensino superior, os representantes das Luzes tinham uma imensa obsessão pelo princípio de utilidade.
Estes julgavam a educação balizada em fundamentos religiosos e humanísticos deveras abstrata. Acreditavam que deveriam substituir esta forma de educação, que no entendimento destes, não servia para nada, tanto para o indivíduo e bem como para a sociedade. Estes defendiam que a educação deveria ser utilitária, que deveria ensinar conhecimentos práticos que estivessem a serviço da felicidade individual e bem como da coletiva.
Como as universidades não propiciavam o que os Iluministas ansiavam, estes em sua maioria acreditavam que ela deveria ser abolida, visto que os únicos saberes que estas transmitiam a sociedade eram fruto da “Idade das Trevas” e deste modo, no entendimento destes, não fariam a menor falta na nova sociedade, no mundo moderno.
Outros procuram reformá-las ou criar novas instituições que acabaram continuando e levando o nome de Universidade apesar de terem mudado radicalmente a sua natureza. Entre estes reformadores, lembra-nos Sérgio Paulo Rouanet que o espírito destas era bem expresso pelas palavras de José II, que havia reformulado a Universidade de Viena, onde o Imperador disse: “Os jovens, nada mais devem aprender que não possa mais tarde ser utilizado pelo Estado”.
O que podemos vislumbrar nesta expressão deste déspota esclarecido? Ora, a cara lavada da modernidade, de sua relação para com o ser humano. O que a Ilustração fez foi acabar com a autonomia das Universidades e subordiná-las e anexá-las ao Estado isso sem falar da instrumentalização do conhecimento acadêmico. A Universidade de um local de preservação do que há de mais elevado na expressão da alma humana foi transformada em uma espécie de "SENAC", de um local onde se oferta uma profissionalização com um canudo de significado diferenciado. A partir desta página de nossa história, as Universidades e bem como as escolas não mais terão um fim em si mesmas, mas sim, terão de ser úteis.
E o que nós vislumbramos nos dias de hoje? Nada mais que isso. Para que possamos averiguar tal afirmação basta perguntarmos a alguns acadêmicos o que os motiva a estarem cursando um curso Superior e eles com toda certeza irão responder: “para que eu possa melhor lapidar minha alma e elevar minha consciência o mais próxima da compreensão do ser absoluta e para melhor conhecer a mim mesmo”.Ora, é obvio que se um acadêmico der uma resposta similar a esta, a educação ainda terá esperança, mas, a dura realidade é que boa parte responderá que está lá para ter uma profissão que lhe provenha o seu sustento de forma satisfatória quando não, terão aqueles que não saberão responder a esta pergunta e sem falar daqueles que estão lá apenas pela diversão que perpassa este local que um dia foi sinônimo de profundo respeito e seriedade.
A única motivação que move os estudantes (futuros professores), a estarem na Universidade é uma preocupação mundana para com o seu sustento, e nada mais. Em outros casos há aqueles que querem mudar o mundo e contribuir de sua forma para a revolução socialista. Deste modo o que vemos é a mais profunda inversão de valores que é bem característico de nosso tempo, da modernidade e que, deste modo, não está a transformar a natureza da educação, mas por via desta, está a transformar a natureza humana de uma forma nefasta e perigosa.
A única preocupação que move uma pessoa a estudar nos dias de hoje é para com o sustento de sua carcassa, com a carne. Apenas raras exceções, dedicam-se aos estudos para um aprimoramento de seu espírito, para se tornar uma pessoa melhorada.
Uma coisa que os Enciclopedistas não se tocaram é que o que nos torna humanos e que nos melhora enquanto tal, não são os saberes práticos, mas justamente estas coisas inúteis que são as humanidades e as religiões. Isso é que nos diferencia dos animais, é esta preocupação com estas coisas que não tem uma ligação direta com o nosso sustento, pois, quando nós reduzimos nossas inquietações existenciais a um mero preocupar-se com o nosso sustento, nós passamos a nos equiparar a um animal. Como assim?
Vejamos um cão. Esta doce e peluda criatura resume a sua vida a necessidades físicas imediatas e, como uma vez um rapaz nos disse (e isso bem exemplifica a decadência da nossa natureza) que: “vida boa é de cachorro. Você nunca vê alguém falar para ele: vai estudar, vai trabalhar, mas sim, vai dormir, vai comer”.Deste modo, e em que nossa educação se transformou? Ora, em um sistema de adestramento de “cães bípedes”. Quando se fala que a educação deve preparar o educando para vida está se afirmando que a escola e bem como a Universidade está preparando seus discípulos para melhor proverem o seu sustento e só, deixando suas almas vagas e frágeis ao relento das compulsões políticas e fúteis que permeiam a nossa sociedade.
A educação, em resumidas palavras, após o advento do Iluminismo foi gradativamente reduzindo as suas preocupações e consequentemente tolindo gradativamente o espírito humano.
Doravante, o Iluminismo vai gradativamente matando o indivíduo e tirando a responsabilidade que este tem sobre si mesmo o que, aliás, é característico do fenômeno totalitário. Mas como assim? Como ousamos macular a imagem dos redentores da modernidade?
Ora, vejamos uma breve menção as palavras do nome mais ufanado dos representantes deste movimento, que no caso serio o filósofo. J.J Rousseau. Afirmava ele que o homem nasce puro e que a sociedade o corrompia, que este nascia livre e por toda parte ele o via agrilhoado. Isso nada mais é que uma inversão summa bonnun para um summa malum. No Livro do Gênese da Bíblia Sagrada estava dito que Deus após ter feito o mundo, olhou para tudo e viu que era bom (Gen. 1; 24), que o mundo, sua obra era boa, summa bonnun, e só depois criou o homem. Não que o homem seja mal. O ser humano não é bom nem mal quando nasce, mas, é dotado de livre arbítrio para escolher entre o bem (a cidade celeste) ou o mal (a cidade terrena).
E o que J.J. Rousseau faz? Ele inverte a ordem das coisas. Primeiro enche a natureza humana de uma beatitude natural e transforma o mundo a sua volta no responsável pela sua degradação. Ele arranca a responsabilidade do indivíduo frente os seus atos e torna o mundo e a sociedade nos responsáveis pela sua corrupção.
Martin Buber nos fala em uma narrativa sua em forma de crônica que ele chamou de Gog e Magog onde se lê:
...Rabi, disse com voz quase sumida, o que há com esse Gog? Ele só pode existir lá fora porque está aqui dentro. Apontava para o seu peito. As trevas de que nasceu não precisam ser buscadas em outra parte, mas sim em nosso
preguiçoso e falso coração
. Nossa traição a Deus fez de Gog o grande paparicado. (BUBER, 1992, p.08).
A beatitude ou a malevolência de uma pessoa não se vê unicamente determinada pelo mundo a sua volta, pois este é apenas um dos fatores condicionantes do indivíduo e não a causa de sua natureza. Por exemplo: algo que já se tornou um jargão inquestionável no meio acadêmico e no meio midiático é o fato de afirmarem que a causa da violência é a miséria, o desemprego, enfim, a desigualdade social. Mas, como que estes explicam o aumento da postura criminosa estar crescendo assustadoramente entre os jovens de família abastada, como o caso dos jovens que atearam fogo no índio Galdino? Como que estes distintos formadores de opinião explicam o fato ocorrido nos EUA, onde jovens de classe média metralharam colegas e professores no colégio onde estudavam? Qual a ligação destes fatos à desigualdade? Ora, se miséria fosse a causa da violência, o sertanejo nordestino seria o indivíduo mais violento da face da terra.
O que vemos nestas ponderações que são tidas como algo inquestionável é que se transforma uma circunstância em uma causa prima. A miséria é uma das circunstâncias em que a violência se manifesta e não a sua causa prima.
Mas, como vemos no mundo pós-Iluminista, o ser humano não mais é responsável pelos seus atos. Se ele comete um crime, a culpa não é dele, mas é do sistema, da sociedade que o oprime. Ele não é responsável pelos seus erros, pois ele tem um trauma causado em sua infância. O ser humano não mais é o centro de si. O que se vê é que todos esqueceram as palavras de São Marcos quando nos lembra das palavras que Cristo nos disse:
...Não sabeis que tudo quanto entra de fora em alguém não o pode contaminar, porque não penetra em seu coração, mas no ventre e vai para fossa? (...) O que sai de alguém é que contamina. Porque é de dentro do coração do homem que saem as más intenções. Prostituições, roubos, assassinatos, adultérios, cobiça, perversidades, fraudes, luxúria, inveja, calúnia, orgulho, insensatez. Todos estes males saem do interior e contaminam o homem. (MAR. 7; 14,23).
Como nos lembra Gustavo Corção, dizendo que a crise não é financeira ou política, mas sim, de fé, e é grave. Após o advento Iluminismo, a religião perdeu o seu caráter central na vida das pessoas passado para um plano secundário deixando de ser um aspecto público da personalidade da pessoa para tornar-se uma mera questão privada, íntima.
Deste modo, a religião gradativamente foi perdendo o seu lugar de mediadora dos homens, passando a existir no seu lugar os tribunais públicos do Estado. Não mais a religião é o símbolo máximo de virtude, mas sim, parafraseando com Hegel, o Estado, este agora é o símbolo máximo da virtude humana.
Por fim, os Iluministas com seu beneplácito sentimento de amor pela humanidade, viam-na imersas em meio à ignorância e suas trevas. Para que este problema pudesse ser solucionado eles idealizam a Escola Pública e, quem proveria este ensino não seriam ninguém senão o Virtuoso Estado. As pessoas até nos dias de hoje tem esta idéia pré-concebida de que a educação é uma obrigação do Estado, mas não se atina para o problema de que um sistema educacional sob o controle de um único grupo de pessoas não é um meio de emancipação do ser humano, mas sim, uma forma de controle e cerceamento.
Todo regime totalitário prometia não a restauração da tradição, mas sim a instauração de um regime que libertaria a humanidade de determinados artifícios que os representantes destes regimes julgavam ser a causa de todo o mal. Uma coisa que as pessoas não percebem é que o processo de modernização sempre se apresenta de forma totalitária e que todos os surtos progressistas geraram holocaustos. Lembremos que durante a Revolução Francesa, mais especificamente na Ditadura do Terror, foram mortos em menos de um ano uma cifra duas vezes maior de pessoas (40.000) que a Inquisição espanhola em quatro séculos (20.000, aproximadamente). Isso sem falar dos grandes projetos do século XX como o Comunismo, que matou em menos de setenta anos mais de 100.000.000 de pessoas. Aliás, se formos contabilizar o número de mortos em nome do progresso da civilização apenas no século XX, a número de mortos passa dos 200.000.000.
O holocausto não é um fenômeno específico do Nazismo, mas sim, de todo e qualquer projeto modernizante. Zygmunt Bauman e sua obra Modernidade e Holocausto diz-nos que:
...O holocausto nasceu em nossa sociedade moderna e racional, em nosso auto estágio de civilização e no auge do desenvolvimento cultural humano, e por essa razão é um problema dessa sociedade, dessa civilização e cultura. A autocura na memória histórica que se processa na consciência da sociedade moderna é por isso mais que uma indiferença ofensiva às vítimas do genocídio. É também um sinal de perigosa cegueira, potencialmente suicida. (BAUMAN, 1998, p. 12).
Nós freqüentemente só vemos o totalitarismo na sua forma extrema e não nós damos conta de suas outras formas e que sempre, antes de ele se tornar uma forma de controle de cerceio da vida das pessoas, ele se apresenta como a libertação para a sociedade em que se promete o paraíso mundano. E o que faz a ciências humanas e a filosofia nos dias de hoje? Qual o conteúdo basilar dos livros de cunho pedagógico que estão a circular no mercado editorial? Qual o conteúdo que há nos livros didáticos que são destinados aos alunos do ensino médio e fundamental?
Tais questões dificilmente serão respondidas, pois os educadores hoje vivem mais imersos em neologismo sem significados pensando que estas palavras soltas sejam um conceito. Ora, o maior ardil do demônio é ter dito a todos que ele não existia e, de mais a mais, como enfatizava Antônio Gramsci, não é necessário que tenhamos militantes fardados para doutrinar as pessoas, basta que ela propague sem o ser e sem saber que o fazem. A coisa que uma pessoa filiada a uma ideologia totalitária mais gosta de ouvir é seus inimigos fazendo uso de seus jargões políticos e assim, gradativamente vai se transformando os valores das pessoas sem elas perceberem.
Com freqüência as pessoas associam a modernidade com uma benção e esquecem que boa parte dos grandes males que nossa sociedade hoje enfrenta não são frutos de resíduos de "barbárie" mas sim uma espécie específica de barbárie que é própria da modernidade em si e, o fenômeno mais característico desta sociedade é justamente a depreciação dos valores noológicos em relação às necessidades práticas do dia a dia.
Mas, o maior veneno espalhado pelo projeto Iluminista foi ânsia igualitária que contaminou até a veia a prática pedagógica e toda e qualquer atividade intelectual. A educação não tem mais como fim último aprimorar o espírito humano, de torná-lo uma criatura melhor, mas sim, de procurar através dela, um nivelamento sócio-econômico.
Aí nos perguntamos onde que está escrito que cultura é um diferencial sócio-econômico? A cultura é antes de qualquer coisa um diferencial individual em não social. Para verificar tal fato basta conversar com uma pessoa de situação financeira mais abastada e você perceberá que este indivíduo é um ignorante, um verdadeiro imbecil presunçoso, mas, com um talento abissal para ganhar dinheiro.
Nivelando por baixo o nível da cultura que era característica das escolas não se obterá uma sociedade com uma renda melhor distribuída, mas sim, uma sociedade mais miserável em termos noológicos. E o que se percebe nas escolas na maioria das vezes é isso. Uma total depreciação da cultura superior em detrimento das manifestações culturais mais esdrúxulas. Um bom exemplo disso é a constante utilização de músicas de Rap nas aulas de história e geografia e que aliás, vem como uma recomendação nos livros didáticos, todavia, não se vê em nenhuma página do livro como recomendação que se toque as Baquianas de Villa Lobos ou a Sonata de Bethowen. Em outras palavras, se em uma seleção de assuntos para compor o corpo curricular de uma escola e, uma seleção desta pressupõe que você esteja selecionando o que se tem de melhor a ofertar, entendemos que o relativismo chegou ao cúmulo de depreciar jóias da música como estas que mencionamos em favor de músicas com letras panfletárias ou, como os sociólogos preferem chamar: músicas com um fundo social.
Mas é justamente aí que reside o problema que levantamos anteriormente quanto ao ensino público sob a tutela do Estado: que a educação pressa ao seu senhorio passa de um caminho para elevação do ser humano acima de sua miserável situação para se tornar um mero instrumental de doutrinação e controle político. É claro que no Brasil dos dias de hoje, não vemos muitos defensores do projeto Iluminista em sua forma original, como o distinto Sr. Sérgio Paulo Rouanet (que foi grande um ministro da cultura) e, aliás, não são estes que estão a depreciar o nosso sistema educacional, mas sim, alguns dos filhos do Iluminismo que são os marxistas que através de seus ardis vão lentamente corrompendo a natureza humana e reduzindo a educação a um instrumental ideológico.
3.4 Qualquer coisa como fim último
Um fato preocupante em nosso sistema educacional é a forte impregnação de cacoetes marxistas nos livros didáticos enviados pelo MEC e a forte presença de gramscinianos no meio pedagógico. A maioria absoluta dos intelectuais que escrevem a respeito de temas educacionais acaba por adotar o conceito de intelectual gramsciniano o qual explicamos páginas atrás, mas para recordarmos, um intelectual para o ideólogo italiano não é quem dedica a sua vida à verdade, mas sim todo e qualquer indivíduo que lute pela causa comunista, seja ele uma pessoa culta ou não. Este pode até ser um mentiroso, uma pessoa que falsifica informações, mas desde que faça isso em prol da revolução. Você pode até falar a verdade, mas se esta a depreciar a longa marcha da revolução, você não será tido como um intelectual orgânico.
Tal conceito que é aplicado largamente por inúmeros intelectuais em livros que são destinados para os professores compreenderem melhor o seu papel enquanto educadores fato o qual é de grandíssimo perigo, pois reduz o conceito de verdade e a sinceridade intelectual em uma mera conveniência para se chegar a um fim segundo desejado.
Mas se não bastasse somente este como um mal inerente ao marxismo-gramsciniano, ele também trás consigo um imenso cabedal de ardis que estão a envenenar o intelecto brasileiro. Primeiramente cabe ressaltar que muitos dos males que são intrínsecos ao pensamento gramsciniano não são privilégio exclusivo dele, mas que além de tomar um tom mais grave que este dá a estas enfermidades da alma, a sua obra além de ser toda traduzida para o português e também, como já havíamos frisado, largamente lida pelos intelectuais que realizam estudos referentes à educação.
Uma primeira característica de seu sistema é o historicismo absoluto, ou seja, a verdade é apenas vista como uma expressão do sentimento de uma determinada coletividade em um determinado momento histórico. Não há necessidade de este sentimento coletivo captar ou não uma evidência objetiva, pois este sentimento vale por si mesmo enquanto o consenso de uma dada coletividade. A perenidade de determinadas evidências neste caso são o maior de todos o sacrilégios visto que é típico se encontrar nos textos de intelectuais e nas falações tanto de professores Universitários e bem como nas do ensino fundamental e médio o conceito de verdade entre aspas. Para Gramsci e seu historicismo basta que o discurso esteja em consonância com uma referência, mesmo que esta seja falsa ou ilusória basta para que seja aceita como verdade.
Para que melhor percebamos o perigo que isto implica vejamos um breve exemplo que pode vir a ocorrer em um cotidiano escolar: um grupo de alunos resolve organizar-se em uma gangue e começa a traficar dentro do colégio e resolvem estuprar e matar uma colega deles, ou melhor, uma possível cliente deles. Sob o ponto de vista historicista de Gramsci eles estão certos ou errados? Certos, visto que era do consenso de sua coletividade fazer isso. Ou então, estavam certos os alemães ao matarem 20.000.000 de pessoas nos campos de concentração? Estavam certos os membros do Kimer vermelho ao terem matado mais de 1.000.000 de seus compatriotas para instauração do regime político que eles propunham? Estavam certos os jovens que atearam fogo no índio Galdino? Se pensarmos e se ensinarmos nossos alunos a pensar desta forma, dentro em breve toda e qualquer atrocidade será aceita como sendo normal visto que a verdade não será vista como uma evidência objetivamente válida, mas apenas como uma mera convenção entre determinados membros de um grupo, pois para este tipo de pensamento a verdade não se procura, mas se fabrica como uma desculpa que um menino dá a sua mãe quando ela o obriga no colégio.
Doravante, um segundo ponto que é característico da estratégia de Gramsci é que o sujeito ativo do conhecimento não é a consciência individual de cada sujeito, mas sim, a coletividade. Para ele, o intelectual coletivo é representado pelo proletariado e mais especificamente pelo partido. Deste modo, o sujeito nunca procura ver os fatos de acordo com a sua consciência individual, mas sempre em relação ao partido ou, ao grupo ao qual ele faz parte. Mas qual o mal disso? Ora, o que nos faz perceber se estamos agindo de forma correta ou errada é nossa consciência judicativa individual e não um suposto intelecto coletivo. Este por sua vez serve de respaldo para que se cometa toda e qualquer atrocidade visto que ele ao invés de refletir e julgar suas atitudes passa a justificá-las através deste sujeito coletivo. Cabe apenas nos perguntar o que leva um grupo de pessoas a matar outras pessoas em nome de uma causa? Perguntemos o que levou inúmeras crianças chinesas a entregarem os seus pais e familiares ao governo totalitário de Mao Tse Tug?
Ora, pensar é um ato solitário como nos lembra Hugo de São Vítor. Quando nos entregamos à nostalgia das multidões, não paramos para refletir sobre o que estamos fazendo, apenas fazemos. Não se há tempo para se medir as conseqüências dos nossos atos e quando se pára para fazer isso, muitas das vezes já se é tarde de mais.
Em seguimento não temos nas suas propostas uma tese concreta, mas apenas uma mudança repentina que acabam por levar as pessoas a verem as coisas de uma maneira diferente. Não se faz uso de uma argumentação racional, mas sim um apelo sentimental. Tais apelos levam a pessoa de repente se sentirem como um membro de um grupo, de uma coletividade. Um bom exemplo disso foram as recentes propagandas televisivas do partido dos trabalhadores (PT), onde primeiramente se mostrava uma cena alegre onde jovens de classe média estavam para sair à noite e de repente uma das moças fixa o seu olhar para a imagem de uma mendiga sentada na rua a amamentar uma criança de colo e ambas, aos trapos e imundas. A moça fica imersa em silêncio e depois aparece um senhor de barba grisalha, de calça e camisa de aspecto jovial e diz: “se cenas como esta tocam você, você também é meio PT”.
Em outras palavras, apelou-se para o emocional e procurou identificar este sentimento como algo característico de um determinado grupo. De mais a mais, estas não são característica exclusiva dos petistas. Se sensibilizar com a tragédia humana é sim uma característica de qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade.
Um quarto item é a revolução cultural. Através deste artifício pretende-se transformar a forma das pessoas verem o mundo e as suas opiniões levando-as a vestirem-se com jargões vazios de significado sem perceberem o ocorrido. Quando a este ponto, o filósofo Olavo de Carvalho nos diz que os seguidores e proponentes do projeto gramsciniano pretendem:
... inaugurar um novo cenário mental para a humanidade, no qual todas as visões e opiniões anteriores serão implicitamente invalidadas como meras expressões subjetivas de um tempo que passou. Como, de outro lado, a nova cosmovisão também não se apresenta como verdade objetivamente válida e sim apenas como expressão de um “novo tempo”, já não se pode confrontar as idéias de hoje com as de antigamente para saber quem tem razão: o critério de veracidade foi substituído pelo da “atualidade”, e como toda época é atual para si mesma, cada qual constitui uma unidade cerrada, com suas idéias que só são válidas subjetivamente para ela. Platão tinha as idéias do "seu tempo"; nós temos a do "nosso tempo" cada um na sua. (CARVALHO, 1996).
Doravante, o tempo torna-se a dimensão absoluta da realidade, acabando assim com qualquer valor perene e mesmo com a dimensão eterna da natureza humana. Neste estado a pessoa não consegue mais olhar para além do empírico. Seu horizonte se reduz a uma visão imediatista da realidade balizada em uma história falseada com artifícios retóricos a fim de justificar as atitudes coletivas. Não há mais as categorias de universais, mas apenas de grupos subjetivos que se pretende como a categoria universal. Para se melhor compreender o tamanho da loucura que é reduzir todas as dimensões do conhecimento humano ao apenas empírico e temporal, cabe como uma luva de pelica, diga-se de passagem, uma passagem do filme O Contato, onde a cientista estava a conversar com o velho amigo teólogo. Falava ela para ele que ela não conseguia crer em Deus, em um ser eterno devido a sua formação científica (cientificísta na verdade), o que levava a ela crer apenas no que pudesse ser provado empiricamente. Em contrapartida o teólogo lhe pergunta se ela amava o seu finado pai e sua finada mãe. A cientista responde que sim e aí, o teólogo lhe faz a pergunta desconsertante: prove-me?
Ora, a natureza humana não se reduz ao tempo e ao espaço, ela vai além, brandindo o eterno e o infinito. Deste modo, o materialismo dialético não respondeu e nem tem respaldo para responder as questões mais inquietantes levantadas pela filosofia e pela metafísica, pois não trás uma compreensão mais abrangente da natureza humana, mas sim a reduz. Tapa o sol com uma peneira para que a visão das formigas fique mais clara, mas esquece-se que o sol continua sob nossas moleiras a cozinhar nossos miolos e a brilhar como o mais complexos mistérios que hoje, passamos a desprezar.
Isso sem falar da descomunal insensatez de afirmações como esta no livro didático Brasil: uma história em construção, onde podemos ler as seguintes palavras:
O ensino de História não encanta as crianças porque está distante da realidade...Maria Inês Lemos Soares, paulista que dá aula na rede de Belo Horizonte (MG), assegura que os alunos vêem a História como privilégio de um setor da sociedade: æo herói é uma pessoa superior, inteligente, competenteÆ, como diz uma aluna... Aos homens comuns não é dada a oportunidade de fazer História. Eles não aparecem nas narrativas. Os alunos se consideram homens comuns. Não são sujeitos da história narrada. Para que se interessar? (MACEDO & OLIVEIRA, 1996, p. 09).
Primeiramente perguntamos o que atrai as crianças em um conto de fadas? O que atrai as crianças para lerem os gibis da turma da Mônica? O que há no pokemom que atrai a atenção das crianças? Com certeza, se formos seguir o raciocínio dos autores do livro didático é porque os enredos destas histórias fictícias têm uma ligação direta com a realidade das crianças. É obvio que não é isso, mas o que mais chama a atenção no fragmento extraído deste livro didático é a afirmação de que as crianças não gostam de história porque os heróis são sempre alguém superior, nunca há o homem comum representado como herói nos livros de história.
Bem, se um homem comum é apresentado como um herói ele já não mais é um homem comum mais sim um herói por este ter prerrogativas que o diferenciam dos demais seres humanos. Em segundo lugar, os alunos não procuram se identificar com personagens que sejam como ele porque este quando procura um herói, está à procura de um arquétipo, de um mito guia, de um exemplo para seguir e deste modo, este exemplo deve ser representado pelas expressões mais elevadas da espécie humana.
Doravante, o que vemos claramente no texto citado é uma forte doutrinação marxista-gramsciniana. Confronta-se no texto “nós, os homens comuns” e eles, “os heróis” que nos excluem da história. Esta é uma forma sutil de se tolir a mente tenra de crianças que estão na idade da inocência começando a descobrir a vida. Afirmam os autores que os alunos não se vêem identificados na história narrada. Mas isso é obvio. Ninguém se vê como é em uma história ou em um romance como se é na realidade, pois não estão falando diretamente de nossas vidas, mas sim de algo que ocorreu (no caso do livro de história) ou que provavelmente nunca ocorrerá (no caso do romance). Pelo contrário, freqüentemente nós nos identificamos com os personagens ou não? Quem ao ler o romance de Alexandre Dumas Os três mosqueteiros, não se identifica com um de seus personagens? Quem ao ter lido algum livro sobre as cruzadas, não se identificou com os cruzados, ou com os mouros, ou com um servo no seu cáustico sofrimento?
De um jeito ou de outro nós sempre acabamos por nos projetar na imagem de algo que nos agrada, mas aí é que esta o caráter maligno do texto, pois, o único questionamento é que as pessoas comuns (leia-se proletariado) nunca são sujeitos da história, mas em nenhum momento se questiona a veracidade das história que é representada pelos heróis superiores. Por que? Pelo simples fato de o que se dá para entender é que a veracidade não ser considerada uma categoria necessária para se fazer uma análise histórica, basta que as pessoas comuns sejam pintadas como vítimas do mundo e as elites como potestades das trevas que já está bom. Não que sejamos defensores das elites, mas julgamos que não é a classe social que a pessoa pertence que irá determinar se a pessoa é boa ou má como roga o direito alternativo de Lénin, mas sim, os seus atos e a sua pessoa.
Um outro bom exemplo de manipulação psicológica nos livros didáticos é este trecho extraído do livro A nova Geografia de Demétrio Magnoli e Regina Araújo (ambos da USP). Vejamos a descrição que os autores dão do Cristianismo:
A Igreja Católica foi à instituição mais poderosa do Ocidente durante o feudalismo. Além de ser uma grande proprietária de terras, ela praticamente detinha o monopólio do conhecimento, com o qual exercia um domínio espiritual quase absoluto sobre as populações. A autoridade papal pairava sobre a autoridade da nobreza, regulava as relações entre senhores, vassalos e servos e institucionalizava as relações amorosas. As heresias eram punidas com a fogueira. Ainda hoje o cristianismo é a religião predominante em muitos dos países ocidentais da Europa. (CARVALHO, 2001, p. 02)
Muitos dos erros, ou melhor, das manipulações feitas no livro já foram por nós levantadas casualmente em laudas passadas, mas, o mérito da análise deste livro didático não é nosso, mas sim do Sr. Álvaro Velloso de Carvalho (ensaio n. ° 76 de 31/08/2001, intitulado A geografia do anticapitalismo), redator do Jornal virtual O INDIVÍDUO (www.oindividuo.com). Em sua análise perspicaz o mesmo constata que:
...Há pelo menos um erro por frase nesse parágrafo: a confusão marxista grosseira entre Idade Média e feudalismo, a confusão entre causa e efeito no “monopólio do conhecimento” (isto acontece exclusivamente porque os intelectuais eram cristãos, não por uma determinação absoluta de papas malignos – além do pressuposto absurdo de que não houvesse divergências entre os intelectuais medievais), a noção de que a autoridade papal dominava a Europa no mesmo sentido que um governante moderno domina um espaço territorial (simplesmente não havia meios de “imposição” de uma autoridade, no mesmo sentido que a entendemos hoje; vale acrescentar que os autores escrevem isso depois de, num capítulo anterior, terem reconhecido – corretamente – que no período medieval não existiam Estados, porque não havia a noção de soberania e o poder era inteiramente descentralizado!), a idéia de que a Inquisição é um fenômeno medieval e inteiramente subordinado à Igreja. á (CARVALHO, 2001, p. 03)
Cremos que este breve exemplo demostra o quanto que nosso sistema de ensino está impregnado de um profundo sentimento maniqueísta e que as trágicas conseqüências passaremos a colher no correr dos anos visto que, o próprio Gramsci afirmava que não se é necessário tomar o poder por vias revolucionárias, mas sim de forma gradual, ocupando lentamente os espaço das universidades, dos meios de comunicação, de setores do governo, da educação para lentamente ir mudando os valores sem que as pessoas percebam. Em outras palavras está se fazendo uma verdadeira lavagem cerebral nas cabeças de nossas crianças e jovens e ninguém percebe, aliás, vêem como sendo algo positivo.
Por fim, se deixarmos a educação continuar por esta senda, dentro em breve estaremos diante de um ADMIRÁVEL MUNDO NOVO ou quem sabe uma ILHA ou, na pior das hipóteses um retorno a 1984.
4 O ENSINO CONTEMPORÂNEO E A MORTE DA ALMA HUMANA
Roga a mitologia que certa vez um o Grande Rei Artur havia se ferido mortalmente ficando imobilizado em seu trono, a definhar dia após dia. Todos estavam desesperados a procura de um ungüento para recuperar a saúde do Rei até que surge um rapaz que respondia pela graça de Percival que se aproximou do Rei e lhe perguntou: — Majestade, onde está o Santo Graau? O rei mais que depressa se levantou curado.
Quanto ao assunto que estamos a tratar neste ensaio monográfico, esta breve fábula tem muito a nos dizer quanto ao que consideramos o grande problema da educação nos dias de hoje. Impera no magistério e bem como nas opiniões que vinculam nas mídias, a idéia de que tudo é relativo, que todo ponto de vista é válido e que deve ser aceito, pois não haveria uma verdade absoluta, mas apenas um emaranhado caótico de verdades relativas que nem a si próprias se sustentam, que o digam uma civilização.
Encontramos no mercado editorial brasileiro, uma infinidade de publicações direcionadas para o professorado desde autores brasileiros até estrangeiros que no caso, seriam as últimas modas. Se há tantas publicações deste gênero no mercado editorial produzida pelas cabeças pensantes nas Cátedras que para uma pessoa de mente despreparada fica difícil distinguir o que seja uma boa obra pedagógica e uma má. Alias, já há muito que o público leitor não sabe distinguir uma obra de literatura e uma obra para-literária visto os possíveis candidatos à cadeira deixada pelo saudoso Jorge Amado.
Para os educadores atuais julgarem um livro que aborde supostos problemas pedagógicos este tem que conter aqueles jargões que nós muito bem conhecemos como: escola cidadã, pensamento crítico, lutar contra o sistema perverso, necessidade de utopias, o neoliberalismo malvado, o governo é o maior culpado, burguesia safada, conservador, reacionário, revolucionário e muito outros mais, mas, estes são os topos mais expressivos que habitam o senso comum na literatura direcionada aos educadores e que permeiam os discursos midiáticos.
Mas, eis a questão que não quer calar, o que vem a ser um topus? Topus é um lugar comum da linguagem que é utilizado pelas pessoas que quer dizer tudo sem falar nada. Como assim? Certa vez um rapaz relatou-nos que em uma aula de um curso de graduação após ele ter feito a exposição de seus argumentos, uma distinta colega sua o chamou de alienado, mas, logo em seguida, este mesmo rapaz interrogou-a e ao público presente na sala: o que vinha a ser alienação? O que significa ser alienado? É obvio que a senhorita não sabia o que era alienação e isso é típico no meio pedagógico. Além de sermos muitas das vezes especialistas em coisas que nunca vimos, expressamos este nosso suposto saber com palavras e conceitos que não compreendemos.
Um outro bom exemplo de topus é um acontecido que houve com o redator destas mal fadadas linhas. Em meio a um curso de extensão, o ministrante do mesmo sempre após ter ouvido um argumento da autoria deste rapaz, sempre no começo de sua resposta começava afirmando: "Mas isso é uma idéia reacionária..." e só após apresentava a sua resposta que muita das vezes, para não dizer todas, nada queria dizer quanto ao que havia sido exposto pelos argumentos anteriores. Todavia, a palavra reacionária, como um bom lugar de uso comum, sempre remete a algo vago e no caso desta palavra, há algo ultrapassado e desumano logo, uma pessoa de mente despreparada após ouvir a taxação feita pelo professor ao argumento do outro como sendo reacionário, já o desqualifica automaticamente.
E já que falamos de alienação, os educadores que tanto falam e ensinam que nossa sociedade é alienada, que as pessoas de modo geral vivem de forma sonsa a se baterem umas nas outras, não se percebem que eles são em si, uma multidão de alienados. Mas o que vem a ser alienado? O conceito Alienado vem do latim
alienatio
que quer dizer desconhecer. Deste modo, vejamos o que vem a ser este desconhecer.
Todos nós desconhecemos muitas coisas, isso é obvio, mas, este nosso desconhecer para muitos passou a servir de muleta para justificar a manqueira de sua ignomia. Neste emaranhado do não-saber há vários níveis de desconhecimentos que, não são mensurados pelo que você não sabe, mas sim, pelo que você realmente sabe, pelo que você realmente conhece. Mas, o que seria este realmente conhecer?
O filósofo espanhol Xavier Zubiri nos ensina que para que nós realmente possamos afirmar que conhecemos algo não nos basta saber discernir um objeto de outro, mas sim, faz-se necessário que nós saibamos definir o que é este objeto. E mais, não nos basta saber definir o que é este objeto, mas também nos é exigido que nós o compreendamos, que nós o entendamos em seus meandros. Isso é que é conhecer algo realmente. Para averiguarmos este nosso suposto saber das coisas nos perguntemos: o que é este tal de construtivismo? Não procuremos discerni-los apenas, procuremos defini-lo de forma clara, o que ele é em sua essência? Se conseguirmos passar com louvor por esta parte do exercício, procuremos entender os seus meandros, procuremos definir os conceitos utilizados pelos autores construtivistas, vejamos se nós sabemos quais os autores que influenciaram os autores/educadores construtivista na construção de seus conceitos? Haverão aqueles que julgaram tal exercício um absurdo devido a sua complexidade, mas, é isso que realmente é conhecer algo.
Cada conceito, cada sistema filosófico deve ser entendido na sua lógica e das contradições de sua construção e não na lógica e nas contradições que o leitor acredita ser a correta e que alias, acredita ser sua. Quando não há a presença deste entendimento das coisas, o caminho a se trilhar é de erros e auto-engano que é justamente o caminho do relativismo absoluto que contamina as nossas cátedras e bem como todo o sistema educacional.
Um exemplo dos absurdos relativistas presentes em nossa sociedade e que, aliás, é o retrato fiel da loucura que habita a alma brasileira. Em uma oficina pedagógica pelo autor deste estudo monográfico, uma professora deu a cada um dos presentes uma folha de papel sulfite A4 e após isso, leu a descrição de um animal sem dizer-nos o seu nome e pediu que nós fizéssemos um desenho do suposto animal descrito e identificássemos que animal era este. É obvio que ninguém acertou que animal era e que praticamente todos fizeram uma descrição e um desenho diferente do outro. Aí a professora após ternos revelado o que era o dito animal (um porco do interior da África), passou a nos falar na riqueza de informações produzidas por nós devido as diferentes percepções que fizemos do suposto animal.
Riqueza? Eis aí a loucura do relativismo absoluto. A verdade objetiva era apenas uma, que o animal da descrição lida era um porco do interior da África. Todas as outras descrições feitas pelos presentes não passavam de ilusões de percepção que não enriqueceriam e não enriquecem em nada a compreensão do animal. É uma brincadeira divertida que nada mais e nada menos nos mostrou que em nossa sociedade atual, um conhecimento objetivo tem o mesmo valor que uma ilusão subjetiva. Nós passamos a colocar em um mesmo patamar a ilusão e a verdade e muitas vezes passamos a colocar as ilusões no lugar da verdade.
E aí está a importância da pergunta fundamental levantada por Percival ao Rei: onde esta o Santo Graal? Mas o que isso quer dizer? Nós, do mesmo modo que os súditos de Rei, assustados com os problemas gerados por uma enfermidade que estava a levar o reino para decadência, ficamos prestando demais atenção nos sintomas da doença, nos fenômenos decorrentes da enfermidade e nos esquecemos de procurar a causa da doença e foi isso que o jovem Percival fez, perguntou sobre o paradeiro do Santo Graal e pronto. As demais inquietações e questões levantadas não passavam de ilusões, de questões mal formuladas como nos lembra o historiador Lucian Febrve. Uma questão bem formulada já em si nos traz a resposta para as nossas inquietações, mas uma questão mal formulada de nada nos ajudará, apenas fará que fiquemos a dar voltas ao redor de nós mesmos.
E é isso que vem ocorrendo com a nossa educação e nossa sociedade. Ficamos a dar voltas entorno de nós mesmos sem sabermos ao certo qual a causa das dores que sentimos. Digamos que os educadores e a sociedade de modo geral agem como um adolescente que perdeu o seu tão precioso boné e sem formular um problema de forma correta e objetiva, ele sai pelos corredores do Colégio e coloca em sua cabeça o primeiro lixeiro que vê pela frente como se fosse realmente o seu tão amado boné.
Um outro bom exemplo desta loucura é a campanha "eu sou da paz", onde se propõe o desarmamento da população civil para diminuir a criminalidade. De que adianta o cidadão se desarmar sendo que quem causa a criminalidade
"jamé"
irá entregar as suas ferramentas de "ofício". Tal campanha nada mais faz do que entregar as ovelhas na toca do lobo mau.
A postura de uma relativização absoluta dos saberes não nos leva simplesmente a não acreditar na existência de uma verdade, mas sim, a acreditar em qualquer coisa. Toda e qualquer opinião sobre um dado assunto passa a ser aceito como sendo válido. Não temos nada a contrariar ao direito de livre expressão de opiniões desde que, se tenha uma opinião sobre o determinado assunto. Como assim? Ora, se você vai expressar uma posição sobre um determinado assunto faz-se necessário que você conheça realmente o assunto, não é? Pois bem, o que ocorre em nossa sociedade? Justamente o contrário. As pessoas falam pelos cotovelos e com ares de Douto no assunto sem ao menos ter lido uma obra sobre o assunto em pauta, sem ao menos ter interrogado uma pessoa que realmente conheça o assunto. As pessoas muitas das vezes assimilam um cacoete mental, um jargão, e saem defendendo teses e projetos de sociedade que nem ao menos conhecê-la. Ou vão dizer que estamos a levantar falso testemunho?
Para não passarmos por mentirosos, elegemos um exemplo desta insanidade de nosso dia a dia que foi experimentada pelo autor destas linhas em uma palestra com uma Professora Doutora. Esta professora afirmou que Sócrates e seus sucessores (Platão e Aristóteles) defendiam que bastava que um discurso apenas tivesse a sua coerência interna para ser aceito como verdade. Que não importava se os fatos o desmentiam, o que era importante era apenas que ele tivesse uma coerência interna e pronto.
Ora, mas se estes grandes nomes da sabedoria humana e em princípio Sócrates defendia tais idéias, porque que ele haveria de combater os Sofistas? Se Sócrates não se se preocupa com as contradições dos argumentos mal formulados por que ele haveria de ter sido condenado a morte pela sociedade de seu tempo? Se Platão também compartilha-se de tais idéias porque ele haveria de afirmar a existência dos eidos, das idéias perfeitas, onde o mesmo dizia que tudo que existe neste mundo não passa de uma cópia imperfeita do mundo das idéias perfeitas? Se Platão não se importava com as contradições e as posturas dos homens e não acreditasse na existência de um conhecimento superior por que então, ao prestar serviço ao um Tirano da Sicília, acabou por ser vendido como escravo?
Ora, esta professora em questão apenas fez uso de suas atribuições para falar o que bem entendia e sem o devido conhecimento de causa. E, se uma Doutora em educação faz tamanha agressão ao conhecimento humano, imaginem o que ocorre nos andares inferiores do reino de Avelã? Desconhecemos nossa fala e consequentemente a nossa própria alma.
Se nós não nos conhecemos por inteiro, ou melhor, se nós somos incapazes de nos conhecer como podemos conhecer o outro (o mundo)? O ser humano nada mais é que um microcosmo, um reflexo do cosmo, uma parte dele. Como podemos conhecer o cosmo sendo que desconhecemos o microcosmo de nossa alma? Se nossa alma se encontra em situação caótica jamais conseguirá compreender o cosmos. O entendimento do mundo começa com o entendimento de nós mesmos e apenas desta forma.
Contemporaneamente muitas pessoas por não compreenderem a si mesmas e muito menos o mundo a sua volta acabam por aderir a uma ideologia política, a um movimento messiânico na tentativa de mudar o mundo a qualquer preço, nem que se tenha de eivar várias vidas humanas. Mas espera aí, como que se pode querer mudar algo que se desconhece? Como que pode alguém julgar algo ruim sem conhece-lo (o mundo e a sociedade no caso) e querer transformá-lo em uma sociedade idealizada, ou seja, em uma sociedade que ele também desconhece, mas mesmo assim julga ser melhor que a atual que ele também desconhece e que a condena como sendo ruim?
Toda alma irada e desejosa de transformar o mundo a qualquer custo sem conhece-lo e sem conhecer a si mesmo não deseja tornar o mundo melhor mas apenas transforma-lo a imagem e semelhança de sua vaidade e de suas paixões. E o pior de tudo é que isso é ensinado por muitos educadores como sendo a mais alta virtude. A impressão que temos é que as pessoas vivem em uma euforia pós 68, na ânsia de uma liberdade sem fim para o indivíduo e o fim da "tirania" das regras, valores e tradições por nós herdados. Mas, como nos explica com sua sabedoria ímpar, o professor Olavo de Carvalho que:
O individualismo, em si, não tem sentido, porque a individualidade humana não é causa sui: ela depende de um quadro cultural e político que, justamente, só as tradições podem criar. Vocês podem averiguar, historicamente, que a consciência de individualidade humana, como a conhecemos hoje, esteve ausente em toda a humanidade anterior ao cristianismo. Um primeiro vislumbre surge na Grécia, mas só entre intelectuais (é o assunto do livro maravilhoso de Bruno Snell: A Descoberta do Espírito). Solta a si mesma, a individualidade se decompõe em fragmentos cada vez menores e se dissolve atomisticamente nas forças ambientes. O máximo de liberdade aparente conduz aí à total escravização. A reivindicação de total liberdade é uma reivindicação de poder total, é um paroxismo de auto-exaltação narcisista que termina em impotência, loucura e crime. Estudem a vida de William Burroughs, o ídolo da Beat Generation dos anos 50, que começou reivindicando a total liberdade, passou à prática contumaz da pedofilia e terminou estourando o cérebro da própria esposa numa brincadeira de Guilherme Tell com um revólver calibre 38.[...] [
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]
E mais, o ser humano em sua reivindicação de plena liberdade acaba por cair em um profundo niilismo e acaba por se apegar ao primeiro projeto de sentido de vida que lhe apresentarem o que ele procura que por sua vez, apresentar a possibilidade de construção de seu mundo de liberdade total. Uma pessoa neste estado não age em relação à realidade em si, mas em relação a sua utopia em si. Dá para compreender a magnitude dos males que isso pode causar a longo prazo? O ser humano sempre anseia pelo absoluto, isso é fato e saudável, pois a procura da verdade nada mais é que isso, a procura pelo absoluto. Mas coisa totalmente oposta é se afirmar como sendo absoluto e tal postura se faz presente em nossa sociedade de forma abissal.
Esta supra valorização das emoções, dos desejos carnais, da malícia como critério de verdade, do hedonismo, etc., nada mais é que o sinal de decadência de uma civilização. Quando o indivíduo nega o absoluto, que é o que o relativismo absoluto traz, ele passa a negar a si mesmo. Como assim? Quando o indivíduo está a reivindicar a sua liberdade absoluta ele não está a procurar uma elevação noológica, de seu espírito, mas sim, uma afirmação absoluta de suas fraquezas e limitações. O indivíduo não se obriga a se elevar a si mesmo, mas apenas se entrega ao seu deleite.
Mas, como que isto é ensinado aos nossos jovens? Ora, pela simples afirmação de que toda forma de saber é válido visto que tudo é relativo. Se debruçar sobre os livros e procurar compreender as formas passou a ser taxado de decoreba pela pedagogia moderna e é assim que se ensina a uma criança que os valores e saberes que a civilização levou seis mil anos para edificar não passam de bobagens.
Jovens revoltados com o mundo sempre ouve e isso, por sua vez, não é o maior de nossos problemas. Talvez seja salutar lembrar algumas passagens ilustres da Sabedoria humana para melhor entendermos que não é o jovem revolto com a sociedade injusta e muito menos esta, que estão levando a nossa civilização ao colapso total. Sócrates nos dizia que: "Nossa juventude adora o luxo e é mal educada, caçoa das autoridades e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não levantam quando uma pessoa idosa entra, responde seus pais e são simplesmente maus”.(PADILHA; 1978, p. 17) Por sua vez, Hesíodo afirma-nos que: "Não tenho mais esperança no futuro de nosso país, se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque essa juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível”.(PADILHA; 1978, p. 17) Já um Sacerdote Egípcio nos fala da juventude de sua época como se: "Nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os pais”.(PADILHA; 1978, p. 17) E por fim, um sacerdote da Babilônia nos diz que: "Esta juventude está estragada até o fundo de seu coração: os jovens são malfeitores e preguiçosos. Eles jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje será incapaz de manter a nossa cultura”.(PADILHA; 1978, p. 17).
Esta juventude barulhenta sempre houve e sempre haverá. O problema maior é que cada vez mais encontramos menos pessoas maduras, no sentido aristotélico do termo. Mas o que seria isso? Maturidade para Aristóteles consiste em você ter experiências de vida e aprender com elas, sejam elas negativas ou positivas. Aí nos perguntamos: onde estão as pessoas maduras? Nas sociedades antigas, as pessoas maduras, sempre apontavam para um horizonte que se encontrava em suas tradições. Todavia, nos dias de hoje, onde está este homem maduro? O educador hoje não semeia esperança e dignidade mas apenas revolta, consigo mesmo e com o mundo. O professorado é um grupo de pessoas que vivem a se queixar de sua vida, de seu salário e a incitar o ódio a toda e qualquer autoridade. Ou vão dizer que estamos a mentir? Além do material didático, em especial os da área de humanas ser um verdadeiro esquema de doutrinação marxista, há professores que não se contentam e levam para sala de aula materiais de partidos políticos como se estes fosse um material didático qualquer. A educação se desvirtuou do conduzir para fora para um revoltar-se com tudo e consigo.
E é justamente aí que entra o papel das tradições, das heranças culturais. O nosso mundo presente nada mais é que um fruto do passado. E para um indivíduo se tornar uma pessoa mais senhora de si neste mundo, faz-se necessário que ela saiba não apenas o como das coisas mas os por quês delas. E, como nos lembra o Sr. Olavo de Carvalho, na entrevista mencionada anteriormente que:
[...] A obrigação do indivíduo é reconhecer que sua individualidade não é um absoluto metafísico, mas um dom recebido das tradições. A obrigação dos representantes das tradições é aquela que Jesus assim formulou: Não coloqueis sobre as costas dos outros um fardo que vós mesmos não podeis carregar.[...] Nada substitui a sabedoria.
Este é o ponto central de nossa discussão o qual cremos ser o maior problema em nosso sistema educacional: a falta de um horizonte devido ao relativismo absoluto dos valores e dos saberes e, o descaso quanto à coerência do que ensinamos e de nossas posturas enquanto educadores.
E como está escrito em Eclesiastes XI; 9-10:
Laetare ergo, iuvenis, in adulescentia tua, et in bono sit cor tuum in diebus iuventutis tuae, et ambula in viis cordis tui et in intuitu oculorum tuorum et scito quod pro omnibus his adducet te Deus in iudicium. Aufer curam a corde tuo et amove malum a carne tua; adulescentia enim et iuventus vanae sunt.
E ao invés de alertarmos para os perigos dos deleites da tenra idade, e contrariando a Sagrada Escritura preferimos fazer vista grossa posto que nós mesmos não somos um bom exemplo de conduta e que somos escravos de nossos desejos e muita das vezes completamente seduzidos e dominados pela nossa vaidade. Nós preferimos prepará-los para os deleites possíveis do que lhes ensinar o que há de melhor na expressão da alma humana.
Por fim, frisamos que enquanto os educadores não se tornarem como Percival e formularem problemas de forma clara jamais se conseguirá resolver os problemas que perturbam tanto a sociedade como nós. Por fim, Pitágoras de Samos ensinou-nos que devemos educar as crianças para que não seja necessário punir os adultos. Agora imaginem uma sociedade como a nossa em que todos, inclusive a escola não mais educam? A educação em nossa sociedade não mais procura tornar os seus sujeitos maiores que as suas dores e frustrações mas sim, torna-los menores que a sua vaidade.
O espírito de nossa civilização está morrendo e todos acham que isso é apenas relativo.
4.1 O relativismo dos valores
A melhor forma de invalidar, de destruir o discurso de seu debatedor é fazendo uso do subterfúgio do relativismo. Todavia este ardil não se aplica diretamente aos argumentos de seu opositor, os quais muitas vezes mostram a verdadeira face de determinados sujeitos mas sim, primeiramente se invalida o próprio discurso. Antes de se apresentar os seus sofismas, o indivíduo primeiramente afirma que não há verdade absoluta e que ele pretende apenas de forma humilde dar a sua contribuição. Um público despreparado verá neste elemento uma pessoa sincera que admite a sua limitação, o que é uma grande farsa. E quando o seu oponente lhe apresenta os seus argumentos e faz algumas ponderações quanto as suas falácias, este reage voltando a sua primeira fala, que toda verdade é relativa ou, afirma que a sua postura é profundamente conservadora e reacionária e todos nós sabemos a que estes topus remetem.
Pois bem, se todos os valores são relativizados tudo pode porque nada tem valor. Os relativistas afirmam as suas posições em obras antropológicas de alguns autores que estudaram meia dúzia de sociedades primitivas e constataram que estas tinham valores morais variados e concluíram que todos os valores morais são relativos e que variam de acordo com a cultura de um determinado grupo cultural. Correto, mas apenas em um nível superficial. Realmente, há uma pluralidade muito grande de sistemas de valores mas isso não é o suficiente para relativizarmos todo e qualquer sistema de valores. Não? Então nos citem uma sociedade humana em que não aja matrimônio? Nós não estamos falando das formas de matrimônio mas da união conjugal em si, tem? Ou então uma sociedade onde o homicídio seja uma convenção oficial? Uma sociedade sem expressão religiosa? Frente a isso, como podemos afirmar que todos os valores são relativos?
Estes valores universais, essenciais, são denominados nas ciências jurídicas de
direitos naturais
. Como partimos de um pressuposto religioso, Cristão, entendemos que estes direitos naturais nos foram outorgados diretamente por Deus pela intercessão de Seus profetas e de Seu Filho Unigênito juntamente com Seu Apostolado. Estes seriam os direitos a vida, a liberdade, a propriedade... Direitos os quais o Estado não nos deu, pois seriam inerentes a nossa sociedade. Os direitos naturais seriam as assim denominadas Leis não escritas, que por sua vez, estão acima de todas as leis escritas.
Estas Leis não escritas não devem a sua existência ao Estado pois elas existem por si. O máximo que o Estado deve fazer frente a estes direitos naturais é garanti-los, preservando a individualidade do cidadão, garantindo-lhes o direito a vida, a liberdade e a propriedade. O que caberia ao Estado criar seriam os chamados direitos positivos que por sua vez devem emanar dos direitos naturais e jamais ser confundido com estes o que em alguns casos isso ocorre.
Doravante, os valores relativos são justamente os direitos positivos que seriam os prescritos pelo Estado ou pela autoridade da sociedade e não as Leis não escritas. Todavia, os antropólogos relativistas colocam tudo em uma vala comum e dizem que não existem valores essenciais. E o pior, acaba-se por confundir um com o outro criando não só uma desvalorização dos sistemas de regras morais mas acaba por inverter a ordem destes valores.
Nas sociedades tradicionais tinha-se uma visão clara do que era mais importante, do que era fundamental, que era no caso a espiritualidade. Partamos do princípio simples: a carne nada mais é que um corpo transitório e o espírito eterno, correto? Mesmo que o Sr. seja descrente, um ateu, responda-nos então: o Sr. é uma pessoa ciente de que o nosso corpo está condenado a decrepitude? Pois bem, se o Sr. compartilha desta posição o que sobra de mais elevado na natureza humana? Não seria o intelecto? É, mas só para lembra-lo que o intelecto e o espírito para as culturas religiosas tradicionais são conceitos equivalentes visto que a inteligência enquanto luz que ilumina as trevas da dúvida, emana de Deus, e não da carne que vive agrilhoada aos desejos menores.
Deste modo, podemos melhor observar e compreender de que inversão de valores nós estamos a falar. Hoje os assim chamados direitos negativos (de raça, sexuais, de classe) se confundem com os direitos positivos. Pior, estão a ocupar o lugar das Leis não escritas. Por exemplo: se um grupo de Católicos ou Evangélicos organiza uma manifestação em repúdio ao casamento entre homossexuais são taxados como retrógrados, mas quando um grupo de homossexuais invade as ruas fazendo uma manifestação repudiando a postura da Igreja de condenar tal atitude como sendo um pecado, esta é aceita como uma expressão democrática. Dá para perceber o tom do problema? A satisfação de um tesão é tida em mais alta conta que uma tradição religiosa. Ora, que democracia é esta em que apenas um grupo tem o direito de dizer o que bem entende enquanto o outro tem que ficar a ouvir insultos de outro grupo.
Mas partamos para uma aberração mais próxima do âmbito escolar. Na revista Isto é n. ° 1649 de 09/05/2001 há uma matéria considerável sobre a expulsão de dois adolescentes da Escola Parque, na cidade do Rio de Janeiro por eles terem feito o uso de maconha em uma excursão. Logo na primeira página da matéria (p. 36), há uma fotografia onde há duas alunas da escola mencionada cada uma tendo em suas camisetas as respectivas mensagens: "Se escola boa é a que expulsa, hospital bom é o que mata" e "Minta, não admita, você vai se dar bem na vida. Aprendi isso na escola”.
Para começo de conversa, a primeira frase é praticamente uma paródia de um livro intitulado: Se escola boa é que reprova, hospital bom é o que mata. Doravante, quanto a segunda frase, vemos nela a clara confusão que se formou na mente dos nossos jovens. Vemos com clareza neste caso um bom exemplo do que nós explicamos em páginas passadas como sendo o que Benedeto Crocce chamou de arrependimento econômico e arrependimento moral.
Apenas para recapitular, no arrependimento moral, nós assimilamos o sentimento de culpa, de responsabilidade e nos arrependemos do ato em si. Já no arrependimento econômico o indivíduo não se arrepende do ato em si mas sim e apenas das conseqüências que ele acarretou. No caso dos jovens com suas camisetas estão nitidamente a dizer que não estão arrependidos de terem consumido narcóticos mas sim e apenas de suas conseqüências e nada mais. Eles não se arrependeram de terem fumado a ervinha mas apenas de terem sido pegos fumando a dita.
Pior ainda é a chamada da página 37 que diz: SAI PIAGET, ENTRA PINOCHET e a declaração dos pais de um dos meninos que diz: "Meu filho errou, mas a pena está sendo cruel demais. Tem febre de 40. °. Tudo isso é desumano de mais”.[...] "Estou decepcionada com a Escola-Parque. Meu filho assumiu que tinha fumado maconha porque sempre acreditou na abertura do Colégio para o diálogo”.[...] "Quando nossos filhos mais precisavam da escola, foram abandonados[...] Não foi nesta escola intolerante que matriculamos nossos filhos.”.
Dá para acreditar que uma pessoa em sã consciência faria tais afirmações? A apologia ao uso de drogas é nítida na chamada da revista. Quanto à declaração dos pais é de deixar todos os cabelos do corpo em pé. Primeiramente, há uma convenção simples de ser compreendida: para toda regra existente em uma determinada instituição, seja ela uma escola ou a sociedade em si, existe para ser cumprida. Quando uma regra é infringida, deve-se aplicar a sanção prevista no código de regras. No caso do estatuto da Escola-Parque a regra era clara: o uso de drogas no âmbito do Colégio ou em atividade extra-classe desenvolvida por esta instituição será passível de afastamento do âmbito desta.
Um pai que passa a mão na cabeça de seu filho desta forma não esta a medir as conseqüências que este seu gesto trará na formação do menino. Ora, faz parte do processo de educação a imposição de limites. A vida em sociedade tem suas regras e para que haja uma boa convivência entre as pessoas que a compõe faz-se necessário que tenhamos limites em nossas atitudes. A impressão que temos é que nossa geração esqueceu-se disso. Os pais de hoje fazem questão de demonstrarem que sempre estarão do lado do filho, mesmo que este cometa um crime hediondo.
Nossa sociedade cada dia mais vem a tomar uma postura que o Dr. Paulo Gaudencio chamou de postura alternativa. Por fragilidade, culpa ou ignorância não conseguem ter uma postura agressiva, adotando posturas alternativas. O que é uma postura alternativa? Imaginemos um barco indo para uma cachoeira. Encontramos, nesta situação, três tipos de postura que são possíveis. A mais freqüente é a postura passiva. O indivíduo não reage, deita-se no barco e se deixa destruir. A segunda postura possível, mais rara, é a agressiva. O indivíduo assume o timão e muda a direção do barco. Ele age, não fala. Há uma terceira postura, tão freqüente quanto enganosa. á Nós a chamamos de atitude malcriada ou alternativa. O indivíduo fica em pé no barco, xingando a queda d’água. Bem, podemos também acrescentar uma quarta postura, a do suicida enlouquecido que ao se ver diante da cachoeira começa a remar a favor da correnteza a imaginar que indo mais rápido a queda será mais suave.
Esta quarta postura se enquadra perfeitamente no exemplo dos pais dos adolescentes expulsos da Escola-Parque. Concordamos que os pais devem defender os seus filhos mais jamais na sua frente. Quando fazemos isso, damos ao adolescente uma profunda sensação de segurança frente ao erro cometido e isso apenas gera uma pessoa arrogante e não uma pessoa bem educada. Para melhor exemplificar isso, usaremos um caso ocorrido na Vila residencial de Segredo, na cidade de Reserva do Iguaçu–PR, onde um garoto de dezesseis anos de idade, que estava em um baile, retirou a peça de um carro junto com um colega seu. Logo a polícia fora chamada no local e um Sr. havia desconfiado de que poderia ter sido ele. Os policiais o interrogaram e este logo afirmou com o típico ar de cinismo de adolescente: "é, mais eu não estava sozinho". E logo foram até a casa do outro garoto, levaram ele até o local do ocorrido e encontraram a peça do veículo.
Mas quando o garoto de dezesseis anos foi entregue em sua casa, este começou a acusar os policiais de terem agredido ele. A mãe mais que depressa se colocou na defesa do filho dizendo onde já se vil uma coisa desta. A mulher chegou a tal ponto que os policiais foram transferidos de Reserva do Iguaçu para Guarapuava. Já a mãe do outro garoto, passou-lhe aquele sabão no garoto e quando pagou a sua parte da conta do concerto do carro, disse a ele que ela iria tirar uma fotocópia da nota e ampliá-la e emoldurá-la para colocar na parede de seu quarto para que ele nunca mais se esquecesse do erro que ele cometeu e isso sem falar do castigo que ele recebeu.
No caso da primeira mãe, por inocência, na tentativa de supostamente proteger a integridade física de seu rebento ela apenas lhe afirmou categoricamente que a lei existe para não ser respeitada e que ele pode fazer o que quiser que a mamãe sempre dará um jeitinho. Já no segundo caso, a mãe colocou uma visão clara e cristalina de que neste mundo existem regras de conduta e que estas devem ser observadas pois se não for assim, você será devidamente punido.
Mas e quando o adolescente tem razão? Neste caso, temos um exemplo louvável de um casal que atualmente residem na cidade de Foz do Jordão–PR, que são os Sr. Esmeraldo Zanela e a Sra. Aderly Maria da Silva Zanela. Certa vez, o filho mais novo deste casal, que estudava no Colégio Eng. Michel Reydmas, havia levado uma chamada de atenção por parte de uma professora onde esta o taxou de mal educado e o enviou para a supervisão. Pois bem, o pai em sala fechada com as autoridades escolares, sem o filho saber do que fora decidido dentro das quatro paredes, aceitou a sanção ao filho desde que a professora assinasse uma advertência pois ele não havia educado mal o seu filho.
Chegando em casa, ele nos contou que não comunicou nada do ocorrido para o garoto mas que, lhe aplicou a punição que ele acreditava ser correta. Ele nos disse também que cada cintada que ele deu no seu filho doía em seu coração, mas ele preferiu fazer isso para que ele não crescesse como um sem vergonha. Ele mostrou ao garoto que o espaço da escola é um local de respeito e o professor uma pessoa que merece o respeito, seja quem for.
Em contraposição, um casal que hoje reside na cidade de Curitiba -PR, que também teve as suas filhas estudando no Colégio em questão, tomou uma atitude totalmente contrária e perigosa. Uma de suas filhas havia sido pega com alguns bilhetes comprometedores. A mãe ao invés de aplicar a devida correção colocou-se na defensiva dela a ponto de transferir todas as meninas para outro colégio.
Doravante, a ausência de limites não gera apenas uma geração de possíveis marginais mas também de insatisfeitos e alias, é a insatisfação que leva a criminalidade. Mas, em que sentido a insatisfação surge com a ausência de limites? Vejamos um exemplo pessoal do autor deste ensaio monográfico. Quando este vivia na cidade de Maringá–PR, era fumante e fumava compulsivamente, sem limites. Até que um dia ele fez uma aposta com um amigo onde cada um poderia fumar apenas dez cigarros por dia durante um mês. Aquele que perdesse teria que pagar para o outro uma peça de roupa a escolha do vencedor. O Rapaz, aquele fumante compulsivo que chegava às vezes a fumar uma carteira de cigarros em uma noite de final de semana passou a fumar apenas dez cigarros por dia, sem dor ou ansiedade, mas por que? Pelo simples fato de que havia um limite e ele passou não mais a fumar compulsivamente, a comer cigarros mas a degustar um a um, a apreciar cada tragada.
O autor destas linhas tinha na época dezoito anos de idade e hoje é um ex-fumante já a mais de cinco anos. Mas o que desejamos ressaltar com este exemplo é que o que traz a satisfação não é uma vida sem limites mas sim uma vida regrada. O limite do prazer é que o torna especial. A satisfação é um estado de contento, onde o indivíduo se sacia mas, o que é saciar-se? É o mesmo que encher um saco com alguma coisa. Não é atoa que quando se encontra uma pessoa de apetite insaciável esta é chamada de saco sem fundo ou, em outras palavras, pessoa sem noção de limites.
Mas além destes pontos que são periclitantes para o desenvolvimento sadio da educação de um adolescente temos outro que vemos ser tão grave quanto os demais que é a dupla face dos educadores, esta capacidade que estes tem de ter duas idéias, duas crenças divergentes no âmago da alma e não ter a menor crise existencial. Isso seria o que o escritor Geoge Orwell chamou em seu livro 1984 de
duplipensar
. Os alunos vêem aquele professor "falar bonito" em sala de aula, falar de direitos, de cidadania, de amor à verdade, etc., mas na vida real não vive nada do que prega. E quando falamos vida real, é porque um educador que se porta de tal maneira jamais estará tomando uma atitude concreta em sua inteireza mas sempre atitudes parciais.
E o aluno percebe isso com a maior facilidade e automaticamente a autoridade do educador cai em descrédito e consequentemente e infelizmente a da sabedoria visto que o professor deveria ser um símbolo desta virtude. Um bom exemplo deste tipo humano são alguns educadores do Colégio Estadual Professora Izabel Fonseca Siqueira. Nesta instituição de ensino, começando pelo auto, pelo diretor do Colégio. Primeiramente este homem leva uma vida extremamente promíscua apesar de ser casado e ter dois filhos e o pior é que suas aventuras extraconjugais não são nem um pouco discreta. Um outro bom exemplo de conduta é o do vice-diretor desta instituição de ensino que, em seu horário que seria o noturno, aparece no Colégio apenas para bater o sininho do sinal. A supervisora então, esta no final deste ano de 2001, passou a substituir uma professora de química pois esta havia entrado em licença maternidade. O problema é que ela além de não ter formação na área, esta passou a fazer 35 horas em apenas 20 horas. Ou então como o professor de história deste que vira e mexe se faz ausente no colégio? Ou o caso de um dos professores de língua portuguesa que já fora dar aula profundamente alcoolizado e que chegou a faltar durante uma semana porque não estava em condições. Isso sem falar das intrigas e das maracutaias que existem entre os professores, principalmente quando está próxima a distribuição de aulas.
E são estes os indivíduos, que falam de cidadania para os alunos, são eles que dizer aos alunos que eles devem ser honestos, trabalhadores, que eles devem respeitar o próximo. São estes indivíduos que vivem a malhar o pau na classe política, como diz o jargão popular, são eles que os chamam de corruptos. Mas o que são eles senão indivíduos corrompidos? Santo Tomás de Aquino ensina-nos que as coisas se denominam verdadeiras segundo a verdade que habita na inteligência e isso transparece na personalidade da pessoa.
Diante de todos os dados apontados, recorreremos a uma metáfora usada por Platão em seu diálogo
Fedro.
Vemos que esta metáfora seja a melhor para explicar a natureza da condição humana, com todas as contradições internas de sua alma. Nesta passagem de seu diálogo, Platão compara o ser humano com uma carruagem, cujos cavalos simbolizam as emoções. Cada cavalo é cego, pensando apenas na própria realização. Freqüentemente os cavalos entram em conflito entre si e têm um conflito constante com o cocheiro, que representa a razão. Este deve ver para onde os cavalos devem se dirigir e, com as rédeas, à vontade, deve orientá-los nessa direção.
Nos casos apresentados anteriormente, em que momento a razão conduziu a carruagem da educação dos jovens? O Crápula do Sr. Napoleão Bonaparte certa vez disse algo de profunda sabedoria. Dizia-nos ele que a educação de uma criança começa dezoito anos antes desta nascer. Ou seja, a educação de uma criança começa com a nossa educação. Deste modo, professorado é embebido de corpo e alma em sua vaidade e vive a queimar na fogueira desta e acreditam ser uma autoridade moral para ensinar as mais altas virtudes e as mais elevadas verdades para os pequenos. Ser professor não é simplesmente optar por uma profissão. Ser professor é antes de tudo um estilo de vida, da mesma forma que é ser um filósofo. Ambos devem devotar a sua vida ao amor a Sabedoria, a verdade. E aí nos lhes perguntamos: como levar a sério um professorado que através de seu sindicato afirmam que todos devem dar suas aulas de acordo com o seu salário?
O ser humano, como nos lembra Albert Camus, é o único animal que nega a si mesmo. Nós somos os únicos animais que negamos a nossa animalidade e o por isso de sermos seres humanos e não bestas. Todavia, frente a esta brutal inversão de valores que vemos em nossa sociedade, cada dia mais o ser humano afirma mais as suas limitações, as suas pulsões ao invés de controla-las. Se falar em vida reta para os jovens de hoje e para muitos adultos é quase que uma piada de mau gosto. A única meta que é apresentada como sendo superior pelos educadores e por muitos pais é a de um bom salário. Como querem estes formar uma sociedade mais justa sendo que a única dimensão que é apontada por estes é a das satisfações materiais? Nos negamos a negar as nossas emoções, as nossas fraquezas e acreditamos que isso seja tornar o ser humano melhor.
E o pior é que, como frisava Hugo de São Vítor que para que haja educação faz-se necessárias duas posturas basilares por parte do aluno: humildade e disciplina. á Quando falamos de disciplina não estamos a nos referir a alunos sentadinhos quietinhos em uma sala de aula ou de disciplina militar, mas sim em autodisciplina que só se é adquirida através de práticas que levem a concentração. Esta pode ser desenvolvida por meio da prática de uma modalidade esportiva e de exercícios místicos como a oração e a meditação.
A disciplina só é eficaz quando ela emana de dentro do indivíduo e tal disciplina, quando o cocheiro da carruagem toma com decisão as rédeas e guia com sabedoria os cavalos. Todavia, dificilmente esta disciplina nascerá através desta educação que temos em nossas escolas. Quando a disciplina apenas age de fora para dentro, ela não surge efeito e esta é uma característica de nossa educação. O educador sempre fala de uma postura frente aos outros, do mundo exterior, da importância da política mas jamais da interiorização de algo. E, de mais a mais, você jamais educará uma pessoa que não queira ser educada e aí, eis o grande mal da educação obrigatória.
Deste modo, vemos de modo geral que o ensino laico como sendo praticamente incapaz de desenvolver em um adolescente a autodisciplina, pelo simples fato de que esta educação só trata do que é exterior ao ser humano e, tal postura acarreta em prejuízo para a formação do adolescente. Os jovens e nossa sociedade cada vez mais se vê dispersa. Não em termos demográficos mas sim com relação ao intelecto. As pessoas cada vez mais tem uma grande dificuldade de concentração e de discernimento fruto desta relação que mantemos com o mundo e que, por sua vez influi no processo educacional em sua totalidade. De mais a mais, nunca nos esqueçamos que basta uma mosca para azedar uma sopa mas que, também basta uma vela para quebrar com a obscuridade das trevas.
Doravante, quanto à humildade? Nada mais é que saber ouvir e ponderar o que ouviu para depois falar, é curvar-se diante da verdade e da senda reta. Claro que não há um momento pré-determinado pelo professor para se falar mas sim, um momento determinado pela autoconsciência do indivíduo (quando autodisciplinada) que diz quando se é necessário falar e o que falar. Ora, inclusive nós adultos falamos sem pensar muitas vezes. Não temos a prática do bom ouvinte e do bom orador.
Mas, quando nos referimos a um bom ouvinte, não estamos a nos referir a aquele indivíduo que ouve a tudo se nada falar mas sim, nos referimos àquele indivíduo que ao ouvir um discurso ou uma fala qualquer sabe distinguir o verdadeiro do falso e sabe, se o ambiente é conveniente ou não para manifestar o seu parecer. O bom ouvidor é aquele que ouve de forma detida uma argumentação e sabe formular uma questão coerente sobre esta. E aí, nós lhes perguntamos: quantos de nós conseguimos fazer isso? Ou melhor, quantos de nós se esforça em fazer isso?
O autor destas linhas mal traçadas, no ano de 2001 ia sempre expor livros em um encontro de professores em Guarapuava chamado
PCN’s em ação
. Nestes encontros os professores tinham que se organizar em grupos (por município), para estudar determinados livros que eram indicados. Depois de feito isso, cada grupo deveria apresentar uma síntese da obra para o grande grupo. Em nenhuma das várias apresentações de sínteses foi apresentado uma decomposição analítica de uma obra. Isso sem falar que muitas delas eram de uma feição particularmente infantil.
E pior, ao fim do último encontro do ano de 2001, uma professora tomou o uso da palavra para pedir desculpas em nome do grupo pelas vezes em que eles estavam jogando conversa fora enquanto ela, uma das coordenadoras estava a palestrar. Ótimo, uma postura de profunda dignidade, mas o problema foi à resposta dela. Esta disse que não havia necessidade de desculpar-se pois mesmo no momento em que elas estavam a conversar elas estavam trocando experiências. Ora, elas não estavam a conversar sobre questões pedagógicas mas sim a "tricotar" e era por isso que a professora fez o pedido de desculpas.
Por fim, diante de tudo que fora levantado até aqui, vemos que esta carruagem chamada ser humano está à deriva, onde as rédeas estão soltas deixando a mesma a mercê dos cavalos enquanto o cocheiro está sonolento e torpe.
4.2 Por uma hierarquia noológica
Vivemos hoje na era da democracia, quer dizer, na era do democratismo. Para nossa sociedade democracia nada mais seria que procurar nivelar tudo a um só nível. Os educadores procuram enfatizar em seus discursos sobre a importância de que a sociedade se torne igualitária, de que só haverá justiça se houver maior igualdade social. Até aí tudo bem, o problema que tudo o que o ser humano criou até os dias de hoje se tornou um sinônimo de exclusão social. Tudo passou a ser visto como um mecanismo de exclusão.
Bem, antes de chegarmos a este ponto, faz-se necessário que tomemos a devida atenção quanto ao conceito de Democracia que é tão fartamente usado nos nossos dias. Democracia vem do grego e quer dizer simplesmente o governo do povo. Pois bem, a base para que possa haver um sistema democrático de governo não é a eqüidade entre as partes mas sim a liberdade que estas devem ter para poderem agir livremente. A Isonomia, segundo o antigo termo grego, ditava que os cidadãos tinham igualdade perante as leis.
Em qualquer regime político a soberania, em seu sentido mais amplo, emana da autoridade política maior do regime e esta soberania admite uma hierarquia onde as autoridades diminutas a esta atuam soberanamente visto a delegação que lhe é dada pelo poder superior. A soberania em si, seria nada mais que a autoridade suprema, correto? Pois bem, em um regime democrático, a vontade do povo é soberana, esta é o poder máximo de um regime político democrático. A população ao eleger alguém para um cargo político não estaria simplesmente a escolher alguém para lhe governar mas delegando poderes para administrar os seus interesses.
Todavia, no mundo moderno todos os dominadores falam em liberdade e bem-estar do povo. E hoje que se fala e se discute tanto assuntos políticos, as pessoas ao invés de edificarem uma consciência mais lúcida quando ao assunto passam a cada dia mais a se apegar mais e mais a um sentimentalismo barato e populista que não constrói uma sociedade melhor, nem cura as chagas de nossa sociedade, mas que você sai bonito na fita sai, se sai. É muito interessante que principalmente no meio pedagógico você pode ver o professorado com o espírito inflamado a falar das desigualdades sociais, que é impossível se ter uma educação de qualidade com tanto disparidade econômica, que o governo deveria aumentar a verba destinada à educação, aumentar o salário dos professores, criar programas para auxiliar as famílias carentes, etc.
Em todas as manifestações públicas de professores, seja em greves e paralisações, ou em palestras e aulas sempre notamos dois pontos por demais curiosos. Primeiro que os educadores bravejam e esperneiam devido à hipocrisia da miséria de boa parte de nossa população mas, só fazem isso também. E em segundo lugar, sempre apontam para o grande pai, o Estado, como o responsável por todos, aquele de quem deve emenar todas as soluções. Tal atitude transparece bem o projeto de Estado do cidadão de Genebra, o Sr. J.J Rousseau, onde o mesmo tornou o Estado em uma abstração, em uma outra sociedade, e assim, criou entorno deste um verdadeiro fetichismo, um culto a sua existência. O seu modelo de Estado Ideal não passa de uma fantasmagoria que vem a nos assombrar até nos dias de hoje. Rousseau, ao contrário de Hobbes que coloca o poder supremo na figura do monarca, deposita o poder supremo na figura do povo. No seu modelo de Estado à liberdade não seria senão seguir as prescrições e limitações que o Estado prescreve.
No mundo moderno, as maiores atrocidades foram cometidas em nome da liberdade do povo. Hitler matou vinte e um milhões de pessoas em nome do bem do povo alemão (e não podemos nos esquecer que ele foi eleito pelo povo alemão), que o governo soviético matou mais de sessenta e cinco milhões de pessoas, sendo que cinqüenta e cinco foram cidadãos soviéticos mortos em tempo de paz. O mesmo na China, no Afeganistão, na Turquia, nos países africanos invadidos pelas tropas Soviéticas e cubanas. O El paredon cubano, enfim, a listagem de atrocidades feitas em nome do bem do povo são bem extensas. Mas o que isso tem haver com o sistema educacional brasileiro?
O uso abusivo da idéia de democracia está a gerar um verdadeiro caos em nosso sistema educacional. Primeiro que com a assim chamada democratização dos assuntos, saberes de envergaduras variadas são depositados em uma vala comum. Villa Lobos e Mano Brow dão na mesma, passaram a ter a mesma importância para a formação de uma pessoa. Aliás os Racionais M’c são tidos até em mais alta conta pelos educadores por eles cantares em suas músicas os problemas sociais. Já o Villa Lobos, pobre maestro, para que reverenciar a sua magnífica obra?
Recentemente, neste último mês de maio de 2001, um professor de história do Colégio Professora Izabel Fonseca Siqueira, confidenciou para o autor destas páginas que ele achava ser muito mais difícil corrigir uma prova de história do que uma prova de matemática. Por que? Ora a matemática é exata, basta para a professora ver se o resultado esta correto que e a avaliação está corrigida. Já uma avaliação de história seria mais complicada. Por que? Ora, o aluno vai estar escrevendo ali a sua opinião, quem vai dizer que daqui algum tempo o que ele escreveu não vai ser aceito como uma verdade? Não dá para acreditar mas este senhor disse isso. Parece que ele esqueceu dos critérios de veracidade e da prova. Para ele, qualquer frase bem dita pode ser aceita como correta.
Nesta breve fala, o professor nada mais que mostrou o seu apego à idéia de soberania do povo, incarnada na figura dos educandos. É claro que o professor de história tem que ponderar sobre a linguagem que o aluno usa para escrever a sua resposta mas isso não quer dizer que tal ponderação feita pelo aluno possa ser elevada a categoria de uma possível verdade comprovada. Isso mesmo, algo que o aluno escreveu "da idéia” , como eles dizem, pode até um dia ser comprovado cientificamente mas, o que o educador deve ensinar não é a fazer especulações vagas sobre assuntos que a pessoa não tem uma noção clara mas sim, ensinar o método de estudo e de pesquisa para que ele possa construir um conhecimento baseado em métodos e não em suposições.
Doravante, em nossa análise, procuramos sempre partir do indivíduo como sendo realidade e enquanto tal, e desta realidade que emanaria todas as demais instituições humanas. Todavia, no nosso sistema educacional populista, quando falamos em sistema, estamos a falar dos educadores. á A realidade sendo o povo é um misto de idéias de Rousseau com o Marxismo, onde a polaridade proletariado-burguesia é o eixo que move todo o seu andar.
Com esta assim chamada democratização das escolas e com este culto ao povo, houve uma reestruturação da organização das escolas mas também houve uma invasão destas idéias para outras partes às quais jamais deveria ter invadido, que seria a hierarquia noológica. Mas o que é isso? Como frisamos até aqui há formas de organização da sociedade em que vivemos e a da nossa é justamente a democracia. Todavia, o conceito de democracia se aplica apenas as categorias políticas e não nas noológicas, espirituais e intelectuais. Na escadaria da sabedoria deve haver uma ordem bem clara do que seja mais importante para a constituição de nossa formação o que não mais há.
Deve-se sim democratizar o acesso a educação mas isso não significa tornar um sistema educacional obrigatório. Tornar o ensino obrigatório não tem o menor cabimento se partirmos de princípios democráticos visto que um direito jamais é obrigatório mas sim, facultativo. A obrigatoriedade do ensino tem mais haver com um regime totalitário visto que, até mesmo as escolas particulares que poderiam expressar uma forma de educação diversificada da que o Estado fornece, estas também estão sobre o julgo do MEC.
De mais a mais, ninguém pode educar alguém se este alguém não desejar ser educado. Este é um princípio básico que fora esquecido pelos educadores. Um bom exemplo disso é o excesso de disciplina que há no Colégio Estadual Eng. Michel Reydams, no sentido de "encarcerar" os alunos em uma sala de aula. No tempo em que o autor deste ensaio monográfico lecionou neste colégio, ele procurava muitas vezes ministrar as suas lições ao ar livre, debaixo de uma árvore que há ao fundo do colégio. Dentro de pouco tempo ele foi notificado de que as aulas deveriam ser ministradas em sala e não no pátio.
E mais, cremos que este problema não só existe no colégio mencionado mas praticamente em todos e em especial os da rede pública. Aí nos perguntamos, o por que de não criar atividades opcionais para os alunos desinteressados como trabalho em uma horta do colégio que além de ensinar o garoto a dar valor aos trabalhos braçais lhe fará interiorizar uma certa dose de autodisciplina e quem sabe até, preferir retornar ao espaço onde as aulas sejam ministradas para se dedicar aos estudos? Uma coisa é certa, o aluno desordeiro enquanto está a contra gosto na sala de aula, ele estará apenas a perder o seu tempo, a perturbar os que estejam interessados e a fazer nascer mais alguns fios de cabelos brancos na cabeça dos seus mestres. Obrigar alguém a fazer o que não deseja não só é uma tirania como uma grande perda de tempo para ambas às partes.
Uma escola é democrática quando oferta opções ao educando. Se ele quer estudar irá estudar e deverá assimilar todas as regras e convenções convencionadas pelo colégio para o estudo. Mas se ele não o quiser, ele vai para a horta ou para oficina e isso não seria uma punição, seria a sua escolha.
Mais a hierarquia noológica não deveria ser obrigada a todos? Não, visto que uma hierarquia é apenas uma ordem inviolável, uma ordem sagrada e nesta ordenança sacra deve-se ser ensinada. Deve-se deixar claro para os alunos quais são os saberes superiores, no caso os que mais estão próximo do
nous
, do espírito.
Quanto a este ponto é que se encontrará um grande obstáculo frente a forte valorização que nossa sociedade dá aos saberes práticos, devido a extrema valorização do utilitarismo que habita na alma do homem moderno. Vemos como os principais males que impedem que se edifique, que se apresente uma hierarquia noológica no âmago do sistema educacional são a forte presença das filosofias imanentista, historicistas, cientificistas, relativistas e evolucionistas que tanto infectam o pensamento educacional de nossa sociedade.
Primeiramente o profundo imanentismo que há em nossa sociedade é abissal. Todas as preocupações do sistema educacional e dos educadores é para com a vida do educando apenas neste plano. Mas o que seria uma filosofia imanentista? É uma filosofia que parte dos princípios de que tudo se resume dentro dos limites da experiência possível, que coloca tudo em si. São todas as filosofias que procuram resumir a finalidade das coisas. Estas se fundem com o historicismo que faz crer que todo acontecimento histórico tem apenas um valor em si, com se a experiência histórica não estivesse enredada em nossa alma. Para o historicista tudo se explica através da história. Para esta doutrina a história é constituída de unidades, de organismos globais cujos elementos necessariamente vinculados só poderiam existir no conjunto. Portanto, esta doutrina filosófica afirma o relativismo entre os valores e a unidade histórica a que pertencem sendo assim, inevitável à morte destes elementos com a morte desta unidade.
Mas em que estes sistemas filosóficos atrapalham a construção de uma hierarquia noológica? Para começo de conversa qualquer saber noológico é perene, seu valor não se restringe a um dado período histórico. Por exemplo, a obra do poeta grego Homero é uma obra perene e, de caráter noológico pois em seus versos ele não só expressa os valores e a alma de seu tempo mas traços característicos da feição da natureza da condição humana. O mesmo falamos de Platão e inúmeros outros filósofos, não só gregos e bem como as Sagradas escrituras de todas as grandes Religiões. As grandes obras Literárias como a de um Dante, um Shakespeare, um Machado de Assis, Camões e muitos outros que se fossemos nomeá-los todos encheríamos longas páginas deste ensaio monográfico.
Quando uma sociedade dá uma ênfase muito grande a uma visão imanente da sociedade, quando esta percebe a existência da civilização por um viés historicista ela vai palmo a palmo a auto destruição de si própria. áá Se hoje a civilização humana chegou a este estágio de decadência, não é porque muitos valores tradicionais ainda permeiam a nossa sociedade mas sim devido à depreciação que é feita destes em favor dos anseios banalizantes do presente.
Estes saberes perenes que estão no topo da hierarquia noológica não tem, uma utilidade prática visto que eles estão acima do mundo prático, estão além das necessidades e fraquezas deste mundo. E é neste nosso mundo dominado pela imanência de tudo e pela visão historicista dos valores humanos que reina o relativismo absoluto que abre espaço para a incompreensão de tudo. Um bom exemplo disso pode ser extraído de uma aula de história da filosofia presenciada pelo autor deste ensaio monográfico onde o professor havia dito algo assim: que, sempre nós não só podemos tirar conclusões variadas do que o autor disse como devemos sempre deixar ter um espaço para uma nova leitura. Se você escrever um livro você deve deixar espaço para que o outro possa interpretar o seu texto de uma determinada maneira. Ou então, quando o autor destas linhas fazia alguma observação, este logo em seguida dizia: "bem, mas você pode também interpretar assim...”. á Assim sendo, como que alguém que não tem a menor noção do que seja um sistema filosófico pode vir a ensinar filosofia? Ora, mas é este justamente o espírito da coisa, tudo pode. As pessoas de modo geral não mais procuram adentrar, participar das páginas que está lendo, dialogar com o autor e com os autores que influenciaram este, não. Elas contentam-se em fazer uma viagem de sobre vôo sobre as páginas que nada mais são que o espelho da alma humana.
Para melhor compreender o que dissemos usemos duas metáforas utilizadas por dois homens que temos em alta conta. O primeiro, o professor Olavo de Carvalho, que nos diz que a leitura de uma obra deve ser feita da mesma forma que uma moça faz ao ler a carta de seu amado. Ela deve ser interiorizada, deve não só ser lida mas ser degustada. Ou, com grande propriedade nos lembra o professor Rubem Alves, que uma pessoa que não lê vê o mundo apenas com os seus olhos mas uma pessoa que lê, não só vê o mundo com os seus olhos mas com os olhos dos autores os quais leu, pois ao lê-los ele não divagou por alguns instantes sobre algumas páginas mas participou de uma parte de sua vida.
Agora, se você realiza uma leitura imanente, rasa, a única coisa que você conseguirá é uma visão confusa da obra do autor e com toda certeza terá, uma visão torpe da realidade. Para melhor compreendermos a diferença entre os níveis de leitura que acabamos de mencionar, passamos a citar duas passagens presenciadas pelo autor destas páginas que demonstram com clareza o que estamos querendo dizer, ou, melhor, alertar. Anos atrás, estava o já mencionado, no ônibus que levava os estudantes de Reserva do Iguaçu para a Universidade em Guarapuava. Nesta época ele cursava ainda o terceiro ano do curso de licenciatura em história. Estava ele sentado a ler até que uma moça o interrompe e pede para que ele leia um trecho que ela achou interessante do livro
O vôo da Águia
do professor e teólogo Leonardo Boff. Aí ela começou a fazer alguns comentários quanto ao trecho e logo após isso, ele quis fazer alguns comentários sobre as menções que o autor fez quanto à queda do leste europeu no trecho que ela havia pedido para ele ler e ela mais que depressa o interrompe de uma maneira abrupta dizendo que isso não lhe interessava que ela só queria falar do que ela entendeu. Quer dizer, que ela não entendeu pois, se o autor estava a se referir à situação dos países do Leste Europeu após a derrocada do Império Soviético e ela não sabe nada do assunto e não quer ouvir nada sobre o mesmo, é porque ela não entendeu nada do que estava escrito mas apenas tirou algo vago que ela definiu como sendo "o que ela achou".
Doravante, situação que bem exemplifica a loucura do imanentismo e em especial, a do imanentismo marxista pode ser examinado na própria vida do autor deste estudo monográfico. Este é um ex-marxista. Nunca foi um militante a ponto de se filiar em um partido de tal postura doutrinária mas conviveu por muito tempo com marxista e participou por algum tempo de suas atividades. Para a cabeça deste cedo ou tarde a revolução iria ocorrer e que ele daria a sua vida pela causa marxista, a tal ponto que ele lembra que ao presentear um amigo seu com um Cd, escreveu na capa a seguinte mensagem: Felicidades amigo, espero que um dia possamos nos encontrar juntos em uma cátedra ou em uma trincheira.
Em sua mente, ele via as sociedades tradicionais e as religiões como sendo um grande mal sem conhecê-las com a devida clareza mas, como graças ao Bom Deus ele recebeu uma boa educação de seus pais e esta fase durou pouco tempo e logo que ele conheceu melhor os meandros do marxismo, se afastou de suas posições teóricas. Esta fase durou aproximadamente uns três anos. Mas o interessante é como que ele se tornou marxista. Todo jovem se vê um tanto que perdido, vivendo a procura de algo e, é comum ver um jovem se afirmar como membro de um determinado grupo sem anteriormente tomar conhecimento do que se trata. Foi o que aconteceu com o autor desta monografia. Em sua imaturidade intelectual ele aderiu a algo que ele praticamente desconhecia e se isso não bastasse passou a defender este algo ao qual desconhecia e, com o passar do tempo, quando ele começou a conhecer o que era realmente é o marxismo, tanto na teoria (e podemos afirmar que ele era muito esforçado) como na prática, ele acabou por se afastar esta vulgata do pensamento humano. Por isso afirmamos com conhecimento de causa sobre os perigos que uma mente emoldurada em formas imanentistas e historicistas pode causar.
É bom lembrar também da boa dose de Evolucionismo e cientificismo que vem comendo as vísceras humanas como sendo uma verdade incontestável. Mas o que seriam estes dois temperos que tanto abundam em nossa sociedade hoje? Aliás, como que em especial, o evolucionismo se manifesta em nossa sociedade?
Certa vez, em um de seus artigos, o venerável Gustavo Corção (1974), falou-nos do evolucionismo contando que em uma certa feita, onde um barbeiro a fazer a barba de um de seus clientes dizia-lhe que ele era um evolucionista, que ele era crente de que tudo estava em evolução. É obvio que durante o barbear o seu cliente em nenhum momento o questionou visto ser um tanto arriscado se questionar alguém que está com um navalha na altura de sua jugular mas, após o término de sua barba, o cliente também disse que concordava com o barbeiro e que ele também era um evolucionista convicto. O problema é que nenhum dos dois nunca leu nenhum tratado que fosse sobre o assunto, da mesma forma que praticamente todo o professorado nunca leu nada sobre evolucionismo, progressismo ou cientificismo apesar de pensarem nestes moldes.
O que faz-nos lembrar de uma passagem vivida pelo autor desta monografia. Em fins do ano de 2001 estava ele no colégio Eng. Michel Reydams a espera de sua esposa quando, surgiu uma pequena discussão entre os professores sobre os casos de alunas que acabam caminhando pela senda da prostituição e este comentou uma passagem da obra de Walter Benjamin, onde o mesmo afirmava que a prostituta nada mais seria que o símbolo da modernidade pois, fundia em uma só criatura o comerciante e a mercadoria. Mais que rapidamente uma professora de língua inglesa se manifestou e disse: "esta não é a idéia que eu tenho de modernidade". Mas o que ela entende por modernidade? O conforto crescente proporcionado pelo bem estar do desenvolvimento tecnológico?
Este fato nos faz perceber o perigo que o espírito da educação está a sofrer e para melhor compreendermos este estado em que se encontra as mentes que estão a nortear a educação das almas mais jovens (pais, professores e a sociedade em geral) há um conto do saudoso Humberto Campos de seu livro
A bacia de Pilatos
, (CAMPOS, 1945, p.09-13) onde ele nos conta o seguinte: um padre estava em um navio que estava vindo para o Brasil e quando próximo da Baia de Guanabara, este fica no convés a contemplar a beleza de nossa costa e eis que duas moças se aproximam dele e este começa a lhes falar que ele já andou por várias partes do mundo mas que não existe país mais belo que o Brasil. Em seguida as moças lhe perguntam se a fiscalização no desembarque era rígida e este afirma positivamente. Aí as moças lhes revelam que elas estão vindo para o Brasil para assumir a herança que receberam de um tio e que estavam a trazer as jóias da família. Só que estas eram muitas e elas tinham medo de que as jóias fossem confiscadas como se fossem contrabando. Deste modo, elas pediram ao distinto sacerdote que lhes ajudasse escondendo algumas jóias debaixo de sua batina.
Após ter meditado sobre o assunto o padre concordou em ajudar as moças. Descendo do navio, foi até o posto de fiscalização com as duas moças logo atrás dele. Chegando lá os fiscais lhe revistaram a mala e os bolsos e nada encontraram. Aí, um dos fiscais lhe pergunta baixinho ao pé de seu ouvido: — O Sr. não tem nada escondido debaixo de sua batina? O padre ficou assustado! Já pensou no escândalo! Um padre mentindo e com jóias escondidas em suas vestes! Para evitar maiores complicações resolveu falar a verdade. Aproximou-se do fiscal e sussurrou em seus ouvidos: — Sr. Fiscal, o que tenho debaixo de minha batina é destas duas moças que estão atrás de mim. O fiscal apenas riu, e o deixou prosseguir.
Frente a este pequeno conto podemos visualizar com maior nitidez a dificuldade de se restabelecer uma hierarquia noológica em nosso sistema educacional. Não sabemos o que a por debaixo da batina do padre, do santo véu do mistério da vida e, sem saber o que há, confundimos as jóias da verdade com os... do padre. Ambos estão por baixo de um manto de mistério, a verdade e o engano mas, para perceber um basta-nos a malícia, mas para visualizar a verdade, faz-se necessário à luz da sabedoria e para que isso ocorra, faz-se necessário à sinceridade intelectual. Sem isso não há verdade mas apenas engano e auto-engano.
O que vemos no meio educacional não é um bom domínio conceptual por parte da maioria dos educadores mas sim uma leviana repetição de cacoetes mentais que são divulgados pela mídia impressa. Para melhor compreendermos isso, vejamos um pequeno exemplo do que estamos tentando afirmar. É obvio que em um tratado sobre educação, irá aparecer uma grande repetição do conceito de intelectualidade correto? Pois bem, mas para se compreender o sentido do texto e suas implicações faz-se necessário compreender como que este conceito é utilizado. O sentido de um conceito como intelectual varia de acordo com a influência que o autor sofre por exemplo: qual o conceito de intelectual que o professor Demerval Saviane faz uso? Ora, Saviane é claramente influenciado pelas idéias de Antônio Gramsci e bem como quase a maioria avassaladora dos educadores que escrevem sobre educação. Todavia, o professorado que tem este autor em alta conta, não sabem nem o que é um conceito de forma clara e, nem mesmo sabem quem foi Antônio Gramsci e, quando sabem, nunca pararam para refletir sobre as implicações do seu conceito de intelectualidade e desconhecem um outro conceito de intelectual que não seja este. E pior, quando estes lêem um autor que faça uso do conceito clássico de intelectual, eles acabam por sobrepor o conceito, ou melhor, o cacoete que decoraram sobre este e acabam por confundir-se totalmente quanto ao sentido do texto.
Um bom exemplo desta distorção do sentido de um texto pode ser claramente visualizado no comentário de uma professora de história e geografia do Colégio Estadual Eng. Michel Reydams e que por sua vez, também é supervisora no Colégio Estadual Professora Izabel F. Siqueira. Naqueles dias, o autor destas linhas lecionava e havia exibido para os alunos do oitavo ano do ensino fundamental o filme
A Revolução dos Bichos
, do clássico de George Orwell. Na sala dos professores, estava em conversa com uma professora de língua portuguesa, fantástica diga-se de passagem, que o fundo da fábula era a Revolução Russa e nisso, intervêm a professora em questão e diz que ela não entendeu assim, que ela entendeu que era algo sobre a Revolução francesa e sobre a tirania de Napoleão. Como o que ela entendeu? Ela simplesmente não entendeu nada. Apenas confundiu tudo. E é isso que ocorre muitas vezes na leitura de um tratado de filosofia da educação ou qualquer outro tratado sobre qualquer outro assunto. A pessoa não procura compreender a significação do texto mas projetar a sua subjetividade sobre o texto e ao invés de clarear as coisas, a pessoa acaba por confundir tudo.
Como podemos falar em educação, em guiamento para a senda da sabedoria sendo que os guias, os professores, estão confusos e perdidos? Tamanha é a confusão que o saber político esta colocado acima do espiritual, que a satisfação material está acima da disciplina, tanto física como intelectual. É impossível de se falar em uma hierarquia noológica dos saberes e do ensino destes enquanto pequenos detalhes que causam grandes confusões como os mencionados até aqui não forem sanados.
Algo para ser claro, deve ter objetivos claros. Para uma pescaria ser bem sucedida, o pescador deve ter claro em sua mente que tipo de peixe ele pretende pescar, correto? Pois não se pesca lambari com isca de traíra e nem vice-versa. Agora e por fim nos perguntamos: como pode um sistema educacional ser bom sem ter objetivos claros? Os objetivos da educação estão vinculados com o tipo de homem que eles pretendem edificar mas aí nos perguntamos qual a concepção de homem que você educador tem? Qual a sua concepção de vida? Questões estas que praticamente nunca são respondidas e sendo assim, o silêncio a que estas são confinadas acabam por deixar a compreensão da educação e do entendimento humano a boiar em meio a um mar de incompreensões e devaneios, disfarçados com ares de serenidade e seriedade.
4.3 Da mistificação da educação à mística na educação
Como responder a questão levantada no final do último subcapítulo? O que é o ser humano? Aliás, como não responder a esta pergunta em um tratado que aborde propósitos educacionais ou um planejamento de atividades pedagógicas? á O que é o ser humano? Eis a pergunta que não quer calar mas que, é constantemente silenciada em toda e qualquer reunião pedagógica e até mesmo em cursos de aperfeiçoamento de professores.
Normalmente, os planejamentos escolares são elaborados do seguinte modo: o professorado se reúne e começam a trocar algumas idéias e a copiar algumas partes dos tão abomináveis PCN’s. Afirmamos isso visto que os olhos que estão a acompanhar o movimento das mãos que estão a digitar estas linhas presenciou tal cena e piores. No Colégio Estadual Engenheiro Michel Reydams, o planejamento é sempre uma cópia fiel do modelo dado pelo Grupo Positivo, pelo fato de até o ano de 2001 o colégio adotar as suas apostilas do mesmo e por sua vez, no Colégio Professora Izabel Fonseca Siqueira o projeto político pedagógico foi pago para terceiros o desenvolverem.
Mas, o que estes dados tem a ver com a pergunta o que é o ser humano? Tudo, visto que em nenhum dos colégios se procurou uma definição clara do que é o ser humano. Até parece cômico, mas o autor desta monografia quando lecionava no primeiro colégio mencionado acima, em uma reunião pedagógica em meio ao tumulto dos bate boca furtivos que se desenrolava entre os professores para se encontrar uma solução para a indisciplina dos educandos daquele estabelecimento, procurou quebrar com o bate boca com a seguinte pergunta: "Se vocês desejam resolver os problemas que julgam perturbar as atividades pedagógicas faz-se necessário que primeiramente se defina o que é educação. Então, o que é educação?" Após esta indagação, fez-se um silêncio digno de um mausoléu até que uma professora interrompe com a "brilhante" intervenção: "Nós não precisamos agora de especulações teóricas mas sim de uma solução prática”.Ou seja, a educação se apresenta como uma fragata que é norteada por marujos que não sabem o que é uma fragata e que, fazem questão de não saber o que é um norte. A educação é a fragata e o tipo de ser humano que se tem por intenção edificar o norte de qualquer educador digno da função que exerce mas, como expomos anteriormente, justamente estas duas questões fundamentais são relegadas ao desdém pelo professorado.
Mas e nós, o que entendemos por educação e por ser humano? Bem, como o primeiro ponto está atrelado intrinsecamente ao segundo, comecemos por este a desenvolver nossa explanação. Partimos do princípio de que o ser humano não tem apenas uma dimensão. Este, tem uma dimensão biológica, uma psicológica, uma histórica, outra econômica e social, uma política, uma antropológica, uma cultura e uma transcendente.
Pois bem, Mário Ferreira dos Santos (1956), grande filósofo brasileiro, nos advertia de que com freqüência nós acabávamos por cair em abstratismos em nossas definições frente às dimensões do ser humano. Mas o que vem a ser abstratismo para este filósofo? Abstratismo seria quando acabamos por definir o que é o ser humano como sendo apenas uma de suas dimensões, quando adotamos apenas um dos aspectos que compõem a natureza humana como sendo o ser humano.
Deste modo, procurando evitar o abstracionismo, iremos primeiramente colocar, ou melhor, organizar os aspectos do ser humano em uma hierarquia de acordo com o grau de importância que cada um destes aspectos tem na composição do ser humano. Como em uma receita de bolo, os ingredientes para sua elaboração não tem a mesma proporção ou tem? Vocês já imaginaram um bolo feito com quatro xícaras de farinha, quatro de fermento, quatro de sal e de açúcar? Ou então uma receita de bolo com ingredientes desproporcionais? Mas, é exatamente isso que ocorre com o a concepção de ser humano adotado pelos professores. Estes podem até não procurarem uma resposta para a pergunta o que é o ser humano, visto que ela é uma questão filosófica e de difícil resolução mas as pessoas acabam dando uma resposta prática e inconsciente para esta indagação que se faz transparecer em seu fazer pedagógico e é justamente aí que reside o perigo. É justamente aí que o ex ducere começa por definhar e falecer.
Se em uma receita de bolo os ingredientes são colocados ao léu ou, são invertidos, o que nós teremos é uma bela gororoba ou um legítimo angu mas jamais um bom e saboroso bolo, correto? Mas fazendo uso deste tipo de metáfora não estaríamos nós a recorrermos a alguma espécie de determinismo onde se apregoa a existência de modelos prontos a serem imitados e seguidos? De modo algum. O que estamos aqui a tentar abordar é a forma como poderemos conceber o homem, o que iremos definir como nosso conceito de ser humano e não uma teoria educacional.
Assim sendo, partimos de um princípio pitagórico onde cremos haver uma harmonia entre os elementos. Cabe ressaltar que harmonia e equilíbrio não significam igualdade e identidade. Dois elementos iguais em suas proporções e até mesmo em suas identidades podem estar fora de harmonia. Em se tratando do ser humano e na compreensão da composição de sua natureza, muita das vezes procura-se equilibra-lo em sua formação, em sua composição "noológica" procurando nivelar a proporção de suas dimensões quando não nas priores das hipóteses se inverte a ordem das coisas. Quando se nivela as dimensões de algo, este ser se anula, tendo todas as suas dimensões enfraquecidas por uma sobreposição de uma sobre a outra. Podemos dizer que, quando nivelamos as dimensões do ser humano fazemos o mesmo que se faz nas granjas de porcos com os cruzamentos hibridados [
[8]
]
. Este animal será ótimo para engorda e abate mas não mais para reprodução, visto que ele não tem nenhuma qualidade que se destaque. Do mesmo modo quando aplicamos um conceito de ser humano em nossos fazer pedagógico e em nosso projeto político pedagógico, podemos obter um resultado desastroso visto o que nós conceituamos como ser humano em um projeto é,
a priori,
o tipo de ser humano que pretendemos formar e neste caso, a única coisa que formaremos são porquinhos hibridados para engordar durante onze anos para depois entregar para o
lupinus malum.
Pior ainda quando sobrepomos uma dimensão inferior do ser humano sobre uma mais elevada, como por exemplo, quando sobrepomos a dimensão política sobre a noológica e intelectual. Não que a dimensão política do ser humano não tenha relevância mas que ela tem uma importância inferior em relação à dimensão noológica do ser humano, isso sim. Mas, qual o problema nesta inversão? Ora, a resposta é simples para aqueles que estudaram um pouco (não precisa muito) de história e para refletir e analisar o que foram as ideologias e regimes totalitários como o nazismo e o comunismo. Em todos o exemplos que tivemos no século XX podemos vislumbrar uma sobreposição da política sobre a religião, a militância sobre a vida intelectual.
Não se há uma noção clara de ser humano das concepções educacionais em ambos os colégios o que leva ambos não terem uma noção clara do que seja educar. E este não seria apenas um diagnóstico apenas dos dois colégios do município de Reserva do Iguaçu mas do Brasil de um modo geral. Tudo é feito ao léu. Preocupa-se em demasia com trâmites burocráticos que apenas servem para complicar o processo educacional, quando não e para piorar a situação, acaba-se pervertendo todo o andamento do ex ducere devido a tramas políticas, o que é bem típico nos colégios da rede Estadual.
Então o que quer dizer o que nós estamos tentando afirmar é que tanto os projetos educacionais, como o fazer pedagógico dos professores e bem como todo sistema educacional não tem uma definição clara de ser humano? Não, muito pelo contrário. á O que não esta claro quanto à concepção de ser humano, quanto à resposta a pergunta o que é o ser humano é para o educador e não para o educando. Como assim? Nós educamos, guiamos o aluno por um caminho que cremos levá-lo a obter uma formação que não acaba por levar mas, por sua vez, o aluno acaba por se guiar pelos modelos concretos que ele acaba verificando a sua vista, ao tocar de seus infantes dedinhos, mas que modelos são estes? Um anti-horizonte chamado professor.
O professor chega em sala de aula com um discurso todo pomposo a falar de cidadania, da importância da participação, da honestidade, do respeito, etc. Aí, este mesmo professor tem uma postura dentro e fora da sala de aula totalmente diferente de seu discurso. Na pior das hipóteses o aluno pode comparar o seu discurso com sua prática e compreender o que seu professor é um grande hipócrita e ficar sem um modelo positivo vindo da escola e procura este em outras entidades ou entre as pessoas de sua comunidade.
Um bom exemplo do que estamos falando é o do Sr. Athos da Silva Zanela, um ex-aluno do CEFET-PR de Pato Branco e que reside atualmente no município de Foz do Jordão e hoje está a estagiar na Usina Hidroelétrica Governador Ney Braga. O autor deste ensaio monográfico sempre conversou muito com este rapaz e este raras vezes falou empolgado sobre algum de seus professores. Em outras palavras, em nenhum momento encontrou um símbolo guia para sua vida, um arquétipo profissional (visto que ele cursou um curso técnico) e humano. Todavia, recentemente esta falava com seus olhos a brilhar a respeito de um técnico da Usina e um engenheiro, dizendo que ele possui uma profunda admiração por estas pessoas, pelo seu conhecimento na área e pela postura profissional destes. Ou seja, ele no CEFET-PR de Pato Branco, relacionava o discurso dos seus professores com a pessoa destes e via que em nenhum encontrava um homem segundo os versos de Machado de Assis, um homem por inteiro. Tal acaso não o impediu de encontrar este espelho e infelizmente, acabou por "retardar" o seu processo de desenvolvimento intelectual.
Parece bobagem mas, o autor deste ensaio conhece bem o rapaz, visto que ele é seu irmão e este acompanhou a formação deste rapaz com uma relativa proximidade e vos afirma que até o momento em que ele começou o seu estágio ele se achava o the best, com apenas o conhecimento que adquiriu em sua formação. Não se interessava em ler e muito menos em adquirir livros. Após este contato ele começou a manter com estes senhores, ele começou uma segunda fase de sua formação que por sua vez deu-se de modo informal mas de significativo valor para sua integridade.
Mas como se deu isso? Conta-nos ele que sempre que ele ia perguntar para o técnico sobre o funcionamento de alguma parte da usina este não explicava simplesmente que era assim ou assado. Ele lhe explicava que tal máquina funcionava assim devido à lei tal e aí lhe explicava a lei, e tal parte funcionava assada devido a tal lei e lhe explicava a lei e assim por diante. Isso sem falar que o mesmo dizia que achava muito interessante que ele sempre esta sorrindo e tratava bem a todos.
Todavia, em contraposição a este ele citava o nome de inúmeros outros que não sabiam lhe responder uma única pergunta, não sobre alguma questão teórica mas simplesmente sobre o funcionamento da usina. Mas, o que isso tudo tem haver com o que nós estávamos discutindo? Tudo. E por quê? Quando este rapaz passou a conversar com este Sr. ele teve o que nós podemos chamar de uma revelação mítica, uma iniciação. Podemos dizer que neste momento ele completa mais uma fase de sua jornada interior, onde ele se defronta com seu mestre, ou fazendo uso de uma linguagem mítica, o encontro do Rei Artur com o Mago Merlim.
Claro que não houve nenhum rito de passagem com força o bastante para dar toda a segurança que o rapaz necessitava para esta sua entrada nesta nova fase de sua vida e muito menos um rito iniciático, mas é uma fase de mudança em sua vida. Consciente ou inconscientemente nós acabamos por procurar novos mitos guias no lugar dos antigos que nos guiavam em nossa fase anterior da vida (infância, adolescência, maturidade, velhice, etc.) que esta por findar. Digamos que por hora o novo mito guia deste rapaz é este técnico. Mas, em que sentido este ensaio monográfico define mito?
O mito deve ser encarado não como uma mera criação humana mas sim, como o único modo de acesso ao Ser num dado momento histórico. O ser-no-mundo é desvelado a partir do desvelar do mito. O mito sempre nos remete a uma conexão a fatos supra-humanos, que tem uma existência em si e por si em que ele é um símbolo revelador. O mito é um símbolo que procura revelar o verbo indizível ao homem. O mito, segundo Maurice Leenherdt, citado por Junito de Souza Brandão é: "sentido antes de ser inteligido e formulado. Mito é a palavra, a imagem, o gesto, que circunscreve o acontecimento no coração do homem, emotivo como uma criança, antes de fixar-se como uma narrativa. (BRANDÃO, 1999, p. 36)”.
Os acontecimentos de nossa vida são todos perpassados por mitos e símbolos que evocam determinados níveis de consciência variados nos indivíduos dependendo da significação que estes mitos e símbolos tem na vida de um determinado indivíduo em uma determinada situação.
Para melhor explicarmos o que este ensaio monográfico entende por mito, recorremos as palavras do estudioso de mitologia comparada, o Sr. Joseph Campbell que nos fala de sua função em nossas vidas e o que a sua ausência pode acarretar em nossas vidas. Para ele, em sua obra clássica O herói de mil faces:
A função primária da mitologia e dos ritos sempre foi a de fornecer os símbolos que levam o espírito humano a avançar opondo-se àquelas outras fantasias humanas constantes que tendem a leva-lo para trás. Com efeito, pode ser que a incidência tão grande de neuroses em nosso meio decorra do declínio, entre nós, deste auxílio espiritual efetivo. (CAMPBELL, 1998, p. 21).
Doravante, como enfatizamos anteriormente, o homem do mesmo modo que tende para o infinito mesmo que toda a sua volta procure castrar esta sua tendência natural e, sendo as mitologias o canal que este indivíduo tem de ligação com o infinito, com o Ser, na ausência de um sistema de símbolos que o guiem a ascensão ele acaba por se apegar e se guiar pela primeira mitologia que lhe parecer positiva.
A modernidade desde seu projeto originário veio e vem a desacralizar toda a realidade de nossa sociedade e a sacralizar outras entidades que por sua vez, lenta e gradativamente vem a ocupar o lugar destes outros símbolos. Por exemplo: A adolescência é uma fase em que o indivíduo não se vê mais como uma criança, mas não compreende ainda o mundo adulto e em contrapartida, seus pais continuam a tratá-lo como sendo o "bebê" da família. É justamente nesta fase de sua vida que a sua alma clama por uma iniciação e como não se há mais iniciações como nas sociedades tradicionais este indivíduo vai procurar nos grupos de pessoas que o tratem como ele quer ser tratado, no caso como um adulto, ou melhor, o que ele imagina ser um adulto e irá aceitar as provações que estes lhe impinjam para que seja reconhecido como um deles. Um exemplo típico deste processo é a adesão do jovem no mundo das drogas.
Doravante, quando nos referimos a ritos de iniciação não propomos que adotemos os mesmos ritos que uma tribo indígena como a dos Úapes usam para iniciar os seus jovens na vida adulta, não mesmo. Propomos sim que se procure, ao contrário do que muitos educadores querem, mistificar a instituição escola em alguns de seus aspectos e que se dê uma carga simbólica maior aos momentos de passagem em que a criança e o jovem enfrenta. Mas como se fazer isso? E aliás, como dar uma característica mítica no desarrolo do processo educacional? Primeiramente, um mito necessariamente não é simplesmente uma história fabulosa e muito menos e necessariamente um simbolismo mágico religioso, mas sim um símbolo ou uma narrativa que remeta a algo que seja maior e mais imprescindível para a própria vida. Deve ser algo que propicie um sentido a vida deste adolescente.
A ausência de mitos guias no processo educativo não nos leva a libertação como também não nos livra da influência dos anti-horizontes apresentados por mitos que se apresentam como idéias racionais. E eis aí um grande desafio ao educador dos dias de hoje frente a seu ofício. E eis aí algumas questões a serem discutidas de forma calorosa e bem como meditadas no silêncio da solitude do interior de nossas almas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Frente ao que fora aqui exposto nas páginas que compõe este modesto estudo monográfico, procuraremos agora apresentar apenas algumas palavras finais quanto ao assunto discutido por nós até aqui. Cremos ser em vão toda e qualquer discussão que não procure levar em consideração não só a formação histórica de nossa sociedade e bem como dos problemas que esta vem enfrentando para superar as suas debilidades. Todavia, mais vão que uma discussão rasa neste âmbito é quando se apresenta como única solução uma proposta que por sua vez foge ao crivo de uma discussão como as sombras fogem da luz.
Somos cientes das limitações de nosso estudo, mas também temos claro em nossa consciência que o atual estado do debate no meio cultural e bem como no meio pedagógico estão a deriva. O imanentismo e o historicismo absoluto do marxismo, juntamente com sua práxis em simbiose com o pragmatismo que infectaram de tal maneira o pensamento nacional que se torna quase que impossível abrir uma discussão que não parta que aspectos contingentes, como se estes fossem verdades perenes.
Doravante, como já frisamos em um outro momento, não estamos a afirmar que uma discussão entorno de tais pressupostos não sejam necessários, mas sim e principalmente, que este não é o cerne da crise de nosso sistema educacional e o que é apontado como sendo a solução de todos os nossos males nada mais é que um dos maiores responsáveis pelo estado em que se encontra a educação em nossa sociedade e bem como a cultura de nosso país de um modo geral.
Deste modo, acreditamos que só poderemos passar a ter uma discussão séria quanto ao assunto pautado por nós quando os professores se desvincularem do profundo sentimentalismo populista que infecta todas as palavras que são enunciadas sobre o assunto.
Para se ter uma visão clara dos problemas que existem e para que sejam resolvidos devemos antes de qualquer coisa, procurar olhar o problema em si e não firmar a nossa consciência em uma suposta realidade futura para depois dizer o que está errado. Assim sendo, pensamos que para haver um debate sério, temos que estar desnudos de nossas paixões para assim se entregar de corpo e alma ao labutar do intelecto.
De mais a mais, um mal não se dissipa com gritos histéricos e muito menos com uma piedade hipócrita, mas sim, com uma visão atinada para com as peculiaridades do que existe e do que tem para ser resolvido, do que pode ser resolvido por nós, assumindo assim nossa parcela de culpa perante a sociedade e deste modo, assumindo antes de qualquer coisa, nossa parcela de responsabilidade para com o próximo.
Não estamos a sugerir um mero comprometimento formal. Estamos sugerindo um comprometimento de corpo e alma, realista ao invés de utópico, presunçoso e arrogante, mas sim, firmado em valores perenes e não volúveis que vivem no fluir do imediatismo, pois o ser humano é fruto de seu passado, do que foi legado pelos que nos antecederam e deste modo, podemos afirmar que somos como uma árvore, que só poderá se apresentar de forma viçosa se suas raízes sentirem a profundidade do solo, da cultura da Civilização.
Mas, enquanto estivermos a deitar as nossas raízes no lodo imanentista das filosofias e doutrinas modernistas que negam o mundo e bem como a dignidade humana estaremos impossibilitados de pensar seriamente a realidade educacional e bem como a sua. Enquanto não compreendermos que para se apresentar uma proposta devemos vivenciá-la, que para exercer um ofício devemos ama-lo mais que tudo que ele nos oferte, de nada adiantará apontar o dedo acusador para as mazelas geradas pelo mundo pelo simples fato que haverá três que estarão apontado para sua alma imersa em vaidade, hipocrisia e prepotência.
Por fim, conheçamos a priori a nós mesmos para compreendermos o mundo, pois não há pior cegueira que aquela que consegue ver todos os males e desgraças do mundo, mas que é incapaz de reconhecer as marcas de seus dedos em tudo o que acha a frouxidão do olhar enfadonho.
E esperamos que este não seja o fim da exposição de um estudo, mas sim, o começo de uma discussão da sua parte consigo mesmo e com suas convicção e fraquezas, pois só assim a educação passará a ter o sentido que lhe é próprio: o de conduzir e elevar o ser humano.
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NOTAS
[
[1]
]
Quanto a esta afirmação se interessar possa, há um livro do pastor Romeno-americano Ricahrd Wurmbrand intitulado
Era Marx um Satanista?
Disponível na internet no site: www.rberga.hpg.com.br/ como também, a um tópico sobre este assunto em um fórum de discussão no site www.olavodecarvalho.org.
[
[2]
]
Levantamos esta interrogação, pois é fato que Karl Marx para provar as suas teorias se fez uso de gráficos falsos (tal fato é levantado por Olavo de Carvalho, José Osvaldo Meira Penna, Mendo Castro Henriques e Eric Voegelin). Sem falar que este mesmo homem que dizia que a burguesia explorava os trabalhadores e que só haveria justiça no mundo quando esta classe fosse derrubada, havia tido com sua empregada um filho o qual, além de não reconhecê-lo como seu jamais permitiu que este se sentasse junto à mesa nas horas de refeição. O homem que criticava a ganância dos burgueses era um homem que após a morte de um ente de sua família, tinha no lugar do pesar pela morte de um familiar apenas uma preocupação obstinada pela herança que este poderia ter-lhe deixado. Diante disso, como que intelectuais que adotam o marxismo como base de suas posições podem acreditar que suas posturas são legítimas sendo que o marxismo já nasceu como um engodo? Ou vão nos dizer que não importa se uma teoria é justificada com dados alterados?
[
[3]
]
Pois, até aquele dado momento, a preocupação dos membros das Universidades era basicamente obter uma compreensão mais clara do mundo a sua volta e da realidade em sua dimensão interina. Tinham com fim último de seus estudos apenas o conhecimento e nada mais. O que lhes importava era a verdade, não importando se a sua descoberta levasse à negação de suas posições. Porém, com o surgimento dos Estados Absolutistas e Nacionais, as Universidades não tinham mais como estatuto, como fim último o conhecimento em si, mas sim, que todos os estudos levassem a manutenção do poder vigente como também, para a usurpação deste (principalmente com o advento do Iluminismo). Nota-se tal mudança do vinho para a cachaça na produção intelectual contemporânea, principalmente nas áreas dos ciências humanas e filosofia. Quando se quer modificar a maneira de ser das pessoas, quando se tem uma posição como esta como fim último, nós temos aí o fenômeno do totalitarismo, pois, não é a função do sábio mudar o mundo, mas sim compreendê-lo, desvendá-lo para se chegar, se aproximar da verdade ontológica e não usurpar o seu lugar colocando um grupo ou ideologia política estapafúrdia em seu lugar.
[
[4]
]
Usamos esta expressão para denominar a colônia portuguesa antes da independência, pois, como nos lembra o historiador Fernando Novais citando Lucian Febrve que, o pecado mortal dos historiadores é o anacronismo histórico que nada mais é que você usar um termo contemporâneo para denominar uma determinada realidade passada. É você transportar valores do presente para um passado onde estes valores eram inexistentes. Por isso, a fim de evitar o anacronismo histórico, utilizamos o termo América Portuguesa ao invés de Brasil colônia e, de mais a mais, os discursos de nossos grandes debatedores que afirmam sua tese de que só há desenvolvimento sócio-econômico com grandes investimentos por parte do Estado em educação, estão profundamente permeados de anacronismos em seus argumentos.
[
[5]
]
CARVALHO, Olavo de.
Lógica da mistificação, ou: O chicote da Tiazinha.
Disponível na internet: www.olavodecarvalho.org.
[
[6]
]
CARVALHO, Olavo de.
O imbecil Coletivo – tomo I
. Rio de Janeiro: Faculdade da Cidade, 1996, 6a. ed. (p. 60 – 66).
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Entrevista de Olavo de Carvalho ao site Anedota Búlgara – 3 de janeiro de 2002
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São cruzados quatro raças de porcos diferentes para obter um espécime que possuirá 25% das características de cada uma das raças.
©2002 — Dartagnan da Silva Zanela
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Setembro 2002
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