KOREAEBOOKDOCUMENT1.3.0 Cronicas do Cotidiano e do Absurdo Antonio Virgilio de Andrade eBooksBrasil eBooksBrasil #;para.xml capa.jpg normal.sty 2^ para.xml l smaller.sty hu small.sty ~ normal.sty large.sty i larger.sty k8 capa.jpg autor.jpg
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Crônicas do Cotidiano e do Absurdo
Antônio Virgílio de Andrade
Versão para eBook
eBooksBrasil.com
Fonte Digital
Documento do Autor
Copyright:
© 2001 Antônio Virgílio de Andrade
avandrade@bol.com.br
ÍNDICE
[
O Autor
]
[
Prefácio
]
Luiz Paulo Pieri
[
PetrUSA
]
[
Carta a Dom Hélder
]
[
Em Terra de Ditador Quem Tem um Olho é Cego
]
[
Carta de Minas
]
[
Lingeries ou Pererecas
]
[
Cavalo Zaino
]
[
Crônica da Infidelidade
]
[
Exploda-se!
]
[
Ante-Sala do Poder
]
[
Elevador Freudiano
]
[
Adelaide, uma Paixão
]
[
Cultura Digital
]
[
Os Quatro Mandamentos do Autor Neófito
]
[
Palavras
]
[
A Matilha Ladra no Celular
]
[
Com Garapa e Pastel
]
[
Claudinha e o Mar
]
[
Apêndice Sexual
]
[
História Antiga
]
[
Na cova do Covas
]
[
A Pobreza e a Ética
]
[
O Pequeno Trovador
]
[
Rabear do Furacão
]
[
No Reino dos Botocudos
]
[
A Defesa Neoliberal
]
[
Carta de Brasília
]
[
Carta da Bahia
]
[
Profana
]
[
Verso e Reverso
]
[
Ressaca Poética
]
[
Cantorias
]
[
O Karkaru
]
[
Cordélia
]
[
Aroma Colonial
]
[
Escravas da Beleza
]
[
Ave! Fernandus
]
[
Denílson, o Último Poeta Libertino
]
[
O Apagão
]
[
É Gol, é Emoção
]
[
No Banco
]
[
Riacho Fundo
]
[
Orgia Eletrônica
]
[
Exórdio da Cachorras
]
[
Crônica Profética
]
[
Toda Desnudez Será Perdoada
]
[
Gastronomia Ditadorial
]
O Autor
Antônio Virgílio de Andrade
, Poeta e Escritor, nasceu em dezembro de 1955, em Sertânia – PE; residiu em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, e hoje vive em Brasília; cidade na qual, ainda moço, participou da epopéia de sua construção.
Antônio Virgílio iniciou sua carreira literária publicando em editoras virtuais obtendo, desde então, reconhecimento e apreço. É Autor da
VIRTUALBOOK EDITORA
, onde possui cinco títulos publicados. Publica regularmente na “
USINA DE LETRAS
”, revista on-line do Sindicado dos Escritores de Brasília, na Revista on-line
PONTO DE VISTA
, na Revista on-line
POESIA & CIA
; na Revista on-line
MAGRIÇA
e outras do gênero, onde publica Contos, Crônicas, Poesias e Ensaios.
Sua coletânea poética:
RASTILHO DE PROSAS
, publicada em formato virtual e convencional, foi lançada na
16a. BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE SÃO PAULO – 2000
, na
19a. FEIRA DO LIVRO DE BRASÍLIA – 2000
e em outros eventos literários.
Recebeu menção honrosa do
Centro Cultural de Aricanduva
– São Paulo, com a Poesia
SIMPLES
; participou da “
6a. ANTOLOGIA
editada pela
CÂMARA BRASILEIRA DE JOVENS ESCRITORES
”; foi selecionado para figurar no
PAINEL BRASILEIRO DE NOVOS TALENTOS – CBJE
– Rio de Janeiro –; e foi incluído na “
1a. COLETÂNEA POÉTICA DE ARICANDUVA
”, promovida pelo Centro Cultural de Aricanduva – São Paulo.
Publicações Virtuais
:
Coletânea Poética: RASTILHO DE PROSAS
Novela Infanto-Juvenil: CAÇADA AO PIRA-BRASÍLIA
Conto Infanto-Juvenil: ÁGUA RASA NO RIACHO FUNDO
Crônicas: CRÔNICAS DO COTIDIANO E DO ABSURDO
Romance; OINOTNA, O ÚLTIMO ERMITÃO
Publicações em formato convencional:
Coletânea Poética:
RASTILHO DE PROSAS
Novela Infanto-Juvenil:
CAÇADA AO PIRA-BRASÍLIA
Antônio Virgílio de Andrade
CRÔNICAS
DO COTIDIANO
E DO ABSURDO
PREFÁCIO:
Um ousado e picante olhar nos acontecimentos do cotidiano, absurdamente, reais e absurdos, que fluí da crítica para o entretenimento.
Selecionar textos para esta obra foi, para mim, uma aventura prazerosa e edificante. Surpresa e risos são uma tônica constante neste folhetim poético de
Antonio Virgilio de Andrade
. E, como de outras vezes, o Autor consegue surpreender ao permitir que dramas do seu cotidiano fluam para a realidade cotidiana de todos nós, revelando absurdos. A inspiração poética é inegável. Trilhando por esse velho e fértil caminho que já revelou e consagrou renomados escritores, destaco na CRÔNICA DO COTIDIANO E DO ABSURDO os títulos
DENÍLSON, o último poeta libertino
, pela impagável versatilidade criativa;
CARTA A DOM HÉLDER
, pelo fervor da fé;
ORGIA ELETRÔNICA
, uma oportuna reprise da coletânea Poética RASTILHO DE PROSA,
AVE! FERNANDUZ
e
NA TERRA DE DITADOR QUE TEM DOIS OLHOS É CEGO
, pela crítica ao momento político do país;
CLAUDINHA E O MAR
, por ter logrado transformar a dor da despedida em momento de cumplicidade e alegria;
LINGERIES OU PERERECAS
, pela comicidade;
A MATILHA LADRA NO CELULAR, EXÓRDIO DAS CACHORRAS (só as preparadas), TODA DESNUDEZ SERÁ PERDOADA
, e tantas outras que me furto do desejo de citar para não me alongar mais do que posso e devo.
Luiz Paulo Pieri
Autor de “OH MY GOD” e “O Manto de Vega”
PetrUSA
(em: uma certa PETROBAX)
29/12/2000
O anedótico fiasco da chamada PETROBRAX (digo: PETROBRAS) só encontra uma explicação:
Depois de advertido por e-mail (do patrão) o Cavaleiro Andante mandou por um fim numa certa gastança do festejo batismal.
E não era sem tempo. Se for para avacalhar com sentimento carnavalesco e futebolístico do já tão sacaneado povo brasileiro o mais apropriado é adotar as siglas que lhe atribuem real valor:
PetrUSA — Nós paga, eles USA.
CARTA A DOM HÉLDER
01/02/2000
Quem será aquele homem que pulsando a luz do horizonte
carrega as chagas do mundo sobre os ombros
e nos ensina o caminho do morrer e viver.
Será um profeta?
Um anjo caído do céu?
Um trovador lusitano?
Ou mais um clone do Papai-Noel?
Veja! O iluminado está escalando os muros da sarjeta.
Marchando a mesma marcha da massa perneta.
Cantando pagode, samba, rock e axé e tocando retreta.
Não, ele não é tão santo! Não é capaz de caminhar sobre as águas sem muletas.
Quem pensa que é, tatuando-se de cara-pintada:
Um aborrecente infeliz?
Uma tchucaramãe civilizada?
Ou produto de consumo desta civilização globalizada?
EM TERRA DE DITADOR QUE TEM DOIS OLHOS É CEGO
16/05/2001
Não me causa espanto o Presidente FHC vir a público confessar que não sabia da necessidade de investimentos no setor energético do Brasil. Somente um estúpido pode imaginar que nosso mais ilustre prestigiado mandatário possa ter alguma responsabilidade pelo ocorrido. Estou certo de que se a indagação dissesse respeito ao panorama mundial, tais como: como anda as boates francesas, como anda o clima no Alpes suíços, ou como anda a maré nas ilhas Caymãs; tenho certeza que responderia sem titubear.
Agora, aqui entre nós, exigir que o Presidente saiba como anda a situação do Brasil;
só pode ser coisa da oposição que quer desestabilizar a democracia
.
CARTA DE MINAS
24/05/2001
Joaquim! Joaquim!
Acorda, oh! dentista da inquisição.
Teu boticão emudeceu o grito dos conspiradores;
Mas o sono eterno não te impedirá de escutar o ranger de dentes dos filhos da Pátria;
Vivemos um berço esplêndido em terra arrasada.
Joaquim! Joaquim!
Levanta-te, óh! Patriarca da república.
Vede tua obra pífia desbotar sob o manto da coluna neoliberal;
Vede teus filhos tombar sob a espada do sociólogo ditador;
As muralhas das Minas Gerais, no passado baluarte da liberdade, ruem sob a égide do capitalista tirano.
Joaquim! Joaquim!
Regresse, Oh! senil Inconfidente.
Tua erma que um dia foi símbolo de luta hoje é poleiro de pombo
Tua bravura é motivo de chacota na Capitania dos Bandeirantes
Já não sofremos os achaques da Coroa Lusitana; conquistamos o estado de colônia.
Joaquim! Joaquim!
Morras só mais uma vez, óh! esquartejado.
Teu grito de rebeldia vale menos do que um tango portenho;
Tua luta e glória só encontram abrigo nas mãos escarnecidas da resistência camponesa
Tua viúva implora por brasilidade e afago dos filhos aquartelados.
LINGERIES OU PERERECAS
29/12/1999
A balconista da loja de lingeries, exausta por oferecer toda a sorte de novidades de calcinha e sempre obter a mesma negativa do cliente (é linda... mas ela já possui uma igual); perde a compostura e, indaga:
— Desculpe-me à indelicadeza: pelo que posso avaliar, o senhor é um homem muito dedicado à sua companheira... No entanto, não seria mais romântico, de vez em quando e quando em vez, presenteá-la com outros adornos? Que tal uma bolsa de couro de jacaré; um vestido de ceda transparente; ou simplesmente um bracelete de diamantes?
O cliente, constrangido com os olhares maliciosos dos presentes (jovens senhoras e outras menos jovens) responde após um leve pigarrear:
— Bom... Eu gostaria de toda semana presenteá-la com uma perereca... Como não é possível, contento-me com uma calcinha nova.
CAVALO ZAINO
24/05/2001
Os ponteiros do relógio escorrem pela fresta da janela betume.
O tic-tac do tempo me desperta lembranças dos dias em que corria pela relva miúda e sentia o odor de suor e o cheiro de alecrim florido ser esmagado sob o peso do casco.
Quando APOLO cruzava o alagadiço ganhando galopar pantaneiro,
tal e qual herói dos filmes de big-bang,
arremetia a montaria por sobre obstáculos e fazia o animal soltar um grunhido selvagem.
Hoje, abandonei aquelas aventuras juvenis.
APOLO enrijeceu as patas e nem ao menos consegue pastar no estábulo.
Observando o dia perder o brilho e morrer,
escuto seu relinchar denunciando que BASALA KANGA está no cio.
CRÔNICA DA INFIDELIDADE
26/01/2001
Na rua da Pátria, 1999, Cabrália, um raio de luz lança um retângulo de poeira sobre o criado desnudo. A cama em desalinho revela que corpos suados fundiram a noite toda. Um cheiro ocre exala pelos quatro cantos do cômodo desconfortável. A toalha encardida descansa no toucador.
Ontem, Paulo se deitou com a amante. Levantou-se com uma esposa enciumada com suas rotineiras visitas ao dentista.
Ontem, ébrio, Caio dormiu com Lígia. Acordou com a mão no saco de um tal Agenor.
Ontem, Marlene ficou com Fábio. Ficou, mas jura que não fica mais.
Se em Cabrália o dia amanhece com gosto de ressaca, o mesmo não se pode dizer de YANOMAMI, sua clone do norte. Lá, patriarcas de pele clara e, vassalos bronzeados vivem outros delírios. Bebericam o caldo da “Ayuasca” (o cipó dos espíritos) e cantam: NEW WORK, NEEW WOORK...
EXPLODA-SE!
24/05/2001
EXPLODA-SE
Mergulhe na escuridão da noite como se fosse um querubim.
Dispa-se dos farrapos da fantasia irracional
Grite que sua loucura é viver e lute por seus direitos
O direito de morrer como se fosse herói nacional.
REFLITA:
Você é livre para dizer não?
Você é livre para amar e morrer?
Você é livre para negar o pacto com essa desilusão?
LIBERE-SE
Recuse o devaneio de ser massa de manobra e
viva sua hipocrisia: beba coca, coma cola e cheire incenso da Índia.
Houve um tempo em que seus algozes se embriagavam no mesmo perfume e viviam uma fértil rebeldia.
ANTE-SALA DO PODER
27/07/2001
Na ante-sala da pós-ditadura
sorve-se coca-cola como se fosse sumo da democracia.
ELEVADOR FREUDIANO
17/03/2000
O elevador social do meu edifício sempre quebra nas horas inoportunas e inesperadas. Estou certo de que escada sem degraus padece da aptidão froydiana para desvendar os caminhos e mistérios da mente humana. Sua capacidade para perscrutar as mais íntimas e insuspeitas máculas dos pacientes que acolhe na providencial rotina urbana é algo que me causa espanto. Não há máscara de falsidade que não possa despir. E não há chaga na alma que não possa curar.
Dizem que sua paixão pela psicanálise, decorre do ócio. Tanto o é, ofertou seu espaço físico a serviço da psique, e passou a semear pétalas de alegria nos corações dos moribundos que vagueiam na face terrestre como se fosse um bando de zumbis escarlate.
Do meu lado, já não me dou conta das vezes que presenciei vizinhos atarem relacionamento fecundos; parceiros quebrarem a abstinência de longos e ininterruptos anos, após uma de suas breve e instrutiva seção de psicanálise de grupo.
Na semana que se findou, nosso psicólogo sexual cometeu o desatino de patrocinar a união da Dona Fátima, moradora do 521, com o Capitão Junqueira, do 822. Inimigos carnais.
Ontem, em uma das suas costumeira consultas noturna, cometeu o desatino de promover, no aconchego do divã metálico, uma noitada de sexo seguro para um casal de jovens enamorados.
Aqui, cabe uma explicação: levando-se em conta que os pacientes não dispunham de local apropriado para comprovarem, na prática, uma certa teoria da atração da química das massas; fizeram uso do aconchego do consultório para experimento e avaliação. Daí, pintou o clima, e os pacientes, já impacientes, meteram os pé pelas mãos e transpuseram a barreira que separa a arcaica teoria da inocente realidade.
Se você padece de puritânice, escute-me esta advertência: não o julgues libertino, pervertido ou cafajeste por propiciar a outrem momentos de felicidade. Se sua falsa moral não lhe permite admitir que gostaria que o mesmo se desse consigo, não interfira na felicidade alheia. Sorria. Liberte-se do seu casulo de insônias e dê um pulo lá no meu edifício. A consulta é grátis.
ADELAIDE, UMA PAIXÃO
19/03/2001
Minha vida nada seria, sem a vida de Adelayde
por ela, às vezes, entrego-me ao vício
por ela sou capaz de qualquer sacrifício
por ela sou capaz de morrer.
Oi! Adelayde...
por onde andavas, Adelayde?
Estava te procurando, Adelaide
Ontem não consegui dormir, de tanta aflição.
Te adoro tanto Adelayde,
se um dia partires morrerei tal qual passarinho
se algum dia me abandonar; esse será meu caminho,
pois sem ti, já não sei viver.
Não, não me negues um carinho, Adelayde
Você sabe o bem, que sou incapaz de desejar outra mulher
se achar que fui longe, é só pedir, paro quando quiser,
você é minha perdição.
Beije-me só uma vez mais, Adelayde
por ti, abandonarei o vício e a safadeza
farei de ti minha de princesa
só mais um pouquinho, Adelayde. Escute meu coração.
Te amo tanto, Adelayde. Te quero tanto, Adelayde
não te afastas de mim, Adelayde
só mais um pouquinho, Adelayde
só quero passar a mão.
Ai! Adelayde.
hum...! Adelayde
assim... Adelayde
âhâahãhãââââ!
...................
Oi! Adelaide.
foi tão bom, Adelaide...
Tenho que ir... Senão, posso perder a condução.
Depois ligo, Adelaide. Estou indo pro Rio, Adelaide. Quando lá chegar; te mando um cartão.
CULTURA DIGITAL
13/07/2001
A RUDEZ SEMASIOLÓGICA DO SILÍCIO
DESCORTINA UM POUCO DA POESIA MARGINAL.
OS QUATRO MANDAMENTOS DO AUTOR NEÓFITO
06/07/2001
1 – Nunca se martirize se os amigos cabularem seu coquetel de lançamento;
2 – Não se descabele se comparecem, e, no entanto, não adquirirem sua obra;
3 – Não desanime se adquirirem, e, alheios à fragilidade de tal realização, omitirem um fraterno julgamento;
4 – Jamais se vanglorie se sua obra for alvo do elogio desmedido e exaltado daqueles que se banqueteiam à sua mesa.
Afinal, na selvajaria do mundo editorial, não é de bom augúrio confiar na embriaguez da crítica. Nunca se sabe se o sucesso chega antes ou depois do afago da mídia.
PALAVRAS
27/03/2001
Palavras,
Pedaços de sentimento enclausurado em símbolos imperfeitos
que sagrando na nudez do pergaminho escorre pelo canto da boca desdentada.
Palavras,
Notas melódica em harpejo dissonantes que vara orifícios e fere o canal timpânico.
E quando traduzida com ausência de emoção, arranha o fonema e cega alma.
A MATILHA LADRA NO CELULAR
27/03/2001
Nuvens de boatos cruzam o oceano e suas fendas abissais.
A bolsa cai. O futebol fica pobre. A floresta tropical sobe na cotação internacional.
Abutre e raposa banqueteiam-se nas vísceras do fadário.
O povo sofre, e canta que é feliz. Chegou o carnaval.
Uma nova mania nacional chega às ruas, ganhando reconhecimento e fama.
SARGENTELLY já não é o mesmo. Exportou a mulata, mas não foi capaz de enaltecer nossas popozudas.
COM GARAPA E PASTEL
Aqui, morre-se de tédio;
Mas não por falta de amor.
Aqui, morre-se de frio;
Mas não por falta de calor.
Se me aperta a fome, corro pra rodoviária;
Encho a pança com garapa de cana e pastel.
Se quero curtir uma praia;
Sigo o caminho do céu.
CLAUDINHA E O MAR
13/07/2001
Claudinha foi morar à beira mar.
Me deixou
Como também me deixou Joana, Patrícia, Rosinha, Florinda e Alencar.
Alencar era um caro chato!
Chato, mas amigo.
Não sei o que essa trupe foi fazer no Ceará.
Por Claudinha quase perdi a alegria.
Daqueles bons tempos, só restou nostalgia.
Seus olhos me olhando de soslaio faziam meu corpo vibrar e pernas tremer.
Quando me olhava, olhava com desejo.
Com o desejo de quem quer fruta com casca comer.
Ontem, Claudinha me ligou.
Ligou não, mandou um e-mail.
Poetisa, daquelas de mão cheia,
Sempre gostou de me provocar com o lirismo na veia.
Às vezes penso que Claudinha deveria ser atriz.
Se assim fosse, pelo cristal da telinha
Poderia desnudar sua fogosa e generosa formosura.
Mas Claudinha nunca quis.
Diz que ser poetisa é o que a faz tesuda.
Tesuda para quem tem um coração tão grande como Claudinha devo dizer que é pouco.
Ela é um poço de alegria e candura.
Quem saiu perdendo fui eu.
Ela partiu. E perdi a inspiração e a musa.
APÊNDICE SEXUAL
18/01/2001
Muito me envaidece possuir mãos perfeitas: dedos longos, unhas chatas e epiderme encalecida. Pior seria se não os tivesse. Pior seria se os perdesse.
Não quero com isso dizer, que um dedo sobressalente não me fosse de bom grado.
Não me leve a mal. Não almejo espaldar um sexteto falângico com duplo positivo; ou uma parelha de dedos em riste.
Não me ficaria muito bem. A caneta já cumpre esse papel com embrutecimento e ternura.
Admito, no entanto, que não vou negar que me ressinto da polivalência do mediano enrijecido e a cumplicidade bigamia do anelar.
Há momentos na vida que é preciso reconhecer que o tempo passou.
Há momentos em que a mão também é objeto de desejo e prazer para quem não dispõe de uma espada afiada.
HISTÓRIA ANTIGA
11/01/2000
Olha seu moço: essa história é antiga... De novo só nossas amigas
guardetes de bordel.
Guardando um pedacinho do céu.
Olha seu moço: não me venhas com intrigas... O Senado não se intimida
tem uma cafetina pro seu plantel.
Guardando um pedacinho do céu.
Olha se moço: não me venhas com seu asco... Pra demagogia um abraço
da cafetina do quartel.
Guardando um pedacinho do céu.
Olha se moço: o padre já rogou praga... Mas sua beata mais devotada
é cafetina no Borel.
Guardando um pedacinho do céu.
Olha seu moço: já contei ao delegado... Mas seu melhor comandado
é uma cafetina de chapéu.
Guardando um pedacinho do céu.
Olha seu moço: esta conversa ficou longa... Só você seu deu conta
de que a democracia é uma torre de Babel.
Que maravilha de pedacinho do céu!
Na cova do COVAS
06/03/2001
Neste país de minguados homens de pública pureza pública, é com grande pesar que presenciamos a partida do paladino da moralidade na democrática sociedade republicana.
No fosso da cova rasa, descortino olhos desenxabidos derramando lágrimas de crocodilo no leito fúnebre. São velhos e novos companheiros pranteando o fel da traição.
Não, não lhe falta aquele que brada seu nome em sinal de eterna lealdade e o aclama como prenúncio do surgimento de um novo super herói das revistas de quadrinhos. Ou quem sabe, do arquiteto da justiça social e mártir da desesperança nacional.
Ostentando o glamour, o bispado clama aos céus perdão pela fragilidade humana e consolo à sua estúpida e desgovernada mãe pátria. Cânticos, louvor e a benção PAPAL consolam os desconsolados. Não muito depois, o alegórico cortejo é observado cruzando as alamedas rumo ao além. E tênis, por que ninguém é de ferro.
Parta, COVAS, parta enquanto é tempo. Você foi guerreiro e nunca fez por merecer afeto de tal companhia. Aqueles que te bajulavam e cobriam seus ombros com abraço apertado, são amigos “mui amigos”.
Mas o que fazer: se até o CHICO que nunca economizou alegria, levou para a cama aquela
fulana de tal
da economia; eu também tenho direito de dançar “BEÇA ME MUCHO” de rosto colado.
A POBREZA E A ÉTICA
01/03/2001
Qual a diferença entre: um rico e bastardo empresário americano, um inglês, um suíço, e um brasileiro?
R. Uma! Ou melhor: os olhos. O americano vê o mundo com objetividade imperial. O britânico com o conservadorismo do matriarcado feudal; o suíço com cifrões da máquina registradora; e o brasileiro com a apatia de quem ainda vive a ilusão de que DEUS é brasileiro.
Peter Singer, um conhecido filósofo australiano, apóia fortemente a idéia de que devemos fazer tudo o que pudermos para tentar erradicar a pobreza. Em sua obra, a ÉTICA PRÁTICA, discorre sobre premissas que considera relevantes quando debruçamos sob tema:
Primeira premissa:
Se pudermos impedir que um mal aconteça sem sacrificarmos nada de importância moral comparável, devemos fazê-lo;
Segunda premissa:
A pobreza absoluta é um mal;
Terceira premissa:
Há alguma pobreza absoluta que podemos impedir que aconteça sem sacrificar nada de importância moral comparável;
Conclusão:
Temos o dever de impedir a ocorrência da pobreza absoluta.
Singer diz que, se concordarmos com a conclusão deste argumento – “Temos o dever de impedir a ocorrência da pobreza absoluta” -, teremos de mudar radicalmente a nossa vida, ou melhor, mudar nossa relação com o processo de globalização econômico/social.
Isto posto, podemos concluir:
A socialização assemelha-se a engenhoca que gira em movimento contínuo e inestancável esmagando a todo e qualquer obstáculo que interponha no seu trilhar para o amanhã de incertezas.
O PEQUENO TROVADOR
31/01/2001
Das palavras faço sonho.
Dos sonhos modo de viver.
O viver não me trás sentido
sem essa tola maneira de prolongar meus dias.
RABEAR DO FURACÃO
29/01/2000
O vento sul – que aquece as pradarias dos filhos do norte
tange para longe nossa poesia.
Apaga pegadas no caminho.
Rouba de mim, uma canção.
O vento norte – que nos impregna com cheiro da morte
enche nossos olhos de gula e alegria.
Bafeja a opulência que nos contagia.
Coroa da realeza. O luzir das suas ricas pedrarias tem brilho do Cruzeiro do Sul.
No Reino dos Botocudos
24/12/2000
Conta-se que num reino distante. Muito distante. Muito além da infinitude da nossa imaginação. Um povo risonho era governado por um tirano BUCÉFALO e metido a intelectual.
Mas não se sabe, se, por bem ou por mal, quanto mais aquela raça de BOTOCUDOS sofria e penava, quanto mais festejava o advento do carnaval.
— O carnaval era uma festa pagã. Pagã e paga! Paga em moedas de coloração verdejante e valor do mais rico metal.
Certo dia, cortando o céu de uma tarde de verão, surgiu uma águia que trazia no bico uma pena de canarinho presa nas suas garras de dragão.
A ave carnívora sobrevoou a praia encobertada por nádegas desnudas, e anunciou:
— Vim para ver meu filho! O filho amado que sempre honra o pai. Aquele que, mesmo longe dos meus olhos, nunca deixou de se curvar ante o poder do meu cetro universal. Graças à sua obediência sega; gigante me fez, gigante sou, e gigante serei para sempre.
Atentos ao pronunciamento dessas sábias e soberanas palavras os BOTOCUDOS emudeceram. Trombetas ecoaram nos quatros cantos da terra. Anunciando o início e o baile do Municipal.
A DEFESA NEOLIBERAL
20/01/2000
Às 8 hs., o cristal da telinha desperta com seu canto habitual: PLIN-PLIN. A voz monótona do carrasco televisivo confirma a sentença anunciada na semana anterior: O MINISTRO DA DEFESA CAIU.
No tabuleiro político, o estrategista obtém o efeito esperado: XEQUE MATE. O adversário não esboça reação; sufoca o heróico brado retumbante. A opinião pública permanece perplexa, muda, inerte. CABRÁLIA navega ao sabor do vento norte. E o timoneiro continua ausente: Viajando.
Enquanto isso; a Bósnia agoniza numa carnificina mundial. Enquanto isso; o asteróide vara o infinito no seu vôo mortal. Enquanto isso; os netos da Rainha colonizam um certo Monte Pascoal. Enquanto isso; um visionário, hilário, grita: GERALDO!!! GERALDO!!!
CARTA DE BRASÍLIA
29/05/2001
Ontem estive no Congresso...
“Ao amigo leitor – que desconhece esse monumento à sacanagem – devo informar que se trata de um complexo predial de onde se sobressai duas gigantescas bacias de concreto armado que abriga a Câmara dos Deputados e o Senador Federal”.
Dizem as más línguas, que essa ilusionista e ufânica construção é uma obra de arte do mestre OSCAR MIEMAYER, comunista de “carteirinha”.
Pois bem: cruzando o labirinto de corredores que une as duas Casas, tropecei no SENADOR ANTONIO CARLOS, mais conhecido como ACM. Ele passou por mim e, lançou-me um sorriso de ternura que me deixou órfão da sua cumplicidade puritana.
Posso informar que o Senador estava tenso e um pouco sisudo, mas não denunciava que por sobre sua cabeça pairava um painel de votação. No canto do olho esquerdo vislumbrei um certo ar de triunfo e desprezo para com os inimigos que habitam o mesmo subterrâneo. Fiquei feliz que assim fosse. Para mim, que sou devoto de OGUM, é sempre bom manter uma relação amigável com toda sorte de divindades do Candomblé. E se na vida respeito é tudo, não de bom alvitre perder a proteção do nosso babalorixá maior.
Segui meu caminho. Estava preste a vencer o último lance da escada quando, colhido pelo acaso (acaso que só é acaso quando acontece por acaso): trombei com o SENADOR ARRUDA, o mais destacado e privilegiado Senador que Brasília já elegeu. Sorridente, o nobre Senador abraçava os transeuntes como se estivesse em plena campanha eleitoral. Se bem, que estava. E todos que ali estavam, estavam cúmplice do seu dilema. Tara por painel eletrônico é uma doença contagiosa e mortal.
Pois bem, vamos ao que interessa:
Levando em conta que há muito desejava falar com o Líder do Governo, arrisquei interromper sua caminhada e cobrar uma promessa: um prefácio para o Romance/ficção, OS SEGREDOS DA PASTA ROSA. Pulei na sua frente e indaguei:
— Senador, e a Pasta Rosa?
— Pasta? Não tenho nada a ver com isso, meu rapaz. Tenho dito... a quem interessar possa, que isso é lá com o ACM.
— Mil perdões, Senador... Preciso de sua confirmação!
— Já disse e repito: o Senador Antônio Carlos autorizou falar com a Regina, em seu nome.
— Mas Senador! Preciso da sua confirmação para preparar a lista de convidados!
— Quantas vezes devo dizer que não tenho nenhuma cópia da lista! Quando recebi a lista da Dona Regina... Levei-a ao Presidente. E, lemos nomes, votos e fizemos alguns comentários.
Ciente de que o Senador estava disperso, tentei fazer com que relembrasse do nosso encontro e da sua vaga promessa de prefaciar o livro.
— Estive no seu escritório, lembra-se? Falamos de preservação ambiental e da necessidade de haver um maior controle no adensamento populacional da cidade...
— Por favor, por favor! Não queira dar outro rumo às minhas palavras. Tudo o que fiz foi pensando em garantir a fidelidade da votação!
— Estou certo de que sim, Senador. Mas Vossa Ex.a. falou que estava tudo bem... E tudo bem para mim, é: SIM!
— Nem sempre, nem sempre, meu rapaz! Veja o meu caso: sou membro do Conselho de Ética; se votar “SIM”, estarei dando um não a mim mesmo. Agora, se votar “NÃO”: estarei dando um SIM na absolvição do ACM que quer que eu me ferre sozinho. Dá pra entender?
Depois de ouvir tantas bobagens cheguei a conclusão de que aquele momento não era o mais propício para cobrar meias promessas de políticos. Deixei o Senador partir. Já estava de saco cheio daquela conversa sem pé e sem cabeça. Levantei a cabeça e, segui meu caminho.
CARTA DA BAHIA
27/05/2001
Ao Poeta J.B.
Oi, J.B.! Que bom que você voltou. Estava com saudade de suas letras, mano. Admiro sua obra, você é meu Professor.
Estou morando na Bahia. Já aprendi dizer: mainha, painho e tô-que-tÔ.
Virei soteropolitano. Dizem que sou tão baiano que já posso ser Senador. Aqui, nem parece terra do Cabral. Como acarajé quente e nem sequer passo mal.
Ontem estive na casa do Cae, encontrei Beta, Beta Betânia e Gil. Todos te adoram, mano! Desejam que você vá fazer verso na... Brasília.
Êta, terrinha boa! Aqui, tudo vira carnaval. Na semana passada morreu o Pastor da Igreja Universal, e foi o maior alto astral. Teve maculelê, roda de samba, batuque na Casa da Mãe Menininha, e bate na lata no Pelourinho. E por falar no Pelô, por aqui todo crioulo é mulatinho, e todo cabelo pichaim fica lourinho.
Pois é, meu rei. Estou muito feliz com sua reentrê. Mas por favor, entre direito, tem muito bamba querendo te desbancar do trono. Um abraço! E axé para todos nós.
PROFANA
27/03/2001
À Poetisa ISOLDA MARINHO
PROSTITUTA do verbo
De ti me fiz amante primeiro.
Resoluta, só me deste um desolhar passageiro.
Quantos trovadores vi,
Arrastando-se a teus pés.
Lacaios ou fidalgos cavalheiros
De todos me fiz o mais lucubre, mas não me fiz o derradeiro.
Tua alma benfazeja não abriga ou destila rancor
És amante febril, não há quem mitigue teu poetar abrasador.
Tua língua ferina acaricia minhas pobres rimas como se fosse possuído de um suspirar de amor
E no afago de tuas ungüentas mãos, extirpas as chagas do verso sem valor.
Teu coração vagamundo não tem dono, és pássaro solitário
Guarda teus queixumes e tuas desilusões como se lhe fosse um torturante relicário.
Quantas vezes te vi, a prantear a dor desse fadário.
Nem o gorjear do uirapuru foi capaz de te libertar deste fértil e lírico calvário.
VERSO E REVERSO
O pau está a meia bandeira; o país está em festa
O poeta desabrocha e remoça a poesia indigesta.
Se faltar gás, o “lampião” morre na praça. Morreu porque não presta.
Nossos filhos “assaltitam” as verdes matas; é “tupiniquim” esta gesta.
Elegemos um novo presidente; houve comício em cada esquina
A feijoada voltou à mesa, regada com o imposto da gasolina.
Denegriram o serviço de inteligência; coloriram o de informação
O caçador de “MARAJÁS” deu um tiro no dragão da inflação.
Aqui termino meu recado; saibas que o sonho do primeiro mundo está morrendo
Após perder minha “Poupança de Cruzados” de cara pintada vou vivendo.
RESSACA POÉTICA
04/04/2000
Alguém levanta um copo e grita:
— Poeta! Que poeta quer ser?
Dei de ombro. — Que tal BANDEIRA?
Um outro alguém, abruptamente, refutou-me:
— Não gostei desta bandeira, muito menos do tal BANDEIRA.
Bandeira por bandeira sou mais DRUMMOND!
O primeiro interveio:
— Eu gosto do OSWALD; tem berço, é o mais lírico dos ANDRADE!
O dono do boteco esfriou a tertúlia servindo uma nova rodada de cerveja. E sussurrou-me:
— É melhor ser político. Agindo assim, você terá público cativo. A crítica vai falar mal, mas, não é ela que compra.
No BOTECO DO TONINHO era assim: Se alguns viviam de prosa; outros, de bebericar poesia.
CANTORIAS
10/03/2000
Ouça meu compadre
Ouça meu irmão
Já não sei onde vai parar esta cidade
De tanto plantarem invasão.
O Governo era vermelho
Desbotou, ficou azul
Mas fique sabendo meu companheiro
Que quando vermelho era mais azul.
Se não findarem com essa bagunça
compro um balde de tinta para a cidade pintar
Misturo vermelho, azul, mel e incenso de ARRUDA
E pinto uma flor de maracujá.
O povo não se deu conta
O Governador também não
Inimigo que se diz irmão logo uma lhe apronta
E o coitado vai ser cozinhado na panela da eleição.
Já me cansei das rimas desta ode
Vou embora para Salvador
Ouvi dizer que Presidente de pobre
É no mínimo o inatacável Senador.
O KARKARU
14/05/2001
Cientista da Universidade de Kioto-Japão em parceria com as Universidades Integradas de Orós-Ceará, concluíram uma importante e inusitada pesquisa sobre os hábitos do KARKARU – ave carnívora que habita o agreste sertão cearense, e que se alimenta de animais em putrefação.
É oportuno registrar, que a pesquisa só foi concluída quando a SUDENE liberou um financiamento, fundo perdido, que veio permitir que os trabalhos de campo fossem realizados. Desde então, ficou estabelecido que os méritos seriam divididos, em igual percentual, entre os membros permanentes do quadro científico das duas universidades.
E foi assim, que ao término do fórum global, para reconhecer os méritos de tão importante pesquisa, o semanário Londrino “The Tabloid” divulgou a seguinte nota:
1. O que leva o KARKARU a preferir os olhos e anus das suas presas é a ausência de cheiro no alimento a ser consumido. Os olhos e anus dos animais em putrefação carecem de um período maior para entrarem em processo de decomposição.
CORDÉLIA
Vou te contar uma história
Que se passou no Distrito Federal,
Com uma dessas donzelas
Que vem trabalhar na capital.
A coitadinha me disse
Que era de família numerosa,
Que a vida estava difícil
Que se cansou dos políticos e suas prosas.
Morava no sertão de Nova York
Nem o desjejum tinha pra comer,
Como era de pouca sorte
Nada poderia nesta vida fazer.
Pensei cá comigo, está quenguinha está com fome
Vou lhe servir uma comidinha,
Servi brócolis, quiabo, cenoura e inhame
Mas ela ficou só no arroz com galinha.
Como a fome me pareceu santa
Reforcei com cuscuz e suco de limão,
Mas ela me disse que aquilo nem ver
Azedou a barriga do irmão.
Quando a conversa ficou mais solta
Sorriu que seu fraco era “iorgute e coca de latinha”,
Eu fiquei pensando com as mãos no bolso:
Essa modernidade é dele não é minha.
Mas depois de tanta conversa
Atrevi-me a falar do principal,
Quanto pagar pelos préstimos da auxiliar
Nunca empregada doméstica ou serviçal.
Ela disse de pronto: o salário sim sinhô!
Ticket alimentação, férias e descanso remunerado,
Que não tô aqui pra da vida boa pra dotô.
Mudei de assunto, quis saber se cozinhava o trivial.
Respondeu que em serviços de cozinha não mexia,
Não arrumava, não lavava e passava muito mal.
Fiquei espantado com sua tamanha disposição;
Pra ficar sem fazer nada,
Cuidando do telefone, geladeira e televisão.
Pedi desculpas pra donzela
Mandei procurar outro patrão,
A casa sempre foi bem cuidada sem ela
Pra dona patroa eu dou uma mão.
AROMA COLONIAL
24/07/2001
Eddie Bow, Smith Land, Aubrey Rattan e Michael Cohen
Bebem uma pilsen no Kanet Club, Colorado.
Michael canta uma canção (Baby Blue) e pensa que seria muito animador
Se seus versos fizessem a pequena Enne sorrir.
Ébrio; Eddie diz que gostaria de conhecer um certo país tropical
que faz sucesso na CNN com suas histórias novelescas.
Eddie sonha em se lambuzar de pó no festejo carnavalesco
comer uma mulata e jogar frescobol na areia de Ipanema.
Smith puxa conversa com Aubrey, que passou uma temporada colônia trabalhando na base militar:
— Aquilo lá é uma merda!, Smith. Se você não se der respeito, os colonialeses são capazes de querer te ensinar a falar inglês. Você anda pelas ruas, e fica certo de que está na Flórida.
Smith repreende o amigo:
— Porra!, não avacalha. Nasci lá!, Aubrey.
ESCRAVAS DA BELEZA
01/09/2000
Um rapaz marca encontro com a namorada na porta do salão de beleza.
Sorridente, ela corre ao seu encontro...
— Que tal estou? – quis saber ela. Os cabelos espetados como se houvesse tomado uma descarga elétrica; os lábios tingidos de roxo; os cílios descoloridos; e a maquiagem pesada, deixando-a com a impagável aparência de defunto fresco.
Após cerrar os olhos, o rapaz responde:
— Você está linda! Está linda, como sempre!
— Então por que fechou os olhos?
— Ora querida... tudo o que me importa é sua beleza interior.
AVE! FERNANDUS
24/05/2001
AVE! FERNANDUS.
Enquanto Roma arde no fogo da globalização
Tu, oh! Brilhante filósofo
Viaja nas curvas da tua Cleópatra Globeleza.
Protege teus flancos. Oh!, garboso Imperador Vassalo
Tua bolsa de moedas não será capaz de aplacar a gula da Águia Imperial,
Tua lábia não será retórica para estancar o burburinho nos corredores do Coliseu
Tua fraqueza soberana é maior do que a vaidade dos conselheiros da corte.
Não te mistures com esses falsos nacionalistas, oh! filhote da ditadura.
Rife a Bahia, doe o Goiás
Entregue o Amazonas para quem melhor pagar.
Se quiserem troco; a melhor opção é barganhar o Ceará.
DENÍLSON, o último Poeta libertino
24/05/2001
Dia 17, desembarquei no “Gigard Destand” para uma rápida e benéfica estadia de segunda classe na Capital francesa. Tudo, por força da minha desmedida subdesenvolvida ousadia cultural. No entanto, em perfeita harmonia com o aconselhamento do amigo, poeta e filósofo do ócio cotidiano, Carlos Chagas.
Quando recolhi o passaporte e penetrei nas avenidas da cidade, fiquei chocado com o retrato em preto e branco do cartão postal da “Cidade Luz”. PARIS já não era a mesma! A Torre Eifel; A Praça Boulevard; o Arco do Triunfo; e até mesmo a Ponte de Bovenir (onde morei nos meus dias de juventude transviada) estavam às escuras. Era um breu tão profundo que pensei ter desembarcado em Brasília, em plena Esplanada dos Ministérios. Paris parecia terra de ninguém. E ninguém precisou me dizer que o prefeito era um tal mesieur Fernando, para concluir que Paris também vivia seus dias de fernandização do sistema elétrico. Logo Paris, capital do iluminismo universal, passava por seu momento de apagão cultural.
Sem ter a quem reclamar, pois, por lá, O CÓDIGO DO CONSUMIDOR também foi revogado, solicitei a Pierre Verge (aprendiz de guia de turismo) que me leva ao Coliseu para secar minha indignação com as calcinhas rendadas das dançarinas do CAM-CAM.
CAM-CAM? Eu fiquei foi tam-tam! Tam-tam de tanto ver bundas latinas rebolando ao ritmo do: “DOÍ, UM TAPINHA NÃO DOÍ”. Eu nunca imaginei tamanho disparate: substituíram os cachinhos doirados das pudentas virgens francesas por moitas “rastafaris” das despudoradas passistas de escola de samba. Cheguei a pensar que havia aportado na selva amazônica, ao ver tantas matas defloradas.
Fugindo daquela cena horripilante e erótica, adentrei o Café Bistrô e encontrei, na quinta mesa, Marlene Dietrich em lágrimas e lamentos. Coitadinha, chorava por seu único amor. Aquela cena era de sangrar a alma, mas, sem delongas, puxei a poltrona e indaguei:
— Mesieur Denílson?
Marlene olhou no fundo dos meus olhos, e não me respondeu. Com um sorriso desdentado, pediu para lhe pagar uma meiota e uma porção de Goiabada Cascão com queijo de Minas. Por fim me disse:
— “MERCY BOCU”!
Aquela boquinha de fada me dizendo: “mercy”, machucou meu coração. No entanto, quanto seu hálito penetrou os poros e ela me disse: “bocu”; tive um orgasmo múltiplo. O “bocu” de Dietrich é um atentado ao pudor. Por ele, o bispo já perdeu a batina, e Napoleão perdeu a guerra. Como poderia resistir?
Após saborear aquela iguaria da culinária tupiniquim, Dietrich ficou alegre e me confidenciou sem fazer arrudeios, que o Poeta havia partido na companhia de um tal GAYA (para quem não conhece GAYA, fica entendido que por ela “PICASSO” perdeu a cabeça e a lucidez do traço).
Comovido do seu sofrimento, fiquei refém da situação da minha confidente. Afinal, entre Dietrich e GAYA existe um vácuo uterino que separam dois mundos:
Dietrich é volúvel, como toda amante francesa. É capaz de transar com dois homens sem trair a nenhum dos dois, e ainda ser extremamente educada na hora de faz amor. Ela sempre diz: “Mercy... BOCU, BOCU!”.
GAYA, por sua vez, é fogosamente selvagem. É a única capaz de plantar bananeira com uma única mão. E, de quebra, carrega nos quadris um fogo suficientemente avassalador para incinerar uma lingüiça de bom tamanho e diâmetro. Pelo que se conta, GAYA é a única capaz de sorrir quando come banana verde com casca.
Prevendo que Denílson deixara de ser suficientemente competente para suportar a múltipla carga erótica de tão formosas damas. Recordo o ditado que diz: se vai o dedo, fica o anel. Imagino que o prodigioso poeta perdera a capacidade intelectual de presenteá-las com ereções criativas e ininterruptas.
E tanto era, que, para infelicidade das donzelas parisienses, o mais fértil e ilustre poeta (legitimamente Gaulês) se debandou para nosso inesgotável paraíso tropical. Se Paris já não se fazia merecedora do olhar crítico e puritano do poeta maior, nós, da USINA DE LETRAS, abrigamos mais um poetinha que se diz metido a besta. E VIVE LE FRANCE!
O APAGÃO
16/05/2001
Andando por entre as luminárias que tingem de luz a vegetação da Esplanada dos Ministérios, encontrei Mário Flenning, ideólogo e desconhecido nacionalista, que, impressionado com a potência dos refletores discordava na necessidade de APAGÕES.
— Que apagões, que nada! gritou ele. – O Brasil precisa é de técnico. Do jeito que a coisa anda, nós vamos ficar na lanterna.
— Mil perdões, Mário... – intervi, fazendo uso da pouca cultura futebolística. – O Brasil ainda possui o melhor escrete do mundo!
— Você está certo dessa afirmação?
— Não estou bem certo.
— Então pense nisso, meu caro: se fosse sociólogo, e soubesse contar nos dedos, poderia me dizer porque vendemos 02 RONALDINHO, 1 Roberto Carlos, 1 Erasmo Carlos? Sem falar no Dida, que era preto, mas brilhava debaixo dos três paus.
— Ora, Mário! Nós já temos outra leva de craques que valem mais que esses outros!
— Tem certeza? Analise comigo: nós vendemos porque o FMI mandou... Vendemos para pagar a dívida... E vendemos para fazer investimento no social. Correto?
— Correto! Mas onde você quer chegar?
— Qual é nossa situação, meu caro?
— Imagino que está ótima, o Presidente só vive viajando.
— E está ótima para os credores. A dívida aumentou, o dinheiro sumiu, e o credor quer que vendamos nossos craques mirins.
— Vamos ter que vender nossos pivetes?
— Claro! E posso informar que também teremos vender um pedaço da Amazônia.
— A Amazônia! Tem certeza?
— Tenho. Como também tenho certeza que somente depois de tudo vendido, é que vão se dar conta que o dinheiro não foi suficiente para pagar a bendita dívida.
— E aí, o que faremos?
— O de sempre, ora. Nada!
— Só mais uma pergunta, Mário: E se faltar luz nos estádios?
— Bom, se faltar... Aí o bicho pega!
É GOL, É EMOÇÃO
15/03/2001
A NELINHO, o maior batedor de faltas (de longa distancia) do Brasil e do mundo.
Meu coração bate mais forte quando sou massa na “geral”.
Lá, a torcida se agita
O juiz apita
A pelota é bola.
A bola rola rente o chão.
Lá vem o “Quarto-Sagueiro” fazendo firulas.
Pisa na bola
No chão ela cola
E o perna-de-pau vai pro chão.
O atacante é mais arisco
Dá um toco, rouba a bola
E o goleiro agarra o “ponta esquerda” pelo calção.
O apito cala a galera.
É falta
E o batedor é uma fera
Só bate de trivela
que é pra bola entrar raspando o travessão.
Abre a barreira!!!!, grita o goleiro
Essa pego
Pego com uma só mão.
Fico arrepiado
Sofro igual condenado
Pois quem ajeita a bola é “Nelinho”
Vai ser pura emoção.
Batedor corre e dá uma paulada
A bola sobe
cruza o céu em ziguezague
O goleiro faz golpe de vista e trava os dentes
A pelota cai como se fosse estrela cadente
E é gol!
É gol da seleção.
NO BANCO
30/06/2000
1 – O que faz o LADRÃO na fila de crédito?
R. Espera sua vez de ser roubado.
2- O que faz o POLÍTICO?
R. Pede voto e promete crédito.
3- O que faz o PADRE?
R. Pede perdão a DEUS por estar na fila do inferno.
RIACHO FUNDO
Trilhei margens do riacho, riacho seco, riacho fundo. Abri picadas, fui picado. Transpus a fronteira d'outro mundo.
Varei paredes vivas (ipês, quaresmeiras, angicos e buritis). Traspassei muralhas encapuzadas por neves verdejantes, e cordilheiras de picos cônicos, sobrepostos, em vários matizes.
Aqui, acolá, descortinei outros tons, outras cores; frutos, frutificações, folhas e flores.
Acobertado e enfolhado, vi-me em destroços sobre um tapete de raízes. Na fonte um nó que cocoricou; astrólogo tracei um mapa astral com estrelas osculatrizes.
Réptil em solo fecundo, com a destra encontrei apoio no pé do vegetante de olhar feio e carrancudo; cara de pau, corpo espinhento e barrigudo.
Chutou-me o pezão. Era perneta o pernalta. Atirou-me na curva do vento com a mão toda espinhada.
A outra mão, mais atrevida, roçou as ancas d'uma moça que não me recriminou, mas ficou com a tez corada.
Mudo não lhe disse nada, busquei o frescor dos seus olhos com os meus. Sob a cabeleira ruiva escondeu os cílios postiços de cor lilás.
Quando meu silêncio pediu perdão, ela sorriu e me concedeu. Acomodou um broche de azaléias que enfeitava o colo desnudo, o colar de cipós que prazerosamente enlaçava os seios fartos, e curvou-se. Com a cumplicidade da brisa, suavemente, estendeu-me a mão.
Alguém com voz de ventania interrompe o flerte: – Sai da minha sombra, tire as patas de minha amada. Achou pouco pisar no meu pé e me ensopar com sua água salgada?! Fiquei pasmado. O mutante era alto, corpo roliço e dezenas de braços. No mais forte portava um anel de abelhas e na cintura uma casa de cupim.
Minha hora derradeira foi anunciada, o dia adormeceu em sombras; precipitou-se o começo do fim.
Recolhi os ossos; ziguezagueei por entre labirintos de galhos, folhas e espinhos. Escalei baixos e altos relevos, removi pedras, naufraguei em mil rios.
Sedento encontro guarida no colo de uma acolhedora cachoeira. E a donzela de pedras me beija um gole dágua morna, e a dama da noite me envolve em transparente lençol noturno, e o corpo alquebrado adormece.
Sonhei um sonho, um sonho de anjo: sonhei que era TUPINAMBÁ, e que você era só minha, minha princesa JUPIRÁ.
ORGIA ELETRÔNICA
Ontem estive na feira. Do Paraguai, é claro!
Não poderia perder aquela oportunidade derradeira.
O governador, em oposição ao antecessor, prometeu inaugurar uma placa alusiva à sua fundação. Nela deverá está escrito: AQUI JAZ.
Comprei algumas bugigangas e uma novidade do além mar. No fundo do apetrecho domésticos li em pequenas letras: MADE IN BRAZIL.
Que avanço tecnológico! Possuía compartimentos com letreiro e destinação específica.
Coisa de cinema. Uma cava para o sabão e outra para a esponja. Duplex.
Dei a jóia de presente para a dona da casa (Maria, minha auxiliar).
Sorridente e agradecida, ela acomodou o relicário sobre a pia desnuda.
Ficou soberbo! Os letreiros de cor azul néon piscavam ritmicamente: SABÃO, ESPONJA... SABÃO, ESPONJA... SABÃO ESPONJA.
Apressei-me a assistir os compartimentos serem preenchidos com seus respectivos produtos: o sabão e a esponja.
Que obra de arte! Era uma verdadeira obra prima, coisa de Miguelangelo! Só faltava falar.
A luz tingia a retina do meu olho de alegria e movimento: Sabão... Esponja, Sabão... Esponja, Sabão... Esponja.
Deixei-me hipnotizar com o frescor daquela cena luxuriante. Mirava a esponja e depois o sabão; a esponja e depois o sabão.
Os letreiros piscavam, piscavam insistentes; alucinados e me alucinando: Sabão...Esponja, Sabão...Esponja, Sabão...Esponja.
Estático, eu mirava os dois quadriláteros incrustados no recipiente. Pareciam duas pérolas num para de brincos: a esponja e o sabão; a esponja e depois o sabão.
A cena enfadonha afastou os menos curiosos e, os letreiros começaram a piscar mais intensamente. Protegidos por minha cumplicidade deixaram se levar pelo vai e vem da emoção e começaram a fazer bolinhas de sabão.
Sabão, Esponja; Sabão, Esponja; Sabão, Esponja.
Cansei-me daquela orgia eletrônica. Desliguei o fio da tomada e fui dormir.
EXÓRDIO DAS CACHORRAS
(só as preparadas)
26/03/2001
Mais uma vez o sol deu o ar de sua graça, e
Lasie já abandonou o calor da cama.
É sempre assim: ela busca no frescor matinal tonificar os músculos das ancas generosas, ou coisa parecida.
A galera ladra que ela é a mais formosa popozuda.
Após uma caminhada fogosa ela se sente preparada.
Preparada para a rotina do seu dia a dia: ficar zanzando pela praça.
Após vencer o lance da escada, sinto seu cheiro cruzando o corredor a caminho do canil.
Eu logo concluo: ela ainda não fez seu desjejum matinal. FROLIC.
Lasie é feliz. Feliz tal qual repórter de televisão.
Tem os pés fincados no Morro do Boréu e a cabeça no Complexo do Alemão.
CRÔNICA PROFÉTICA
21/01/2000
Acordo com os ponteiros das horas fazendo amor. GOOD NIGTH.
Meu olhar esmaecido traspassa a barreira da lucidez. O liquido sudorífero escorre na tez.
Vejo. Vejo a brisa noturna gélida de pavor. Uma boca sorri. Uma voz me diz: já vou.
Já são 25 de maio. No Eixo Monumental um bólido azul metálico é alboroado por um pedestre displicente. O segundo fica inerte e a vítima sai chispando no asfalto rumo ao canteiro central.
São 26, 19 hs. O locutor anuncia que o Ministro da Defesa caiu. Caiu da mesma maneira que o outro, após aquele outro. É bom ter cuidado, quando partimos para o ataque fica difícil defender o próprio patrimônio.
Chegou dia 27. O “aríete oliva” recusa permanecer vassalo do Império da Águia. Como se fosse um zumbi rompe as sombras dos corredores. Blasfema contra o poder e joga farinha no ventilador. Pás e enxadas trafegam na Esplanada.
São 27, 23 hs. O telefone vermelho, roxo de vergonha por ter nascido preto, toca. Do lado de cá da linha uma voz faz súplicas e juras de fidelidade. E do outro, uma voz diz:
— OH, I KNOW...
Setembro chega anunciando tragédias e fazendo estragos. O Presidente bate a caneta e dá o veredicto. Um influente político foge pela porta dos fundos. O Congresso sorri, de orelhas a orelhas. Na manhã seguinte, após uma rápida comemoração familiar, o suplente do cassado foi flagrado se afogando nos lábios da amante. Finalmente uma ereção eleitoral.
Dezembro dá o ar da sua graça, após um outubro aguerrido. O “careca” é eleito. Sob o viaduto uma criança tremula o estandarte da vitória. Ruas transpiram erva de incenso. Cachorros ladram. E a comitiva do Governador passa cheirando a defunto.
TODA DESNUDEZ SERÁ PERDOADA
21/06/2000
Após uma ducha morna, traja a veste da labuta cotidiana.
Terá mais uma longa noite insone pela frente.
A quinta daquela tediosa semana.
A trêmula mão busca apoio na parede.
Os músculos falham, recusando comando.
Estafa.
No cômodo em desalinho, a companheira rola na cama macia.
Dengosa. Nua em pêlo. Um par de seios farto pende para o mesmo lado do corpo.
A penugem escura tosada rente ao tecido adiposo revela os grandes lábios grandes.
Uma perna recua.
Outra, avança.
Mudo, o observador derrama um olhar distante na silhueta de curvas volumosas.
Não colhe tesão.
Queixa-se da pontualidade do relógio da rotina.
Mede a passada.
Sopra um beijo.
Uma porta bate.
Burburinho. Grunhidos. Nada importa.
II
Após uma ducha morna; traja a veste da labuta cotidiana.
Terá mais uma longa noite insone pela frente.
A quinta daquela tediosa semana.
A trêmula mão busca apoio na parede.
Os músculos falham, recusando comando.
Estafa.
No cômodo em desalinho a companheira lustra o piso da sala vazia.
Fogosa.
Um par de seios fartos projeta-se além do espartilho.
A penugem escura se revela ante a transparência do vestido.
Uma perna recua.
Outra, avança
Mudo, o observador derrama um olhar na silhueta de curvas generosas.
Bate o coração.
Queixa-se da pontualidade do relógio da rotina.
Mede a passada.
Sopra um beijo.
Uma porta se fecha.
Sussurros. Gemidos. Nada mais importa.
GASTRONOMIA DITADORIAL
AH!, como foi majestoso aquele almoço oferecido pela nobre “RAINHA”; serviram um delicado caviar regado ao mais fino e envelhecido Scoth.
Não me agradei da sobremesa: uma passeata de ex-súditos e desempregados – plebe conservadora –. Criticaram a política neoliberal da nossa centenária “Progenitora”.
AH!, como foi soberbo aquele almoço oferecido pelo dileto “CLINTON”; serviram um delicado caviar regado ao mais fino e envelhecido Scoth.
Não me agradei da sobremesa: uma passeata de exilados e desempregados – mendigos de todos os quadrantes –. Criticaram a política neoliberal do nosso prestigioso “Don Infante”.
AH!, como foi magnífico aquele almoço oferecido pelo camarada “BORIS”; serviram um delicado caviar regado ao mais fino e envelhecido Scoth.
Não me agradei da sobremesa: uma passeata de ex-comunistas e desempregados – Bolchevistas filhos do norte –. Criticaram a política neoliberal do nosso destemido “Dom Quixote”.
AH!, como foi fantástico aquele almoço oferecido pelo sociólogo “FERNANDO”; serviram um delicado caviar regado ao mais fino e envelhecido Scoth.
Não me agradei da sobremesa: uma passeata de sem terras e desempregados – a turba do barbudo farfante –. Criticaram a política neoliberal do nosso eterno “Cavaleiro Andante”.
HOJE?! Não, estou farto. Já estou cansado de comer as mesmas iguarias; só serviram sobras do banquete ou comida requentada d'outro dia.
Gastronomia à parte, repartir o bolo não é especialidade culinária do Governo Federal.
Quem é penetra ou de esquerda não come do seu manjar; tem que ser de cúpula ou neoliberal.
Dizem que sou parte daquela sobremesa. Minha fome é igual, em ideologia. E pelo que sei excluído é excluído. Sem quebrar ovos não se faz democracia.
©2001 — Antônio Virgílio de Andrade
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Novembro 2001
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