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Vínculo de Amor

Romero Evandro Carvalho


 

Vínculo de Amor
Romero Evandro Carvalho
Fonte digital: Documento do Autor
romeroevandro@hotmail.com

Imagem da Capa
Saint Clare of Assisi Saving a Child from a Wolf (1455)
Giovanni di Paolo (circa 1403-1482)
fonte: en.wikipedia.org/wiki/Clare_of_Assisi

eBooksBrasil.org
© 2012 Romero Evandro Carvalho


 

VÍNCULO DE AMOR

 

SUMÁRIO

O vale sombrio
O resgate
A Casa de um novo dia
O Livre Arbítrio
Em Floridiana
Com o psicólogo — Análise mental I
Análise mental II
Análise mental III
Análise mental IV
Análise mental V
Análise mental VI — Retorno a Milão
Análise mental VII — Na França
Análise mental VIII — Retorno a Milão
A força do pensamento
O trabalho
Colette


 

...A prece, qualquer que ela seja, é ação provocando a reação que lhe corresponde. Conforme a sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo as finalidades a que se destina. Desejos banais encontram realização próxima na própria esfera em que surgem. Impulso de expressão algo mais nobre são amparados pelas almas que se enobreceram. Ideais e petições de significação profunda na imortalidade remontam às alturas...”

(Entre a Terra e o Céu — André Luiz — cap.I — Ministro Clarêncio)


 

O vale sombrio

 

Sentado sobre uma pedra, com a cabeça entre as mãos, Salvatore, fitando o chão pedregoso, perdia-se em seus pensamentos. Eram recordações que formavam quadros, às vezes nítidos, outras vezes nebulosos.

Ele não avaliava há quanto tempo permanecia naquele lugar negrejante, desconfortável, horroroso, malcheiroso, e, às voltas com os seus pensamentos, indagações e recordações.

Vez ou outra olhava ao seu redor e só divisava um paredão de pedra à sua frente e outro às suas costas; era um vale escuro, à meia luz, que parecia ser infindável.

Estava triste e sempre só.

Sem ver o sol com nitidez, Salvatore percebia que era dia, graças a uma tênue luminosidade, e noite, pelo intenso negrume reinante.

Ele não conseguia concatenar suas idéias quando tentava analisar o porquê de estar naquela situação.

No entanto, sabia que tinha falecido devido a um problema cerebral. E isso ainda causava-lhe grande desconforto, pois tinha dores de cabeça horríveis; e essas dores se intensificavam, quando a pouca distância, muitas vozes repetidamente lhe diziam: “Quem você pensa que é? ... boboca! ... pensa que é bonitão? ... que todas as mulheres são suas? Está vendo só... aqui todos somos iguais... bonito ou feio, aqui todos somos iguais!!”

Esse tipo de afirmação, a respeito do seu comportamento, muito embora não lhe tocasse de perto, era uma constante e deixava-nos desequilibrado e raivoso.

Às vezes, Salvatore se enfurecia e saía correndo na direção das vozes, tentando achar esses acusadores; ia para um confronto, vociferando em resposta: “— Apareçam... Apareçam... Quero vê-los... Covardes; porque se escondem... Alguma vez eu assediei suas mulheres? Se eu as assediei, podem vir me surrar. Mas primeiro façam as provas de que realmente fui impertinente!”.

E assim foram passando os dias, noites, meses e anos.

Salvatore não tinha noção de quanto tempo estava ali.

Nos raros lampejos de trégua, lembrava-se de sua mulher, dedicada, bondosa e sempre atenta aos cuidados do lar, dos seus filhos — Graziani e Graziella — ele, encaminhando-se para ser um futebolista, e ela, enveredada pela carreira artística — desejava ser artista de cinema.

Mas estes eram lampejos de raras tréguas. O comum mesmo era que Salvatore estivesse sempre com dores, solitário, e infernizado por aquelas vozes acusadoras e desconhecidas que o importunavam profundamente.

Com constância também, chegavam aos seus ouvidos ondas sonoras de lamurias e gemidos que o apavoravam.

Ele tentava deixar aquele local, mas, no seu caminhar dificultoso por entre pedriscos, pedras enormes, relvas úmidas e arbustos espinhosos, ele volvia sempre ao mesmo lugar da partida.

Numa dessas idas e vindas de escapadas frustrantes, Salvatore, esgotado até o último, caiu entre as pedras, e ali ficou desacordado. As entidades desfavorecidas da luz do amor, aproveitaram-se dessa situação e, muito de perto, proferiam acusações, as mais diversas.

Sob esses ataques, em estado de dormência, ele se agitava, resmungava, brigava e xingava.

Mas a Espiritualidade Maior que tem o controle por inteiro desse vale escuro, vem em seu socorro, tranquilizando-o; e ele sonha. Sonha com anjos luminosos, bondosos e radiantes...

Após o sonho, despertou assustado, todo molhado, em virtude da uma grande tempestade que avassalou o vale, com chuva de ventos fortes, raios, muitos raios, que ainda caíam como línguas de fogo.

Temeroso, escondeu-se entre as moles. Ouvia gemidos e lamurias que vinham das profundezas do vale escuro.

Com suas vestes molhadas e rotas, encolhido e com frio, assustado e com medo, indagou com sentimento sofrido, para si: “O que será isso, minha Santa Clara de Assisi? O que será isso? Por que estou a expiar esse sofrimento? Por quê?”

E o vale continuou a ser fustigado ainda por um bom tempo, que ele não pode precisar o quanto, para que tudo voltasse àquela mesma situação anterior.

Outra vez, ele estava sentado, com a cabeça entre as mãos e tentando ordenar os seus pensamentos. Até que, num raríssimo lampejo de equilíbrio emocional, mais uma vez, lembrou-se de Santa Clara e num estertoroso grito, que ecoou no imenso vale escuro: “Santa Clara ... minha querida Santa, me ajude pelo amor de Deus!”

De joelhos, Salvatore em mais uma rogativa emocionada, clamou por sua Santa Clara, implorando misericórdia e ajuda para sair daquela situação; e de mãos postas bradou aos céus, numa oração profundamente sincera: “Minha Santa Clara, pelo amor de Deus, acode-me nesse infortúnio em que me encontro. Livrai-me desse lugar horrendo, nebuloso e fétido. Minha Santa Clara... socorre-me pelo amor de Deus!!!”

Salvatore chorando convulsivamente, não conseguiu mais articular palavra alguma, e caiu em decúbito ventral, naquele solo pedregoso e frio. Após alguns instantes, ele se recompôs ainda vacilante, e sentou-se.


 

Dirigindo, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um para o outro o pensamento, como o ar transmite o som.

...É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si...”

(Evangelho Segundo o Espiritismo — cap. XXVII — item 10 — Allan Kardec)


 

O resgate

 

Ainda desolado e com a cabeça entre as mãos, ele ouviu: “Salvatore... Salvatore... ouça-me...”

Rapidamente levantou-se e procurou localizar aquela voz; não viu ninguém, mas compreendeu que sua Santa teria ouvido a sua rogativa, e pulou, pulou, e gritou, gritou: — Obrigado, minha Santa de Assisi, obrigado por ter ouvido o meu clamor, o meu infortúnio.

— Salvatore. Escute-me! Tranquilize-se! É importante que se equilibre. O equilíbrio emocional é um grande trunfo que temos para observarmos e agirmos com acerto.

— Obrigado, minha Santa Clara, por acudir-me!...

— Salvatore, preste bem atenção no que vou lhe dizer: eu não sou a sua Santa Clara; sou apenas uma de suas colaboradoras. A nossa Irmã Clara, como ela deseja que seja chamada, é por demais atarefada e solicitada. Estão às suas ordens uma legião de servidores e servidoras, tencionados para o bem do próximo, e que ocupam-se em atender aos aflitos. Eu sou Efigênia e estou aqui para ajudá-lo, a pedido da nossa Irmã Clara.

— Ah!... A senhora é Efigênia... A santa...

Ela não deixou Salvatore terminar a frase, e acrescentou: — Não... eu não sou a Efigênia que você está pensando. Gostaria de ter todos os méritos dela, mas não os tenho. Espelho-me nela, na sombra do seu nome e nas suas virtudes em favor dos menos favorecidos da sorte. Eu sou simplesmente Efigênia, a sua irmã, que igualmente está querendo evoluir. Bem Salvatore, não vamos mais perder tempo porque ele é precioso e tem que ser ocupado por nossas possibilidades, em toda a sua plenitude. Vamos, vamos por aqui. Há um atalho logo ali em frente. Conheço bem esses caminhos; por ele caminharemos com segurança e com a ajuda de outros irmãos.

— Como, senhorita Efigênia! Aqui não há caminho algum!

— Salvatore, o meu trabalho é de socorrista e venho a este vale escuro muitas vezes; conheço-o muito bem! Este é um caminho em que não teremos surpresas. Nele teremos estações de descanso. Vamos!

Salvatore caminhava com dificuldade em virtude de alguns ferimentos nos pés e nas pernas.

Efigênia, muito paciente, procurava animá-lo para que ele encarasse aquelas dificuldades com alegria e ânimo, e sem reclamações, pois ao final, um novo horizonte se descortinaria.

Salvatore, além do cansaço, sentia muitas dores por todo corpo.

A socorrista animava-o dizendo: — Salvatore, não muito distante, encontraremos uma estação de refazimento; tenha coragem!

E assim aconteceu.

Efigênia, já conhecida de Aloísio, responsável pelo posto, foi recebida com muita alegria e presteza.

Acomodaram-se numa pequena sala, provida por móveis rústicos, que ladeavam uma grande mesa.

— Efigênia — diz Aloísio: Eu já a aguardava, tanto é que pedi para Mafalda fazer uma sopa reconfortante.

— Desculpe a minha intromissão: mas como o senhor sabia que estávamos vindo, nessa escuridão?

— Já não está tão escuro assim, amigo Salvatore. Agora quanto a saber o seu nome e que estariam vindo para cá, recebo as notícias pelos socorristas e guardas que trabalham nos atalhos e também lá das furnas, através desse aparelho.

Salvatore admirou-se e voltou a perguntar: — Isso quer dizer que lá onde eu me encontrava e em outros lugares mais para o fundo, todos éramos vigiados?

— Meu irmão Salvatore — aduziu Aloísio — uma coisa é certa: ninguém fica fora da vigilância amorosa de Deus.

— Agora, Salvatore, antes que Mafalda sirva o caldo quente, se você necessitar ir ao banheiro, siga por esse pequeno corredor e vire à direita.

Enquanto isso, Efigênia comentava: — Ele não é daqueles que estão em estado muito ruim. Conseguiu enviar o seu pedido de socorro num momento de grande aflição, sofrimento e dor, transformando tudo isso numa rogativa dorida, dirigida à nossa Irmã Clara.

Na volta de Salvatore, o caldo é servido. E para que ele não tomasse a refeição sozinho, e talvez, crivasse os socorristas de muitas perguntas, cujas respostas no momento, ainda não seriam entendidas, Efigênia e Aloísio o acompanharam.

Ao terminarem, Efigênia dirigiu-se a Salvatore, dizendo:

— Nós iremos ficar aqui por mais algum tempo, porque temos ainda uma boa caminhada pela frente. É bom que descansemos bem.

— Salvatore, — disse Aloísio: — naquele quarto existe uma cama; se desejar pode ir descansar. Antes, se quiser tomar um banho e trocar suas roupas, fique à vontade, elas estão sobre a cama.

E assim ele fez, tomou banho e dormiu como há muito tempo não experimentava.

É chegada a hora de recomeçar a jornada.

— Salvatore... Salvatore... Está na hora de despertar e seguir. Tome esse chá, que é reconfortador e que lhe dará mais forças — disse Aloísio.

Despediram-se, com Salvatore agradecendo a acolhida, o banho e as roupas.

— Vão tranquilos e com Deus. Já recomendei aos nossos amigos da frente, que vocês estão a caminho.

— Obrigada, irmão Aloísio. Obrigada!

— Vocês são irmãos?

— Tendo Deus como o nosso Pai, todos somos irmãos, Salvatore.

Ele não perguntou mais nada à sua benfeitora. Caminharam calados por todo tempo, até que chegaram a mais um posto.

Salvatore sentia-se muito cansado, e aquela parada foi providencial.

— Senhorita Efigênia, com esse passinho curto e rápido, a senhorita não se cansa?

— Não, eu já estou acostumada; esse percurso eu faço sempre. Conheço desses caminhos quase todas as pedras.

Dona Nena os aguardava. Ela era uma criatura boníssima. Abraçou-os com muito carinho.

— Venha, querida Efigênia, venha também senhor Salvatore. Quero servi-los de um delicioso suco, que, com certeza, trará a vocês um grande vigor fluídico.

E dona Nena ainda continuou falando, só que agora, em tom de brincadeira: — E eu os acompanho, pois também, sou filha de Deus!

E todos riram com a postura descontraída da anfitriã.

— Antes, Sr. Salvatore, se quiser usar a nossa “toilette”, fique à vontade. O senhor indo por aqui — apontou para um corredor — é logo ali em frente.

E para lá rumou Salvatore. Na sua volta, ele indagou para Efigênia.

— Senhorita Efigênia, poderia me dizer para onde vamos?

— O que posso lhe dizer, é que vamos para um local onde você receberá os primeiros socorros — vamos dizer assim — e onde fica esse lugar, logo mais saberemos; só sei que será um lugar, onde você receberá os primeiros curativos para esses machucados, assim como terá roupas e calçados limpos.

— Tome o seu suco, Salvatore. Ele lhe fará muito bem — disse dona Nena.

— Senhorita Efigênia, permita-me mais uma pergunta: Nós iremos dormir aqui?

— Não, nós já estamos de saída. Vamos caminhar um pouco mais, e não demorará muito, logo chegaremos.

Despediram-se e foram-se.

Agora, o caminho estava todo arborizado, e o cheiro de mato era bastante estimulante. Durante o percurso, ele notou que outros, como ele, iam na mesma direção.

Não demorou muito, Efigênia disse: — Salvatore, após aquela curva, nós chegaremos ao final de mais uma etapa.


 

A oração

...Filha primogênita da fé, ela nos encaminha para a senda que conduz a Deus. No recolhimento e na solidão, estais com Deus. Para vós, já não há mistérios; eles se vos desvendam. Apóstolos do pensamento, é para vós a vida. Vossa alma se desprende da matéria e rola por esses mundos infinitos e etéreos, que os pobre humanos desconhecem. Avançai, avançai pelas veredas da prece e ouvireis as vozes dos anjos.”

(O Evangelho Segundo o Espiritismo — cap.XXVII — item 23 — Santo Agostinho — Paris 1861)


 

A Casa de um novo dia

 

E chegaram numa extensa construção térrea. Foram recebidos por um jovem casal que lhes deu boas vindas.

— Temos muito prazer em recebê-los. Entre Irmã Efigênia, na companhia do nosso irmão. A Irmã sabe como proceder.

Salvatore ficou abismado com o tamanho do salão. Era enorme e estava com uma movimentação intensa, mas muito bem organizada.

Efigênia apontou uma cadeira para que ele sentar-se e pediu para aguardá-la.

Ela, com seu passo rápido, foi ao encontro de alguém.

Salvatore observava à distância. Chamou-lhe a atenção que muitas pessoas eram direcionadas para uma grande porta, pela qual deixavam o local.

E assim foi acontecendo. Saíam algumas, e chegavam outras. Até que no regresso de Efigênia, ela veio com a notícia: — Salvatore, essa movimentação toda são de pessoas que têm objetivos iguais aos nossos. Dentro em pouco chegará a nossa hora e partiremos. Só que agora não mais caminharemos, pois seremos conduzidos.

— Como assim, Senhorita Efigênia?

— Você vai ver!

E mais uma vez, Salvatore ficou com a interrogação. Ele se ajeitou na cadeira e ficou a esperar.

— Vamos, que chegou a nossa hora. Espero que goste da condução.

Ele olhou para ela, interrogativamente, e ainda assim nada perguntou. Somente os seus pensamentos tiveram asas — “mas que condução? será um automóvel; um trem; um ônibus; um avião... ou, o que mais...; um navio, quem sabe?”

Ao transpor aquela porta enorme, Salvatore tem uma grande surpresa.

— Não acredito! Senhorita Efigênia, isso aqui é um aeroporto ou um heliporto?

— Nem uma coisa nem outra. É apenas um lugar adequado à saída desses enormes veículos, que para o seu entendimento, poderemos dizer que são como aqueles antigos dirigíveis. Ele nos levará a uma cidade espiritual com total segurança e rapidez, — “A Casa de um novo Dia”. Existem outros tipos de veículos, como carroções, por exemplo, com tração animal; e cães, como batedores para nossa segurança. Mas isso, agora, não importa. O que realmente interessa, é que você vai ter nessa casa, todo atendimento imediato de que necessita. Vou lhe adiantar uma coisa, Irmão Salvatore: não poderei acompanhá-lo nessa sua estadia. Tenho outros compromissos inadiáveis. Mas lá, você vai receber um atendimento “vip” — disse ela, em tom de brincadeira.

Salvatore deu um sorrisinho, e nessa oportunidade, aproveitou para agradecer aos préstimos de sua socorrista.

Aboletado, Salvatore não se apercebeu da movimentação do veículo e nem mesmo sentiu que ele estacionou, quando é convidado a descer, juntamente com outras pessoas.

Na recepção, são recebidos por um grupo de atendentes. Cada um deles chama nominalmente os recém-chegados, formando assim vários pequenos grupos.

Salvatore ficou fazendo parte do grupo liderado pelo atendente Dionísio, que sem perda de tempo, fez algumas recomendações com referência ao atendimento que iriam promover, realçando que a disciplina deveria ser acatada e praticada, pois assim sendo, todos seriam beneficiados. Em seguida, Dionísio pediu: — Me acompanhem.

Salvatore lembrou-se de sua benfeitora.

— Sr. Dionísio... Sr. Dionísio, por favor, gostaria de ir ao encontro da Senhorita Efigênia. Preciso agradecer por tudo o que ela fez por mim.

— Salvatore, ela não mais se encontra entre nós. Já partiu. Mas não se aflija, que em mais alguns dias, ela estará aqui novamente e o senhor terá a oportunidade de encontrá-la.

Salvatore ficou um pouco chateado por ter esquecido da Senhorita Efigênia : — O que será que ela vai pensar de mim? Um ingrato? Um egoísta? Um homem grosseiro?

— Salvatore, não pense assim. A Senhorita Efigênia é incapaz de pensar mal de quem quer que seja; ela é uma excelente criatura; boníssima! Fique tranqüilo que ela entendeu perfeitamente a situação. Mas você já não havia feito o agradecimento a ela?

— É, realmente agradeci; mas foi antes do início da viagem.

— Então já está muito bom!

Chegando ao final de um corredor, eles entraram numa sala com muitas cadeiras, muito parecida com as salas escolares. Todos se acomodaram e Dionísio passa a lhes dar ciência da razão e dos motivos de terem que permanecer naquela casa.

— Bem, meus irmãos, eu vou ser breve, no entanto desejo ser muito bem entendido para que as interrogações, nesse estágio, não existam. Tenho a certeza que vocês, que aqui estão, têm méritos. Isso quer dizer o seguinte: vocês foram ajudados por alguém, a saírem da situação em que se encontravam, em virtude de alguma transformação boa que deve ter ocorrido em cada um. Não vejo necessidade de que cada um conte o que ocorreu. Todos sabem muito bem o que lhes proporcionou a possibilidade para que fossem ajudados, na situação em que anteriormente se encontravam.. Em uma outra oportunidade, e quem sabe em outro lugar, vocês avaliarão o momento e se quiserem relatar, o façam, a título de aprendizado, tanto para si, como para outrem.

Bem, esse é um ponto. O outro é sobre a disciplina que deveremos ter e obedecer. Isso quer dizer; aceitar o regime de trabalho da nossa casa e obedecer àqueles que têm a responsabilidade para o bom desempenho das atividades que aqui são propostas.

Vou frisar uma coisa: todos nós que aqui trabalhamos, seguimos uma orientação do nosso superior hierárquico. Mas isso não quer dizer que eu não possa sugerir esta ou aquela possibilidade para desenvolver um trabalho. Somos democráticos. Assim, acho que estou sendo claro, que vocês não estão numa prisão. Poderemos conversar sempre, sobre qualquer situação, e o esclarecimento sempre se dará, desde que haja consentimento e que também seja oportuno e favorável.

E por falar em oportunidade, esta, agora, é uma boa oportunidade que todos nós não deveremos perder. Olhem só este relógio — são quase dezoito horas — este é um excelente horário e é o momento oportuno, para em pensamento, juntamente com milhares e milhares de pessoas lá da Terra, orarmos em louvor a Nossa Senhora.

Irmão Albertino, sei que você não tem e nunca teve o hábito de orar, da mesma maneira praticada por outras pessoas, mas sabemos que você, a seu modo, orava para as águas do mar, para as matas, para os animais que o ajudavam no seu sustento, para o alimento da sua mesa, etc., etc. O que lhe peço, é que me acompanhe em pensamento, nos agradecimentos e rogativas que iremos fazer a Nossa Senhora, a Jesus e a Deus. Mas, se desejar e quiser se retirar, fique à vontade.

Em seguida, Dionísio iniciou: “Meus queridos irmãos e companheiros de estrada evolutiva. Vamos fixar os nossos pensamentos em nossa Mãe Santíssima: Abençoa, Mãe Maria, os nossos esforços, as nossas intenções de sermos justos e bons, e que aprendamos a louvá-la com nossos pensamentos, com nossos trabalhos e nossos gestos. Dê-nos querida Senhora, o sentimento puro, a alegria e a felicidade, para que distribuamos às mãos cheias, a todos indistintamente pelos caminhos e veredas de nossas vidas.

Meus irmãos, Jesus nos disse: “Ninguém chegará ao meu Pai senão por mim”. Então, meus amigos, vamos nos deixar levar por esse direcionamento e sermos acolhidos pelo abraço do Querido Mestre Jesus, que está sempre atento na proteção de suas ovelhas. Jesus, somos suas ovelhas e sempre ficaremos no seu redil; acolhe-nos em seus braços; dá-nos a oportunidade de redimirmo-nos das palavras, obras inconvenientes e pensamentos corrompidos. Dá-nos atitudes dentro dos parâmetros do amor, para que possamos estar respaldados e assim adquirirmos condições de, pelo menos, nos aproximarmos dos primeiros degraus da escada evolutiva.

Sabemos, Jesus amado, que a grande parcela para aquisição dos méritos para evoluirmos está com a edificação de seus alicerces em nós mesmos, em nossos gestos, pensamentos, palavras e obras. Sabemos que se atuarmos com amor e espargirmos a paz e a concórdia, iremos nos transformar em espíritos melhores. Para isso então, Mestre Querido, dá-nos a sua proteção.

E assim Dionísio terminou a oração, nimbado de luz, mas sem ser notado pelos presentes. E ao dirigir o seu olhar para o grupo, teve a certeza de que uma pequena transformação já acontecia com todos eles, inclusive com Albertino, que estava chorando de emoção.

— Bem, meus irmãos, agora vou lhes mostrar onde cada um terá o seu lugar de descanso. As acomodações são coletivas, mas cada um terá o seu espaço, que deverá ser respeitado.

Alguém faz uma pergunta: — Sr. Dionísio, nós teremos roupas limpas?

— Sim, terão. Notem que em cima de cada cama, há roupas; e sempre que precisarem terão outras. Lá no fundo — apontou Dionísio — existem vários boxes, que poderão usar.

— Sr. Dionísio — perguntou Salvatore: eu estou com alguns ferimentos que estão me incomodando. Haveria aqui um pronto socorro, onde eu pudesse ser medicado?

— Sim. Nós temos aqui um atendimento de emergência. Amanhã você se submeterá a uma consulta, assim como os outros, se desejarem, mas por hoje, o banho que irão tomar, já amenizará os pequenos incômodos.

Após o banho que revigorou a cada um, alimentaram-se com uma sopa substanciosa e fluidificada. Satisfeitos, foram todos para um repouso, que há muito não experimentavam.


 

O homem tem livre arbítrio nos seus atos?

Pois se tem a liberdade de pensar, tem a de agir.

Sem o livre arbítrio o homem seria uma máquina”

(O Livro dos Espíritos — questão 843)

 

Nosso Espírito revela assim, muitas vezes, a outros Espíritos, e à nossa revelia, aquilo que constitui o objeto das nossas preocupações de vigília”

(O Livro dos Espíritos — perg. 419 — Transmissão oculta do pensamento — Comentários de Allan Kardec)


 

O Livre arbítrio

 

Dionísio, incansável na assistência junto ao seu grupo, estava sempre atento e interessado para que todos adquirissem alguns dos primeiros conhecimentos e dos motivos pelos quais teriam ficado na situação anterior, e porque, ali, agora se encontravam.

Eram muitas as situações que surgiam para serem elucidadas, e ele, sempre solícito e acolhedor, atendia a todos com atenção.

Salvatore procurava, sem ser impertinente, estar por perto daqueles que indagavam, e atento às respostas de Dionísio. Algumas vezes as explicações o convenciam de imediato, outras vezes, não.

Muito embora Salvatore tivesse inúmeras indagações, ele as guardava para si, isentando-se de revelar aquilo que achava ser do seu foro íntimo. Ele tinha a consciência e a certeza de que, o que se relacionasse com a afetividade, com o amor, deveria ser apenas do trato de cada um.

Com certa frequência, Salvatore tinha sonhos, e sempre que isso acontecia, eles eram habitados por situações que ocorreram naquele vale escuro. Aquelas vozes ainda o atormentavam, e ele tinha pesadelos. Muito embora, ainda nessa condição incomodante, nada perguntava. No entanto, algo lhe chamava a atenção: aquela dor de cabeça constante já não era frequente e, quando ela vinha, a sua intensidade era suportável e de curta duração. Contudo, sobre isso, ele nada indagava.

Dionísio tinha todo conhecimento do que se passava com Salvatore, mas, em momento algum, o provocava para que ele dissesse algo a respeito de si. A lição do Livre Arbítrio já havia sido dada, e Salvatore estava em pleno gozo dessa prerrogativa.


E o tempo passou, arrastando-se para uns e célere para outros, que, ávidos, eram às vezes impacientes, para adquirirem respostas às suas indagações.

Salvatore, ainda que interessado em alguns assuntos e casos dos outros, dele mesmo nada revelava.

Dionísio, como sempre atencioso ao seu grupo, escutava com atenção, respondia com clareza e solicitude, e sem perder a oportunidade, infiltrava nas suas respostas os balizamentos evangélicos. O Livre Arbítrio era a lição constante em suas respostas. Dizia ele que, dentro da condição dessa Lei, todos podem olhar, pensar, falar, agir, gesticular e posicionar-se da maneira que desejar. Mas — frisava — “se tudo que enumeramos estiver em rota de colisão com os ditames cristãos, nós somos os únicos responsáveis pelos reflexos negativos dessas atitudes. Então, o Livre Arbítrio é a livre vontade de agir de cada um, mas com total responsabilidade sobre suas ações. É prudente que examinemos nossos sentimentos e desejos, vigiemos nossos pensamentos, porque onde colocarmos os nossos corações e desejos, e o modo como endereçamos nossos pensamentos, criará determinado retorno, De acordo com essa situação, a vida nos proporcionará momentos agradáveis e felizes, ou nos submeterá, unicamente por nossa culpa, aos tridentes do mal.


Pensando “com seus botões”, Salvatore Ambroziano, sentado à frente de um enorme painel, admirava a beleza de uma grande rosa, que parecia pulsar com matizes diversos, conforme o ângulo que para ela se olhasse. Ele não se surpreendeu com isso, em virtude de, “quando ainda vivo”, já ter visto coisa parecida, em capas de livros, ou cartões postais.

De olhos cerrados, vem-lhe um grande sentimento de saudades de sua terra natal. Recordou-se de sua cidade, de sua família, do seu trabalho, de seus filhos, da igreja, da Santa de sua devoção, e do encontro com a jovem que o fascinou. Com os cotovelos apoiados nos joelhos e com as mãos segurando e até apertando suas têmporas, viajava nos seus pensamentos — Assisi, a sua querida cidade; de repente sentiu vontade de aprumar-se, e qual não foi a sua grande surpresa, quando naquele painel revelou-se, como numa película, a sua cidade, a igreja e sua Santa Clara, encerrada naquele ataúde de vidro. Ele quer ver também a jovem por quem se apaixonou, mas a “miragem” se apaga e novamente a grande rosa volta a pulsar no painel.

Salvatore ficou ali, parado... pensando... pensando..., quando sentiu alguém tocando nos seus ombros. Era Dionísio.

— Você está bem?

— Estou!

— Salvatore, o Amor é um sentimento por excelência; é o sentimento que mais faz vibrar as fibras dos nossos corações, tanto para nos alegrar, quanto para nos entristecer. Devemos ter um cuidado redobrado quando nele estivermos envolvidos.

Salvatore, perplexo com o que lhe aconteceu e surpreso com o posicionamento de Dionísio, no que diz respeito ao Amor, toma uma resolução, fazendo a sua primeira indagação.

— Dionísio, por que eu não consegui ver...

Interrompeu Dionísio, completando a frase: — Aquela jovem por quem você se apaixonou?

— Sim!

— Antes, meu amigo, há algo importante que tem de ser dito: Você notou algo muito importante que aconteceu, no entanto, sobre isso, não questionou. Mas eu tenho a obrigação de lhe dizer e lhe chamar a atenção — é sobre a força do pensamento. Você viu, que inicialmente no painel, só existia uma enorme rosa. Quando você começou a recordar firmemente seu passado lá em Assisi, o painel se transformou. Então, Salvatore, você notou que o pensamento não pertence só a sua intimidade, ele se expande e chega a algum destino, se esse for o seu desejo.

Tem algo também muito importante, com respeito à Santa Clara. Você pensou nela morta, naquele caixão. Lá, Salvatore, está somente o corpo de que o seu espírito fez uso na sua última romagem. Hoje, meu irmão, ela é uma das auxiliares de Nossa Senhora; ela não está morta, está vivíssima em toda plenitude de um Espírito de luz.

Agora, quanto a sua indagação, é bom que aprenda já, que nem tudo nos é permitido. Deus, a sua maneira e com imensa bondade, somente nos revela aquilo que no momento nos faz bem; aquilo que possa vir a acrescentar algum bom ensinamento para nossa educação evolutiva, e no momento certo.


 

A prece é agradável a Deus

A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, porque a intenção é tudo para Ele. A prece do coração é preferível a que podes ler, por mais bela que seja, se a leres mais com os lábios do que com o pensamento. A prece é agradável a Deus quando é proferida com fé, com fervor e sinceridade. Não creias, pois, que Deus seja tocado pelo homem vão, orgulhoso e egoísta, a menos que a sua prece represente um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade;”

(O Livro dos Espíritos — questão 658)


 

Em Floridiana

 

— Salvatore, amanhã o nosso grupo será transferido, e eu os acompanharei até “Floridiana” — uma pequena cidade espiritual, onde todos terão o máximo de assistência que necessitarem. Todos vocês estão sendo aguardados; não haverá improvisos.

— Mas por que temos que sair daqui?

— Meu amigo, esta casa funciona como se fosse um pronto-socorro. Note por você mesmo; você não está totalmente bem, ainda sente dores pelo corpo; tem dores de cabeça, etc. Lá em “Floridiana”, você terá uma assistência mais atuante, específica e personalizada.

Salvatore Ambroziano passou as mãos por seus cabelos, pelo bigode, ajeitou os óculos, e nada mais argumentou.


Era como se fosse um enorme aeroporto, moderníssimo, mas, com grandes contrastes. Se de um lado estavam veículos desconhecidos, de outro lado, parelhas de cavalos puxavam carroções, tendo grandes cães como batedores.

Salvatore não sabia para que lado olhava, de tanta admiração, e se indagava intimamente: “Será que aqui também existem privilégios?”

— Salvatore, como já tive oportunidade de lhe dizer: o pensamento é revelador — disse Dionísio. O que você está pensando não é verdade. A única coisa que se leva em conta é a vontade de evoluir, e o merecimento de cada um. Saiba você que existem espíritos muito evoluídos, que, no exercício da sua humildade, utilizam-se das locomoções mais rudimentares, em seus afazeres, para não chamar a atenção dos irmãos menos felizes.

Ainda uma vez, ele olhou em seu redor, examinou e nada mais argumentou, nem expressamente, nem em pensamento, acomodando-se no veículo desconhecido. E rapidamente chegaram.

Por solicitação, caminharam todos por uma alameda, acompanhando Dionísio, o qual lhes comunicou que logo mais adiante chegariam, onde seriam recebidos e acomodados.

O dia estava maravilhoso, com suave luminosidade e com uma temperatura agradabilíssima, quando, vencendo alguma distância, chegaram a um imenso jardim, todo florido, com arbustos muito bem cuidados, além de frondosas árvores dispostas de modo circular, ao centro.

Um portentoso edifício dominava toda aquela beleza, com três portais em madeira rosada, habilmente esculpidos com motivos florais, ladeados, cada um, com duas colunas jônicas.

O quadro que se expandia à vista era esplendoroso; os grandes canteiros de rosas, tulipas, crisântemos e lírios, eram como que aconchegados por ruelas harmoniosamente traçadas e uniformemente calçadas.


Por indicação de Dionísio, eles se encaminharam para o portal do meio e aí foram recebidos bondosamente por um grupo de pessoas, que lhes desejaram boas-vindas e rápida recuperação.

Salvatore pensou: “Aquilo ali seria então um grande hospital?”

Nessa oportunidade, ninguém respondeu à indagação do seu pensar.

Convidados a entrar, acomodaram-se num auditório, onde já se encontrava um grande número de pessoas.

Dionísio, assim como alguns outros, encaminhou-se para uma mesa à frente. Suave música pairava no ar, inundando todo ambiente, e apaziguando aqueles corações aflitos e feridos pelos reflexos de seus próprios pensamentos. Uma das componentes da mesa levantou-se e convidou a todos para que a acompanhassem numa prece.

“Jesus, Amigo e Mestre, cá estamos nós, vinculados num só pensamento de gratidão e agradecimento, como também, de rogativa. Ainda somos muito pequenos na escalada da evolução, por essa razão estamos sempre pedindo, mas, Mestre Querido, considere os nossos propósitos, pois queremos chegar um dia para somente agradecer por tudo que nos oferece. E para isso, Amado Jesus, pedimos oportunidades para exercitarmos as poucas virtudes que conseguimos adquirir por sua imensa bondade. Abençoa, Jesus, os nossos esforços que objetivam estarmos sempre no seu caminho de Luz. Amigo e Mestre, que tenhamos sempre o bom ânimo, e que direcionemos os nossos pensamentos e a operosidade das nossas mãos para a Caridade e o Amor, porque sabemos que o ócio é a nódoa que afeta os nossos pensares. Assim sendo, Jesus Amado, leve a Deus nosso Pai essas nossas intenções, e que sejamos úteis ao nosso próximo de caminhada evolutiva. Cobre-nos, Senhor, com seu amparo, ajuda e proteção”

Terminada a prece, um coral executou lindas canções, exaltando o Amor, a Fé e a Esperança para um futuro melhor.

Aqueles que tinham “olhos de ver”, viram muitas luzes em forma de pétalas de flores, que caíram sobre todos.

Do centro daquela mesa, levantou-se um ancião; cabelos muito brancos, tez lindamente rósea, vestindo um blusão alvíssimo, com um detalhe do lado esquerdo do peito — um ramo de parreira, sobreposto em um sol — que dirigiu a palavra a todos: “Meus irmãos, sabemos o quanto estamos sendo enfadonhos para alguns, mas esse é o momento propício que temos para lhes desejar uma feliz estada entre nós. Como devem ter notado, estamos numa cidade espiritual — Floridiana — que os acolhe com muito amor e carinho, e ainda, com a dedicação de todos os nossos trabalhadores que no dia-a-dia estarão com vocês, para qualquer ajuda ou esclarecimento, dando assim condições para que todos, de per si, solucionem os seus problemas. De imediato, todos terão assistência médica específica para cada caso se necessitarem e desejarem. Posteriormente, terão possibilidades de exporem possíveis problemas que os incomodam, se desejarem.

Gostaríamos de salientar que respeitaremos o Livre Arbítrio de cada um, no entanto, rogamos para que no exercício dessa prerrogativa, ninguém e nada de nossa cidade seja prejudicado.

Meus irmãos, acho que puderam observar um pouco da parte organizacional deste grande edifício, que divide-se em três grandes alas. Para que tudo funcione perfeitamente é necessário que haja organização; e organização exige disciplina, que deve ser aplicada em todos os setores e por todos nós que aqui estamos — indistintamente. Então, meus irmãos, nós os acolhemos de braços abertos e com nossos corações pulsando de muito amor, para assim, juntos, galgarmos os degraus da escada evolutiva.

Dentro da urgência e necessidade de cada um, estarei sempre às ordens. Meu nome é Franco e que com a ajuda dos meus amigos e irmãos que aqui estão, dirijo esta nossa casa de recuperação e equilíbrio.

Estamos confiantes que este departamento e a totalidade de nossa cidade será para vocês um novo caminho, de muito entendimento, Luz e Amor.

Para não perdermos tempo, que é precioso, todos os novos companheiros submeter-se-ão a exames clínicos e tratamento se necessitarem, desde já, e se desejarem. É muito importante que sintam-se equilibrados “fisicamente”, para poderem assim, entender e direcionar os seus objetivos com praticidade e sem perda de um minuto sequer.

Que Deus os abençoe!

Do lado oposto do auditório, localizava-se a enfermaria, com todos os profissionais ligados à área da saúde.

As necessidades eram diversas.

Salvatore foi atendido inicialmente por um clínico geral, em vista de alguns ferimentos em seu corpo e de sua dor de cabeça. Esses tratamentos alongaram-se por alguns dias, até que recebeu alta da enfermaria.

Ao ser informado pelo clínico geral que teria alta, ele o inquiriu: — Mas doutor, ainda tenho a minha cabeça pesada; não tenho mais aquelas dores, mas parece que tenho um peso sobre ela.

— Salvatore, no seu caso, esse mal estar é normal. Para que você fique perfeitamente bem, há necessidade de que se submeta a uma terapia, para a qual o nosso irmão Dionísio o encaminhará.

Nesse instante chegou Dionísio, que já estava sabendo que seu tutelado teria alta.

— Dionísio, da nossa parte, Salvatore está ótimo, só falta levá-lo para outro tratamento.

— Muito bom, doutor. Vamos Salvatore?

— Muito obrigado, doutor. Espero recompensá-lo um dia — disse Salvatore.

— Esqueça isso, amigo. Mas tem uma recompensa que desejaria receber: é que você torne-se uma pessoa feliz!

— Obrigado doutor, muito obrigado, e prometo que vou me esforçar!

— Vamos, Salvatore — disse Dionísio.


 

A memória pode ser comparada a uma placa sensível que, ao influxo da luz, guarda para sempre as imagens recolhidas pelo espírito no curso de seus inumeráveis aprendizados, dentro da vida. Cada existência de nossa alma, em determinada expressão da forma, é uma adição de experiência, conservada em prodigioso arquivo de imagens que, em se superpondo uma às outras, jamais se confundem.

Em obras de assistência, qual a que desejamos movimentar, é preciso recorrer aos arquivos mentais, de modo a produzir certos tipos de vibração, não só para atrair a presença de companheiros ligados ao irmão sofredor que nos propomos recorrer, como também para descerrar os escaninhos da mente, nas fibras recônditas em que ela detém as suas aflições e feridas invisíveis.” (Ministro Clarêncio — Espírito) — (Entre a Terra e o Céu — André Luiz — cap.XI)


 

Com o psicólogo — Análise mental — I

 

Saindo da enfermaria por uma porta lateral, entraram num curto corredor que antecede a uma sala, onde várias pessoas estavam sentadas.

Dionísio diz a uma atendente: — Este é Salvatore Ambroziano, de quem lhe falei.

— Ótimo. Salvatore, seja bem-vindo!

Salvatore admirou-se muito em ver como tudo ali funcionava com precisão. Parecia que todos tinham conhecimento do que os outros estavam fazendo ou iriam fazer.

— Não, meu amigo, a coisa não é bem assim. Dependendo da situação nós ficamos sabendo o que se passa ou irá acontecer, mas, no seu caso, esse conhecimento vem de seus registros e dos procedimentos a que se submeteu, e de outros que são indicados. Cada setor tem a informação necessária, pertinente ao seu caso, como ao de outras pessoas que aqui estão.

— Existe aqui, então, uma central de informações computadorizadas?

— É. Pode chamar assim.

Chegando a vez de Salvatore, ele é chamado juntamente com Dionísio, e são recebidos por um psicólogo, que os cumprimentou com um abraço afetuoso e amigo.

— Salvatore — disse o psicólogo — você está aqui para nosso contentamento, e para iniciar um tratamento psicológico.

— Como assim, doutor? Eu não tenho nenhum desequilíbrio mental! Não estou louco!

— Salvatore — aduziu o Dr. Eudes — não estou dizendo nada do que você afirmou. Para as anomalias que você disse, existe outro pavilhão, de que cuidam os profissionais de lá. No seu caso, com a sua permissão, nós iremos auxiliá-lo a livrar-se desse grande peso que traz na cabeça; só isso! Mas é bom frisarmos que a nossa atuação só se dará, desde que você permita. O Livre Arbítrio, do qual você já deve ter ouvido várias vezes, também aqui é aplicado. Aliás, o Livre Arbítrio é um preceito pétreo, aceito obrigatoriamente em toda “Floridiana”. Nós queremos unicamente ajudá-lo a sair dessa situação incômoda. Concordando, amanhã nesse mesmo horário, pode vir, que, com todo interesse, estaremos aqui.

Salvatore, sentado numa cadeira com apoio de braços, onde descansava os cotovelos, e com o dedo indicador direito sendo pressionado entre seus dentes, olhou bem ao redor e, sentindo que a sua cabeça parecia estar mais pesada, perguntou: — Doutor, podemos começar agora?

— Deite-se aqui meu amigo e tente relaxar; se alguma coisa o incomodar, como o cinto apertado ou os sapatos, fique à vontade, pode afrouxar ou tirar. Você vai se submeter ao início de um tratamento que poderá ser longo, ou não. Utilizaremos os seus próprios pensamentos e ações de suas vidas anteriores, até chegar ao estágio atual. Concorda?

— Concordo!

— Iremos pôr em redor da sua cabeça um aparelho que irá captar e gravar todos os seus pensamentos e acontecimentos vividos, que só se revelarão naquela tela se você permitir. Não se esqueça, Salvatore, o Livre Arbítrio aqui é respeitado.

— Está bem, Doutor.

— Uma coisa, Salvatore. Eu já lhe disse, mas é bom salientar: é sobre a duração do tratamento. Você poderá se submeter a muitas sessões ou apenas algumas; e o tempo de cada uma poderá ser variado. Hoje não vai demorar muito. Tranquilize-se. Inicialmente, você ficará sonolento, depois os acontecimentos vão se desenrolando no seu cérebro; este aparelho irá captar tudo que brotar no seu campo mental.

Após longo hausto, Salvatore não só ficou sonolento, como entrou mesmo num profundo sono.

Correram vinte minutos, quando o Dr. Eudes resolveu despertá-lo, pois ele começava ficar um pouco agitado.

— Então, Salvatore, você está bem? Sente alguma dificuldade? Sabe onde está?

— Estou bem, Doutor, só um pouco sonolento.

— Recorda-se de algum fato do seu sonho?

— Sim, Doutor, foram muitos.

— Você autoriza a mim e ao Dionísio vermos o que aconteceu?

— Sabe, Doutor, acho que os acontecimentos que vi em “sonho”, nada acrescentarão nessa minha passagem por este departamento. Apareceram no meu “sonho” pessoas que desconheço. Mas se desejarem ver mesmo o que aconteceu, podem projetar, não me incomodo.

— Não, acho melhor, não. Amanhã após a sessão, vamos ver, e quem sabe algo mais possa ser revelado para o nosso ensinamento.

Dionísio e Salvatore despediram-se do Doutor, prometendo voltar no dia seguinte no horário marcado.


 

Os sonhos são o produto da emancipação da alma, que se torna mais independente pela suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de clarividência indefinida, que se estende aos lugares os mais distantes ou que jamais se viu, e algumas vezes mesmo a outros mundos. Daí também a lembrança que retraça na memória os acontecimentos verificados na existência presente ou nas existências anteriores.”


(O Livro dos Espíritos — Questão 402 — Comentários de Allan Kardec)


 

Análise mental — II

 

No seu período de sono, Salvatore sonhou com aquelas mesmas cenas; iguais as que se submeteu na terapia com o Dr. Eudes. Ao despertar pela manhã, já acordou com aquelas imagens na cabeça. E isso estava incomodando-o.

Encontrando com Dionísio, ele comentou sobre essas imagens que não lhe saíam da cabeça.

Dionísio, pacientemente, ouviu e emitiu em favor dele, pensamentos tranquilizantes, pois o seu interlocutor estava um pouco nervoso.

— Salvatore, você sabe, às vezes, a gente sonha com coisas ou acontecimentos que parecem não ter “nem pé e nem cabeça”, e nada a ver conosco. Não se intranquilize com isso por hora. Logo mais estaremos com o Dr. Eudes.


— Como vão? Tudo bem?

— Vou indo Doutor, mas acho que em vez de melhorar estou é piorando.

— O que aconteceu?

— Ah! Doutor, eu passei a noite toda sonhando com os acontecimentos que vi aqui, e praticamente, até agora, esses sonhos não saem da minha cabeça.

— É, Salvatore, se fosse diferente eu iria achar que algo estaria errado, mas se foi assim como está me dizendo, isso é normal.

— Mas, Doutor...

— Eu vou lhe adiantar só uma coisa, que você ainda não sabe. O que você notou quando esteve aqui, foram algumas passagens de suas vidas que teve anteriormente a esta última; foram encarnações passadas.

— Mas eu não me reconheci como fazendo parte daqueles fatos.

— Eu acho que a partir de hoje, algo mais lhe será revelado — disse o Doutor.

— Dr. Eudes, haveria possibilidade de vermos através desse aparelho, o que aconteceu ontem?

— Salvatore, se você não se incomoda, vamos continuar um pouco mais com o tratamento, por uns quinze ou vinte minutos, depois, nós projetaremos. Concorda?

— Concordo, Doutor.

E assim foi.

Encerrada a sessão, o Doutor com muito jeito, despertou-o.

— Tudo bem?

— Estou bem, Doutor.

— Vamos passar para outra sala reservada e lá iremos começar a analisar os acontecimentos de ontem e de hoje.

Ajustada a aparelhagem, mais uma vez o Dr. Eudes perguntou: — Salvatore, deseja mesmo continuar a se submeter aos nossos procedimentos?

— Pode ir em frente, Doutor.

— Sabe, meu amigo, meu propósito é unicamente ajudá-lo; o meu setor aqui, cuida especificamente de analisar e mostrar o que é e o que faz a força do pensamento, e com isso auxiliar a quem porventura esteja preso a alguns, ou vários pensamentos, que trouxe ao desencarnar.

— Eu o entendo, Doutor, os senhores nos desejam o melhor; se estamos aqui, é compreensível que necessitemos de algum tipo de tratamento. Desde que fui auxiliado pela primeira vez, pela Senhorita Efigênia — ótima criatura — a mando de Santa Clara de Assisi, eu constatei que existem muitas pessoas que têm o intuito de nos ajudar — disse Salvatore.

— É, a Irmã Clara, como ela gosta que a tratemos, é um baluarte, espargindo bondade e amor, e tem uma enorme equipe de trabalhadores que a auxilia nos resgates. Algumas vezes, ela nos dá o imenso prazer de vir até nós, até a nossa “Floridiana”, e nos supre com seu exemplo e sua imensa dedicação às causas dos menos favorecidos e aflitos, com desvelo e amor. Ela é um Espírito luminar, que já poderia estar em esferas puras, mas, pelo grande amor que tem para conosco, retarda, por sua própria vontade, a sua evolução, só para nos acudir.

Agora em silêncio, os três estão atentos à tela.

Inicialmente aparece um jovem cuidando de um grande jardim, muito florido. Desenvolvia o seu trabalho cantando; estava feliz. Em seguida, o mesmo jovem conversava com uma matrona, que lhe solicitou que fosse cantar e tocar para o seu filho, que se encontrava acamado sem poder andar, pois havia perdido os movimentos das pernas, devido a um acidente com sua montaria, quando inspecionava a grande propriedade agrícola da família, localizada na saia do Aspromonte — Calábria.

Federico fez algumas visitas ao doente, mas este, não resistindo ao acidente, veio a falecer, deixando uma linda viúva de traços normandos, que num choro convulsivo vertia de seus olhos muitos azuis, grossas lágrimas, em razão desse passamento.

Priscila era o nome dela. Ela casara-se com o jovem Argento por interesse. Sua família estava arruinada, e esse matrimônio com Argento, que era um jovem rude e muito feio, mas rico, tinha sido a salvação.

Priscila começou a aparecer pelos jardins, triste, mas notou que o jovem jardineiro, Federico, era um homem robusto, bonito, educado, solícito, porém sem nenhum recurso material. Priscila objetivava nunca mais ter que passar fome e frio — assim fora a sua adolescência.

Ela constatou que se sentia atraída pelo jardineiro; estava gostando dele; desejava ficar por perto; por pouco, quase envolveu-se com Federico, que numa oportunidade declarou o seu amor. Mas, desvencilhando-se dos braços do jovem jardineiro, em desabalada carreira, desaparece e nunca mais volta aos jardins. Surge nesse cenário um primo de Argento, igualmente rude e feio, que por deferência da matrona, assumiu o controle da grande propriedade.

Novamente o interesse de Priscila se aguça e ela casa-se com Engersone.

Federico sabia que Priscila nutria amor por ele, e a recíproca era verdadeira. Ele para de cantar e de cuidar bem dos jardins, e o ódio assalta o coração do jovem trovador, que já neste quadrante, estava só neste mundo.

Federico percebeu certo dia que, quando se aproximava de um canteiro de flores, com seus pensamentos baixos, odiosos e invejosos, elas murchavam e feneciam.

A matrona, percebendo que seus jardins estavam mal cuidados, dispensou os serviços do jardineiro.

O ódio de Federico aumentou, pois teve que deixar de viver na propriedade, longe da sua amada, tendo que buscar outra atividade para sobreviver.

Certa vez, ao entrar numa taberna, desolado, com o seu coração ferido, sorveu de uma só vez uma bilha de vinho. Olhando ao lado, viu um alaúde; tomou-o nos braços, tocou e começou a cantar, improvisando letras e músicas que revelavam o seu coração dorido por uma amor não correspondido. Federico, ao ser muito solicitado por seus ouvintes, percebeu que poderia ganhar a vida cantando e tocando nas tabernas. Ficou muito conhecido como “o trovador do amor”, desde Reggio da Calábria até Nápoles. Sempre ao final de cada apresentação, ele gritava: “Priscila, você não quis ser minha, então, não será de mais ninguém. Quero que morra!”

Antes, no entanto, quem morreu, por primeiro, foi ele — tísico.

Quanto a Priscila, ela não resistiu aos constantes dardos mortíferos, lançados, todos os dias, pelo pensamento de Federico, e adoeceu, permanecendo como uma alienada pelo resto de sua vida.


 

O ódio


Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento. Missionário do amor, ele amou até dar o sangue e a vida por amor. Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. Amá-los é a hóstia imaculada que ofereceis a Deus na ara dos vossos corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe sobe até ao seio. Se bem a lei de amor mande que cada um ame indistintamente a todos os seus irmãos, ela não couraça o coração contra os maus procederes; esta, é, ao contrário, a prova mais angustiosa, e eu sei bem, porquanto, durante a minha última existência terrena, experimentei essa tortura. Mas Deus lá está e pune nesta vida, e na outra os que violam a lei de amor. Não esqueçais, meus queridos filhos, que o amor aproxima de Deus a criatura e o ódio a distancia dele.”


(O Evangelho Segundo o Espiritismo — c\p. XII — item 10 -Fénelon. (Bordéus, 1861)


 

Análise mental — III

 

Na próxima encarnação de Priscila e Federico Gandolfi, após meio século de erraticidade, em que ambos experimentaram muitos sofrimentos em planos espirituais onde reinavam a inveja, a maledicência, a injúria, a difamação, o ódio, enfim, todas as desvirtudes contrárias ao Amor, novamente na Calábria, voltaram a renascer, como Paola e Amadeo. Só que agora, ele nasceu em berço de família bem posta economicamente. Enquanto Paola era de família remediada. Ele era filho de próspero armador, e ela, filha de um modesto artesão de estaleiro.

Ela, uma linda calabresa, muito embora de família modesta, tinha o cuidado de estar muito bem aparentemente.

Desde a infância ambos estavam sempre juntos.

O tempo passou e, ao chegarem a suas juventudes, Paola e Amadeo tinham encontros constantes — estavam namorando.

Mas o pai de Amadeo, orgulhoso que era, objetivando a manutenção ou o aumento da riqueza da família, ajustou com outro armador da cidade de Nápoles, para que a filha deste casasse com seu filho. As intenções dos patriarcas se uniram, e o consórcio matrimonial foi realizado.

Amadeo, inicialmente, não gostou da idéia do pai, mas depois, com a ameaça de ser deserdado, e com argumentos favoráveis sobre tornarem-se os dominadores da navegação no mar Tirreno, com grandes possibilidades de chegarem até Gênova, e também, fazerem escalas pelos portos do Adriático, aguçou-se sua veia interesseira e materialista, convencendo-o a aceitar o consórcio com a desconhecida.

Ele nada disse a Paola.

Alguns dias antes do matrimônio, que iria realizar-se em Nápoles, Amadeo, por entre as longarinas e cavernas de um barco que estava para conserto, no estaleiro do seu pai, aproveitou-se de Paola, prometendo-lhe eterno amor, e ela acreditando nesta jura, entregou-se por inteira.

Amadeo casou-se e fixou residência em Nápoles.

Paola nunca mais viu Amadeo, mas, todos os dias, via o seu ventre se avolumar e desesperava-se. Sua mãe, já desconfiada, chamou a atenção do marido. Eles fizeram uma reunião familiar para tratar do assunto e Paola contou tudo.

A criança nasceu — uma linda menina — Madelene.

Só após muito tempo, com a criança já com três anos, Amadeo ficou sabendo que tinha uma filha com Paola.

Ele, já muito rico, desejou assisti-las economicamente, mas Paola, tomada de ódio até as últimas fibras do seu coração, não aceitou e praguejou: “Hás de morrer e não terás um túmulo para repousar “Seu Maledetto””. E essa frase, ela pronunciava todos os dias, como num ritual — pela manhã e pela tarde, e sempre com o peso do ódio.

Passou célere o tempo. Madelene, já com sete anos — ruivinha, cabelos ondulados, olhos muito azuis — parecia uma linda boneca. E Paola, muito embora jovem, tinha a aparência fustigada pelo tempo; estava sempre muito triste.

Mas, certo dia, uma notícia faz com que Paola dê muitas gargalhadas e também extravase o seu ódio. Com um murro na mesa, ela diz aos gritos: “Bem feito seu desgraçado... é isso que você merecia, miserável.”

O que aconteceu foi que, quando Amadeo navegava pelo mar Adriático, seu barco colidiu com um outro, sob um espesso nevoeiro. Toda a tripulação de seu barco se salvou, mas ele, não.

Paola, não muito tempo depois, contraiu a leptospirose e não resistindo aos seus efeitos, morreu.

Nesse momento, o Dr. Eudes interrompeu a projeção, indagando para Salvatore se ele desejava continuar a ver, e se algo daquilo tudo estava lhe interessando.

— Sabe, Doutor, eu tinha a convicção de que o que ocorria, tudo, estava alheio a mim, mas, nesse ponto em que paramos, algo me afeta e sinto que essas jovens — Priscila e Paola, têm alguma coisa a ver comigo. Não posso definir. Eu desejo continuar a assistir essas projeções, se me deixarem.

— Tudo bem, então, vamos continuar.


 

Durante o sono, a alma repousa como o corpo?

Não, o Espírito jamais fica inativo. Durante o sono, os liames que o unem ao corpo se afrouxam e o corpo não necessita do Espírito. Então, ele percorre o espaço e entra em relação mais direta com outros Espíritos.”


(O Livro dos Espíritos — Questão 401 )


Os encontros que se dão algumas vezes entre certas pessoas, e que se atribuem ao acaso, não seriam o efeito de uma espécie de relações simpáticas?

Há, entre os espíritos pensantes, ligações que ainda não conheceis. O magnetismo é a bússola dessa ciência, que mais tarde compreendereis melhor.

(O Livro dos Espíritos — questão 388)


 

Análise mental — IV

 

Milão — depois de seis décadas na erraticidade.

Amadeo, agora como Salvatore Ambroziano, estava em Milão.

Era jornalista de um jornal da cidade, de grande circulação, e fora indicado para fazer a cobertura jornalística da guerra na Iugoslávia.

Os confrontos étnicos estavam desequilibrando a estabilidade iugoslava no seu todo; as lutas eram fratricidas.

Antes de embarcar, Salvatore passaria uma semana em Veneza, em férias, com a família. Após esta estadia, rumaria para Trieste, e de lá, já começaria a reportar a guerra, tendo como objetivo final, a Macedônia. Um dia antes de embarcar, seus familiares voltaram para Milão.

Passeando pela praça de São Marcos, Salvatore cruzou com um grupo de pessoas bem humoradas e tagarelas. Eram franceses. Dentre eles, uma jovem chamou sua atenção; cruzaram olhares e, repentinamente, Salvatore lembrou-se do sonho muito confuso que tivera na noite anterior, com duas jovens que se chamavam: Priscila e Paola.

Ele parou, acompanhou com o olhar aquele grupo de franceses e pensou com seus “botões”: “O que será que pode relacionar o meu sonho “sem pé nem cabeça”, com esse grupo de pessoas, ou mais precisamente, com aquela bela jovem?” Olhando para o chão, pensativo, tentando decifrar alguma coisa que pudesse se relacionar com tudo que estava acontecendo, desviou o seu olhar para a linda baía de São Marcos e continuou o seu passeio, admirando as belas e antigas construções.

No restaurante do hotel, à noite, aguardando ser atendido pelo garçom, para o jantar, ele lembrava-se do ocorrido. De repente, viu a mesma jovem francesa entrando no salão, acomodando-se só numa mesa bem distante da dele. Uma bela moça.

Salvatore assustou-se consigo mesmo. Uma retrospectiva do seu sonho ocorreu — será ela uma das moças do meu sonho? — Priscila ou Paola. Como pode ser? Mas que tenho a ver com essas moças? E essa moça, comigo?

Os pensamentos de Salvatore pareciam que entrar em ebulição. Ele pareceu desequilibrar-se. Num ímpeto, levantou-se e foi ao encontro daquela jovem francesa, e com dificuldade para expressar-se no idioma francês, dirigiu-se a ela: “Excusez-moi, mademoiselle; vous appelle Priscila?”

A jovem francesa, com a interpelação, por um momento, ficou assustada, ficou muda, não sabendo responder nem sim, e nem não. Passaram-se alguns segundos e ela respondeu: “Oui... oui... je sui...”

Ainda mais alguns segundos correram, quando ela despertou para sua realidade: “Non...non... je sui Colette Lebranc”. E tirou a sua identidade, mostrando-a: Colette Lebranc — Lyon — 15 de março de 1962.

— “Merci...merci...merci...Excusez moi...”

Salvatore retornou à sua mesa, mas com seus pensamentos confusos: se ela é Colette, então, também não é Paola. Ele não conseguia definir e nem entender porque tudo aquilo estava acontecendo.


 

Qual o objetivo da Providência ao tornar a guerra necessária?

A liberdade e o progresso.”


Se a guerra deve ter como efeito conduzir à liberdade, como se explica que ela tenha geralmente por fim e por resultado a escravização?

- Escravização momentânea para sovar os povos, a fim de fazê-los andar mais depressa.”

(O Livro dos Espíritos — questões 744 e 744-a.)


Integrado na vida corpórea, o Espírito perde momentaneamente a lembrança de suas existências anteriores, como se um véu as ocultasse. Não obstante, tem à vezes uma vaga consciência, e elas podem mesmo lhe ser reveladas em certas circunstâncias. Mas isso não acontece senão pela vontade dos Espíritos superiores, que o fazem espontaneamente, com um fim útil, e jamais para satisfazer uma curiosidade vã.”


( O Livro dos Espíritos — Questão 399 — Comentários de Allan Kardec)


 

Análise mental — V — Na guerra

 

Salvatore desembarcou na Iugoslávia e começou o seu trabalho de jornalista de guerra.

Na cidade de Pristina, o combate entre as artilharias do governo e dos rebeldes albaneses era cerrado. Jornalistas e repórteres fotográficos se expunham para colherem as melhores reportagens e fotos daquela guerra fratricida, que chegava até ao uso de agentes químicos exterminadores. Num raro momento de trégua, protegido por entre os escombros, Salvatore observou que alguém fora ferido e estava sendo carregado numa maca. Quando chegou perto, ele reconheceu os jornalistas franceses, e que quem estava gravemente ferido, com ferimentos expressivos nas pernas, era Colette — a repórter fotográfica. Aproximando-se dela, algo tomou conta do seu ser, e Salvatore bradou: “Minha Santa Clara de Assisi, por favor, ajude a minha Priscila”; e abraçou-se a ela, desesperadamente.

Ela, traspassada de dor, em vias de perder os sentidos, murmurou: “Fede...” — sem forças para continuar falando, desmaiou. Os companheiros de Colette ficaram perplexos com aquela cena, sem nada entender.

Colette recebeu os primeiros socorros e foi transportada para Montenegro.

Salvatore não teve mais notícias da repórter, nem mesmo com a equipe de jornalistas franceses.

Ainda por seis meses, arriscando a sua vida, fez a cobertura jornalística daquela guerra cruenta, e cotidianamente vinha em sua mente aquela cena horrível dos ferimentos de Colette, que levava-o a acreditar que ela não resistiria.


 

A guerra desaparecerá um dia da face da Terra?

Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Então, todos os povos serão irmãos.”


(O Livro dos Espíritos — questão 743)


 

Análise mental — VI — O regresso a Milão

 

Retornando a Milão, Salvatore veio com alguns estigmas daquela guerra, que continuava a repugnar o mundo todo pela sua crueldade desmedida, além do desrespeito e descaso às vítimas, que eram amontoadas em valas comuns às centenas, sem qualquer cuidado ou identificação.

Ele continuava a condenar os objetivos das facções, que tinham como grande motivo de guerra, a preservação de suas raças. Isso, no seu conceito, era absurdo, afinal, eram todos da Iugoslávia, todos iugoslavos, todos irmãos, muito embora denominados, conforme a região, sérvios, croatas, albaneses, montenegrinos e macedônicos.

Em certos momentos os seus pensamentos estampavam a figura sofrida de Colette; ela gemia de tanta dor; seus ferimentos muito sérios, as pernas dela ensanguentadas, e ele abraçado a ela...

As cenas da guerra que povoavam a sua mente, incomodavam-no muito. Tanto é que até seus familiares começaram a notar mudanças no seu equilíbrio emocional.

Aconselhado por amigos e familiares, resolveu consultar um psiquiatra.

Após várias sessões, o psiquiatra resolveu, com a permissão de Salvatore, chamar um terapeuta, afeito a Terapia de Vidas Passadas, para desse modo continuar com o tratamento. Outras várias sessões foram levadas a efeito, até que Salvatore identificou-se como Federico, e reconheceu Colette, como Priscila, que também tinha sido Paola.

Mais equilibrado, Salvatore obteve alta desses profissionais, porém, com a obrigação de retornar a cada quinze dias ao consultório do psiquiatra, para que este acompanhasse a sua recuperação.

E ele voltou ao seu trabalho como jornalista.

O ambiente familiar continuou como era antes; tinham um bom relacionamento. O que o perturbava um pouco eram os seus sonhos, tanto da guerra como do sofrimento de Colette.

Na última visita que fez ao psiquiatra, comunicou ao seu médico que iria a Paris, para saber do paradeiro de Colette.

— Salvatore, você parece que está bem estruturado emocionalmente, mas, se eu fosse você, não iria.

— O senhor pode me dar uma razão?

— Sabe o que é, amigo, nós ainda não temos o total controle de nossas emoções, por mais que estejamos treinados. Como você teve um grande trauma de guerra e, ainda mais, o encontro com Colette, a sua Priscila/Paola de outros tempos; pode prejudicar-se, desequilibrando-se novamente.

— Eu vou pensar, Doutor


 

Pode pois admitir-se como regra geral, que todos os que se ligam, numa existência, por empenhos comuns, já viveram juntos, trabalhando para o mesmo fim, e encontrar-se-ão no futuro, até que tenham alcançado, isto é, expiado o passado, ou cumprido a missão que aceitaram”


(Obras Póstumas de Allan Kardec — As Expiações Coletivas — Clelie Duplantier)


 

Análise mental — VII — Na França

 

E apareceu uma oportunidade de fazer uma reportagem sobre os vinhos franceses, e para lá foi Salvatore — inicialmente, rumo a Paris.

Antes de começar o seu trabalho pelo interior da França, ele foi até o jornal “Le Monde”, para tentar encontrar um companheiro jornalista, que conheceu na Bósnia. Encontrou-o e obteve a informação de que o acidente com a repórter fotográfica Colette, tinha sido notícia de primeira página nos jornais da França, e que ela, atualmente, estava morando em Lyon, a sua cidade natal.

Salvatore rumou para lá e, com alguma dificuldade, encontrou o endereço da residência de Colette.

Ele parou do outro lado da rua. Seu coração pareceu que se apertava, disparava; ficou vacilante, “não sabia se ia ou se ficava”; mas, quando viu, estava apertando a campainha. Uma senhora o atendeu, e ele, dizendo-se ser um jornalista italiano e colega da repórter, declarou seu desejo de estar avistando-se com Colette Lebranc. Disse que veio a Lyon exclusivamente para fazer essa visita.

Ao avistar-se com Colette, ele teve um baque emocional. Momentaneamente ficou tonto, quase perdendo os sentidos.

Ela estava numa cadeira de rodas — sem as duas pernas. Seu rosto, embora com as expressões implacáveis do tempo, continuava ainda muito lindo, suavemente maquiado; seus cabelos ruivos, com alguns prateados, que caiam suaves sobre seus ombros; seus olhos, profundamente azuis.

Por alguns minutos, reinou um silêncio abismal entre eles.

No seu parco francês, ele diz: — Colette, desculpe o meu estado de total surpresa; não esperava encontrá-la assim. Eu sabia que seus ferimentos tinham sido expressivos, mas não esperava...

Colette estendeu a mão, cumprimentando-o, e respondeu: — Não tenho nada que desculpá-lo, mas sim, agradecer esta sua visita. Nada a desculpar, portanto.

— Sim. Sim. Eu desejava muito vê-la e...

Ela não deixou Salvatore terminar a frase. E acrescentou, em italiano corrente: — Pois é, agora você vê como me encontro. Mas eu lhe garanto que interiormente estou ótima. Quanto a nós dois — um assunto que povoa os escaninhos dos nossos cérebros, você, assim como eu, já teve a certeza do que fomos e fizemos, não é Federico?

Eu sei o que moveu você a vir até aqui, na minha cidade. Não foi a curiosidade. No entanto, o real motivo, nesse quadrante das nossas vidas, não nos interessa desenvolver. Não chegaremos a lugar algum. O que interessa, para seu caso de imediato, é que volte urgentemente para a sua Itália, para não causar um grande transtorno à sua família e uma grande tristeza também, assumindo enormes responsabilidades. É necessário que volte, cumpra o seu destino por lá, com as obrigações familiares que assumiu, pois assim, terá moedas de troca no futuro — como dizem por aí. Terá créditos acumulados para si.

Até uma outra vez, Federico. Até uma nova oportunidade, se merecermos, que, desejo ardentemente, seja em situações bem diferentes.

Salvatore despediu-se transtornado e obedeceu ao que ela havia lhe solicitado.


 

O triunfo é, muitas vezes, resultado de muitos sacrifícios e falhas. Quem não se dispõe a repetir para acertar, já malogrou antes da tentativa para o êxito”


(Dias Gloriosos — cap. 28 — Joanna De Angelis)


 

Análise mental — VIII — Retorno a Milão

 

Na semana seguinte, já em Milão, alegando problemas de saúde aos seus superiores, Salvatore justificou a sua volta tão rápida.

Passou a escrever no Caderno da Cultura, do jornal em que trabalhava e, num exemplar de fim de semana, estreou como poeta, com a poesia intitulada: “Flores do meu presente ou do meu passado?”.


Flores! Flores, mas quantas flores!

Como são exuberantemente lindas...

Petúnias... Prímulas...

Rosas... Que perfume...

Íris... Ah! íris, que formosura...

Setas, sobrálias e sarcantos,

Ciclames, crisântemos e calêndulas,

Ipoméias, idésias e ionopsidas,

Lírios-amarelos, lilás e lobélias,

Azaléias, amarílis, amores-perfeitos...

Todas, todas reunidas numa só flor de mulher!

Como conheço todas elas?

Quero tê-las só para mim!

Mas num só gesto meu, elas desaparecem!

Recuo, então na minha intenção,

E novamente elas surgem lindas, viçosas e radiantes,

No caminho que tenho a seguir.

Insisto e invisto outra vez,

E como num passe de mágica,

Elas somem e se escondem.

Mas por que se escondem de mim,

Se novamente voltam a aparecer?

Volto atrás, bem atrás,

E olhe elas vivas aí outra vez!

Elas encantam, embelezam...

São lindas, muito lindas!

Nessa situação, penso

Que elas não serão minhas.

Devo reconhecer?

Mas por que agora, justo agora,

Elas se plantam frente a mim?

Será que isso tudo não está ajustado no tempo?

Será que esse é o tempo delas aparecerem,

E não é o meu tempo de colhê-las?

Será que há muito tempo isso é assim?

Será que essa mulher sempre foi inacessível a mim?

Eu gosto dela. Gosto do seu jeito meigo...

Dos seus cabelos ruivos e ondulados,

Dos seus olhos exuberantemente azuis e expressivos,

Da sua fala mansa, dos seus gestos calmos,

Do seu sorriso, naquele dia, em São Marcos,

Eram largos e francos,

Da sua silhueta...

Mas quando eu chego bem perto,

Foge deixando seu suave perfume.

Devo reconhecer então,

Que não é e nunca será minha?

E nem eu, dela?

E as flores lindas, vivas, cheirosas...

Ah! Lá estão — como são deslumbrantes...

Pergunto a mim mesmo:

— “Qual é a minha alternativa?”

E socorre-me a voz da consciência:

— “Caminha, caminha meu amigo...

Vai andando, distribuindo e colhendo frutos.

Quem sabe, um dia... um dia...

Você poderá usufruir dessa resplandecência”.

Então, eu sigo o meu caminho, resignado,

E vou indo, e elas também, mas muito distantes.

Será que nunca irei colhê-las só para mim?


E assim foi a estréia elogiosa de Salvatore como poeta, que assinou como — Federico Gandolfi.

Nesse ponto terminaram as projeções.


 

O intercâmbio mental é muito maior do que se pode imaginar. Inconsciente ou de forma lúcida entre os homens e mulheres; direcionados aos animais e plantas; entre os Espíritos, alguns dos quais o manipulam com propriedade; destes para com os outros demais seres humanos, assim também com a Fonte da Vida.

Aspirações e desejos ignóbeis, mágoas e ódios, ciúmes e paixões, são focos emissores de energia mental de baixos teores que cruzam os espaços na direção de pessoas e de tudo aquilo que se encontra sob a sua alça de mira.”


( Dias Gloriosos — cap. 2 — Joanna De Angelis)



 

A força pensamento

 

— Não há nada mais a ser projetado, Doutor?

— Não, Salvatore, chegamos até o ponto que nos foi permitido ver.

— Doutor, será mesmo que a força do pensamento poderá chegar a proporcionar acontecimentos tão ruins, de tal maneira que prejudiquem pessoas?

— Salvatore, vamos analisar o “verso dessa medalha”. Os pensamentos bons podem auxiliar as pessoas? Recorde, Salvatore, quando você estava passando dificuldades naquele lugar escuro. Você emitiu pensamentos de Fé e de Amor na direção da nossa Irmã Clara, e ela lhe mandou ajuda. Então, meu amigo, devemos considerar que o nosso pensamento é uma força que, direcionada para as boas coisas, produzirá efeitos bons, e se dirigida para as ruins, produzirá resultados ruins, trevosos, doenças até fatais. Só para acrescentar: os pensamentos, expressos em palavras articuladas, podem ajudar em nosso equilíbrio, se forem ponderadas; podem ser imprudentes, se forem levianas; podem ser otimistas, se forem alegres; podem causar desânimos, se forem tristes; podem ajudar na evolução das almas, se forem generosas; podem causar desequilíbrios, se forem maledicentes; podem provocar reconhecimentos, se forem gentis; podem ser perturbadoras, se forem atrevidas; podem ser tranquilizantes, se forem serenas; podem ser de confiança, se forem fervorosas, e podem ser céticas, se forem descrentes. Essa, Salvatore, foi uma grande lição que aprendi, quando tive a oportunidade, inesquecível, de ouvir o nosso Irmão André Luiz.

— Bem, Salvatore, após as oito projeções, que você permitiu serem efetuadas, para que o auxiliássemos na recuperação de seu equilíbrio emocional, cumpre-me dizer-lhe, que você está bem equilibrado, pois, em nenhum momento, a não ser, no primeiro dia, com sua observação de não se reconhecer naquelas cenas. Nas restantes, você se reconheceu e viveu aquelas cenas com aceitação e tranqüilidade.

Assim sendo, eu desejo saber como você se acha interiormente.

— Doutor, eu estou muito bem! Esse tempo todo que me submeti às suas análises, e as consequentes projeções das minhas vidas pretéritas, especificamente relacionadas com Priscila, Paola e Colette, me deram a certeza de que o pensamento é uma força criadora e eficaz, se impregnada com amor; e prejudicial, destruidora, se gerada no limbo do egoísmo, do orgulho, do ódio e do rancor.

Eu aprendi a lição, embora, reconheço que tardiamente.

— Salvatore, mas esse seu reconhecimento, não pode se ajustar àquele ditado muito comum lá da nossa Terra: “cavalo encilhado passa em nossa frente somente uma vez para a monta”. O seu futuro, Salvatore, após esse seu entendimento, tenha certeza, será sólido, promissor e de amor perene. Só depende unicamente de você! Nunca é tarde meu amigo; monte nesse cavalo!

— Vou fazer todo o empenho doutor, para que esse futuro se concretize.

— Ótimo! Volte amanhã para ter comigo a última recomendação.

— Estarei aqui!

— Tudo bem! Até amanhã!


No outro dia, Salvatore notou que não iria ser atendido individualmente. Estavam à espera do Doutor, vinte e duas pessoas.

Dionísio o acompanhou até o auditório.

— Meu amigo, nesta etapa que hoje se inicia, os enfoques não mais serão personalizados, a não ser que alguém queira ainda alguns esclarecimentos da etapa anterior. Assim sendo, como eu também, aqui, tenho condições de ser aluno, vou frequentar um curso na outra ala. Aproveite bastante, Salvatore. Não fique com dúvidas. Pergunte! Fique com este gravador, que vai lhe ser útil, para posteriormente poder novamente ouvir a palestra. É só apertar esse botão para ligar e apertar novamente para desligar.

— Obrigado, amigo Dionísio.

— Fique em paz!


Surgiu o Dr. Eudes e sem perder de tempo, falou: — Toda vez que um grupo se reúne e se eleva em prece, que nada mais é do que um pensamento de rogativa ou de agradecimento, consubstanciado de Fé e de Amor, esta se movimenta e chega às falanges superiores de servidores fraternos e amigos que nos acodem e nos abraçam, em nome de DEUS. Eles nos encorajam e nos estimulam para erigirmos cada vez mais o bem, em benefício de todos — sejam encarnados ou desencarnados. Por parte deles chegam a nós, pelo Amor que DEUS tem para conosco, os novos ensinamentos, informações elucidativas, bálsamos curadores e reconfortadores, auxílios diversos para nossas vidas, consolações que reforçam os nossos ânimos, socorro espiritual para nossas obsessões e respostas para nossas indagações aflitivas.

Isso tudo DEUS nos dá e muito mais!

No entanto, não nos esqueçamos de que esta via tem “duas mãos de direção”. Ao recebermos o auxílio, é justo que os Espíritos Benfeitores esperem de nossa parte, atitudes enobrecedoras, tais como: solidariedade, fraternidade e boas emissões de pensamentos. Em toda relação existe a permuta, e o resultado é consequência.

O lavrador lança a semente ao âmago da terra e ela, por sua vez, lhe devolve os frutos; o artesão manuseia as fibras, e ela dá um útil cesto; o poeta trabalha a palavra e nos fornece a canção de uma vida, ou a história de um Amor.

Meus irmãos, e nós, que tanto temos recebido, o que demos, estamos dando ou daremos em troca?

Sabemos que muito recebemos de Jesus, que nos ampara e nos acolhe, mas o que doamos de nós, em nome do Amor Maior?

Meus amigos, o campo é amplo e a sementeira do Alto é farta, fornecendo-nos condições para que trabalhemos com inúmeros recursos, espargindo o Amor e a Caridade. Não fiquemos parados! Mãos à obra!

Agora, meus amigos e irmãos, vamos nos posicionar frente a DEUS, através de Jesus, de sua figura amorável e aconchegante, que tranquiliza os nossos corações. Nós não iremos repetir, não iremos declamar, não iremos dizer a oração dominical. Nós iremos rezar, iremos orar, ou seja, “fazer oração a DEUS”.


Pai Nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome!

Venha o teu reino!

Faça-se a tua vontade, assim na Terra como no Céu.

Dá-nos o pão de cada dia.

Perdoa as nossas ofensas,

Como perdoamos aos que nos ofenderam.

Não nos deixes entregues à tentação, mas livra-nos do mal.

Assim seja.


Meus irmãos, o Evangelista Mateus, no capítulo XVIII, versículo 20 da Bíblia, nos dá um ensinamento de Jesus: “Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome, eu com elas estarei”.

Então, meus amigos e irmãos, que Jesus nos abençoe!


“Meus irmãos, estamos aqui para falar mais uma vez sobre o pensamento — a força do pensamento — e sendo ele uma força, é uma energia.

Saibam, meus amigos, que todo Universo, rege-se pela vontade da Mente Divina, que constantemente está a agir, a pensar, gerando energias em nosso favor.

De certo modo, reduzindo o ângulo para o nosso melhor entendimento, como também somos co-criadores com DEUS, nossas mentes operam igualmente de forma incessante e criando energias. Só que, como disse, numa amplitude angular bem pequena, mas que produz resultados.

Tudo quanto cerca o ser humano, de certo modo, resulta de uma afinidade mental e daí decorrem emissões incessantes de uma força psíquica, gerando energias, que são responsáveis por nossos bem ou mal-estar, assim como pela saúde ou doença e, também, por nosso entusiasmo ou apatia.

Essas energias geradas por nossos pensamentos não estancam com os obstáculos, percorrem distâncias com uma rapidez inconcebível, atingindo a sua meta com facilidade e, quase sempre, encontrando receptividade.

O intercâmbio mental é muito maior do que se pode imaginar. Ele está aí, de forma lúcida ou de maneira inconsciente, junto aos homens e mulheres, que o direcionam às pessoas, animais e plantas. Entre os espíritos desencarnados há aqueles que o manipulam com muita propriedade, objetivando atingir os espíritos encarnados.

Aspirações e desejos ignóbeis, mágoas e ódios, ciúmes e paixões, são focos emissores de energia mental de baixo teor, que cruzam os espaços na direção das pessoas e de tudo aquilo que se encontra sob a alça de mira do personagem gerador desses fluídos destruidores, desmoralizadores, corruptores e nocivos à saúde.

A nossa mente, meus Irmãos, exemplificando, é como um dínamo, produzindo pensamentos. Só que eles não necessitam de fios condutores para chegarem ao objetivo que se queira alcançar. Simplesmente, só necessitam da nossa vontade para atingir o alvo desejado, por cujos resultados, negativos ou positivos, não nos esqueçamos disso: “Nós somos os responsáveis”.

Os pensamentos atingem distâncias incomensuráveis num átimo, e não raro, como já disse, encontram o campo favorável, produzindo estado de saúde, de doença, de alegria, de tristeza, de conforto ou desconforto, e tudo o mais que possa ser agradável ou desagradável.

Consciente ou inconscientemente, o pensamento se conecta entre os humanos, mas igualmente também, direciona-se às plantas, aos animais, e também pode ocorrer entre os espíritos fora e dentro do corpo físico — como já lhes disse.

Os desejos abjetos, rancores, mágoas, ódios, paixões vis e ciúmes são pontos de emanações de baixas energias mentais, para as quais não existem obstáculos e, liberadas no espaço, vão direto aos seus destinos.

Agora, há algo que talvez ainda não saibam; a Lei de Ação e Reação — uma lei de DEUS.

Vamos primeiro exemplificar, porque é no exemplo que gravamos mais e melhor: duas pessoas falam mal de uma terceira pessoa. Elas estão produzindo baixos fluidos que endereçados àquela terceira pessoa, poderão ocasionar prejuízos, os mais diversos.

Agora, se essas duas pessoas falam de uma outra, com bondade, ou com vontade de ajudar, seus pensamentos adquirem fluidos salutares, benéficos, que podem auxiliar muito.

Em ambas as situações, como agentes do bem ou do mal, elas ficam envolvidas, vinculadas e responsabilizadas pelos acontecimentos produzidos, e receberão de volta tudo aquilo que pensaram e tiveram o desejo de transmitir. Assim sendo, receberão inapelavelmente de volta a si, o que de bom ou de mal desejaram, “mais dia — menos dia”.

Esse é o entendimento e a certeza da Lei de Ação e Reação.

Meus amigos, o nosso equilíbrio emocional está relacionado com o bom ou o mau pensamento que emitirmos. Então, dentro dessa compreensão, surge cristalina a necessidade de praticarmos e desenvolvermos nossas boas qualidades. Elas é que irão nos fazer felizes e nos proporcionarão uma melhor evolução.

Os nossos ambientes serão agradáveis se cultivarmos as virtudes, deixando completamente de lado, a inveja, o egoísmo, o orgulho, o ódio, a maledicência, e tudo o mais que for ruim.

Mas há algo, nesse ponto, a ser destacado — disse-nos o Cristo : “A cada um será dado segundo suas obras!”

Meus Irmãos, o que Ele quer nos dizer é o seguinte: que a cada um de nós compete construir a nossa felicidade; ninguém constrói para outrem um bem estar perene. Poderemos até ajudar um pouco com os nossos bons pensamentos, mas, se o receptor não aceitar nossas boas intenções, nada acontecerá.

Bem, meus Irmãos, há uma outra lei muito importante também, que se ajusta aos nossos estudos. É a Lei de Afinidades. Espíritos afins têm pensamentos e atos afins. Isso vale de encarnado para encarnado, de encarnado para desencarnado ou vice-versa, e de desencarnado para desencarnado. Havendo interesses comuns, esta conjugação se estabelece tanto com os bons quanto com os maus.”

Nesse ponto alguém pergunta: — Mas como poderei identificar se estou tendo contato com um bom ou mau espírito?

— Meu irmão, um espírito bom jamais o induzirá a cometer ações ou pensamentos de baixo teor vibratório.

E Dr. Eudes continua: — Acho que até este ponto, os irmãos devem ter notado que os nossos pensamentos e sentimentos baixos contaminam os fluidos que nos rodeiam. O controle dos pensamentos negativos é a única maneira de evitarmos que maus fluidos prejudiquem a terceiros e a nós próprios. Quanto mais apurado seja o nosso controle, muito mais possibilidades teremos de estar isentos das más consequências dos nossos pensamentos.

Meus irmãos, por hoje, pararemos aqui. O tema é extenso e atrativo, mas convém que sigamos paulatinamente.

QueDEUS nos abençoe e nos preserve nas boas intenções!


 

E Jesus lhes respondeu: Meu Pai obra até agora, e eu trabalho também”


(Bíblia Sagrada — João, 5: 17)


Quando te sentires cansado, lembra-te de que Jesus está trabalhando. Começamos ontem nosso humilde labor e o Mestre se esforça por nós, desde quando?”


(Caminho, Verdade e Vida — cap. 4 — Emmanuel)


 

O trabalho

 

Na saída, Dionísio estava aguardando Salvatore.

— Como foi amigo? A palestra foi proveitosa?

— Foi, Dionísio. Foi muito elucidativa. Eu consegui agregar os conhecimentos de hoje com a terapia a que me submeti, a qual você assistiu. Foi um conhecimento que se ajustou perfeitamente às minhas vidas lá na Terra.

— Fico contente, meu irmão, por você ter adquirido esta compreensão.

— Mas, amigo Dionísio, tem algo que gostaria que me elucidasse: Antes de eu ser Federico, devo ter sido muitos outros; e agora, Salvatore. Assim como Colettte deve ter sido muitas outras. Nossas relações vêm de há muito tempo, e nossas separações também, no entanto, sabemos que nos amamos. Agora vem a minha pergunta: Quem são e como ficam as mulheres com quem me casei, e os homens com quem ela se relacionou?

— Vamos nos restringir, Salvatore, somente em duas mulheres: na filha do armador de Nápoles e em sua última esposa. A filha do armador consorciou-se com você também por interesse, sem o vínculo afetivo, assim como você; e a sua última esposa é um espírito amigo, que mais uma vez encarnou para ajudá-lo. Ela foi também, aquela sua filha com Paola, que desencarnou criança — Madelene.

Quanto aos homens com quem Colette se relacionou, não vamos entrar nesse campo, porque em nada iria auxiliá-lo nesse momento, para seu conhecimento.

— Quanta informação e quanta constatação do mal que podem ocasionar um pensamento e um ato impregnado de raiva, ódio, inveja... Para nos ajudar, por sorte, várias pessoas se movimentam sem medir esforços, para refazimento do nosso equilíbrio emocional. Desde a minha Santa Clara — Irmã Clara, como ela gosta de ser chamada, da senhorita Efigênia, dos guardiões anônimos daquelas trilhas, de Aluísio, Mafalda, Dona Nena, você, o Doutor; não sei como agradecer-lhes tamanha dedicação e paciência que tiveram e estão tendo comigo.

Amigo Dionísio, agora sei muita coisa do poder do pensamento, mas gostaria de ir a algum lugar próprio — gostaria de orar.

— Vá por esse corredor — ele é bem extenso — no final há uma grande porta, entre. Com certeza, lá estarão muitas pessoas, escolha o seu lugar, você logo o identificará, e faça sua oração a seu modo. Salvatore, haverá na sua frente uma tela branca, conforme a sua concentração e a sua oração forem se desenvolvendo, poderá aparecer algo. Não se assuste. Você já teve uma experiência mais ou menos igual, quando fez a terapia. Lembra-se?

— Obrigado, Dionísio, pelos esclarecimentos.

Chegando ao local, ele escolheu um lugar e ajoelhou-se. E num estado de submissão e gratidão, Salvatore orou fervorosamente, agradecendo à Irmã Clara por ter ouvido o seu clamor e lhe dado todo amparo. Uma indescritível onda de felicidade preenche todo o seu espírito e ele vê projetar-se na tela, nitidamente, a imagem da querida Irmã Clara.

Salvatore chorou, um choro tranquilo, sereno, dando graças a DEUS por tudo que recebeu e por tudo que iria receber.

Ele, em profundo agradecimento, lembrou-se de todos que o ajudaram e rogou para que eles continuassem os seus trabalhos na senda do grande Amor, e que recebessem da Espiritualidade Superior os benefícios luminosos que lhes eram merecidos.

Lembrou-se também de Colette e, por alguns segundos, a sua figura se estampou naquela tela, mas Salvatore, não desejou vê-la naquele estado — mutilada — e não captou o que ela quis lhe dizer, e a sua imagem desapareceu.

Ainda mais uma vez ele pediu para a Irmã Clara que ajudasse a sua amada, vítima de uma guerra cruel e odienta, sem precedentes.

Daí, ele se retirou com uma grande sensação gostosa em seu peito. Parecia que dele fluía uma fonte tranquilizante de energia.

Ao encontrar-se com Dionísio, este lhe diz: — Salvatore, tomei a liberdade de indicá-lo para cuidar, no período da manhã, da parte leste do nosso imenso jardim. Como você em outros tempos foi jardineiro e trovador, acho que aquelas flores irão gostar e mais viçosas vão ficar, quando você lhes juntar a terra, e elas ouvirem as suas melodias.

— Sabe, Dionísio, essa oportunidade que me dá, vem ao encontro do meu desejo; preciso trabalhar e vai ser numa atividade de que gosto muito — jardineiro. Muito obrigado!

— Então se quiser, poderá começar amanhã!

— Estamos combinados!

No dia seguinte, frente ao jardim leste, estão Dionísio e Salvatore.

Era um mar de flores lindas. E Salvatore recordou-se da poesia que fez certa vez — elas também eram lindas...

— Dionísio, ontem, antes de dormir, recolhido que estava em oração, visualizei Colette em minha mente e encontrei-me com ela em algum lugar, que não sei onde é, e ela me disse: “Eu sei que você gosta de pensar em mim como sendo a Priscila de outros tempos, mas eu não gosto. Eu justifico: não que não goste do nome, que é bonito, só não gosto de lembrar-me do tempo que dele fiz uso; foi um período muito ruim. Como Paola, o tempo também não foi bom, mas, pelo menos, nós tivemos alguns momentos de felicidade e também tivemos nossa filha — Madelene.

Gostaria de lhe pedir que se lembre de mim sempre, como Colette, sem estar mutilada, mas como aquela mulher alegre, feliz, tagarela, da forma como me viu em nosso primeiro encontro, quando trocamos olhares, lá na praça de São Marcos.

Sei que você chegou a publicar uma poesia — acróstico — para mim, e que você assinou como sendo Federico Gandolfi. Eu lhe agradeço a lembrança amorosa, todas aquelas flores, e por eu ser comparada a todas elas; gostei muito. Agora, meu querido, faça mais uma; só que como Colette, aquela de Veneza. Eu irei amar o poema, assim como o amo muito! Muito! Muito.

— Sabe, amigo Federico, Amadeo ou Salvatore: como você quer que eu o chame?

— Salvatore!

— Ótimo, você assim preferiu. A mesma coisa aconteceu com Colette.

— Dionísio, será que eu poderia fazer uma visita a Colette e a minha esposa? Tenho saudades também dos meus filhos.

— O seu desejo é muito justo, Salvatore, no entanto, acho que ainda não está no tempo. Quando chegar a oportunidade, se você me permitir, gostaria de ir também.

— Está certo, amigo!


 

Colette

 

Colette, em Lyon, fazia parte de um grupo de estudos sobre “O Livro dos Espíritos” e também de um grupo mediúnico.

Ela já tinha obtido informações, através de esclarecimentos e algumas comunicações de espíritos amigos e protetores, de que tudo o que ocorreu, inclusive sua situação atual como uma deficiente física, era por sua própria vontade, firmada e autorizada pela Espiritualidade Maior, que a assistiu para essa reencarnação.


Certa vez, reunidos mediunicamente, um dos componentes do grupo de excelentes recursos medianímicos, trouxe uma mensagem em forma de acróstico:


Calor dos meus dias,

Onda dos meus mares,

Luar das minhas noites,

Este do meu rumo,

Templo do meu tempo,

Terra do meu chão,

Espírito e estrela da minh’alma.


Colette... Colette... ainda mais uma vez, os dias passados não foram nossos. Reconheço os meus erros; foram muitos. Estou trabalhando e estudando, me reequilibrando em “Floridiana”, para que dentro do meu merecimento, eu possa um dia encontrá-la novamente, linda, maravilhosa e, acima de tudo, virtuosa, e assim cumprirmos o que realmente desejamos com muito Amor, sob a égide de DEUS.

Salvatore


Colette, cabisbaixa, deixando uma madeixa cobrir parte do seu ainda lindo rosto, sorriu para todos os participantes da mesa, e de seus belos olhos azuis rolaram grossas lágrimas de muita, mas muita, felicidade, e ela apenas comentou:

— Eu não sabia que ele já havia desencarnado. Ainda numa dessas noites passadas, eu tive um sonho com ele; ele estava bem, muito bonito como sempre foi...

Quero aproveitar essa oportunidade e dizer-lhe, pois sei que me escuta, com todas as fibras do meu coração e todas as forças do meu entendimento, que também é o meu desejo novamente encontrá-lo para, juntos, solidificarmos o nosso amor e colhermos bons frutos das boas sementes que deveremos plantar, para toda a eternidade, se merecermos, e se Deus assim o permitir.


Na companhia de Dionísio, Salvatore visitou seu antigo lar, imensamente agradecido, abraçou e osculou ternamente sua esposa, Madelene — encarnada —, que aniversariava e que registrou suavemente a sua presença; afagou o rosto de cada um dos seus filhos que ali estavam, para comemorar aquele natalício.

Salvatore, em recolhimento, numa prece comovida, rogou a Deus que abençoasse aquele lar: “Deus, Pai querido, sou profundamente agradecido por ter-me dado a oportunidade de neste lar, ter convivido com pessoas altamente evoluídas, que me aceitaram e aturaram os meus defeitos. A cada um deles, rogo Senhor, eternamente, o seu amparo, para que possam cumprir os seus desígnios.”

 

Romero Evandro Carvalho — autor

romeroevandro@hotmail.com

 

 

Bibliografia

 

O Evangelho Segundo o Espiritismo
O Livro dos Espíritos
Obras Póstumas de Allan Kardec
Entre a Terra e o Céu — André Luiz
Dias Gloriosos — Joanna De Angelis
Caminho, Verdade e Vida — Emmanuel
Bíblia Sagrada — João 5:17


 

 

©2013 — Romero Evandro Carvalho

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Janeiro 2013

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