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A TORRE DE BABEL

Mauro Gonçalves Rueda

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A Torre de Babel
Mauro Gonçalves Rueda

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maurorueda5@hotmail.com
maurorueda@uchoanet.com

© 2003 — Mauro Gonçalves Rueda


 

 

Índice

Prefácio
Flash Histórico
O Poeta Morisson que o Filme não Revelou
   Alexandre Fontoura
Mistérios
   Alexandre Fontoura
Os Mestres
   Poema de Morrison
Light My Fire
   Densmore/Krieger/Manzarek/Morrison
A TORRE DE BABEL 
The End
   The Doors
O Fim


 

 

A TORRE DE BABEL

(Poemas)

 

Mauro Gonçalves Rueda.
São José do Rio Preto — 1.998.

 


 

[imagem]

“Alguns nascem para o suave deleite, outros para os confins da noite.
A única obscenidade que conheço é a violência”
(Morrison)

 

 


 

 

Para: Joyce e Maricy. Zélia Duncan, por “Catedral” e Titãs por “Epitáfio”.
Para a imensa família que habita os recônditos de meus cômodos mais secretos.
Para todos os que lutaram e lutam pela liberdade e direitos do ser humano.
Para todos os que mantêm vivo o legado do poeta James Douglas Morrison.

 

 


 

 

PREFÁCIO

“Somos conduzidos ao massacre por plácidos almirantes.
Lerdos e obesos generais tornam-se obscenos pelo sangue jovem”
(Jim Morrison)

 

Tudo o que posso adiantar é que os poemas deste livro, foram inspirados e escritos após várias sessões do filme “THE DOORS” com as letras de Jim Morrison, martelando com suas “lambadas” metafóricas e a fragmentação das figuras de linguagem, todos os conceitos convencionais da época. Seus versos ardendo na pira entre a genialidade e a loucura —, em madrugadas insones frente ao vídeo; rompendo as amarras da mediocridade e do silêncio de um novo tempo. E mais, uma vasta gama de recursos no fazer poético enriquecido por canções irreverentes e outras quase sombrias, feito sua própria lápide e epitáfio. Me parece (e tão somente), um longo passeio pelo tempo. E não foi há tanto tempo assim, na realidade.

Talvez um dos momentos mais importantes na formação de Jim Morrison tenha ocorrido em uma viagem de carro, com os pais, quando ainda era um menino. No caminho, passaram por vários indígenas americanos, espalhados pela estrada, depois de um acidente.

Morrison declarou, ao longo de sua vida, repetidamente, que as almas de alguns desses indígenas pularam para dentro de sua própria alma. E fãs diziam que o cantor, em alguns shows, parecia entrar em transe, recebendo algum espírito.

Era na poesia que o músico podia expressar suas maiores angústias e sua intensa relação amorosa com a vida. Muitos poemas, contos, anotações, foram produzidos a todo tempo, em quaisquer lugares, em qualquer pedaço de papel, partitura, ou até mesmo em espelho.

Seu maior desejo era ser levado a sério como poeta. Seu comportamento selvagem, no entanto, cegava as pessoas para suas palavras, sua mensagem. Hoje, sua vida ainda fascina e surpreende e sua poesia ganhou espaço e prestígio.

Muitos desses trabalhos foram reunidos no livro “American Prayer”, compilados por Danny Sugerman, que pode ser lido, em inglês, no site oficial da banda*.

Ainda, sobremaneira, a irreverência, o místico e a busca irrefreável de um mundo que jamais poderia ser encontrado junto à sociedade hipócrita com seus costumes e limites para o artista e seu poder de criação quando ele descobre em si próprio, tudo o que procura no “lá fora” e mesmo nas religiões e dogmas. Como se o Halo ou Fluído Universal, não estivesse além do próprio SER e sua capacidade de auto/construção ou, ainda, destruição de seus princípios e anulação do próprio ego. O que resultaria no “Ser somente mais um entre milhares”, sem qualquer identidade. O grande e irreverente “Lagarto Rei” vagando pelo imenso deserto da existência. Brincando com o fogo da eternidade incompreensível, indecifrável, feito nalgum velho jogo ancestral. O Xamã — velho índio que seduz e encanta feito a serpente do deserto — desafio entre liberdade e grilhões. Caminho sem volta para o “Lagarto Rei” estirado sob o sol de alguém que o conduza de volta para a realidade.

O irreverente e genial Morrison, excedeu seus limites e ele era, segundo seus próprios companheiros, “um fardo de TNT”, através dos desafios constantes e, à exemplo de tantos outros grandes artistas que ousaram colocar-se contra o sistema e suas regras de conduta, entre outras imposições ao ser humano, acabou perecendo. Ou, como costumo dizer — foi devidamente suicidado pelo “Monstro SIST”. Coisas do Rauzito, claro.

Gostaria de poder me aprofundar mais sobre a vida e a obra do artista, no entanto, apesar de eu haver adquirido algumas revistas e documentos, fui sutilmente “lesado” por algum apaixonado e fiquei sem os dados. E também, me falta tempo e paciência. É um trabalho de pesquisa com convite à exaustão. E meu tempo é agora. Amanhã não sei. No entanto, basta assistir ao filme, prestar atenção na adaptação de algumas letras e/ou, pesquisar pelos sítios e outras paragens da WWW que, seguramente, os interessados encontrarão excelente material sobre o grupo e o poeta Morrison.

Abaixo, dois artigos daqueles que pesquisaram à fundo e podem acrescentar o necessário sobre o grupo e, muito principalmente sobre o poeta, Jim Morrison. Revista Clássicos do Rock — Editora Scala —, e, Alexandre Fontoura, um exímio pesquisador e mestre em se tratando da banda e seu líder.

 

O autor, 29 de Março de 2003
São José do Rio Preto.

 


 

 

FLASH HISTÓRICO**

 

Em 08 de Dezembro de 1.943, nascia, na Flórida, James Douglas Morrison, que ficaria mundialmente conhecido como o poeta Jim Morrison. Em Fevereiro de 1.964, Jim Morrison pedia transferência da Florida State University para o departamento de Artes Cênicas do UCLA, onde Ray Manzarek já estava estudando cinema. Em 1.965, John Densmore e Robby Krieger começam a tocar juntos, num grupo — Psychedelic Rangers.

Bacharelado em cinematografia, Morrison passou longa temporada escrevendo poemas e letras que, viriam fazer parte dos dois primeiros discos do “The Doors” (As Portas), tirado de uma linha de um poema de William Blake. “As portas da percepção” — a linha de Blake —, “se as portas da percepção estiverem limpas, o homem poderá ver as coisas como elas são verdadeiramente, infinitas”. “Naquela época — afirmava Ray —, estávamos com as portas da percepção limpas em nossas mentes, então nós vimos a música como um veículo para, a conversão de uma nova religião, uma religião do próprio, de cada homem como Deus. Esta era a idéia original por trás do Doors”. A primeira música do Psychjedelic Rangers, chamava-se “Paranoia”.

Coincidência? Em 1.975, exatos 19 anos depois, a Phillips lança no Brasil, o LP “Novo Aeon”, nem tanto psicodélico quanto os Rangers, mas com uma música de Raul Seixas que receberia o título de “Para Nóia”, um dos bons discos de Raul com títulos como “Caminhos”, “Tente Outra Vez”, “Sunseed” e outras, além de “Novo Aeon”.

Em Janeiro de 1.967, é lançado o primeiro album, The Doors, após longos períodos de turbulência. Lançada em Abril, três meses depois, a música “Light My Fire”, alcança a primeira colocação nas paradas americanas. Ao longo de uma carreira — curta, aliás —, o imprevisível Morrison, deixa de atender a mãe que o procurava num hotel em Washington DC. E o tímido imprevisível que, no início da carreira cantava de costas para a platéia, continua aprontando. Torna-se o primeiro rock star a ser preso no palco durante um show e é acusado de “exibição indecente”, “quebra da paz” e “resistência a prisão”. Em, 1.968, voltaria a ser preso e acusado por vadiagem e bebedeira em público. No dia 07 de Fevereiro de 1.969, Morrison, volta a ser detido por dirigir embriagado e sem licença. e no dia 05 de Março, a cidade de Miami, lança uma procuração de prisão de Morrison. Acusação: “Conduta obscena, exposição indecente, profanidade pública e bebedeira em público”. Ainda no mesmo mês, ele gravaria pequena coletânea de seus poemas, sem acompanhamento musical, no Elektra Studios.

Após ser atração principal, no dia 13 de setembro de 1.969, do Rock & Revival Show, no Varsity Stadium, em Toronto em meio a Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Gene Vincente, Litle Richard, Fats Domino e, pela primeira vez, John Lennon e The Plastic Ono Band, o vocalista volta a “entrar em cana” por bebedeira e interferência no vôo de uma aeronave. Em 28 de março de 1.970, é julgado e considerado culpados das acusações de Phoenix a passar três meses na cadeia. Em abril, Simons & Schuster publica “The Lords an The New Creatures”, de James Douglas Morrison. Neste mesmo ano, Jim e Patrícia Kennealy se casam. Ainda em 70 é preso mais uma vez: bebedeira. Também em 70, grava vários poemas, que mais tarde seriam usados em Na American Prayer. No dia 12 de Dezembro, é realizada a última apresentação do The Doors com Jim Morrison, no Warehouse, em New Orlean.

Após o lançamento de mais alguns singles, no dia 03 de junho, Jim Morrison é encontrado morto na banheira do apartamento que estava dividindo com Pam Courson. A voz se cala. No dia 08, ele é enterrado no cemitério Perelachaise, em Paris. Em 1.978, após a morte de Pamela, é lançado o Album “Na American Prayer”, com os poemas de Morrison. Nos ano 90, Oliver Stone lança o filme contando a história do The Doors, com o ator Val Kilmer interpretando o vocalista Jim Morrison.

 


 

 

O POETA MORRISON QUE O FILME NÃO REVELOU

Alexandre Fontoura***

 

James Douglas Morrison nasceu no dia 8 de dezembro de 1943 na cidade de Melbourne, Florida - EUA. Sagitariano, ele era poeta de corpo e alma. Seus amigos mais íntimos eram os outros membros da banda, sua namorada Pam e aqueles que o acompanharam desde o começo de sua carreira.

Antes de ser um músico, Morrison era um poeta, muitas vezes incompreendido. Sua sinceridade, seu jeito de expor a mais dura realidade sobre a humanidade em suas poesias conquistaram grande multidão, mas também afastavam aqueles que não compreendiam suas atitudes. Sua escrita virou porta-voz de um movimento, de uma alternativa ao status-quo social, na sua “in your face poetry” (poesia na cara).

Do seu filósofo favorito, Friedrich Nietzsche, Morrison tirou alívio e incentivo para dizer “sim para a vida”. Ele não era mais um suicida do rock, como muitos acreditam, mas escolheu intensidade ao invés de duração. Tornou-se o que Nietzsche definia como “aquele que não nega, que não diz não, que se atreve a se criar”.

Uma outra citação do filósofo influenciou a vida do músico: “Dizer sim à vida até diante de seus problemas, mais estranhos e difíceis; o desejo de viver acima de exaustão mesmo diante dos maiores sacrifícios — isso é o que chamo de Dionísio, o que entendo como a passagem para a psicologia do poeta trágico. Não para se dispor do trágico e da compaixão, mas para transformar-se na alegria eterna de transformação, acima de qualquer terror ou piedade”. Foi justamente a sede insaciável de Morrison que o matou e não a vontade de morrer.

Van Gogh, Rimbaud, Baudelaire, Poe, Blake, Artaud, Nijinsky, Byron, Dylan Thomas, Brendan Behan, Jack Kerouac, aqueles que sentiam a vida muito intensamente para agüentar vivê-la. Os loucos, intragáveis, perdidos, indomáveis, os artistas resistentes e cabeças-duras, insistentes em serem fiéis a sua natureza a qualquer preço — essa era a linha com a qual Morrison se identificava. Ser um poeta significava muito mais que escrever, pintar ou cantar; significava ter uma visão e a coragem para realizá-lo, independente de quaisquer posições.

Quando perguntado por uma revista pop como se preparava para o estrelismo, Morrison respondeu: “Parei de cortar o cabelo”. O que ele não disse foi que também havia se entregado às drogas. Como tantos outros (Jimmy Hendrix e Janis Joplin, faleceram um ano antes de Jim Morrison, também com 27 anos de idade), o cantor usava as drogas para abrir a mente, expandir a consciência, a imaginação, para “ter acesso” a um mundo de outra forma fechado.

O interesse de Jim Morrison pelo desconhecido é bem documentado em suas poesias e escrituras. “Há coisas que sabemos. E há coisas desconhecidas, e entre elas, existem as portas (the doors)”, dizia. Apesar dessa frase ser, freqüentemente, atribuída ao poeta William Blake, eram as palavras de Morrison. Seu compromisso em desvendar o desconhecido desde o início de sua carreira, foi justamente o que acabou por terminar com o homem e com a banda.

Ele se recusava a comprometer sua arte. Este foi o seu bem e também o seu mal, ir até o fim dessa busca ou morrer tentando: tudo ou nada. E justamente por ele não industrializar ou popularizar o que escrevia, não conseguia fingir desespero ou êxtase. O que fazia não era mero entretenimento nem simplesmente a realização de movimentos já condicionados; ele era brilhante e desesperado, motivado pela necessidade de “testar os limites da realidade”, sondar o sagrado e explorar o profano.

E isso o deixou louco para criar, para ser real. Essas mesmas qualidades o fizeram volátil, perigoso e o deixaram num conflito perverso consigo mesmo. Procurava consolo e alívio nas mesmas substâncias que inicialmente o inspiraram e o fizeram criar: — as drogas.

As teorias do teatrólogo surrealista francês, Antonin Artaud, a respeito do confronto (discutidas no livro “O teatro e seu duplo”) tiveram influência marcante em Morrison e também no grupo como um todo. Em uma das passagens mais fortes do livro, Artaud faz um paralelo entre a peste bubônica e a ação teatral, afirmando que o teatro tem que conseguir afetar a catarse no espectador da mesma forma que a peste bubônica purificou a humanidade. A meta? “Que eles (espectadores) fiquem apavorados e acordem”.

“Quero acordá-los. Eles não entenderam que já estão mortos”, dizia o músico.

Morrison iria gritar “Acordem” mil vezes na tentativa de sacudir o público e tirá-los de seu estado adormecido, “ninguém sai daqui vivo” ele cantava na música “Five to One”. E quando se confronta o tipo de medo e terror evocados por músicas como “The End”, algo dentro da gente muda, se altera, deixa de ser.

Final da década de 60 e as bandas cantavam sobre amor e paz, mas com The Doors era diferente. Quando a música acabava permanecia o silêncio, a serenidade, a conexão com a vida e a confirmação da existência de cada um. Mostrando o Inferno, The Doors levava seu público ao “Céu”. Evocando temas sobre a morte, mostrava que estavam vivos.

E no final, depois de conquistar a América do Norte e todo o resto do Ocidente, depois de ser perseguido nas cortes de seu país, depois de ser ridicularizado pela imprensa, resolveu deixar tudo e ir para Paris, ateliê de tantos outros artistas do passado, para tentar firmar sua vida como poeta.

 


 

 

“Sempre fui atraído pelas idéias contra a autoridade. Gosto das idéias referentes a quebra de sistema — destronamento da ordem estabelecida.”
(Morrison)

 

 


 

 

MISTÉRIOS

(Alexandre Fontoura)

 

A morte de Jim Morrison tem sido um mistério há três décadas. Muitos são os boatos a respeito do que aconteceu na noite de 3 de julho, em 1971, em Paris. Alguns dados não são fáceis de compreender, como a demora em avisar à Embaixada Americana na França sobre a morte de um cidadão norte americano fora de seu país de origem.

De fato, Morrison sumiu. Para a maioria das pessoas que acredita na morte do artista, uma coisa é certa: James Morrison tinha ido ao cinema com sua namorada, Pamela, na sexta-feira, dia 2 de julho. Na manhã do dia três, o que consta no atestado de óbito é que ele foi achado na banheira, às 5h da manhã, por Pam.

É entre a saída de sexta à noite e o corpo encontrado na banheira na manhã seguinte que existem todas as especulações e incertezas sobre o caso. Por muito tempo acusaram Pamela Courson de ter cometido o crime já que os dois se separavam e voltavam. Pamela estava em Paris e Morrison foi lá para visitá-la.

Drogas — Outras especulações giraram em torno do uso das drogas e da suposta confissão de Pamela sobre ter, propositalmente, mentido ao cantor quanto ao tipo de droga que estavam consumindo (cocaína versus heroína).

Uma dose mais alta de heroína do que era de costume teria resultado na morte. Morrison já havia optado por uma vida marginal, rodeada pelas drogas. Mas entre os amigos mais chegados e familiares do poeta, sabia-se que Pam, também viciada, era a única pessoa que realmente enfrentava o cantor nos momentos difíceis, firmando o pé no chão quanto às suas opiniões sobre o que quer que fosse.

É sabido que Pamela, conversando com uma colega, disse sentir-se culpada pois as drogas que usaram pertenciam a ela. O curioso é que, no laudo médico e no atestado de óbito, nada consta sobre o uso de cocaína ou heroina. O laudo foi escrito por um médico chamado por Pam e que, mais tarde, diante do sensacionalismo em torno da figura de Morrison, se recusou a comentar o assunto.

Simulação — A outra hipótese, na qual muitos fãs talvez acreditem, seria a de que o ídolo ainda estaria vivo. Alguns dados parecem até apontar para essa possibilidade: apenas duas pessoas teriam visto o corpo de Morrison, Pamela e o médico francês que passou o laudo médico. Aparentemente, o caixão contendo o corpo foi selado sem ao menos notificarem a Embaixada Americana em Paris.

No fim-de-semana em que Morrison morreu, correu notícia sobre o acontecimento e os repórteres começaram uma busca pela verdade. Pam afirmou aos que conseguiram falar com ela que “Jim não está morto, ele está muito cansado e está descansando em um hospital”.

Quando Clive Selwood (empresário da sede da Elektra em Londres) tomou conhecimento dos rumores, ligou para a filial da gravadora em Paris. A partir daí foram feitas as ligações para a polícia e para a Embaixada Americana. Nenhum registro havia sido encaminhado para prefeitura ou qualquer outro órgão responsável. Ninguém foi notificado antes da segunda-feira póstuma ao ocorrido. A maioria das pessoas, incluindo a mídia, só foram avisadas depois do enterro, realizado em Paris, no dia 8 de julho em 1971.

Vários depoimentos afirmam que Morrison falava em fingir sua própria morte e começar de novo com os colegas. O poeta estava sob muita pressão, drogas e problemas com a justiça norte-americana. No final de outubro de 1970, o músico foi sentenciado com 70 anos de prisão por atentado ao pudor e trabalhos voluntários por exibição imoral, mas foi solto provisoriamente após seu advogado pagar uma fiança de US$50.000

Jimmy Hendrix e Janis Joplin haviam morrido pouco menos de um ano antes, também com 27 anos de idade. Pamela Courson morreu de overdose, três anos mais tarde, também com 27 anos.

Homenagem — O caixão de Jim Morrison foi enterrado no cemitério francês Père Lachaise, ao lado de grandes personalidades, filósofos e escritores (entre esses, Oscar Wilde) e desde então, todo aniversário de nascimento e morte de Jim, o local se enche de fãs, que passam o dia prestando homenagens.

Toda essa movimentação no cemitério gera grande insatisfação a outras pessoas cujos túmulos de familiares também estão no local. Por isso, existe um movimento em prol da remoção do jazigo do poeta, o que ocorreria em 3 de julho de 2001, quando completava-se o leasing do espaço onde foi colocado a sepultura de Morrison.

Fãs do artista ainda esperam que, com a remoção, seja requisitada uma perícia na arcada dentária para que seja confirmada a morte de Jim Morrison.

 


 

 

Os Mestres

(Poema de Morrison)

 

Eis a nossa entrega
Habitamos uma cidade
A cidade forma — física, mas sobretudo
psiquicamente — um círculo. Um Jogo. Anel de morte
com o sexo no centro. Guiar até ao perímetro
suburbano. Descobrir aí zonas de
sofisticado vício e tédio, de prostituição infantil.
Mas é nesse sujo anel implacável
apertando as ruas do comércio diurno que fervilha a única
multidão viva, nossa estirpe, artérias
vivas, noite viva. Cobaias doentes em pensões
baratas, quartos reles, bares, casas de penhor,
teatro de variedade e bordéis; arcadas moribundas que
nunca morrem. Ruas e ruas de cinemas de
sessão contínua.
À jogada sobrevêm o Jogo
Ao sexo sobrevêm o Clímax

Todos os jogos contêm a idéia de morte.

Saunas, bares, piscinas interiores. O nosso chefe ferido
jaz sobre os azulejos. Hálito e longos cabelos
de cloro. Inválido, seu ágil corpo
de pugilista. Ao lado
um jornalista creditado, confidente. Gosta de sentir-se
entre homens com profundo sentimento da vida. Mas a maioria
na imprensa são abutres sobrevoando a cena
à cata da curiosa arrogância americana. Câmeras
dentro do esquife entrevistam os vermes.

Só o genocídio revolveria a terra
expondo os vermes escondidos. Revelando
a vida dos nossos insatisfeitos loucos.

A câmera fotográfica, deusa todo poderosa, satisfaz-nos desejos
de omnisciência. Espiamos os outros desta distância e
ângulo: pedestres que passam cá e lá
na lente como insetos aquáticos raríssimos
..
Os poderes do Yoga. Ser invisivel ou diminuto
Ou gigante tocando as coisas longínquas.
Mudar o curso da natureza. Partir para toda a
parte no espaço e no tempo. Convocar os mortos
Exaltar os sentidos, captando imagens inacessíveis
de acontecimentos noutro mundo, nas zonas profundas
da nossa mente e das outras mentes.
..
A arma do caçador furtivo é uma extensão do seu olho. Ele
mata com mau-olhado.

O voyeur é um masturbador, o espelho o seu emblema,
a janela sua prece

Filmes são coleções de retratos inanimados
submetidos a inseminação artificial.

Os espectadores são vampiros mansos

O xamã personifica a sessão. O pânico sensual,
deliberadamente suscitado por drogas, cânticos, danças,
lança o xamã no transe. Voz alterada,
gestos convulsivos. Está fora de si. Todos estes
histéricos profissionais, escolhidos precisamente pela sua
tendência psicótica, foram em tempo tidos em consideração. Punham
o homem em contato mediúnico com o mundo dos espíritos. As travessias
mentais deles asseguravam o eixo da vida religiosa da tribo.

 


 

 

LIGHT MY FIRE

(Densmore/Krieger/Manzarek/Morrison)

 

You know that it would be untrue
You know that I would be a liar
If I was to say to you
Girl, we couldn’t get much higher

Come on baby, light my fire
Come on baby, light my fire
Try to set the night on fire

The time to hesitate is through
No time to wallow in the mire
Try now we can only lose
And our love become a funeral pyre

Come on baby, light my fire
Come on baby, light my fire
Try to set the night on fire, yeah

The time to hesitate is through
No time to wallow in the mire
Try now we can only lose
And our love become a funeral pyre

Come on baby, light my fire
Come on baby, light my fire
Try to set the night on fire, yeah

You know that it would be untrue
You know that I would be a liar
If I was to say to you
Girl, we couldn’t get much higher

Come on baby, light my fire
Come on baby, light my fire
Try to set the night on fire
Try to set the night on fire
Try to set the night on fire

 


 

 

A TORRE DE BABEL

 

1

Daqui avisto a torre.
É de papel
ou de Babel
a torre
que aponta para o céu?
Não sei. Ninguém sabe.
Há tantas fronteiras,
tantos idiomas!...
O que nos separa, afinal?
Uma simples torre
imaginária?!...

 


 

2

Frases frágeis,
palavras dissipam-se
com o vento.
Um rio de sangue e vinho
tinge a aurora.
Os mortos caminham,
arrastam correntes
e sonham.
A serpente observa,
o lobo do homem sorri.
Mas a humanidade resiste.
Novos tempos
pairam sobre a torre de Babel.

 


 

3

O segador sorri
de dentro do espelho.
Conhece a alma dos homens,
as lágrimas dos anjos,
nossos versos e sonhos.
O céu nunca mais
será o mesmo.
Sob o chapéu,
um índio observa
novos horizontes.
Na taça das madrugadas,
o teu sangue inocente
sacia a sede
da humanidade.

 


 

4

Muros manchados
pelo sangue derramado.
Frases etéreas
no altar consagrado.
Areia de todos
os desertos.
Dos corações vazios,
dos lábios selados..
A noite eterna
dos loucos profetas
e as crianças
sacrificadas pelo fogo.
Tudo clama por justiça..
Enquanto nós inventamos
baladas e segredos inúteis.
O tempo soterrado
no vazio do olhar...

 


 

5

Há um velho
sentado na calçada.
Enquanto isso,
o trem passa distante.
Nuvens choram
o futuro, eu sei.
E também sei
que ainda é cedo.
Porque há medo
no sorriso dos lobos
e a meninas dançam
nuas pelas florestas.
Eu também
já fui jovem um dia.
Por isso
posso enxergar muito além.
Por isso
eu prefiro esperar.
Porque sempre, sempre
haverá madrugadas
em meu olhar distante.

 


 

6

Quando o aço
das ferraduras,
roubarem o fogo
das pedras frias
e aquele cavaleiro solitário
surgir pelas veredas
com seu manto negro
e sua espada de sangue,
então despertaremos
com o sol da meia-noite
e alguns velhos amigos dirão:
— É cedo para morrer.
Mas há muito eu descobri
que nunca é cedo ou tarde.
Sobretudo, para a morte.

 


 

7

Eu sonho com você
sorrindo um sorriso antigo
de pérolas e ilusões.
Seus longos braços
e seus cabelos dourados
no espelho do tempo,
na lagoa de prata,
eu sonho e me esqueço.
Há jazidas em meu coração
e por isso, beberemos à vida
do mesmo vinho,
na mesma taça
onde termina a estrada.

 


 

8

Você nunca aprendeu
a sofrer e chorar?
Línguas de fogo
estão lambendo consciências.
E você permanece
acorrentada ao medo.
Poeira cósmica
cega nossos olhos
e corremos sobre os trilhos.
O campo era verde
e havia milho e trigo.
As primaveras
nos despertavam
para que pudéssemos sonhar.
E agora?
Somente a torre da igreja
permanece intacta.
A cidade foi soterrada
pelas areias dos desertos.
Há tantos desertos
à nossa volta!
E nós ainda nem cantamos
aquelas velhas canções...

 


 

9

Talvez eu devesse
partir agora
porque as estrelas
ainda continuam brilhando.
Eu sei disso:
lutei a vida toda
e toda luta é boa
e minhas mãos não tremerão.
Porque as feras
estão no fundo do fosso.
Ou quem sabe,
eu jamais estive aqui?
O luar clareia
meus passos..
E liberdade
é somente uma conquista
para aqueles
que conhecem o fim da estrada.

 


 

10

Bem, todas as pontes
estão desmoronando lá fora.
Crateras e abismos loucos
nos convidam para o salto.
Não há mais tempo
para criarmos asas.
Você tem papel e lápis..
então escreva.
Não espere o passado
te alcançar.
As lápides não caminham.
As chamas brotam todos os dias.
E construímos cidades
para destruí-las um dia.
Então,
não perca mais tempo.
Há muito eu descobri
que o fogo
é o segredo do sol.
Contudo,
nunca saia de mãos vazias...

 


 

11

Das criptas
romperão as frases
da eternidade.
Os incautos ouvirão
os sons dos sinos.
Nós estaremos
sentados
junto ao fogo,
observando as estrelas
e tecendo mantos
para os filhos do vento.
Do alto dos montes
as fontes jorrarão
e o futuro será
tudo o que deixarmos
para viver no passado.

 


 

12

Horas absurdas
e tempos amargos
para o que já perdeu as cores.
Flores murcham
nos canteiros e quintais.
Não me venha
com o teu sorriso
e teus lábios!
Os loucos
são mansos
enquanto
os selvagens
forjam a vingança.
Dança a serpente
de olhos verdes
sobre arames farpados
que separam quintais.
Não há calabouços
para tanto ódio.
Enquanto teu sorriso
não liberta,
o sol derrete
o asfalto
e racha as pedras
sobre as quais
pisaremos
um dia.

 


 

13

Ouço a voz dos aflitos.
Um corvo pousa
sobre meu ombro.
Todavia, sabe que trago
na testa o sinal...
Um velho índio me acena
e me aponta as sombras.
As pradarias
movem-se lentamente.
Os coyotes entristeceram e
o grande pássaro de fogo
já está a caminho.
Somos poucos
mas lutaremos.

 


 

14

Com as mãos
em conchas
trago deste veneno.
Fontes em luzes
brilhantes
descem dos céus,
rasgam as rochas
e são conosco.
O pastor
perdeu seu rebanho
enquanto a cidade agoniza.
Meus cabelos trançados
contra o vento furioso.
A pira acesa
derrete as velas.
Dentro da caverna dos sonhos,
minha alma
abraça a luz.

 


 

15

Houve um tempo
em que podíamos voar
e éramos serenos.
Não havia a voz.
Somente o silêncio
em ouro e prata,
eram nossas tranças.
Até que um dia,
perdemos a inocência
e inventamos
as guerras e as cidades.

 


 

16

Bem, eu te conheço
e sei o que escondes
atrás da máscara.
Os palcos estão sendo destruídos
na cópula dos sons.
Crianças febris
entregam seus corpos.
Mas jamais
conheceram suas almas.
Os acordes
das guitarras valsam.
São todos um
e a brincadeira
somente começou.
As crianças
não enlouqueceram.
Mas já sentem
o caos vigente.

 


 

17

O fulgor das estrelas
não adentra as cavernas.
Os desejos aprisionam
os meninos sedentos
com seus instrumentos rígidos.
Ninguém deseja a salvação.
A contorcionista
do eterno porvir
abre seus lábios
e sacia os desejos secretos
dos meninos escravizados.

 


 

18

Grotesca a tarde
em arabescos
e vitrines coloridas
mergulha nas retinas
e nos ensina
o sofrimento
e a perdição.
Já não somos mais
os mesmos.

 


 

19

Que cavalguem o asfalto
os arautos da modernidade.
Vassalos, reis,
senhorios e serviçais.
Tranquem todos
os cofres de almas
e vilanias
nas prisões
sombrias.
Nos guetos e fossos.
Então, combatei por nós.
A ponte e os portais
conspiram em segredo
para a inevitável queda
do reino que, certamente,
um dia viria...

 


 

20

Doce o leite
dos teus seios.
Que derramas
sobre o ventre
da terra sedenta.
Doce na morte,
na vida...
Cicatrizando as feridas
que amargam feito fel.
Doces teus lábios, olhos,
sorriso e a ternura
feita em mel.
Doce:
Andie MacDowell!

 


 

21

Das frases
roubemos o sal.
Pelo Universo
tantos sóis.
No olhar que vigia
as tumbas dos antigos reis.
Múmias do Grande Arquiteto
do Universo...
embrulhadas
em gaze e papiros
e recheadas
pela areia ancestral
de um tempo que
jamais será.

 


 

22

Em chamas
o corpo sob as cobertas
e lençóis.
Meu pacto
com os mortos.
A luta contra
os vivos.
Por enquanto
o Condor diz
aos Andes
e os malucos
já podem voar
em meio às nuvens.
Meus mortos dançam
sobre o telhado.
Você pode compor
a nova canção
para aqueles que virão.
Por enquanto
uma vela arde
sobre um crânio.
Sob a tênue luz
das estrelas,
o doente
profana a carne fria.
A única certeza
no ventre da vela
é que amanhã
já não poderemos mais
ser os mesmos.

 


 

23

A madrugada fria lá fora
sussurra segredos
que o vento arrasta
para distante.
Escrevo quase no escuro
porque a luz da vela
já se apaga.
Alguns corpos transpiram,
automóveis decolam
e passam sobre o muro.
Minha solidão
e meu medo
já não me aprisionam.
Contudo, não consigo
evitar as lágrimas
que meu coração
insiste em sangrar.

 


 

24

Por esta fresta
vejo o futuro,
o vazio nos bancos
das praças.
Nuvens carregadas
que deslizam.
Lençóis que se rasgam.
Pulsos cortados.
Há um espelho
dentro em meu cérebro.
Guardem suas armas, senhores!
O inimigo
apenas acaba de nascer.

 


 

25

Cuidado agora
porque os justos já
não fazem sacrifícios.
As preces já não podem
evitar o naufrágio.
A rua e a massa
confundem o trânsito.
Na calada da noite,
crianças aflitas
cavam trincheiras
e sonham com suas amadas.
Há muito perdemos a infância
porque outro dia,
em breve,
há que chegar.
Caminho à margem do rio
que me orienta e me leva.
Não vou olhar para trás.
Não posso vê-la acenando
porque estou aflito,
já não tenho mais como voltar
e nem sei para onde ir.
Estou só.
Somente um homem
desesperado
caminhando ao longo de um rio.

 


 

26

Os corações estão aflitos.
São frágeis.
Os olhares buscam
por esperanças inúteis.
A chuva começa a cair.
Talvez alguém acenda
a lareira.
Alguns partem
e jamais tornam.
A faca do destino
afiada nos desafia.
Agora não é tarde
e nem amanheceu.
As velas
ainda ardem.
Nas ruas vazias
há um resquício de vida.
Não posso gritar
porque roubaram minha voz.
Galos cantam ao longe.
E se por acaso
a morte não puder
esperar pelo sol,
quero que saibam
que minhas mãos
já se encontram
estendidas...

 


 

27

Os olhares tristes
e os corações empedernidos.
A pressa apressa
o futuro ido.
Borboletas voam
por sobre nossas cabeças.
Por isso, às vezes,
acreditamos nas palavras.
Vulcões despertam
enfurecidos.
Quem nos dera
alguém pudesse compreender
o que sentimos.
Já não podemos
mirar no espelho,
os olhos frios
das crianças assassinadas!

 


 

28

Do futuro esperado
coisas que caem do céu.
Sobre a mesa
do destino,
vou amadurecendo
o que me resta.
Longa é a avenida
da vida em que caminhamos.
Ao meio fio
naufragam os sem cigarros.
A cerveja amarga
as lágrimas dos poetas,
enquanto esperamos
por discos voadores
e patenteamos milagres.
As chagas abrem-se
rachando asfalto
e as rugas não esperam.
Nem espera a neve
que torna brancos
os cabelos.
Do futuro esperado
—sobre o palco—,
as entranhas do passado.

 


 

29

Filhos do sol
e das noites esquecidas,
atropelamos meia hora
para a aflição diária.
Nas folhas de jornais
a minha melancolia.
O aborrecido no alto
do viaduto,
observa a sorte
para a minha morte.
Tenho a solidão
das praças,
a fome que aflige
e a miséria escondidas.
Nos bolsos vazios,
natais e heranças.
Nada me desfia
a fibra deste ódio.
O morto e o mito
no conflito
de um prato.

 


 

30

Vazios e monumentais tormentos.
Colossais labirintos
pelas veias
serpentes e veneno.
E eu sei o segredo
da velha arca.
Este firmamento
e a melancolia das carnes.
Tudo o que se cava
e mais, as bocas
que nos tragam.
Da energia da terra
e das ervas alucinógenas.
Ouço sussurros
entre paredes.
Mas nada nos protege
da mente.
Nem o desvio
da morte.
Ou a sorte
que nos persegue...
Nada
que eu tenha plantado
para saciar
a sede
e a loucura das almas.
Por isso,
arrebento os móveis.
Enquanto os sensatos
algemam meus pulsos
e sentimentos.

 


 

31

Nunca é tarde
e nós sabemos disso.
Enquanto nuvens
desgarradas e solitárias
nos observam,
vamos planejando
este resto de alegria.
Temos todo o tempo
para a Nova Era.
Se fossemos loucos,
quem sabe a felicidade?..
Por aqui já não existem
mais carruagens.
E as catedrais
estão sendo demolidas.
Compomos canções
e adormecemos
à sombra das quimeras.
O mendigo me observa
mas conhece o preço
e a dor de ser normal.
A humanidade
está aflita agora.
Enquanto isso,
em meio as ervas,
procuro uma fotografia.

 


 

32

Escrevo.
Enquanto lavas as mãos,
escrevo.
E já não posso parar.
Há uma fenda
na parede do futuro.
Busco pelo mistério
da vida enquanto
arranco fantasias..
E aqueles que
cospem sobre meu corpo,
desconhecem
os poderes das palavras.
Estão todos atônitos!
Feito um pobre camponês,
continuo cultivando
o meu pedaço de terra.
Olhares frios
me observam das sombras.

 


 

33

Agora as cicatrizes
já não doem mais.
Enquanto corcéis alados
batem suas asas pelo céu..
não vou deixar
que meu cigarro se apague
aqui na solidão.
As fábricas apitam
e a poesia não paga
o arroz e a farmácia.
Meu sofrimento
refaz as tranças
das madrugadas.
Por isso, faço as malas
para partir.
Qualquer verbo
me ampara na queda.
Corremos tanto
para perder o mesmo trem.
As frases brotam frias
e cortam
feito navalhas.
Meu sangue
tinge as areias do tempo,
enquanto envelheço
este meu coração
revolucionário.

 


 

34

Não tenha medo.
Do alto
observaremos a cidade.
Os homens
não sabem o que fazer.
Meus pulmões
doem.
Contudo,
continuarei correndo.
Desligue o computador, garota!
O sol se espalha
sobre os telhados
das casas sombrias.
Meus presságios
não podem nos salvar.
Eu tenho uma calça puída
e um sentimento roto.
Contudo, ainda
prefiro observar a cidade
aqui do alto..

 


 

35

Um copo de vinho
enquanto a chuva cai.
Cal branca
em paredes manchadas.
Ruas de pedras,
ancestrais pensamentos.
Não uivarei
para a lua nova.
Agora é tempo
de salvarmos o que restou
dos estragos dos bombardeios.
A carroça, o feno, as pernas
e braços amputados..
Mesmo que
não valha a pena,
destruiremos
as guilhotinas
e desfiaremos as cordas.
Não haverá cadafalso
enquanto pudermos
plantar as vinhas
em meio ao caos.

 


 

36

Indomáveis desejos
arrastando-nos
por veredas e picadas.
Sonhos que anuem
o flagelo das almas.
Minha vida perdida,
vendida por um fio.
O caos incrustado
no olhar do cego
que ouve as vozes
e sabe as vezes tantas
que deixei rolar este rio.
Seixos e algas marinhas
nos cabelos.
Os acordes
que criam vida
e a avidez insaciável
do poder.
Mesmo o trabalho escolar
e o arcanjo que nos guia..
Nada poderá nos impedir
o sonho e a razão.

 


 

37

Em pouco tempo
terei passado.
Ouvirei os risos
insanos,
os comentários
hipócritas.
Eu,
viandante sem pousada,
poeta sem descanso,
já não posso culpá-los
pela ironia.
Levarei nos bolsos
minha cota
de sonhos logrados.
Cavalgando estrelas,
rompendo fronteiras,
os tempos e Eras,
beberei de outras fontes.
Lavarei meu coração
e limparei minha alma.
O que aqui restar,
já não terá importância porque
em pouco tempo,
terei passado
para ser esquecido.

 


 

38

Com tochas nas mãos
eles adentrarão
a negra floresta.
Nas choupanas
os sabres guardam
segredos.
Não há rima,
não há medo.
Somente passos
seguindo em frente.
Para cada destino
haverá sempre
uma razão.
O mero gozo
nunca me atrai,
senão o sofrimento.
Deixem que desabem
os edifícios!
Agulhas que rasgam
veias.
O concreto nas mãos;
os anéis do tempo
e as tinas de água;
a côdea do pão;
a hemorragia
das bolsas de valores...
Agora,
um corpo jovem
arde sobre o fogo.
O momento
é propício
para debandar
ou permanecer.
Os planetas
já se alinharam.
Não se calam
escopetas;
nem se grita
por socorro.
Ainda restam
zumbis
e segredos
nesta floresta em que
o esquecimento
ainda sacrifica
os inocentes...

 


 

39

A cidade torta
em espirais de fogo.
O triste jogo diário..
Eles enlouquecem
e desejam nosso sangue
e nossas cabeças.
Contudo, as estrelas
ainda sonham
a nossa magia.
Há restos de frases
espalhadas
pelas avenidas.
Bem, quanto ao medo..
Já não há mais nada
à ser temido...

 


 

40

Hoje, os tempos
nos afligem
e os sonhos são frágeis.
Luas de sangue
cavalgam as nuvens.
Os loucos
já não recitam
seus versos
e as madrugadas
nos parecem eternas.
Poucos estão
sorrindo agora
e lá fora
as crianças conspiram.
Os girassóis
e as ervas
já não brotam mais.
Há o medo
estampado nos olhares.
Estamos aflitos
e não temos
para onde fugir...

 


 

41

Vamos sair
e gritar.
Nunca estivemos
tão abandonados
e algumas pessoas
já começam a fugir.
Os dias e as horas
são frágeis.
É necessário
a loucura geral.
O escândalo
e a hipocrisia.
Ninguém gritará por nós.
Ou saímos e lutamos
ou tudo estará terminado.
E as aves.
Não sei, mas creio que,
elas jamais tornem a pousar
em nossos quintais.

 


 

42

Os rios já não correm mais
e as estrelas se esconderam.
Há risos de crianças
brotando dos calabouços.
Homens fogem de jatos
enquanto viadutos caem.
Caem dos céus
bombas e restos de madrugadas.
Não podemos mais fingir
que tudo está em seu lugar.
Façamos algo
enquanto ainda há tempo.
E este luar que
—às vezes—,
insiste em voltar!

 


 

43

Em breve amanhecerá
a manhã dos desesperados.
As estradas foram interditadas.
Há jovens brincando lá fora.
Os pés fazem a poeira
se levantar.
Mentes atormentadas
buscam a paz.
Tudo está mudado
e os cabelos já não
crescem feito as relvas.
Há fogo em edifícios,
ruas e casas.
Um mendigo me observa
enquanto o vento sopra
os lençóis nos varais.
Anjos cegos batem
contra nossas janelas.
Os cães choram
o fim dos tempos.
Enquanto os filhos
carregam suas armas,
os pais estão ajoelhados.
Somente uma menina
brinca com sua boneca de pano.
Inocência esquecida!..

 


 

44

Neste momento em que
as palavras valem tão pouco.
E as promessas
foram todas esquecidas..
Nesta hora
em que os deuses
bocejam espantados
e todos os trens
correm fora dos trilhos..
E que o sol e a lua
já não guardam mais
seus segredos..
E a política tornou-se
“Senhora do Universo”...
E todas as sementes
Já não vingam mais.
Agora em que nos encontramos
todos resignados.
Agora,
embora seja tarde,
recorremos aos sonhos
e à simplicidade...
Agora...
agora quando já não há tempo
—seguramente—, para mais nada!...

 


 

45

Todas as estradas
já não nos levam
para onde sonhávamos.
Sob as estrelas
as chamas crescem
e crepitam as achas
atiradas ao fogo.
Escravos e cativos,
lamentamos
a inocência que nos
roubaram.
Algumas poucas pessoas
ditam nossos destinos,
enquanto miramos estrelas
sem um sinal de protesto.
Bem,
do outro lado do rio,
o velho nos observa.
Seu olhar de Eras
e sua espera Ancestral
nos contam que ele também
se sente solitário feito um lobo
enquanto adormecemos
para —simplesmente—, sonhar.

 


 

46

Há muito estamos perdidos
e há trevas em nossos corações.
Há muito estamos fugindo
e já não confiamos
uns nos outros.
Há pântanos pútridos
e crianças enfermas
à nossa volta.
Sorrisos néscios
e palavras cruas
brotam de nossos lábios.
Já não sepultamos
nossos mortos
e fincamos facas
em nossos próprios corações.
Marchamos impotentes
e sem esperanças.
Os frágeis
se arrastam na lama.
Eu sonho
em preto e branco,
enquanto minha alma
continua sua busca.
Nunca admitiremos
a batalha perdida,
os erros cometidos
e o sorriso nos lábios
daqueles que nos enganaram.
Agora não há mais tempo.
Então, já não bastam as lágrimas.
O espelhos partiu-se
em mil pedaços.
E nossas consciências
foram profanadas
por aquilo que nos disseram.
O sempre é tarde, garota!
Muito, muito tarde!

 


 

47

Lutaremos até à morte
e venceremos o medo.
O futuro é somente
algo subjetivo.
O futuro nos espera
feito o dia de amanhã.
Já não precisamos
morrer novamente.
Vamos enxugar as lágrimas
e marcharemos em frente.
Não desejamos
o abandono e as aflições
porque
nunca se morre antes..
As pedras rolam,
os rios continuam seu curso
e os amantes não desistirão
enquanto houver paixão.
Por isso,
sigamos em frente.
O caminho é longo
mas ainda sabemos
por onde estamos indo...

 


 

48

Por nós
choram as ervas e colibris,
enquanto mãos colhem estrelas.
No início havia o velho sonho,
depois, a esperança
feita em chamas
que arderam por muito tempo.
Os homens assassinaram
as crianças todas,
enquanto um ancião,
sofria calado.
Restos de madrugadas
nos espiam.
Primaveras mortas
clamam por justiça.
A loucura nos abre
suas portas
e nós atravessamos..
Porque é tudo o que
ainda nos resta:
a loucura!...

 


 

49

Ainda continuo
mirando estrelas
nas madrugadas.
O frio da solidão
e o vento sussurrando
em meus ouvidos
uma canção antiga..
Sinto-me na poeira cósmica.
Mas minha alma
aponta para o infinito.
Sou feito o pinheiro
aqui em frente:
eu o plantei e amei.
E ele,
ele toca as estrelas
com suas mãos de carinho.
É assim o meu destino:
a doçura de um momento
que,
vai se juntar às estrelas.

 


 

50

Não sou triste
nem contente,
porque é chegada a hora
da partida.
Todos partem um dia, afinal.
A madrugada silenciosa
e o leito dos amantes.
Bilhões de estrelas
me acenam
e sorrio feito um menino
puro e simples.
Olha para o céu, criança.
Ainda é tempo
quando não nos esquecemos
que o amor vale a existência.
Ainda que tenhamos que sonhar,
mesmo que tenhamos que partir...

 


 

51

O rádio está tocando
uma canção antiga
e às três da madrugada
uma fábrica apita.
Cães ladram
e esse tempo raro,
meus sonhos tantos,
as palavras forjadas,
o orvalho feito lágrimas,
a espera...
A eterna espera
da vida eterna!
A insônia,
os insetos,
as janelas dos olhos..
Bem sei:
tudo chega ao fim,
tudo passa.
Enquanto a canção
fala sobre primaveras
e crianças que brincam
por entre nuvens
com suas asas
de algodão...

 


 

52

Estou brincando
com as areias do deserto.
O vento que sopra
apaga minhas pegadas
e me conta novos segredos.
Há navios e cidades
sob meus pés.
Rios que correm
a cantarolar.
Dunas erguem-se
à minha frente.
Eu continuo sorrindo.
Caminho o meu caminho,
traço o meu destino
quando há estrelas
e o frio que gela a minha alma.
Refaço versos
enquanto procuro o oásis.
Lá distante,
um míssil
acaba de passar
pelo buraco de uma agulha.
E eu, bem,
eu ainda continuo acreditando
no amanhã...

 


 

53

Já não basta
rasgar os panos
ou tingir os lençóis...
Não vamos permanecer
sentados ao meio fio
esperando a carruagem
dos malucos.
Nem os pássaros
saltarão dos edifícios
em construção.
Nem os supermercados
nos convidarão para a festa.
Há um rio sob nossos pés
e já não queremos confeccionar
novas bandeiras.
Amanhã a lua
nos mostrará sua face.
Os ponteiros do relógio
já não correm mais.
E todos os bares
baixam suas portas.
Algo em nós
foi assassinado, criança.
Mas nós,
nós seremos mais fortes
quando o sol
tocar nossas mãos.

 


 

54

Facas e palavras.
Fogo nas mentes.
Enquanto as bocas entreabertas
pedem mais,
o cantor despenca do alto.
Uma águia pousa.
Repousa
o espírito rarefeito
do Deus desenhado.
Com sua velha guitarra,
em meio à nuvens
de segredos e fumaça,
repousa.

 


 

55

Há sorrisos em seu jardim
e violinos sobre o telhado.
Distante a estrada
e seu corpo na sacada.
Vozes e lamentos
quando tudo é tão frio
e os olhares parecem desertos.
Os frágeis sonham
com crianças aladas.
Nos perdemos há muito
por seus jardins
e as pedras atiradas
no poço do esquecimento.
Há uma sombra
esperando junto ao pórtico.
Enquanto sua mansão
arde em chamas
na madrugada eterna.

 


 

56

O segredo em medo
posto.
Sob as cobertas
e os lençóis,
gritamos para as plantas
e os discos voadores
que passeiam feito trens
fora dos trilhos.
Nossas crianças
correm atrás
de balões coloridos.
Hoje já não somos os mesmos.
Os escravos do rei
servem e choram.
Os guerreiros depuseram
suas armas inúteis.
Não há lugar para todos
nessa velha arca.
Políticos doentios armam palcos
enquanto o vento sopra
as areias de um tempo remoto.

 


 

57

Os jovens e os inocentes
estão dormindo em paz
enquanto os calçados militares
deixam marcas no asfalto.
Nos embriagamos
todos os dias úteis
e buscamos a salvação
fugindo da realidade cruel.
Nós somos fortes
mas ainda não aprendemos
que nossos sonhos
poderiam ter mudado
a história e o destino...
Então, vamos permanecer
eternamente calados,
ouvindo o toque dos tambores.
Eles já avançam
pela grama do jardim.
Na calada da noite que,
jamais terá fim...

 


 

58

Seremos práticos
e sorriremos.
Mesmo quando a dor
riscar o espaço
e nossas crianças
quedarem-se atônitas.
Sim, seremos mansos.
Os cordeiros são sacrificados
porque há necessidade
do sangue derramado.
Dentro das mansões,
velhos discutem política
religião e o tempo..
O tempo é urgente, impaciente.
Não falaremos sobre flores.
Nem sobre estrelas ou amor.
Apenas e tão somente,
procuraremos ser práticos
e tragaremos o sangue
dos inocentes abandonados.

 


 

59

Erga a cabeça.
Não há porque chorar.
Agora as estrelas
estão brilhando.
Cada sonho
talvez possa
ser transformado em canção.
Os anjos estão sorrindo.
Mesmo quando
há lágrimas que caem.
Vamos, você pode
e deve acreditar...
Nunca é demasiado
tarde quando o tempo
é todo nosso
e nossos corações
ainda continuam batendo
ao compasso da esperança.
Nunca é demasiado tarde
para despertar
e tentar outra vez!

 


 

60

Vamos brincar!
Segure em minhas mãos,
formaremos um largo círculo.
Os pés tocando as areias
e as nuvens nos cabelos.
O vento que sopra
anuncia um novo tempo.
As canções envelheceram.
Envelheceram nossas leis,
nossos corpos e verdades.
Contudo, nossos corações
são feito as crianças...
Vamos brincar porque o amor,
ele nunca envelhece.
Porque não podemos deixar
que os donos do mundo
venham roubar nossa inocência.
E isto, isto é tudo..
tudo o que ainda nos resta!

 


 

61

Talvez fosse
a madrugada,
o ébrio poema
de um tempo mórbido..
Esse desgosto
de asas cortadas!
As ilusões
e as velhas escrituras..
Talvez..
No entanto,
o meu sonho
é um navio naufragado
nas areias do deserto
que ainda me acolhe.

 


 

62

O pó e a carne
de algum tempo remoto,
saciam o fim do banquete
ao qual a minha alma
se entrega.
Porque renegam-me
os entes queridos?
E nunca mais
poderei compor versos
sem uma taça de sangue
que venha trazer-me
o alento perdido!
Sentado no alto do monte,
observo a cidade
que arde em chamas.
Sem guerra e sem paz.
Apenas vazio,
bate meu coração angustiado.

 


 

63

Eu, o proscrito,
deixo pegadas
por onde passo.
A dor que me alimenta,
é a hipocrisia que te mata.
Sacia tua sede
enquanto ainda
verto seiva.
Não deixes
para amanhã,
o sacrifício.
Sempre estive só
enquanto riam os piratas
desta minha agonia.
Trago da fonte
o sangue do sol
e reinvento
outros motins.
Se me calo agora
os anjos desfazem-se
em nuvens e pó.
Permaneço só
e adentro o espelho
da eternidade
com amor e com medo
do que jamais
poderei viver.

 


 

64

Venham! Aproximem-se!
Juntos, despertaremos
a besta adormecida
há séculos.
Vamos cantar baladas
e nos atiraremos
nas piscinas vazias.
Dormiremos pelas mansões
abandonadas com seus milhares
de quartos e quadros góticos.
Seremos incômodos
feito o cravo fincado nas mãos.
E as estrelas
brindarão conosco.
E o sol
tornará mais uma vez.
Ainda que seja...
Venham todos
para a festa da besta
e dos segredos empoeirados!

 


 

65

Sonhos congelados,
decrépitas gerações,
indomáveis forças ocultas!
Charcos, pantanais,
estradas, vales...
Sombrios vales!
Passos silenciosos
pelas estradas das trevas.
Falsos sorrisos,
gestos mumificados,
o sândalo que perfuma o medo
em meio a velhas sombras retorcidas.
No umbral da porta
a máscara cai.
Quem são nossos amigos?
Quem são nossos inimigos?
Olhares vazados
pela ira dos deuses.
Com amor
adormeceremos
sob os escombros.
E as palavras..
Bem, as palavras,
já não dizem mais nada.

 


 

66

Lagartos azuis
secando-se sob o sol.
Na velha monotonia
dos desertores, sonhamos.
Ruas mortas
no desassossego
das larvas.
Galáxias adormecidas
nas mentes pútridas.
Toda a vilania
das tardes outonais.
Ventos e furacões
em nossos corações patéticos.
A poesia morta
será tudo o que nos restar
quando a hora nos contar
o que jamais desejamos
ficar sabendo.

 


 

67

O sorriso encanta
a fotografia
de um tempo esquecido,
remoto..
Remontamos a história e
brindamos velhas gerações.
Enquanto isso,
a madrugada cai lá fora.
Todos os astros
despencam dos céus
e a auréola do destino
pairando sobre cabeças
e corações.

 


 

68

As casas e cidades
choram o abandono.
Enquanto os jornais
distorcem as notícias.
Olhares nos vigiam sedentos.
Ainda assim, sorrimos.
Nosso medo derrete
juntamente com os telhados.
Quando desejamos versos,
nós os fiamos.
Os astros estão alinhados
no alto de nossas cabeças.
A torre da igreja
já está sendo lambida
pelas chamas.
Tragamos refrigerantes
e nos tornamos borboletas.
Tatuados na paisagem do ontem
ou do jamais...

 


 

69

Os ratos nos calabouços,
a agulha na veia
e o segredo que não é.
Tudo se resume
em correr contra o tempo.
Nas noites frias,
embalsamando os tristes
senhores donos do poder,
nossa alegria fria.
Nossos gestos contidos
e as gargalhadas dos loucos.
Os loucos:
que colhem estrelas com as mãos
e os mansos pensamentos!

 


 

70

Mortos os poetas
que lambem os lápis
e a tarde sem fim
da agonia entristecida.
Há uma criança
ajoelhada no jardim.
Muitas pessoas
esperam por algum
secreto milagre.
Mas as flores secam
nas janelas onde há vasos.
Nos deliciamos
com velhas promessas.
Armados com pedras,
pau e saudade,
marchamos rumo
às velhas mentiras da história
que um dia nos contaram.

 


 

71

Há muito, muito tempo
estamos calados!
Enquanto cavamos trincheiras
com nossos olhares entristecidos.
Há muito, muito tempo
esperamos pela luz do sol.
Mas jamais soubemos
muito sobre as estrelas.
As ruas estão desertas, garota!
Os rios já não correm para o mar.
As crianças dançam sobre as lâminas
e os vidros cortantes.
Nossos corpos ardem em febre.
Morremos aos poucos.
E no entanto, permanecemos calados.
Quebramos os móveis
e derrubamos as paredes.
Mas não dizemos nada.
Porque já não há nada
que possa ser dito agora.

 


 

72

Nossas canções são leves
enquanto mentiras.
Embora pesem sobre
nossas cabeças.
Nos fingimos de mortos
neste cenário absurdo.
Você me acena
enquanto sigo meu caminho.
Há lobos e corvos
por trás dos montes.
Este resto de esperança
que nos guia...
Bolas de fogo
mergulham do céu.
A ira dos vagabundos
e dos anjos descalços..
Para tudo há um tempo
e nós, comodamente,
continuamos acreditando
no amanhã.

 


 

73

Neste tempo,
somente nos pegamos
confusos.
Já não somos as crianças
que sorriam
para as lentes fotográficas.
Apesar do frio,
da violência e do medo,
permanecemos nas esquinas..
Confusos feito mísseis
e balas perdidas.
Choramos e gargalhamos
sobre as mármores dos sepulcros.
Nossos ídolos se foram.
Nossos sonhos se perderam.
Sabemos chegada a hora.
Contudo, agora,
somente nos pegamos
confusos e cansados..
Nada mais...

 


 

74

Talvez fosse a manhã
em que o sol racha
o asfalto
e um rio de sangue
corre à céu aberto..
Os edifícios estão desmoronando.
Os homens têm pressa.
E eu sinto sono.
Em meu cérebro,
formigas transitam calmas.
Não, não sinto medo
desta inevitável morte súbita.
Porque há muito
aprendi a partir.
As ervas brotam
e crescem.
Perguntamos ao
jornaleiro da esquina
sobre o que nos resta.
Ele sorri e nos diz:
— Talvez fosse a manhã..
Respondemos sempre:
— É, talvez...

 


 

75

Algumas pessoas gritarão.
Mas as lágrimas são antigas.
Flores enfeitam as janelas.
Continuamos abrindo portas.
Não sabemos
onde nos levam os corredores.
No fim do túnel,
os malucos acendem velas
e criam asas iridescentes.
Preces inúteis
de almas cansadas.
Fincadas em ganchos
de câmaras frias.
Já não ousamos gritar.
A palidez dos que despertam.
Amputaremos o tempo
desta velha engrenagem.
Existir é desafiar
toda a natureza.
O olhar atento
perscrutando por uma fresta
o paraíso inexistente.
Deixem a lâmina
na borda do precipício.
As canções ainda
falam sobre flores,
estrelas e sonhos.
Enquanto as sombras marcham
em direção ao vento..

 


 

76

O que nos importa creio,
a provável loucura?!
O silêncio
talvez seja a muleta
para o verso que sangra.
As portas estão abertas, senhores!
As crianças são anjos
e os anjos são bons!
Cavem sepulturas
e escrevam nos muros.
Desenhem na lápides
o fim que se aproxima.
Imortal, minha alma
não consta dos arquivos
e registros de nascimentos.
O cigarro no cinzeiro,
meus longos cabelos,
sangrar sem nexo..
As portas — todas elas —,
estão abertas.
E eu vos convido
para o próximo passo.

 


 

77

À qualquer momento
você poderá ser o próximo.
Quantos ainda resistem?
Há alguém atrás da porta?
Que rua esta nos leva?
Eu sempre pedi tão pouco!
Quase nada..
As palavras são navalhas.
O riso amarga nos lábios
e na paciência.
Mas nada disso importa.
Porque estou saindo.
Morrer é tão fácil!
Não diga nada.
As horas velozes
roubam-nos o futuro.
Sei que jamais tornarei
a ser o mesmo.
Meu corpo arde em chamas.
Enquanto você canta
baladas nostálgicas.
Agora, uma criança
me estende a mão.
Partimos porque sabemos
que o tempo é pouco.
Quase nada para o que virá
após a curva desta estrada.

 


 

78

Dormem pálidos,
deuses de mármore
em seu quintal florido.
A sua piscina
e a hora exata.
Enquanto fumo
o vento assobia em minha janela.
Destruo a métrica
e as rimas todas, tossindo.
Escrevo para os dementes
e os abandonados.
Aranhas tecem fios
em meu cérebro.
Se alguém vier
perguntar-me algo,
direi que estive ausente.
Porque faz frio
aqui neste velho porão.
Sorria com seus dentes
cravados em brancos lençóis.
Eu somente sou só eu
e isso não faz a menor diferença.
Meus óculos esquecem
o tempo perdido
em que os sonhos eram livres.
E os livros contavam histórias
de esperança e paz...

 


 

79

Velhos navios
ancorados nos cais.
Tudo é deserto agora.
A tempestade de poeira
recobre a torre da catedral.
Insistimos em continuar vivendo.
Sonhamos com a Nova Era.
Inventamos palavras.
Repudiamos a violência.
Somos todos inocentes.
No imenso salão,
casais giram a valsa.
Violinos sem escalas
quebram o antigo silêncio.
Taças do vinho tinto
sobre o linho imaculado.
Somos soldados
naufragados num tempo qualquer.
Ainda que todos nós saibamos que
esse tempo, ele jamais existiu.
Esse tempo que, provavelmente,
jamais existirá!

 


 

80

As sombras despertam.
Sentado à porta da casa
observo atentamente o céu.
Os hospitais estão abarrotados.
Notícias frescas
no pão matutino.
Borboletas despertam
no jardim do abandono.
Estou de frente para a estrada
que nos leva.
O sol ainda arde.
Com seu fogo e seu calor.
Cabelos emaranhados.
Olhar sonolento.
Alegria vencida.
Quando o trânsito
se torna caótico,
é que penso em você.

 


 

81

Ouço sua voz
vir vindo no vento.
Varrendo as memórias,
despertando as canções
com versos que falam de amor.
Aprisionado ao tempo,
entre varandas e quintais
eu me sinto tão só!
Na lembrança antiga,
o seu sorriso guardado.
Perdi os sonhos e a voz.
Perdi a voz e o verbo.
Você sabia das coisas..
Hoje eu sei como tudo termina.
Porque, inevitavelmente, um dia...
Bem, um dia, todos partimos.
E restam somente
velhas e entristecidas canções
que o vento ainda teima em soprar
no deserto que se fez
em nossos corações.

 


 

82

Hoje a melancolia
tomou conta de tudo.
Adentrou por uma fresta
e se instalou em minha alma.
A madrugada é longa
e o céu sarapintado por estrelas
me faz ainda mais distante.
Errante, penso em tudo
o que se perdeu.
Porque sempre
acabamos perdendo.
E resta sempre esse desassossego,
esse talvez..
Astros incandescentes
bailam pelo céu.
As ruas jamais terão fim.
Ambos sabemos disso tudo.
Embora continuemos nos perdendo
um pouco à cada madrugada.
Enquanto as lágrimas,
as lágrimas criam atalhos
nas faces do tempo.

 


 

83

Pássaros imaginários
pousam sobre o telhado.
São almas fatigadas
que vagam pelas estradas
quando as horas morrem
e se tornam sombrias.
São restos de sonhos,
são vidas vazias.
São ilusões aflitas
que se perderam um dia.
São anjos cansados,
vencidos, feridos.
São — bem sei —,
sentimentos escondidos
que trago no peito.
Mas que, no entanto,
me fogem pelo olhar.

 


 

84

Rotas são as palavras,
puídas as frases que
nada revelam amalgamadas
na mente nos porões da (de) mente (s).
O que importa é o que se sente.
Os lábios cerrados
não revelam segredos.
As asas estão partidas em fatias.
Você me observa
mas não consegue me enxergar.
Amanhã nos esqueceremos
das promessas e da chuva.
Porque somos todos
mais ou menos parecidos.
Abra os olhos agora,
porque o trem está para partir.
Não acene, nem diga adeus.
Lembre-se que o tempo,
o tempo jamais envelhece.
E sobretudo, não esqueça:
as palavras e frases
são artefatos e artifícios
que nunca duram
por mais que meros segundos.

 


 

85

Cartões postais.
Senhores sonolentos
metidos em pijamas.
Desdobramento espiritual.
Do alto da cidade,
observo telhados e quintais.
Deve amanhecer de repente.
Você sabe meu medo.
Sei também seus segredos.
Nada diremos.
No entanto me preparo
para uma possível ruptura.
No espelho, sangue coagulado.
Nos varais, melancolia.
Jarros de barro na varanda.
Olho d’água no quintal.
Cartões postais de outros mundos
restam na memória, guardados.
Até um dia, quem sabe?
Meu corpo repousa sob cobertas.
Mas continuo sentindo frio.

 


 

86

Vocês podem ver, eu sei.
Sinuosas estradas,
dunas e espirais.
Basta abrir a porta.
Basta estar atento.
Não os olhos cegos
da serpente adormecida.
Palavras que formam
frases adocicadas.
Nada disso é real.
Nada disso é fácil
ou agradável.
Vocês podem sentir
apesar do medo.
É a loucura o que salva.
Não a visão de um belo jardim
onde tudo é tão normal.
Vocês podem ver.
Vocês podem sentir.
Eu sei porque fazemos parte do tudo
e do nada.

 


 

87

Todos os dias
nos perdemos um pouco.
Nesse medo que nos acorrenta.
E observamos
nossas crianças aflitas.
Nos disfarçamos de heróis
e choramos às escondidas.
Todos são demasiados perfeitos!
Talvez a vida fosse serena
e nossos sonhos fossem simples.
Contudo, para que sonhar?
Se o que sabemos da vida
são somente os seus males?!
Há uma hora em que tudo nos cansa.
E desejamos partir.
Portanto, esta é a hora.
Porque já não sabemos nada
sobre a vida, afinal.
É, talvez fosse necessário o amor
e a paz que não nos deixaram cultivar.

 


 

88

As borboletas e os pássaros são azuis
e sobrevoam pelo céu da cidade.
Os jatos de fogo e fotografias
nos policiam atentos.
Somos muitos mas poucos se dispõem
a sair para a morte.
Porque viver — hoje —,
significa, necessariamente, morrer.
Minha cabeça e meu cérebro
podem explodir em mil pedaços.
Estamos irremediavelmente sós
e necessitamos de ajuda.
Gritaremos pelos amigos,
mas todos estão surdos
contando seus dólares.
Nosso tempo também se esgota.
E por mais que procuremos
não encontramos a saída.
As borboletas e os pássaros partiram.
E nós, já não conseguimos
erguer a cabeça e mirar o horizonte

 


 

89

Eu preciso sair por esta porta.
Todos os dias digo ao espelho
o quanto a tristeza nos fere.
E que esta ferida não cicatriza.
Eu preciso partir e no entanto,
permaneço aqui parado.
Espero como se houvesse
um momento exato para cada coisa
nesta vida que se fez sem sentido.
Enquanto isso, o inimigo
continua avançando.
Seguindo sempre em frente.
Alguns passam por cima
de minha sombra já morta.
Eles não percebem
mas há lágrimas
em meus olhos cansados.

 


 

90

As pessoas estão sorrindo.
As avenidas são longas.
Os automóveis deslizam
pelo negro asfalto.
Há fumaça de cigarros
e frases que brotam
dos lábios que sorriam.
Eu somente caminho e observo.
Toda loucura é gratuita.
Posso inventar uma canção
que fale sobre coisas simples.
Enquanto os edifícios
proliferam e tocam as nuvens.
Um bêbado cria frases
proféticas e prolixas.
Eu queria estar ao teu lado.
Sentir o teu corpo ardendo.
Mas um dia, tudo passa.
Por isso, estou sozinho.
E caminho por esta longa avenida
que me arrasta ao esquecimento.

 


 

91

Todas as torres
e pirâmides segredam-me
os desertos percorridos.
As areias e o vento sibilam.
Antigos sonhos,
antigas civilizações.
O frio das estrelas
e as tempestades de areia.
Quanto ao sol,
lega-me a febril miragem
dos lobos e dos deuses
com suas longas tranças.
Algo ocorreu um dia
enquanto eu procurava
a fonte dos segredos
desta e de outras existências...

 


 

92

Eu vejo a longa estrada
e sonho com velha fotografias.
Você permanece frente ao espelho
como se a eternidade
refletisse todos os seus desejos.
Não cantaremos o futuro incerto.
As cidades se transformam,
as nuvens mudam de lugar,
os vagabundos estão em silêncio
e contemplam o infinito.
Não sabemos de nada, garota!
No entanto, escrevo frases
em velhos muro manchados
pelo sangue dos inocentes.
Frágeis frases que choram
as nossas dores e medos...

 


 

93

Silenciosos e aflitos corações!
Você sempre me olhou por fora
para jamais conseguir ver nada.
As suas mãos estão abarrotadas
de sonhos e ouro em pó.
Enquanto isso, a casa começa a desmoronar.
Você se arrasta pelas sombras
e corredores de meus sentimentos.
No silêncio da manhã,
alguns versos abstratos.
Às vezes, penso que podemos
salvar o que restou do que fomos.
Mas você tem andado ocupada
nesses últimos tempos absurdos.
Por isso, meus passos,
seguem os seus e se perdem por aí.
Todavia, eu sei há muito,
quando tudo começou a desmoronar.

 


 

94

As flores bocejam nos canteiros.
O mato cresce à nossa volta.
As mãos implacáveis do tempo
roubam-nos da idade, a paciência.
Envelhecemos obscuros
e perdemos nossos sonhos antigos.
Os cães ladram lá fora no escuro
enquanto esperamos que o dia desperte.
No entanto, perdemos a noção do tempo.
Nossos flácidos desejos
esgotaram-se sem grandes alegrias.
Fantasias soterradas do ontem.
Por isso cravamos facas
em nossos próprios corações.
Pelo mero prazer de não continuarmos
nesta longa jornada solitários.

 


 

95

A sua risada soa pelo deserto.
A cidade ainda continua morta.
Os corpos caminham sem vida.
Às vezes a melancolia é tudo o que resta.
Olhares absortos, vozes frias,
sonhos mortos, vencidos...
O que restará depois?
O sol ainda arde nessa tarde esquecida
em silêncio, ervas e embriaguez.

 


 

96

Por detrás dos muros
ou em meio às frases,
pensamentos são lâminas.
Nada com que sonhar.
O tempo furioso
arde sob este sol de sangue.
Esse tempo de violência,
segredos e sussurros tantos.
O que pensarão neste momento,
as velhas mentes assassinas?
Essas crianças que restaram abandonadas
a nos mirar com seus olhares de animais feridos?

 


 

97

O vento continua soprando
sua canção ininterrupta de presságios.
Anuncia o abismo
e velhos templos soterrados.
Memórias esquecidas
em velhas cavernas e taças de vinho.
Os ponteiros do relógio
derretem esse dia partido ao meio.
Corações empedernidos,
flores mortas e rostos
estampados nas rochas do esquecimento.
A mente embotada espera por um dia que
— nós sabemos —, jamais virá.

 


 

98

Eu estou fora de casa.
No entanto ela fica bem ali
do outro lado da rua deserta.
Pira, fogueira em chamas.
As pessoas estão gargalhando
enquanto o vento sopra
uma estranha canção falando
sobre nuvens gordas e prados.
Falam sobre canteiros e flores, menina.
Ainda ouço o tráfego lento
e as aves enfurecidas da imaginação.
O céu escureceu de repente
e os brancos lençóis nos varais
acenam por nós o adeus negado.
Eu estou fora de casa e talvez algum dia,
todos nós saibamos para onde nos levam
as estradas dos sonhos guardados.

 


 

99

Folhas em branco
carregadas pelo vento.
Pérolas e pedras
— velhas frases —,
ainda teimam em falar sobre sonhos.
Sonhos mortos ou perdidos.
As lápides são frias.
Os corações estão inquietos.
O medo subjuga os fracos.
Os fuzis estão prontos
e as inúteis bandeiras bailam ao vento.
Quando amanhecer
— se voltar a amanhecer —,
nos entregaremos ao inimigo.
Essa guerra não é nossa.
Nunca foi.
Eu não disse que deveríamos
marchar para as trincheiras
em busca da linha de fogo.
Há papéis picados
sobre corpos sem vida.
Hoje não tenho certeza de nada.
Somente penso: se após esta noite,
ainda haverá alguma manhã
que nos possa resgatar do medo.

 


 

100

Estamos ocupados e não podemos
gritar ou cantar neste momento.
Nossas bocas estão lacradas
com pizzas e sorvetes.
As guitarras emudecidas
restaram inúteis pelos cantos do porão.
Sonhamos com o futuro
sem nos atinarmos que o futuro foi ontem.
O novo é sempre o mesmo velho de sempre.
Corram todos para as janelas da eternidade!
As ruas estão vazias e sujas.
Os mendigos habitam as canções de Dylan.
Sabemos das facas e balas perdidas.
Os navios continuam navegando desertos.
As víboras fugiram há muito.
A cidade será destruída em breve.
Nós faremos palavras cruzadas
e assistiremos filmes em D.V.D.
Inventamos partidos e religiões
e, no entanto, continuamos destruindo
as estranhas catedrais.
Alguém puxou o lacre da granada
mas não havia intenção no gesto.
Por isso, já podemos adormecer em paz.
Criem seus acordes e liguem seus instrumentos.
Os meninos e as meninas estão prontos
e esperam ansiosos para esta viajem.
O tempo é atroz e os dias tão longos!
Sabemos que tudo isso
não tem mais importância.
A granada nos observa
e sabe que nos sentimos vazios
e cansados de tudo.
Talvez alguns fiquem chocados
com esta Torre de Babel.
Contudo, é provável que continuem sorrindo lagoas azuis
enquanto as ruínas estão cedendo
ao peso dos séculos e das palavras...

 

(FIM)
Mauro Gonçalves Rueda.
São José do Rio Preto — 1.998.


 

 

THE END

(The Doors)

 

Come on, turn the lights out, man
Turn it way down
Hey Mister Lightman
You gotta turn those lights way down, man!
Hey, I’m not kidding, you gotta turn the the lights out
Come on!
What do we care...?

This is the end
Beautiful friend
This is the end
My only friend, the end

Of our elaborate plans, the end
Of everything that stands, the end
No safety or surprise, the end
I’ll never look into your eyes again

Can you picture what will be
So limitless and free
Desperately in need of some stranger’s hand
In a desparate land
Come on, baby!

And we were in this house and there was a sound
like silverware being dropped on linoleum,
and then somebody ran into the room and they said:
“Have you seen the accident outside?”
And everybody said:
“Hey man, have you see the accident outside?”

Have you seen the accident outside
Seven people took a ride
Six bachelors and their bride
Seven people took a ride
Seven people died

Don’t let me die in an automobile
I wanna lie in an open field
Want the snakes to suck my skin
Want the worms to be my friends
Want the birds to eat my eyes
As here I lie
The clouds fly by

Ode to a grasshopper...
I think I’ll open a little shop,
A little place where they sell things
And I think I’ll call it “Grasshopper”...

I have a big green grasshopper out there
Have you seen my grasshopper, mama?
Looking real good...

Oh, I blew it, it’s a moth
That’s alright, he ain’t got long to go, so we’ll forgive him

Ensenada
The dog crucifix
The dead seal
Ghosts of the dead car sun
Stop the car
I’m getting out, I can’t take it
Hey, look out, there’s somebody coming
And there’s nothing you can do about it...

The killer awoke before dawn
He put his boots on
He took a face from the ancient gallery
And he...he walked on down the hallway, baby
Came to a door
He looked inside

Father?
Yes, son?
I wanna kill you
Mother...I want to...
Fuck you, mama, all night long
Beware, mama
Gonna love you, baby, all night

Come on, baby, take a chance with us
Come on, baby, take a chance with us
Come on, baby, take a chance with us
Meet me at the back of the blue bus
Meet me at the back of the blue bus,
Blue rock,
Blue bus,
Blue rock
Blue bus

Kill! Kill!

This is the end
Beautiful friend
This is the end
Mmy only friend, the end

Hurts to set you free
But you’ll never follow me
The end of laughter and soft lies
The end of nights we tried to die
This is the end

 


 

 

O FIM

 

É o fim
Querido amigo
É o fim
Meu único amigo, o fim

De nossos planos detalhados, o fim
De tudo que está de pé, o fim
Sem segurança ou surpresa, o fim
Nunca vou olhar em seus olhos outra vez

Consegue imaginar como será
Tão sem limites e livre
Desesperadamente precisando da mão de algum estranho
Em uma terra de desespero

Perdidos numa imensidão romana de dor
E todas as crianças estão loucas
Todas as crianças estão loucas
Esperando pela chuva de verão

Há perigo nos limites da cidade
Siga pela estrada do rei, baby
Cenas misteriosas dentro da mina de ouro
Siga pela estrada do oeste, baby

Monte a cobra, monte a cobra
E siga para o lago, o antigo lago, baby
A cobra é comprida, sete milhas
Monte a cobra
Ela é velha e sua pele é fria

O oeste é o melhor
O oeste é o melhor
Venha para cá e faremos o resto

O ônibus azul está nos chamando
O ônibus azul está nos chamando
Motorista, para onde você está nos levando?

O assassino acordou antes do amanhecer
Calçou suas botas
Pegou um rosto na antiga galeria
E seguiu pelo corredor
Ele foi até o quarto onde sua irmã morava
E então ele visitou seu irmão
E então ele, ele seguiu pelo corredor
E ele foi até uma porta, e olhou para dentro
Pai, sim filho, eu quero te matar
Mãe, eu quero...

Venha, baby, vamos nos arriscar
Venha, baby, vamos nos arriscar
Venha, baby, vamos nos arriscar
E me encontre atrás do ônibus azul
Fazendo um rock triste
Em um ônibus azul
Fazendo um rock triste
Venha!

Mate, mate, mate, mate, mate, mate

É o fim
Querido amigo
É o fim
Meu único amigo, o fim

Dói te libertar
Mas você nunca iria me acompanhar
O fim do riso e das leves mentiras
O fim das noites em que tentamos morrer

É o fim.

 


 

 

Notas

(*) – Site oficial da banda: http://www.thedoors.com

(** ) – Dados: Revista “Clássicos do Rock” — Editora Escala Ltda..

(***) – Alexandre Fontoura escreve para o Especial JB — Jornal do Brasil — com vários artigos em sites da banda “The Doors”. A ele, nossos agradecimentos.


 

PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DA OBRA.
DIREITOS RESERVADOS PARA MARICY REGINA DE CASTRO RUEDA E JOYCE DE CASTRO RUEDA.
REGISTRADO NO EDA DE ACORDO COM A LEI N.° 9.610/98.
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. BY: MAURO GONÇALVES RUEDA.


 

©2003 — Mauro Gonçalves Rueda
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Março 2003

 

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