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TITITÍS & FIRULAS

Mauro Gonçalves Rueda

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Tititís & Firulas
Mauro Gonçalves Rueda

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maurorueda5@hotmail.com

©2003 — Mauro Gonçalves Rueda


 

 

Índice

TITITÍS & FIRULAS
   Primeira Parte
   Segunda Parte


 

 

(Meio Que Poesia\Mais Que Catarse)

TITITÍS
&
FIRULAS

(POESIA)

 

Mauro Gonçalves Rueda
São José do Rio Preto.
Março de 1.999.


 

 

 

Para: Joyce & Maricy. Márcio, Rô e Flora Jacovani. Moisés e Pelé. Roberto e
Mara Ferreira. Minha mãe, meus irmãos e irmãs.

 

 


 

 

Tititís & Firulas
(Primeira Parte)

1

rabisco numa linha torta
uma reta
na linha do horizonte
repousa a esperança
da criança
vertical (mente)
não triste
contente
mira o céu
pressente
não o vazio
nem o ausente
querubins
presentes
cantam em coro
louvores
deus ouve
e chora
uma nuvem
de chuva
do céu
na terra
verticalmente
cai
a chuva
corre
horizontal
mente
a vida
da gente
sorria...


 

2

escrevo numa
linha torta
uma seta
na linha
do
horizonte
repousa
a esperança
da criança
verticalmente
não triste
contente
mira o céu
uma criança
na
lembrança
atrás da porta...


 

3

ora desperto
o céu aberto
explode em mil sóis..
na escala da vida
refaço meus bemóis


 

4

juro por qualquer
bobagem
que te amaria
pena que sei
tens a beleza
das flores
contudo
és uma
pobre alma vazia.


 

5

olhos entreabertos,
sorrindo, desperto.
pura, dura agonia.
e esse destino da gente
que nunca soube o que é
felicidade?..
Penso:
um dia serei contente!.


 

6

emudecido diante
dos absurdos da vida,
carrego nos ombros
o meu fardo de culpas.
talvez pareça demais:
esses estranhos seres
roubaram-me a vida
e a paz.


 

7

fotografias recortadas
de folhas de jornais.
o olhar, o sorriso,
a beleza, a ternura..
meu amor é somente
uma idéia
de te amar
Sandra Bréa.


 

8

sonho e sina
bela menina.
deslumbrante
magia.
em noite
de luar.
fingido, disfarço
e digo não te amar.


 

9

minha alegria
não vale nada.
faca afiada,
dois gumes
que cortam
e não dizem
da fada
esfarrapada.


 

10

no túmulo das dores
em que jaz a poesia,
ardem velas cansadas.
quando o cemitério
de palavras faz-se
deserto,
ninfas e anjos
passeiam
à céu aberto.


 

11

no silêncio da madrugada
assassino a fotografia
da minha amada.
“síndrome da vaca louca”,
pobrezinha, a sangrar,
ela muge desesperada.


 

12

as paredes sulcadas
emudecidas,
fadadas ao fim,
ainda choram
por mim.
penso:
a vida será
eternamente assim...
quando penso início
tudo se me retrata
o fim.


 

13

resolvo de vez
a velha solidão.
companheira inseparável,
brinca e mora
em meu coração.
o lá fora existente
é mera ilusão.


 

14

não fossem
os pulsos costurados,
o poema inacabado,
a mesa posta para o repasto,
essa faca de aço
ferindo o compasso,
juro que comporia
a derradeira canção.
arrancaria do peito
e, dar-te-ia,
meu pobre coração!.


 

15

meu medo é navalha,
adaga afiada,
caco de vidro,
feto em formol..
meu medo é segredo,
escorpião no coração!
meu medo
é feito a canção.


 

16

a boca crua
crava os caninos
em meu pescoço.
não há dor,
um pouco de medo,
talvez.
após saciada,
ela, vampira,
adormece.
mas, ambos sabemos,
que esta vida
não vale nada.


 

17

poeta aborrecido,
sinto-me morto,
perdido.
quisera ser,
de vez,
pela vida
esquecido.


 

18

a palavra não grassa
se a poesia é escassa.
na alma baça,
nada permanece,
tudo passa.
a vida resta vazia.
e a beleza perde
o brilho e a graça.


 

19

da janela,
ela acenava-me
e partia.
partia e sorria.
sorria e eu ficava.
ficava e morria.


 

20

insones madrugadas
e, tudo era tão nada.
o céu de estrelas salpicado,
você absorta ao meu lado.
a poesia?
ah, a poesia!
era tudo e nada.
por si (só)
ela se fazia.


 

21

a vagar pelo mundo,
correndo mil estradas,
desci ao fundo do fundo
e tornei porque sei:
no fundo do fundo
eu nada encontrei.


 

22

no espelho, o capeta
ria a troçar zombeteiro.
quase compactuávamos
a minha imbatível tristeza.
um dia, despertei pelo avesso:
quebrei o espelho e ri.
o capeta, coitadinho,
são cacos que depois
varri.


 

23

queria um pé de sonhos
lá no fundo do quintal.
veio alguém e me disse:
— mas isso não é normal.
o que me importa o que é
ou não, normal?!
até hoje,
continuo acreditando
em fadas azuis,
pelo meu quintal
brincando.


 

24

quero morrer
bem mansinho.
feito um passarinho,
quieto,
num canto,
sozinho.


 

25

minha vida
é feito a poesia.
dessas que a gente lê
e, sem querer,
pega-se a chorar
de alegria.


 

26

no poema
a esperança
é uma lança.
dessas que,
cravada na alma,
nos torna
de novo
crianças!


 

27

verso repentino:
do ventre da moça
— de louça —,
ouvi a sorrir,
meu futuro
e destino.


 

28

a menina queria.
eu dizia, não!
bela menina,
nunca soube porque não.
é que o amor
sempre,
nos deixa doentes.
mas não nos rouba
a razão.


 

29

febricitante sentimento
desesperado:
de tanto te amar,
trago no peito
o coração dilacerado.


 

30

a rubra rosa
no sorriso.
o mel pelos
lábios fruindo.
quando chegar
primavera,
transformo-me
em beija-flor
e trago o mel
de teus lábios,
minha flor!.


 

31

pai e filha
sentados ao meio-fio.
o tempo parco
parece parado.
o pai cismando:
desempregado.
a filha não.
esperança
e canção.
a filha viceja.
flor do cerrado.
quem permuta
um fio de luta?
o sonho
a labuta?
quem permuta
silente
solidão?
da menina
não!.
de um pai
e seu coração?!
quem?


 

32

coração de pai..
um suspiro, um ai!
pai amigo,
bondoso.
pai sem sorriso
entredentes.
nem triste,
nem contente.
(parece, às vezes,
indiferente.
contudo, não é!).
é um jeito
— sem jeito —,
de contar seu amor.
amor simples,
calado.
alado
ao lado
do ente
amado.
coração e amor
de pai:
um suspiro..
Deus!,
quantos ais!..


 

33

não diz (não)
o coração ferido.
cala-se,
encolhido.
tamanho
da solidão..
medida extremada
para coração
tão nada.
coração miúdo.
chora não, pequeno!
olha este poeminha
sereno
rindo-se da gente.
diz a verdade,
diz.
não o medo.
das mentiras,
segredos.
o que fere,
magoa,
é o sim
e o não.
feito faca
fincada
do amor que
nos mente.
sem saber-se
doente
nada diz.
no peito sangrando
queda-se mudo
sem ter paz
coração infeliz!


 

34
a vida
a morte.
a lâmina,
dois cortes.
nem o azar,
nem a sorte.
nem o sim,
nem o não.
a vida,
a morte.
o que ilude:
ilusão.


 

35

serena
a calma
resta a sombra
da alma.
o resto, não.
o resto?
ilusão.


 

36

que canto
este canto
tanto
meu
rolando
em pranto?!.


 

37

vazio,
frio,
roto,
torto,
morto..
o amor findo:
fiasco
do destino.
desatino
que destoa
do resto.
tudo o mais
sempre resto.


 

38

não (se) afobe
afogue
na bebida
este gosto
amargo
da vida.
hoje o amor
é pranto.
alma ferida.
ferida alma.
sem sonho.
sem paz.
sem paz,
sem sonho.
o que resta
da vida?.


 

39

como contar
o amor findo?
fenda se abrindo,
faca ferindo,
enquanto você
sorria...
como contar?.


 

40

não é sua
nem é minha
esta rua
reta.
restos
de vazio
no vazio
que nos resta.
não é sua
nem é minha
o que nem era
mas convinha.


 

41


ata
dura
essa
sina
assaz
(s)
sina
(d)
a
gente.


 

42

flores
entre
olham
(se)
(me)
entre
flores
sepulto
(me)
(se)
fores
flores.


 

43

a casa
vazia.
abarrotada
a casa.
vazia
a vida.
asa
e
vida
a
z
a
r
sem
a
r
como
respirar?.


 

44

todas as palavras
são
asas.
são
palavras
todas
as
pás.
o que
lavram
meras
palavras?.


 

45

como se o tempo
— cortado seu ritmo —,
arrastasse os passos,
fora do compasso
e nem desejasse
chegar.
de tal e de fato
vi a vida
passar.
como se o tempo
exaurido,
estancado,
avesso
aos tropeços
(toda a vida)
arrastasse os passos
fora do eixo
para nunca
voltar.


 

46

na caixa
jogos.
a vida
&
ao seu lado,
solidão.
se não me amas
porquê me enganas?
jogo doentio
guardado
em alguma
caixa.
vazio
jogo doentio
dentro do
vazio.


 

47

você me suga.
nada balbucio.
se me enganas..
se me enganas,
nada balbucio.
você me suga.


 

48

findou.
adeus.
jogos
dentro
de uma
caixa
adeus
vá para
os confins
e
um breve
adeus.


 

49

entrementes
sorrias
lâmina nos pulsos
sulco eunuco
flácida flecha
mecha de sangue
em cabelos
e desvelo
no joelho
o futuro observa
a selva
mecânica
pele em flor
flor da pele
concerne
urgente
mente
o que
sente
sóbrio
poeta
lavrando
eras
entre
heras
quimeras
tudo
se perde
do que
se ganha
entre
mentes

rias..


 

50

entre
vejo
ante
vejo
posto
o que
entre
tenho
atenho-me
(a tenho)
em ser
o que
não
desejo.


 

51

cláusula
primeira:
clausura.
na prisão
do eu
ser
o que
sonha
ser
o que
restrito
queda-se
aflito
sem ter
como
poder
voar!.


 

52

não se lavra
a palavra
na lida
sem dar-lhe
da vida
a própria
vida
em frases
perdidas
feridas
cicatrizes
lábios
em silêncio
na lida
lavra-se
a palavra
à pá.
o tempo
destino
em pó
migalhas
de sonhos
sulcados
por lágrimas
lambe
das mãos
e da testa
o suor.
a terra
recobre
a palavra.
a alma
é sopro.
alento
e
calma.


 

53

de repente
percebe-se
no espanto
o pranto.
manto
implacável
da dor.
a frialdade
da lápide
espanta,
contraria..
não a alma,
a caixa vazia.
de repente,
faz-se ausente
o sorriso
a voz
o olhar,
de quem
via-se contente
por nos contentar.
e a lida finda.
a alma, não!
passarinho solto
da prisão
por outros prados
searas e ninhos
foi cantar.
agora,
a saudade,
dolente,
na solitude,
é o que nos força,
saudosos
a chorar!.


 

54

tem preço
o apreço
ante
o tropeço
o que meço
e adormeço
antes
do início
após o meio
em que
reconheço
que todo
apreço
por si
é um preço?!...


 

55

a cada passo
traço
um compasso
a cada passo
passo
à
passo
refaço
o espaço
medida exata
para
o laço
da lida
da vida
em que
traço
meu
compasso.


 

56

reflito
não atônito
nem aflito
no que reflito
e se me fito
faço-o
ante o conflito
porque reflito
deveras
contrito.


 

57

versos
entre sonhos
destino adverso
da pobreza
das dívidas
brotam-se-me
versos.
não o corte
no pulso
no peito
a ferida
da lida
revolvida
da qual
me despeço
não meço
a dor
se feneço
pelo avesso
versos
teço.


 

58

que alegria
descobrir
no que não há?
ou se há,
porque
não descubro
onde está?
ser poeta
em tempos
sórdidos!
seres mórbidos!
melancolia
de minha alma.
é fria a fatia.
o fátuo fogo
esfria.
envelheço
e tropeço
nos escombros
do que seria.
do que poderia.
contudo,
não é.
jamais será.
fio tênues versos.
de faces doridas.
macérrimos versos.
a poesia é toda
a alegria perdida.
viver é morrer-se.
da morte,
arranco a vida.


 

59

assombro
em meio aos escombros
amiúde descubro
e desperto
o que distante
tão perto
perdido
tanto tempo
deserto
meu coração
eis o que me resta
eis o que vos oferto.


 

60

a dor
flor sangrando
poema nefando
da alma
que envelhece
com seus pântanos.
álacres palavras
iridescentes seres
na noite sombria
tudo e nada
melancolia
a dor
de uma existência
vazia
flor sangrando
na cripta
fria.


 

61

versos
seres alados
jamais calados
gritam por si
o que passado
o que há por
vir
de fato
tanto inconteste
pelo sonho
que me reveste
a alma em poesia
é que versos
os penso alados
embalde
luto na solidão
vagando searas
com o silêncio
rufam asas
de versos
seres alados
que gritam
por nós
o destino
— às vezes —,
atroz
atrás os passos
sons fantasmas
de sonhos mortos
de versos tortos
seres alados.


 

62

que entreolha
não revela
na noite
este amante
açoite.
feito verso
trespassa
o coração
a dor da traição.
o amor
é enxovalho
chacota
riso demente.
pura e casta
adormece
fingindo
fugindo
traindo
a poesia
o companheiro.
prazer, loucura,
dinheiro?
estéril geladeira
espalhada no leito.
frígida
indiferente
não sente
não p/rosa
e rouba
este resto
de vida
torta...


 

63

na fumaça
baça
a vidraça.
coca-cola
formol
diazepan
suicídio
na borra do café
no pé
frieira
olhos congestionados
pensamentos
sonhos
desejos..
calado!
boca selada,
cerrada janela
que violenta o vento.
meu tormento
não cabe;
não sabe
meu sentimento.
dor,
ferida,
agonia
na fumaça.
a mulher fria
embaça:
a alma,
a vida
e a poesia.


 

64

nem ter
ser
talvez
menta
bala, frase,
verbo.
não e nunca
adunca
a forma disforme
atormenta
o desejo
a pureza
das crianças
inocentes.
os sobreviventes
da noite calada
parvo e pouco
que me sei
nada ser
talvez nem ter
e no peito
o moribundo
poeta roto
suspira
a sala vazia
o café, o cigarro
o segredo
o revólver
na gaveta
esconde
o futuro...


 

65

a caneta
antiga pena
verso mordaz
o que lhe apraz?
compraz?
na boca
ranço gosto
tempo perdido
sonhos mortos.
remonto ao vencido
herói de galocha
e não me encontro
no avesso do espelho.
só o sonrisal
só o ponteiro
do relógio inexistente
resisto descontente
tristeza fútil!
melancolia tola!
sem aflição
a camisa-de-vênus
guarda a frase
não dita.
masturbar
o corpo carente
a carne.
a alma
esfuma,
foge...
não me apraz
este gozo mórbido.
mas gozo!.


 

66

por acaso
ou não
perde-se a esperança
com ou sem
razão?
o caso
não conta
faz-se de conta
que tudo vai bem
não conta
o acaso
no caso de
casar-se
este por acaso.
nem as flores
nem há flores
no vaso.
e as paredes
manchadas
guardam
tudo e nada
sei
que o acaso
me salva
do amor
inexistente
doente
faz de conta
que sonsa
um dia desses
nos encontramos
pela casa
fria...
vazios.


 

67

lua
lua lua
pedaço
da vida
que perdi
pela rua.


 

68

forço
o nó em pó
deste laço
enlaço o pescoço
o caroço da azeitona
o sorriso da atriz
a voz do cantor
se me perdoas
lambo pés
e mãos
se não há
perdão
não haverá
canção
somente o laço
(em que)
no qual
me embaraço
rimo
não rio
o verso
trôpego
meu
compasso.


 

69

absorto
nunca percebi
que estou morto.
distração, amiga!
se por acaso
ainda sinto
este desejo
de entrar
em você,
desculpe-me.
quedar-me-ei
sereno.
talvez, eunuco?
afinal,
o que há de melhor
no veneno
senão o próprio
veneno?.


 

70

lá fora
aqui dentro
fora-dentro
lá-aqui
dentro-fora
aqui-lá
em qualquer
todo lugar
não adianta
fugir
estarei
estou
em todo
lugar!.


 

71

ontem
não raro espanto
o falo na garganta
havia sol
de repente
você abriu
as pernas
e mergulhei
em seu lago
bem fundo
no fim do mundo
alguém gritou:
— desperta, poeta!.
— my name?.
mauro
mouro
bronco
brucutu
dinossauro
mourejando
laborando
morro de rir
trocadilhos
tortuosos
tuas entranhas
apagam o sol
do papel
dentro de você
fico mirando
o céu
amanhã desperto
há muito
o mandrix
desapareceu
da praça.


 

72

ok, baby!
essa saia justa
não é justo
meu torcicolo
a espinha dorsal
deve ser o mal
se você falasse
menos
e chupasse mais
balas de hortelã?
acho que vou ver
um filme na TV.


 

73

de maluca
a nuca
e as bolas
azuis.
o céu estrelado
meu olhar parado
vidrado
chupar
lamber
suas orelhas
e os brincos
derreter
sorvete ao sol
sob a metade
do dia posto
pastando
em seu gramado
molhado
acre
de suor.


 

74

feras
primaveras
quimeras
tempo ido
perdido
dentro
de uma jaula
as feras
que alimento
com tormento
poesia
sentimento..
sinto muito!..


 

75

hoje
nunca será tarde
mesmo que você
lancinante dor
doril
com cerveja
e um bolero
candelabro
meia luz
cheirar umazinha
vezinha só
piedade
nunca será
tarde demais
se você der
eu morro
em paz.


 

76

quando a enfermeira
rapou meus pentelhos
dopado & conduzido
à mesa cirúrgica
circuncidado
perdi a pele
o escalpo
bandida sioux
apache
comancheira!
o pinto em ataduras
mumificado
preso
apontando
para o umbigo
mais 45 dias
jejuando
— porra!
estourei os pontos
no espanto
da menina
eu sofria
ela ria
l5 anos é cócegas.
eu 25.
ela: “põe!”.
eu: “não!”.
até hoje
continuo
criando cabelos
na palma da mão.
vida besta!.


 

77

bons tempos
parecem perdidos
envelhecer
& lembrar
é= a sofrer
viver é arte
magia § loucura
da soma de todos
os versos
este vazio
acaba em melancolia
é o que fica
perdura
não se apaga
nem se perde
é= a sofrer
até que a sorte
nos separe
amém!.


 

78

não rola o pranto
no prato de sopa
no linho da mesa
branca toalha
manchada.
brindemos
o pão & o vinho
pelo vão
do tempo
o pranto
coagula
em vão.


 

79

amor & mandiopã
kolantil-gel + suspiro
paixão X vitamina C
sorvete de morango
lambida no pescoço
o caroço?
cospe!
na língua o fogo
ardendo febril
feito a primeira
paixão
quem esquece
a melhor da pior
foda que se deu
na vida?.
é feito o “pop”:
a 1a. camisinha
a gente sempre
aquece & esquece
o 1.° aborto
é uma merda
que nos emputece
por toda a vida.
e assim
tocamos a boiada.
um dia mete
outro idem
azia, benzinho!
dá leitinho, dá!
ah, os biquinhos!
só a cabecinha, vai?!...


 

80

complexa
a poesia
requer
sensibilidade
palavras lapidadas
feito diamantes
pérolas
paciência
silêncio,
solidão,
paixão...
complexa
a poesia
requer
rima e vergonha
tudo rima
falta decência
vergonha
competência
no vestibular
o poeta
esteta
das palavras
entra com tudo
pena
que as bolas
(as duas)
jamais passaram
pela porta:
batem
mas não são convidadas...


 

81

que tristeza
esta
de fim de festa?
carente
o poeta,
na solidão
da madrugada
silente,
sente e sofre.
sofre e mente.
contorcendo-se
em dor
finda em úlcera
o amor.
com sazon
uma bundinha
e imaginação
para quê tristeza?
para quê poesia?
poesia sem bunda
é uma bosta!.


 

82

nesta luta
com palavras
e rimas
é um vai-e-vêm
que ninguém imagina
imagina rima
angina
angelical
vai, gina!,
vai!.


 

83

os pés..
aliás, centenas, milhares
os pés encardidos,
movem-se rapidamente.
rostos, máscaras,
contrastes contritos
destacam-se em fuligem,
fadiga, estresse, desesperança..
é verdade!
de alguns lábios,
podemos ouvir palavras e risos.
algumas frases dóceis, amenas,
outras iracundas, outras ainda,
se nos soam apáticas, conformistas..
como se fosse violentada
e tangida, a multidão apressada
não perde o ritmo, o compasso,
o tempo...
no contrapasso, refaz-se.
ainda que aturdida, coletiva.
são solidários, acredito.
há uma certa necessidade dessa massa
sentir-se menos patética, desumana.
os gestos e os ríctus confundem-se.
selva de pressa
do agora
do imediatismo
urgente na mesmice
afinal,
parafernálico
é o caos.
o gado estoura pelas avenidas.
somente um colibri
chora lágrimas
urbanas
as
18
horas...


 

84

de repente
a melancolia
fatias de melancia
no brilho do aço de faca
no prato o reboco
restos de uma primavera
alaridos de jardins
no peito, o coração
farrapos humanos
cabisbaixos e feridos
vorazes máquinas
balas de hortelã
gosto amaro nos lábios
a tristeza, caso à parte
um verso branco
refaz a paisagem
batom manchando o colarinho
a veia pulsa rítmica
velhos, antiquíssimos carnavais,
frases desfeitas, estilhaços..
mansa apatia do sonhar
crepúsculos derramados..
do alto da plataforma
a vista acompanha
a inquietude, o desassossego
lá embaixo
o tráfego urgente
a moça sorri
uma lágrima teimosa
nem sei bem porque....


 

85

tempo irado
de carranca cismando
inseto urbano
mascando chicletes
jornal sangrento
apertado sob o sovaco
suarento
um toque de poesia
na correria desenfreada
saudade de tudo e nada
pupilas dilatadas
sob trovoadas barrocas
medo e insegurança
na próxima esquina
a faixa e o sinal
do trânsito o destino
inconteste, descontrole
se o avião pousasse
nesta longa avenida
hora do ‘rusch’
impertinente fumaça
de repente a chuva
alagando as almas
óleo na calçada
bitucas de cigarros
velozes sob marquises
o pastor no radinho
louvado o senhor
bastaria uma bala perdida
um beijo de despedida...


 

86

a voz enfática
que vela
revela, visceral
a morte certa
seres estranhos
colarinhos e gravatas
concreto e argamassa
nas orelhas e pênis
o poeta azul
o poste
a menina
pianíssima a melancolia
em meio aos espigões
os dedos buscando notas
no teclado arredio
floram (nostálgicos)
a menina e a cerveja
saudade do interior
Flora sorria
inocente o poema
baila ao longo da avenida
digerindo diazepan
olhar congestionado
indaga o que ocorreu
nos últimos quinze anos.
Flora sorrindo
anoitece suburbanamente
crepuscular a barraquinha
a mesa, os copos, as vozes..
às vezes, Flora sorria.
o poeta esperando pelas estrelas
no céu...


 

87

entediantes dos sapatos
os calos seguem
ruborizado crepúsculo
não ter mais para onde ir
nem aonde chegar
a mala abarrotada
são velhos fantasmas
conhecidos antigos
o que restou lá atrás
o que se desconhece
após a primeira curva
caminho longo
cigarro, solidão, asma,
apáticos, anêmicos sonhos,
desejos sufocados...
são realmente silentes
os pensamentos..
atormentado, aturdido
sob o fardo segue
pesado sobre os ombros
repensar quimeras
arquiteto de planos
sendo atropelado
pelo tempo parco
tanta distância
essa melancolia
a saudade
a vida
salto para o palco
mas..
nunca houve palco algum
para o salto
final...


 

88

por fim,
descubro os dedos
dos pés.
sei que
não enxergo
um palmo adiante
do nariz.
a cerveja
azeda a madrugada.
se penso em você
e esta lua alvíssima
— penso, não vejo —,
as melancias
no quintal
o estômago embrulhado
o olhar embaçado
mergulho a cara
no que escrevo
nada desejo
sequer almejo
a manhã desperta
a porta aberta
e meus pulmões..
desesperado
procuro pelos óculos
mas nada
sequer a lupa
nesta labuta
me salva
penso:
— porra, meus óculos!
porquê você os mastigou, afinal?.


 

89

mutucas e vampiros
sugam meus artelhos
enquanto o sol
derrete o meio-dia
já não resta
poesia
no colarinho que
sufoca
abarrotado
de expectativas
e vazio de esperanças
danço
no contrapasso
do compasso.
a vida engana-me
um tanto morto
quase absorto
suponho o futuro
em minha miopia.
alegria vazia
de alegria.
feito um cavalo
manco
recosto-me
no barranco
do destino
os pulsos cortados
a falta de sorte
é o que me alenta
tão casmurro
aprendo a ser burro!.


 

90

nem o caos
sorria.
almíscar
no pescoço.
o fumo/fumaça
que evola.
radiola antiga,
velha intriga
do amor apressado.
embriagado te amo.
sóbrio odeio.
nostalgia barata.
no bilhetinho
guardado.
o futuro envelhece
sob camadas
de esperanças.
de forma que,
vou enlouquecendo
em meio a sonhos
baratos
e versos mancos,
brancos, apáticos.
nada disso importa!
sou velha sombra
morta,
atrás da porta.
berro um palavrão.
as pessoas não entendem.
nem eu.


 

91

não conta
esta rua
lua antiga
pergaminhos
lixo poético
meu coração
não, não conta
a solidão
a rima
o amor
a lama
o que te deixo.
sob o travesseiro
a lágrima
o sal
e as cantigas
cansado
de tudo
e de todos
concluo:
melhor esquecer
e morrer.
com sorte,
talvez,
eu nem sinta
a dor
e o medo.
coisa
mais
besta!.


 

92

caótica
a candura
do verso
frente ao futuro
dentro do aquário
a ampulheta
braços de estivador
para a dor
a vida é fera
lá fora
e dentro do peito
a sorte é faca
morte certa
em dois gumes
lanças & espadas
empadinhas
e tubaína
discutimos política
falamos alto
berramos enfim
mas ninguém nos salva
da fome do
governo
do poetariado
esta classe
sem pose,
masco ramos
de capim..
não importa.
basta disso tudo.
acho que é isso.
mais ou menos
o fim!...


 

93

quando a vejo
quando há
vejo
se há: vejo
quando eu
a vejo.
quando?


 

94

absorto
não o morto
em decúbito
o dorso
o torso
torcicolo
na geral
a torcida
torce
o morto
absorto
abstêm-se
abstêmio
não torce.


 

95

felicitamos
a fórmula
em meio
às flâmulas
festivas
firulas
fornicam
a nossa
massificada
consciência.


 

96

tudo seria
somenos
não fosse
fácil ou fútil
o ócio
fixo
em mente
o vazio
não sorrio
entrementes
todo poeta
esteticamente
não obstetra
parto
e deixo
a porta
aberta.


 

97

relapso
relato o lapso
sou o que traça
no traço o que sou
e faço
mesmo quando
relapso
forço o traço
me refaço
sem métrica
ou compasso
narro
e abro
ocupo
meu espaço.


 

98

que o poeta lavra
sepultura que cava
trêmula a mão
que sufoca
o coração
não a rua
passos apressados
parco tempo
para o café,
o amor,
a cerveja,
a própria existência.
versos que o poeta
lavra e lava
a lava
que queima
teima
na solidão
o poeta que
enterra
o coração.


 

99

a dor
sem medida
exata
para a vida
existência
perdida
jogo paciência
em minha demência
porque te amo
nada importa-me
a vida
a vida é louca
tão breve
pouca
a vida..
o que importa,
afinal?.


 

100

Porque
há sempre
este q. que
nos faz sofrer?
um que
de querer
mais forte
que se viver
ou morrer.
um que
que indaga
questiona
perquire
inquire
sabendo
não haver
resposta
ou quem possa
responder
por quê?.


 

 

Tititís & Firulas
(Segunda Parte)

1

da vida,
a
morte
é
o que
realmente
me
intriga.


 

2

fazer & refazer
o que já feito
bilhões de vezes
à perfeição
o imperfeito.
eu
desatento
com este
mero esboço
dou-me por
satisfeito
imperfeito.


 

3

aos trancos
pela vida
e barrancos
tento ser poeta
não me afetam
a rima
a palavra
o verso
imperdoável
sim,
o café
na madrugada
pobre e falido
sem um tostão
uma caneta
é tudo o que
possuo.
no mais,
aos trancos,
e barrancos,
tento
ser.


 

4

mais que arte
desafio
escrever
de estômago
vazio.
a poesia
é fome.
a fome
sem nome,
sem grana,
sem fama..
na solidão do
cigarro,
as palavras
adquirem vida
vida própria,
preciosa,
precisa.


 

5

declaro para os devidos
afins
que nada tenho a dizer.
escrevo por preguiça
fugindo da lida
nadaquefazer
entedia
o ócio dos ossos
fóssil & fácil
sentimento
atormentando o momento
em que me atormento
vazio pensamento
divago aborrecido
sem direção
sem sentido
não encontro
um fim
para o início
ou o meio
em que vivo
ou finjo
sentir....


 

6

de repente
na madrugada
mais que o desejo
o beijo
o pênis nas coxas
o vazio
o nada
o poema perdido
lapso
pernilongo cego
tateando a bunda
ofício
orifício
buraco
melancólico
observando o teto
o que tece
a aranha tece
púbis pasmacento
no momento
a lua lambe
o umbigo da rua
perdido
completamente
apático
conto carneiros
sonhando acordado
antevejo o que
desejo
a lua sorrindo
o céu se abrindo
o gozo vindo
de repente....


 

7

na boca
a língua
lambe lépida
a mente
rouba-me
todos os sonhos
e miojos
miolos.


 

8

atua a minha
voz
tangendo
fantasmas
sob o lençol
frio nos pés
iogurte mancha
o colarinho
seios
cartão descrédito
fato inédito
a revista em piquadrinhos
no ninho e casulo
louvo as paredes
as unhas roídas
a vida arranha
assanha
a borboleta
na vidraça
baça a taça
de sangue
enluarada.


 

9

feito um velho
carro de bois
pela longa estrada
vou rangendo
sob o sol desatento
um jato passa
a moça sorrindo
sabonete, cotonete,
vinagre, shampôo...
no elevador o sarro
tetas moles
vida dura
o café amarga
o mouse
1 gigabaite
de memória fodida
talvez seja o cigarro
neurônios estressados
rangendo rodas
e o sorvete
derrete
asfalto
e prédios antigos
tusso e rio
melancolia amara
feito um velho
esfalfo-me
enfarado
a perseguir
estrelas
e cometas.


 

10

não luto
em vão
com palavras
são asas
chicletes
via Internet
interno-me
neste hospício
difícil/mente
minto e trago
pílulas/cápsulas
nos bolsos
sobrevivo
o que sou
o que careço
apanho pelo céu
o que mereço
verso sem rima
atropelado
nu pela avenida
berro e uivo
sob as lagartas
de um tanque
que esmaga-me
e manchado de sangue
mastigo a carne
hambúrguer
indigesto
não presto
não luto em vão
com a dor
e a solidão
sou o que elas
me dão...


 

11

brega muito brega
prega sobre praga
bolero e empadinha
café de rodoviária
moscas varejeiras
trechos de falas
jornais manchados
cães e gatos
sapatos e fumaça
traças no pensamento
miséria e lascívia
meus chinelos
cueca samba-canção
na testa ruga
preocupação
prestações vencidas
beco sem saída
é tudo tal e qual
vida querendo
imitar a vida
novela piegas
na “Central do Brasil”
a atriz escreve
prometo chorar
mas borro as calças
no primeiro disparo
a bala é brega
bem no coração
acho que vou morrer
será bom ou ruim?.


 

12

a minha amada
é um amor
hoje foi dia de visitas
os comprimidos
deixam-me sereno
eu disse a ela:
“vou fugir, marijuana!”.
sacana, ela ria
segurando meu tênis.
(eu troco as palavras)
vou visitar os doentes
na enfermaria
ateei fogo no colchão
e raptei o papa.
disseram-me que
eu deveria parar.
definitivamente,
estou ficando
cansado dessa porra!
escrevo para a minha
mãe
porque acham
que eu enlouqueci
pirei?
hoje não quero
mais nada.
desisti de tudo.
até de “marijuana”.
a minha
doce
amarga.


 

13

no meio da festa
levei um tiro na testa.
eu disse:
— porra, isso dói!
dor de cabeça
a bala no cérebro
incomoda os pentelhos.
acho que urinei
numa taça
e vovó dizia:
— comporte-se, menino!.
mas ninguém entende
ninguém me entende.
estou triste.
meu amor não me vê.
olha mas não
me reconhece mais.
acho que é o tempo.
tomei melhoril
páradorpára!
agora teço uma prece
com pressa
antes que tudo
termine
o carnaval
o feriado
o domingo
o sol
a bala na testa
a festa
deus!,
porquê sempre
me abandonam
no escuro?!.


 

14

agora
todos os dias
são iguais
os lençóis
e as borboletas
nas paredes
filetes azuis
na cela
uma tela
nela a vida
sangra em
video-clipe
ou teipe?
não importa
o que entorta
atrás da porta
um olho me observa
rio pra cacete
e sei que nada
vai mudar.
por isso,
nesse lixo
dou-me ao luxo
de esperar
não importa
a fatalidade
entre grades
grandes olhos
observam-me
atentos...


 

15

pé ante pê
inda vou te comer!
mastigar, engolir
e depois suicidar-me
feito um palhaço.
mas você é tão
mesquinha e feia
que nem vale
a pena
que me corte
uma veia
deu-me na telha
de repentelho
diante do espelho
o olho do cu
vermelho
e você nem aí
e você numas
e eu por fora
completamente
espremendo minha
vida
ralando
a bunda
de segunda
à janeiro
que se foda
se eu morrer
mando um postal
azia e sonrisal
outro dia
você
me come,
me chupa,
mastiga,
e
cospe
o bagaço.


 

16

entrementes
o prepúcio
do prefácio
é o frontispício
do que não fácil
faço alface
do que somenos
importância
em que
as circunstâncias
são-me impróprias
para o impropério
meros artefatos
da língua
artifícios do olfato
que o ofício não traço
na linha que me re(s)ta
afeta a retina
a abundante
debutante que passa
ultrapassa devassa
pudica mente
entreolha-me arfante
elefantíase boçal
isso aqui vai mal
ser normal e coisa
e loisa e tal
no etecétera
é que me ferro
facilmente descerro
cerro meus portais
e vivo somente
de ais...


 

17

não estremeço
se o olho fita
o que não vejo
à meio tom
o arpejo do desejo
não o beijo
previsto quando
visto-me
e avisto
pelo olhar
disto de você
que me olha
e nem me vê
se por acaso
a vir
direi não
estremeço
me derramo
pelo chão
opostos
entre versos
somos avessos
pelo avesso
do fim
em que tropeço
meço a métrica
enfarado
dessa tessitura
que não suporta
a candura
da sombra morta.


 

18

o que mais nos
atrozes
atrai
na madrugada
posto que tudo
repete-se
nada
que qualquer fada
não disponha-se
interagindo
haja vista
a pista
do que nos dista
mais que inexista
não o que entregosto
lambe lépida a língua
esta mingua amingua
do amor extinta
sem que se perceba
o que quer sinta
por distração
cilada que trai
o que atrai
para si
sob o manto
pranto de estrelas
pérolas
auréolas
que nos minta
entrevírgulas
sucintas...


 

19

em frangalhos
velhos versos
espantalho
sou todo avesso
e atrapalho.
tanto que
não caibo
no ressaibo.


 

20

a pane psicológica
(ilógica)
atropela a rima.
o que me angustia
o que me alucina
não a rima
ou a sina.
tampouco o que
na mente,
me adoece.
o que me
aborrece,
na mente,
fantasma presente.
não sou eu
o eu que sente.
e sentindo
refuta a luta
entre o eu e o outro.
o que me adoece?
a mente q. sente.


 

21

a mente
a única
demente
que mente
ou sente?
a mente
sente?


 

22

entre faço
o pré
fácil
pós fazendo
o que feito.
não rima,
bem sei
o que desfaço.
sem métrica
ou compasso
é fácil fazer
o prefácio.


 

23

o id. — o ego
o ego — o id(iota).
quem manda
comanda
desvario
sacripanta
o ego ou o id.?
você quem sabe.
ou não
se
decide?.


 

24

entre mentes
o que absorvente
absorto
dissolve a tarde
crepuscular
ardente
asfáltica pressa
de presa perplexa
que tão somente
mente, consente
doentia/mente
de repente
não compensa
— conclui estressado —,
(o salário,
horário,
ilusão comprada
à prestação...):
o pobre coitado.
da vida, o malfadado
enfara
o coletivo
a massa
que passa
(a) boiada.
tão nada!.
estrelas brotam
melancolicamente.
a cismar,
o ser pega-se
a sonhar....


 

25

o que não traço
no compasso
é que me embaraço.
fumaça de óleo
pelos ares/altares
em que ajoelhas
e oras/bolas!


 

26

um olho
mira
o que
não chora.
um outro
chora
o que
não mira.
sob pneumáticos
já não sonhas.
suicídio coletivo
no cartaz
de aviso.
acolá,
jaz.
que o senhor
o tenha
e guarde
em paz.
reflexo
da fé
em infalível
fórmula
firula outorgada
por tudo
e nada.
faca afiada.
ferida famélica.
sobrevida.
o que
não faço
retrato
no compasso
em que
me embaço
sem rima
na sina
do contra
passo
danço
à medida
em que
retrocedo
avanço
e
jamais
me alcanço.


 

27

a lua
na rua
nadam
nas retinas
sonhos
de meninas
e meninos.
descerro
o destino.
cerro
portas
e janelas
quem me esquece
tanto
me espera
em pranto.
sou pouco
tão nada
e tanto..
tanto que
me espanto
nas retinas
com que fitam-me
a lua
a tua
a nossa
menina
minha/nossa
sina(s).


 

28

finda a estrada,
com ela, os sonhos,
a jornada.
o que deixamos
é o que fomos.
o que seremos
é o que merecemos.
mais nada!


 

29

o amor!
somente o amor,
recrudesce a dor,
e nos faz perdoar.
que a humanidade
jamais deixe
de amar.


 

30

na manhã partida
o beijo guardado,
no cinzeiro esquecido,
nos lábios molhados.
sangue da aurora
rompendo a manhã.
meu corpo cansado
anseia por lençóis.
minha alma faz tranças
nos cabelos do tempo
e,
jamais descansa!.


 

31

poeta das madrugadas
manuseio as palavras
e sulco entre nuvens,
um caminho de estrelas.
uma delas, é você que,
sorri lá do alto
e me acena.


 

32

saudade, mãe!
bulindo no peito
e nas lembranças.
um beijo, mãe!
ainda continuo
— apesar do tempo —,
a mesma criança!.


 

33

o céu desaba
pelo avesso
do avesso
em que
me desconheço.
após o céu
desabado,
adormeço
acordado.


 

34

pela fresta
meu olho mira,
contesta.
a testa franze
o cenho em transe.
colóquio e
meus óculos
são duas gemas.
adoro ipanema
quando a vejo
no cinema.


 

35

a palavra é.
sustento de pé
intocável e
o mundo imenso
penso tão só
a pedra de mó
no jazz sentimental.
se me dizem não,
creio seja
normal.


 

36

eu digo
calo-me
imbuído
nos bemóis
e sustenidos.
nada disso
se me parece
fazer sentido.
sinto-me ido.


 

37

louçã e lívida
loquaz a palavra
paz.
impávida, ávida,
a vida
nos apraz.


 

38

bandeiras ao vento
bananeiras/cimento
tremulam sob o sol
concreto o tormento
eu que não me contento
canto e me arrebento
grudado às saias
da mãe baiana
de pernas bambas
em meu sustento.


 

39

calo
sufocado
pela ira
revolto
envolto
em névoa
o que nos
preserva
o que me
reserva
nesta sangrenta
selva?.


 

40

mãe preta,
mãe de leite.
branco franzino
atarracado nas tetas
fartas de mãe preta.
pensavam fosse enfeite.
o menino branco
matando a fome
e a fome
nunca teve cor.
que deus a tenha
mãe preta,
sem nome!.


 

41

para todos nós
o pão redime
na redenção
a fome da carne
para a alma
na calma
a benção
feito o verso
e as linhas
nas palmas
das mãos.


 

42

caí, rolei
pelos degraus
da escadaria.
sobrou nada
cacos estilhaços
colados à esmo
nunca mais
serei o mesmo.


 

43

réu confesso
pedaço do sol
despenca do céu
derretido permaneço
anjo avesso
mira um olho
o outro/cego
morreu.


 

44

nada de especial
na espacial mesosfera
nada que me prenda
surpreenda
os deuses exilados
de capela
são tão reais
quanto a lenda.


 

45

luz
puralimpidamente
semente do destino
luz
que empurra ilumina
a sina deste menino
luz
lucidamentepura
puramenteluz
reluz..


 

46

timidamente
timbre e som
nas cordas vocais
em consoantes
vogais..
o eco são seqüências
de ais.


 

47

um gosto de amora
encarnado nos seios
sem receio
a língua
lépida
desliza
os lábios
brincam
passeiam.


 

48

a poesia lamenta
a desestrutura
psicológica
do psicodélico
poeta
e pede escusas
ao leitor
pudississimamente
chocado
pelo ismo
do abissal
ácido
resgatado
por um chegado
proveniente
do
nepal.


 

49

no conflito
luto aflito
contra o que
em meu ser
deseja o normal.
no embuste
sangrento
um é tormento
o outro,
bacanal.


 

50

desanoitece
a tessitura
fenece
no sol
despontando
cristalino
o olhar
orvalho
na relva
corpo
na relva
a mata
transparente
do corpo
na entrega
tragando
a manhã.


 

51

entrei na dança
sem saber dançar.
à cada passo errado
vi um sonho perdido
e a festa findar.
jamais desisti,
vou continuar.
mesmo não sabendo
onde desejo chegar.


 

52

falsos, nos adoramos,
numa festa pagã.
na orgia, deus baco,
vinho e flauta de pã.
hoje tudo o que
me resta,
é essa envenenada
maçã.


 

53

porra!, que coisa
mais chata:
o amor que te alimenta
é o mesmo
que me mata.


 

54

porque você sorria
com os cabelos molhados,
bicos dos seios eriçados
e os lábios sedentos..,
de repente, percebi,
a ereção que fez-se
tormento.


 

55

felicidade amorfa!
nem parece ser
o que tinha que..


 

56

quando te vejo,
desperta a aflição.
olhos no chão,
frases desconexas..
mas o que mais me trai
é esse batuque descompassado,
atabalhoado, dentro do peito..
pobre coração sem jeito!.


 

57

sem inspiração
mexo no pinto.
coisa sem graça
para um poema.
contudo, não vamos
nos atazanar.
uma das cabeças
tem que funcionar.


 

58

não fale alto
porque, de fato,
não faz sentido.
o tom da voz,
somos nós.
timbre, altura,
intensidade, duração..
a voz que vale,
brota mansa,
vem do coração.


 

59

a tarde labirinto
em que me perdi em sonhos;
à qual exponho-me
derretendo sob o sol
asas e novelos
em cristal diluído..
a tarde, não resolve
meus sentimentos.


 

60

agora sei:
para a morte,
falta-me um pouco
de sorte.
por uma fresta
meu olho que vê
observa atento
a modorra do dia.
cismarento creio
seja o verão
porque, a chuva,
se me parece
ilusão.
os urubus estão
sorrindo sobre
o muro.
no escuro silente
dessa tarde pachorra,
ainda sonho em ser
quem sabe,
contente
e, no ano passado,
não mais ter que sofrer.
a morte não sabe
mas as avencas murcharam.
os seios da louca,
a fé que tão pouca,
minha voz já rouca,
frontispício do fim.
a morte é frágil
porque já morri ontem.
mas hoje não tem carnaval.
falta um pouco
de sorte.
no mais, não passo,
de mero pacote.
prestes a explodir.


 

61

na tormenta
do introspecto
sentir,
o calendário
inexiste.
porquanto,
o bestiário
de palavras
faz-se em diário
que não lava
a mente
ou a alma
apascenta.
sou eu que
desperto
em meio
ao caos
futurista
sem ter
uma pista.
olhos injetados
pelo sangue macerado,
observo no espelho
um futuro já passado.


 

62

alegria embalsamada
de poeta aos tropeços..
viro-me pelo avesso
e não encontro-me
mais do que o que desconheço.
estipulo
o meu preço
pelo verso que teço.
ora, senhoras!
oras, senhores!
sei que pouco valho
não mais que a intenção!
contudo, pulsa-me o coração.
essa promessa de ilusão,
qual cigarra em meu peito.
não há flores,
nem primavera.
tudo não passa
de vã promessa.
mercador de quimera,
semeador de palavras!
contudo insisto:
já fiei-me no que sinto.
hoje vou aos tropeços.
o que me separa
de desconhecidas eras?
não sei responder.
tudo o que sei,
é que tenho que morrer,
para poder sobreviver
com essa alegria
embalsamada!


 

63

aprender a sofrer
sem porque do silêncio.
conheço de cor
seu sorriso e olhar.
sei o que você
guarda para me dar.
aprendi com a solidão
os mistérios da carne,
os segredos da canção.
e nada disso me interessa!
essa vida urgente,
refeita dos escombros!
este resto de mim
que parece nunca ter fim.
na projeção programada
é que te pego descuidada.
e você sente medo,
nunca aprendeu a sangrar.
nunca aprendeu a sofrer.
meu desejo
viola suas muralhas.
você não sabe nada
do que tentei dizer.
aprender a sofrer
no silêncio posto..
enquanto corres
nunca olhas para o lado.
este é o segredo:
conheço há muito,
tudo o que encontra-se
à minha volta.
mesmo o já passado,
o que há que vir
e o que jamais será!.


 

64

há este resto de esperança
no velho
que todos os dias,
volta a ser,
a eterna criança?..


 

65

quisera morrer
de alegria,
alisando os pentelhos
de alguma vadia.
no afago moroso
afogar-me no poço
e descobrir o olho
por onde
brota o mel.


 

66

de concreto e aço
o compasso
da canção.
na harmonia
a lâmina fria
das notas.
os acordes
dissonantes
entrelaçam-se
aos bemóis.
são acidentes
que a pauta
nem sente.
as escalas
em tons
maior e menor
sustentam
alegorias
nos instrumentos.
tempo,
intensidade
e duração,
deixemos
para os valores
das notas
ou figuras:
semibreve,
mínima,
semínima,
colcheia,
semicolcheia,
fusa e
semifusas..
a música
e a musa,
parecem
confusas.
contudo,
com um pouco
de concreto
e aço,
comporemos
uma bela tumba
para o hino
à são joão
e, sobretudo,
para guido d’arezzo que,
inventou
de inventar
tamanha confusão.


 

67

a loucura
é o que me segura
a barra
nesse tormento.
não fosse
a loucura,
esta vida
não seria
coisa
que se ature..


 

68

a poesia
é a sobrevida
que me resta.
com ela,
às vezes,
choro.
com ela,
é que faço festa.
no mais,
há muito
teria enfiado
uma bala
na testa.


 

69

suburbano poeta
caminho lento
pela periferia
do que penso viver..
penso, inevitavelmente,
em você.
o coração em chamas.
o olhar no distante,
cansado..
mais do que casado,
guerrilha inútil
pelos quintais
do sofrer.
mais que sofrer
à sombra do abacateiro,
invento novos caminhos
e nunca saio daqui.
corto os pulsos
e o sangue coagula
sobre a terra
entre raízes
e esterco!
não, não morro!
consolo-me com a possibilidade
de que um dia,
suburbano passarinho
venha, em meu crânio,
construir o seu
ninho.


 

70

nada mais importa
para o submerso verso.
para o bem comum,
nada mais
importa.
vida torta,
folha seca,
alma morta.
nada mais importa
se o bem que a gente tem
sequer, ao menos,
nos conforta!.


 

71

o sol expôs mais cedo
seus raios segredos.
lavou-me os olhos,
levou-me o medo.
a vida passa
nas ruas e praças.
minha dor, grassa,
no espelho, embaça.
na claridade da manhã,
meu segredo e afã.
famélico destino
dos mistérios gozosos.
esboço um bocejo,
apático verdugo:
tudo o que possuo
é o que menos desejo.


 

72

Kalícia001@(?).com:
poeta de mentalidade
mediana,
não arrisco a rima
ufana
do bem querer.
contento-me com
a saudade que desperta
a imagem a lembrar-me
você.
quando mais forte
que a poesia
e minha vida vazia,
algo dentro querendo
sofrer,
rebusco a imagem
do que mais gosto:
tocar tuas mãos!
(eu que jamais toquei-as..),
e sentir a ternura
que me vem de saber que,
este carinho,
eu jamais vou perder.


 

73

ontem eu sabia:
um dia eu também
serei feliz!
contudo, nunca disse
nada à ninguém.
na mesma plataforma,
continuo a esperar
esse trem que
— hoje sei —,
nunca existiu
e nem vêm.


 

74

sonhava febril
borboletas pelo quarto
no parto dos versos..
sair pelo mundo,
sumir por aí,
pelas estradas
que jamais tornam...
buscar um canto
na cantiga de roda,
onde pudesse brincar
com os anjos e
os lençóis límpidos
nos varais.
nunca mais ter que voltar!
sonhava febril
a delirar.
não sei bem porque,
mas,
às vezes,
gostaria de nunca mais
despertar!.


 

75

no mapa da alegria,
descobri, voraz,
minha fantasia.
ilusão:
não me servia!.


 

76

o vento que varre
as ruas
varreu meus pensamentos.
meus sentimentos, varreu.
os cabelos da menina
morena;
o sorriso, as palavras,
o vento varreu.
o vento que varre
as ruas
ergueu-lhe a saia.
deus!, nunca mais
saí do
“mundo da lua”.


 

77

tento renovar,
escarafunchar,
rebuscar,
reinventar
o que também
já foi feito.
as palavras,
loucas e tantas
e no entanto,
santas e poucas.
escassas...
nada inova a poesia,
a prosa.
provêm do fato
o meu dúbio desdém.
por várias gerais
décadas e milênios,
tudo se me retrata
o mesmo.
mesmo o que
ainda está por vir.
eu que julgo-me
aquém,
compactuo-me com
a fatalidade.
feito e é vero
o fato
de que ninguém
é feliz de verdade!
porquanto, a poesia,
bateu em minha porta.
mas eu, nunca soube
o que é poesia!...


 

78

andava meio torto
a chorar pelos cotovelos
e a sentir pelos joelhos..
olhos vermelhos
feito o sol do oriente;
a alma,
ocidente descarnado, gelado,
quando num sonho
a reconheci.
não que procurasse
em sonho, me salvar.
é que, vazio que
me encontrava,
jurei nunca mais
despertar!
deitado em seu colo,
criamos raízes
e rasgamos o solo.
despertei pela metade.
uma parte — a outra,
ainda resta no sonho
em seu colo,
em seu solo,
e sabe que o mesmo,
nunca mais serei.


 

79

o nome para esta fome
é loucura,
ilusão.
resta um resto
de esperança
em cada frase,
ou canção.
visionário
sem visão
do futuro,
sinto-me obscuro.
recostado no muro,
tenho pouco tempo
e tudo é vão.
às vezes grito
aflito,
para espantar o inimigo.
contudo,
o pior inimigo,
é o amigo
dizendo não.
não tenho a menor
vocação
para esta alegria.
meu sangue é quente
e é do fogo
que gosto.
o risco do fracasso
é o que me atrai
à cada passo.
sei que cada momento
é de paz ou tormento.
não me apontem
com o dedo em riste:
triste perco a razão.
eu, somente eu,
sou meu próprio
inimigo e irmão.
não me faças
concessão,
porque sei o valor
exato de cada ato;
de todo sim
e de todo não.
o nome para
a minha fome
é a dor que
me consome.
sou eu quem faço
o meu próprio destino.
por isso,
não me estendas
a mão.


 

80

por conta
de umas tantas
tontas ilusões
dei de sonhar
com castelos
encantados
realejos
meu amor!
donzelas
arcabouços
dragões
fadas azuis
bardos trovadores
naves espaciais
e tudo o mais.
por conta
da canção
abri o coração
te amei
feito um menino
sem rumo
em desatino
outra vez.
depois
pra me deitar
em teu regaço
e ser pedaço
do teu ser
sonhei
que era
muito mais
que um trovador.
não sei, talvez,
fugaz amante..
mas um dia
despertei
aqui sozinho
sem carinho
sem magia
sem você
e tudo
o que restara
era a minha
solidão.
jurei
que nunca mais
eu sonharia
e,
matei
você.


 

81

te contei
conto sem fim
a casa
o espelho
o jardim.
teu sorriso
nossa dor
oceano
transbordou.
veio a noite
e era assim:
o chão de estrelas
e capim;
o orvalho
em teu olhar..
de prata.
te adorei
feito um pagão
me tomaste
pela mão
descobri
teu mundo
enfim
o teu chão
o teu não
meu sim
quimera.
veio o tempo
e carregou
nossos sonhos
teu amor
e a manhã
nos trouxe sim
brisa doce
de jasmim
lapidamos
a canção
entalhamos
o refrão
no jornal
e agora
que estamos sós
neste mundo
de ilusão
faz de conta
conta não
que já fomos
vinho e pão.


 

82

queria poder
falar de amor
contar que sou
um sonhador
queria ser
talvez ator
e te adorar
até à dor
queria ser
um pescador
e me afogar
de tanto amor
quisera ser
um trovador
saber fingir
ser teu senhor
queria ser
o mar sem fim
te aprisionar
dentro em mim
quisera ser
um beija flor
sugar tua fonte
roubar-te o ardor
e enfim
ser o que sou
parte de um sonho
que alguém sonhou.


 

83

o tempo voa
o tempo
não atua
à toa.
o tempo
fragmenta
o momento
voa
o tempo fala
cala
nada
o tempo
estanca
o tempo
não recua
flutua
atento
o tempo
tão veloz
tão lento
o tempo
bom
atroz
carícia
e tormento
modelador
da vida
destino
do idoso
do menino.


 

84

água
na boca
do rio
água
no colo
do mar
água
que do céu
caiu
água
que corre
a cantar
água
que mata
a sede
água
para se
banhar
água
que brota
da fonte
água
que brota
do olhar
água
mágoa
desafio
água
lágrima
de dor
água
solidão
vazio
água
meu bem
afogou
água!....


 

85

rápida
rapidamente
urgente/mente
engendro-me
pelas vias
do momento
em que
me atormento
as vaias
e veias
varizes
nos versos
adverso
o tempo
em que
refaço
o esboço
bosquejo
do desejo
pálido
ávido
de sonhos
e saias
e coxas
e seios
no receio
da lâmina
na veia
a carótida
paródia
nódoa
mancha
na manhã
já mansa
ensaiando
o bocejo
que antevejo
pelo vão
da janela
e penso
nela
ela
e tudo
à minha volta
minha vida
de volta
o jeito
de ser
sonhar
sofrer
cigana
silvana
suzana
natália
suely
margherita
na mente
girando
rolando
ribanceira
e a solidão
umbral
da ilusão
a poesia
o pão
vera
helena
ana
a bagana
sob o viaduto
e a gente
de luto
no protesto
manifesto
de torquato
capinam
e marcinha
na grama
do ibilce
havia poesia
na voz de
telminha
fernandinha
no violão
do benê
na canção
de valença
e era tudo
o que eu sonhara
findou
o carro
o jornal
o cigarro
anfetaminas
festivais
e eu desesperado
e só
desesperadamente

somente
desesperado
aulas com alex
canto
violão
fernanda
saudade
cidade
yonei
tropicalismo
morreu
vamos foder
na grama
vamos foder
a paciência
da censura
do ai-5
glauber rocha
de pedra e pau
patrícia pagú
plínio marcos
rapadura
nos tempos
da brilhantina
não usávamos
vaselina
eu com 25
ela com 13
quando eu
circuncidado
estourei
os pontos
e os miolos
na avenida
andaló
por causa
de um aborto
quase morro
um dó filhodaputa
e a puta gritava
foda-se!
eu dizia e sorria
porque não me
visitavam
no hospício
e me faziam
ingerir
aquelas porcarias
eu ria
fumando um baseado
(não recomendado)
(nem recomendo)
passeando pelado
pela república
e neguinho
trepando
cheirando
zoando
com a física
a química
e o cacete
cursinho
faculdade
karatê
punheta
na gaveta
a cara
enfiada
na boceta
e ela rindo
cócegas
do barato
corri por aí
pra me perder
pra te esquecer
me ferrei
em são paulo
campinas
tatuí
cassilândia
paranaíba
barretos
frutal
santa fé do sul
na zona
lendo “helena”
do machado
na praça sem graça
sem grana
sem fama
e eu nem aí
nem aqui
acolá
na minha
desapareço
poeta solitário
sem itinerário
dormindo sentado
na redação
do jornal
embarquei
no trem errado
fui parar
em catolé
com saudade
da família
minha prima
quase
no teclado
do piano
arranjo musical
na madrugada
tão nada
fiquei a ver
navios
atracando
sem ter cais
eu e meus ais
fantasmas
e insônia
na penumbra
de um quarto
mastigando
teu retrato
foi então
que eu pirei
feito um
filhodaoutra
e nunca mais
voltei a ser
normal
feito
essa gente
que trabalha
bebe/come
dorme/trepa
morre
e consente
nem percebe
nem sente
a vida passar
por isso vivo
da profissão
de sonhar
observando
as estrelas
até o meu dia
chegar
aí, um abraço
para quem ficar.
vou novamente
navegar
e que se danem
os que desconhecem
o outro lado
da vida!
aquele lado
sem sol
que deixa
na alma
da gente
uma ferida
que, um dia,
amanhece
rouxinol....


 

86

o que não faria
um dia
por você?
tirante a poesia
pequena natália,
sem seu sorriso
— que sempre me valha —,
o resto,
seria morrer.


 

87

juro que desdigo
o que digo
a língua
no umbigo
tento mas
não consigo.
vamos dar no pé
oh, mulher!.


 

88

atrás do armário
componho
meu fadário
de lamentos e
ilusões.
a natureza morta
na tela estática.
o pássaro que
me roça
com suas asas
de paixão.
assexualizado anjo
— eunuco dos eunucos do paraíso —,
de olhar postos
no inimigo invisível
no terreiro de alá
confundo a rima
e rimo raimundo
com as ancas da bailarina
que rodopia, ergue as pernas
e sequer percebe
êxtase dos tês.
penso que posso
morrer
na visão do prazer.
peço perdão e sei
que estou perdoado.
a carne é fraca,
aprendi de menino.
mastigando hóstia.
brincando de médico
com a filha da vizinha.
a preta enorme
e eu diminuto.
duas enormes tetas
e uma porta para entrar.
o médico aprendiz,
diplomado aos sete anos.
no confessionário,
nada a declarar.
sequer um palavrão.
anjinho torto, sem asas,
segurando um risinho.
meu fadário atemporal
no sangue da circuncisão.
Deus perdoa, bem sei,
os poetas de coração.
se a carne é fraca,
a poesia redime.
virgem puríssima
livrai-me da tentação!
meu coração
pura tormenta,
já não suporta!
saio de detrás
do armário
um rosário
nas mãos e,
ardendo nas chamas
da perdição.
os culpados
são otários
em potencial.
perdido pelo
casarão.
a culpa
sobre os ombros.
a mãe percebe
porque é provida
do poder da adivinhação.
o pai
é pura distração,
mergulhado em
problemas.
monto no cavalo
e vamos pelos pastos.
pai apeia,
ajeita a sela.
continuo no trote
sonhando o galope.
há pai que fica
sendo anjo da guarda.
cúmplice no pecado.
sorrindo orgulhoso,
desafia-me no galope.
penso que um dia,
nos tornaremos confidentes.
mas ele dispara,
desaparece numa curva
para nunca mais...
e eu volto para casa
mais vazio
que o alforje da existência.
juro nunca mais pecar e,
o primeiro pecado,
foi jurar.
em meu fadário
não cabe arrependimento.
hoje, homem feito,
sei o valor da saudade.
a inocência perdida
na infância insone.
os louros que deixem
aos poetas!
(ensinou-me belchior)
meu instinto animal
fareja lauras:
jambo, loiras, morenas,
pretas
sem distinção
sem discriminação.
contanto que dêem
o que foi feito para
ser dado.
o anjo besta,
bunda branca da candura,
observa-me de soslaio,
e, dá por cumprida,
a sua missão.
adeus, amigão!
trago uma brahma
feito um brâmane
em êxtase
e redenção....


 

89

o vivo sorria
o morto
absorto
mergulhado em seu mundo
ia fundo.
havia em sua palidez
algo impossível
de ser narrado.
enquanto o vivo sorria.
o morto quieto,
solene, introspecto,
cismava em ser alado.
enquanto o vivo ria,
o morto criava asas,
levantava vôo
e desaparecia.
o vivo ria de bobo.
o morto, sério,
cumprida a sua missão,
o seu papel,
ruflava suas enormes
asas
e ascendia
para o céu.


 

90

da porteira via-se
a estrada.
pela estrada
ia-se
e mais nada.
para onde
ia-se
pela estrada?
e a estrada
que de vista
se perdia,
onde daria?.
foi devido
à imaginação alada
que jamais tornei
para junto da porteira.
mas até hoje
não sei
responder
mais nada.


 

91

carantonha
espiava o céu abrasador.
a caboclinha
tinha lá sua filosofia.
descalça,
longas tranças,
sorriso ancho nos lábios
— puro mel! —,
quem diria,
sonhava?.
meu coração,
menino acocorado,
permanecia calado.
pensava que
se ela um dia partisse,
eu morreria ali:
de cócoras,
enfarado.
destino malfadado!
o primeiro a partir
fui eu.
ela permanece lá,
naquele canto da memória,
junto à porteira,
a mirar o céu.
a vida é urgente,
o menino,
perdeu-se pelo mundo.
ela não,
espera junto à porteira,
por uma vida inteira
que ainda
não aconteceu.


 

92

distraído,
alguém veio
e roubou-me os sonhos,
a ilusão.
as madrugadas
são lentas,
dolentes,
silentes..
meu olhar,
indaga às estrelas
a razão de tanto sentir,
se já não possuo sonhos
nem ilusão.
luzidias,
piscam-me confidentes
sem nada dizer.
e agora,
como vou descobrir,
ou saber?.
o vento da madrugada
assobia uma cantiga
antiga cantiga
a contar coisas
sobre reis, castelos,
donzelas e reinados...
e eu aqui,
parado.
esperando sem sonhar.
nem adormecido,
nem desperto,
sinto que meus sonhos
e ilusão,
hoje são gotas de orvalho,
cabem na palma da mão.
disso tenho certeza,
porque ainda restou-me
este imenso
coração.


 

93

se disparo
na carreira
quem segura?
ligeiro
um pé de vento,
sequer me atormento.
o coração comanda
meus sentimentos.
sou do mato
e
de ferro.
se santo andré
para barretos.
de barretos,
para o mundo.
parece
que foi há séculos,
mas não passa
de segundos.
que o diga
meu peito
e o pensamento alado
que não abandona
a velha casa de fazenda
tendo lucéia
ao meu lado.
que o diga o menino
que me espia
e fica-se rindo.
esse não há quem
de jeito!.
esse fugiu,
feito um passarinho,
da gaiola
em meu peito.


 

94

a tarde cai.
ou melhor,
despenca
cabelo de milho,
ramagem
e folhas de avencas.
a tarde
esvai-se
numa pachorra
sonolenta.
cismando
coisa e loisa.
não morosa.
ou delicada.
um segundo
tão nada
e
a tarde
esvai-se.
na cidade grande
turbulenta
a tarde
se arrebenta.
aqui não:
sensação
ou impressão
de cair
é feito
uma cascata.
o crepúsculo
estira os músculos
boceja,
e, ora veja,
vai aos poucos
se firmando.
é assim que
sem que se perceba,
a noite chega
quando a tarde cai.
eu sei porque,
já nem careço ver.
nesta hora dolente,
meu coração
dana a bater
num ritmo
que mais lembra
um lamento,
um ai...


 

95

não se explica
a saudade
do que não sabido.
a estrada longa
desaparecendo para lá,
muito mais.
nem explica-se
porque
às vezes,
quem mais amamos
perdemos.
e, perdidos,
passamos
o resto da existência,
relembrando
e
sofrendo.


 

96

abarrotado
meu coração vazio
rio em meio ao deserto
nem distante
nem perto.
saudade,
solidão,
melancolia...
já nem sei
o que sinto,
se o que sinto
não sei dizer.
vivo e luto
não paro,
nem desejo
fenecer.
fico aqui sentindo
como quem partindo
e a estação restando
lá atrás,
num lugar chamado
nunca mais.
sou todo coração.
coração
em busca
da paz.


 

97

no bang-bang
pela sobrevivência,
não pude evitar.
somente atiro
para matar.
sinto muito,
minha nega.
dez bilhões
de neurônios atônitos.
pedi tequila
e charuto.
quando o cara
sacou seu colt 45
eu disse que a minha hora,
não havia chegado.
forasteiro arretado,
chapéu atolado,
caçador de recompensa.
que deus o tenha!.
eu disse tragando a bebida,
frente ao espanto
do garção.
meu cavalo aporrinhado
veio prostrar-se ao meu lado
e segredou-me bufando:
— emboscada, kid!.
— kidisgrama! —, respondi.
foi quando choveu bala.
foi chumbo e fumaça.
mas, como bala de revólver
de mocinho jamais acaba,
durante duas horas,
atirei sem parar.
nem pontaria fazia.
para quê?
se a gente atira
no que vê
e acerta o inocente?!.
bala perdida é besteira
porque,
nada se perde.
dizia meu avô,
caçador de búfalos
em oquilarroma.
galopando e atirando.
atirando e galopando,
fui reunir-me
com os caciques
das tribos
apache, comanche e sioux.
a gente passando
o cachimbo da paz,
no maior barato
enquanto joplin rolava
o maior blues
no gramofone.
foi aí que baixou
o santo hendrix
entupido de madrix
e ferrou na guitarra.
a gente naquela zorra
e pinta a louca
do tchê-qué-vára:
— aí, negada..fodeu!.
— porquê, mermão?
perguntei, viajandão.
— sujô geral na baía dos porcos.
— filhodamãe o fidel!.
vociferou aquele japa que gritava:
— tora!, tora!, toraaaa!., meu amor!.
mandei os dois tomar no cu
já meio jururu
e traguei uma dose
do santo daime?
mas ninguém dar-me quis.
exceto algumas indiretas
do fala/bella a bella
e do pastor
heidi/ir mais cedo
que berrava:
— váderetrosatanás!.
cansado do tiroteio,
resolvi dar um taime
e bati em retirada.
tava descansando
puto da vida ao ver a ida
pelada na playboy.
(confesso: sou ciumento).
ela tinha que mostrar
o que eu imaginava
para todos os tupiniquins punheteiros?
perdi o tesão
e mastiguei a revista.
dormi com azia.
sonhei com zélia duncan
tão meiga!
encafifado com minhas dívidas:
maiores que o rombo
da previdência.
pensei no sonho:
que porra de pesadelo!.
(essa vida não vale nada,
contudo, admiro aqueles que,
por ela passam..).
e o gugu fazendo
glugluglu, gargarejo
com mamonas e tiriricas
enroscados na garganta.
a santa.
falar em santa,
o batimais perguntou
para o rubim:
— to cuma sensação estranha, prodígio.
— qualé? qual foi?.
indagou o rubim.
— cê já teve a estranha sensação
de estar cagando para dentro?.
perguntou o homem-morcego.
— liga não, acostuma.
respondeu robin que também
era rubinho e rubim.
o rulk, verde de raiva,
descabelado e atazanado:
— eu quero o meu beibedól!.
num canto mais afastado,
nero, todo delicado,
ameaçava tocar fogo.
hitler de meias cor-de-rosa
e calcinhas du loren, berrava:
— o mundo é meu! eu quero!.
santa inquisição dos meus
derepentelhos!.
balbúrdia fenomenal.
um saiu do camarim
cantando algo assim:
— tá todo mundo lôco, oba!.
— todo mundo, o caralho!.
berrou sem compostura,
fernando henrique.
— pelos ossos, ócios e algas
do guimarães!.
fanhou o lula que
insistia que menas
fome já era um
bom princípio do começo.
quércia mascava um
raminho, sentado
no colinho do fleury.
erundina grasnava
feito patativa
— o falo é meu!.
descia do céu,
escoltado por belos arcanjos
são abelardo chacrinha,
prestes a organizar a palhaçada.
fizeram um minuto de silêncio,
para o cazuza que, cagando e
andando cantava:
— a burguesia fede e é foda!.
de picuá cheio eu disse:
— patrícia luchesi,
ou dá ou dezzi!
— tô de paquete e, além disso,
a primeira camisinha,
a gente sempre esquece.
concluí: vai na mão mesmo.
enfiaram um supositório
de cripitonita no supermen
que morreu estertorando.
mas a-dor-ou!!!.
entre tapas e beijos,
o pessoal da casseta
fazia o trenzinho da alergia.
a maravilha da mara
pegou no cajado, já convertida,
louvando a universal
do reino record.
e o mago do paulo um coelho
ficou rico transformando
merda em livros.
depois dessa, despertei.
atoleimado, cantarolando
sapo cururu,
antes no teu
do que no meu!
tropecei e
me arrebentei-me
(duplo sentido).
fiquei ali,
todo espalhado.
a empregada varreu.
o lixeiro recolheu.
o que eu era tá enterrado no teu
estou (o que restou), esperando
na fila, pra reivindicar,
o tempo perdido
que levei para escrever
essa porra que
bem sei,
ninguém vai ler.


 

98

na tarde modorrenta,
enfarado, sinto-me
enclausurado.
o sol derrete
casas, campos,
pessoas e asfalto.
na mente:
mote e glosa
para o verso
e a escassa prosa.
contudo,
nada me alenta,
ante à tormenta
do sentir.
questiono o próprio
existir.
inconvincente
explicação
para o fadado
coração..
fadado a perder
o ritmo,
o compasso
nesta falta
de espaço
em que o coração
comprimido,
queda-se
abatido,
feito um pobre
trovador
que, sem musa,
para a lua
e estrelas,
canta o seu
amor.
humilhado,
pela alegria fria,
abraço a existência
vazia!
teu sorriso,
derretido
na lembrança,
lança
fagulhas
nos projetos
futuros.
teu sorriso
é um quarto
escuro.
tateio às cegas
em busca de seios,
amparado
pela ilusão.
o sol derrete
meus sonhos,
minhas mãos.
poeta de ponta
de vila
e mesa de bar,
busco no silêncio
de teus lábios
palavras e frases
com as quais
inspirar
meu coração
de sonhar.
verto sonhos
e seivas
nas lágrimas
que não lavam
da alma,
a aflição.
o poema
não sustenta
o que a solidão
afugenta.
leio jornais,
trago cerveja,
fumo,
mas não encontro
a paz.
sou um
menino
aflito
a mirar
o infinito
pelo horizonte
de todos os
horizontes,
a saudade
vai se perder.
como se pudesse
— um dia —,
outra vez,
ter você.
entretanto,
no espanto,
reinvento
o viver.
feito o condenado
à cada segundo
esquecendo a morte
para, na morte,
ir ter.
a tarde também
agoniza
e nem me avisa.
desliza mansa
com o sol poente.
penteia com seus
raios
as tranças do milharal.
brisa mansa
sopra teus cabelos.
molhados pensamentos:
breves ao relento,
sob o sereno
dócil, ameno.
é um carinho
aflito,
chegando mansinho;
abrindo cancelas
na distância,
na canção..
salpica de estrelas
este céu.
faz brotar
uma lua de prata,
derramando-se
em serenata.
pirilampos pelas
matas.
o riacho corre,
cantarola baixinho..
e o coração
quer virar estrelas;
cerzir o manto
negro,
com fios de ouro;
escrever a palavra
singela;
feito a ternura
que expõe-se,
não espera..
é feito o pensamento
que inventa
novo mundo;
sem pressa
na prece
que fala
ao coração.
tudo é fantasia!
tudo é ilusão!
contudo,
esta é a vida
e
assim,
meu coração!
bichinho calado,
que um dia,
— ainda sonha —,
em tornar-se
alado.


 

99

hoje sei que meu corpo
encontra-se ali:
plantado no fundo
do quintal,
junto à cerca
de arame.
mas não me importo
porque
todos os dias,
alguém que desconheço
vai até onde me encontro
e rega a cova rasa.
por isso,
meus cabelos
continuam crescendo
e sinto o gosto
do barro
em meus lábios
descarnados...
a terra modela
meus ombros
pernas
seios
nádegas..
vez em quando
de meu ventre nu
uma semente brota
e rasgando
lentamente a terra
que nos cobre
a todos
explode
para fora
para o alto
apontando
o infinito
para o final
dos tempos
estarei pronta
para o parto
e,
quando a primavera
chegar
serei toda a florada
de uma nova era
e encantarei
os olhos que mirarem
o canto do quintal
junto à cerca
de arame...


 

100

o poeta está morto!
roto,
torto,
feito um rato
de porão
ou, esgoto.
feito, quem sabe,
assombrada
assombração?!
o poeta morto
em seu pobre
caixão.
ninguém sabe
ao certo
se morreu
de desgosto;
se foi por amor
ou simples ilusão!..
talvez, paixão?!
que arde
e finda em vão.
ou ainda,
parada cardíaca?
tristeza,
agonia,
solidão?
o poeta
está morto.
embora,
nem pareça.
sorri o poeta,
enquanto fingindo-se
de morto,
pensa?
irônico,
descrente,
maluco,
macambúzio..
o morto
enfartado,
necessita
de repouso.
requer
às pressas,
ser,
devidamente,
enterrado.
poeta
fingido,
ainda
que morto,
parece sorrindo.
bom biriteiro
— convêm ao brasileiro —,
quem sabe
um samba
canção?
como diria
noel rosa:
“em feitio de oração”.
qual o quê?
morto
não tem
precisão.
carece
de prece
e pressa
na consumação.
anunciemos
no jornal:
“o poeta morreu!”.
não faz mal!
todos morremos
cedo ou tarde
um dia.
passam
os poetas,
fica a poesia.
a poesia
com suas musas,
estrelas, sonhos,
flores, primaveras
e magia..
morrer
é natural,
para um poeta
nem tanto
normal.
o cigarro,
as madrugadas,
a cerveja,
os sentimentos...
tudo influi
frui
na morte,
na poesia.
morto e,
sorrindo..
basta observar
atentamente,
nos lábios,
o sorriso
demente.
não mais
que
pura ironia.
não duvidem
se de repente
o poeta morto,
piscar.
parece troça
ou piada.
que nada,
poeta é assim:
bicho estranho,
sem começo
ou fim.
e esse chinfrim!
poeta sofre
por precisão.
talvez,
por defeito,
(sabe-se lá se,
não por nascença?!),
traz dentro
do peito
— uns dizem
ser crendice —,
não um,
mas dois corações.
um deve ser
alegre.
o outro,
triste,
doente.
um chora,
o outro ri.
um goza,
o outro sofre.
para morrer
de verdade,
tem que ser
planejado:
os dois corações,
param,
sofrem calados.
ali, naquele caixão
vagabundo,
nem cabe metade
do mundo.
no peito
do poeta,
sim:
cabe o universo
e nunca
tem fim.
o poeta está morto,
mas parece
ouvir.
será que,
mesmo morto,
o poeta
continua a sentir?
o decote
da moça
é tão
generoso
que
o morto
parece
um olho abrir!
sorriso zombeteiro
que intriga
o mundo
inteiro.
há quem
diga
ilusão.
nós,
porém,
sabemos
que não.
o poeta
morto,
desanoitece
a
vigília.
na contra
mão
da
história,
desce
à terra,
com
um certo orgulho.
quase nada
de glória.
mas
a vida
é
mesmo
assim:
quando
se chega
ao fim,
o que
mais
nos
interessa?
a morte
também
não passa
de mera
ilusão?!
por isso,
o poeta morto,
sorria
dentro do caixão.
a compor
a mais
terna
eterna
fraterna
sempiterna
canção...
o
poeta,
ora,
o poeta
está
simplesmente
morto!.

 

São José do Rio Preto, 1.999.
Mauro Gonçalves Rueda.

* * *

 

 

 

©2003 — Mauro Gonçalves Rueda
maurorueda5@hotmail.com

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Janeiro 2003

 

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