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TIMIDEZ REVELADA EM POESIA

Ana Vitória Vieira Monteiro

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Timidez Revelada em Poesia
Ana Vitória Vieira Monteiro

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Fonte Digital
Documento da Autora

© 2000-2006 Ana Vitória Vieira Monteiro
maraka@zaz.com.br

 

Í N D I C E

A Autora
TIMIDEZ REVELADA EM POESIA
Contador de Histórias
Timidez Revelada
Canto da Saída do Ouro
Disco Solar
Canto da Traição
Só Para Variar
Vitória
Buscadora
O Umbigo
Onde Está a Minha Tribo?
Certeza
Quero Esquecer
A Montanha
Magia
Aconteceu Outra Vez
Estou Voltando
Tudo Passa
Companheiro
Adeus
Sun Pa Nã
Perdão Deuses
Canto Mercúrio
Mulato
Fala de Dom João
Aniversário
Palhaço
Vem Menino
Para Quem Partiu

 

A Autora

HISTÓRICO DE ANA VITÓRIA

     Nasci em 2-2-45. Devido à vitória dos aliados na guerra recebi o nome de VITÓRIA, na cidade de São Carlos. Aos 5 anos junto com minha a família vim para São Paulo e aqui permaneci, estudando piano, fazendo os estudos primários e secundários no bairro da Penha, FUI trabalhar no jornal da Penha onde tinha uma coluna para jovens, FUI para a Radio Marconi, casei com o radialista jornalista Gil Gomes indo morar no Jardim da Saúde, tivemos três filhos, estudei astrologia e pintura, tapeçaria espanhola e 14 anos depois nos separamos — estudei Acupuntura, Shiatisu, Doin e Parapsicologia, abri a Clinica Vitalísta para Celso como terapeuta acupunturista — recomecei a escrever editando jornais alternativos — participei de movimentos de Ecologia de preservação animal e vegetal, dei palestras por todo o Brasil — fechei o consultório depois de 12 anos e FUI realizar meu sonho — ser escritora — meu filho primogênito Guilherme Gil Gomes que trabalhava com o pai veio a falecer prematuramente de hepatite C — Daniel entrou para a faculdade de direito e se casou, me deu três netas, a Vilma se formou advogada e casou — embalada por impulsos interiores tive a loucura de não desistir até que este sonho virasse realidade!
     Escrevi para TEATRO e foram encenados — O DISCO SOLAR — CHICO MENDES e o ENCANTADO — BRASIL OUTROS 500 — VIZINHA de NOÉ.
     Inéditos — MÃE da MINHA MÃE — PRATOS LIMPOS — FOGO ETERNO

Entre no meu SITIO na net onde você pode saber mais sobre a Ayahuaska:
A Arte do Êxtase
www.maraka.atfreeweb.com
ouhttp://membro.intermega.com.br/maraka

 

Timidez Revelada em Poesia

     Não se é poeta porque se decide ser. A poesia acontece na vida de uma pessoa por razões que vão além da compreensão intelectual ou racional. Num dado momento, não importa o tempo, ela surge com força incontrolável, a gente se pega escrevendo no primeiro papel que vê pela frente e o poeta acontece. É um momento especial, iluminado, raro, irresistível; a poesia se impõe e escolhe o canal de sua expressão.

O SITIO de Ana Vitória na net sobre a história do Xamanismo no Amazonas — A Arte do Êxtase — www.maraka.atfreeweb.com ou http://membro.intermega.com.br/maraka

Fale diretamente pelo e-mail — maraka@zaz.com.br

 

     LUCINHA LUZ (de vermelho) disse para mim: podemos até perder um amor, mas jamais a poesia que ele inspirou — depois de me ver fazendo poesia inspirada em uma atração por um moreno que me chamava de “boa amiga”
     Concluí que o poeta é aquele que retém a inspiração de um momento transitório e a torna eterna.

 

CONTADOR DE HISTÓRIAS

Incluída na peça
Chico Mendes e o Encantado, em forma de repente

Tão vendo este folhetim?
Tem,
Tim Tim por Tim Tim
Da história que eu vou contar
Que tem começo e não tem fim!

Um dia muito distante
Onde hoje há mar, era sertão.
E onde hoje é deserto
era um lugar incerto.

Na floresta aconteceu
uma história de verdade
destas verdadeira,
de arrepiar as moleiras.

Se prepare, para ouvir:
Que não vou dizer,
Era Assim...

Quando, os Encantados
Iam para clareira falar
com gente faceira,
em encontros de namorados

Naquele lugar havia
muita magia
No ar!

Vou contar, o que houve lá!

Cantando em repentes,
o que neste folhetim surpreende,
é o que nele não está!

Quem quiser acreditar
que acredite ou duvide!
Pode duvidar do meu falar!

Mas para comprovar
Que não engano não...
Prova vão querer tirar

E este folhetim
Podem comprar.

     A peça Chico Men­des e o En­can­ta­do es­treou na mi­nha ci­da­de na­tal — São Carlos — em São Paulo, nas vésperas de natal, dia 22 de 12 de 1999 com direção de Luiz Fernando Guimarães — Foram rea­li­za­das vá­rias Vi­vên­cias em Eco­lo­gia e Pre­ser­va­ção do Meio Am­bi­en­te, de­vi­do à cons­ci­en­ti­za­ção que os ideais de Chi­co Men­des mos­tra­dos na pe­ça pro­vo­ca­ram nos jo­vens es­tu­dan­tes de mi­nha ci­da­de.
     Fato cu­ri­o­so é que esta pe­ça de­pois de con­cluí­da, “su­miu” do com­pu­ta­dor jus­ta­men­te na hora em que deveria entregá-la ao diretor. Em 24 horas re­es­cre­vi tu­do ou­tra vez, sain­do com­ple­ta­men­te di­fe­ren­te da primeira, acre­di­to que ainda me­lhor “so­lu­ci­o­na­da”.

 

TIMIDEZ REVELADA

Incluída em 1999 na peça CASCANDO O BICO

Preciso falar, para
     poder ter um pouco de paz.
     É uma necessidade
     forte que surge
     e
obriga-me a vir aqui,
falar de algo há muito
contido dentro do meu peito.
Não ria, por favor,
deixe-me falar hoje
senão, não vou conseguir
nunca mais.
Perdoe... mas preciso
quero mesmo, fazer isso
finalmente me expor
Não sei nem como estou
conseguindo.
Está vendo que me enrolo
e não falo do quê eu quero
preciso falar
desta maldita e insuportável timidez.
Que me atrapalha
me trava e me cala.
Que impede de dizer coisas
as coisas que quero dizer a você
e que não consigo
quando tenho oportunidade.

Aí, surge aquele
riso nervoso, desvio os olhos
falo do tempo, conto estórias
todas as estórias... mas não falo
o quê sei que espera ouvir
e que nunca sai da minha boca.
Juro que eu tento
mas me atrapalho, fico rubra
transpiro nas mãos
olho pro chão
querendo que o mundo
se abra e me engula viva
só pra não ter que falar nada.
     Eu sinto e vejo que você se diverte
     em me ver nesta constrangedora
     situação.
     Fica aí, parado, esperando
     fazendo da sua espera
     a minha tortura de não saber
     como, de que maneira
     chegar.
     E você aí, querendo ser
tocado, e eu aqui, sem tocar

Preciso falar desta detestável
maneira minha de ser
que se reserva tanto
que cala tanto, a tal ponto
absurdo que constrange
me constrange, te constrange
que às vezes
fala com o olhar, um canto de olho
que se esconde para te ver de longe
que aviva a minha imaginação
sonha em fazer, o que não faz
fala o que não revela
debocha do que admira
desdenha do que não quer
confunde, me confunde
te confunde.

Aí eu digo
que sou assim mesmo
que gosto de solidão
porque sou sensível
sou discreta, que gosto de
privacidade
que sou um ser solitário
que sou intocável.
Quando isto é uma mentira
e quero mais é que um terremoto
me abale e me tire deste estado.
Preciso ser libertada
de mim mesmo, quebrar couraças
desta imensa reserva
que me impede de dar, de doar
o meu imenso amor
suprir esta carência
de ser carente de amor.
Se recebo amor
não chega em mim
se quero dar amor
não sai do peito
nem em forma de dor.
Aí, você vem e me chama
de indiferente, arrogante
orgulhosa, egocêntrica.
Aí, eu quero morrer
e nem isso eu posso fazer.
Ás vezes fico pensando
se isso tudo não é para esconder
uma grande covardia
e incompetência de minha parte
com a minha própria vida.
Ai céus! O meu problema
e que eu sou o meu maior problema!
Como resolvo isso?
Não sei.
Atrapalho-me toda
e, hoje,
exatamente hoje
depois de tanto me esconder
exponho-me assim
meio de qualquer jeito
diante de você
meio me sentindo ridícula
aliás, totalmente ridícula.
Creio mesmo que
devia me fantasiar de palhaço
pela palhaçada que me obrigo a fazer.

Agora não tem jeito, já foi, fiz
tá feito.
Talvez devido a algum trânsito
no meu céu astrológico
que amanhã vai me levar ao
arrependimento.
Timidez, desmedida, medida
tida, contida, explodida, ilógica
que não agüento mais conter
que tem de sair de mim
para você e gritar
que quero, preciso te amar.
Que te amo
não vivo sem você
e é para você, por você
que dou este vexame público.

Desculpe o mau jeito, deste jeito meu
de declarar o meu amor.

     A peça CASCANDO O BICO reúne vários quadros de mímica, contando a história de uma pessoa que passa seu tempo reagindo corporalmente a um programa de televisão.
     No final, o artista (de cara pintada de branco como os palhaços clássicos) finalmente inverte a situação: desliga a TV e cria, ele mesmo, seu próprio texto, “revelando sua timidez” através de um poema.

 

CANTO DA SAÍDA DO OURO

Incluído no texto da peça O Disco Solar

Ouro, ouro, ouro

Lá, em algum ponto ponteado de luzes
distantes, muitas caixas cheias de jóias
muito preciosas, de ouro, prata, cobre
Tiram o que é meu e dos meus.

Encobrem escondidos
No infinito do céu estrelado
visto apenas por quem ficou sozinho
parado, impotente.

Tudo levam para lá
nada é suficiente.
Olhando.

Vejo tudo partir
perto bem perto do mar...

 

DISCO SOLAR

Inspirou a peça do mesmo nome e foi nela incluído

O Disco Solar está brilhando
Em cima do meu altar
Reflete o Sol gerando fogo
Fogo que vem do céu

Se este povo é fiel
que caia fogo
Fogo que vem do céu

Trazendo a pureza nesta casa
Casa de gente fiel

 

CANTO DA TRAIÇÃO

Faz parte da peça O Disco Solar

Não há nada na Terra que tenha duração verdadeira
E o único compromisso que tenho é comigo mesmo
De viver, viver, quem sabe de mim sou eu
Uma vez que coloquei os meus pés a serviço do mar

Minhas mãos recebem o pagamento justo
De um justo acordo, que se ajusta
Aos meus interesses legítimos e verdadeiros
Pois só dão valor a quem merece.

 

SÓ PARA VARIAR

Já estou ficando
com vergonha
da luz do dia
pegar-me assim deste jeito
nesta solidão

Vou variar
quebrar a rotina
sair desta monotonia
desta mesmice
de ficar assim quieta
parada
     Vou mudar
     mudar mesmo
     dar uma saidinha
     por alguns milênios
Desta cidade
deste lugar
desta vida
deste corpo
deste Planeta
     Quero sumir
     nem ouvir falar de mim
     só para ver se varia um pouco
     para fazer algo criativo
     que eu nunca fiz antes
Algo original
só para variar
quero ficar sem ar.

 

VITÓRIA

Meu nome é Vitória
Vitória da conquista
Vitória a Rainha
Vitória que põe fim nas guerras

Vitória sempre cantada pelos poetas e reis
Rua Vitória de Paris
silenciosa e limpa
perto da Bastilha.....
Vitória de Lisboa
colorida, boêmia
Vitória americana
militar, severa
Vitória do Brasil
Suja, profana, cheia de segredos humanos
Vitória dos guerreiros, dos atletas

Lago Vitória do nascimento dos Orixás,
misterioso e profundo

Vitória jamais alcançada
na luta do Bem e do Mal
Mas Vitória
invocada por todos

Chamo-me Vitória
Ana Vitória
Maticha Deva Sade
aquela que tem conhecimento
Bibi Sade
a chave do conhecimento

Sim o sim
filha do Criador
Vitória

Vitória
que não tem escolha
que espera o vencedor
que é prisioneira
nas mãos do ganhador
que é a Força que não divide
não escapa
nas mãos do herói.

     Nos lugares em que viajei sempre tinha uma rua chamada Vitória e em São Paulo a Rua Vitória é muito conhecida por ser um ponto de pros­ti­tui­ção in­ten­sa­men­te fre­qüen­ta­do.

 

BUSCADORA

Cheguei, estou aqui
Sou aquela que esbarrou no milagre
Que fez e recebeu maldições

Foi à Bahia
Falou com todos os Santos
Que andou atrás do trio elétrico
Subiu as escadarias da casa de Oxun Maré
Jogou búzio com Peceu

Pegou as estrelas com as mãos
Na Pedra Preta
E viu o Sol nascer

Que rezou a Santa Maria no terço
Com a Santa Maria na cabeça
Que entrou em vários universos
Que tomou São Pedro
E num vôo selvagem
Recebeu as Chaves do reino
Do céu e da Terra

Viu as cores do Arco-Íris
Tocou a Pedra e
Ganhou as conchas do mar
Falou com Deus e com o Diabo
Na força da ayahuaska

Cheguei, estou aqui!!!
Pronta para falar
Das coisas que vi lá

Para contar que vi o Sol
nascer à meia-noite
Que falei com as flores
Dancei com o ar
Aprendi a nadar
nas ondas das labaredas
Amei o amor, pelo amor.

Cheguei, estou aqui!!!
Pronta para entrar num Vulcão
E no Vale da Lua ver o Sol nascer.

Para não ver o amado morrer
Todos os que quis querer
Para tentar não acordar
chorando...acordei.

 

O UMBIGO

Já que não posso voltar
Ao ventre de minha mãe
Começo de novo
Tudo.
Sair do país.
Ouvir outra língua,
Outros costumes,
Ser estrangeira
Quero ir para bem longe,
Onde ninguém me conheça,
E nem jamais
Ouviu falar de mim.

Quero ficar com saudades
Dos que amo
Poder voltar
A eles
Sem Mágoas, sem Dor, sem Medo.

Visito-te
Entrego a aliança

Dou Tchau e “bença”
Ao passado e
Sem voz para gritar,
Murmuro ADEUS.

     Poesia incluída no Texto da peça MÃE DA MINHA MÃE que, assim como a peça Chico Mendes “sumiu” do computador e foi totalmente rescrita.

 

ONDE ESTÁ A MINHA TRIBO?

Gosto de viver,
Este é o problema
que carrego.
Seguindo este caminho,
sem salvação, condenados a morrer.

Demasiado humano
terrestre, telúrico.

Mas vivo aqui
esta vida que tanto gosto,
neste planeta.

Azul, azul...
Cheio de verde, cheiro de mata
com Sol dourado
de tão dourado ficou azul, azul...

Invocando deuses tribais
Falando com as águas das cachoeiras
com o fogo das fogueiras
que faço em noite de lua cheia,
ou nova...

 

CERTEZA

Olhe nos meus olhos
Veja refletida neles
A certeza absoluta
A certeza estrema
De quem viu o futuro
No passado

Olhe, olhe nos meus olhos
Veja neles
A certeza de quem
Conhece o nosso destino
E espera
Que acordes
Despertes deste somo
E cumpra comigo o seu destino
No presente
Que eu vi no futuro de meu passado

 

QUERO ESQUECER

Juro que um dia
Vou ouvir esta música sem chorar

Vou ouvir sem sofrer
Sem lembrar

Dançar em outros braços
Sentir outras pernas
Encostando-se às minhas

Quero e quero
Viver e esquecer

Ouvir quem sabe de outro
Até as mesmas palavras
De amor
Que você um dia disse
Sem me lembrar
De você

Juro que um dia
Vou ouvir e dançar
Não vou lembrar
Nem de seu nome

Quero porque quero
Esquecer-te

Dançar este bolero outra vez.

     Vivi a minha adolescência e juventude dançando muito e com lindos rapazes que me apaixonei e desapaixonei rapidamente. Com todos eles dancei belos boleros do TRIO CRISTAL; esqueci dos rapazes mas nunca esqueci dos boleros que continuo a dançar.

 

A MONTANHA

Musicada por Lucinha Luz

Acariciei a montanha
Como suave brisa da manhã
Como orvalho umedeci teus montes
Como rio fecundei tuas terras

Penetrei em teus mistérios
Explodi em tuas entranhas
Como fogo de um vulcão
Sacudi teu corpo te fiz viver

Cobri teus montes de neve
Perpetuei este momento
Imperceptível e suave

No segredo de um silêncio
Fiz-me brisa, fiz-me orvalho
Para te tocar me fiz fogo

Agora, como águia
Faço do meu canto um grito
Para que despertes
Para que te lembres
Do orvalho da brisa e do fogo

 

MAGIA

Sou a magia
Sente, estou no ar

No fogo que queima
No incenso que perfuma
Na chuva que cai

Ninguém me pega
Nem me vê
Só sente
Intui

Ouve o canto
Sente o perfume
De se deixar tocar
Não tenha medo
Deixa-me chegar

Tem magia no ar.

 

ACONTECEU OUTRA VEZ

Não sei o que aconteceu
Com este insensato coração
Bateu forte outra vez

Não sei mesmo o que acontece
Mas este coração
Insiste em continuar
Batendo mais forte

Arma sorrisos, idiotas
Ilumina o meu olhar
Faz o meu corpo esquentar
E pedir por vida
Vida que busca a vida
Do teu corpo
Anseia por te tocar

Ah! Não sei o que acontece
Com este pobre coração
Que não aprende nunca
A lição,
Coração insensato
Maltratado, Abalado
Mas não sei o que acontece
Minha mente não quer
Amar novamente
Mas o cérebro, logo ele,
Trava

Provocando em mim
Um conflito maior
Que a luta
Do bem e do Mal

 

ESTOU VOLTANDO

Estou voltando para a casa
Com o coração dilacerado
Frágil, cansada
De não saber parar
Do excesso
Da falta de limites

Estou voltando para a casa
Quero me aconchegar
Quero ir fundo
Neste oceano, achar uma caverna
No fundo do mar

Estou voltando para casa
Quero deitar e descansar
Umedecer a pele, criar escamas
Voltar a nadar com o cardume

Brincar com as sereias
Montar nos cavalos marinhos
Ficar parada, um pouco

Demorei em voltar
Para querer voltar
Mas estou voltando
Estou chegando
De volta para a casa
Desejosa de ficar
E aprender
a
Ter limites
Conhecer estes limites
De não exceder
De não ser desnecessária
De querer sempre mais
Sem se contentar
Com o que tenho
É, estou voltando para a casa

 

TUDO PASSA

Completamente só e vulnerável
estou
triste,
sem ele,
sem meus filhos.
Entrei na menopausa,
parei de ver pessoas,
caminhei por um deserto.

     Acendi uma fogueira,
     por três meses
     ardeu, queimou
     o que não serve.
     Diminuí os atendimentos
     as aulas
avaliei o que restou
     decidi
     dedicar tempo
     para o que restou de mim.
     cansada,
estressada,
despedaçada,
quis saber onde errei,
     a cabeça embaralha
     vira um quebra cabeças
     espalhado no chão,
restou uma única solução,
sair me catando. Por aí!

Como?
incompetente,
repeti a lição:
Separar-me dos que amo
ficar só.
Quis
nunca mais
passar pela dor
do interminável Adeus.

Tudo lembrou o que se foi
o passado,
o que passei
Lembrei,
que tudo vai passar

Só o que não passa
São as marcas deixadas
No coração
Já tão cheio de cicatrizes
Sangram só de bater no peito.

 

COMPANHEIRO

Vai companheiro
Não olhes para traz
     Segues sempre adiante
Em teus passos, voe
     Que paz vais alcançar
Não te importes
Com quem ficou
Nesta Terra
Não ouças esta canção
Segues
Não mudes a direção
Que estou aqui
Nesta espera
Chorando tua partida
Vivendo
Para te esquecer
Se não puder voar
Por amor
não me deixes
Perceber
tua ausência
Nem sentir tua presença

 

ADEUS

Divina presença.
Mestres manifestos
em meus semelhantes
Agradeço as lições de cura
que me levastes a aprender

     Com o Coração limpo
     de qualquer revolta,
     Hoje digo: Irmãos obrigada,
     Por terem me ensinado na dor,

     O que na dor receberam.
     Transmuto teus ensinos
     em gratidão e amor.

     Fazei-me agora Mestre
     ensinar no Amor
     O que de vós recebi na Dor.

 

SUN PA NÃ

Musicada por mim em ritmo de valsa e incluída nos Cantos xamanicos e na peça BRASIL OUTROS 500

O Arco-Íris tem sete cores
Sete cores tem o Arco-Íris
O Arco-Íris tem sete cores
Sete cores tem o Arco-Íris

Chegou a ordem
Na ordem da Terra
Na ordem da Terra
Já chegou a ordem

Mestre é o Sun
É o Sun Pa Nã
Índio guerreiro
Guerreiro da Paz

 

PERDÃO DEUSES

Texto incluído no livro — Bacantes Ayahuaska no TEATRO OFICINA

Shiva, Dionísio, Cristo
     O criador
     do Planeta Terra, desejou
     que ninguém pudesse viver
     sem ser destruído, estraçalhado
     morto por doenças e velhice.
     Mergulhada na dor

De minha consciência
Necessito filosofar.
Silenciosa, quase com medo que ouçam
meus pensamentos, ouso pensar
nos estraçalhamentos da vida,
nos amigos de juventude mortos
por defesa de um ideal.
No marido comunicador
com tanta dificuldade de se comunicar.
Na neta, no namorado, nos antepassados
que fizeram sua Caminhada Sagrada
À TERRA SEM MALES
Nos meus amados filhos,
na continuidade da vida
Vivo, entendo, agradeço,
pelo que aprendi
com as Plantas da Floresta
pelo Toque do alto astral que recebi.

Amém. Amém.
Varias vozes silenciosas, respondem
“Amém”. Abro os olhos
É o Urubusal retirando-se
sem comer a carniça
oferecida pelas Bacantes,
Penteu não foi estraçalhado.
Um novo tempo começa
I O
VITÓRIA
     I Ó
          RIA!

 

CANTO A MERCÚRIO

Mercúrio, senhor
Mensageiro da comunicação
Entre os homens e Deus.
És o Dragão, sangue, sêmen,
Poder purificador
que regenera e liberta.
És Hermes,
Senhor da inteligência, do comércio.
Chamo por teu nome,
no Evangelho de Boas Novas.
És o Mago, inventor de todas as Artes.
Senhor da eloqüência,
do Mistério, e da arte de decifrá-lo.
Carregou-me no colo
nas cartas do tarô,
na pintura, na poesia,
e agora, neste momento.
Mensageiro dos Céus.
manifesto na Terra;
no Som
na Luz
no Poder
duma Planta de Saber

Desejo falar
Rá!

 

MULATO

Incluído na peça BRASIL outros 5000

Do mar, os tumbeiros
chegam com os negros
protegido de Nanã
Sobreviventes

Fazem do arco-íris ponte
entre dois continentes
mais do que desejo de viver
Trazem nos quadris a ginga

Na roda de samba
misturam seu sangue
com o desejo do sinhô,

nascem os mais belos genes
um ser dourado,
chamado de mulato.

 

FALA DE DOM JOÃO

Incluída na peça Brasil Outros 500

Oi Brasileiro, se liga!
Tá no momento, tá na hora
Se liga,
Liga aqui!

Diz pra mim, qual é a tua
Oi Brasileiro!
Acorda esse gigante
Fazer assim é ruim hei!

Tem Cruzeiro do Sul brilhando
coroando a tua cabeça
É Rei. Senta no teu trono,
Antes que algum aventureiro o faça.

Se liga meu filho.
É independência ou morte.

 

ANIVERSÁRIO

Incluída na Peça Brasil Outros 500

Brasil é outros 500
Mais outros anos virão
menino de grande família
parentes em todos os lugares

Um dia veio
com a maior aventura
fazer aqui um povo!

Brasil é outros 500
menino dourado
esta festa é para você
a história é a sua.

Brasil todos estamos aqui
viemos de todos os continentes
desejar a você feliz aniversário
Querido.
QUERIDO.
Menino!!!

 

PALHAÇO

Lembra-se da magnífica tarde
em que lhe conheci
no Circo do Piolim
Lá do Largo do Arouche?

Como estávamos felizes!
O circo cheio de gente pra todos os lados,
tinha trapezista, domador de cavalo,
gente bonita, lembra?

Comprei pipoca, ofereci
e você sentou lá na arquibancada!.
Aí luzes, o palhaço sou eu ! Cheguei brincando

Hoje tem brincadeira?
Tem sim senhor!
O palhaço o que é?
É ladrão de mulher

De cara pintada de branco,
que me conferia um quê de sagrado.

Ri e debochei de todo mundo,
tinha até uma flor que saía água,
lembro que lhe dei um banho daqueles,
na cara, e você ria e ria!

Eu caía no chão e levantava
Com a calça que estava sempre escorregando
aqueles imensos sapatos
me apoiando numa bengala mole.

Palhaço. Palhaço!.
Como fui “Palhaço”!

 

VEM MENINO

Venha cá menino bonito
Venha tomar um drink comigo
Vamos apreciar o sol nascer
Amanhã de manhã

Vem cá menino grande
Venha andar por aí
Contar as estrelas
Acabar na noite...

Vem cá menino
Dê-me sua mão
Beije-me na boca
Não negue não

Venha cá menino, homem
Olhe bem nos meus olhos
Veja os desejos teus
Refletidos no desejo meu.

 

PARA QUEM PARTIU

11-6-2000

Não posso mais continuar
No entanto tenho que ir
Viver, vivendo esta vida
De idas, de perdas de dor

Sem nada de certo
Tudo incerto, nesta certeza
De que tudo, é nada
Pó de estrela e de chão

Esmagados nos meus pés
Cruéis pés que não
Conduziram onde
Um dia eu devia ter ido

Se sei, não sei
O que sei, não é
O que é, partiu
De medo de mim

     Dedicada ao meu filho Guilherme ou Comandante Fênix, como se auto denominou em vida, partindo prematuramente aos 31 anos de hepatite C — No meu horóscopo do ano dizia que eu iria perder um amor, jamais pensei que fosse ele justamente o “amor” ao qual o mapa astral se referia, apesar dele já se encontrar debilitado — chorando diante de seu corpo percebi que os filhos são sempre o nosso grande AMOR.
     Dediquei à sua memória a peça O DISCO SOLAR.

 

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