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HISTÓRIAS SEM PÉ NEM CABEÇA

Mauro Gonçalves Rueda

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Histórias Sem Pé Nem Cabeça
Mauro Gonçalves Rueda

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Documento do Autor
maurorueda5@hotmail.com
maurorueda@uchoanet.com

©2003 — Mauro Gonçalves Rueda


 

Índice

Primeira História
O Avesso do Fim
O Pesadelo
Deixa Que Essa Eu Conto
Era Uma Vez......
Quem Souber Que Conte Outra
Outra História Maluca?!
Uma História Sem Nome
Nova História do Arco Da Velha
O Fim Do Livro Ou O Livro Do FIM

 


HISTÓRIAS SEM PÉ
NEM CABEÇA
(Inventando Coisas)

Literatura infanto-juvenil
COLEÇÂO JOYCEANA — Volume: 6

Mauro Gonçalves Rueda.
São José do Rio Preto, 1.999.


 

 

Para: Joyce de Castro Rueda e Maricy.
Para meus pais e meus irmãos.
Também para o “anjo da guarda” que me inspira.
Em tempo:
para, Paulo César Alves, escultor e desenhista.
Para Márcio, Rô e Flora Jacovani.
Paulo e Patrícia Ferrari.
Natália e Fabiano, vizinhos que chamam minha mãe de “mãe”.
Ao maravilhoso dom de sonhar e acreditar neles, sonhos!.

 

 


HISTÓRIAS SEM PÉ NEM CABEÇA
Primeira História

 

era uma vez uma história sem pé nem cabeça. não tinha início, meio ou fim. era uma coisa desengonçada e fora de moda. contudo, nas horas de fastio, brincava de ciranda-de-roda. certamente, para ver o tempo passar.

o incrível é que, o escritor da história, era pior do que a própria história em si: não sabia quem era, o que era, porque escrevia e o que iria escrever quando iniciou a história.

de forma que, mais que maluquice, ou atrapalho, o escritor pensou em ser a própria história, enquanto a história, brigava dentro dele porque afinal, ela sim, era a história. e ele, tão somente o autor. bem, para dizer a verdade, nem o escritor, nem a história, sabiam o que ia ocorrer ou ser escrito.

da mesma forma que, a história nem imaginava o quê ou quem era. deve ser porque ainda nem existia. uma história que não existe, deve ser algo vazio e sem graça. por isso mesmo, a história chegara à conclusão que, não possuía documentos e portanto, identidade. com isso, o escritor ficou muito zangado e disse: ora, eu sou o maluco aqui!. além do mais, sou eu quem não possui identidade ou documentos. então, vai tirando o cavalinho da chuva porque a história aqui sou eu e não você.

toda essa indecisão acabou gerando uma tremenda discussão cada vez mais acirrada. sem pé, nem cabeça. sem início, meio ou fim. e a história foi ficando naquele “blablablá”, “tititi” e coisa e loisa. como não conseguiam chegar a um acordo, acrescentaram um “etecétera” que é uma palavra um tanto quanto estranha. mesmo para uma história sem pé nem cabeça.

— ora, não me aborreça!. disse o escritor já exaltado.

por sua vez, a história respondeu:

— não vou dizer nada!.

— não quero nem saber.

respondeu o escritor com menosprezo. E a coisa toda continuou naquela lengalenga. sem fim. aliás, sem nexo e sem sentido.

a história enfezada, mudou de linha e de cor de repente. foi aí que o escritor matutou:

— isso não tem a mínima importância. você está pensando que vou me aborrecer?. e amuado, ficou aborrecido com a história. foi por isso que, passou a escrever tudo com letras minúsculas. mesmo no início de cada frase ou parágrafo. por outro lado, a história acabou aborrecendo-se ainda mais com o escritor.

Cerraram o cenho e permaneceram emburrados um com o outro. o escritor mudou de cor. a história também. contudo, apesar das discórdias, acabaram concluindo que, era melhor fazerem as pazes. e fizeram. acabaram ficando de bem um com o outro. tanto a história, quanto o escritor. afinal, brigar não é uma atitude legal e no mais, a gente vive precisando uns dos outros mesmo!...

melhor viver-se em paz, disse. quem disse essa frase?. ora essa, como posso eu saber?. aí, você leitor, vem e fica bravo comigo?. eu não tenho culpa se a história e o escritor viviam brigando. não tenho mesmo!.

foi então que tudo ficou de pernas para o ar. e a história sem ser terminada e sem “se terminar”. mas, como eu disse anteriormente, não tenho nada a ver com o peixe. querem uma sugestão?. porquê vocês não tentam refazer essa história e escreverem vocês?. bem, bem... acho que, por enquanto, essa história termina aqui. mesmo sem terminar. sem pé, nem cabeça. ora essa!. será que toda essa bagunça termina mesmo por aqui?.


O AVESSO DO FIM
Segunda História

 

como o escritor queria o avesso do fim, o fim entrou na história sem pé nem cabeça pelo avesso. o que ele fez?. fácil, pulou do fim para o começo. e,
acreditem se quiserem, começou saltando de linha e trocando de cor. essa atitude deixou o escritor tão irritado que, não conseguindo controlar a história sem pé nem cabeça, acabou transformando-se no avesso do avesso. a história e não ele, o escritor.

e, de repente, lá estava: o avesso do fim.

“deve ser o começo”. concluiu o escritor, empalidecendo e mudando de cor.

empalideceu. Ficou tão transparente no amarelo que, não conseguia enxergar a si próprio.

aí, o escritor resolveu voltar à sua cor natural. pensando bem, é melhor ter qualquer cor do que não ter nenhuma. nem que seja uma coisa assim, meio sem pé nem cabeça. no fim do começo ou, no começo do fim. talvez o avesso do fim, fosse o fim do avesso. vai saber?. matutou o escritor, já completamente esquecido do que iria escrever. ficou olhando para o vazio do nada que, é uma coisa assim, que existe sem existir. uma coisa que, às vezes, se sabe que tem, mas continua faltando.

então, ele ficou ainda mais chateado porque, era uma coisa tão sem graça aquele vazio que, chegava a dar sono. sono, preguiça e vontade de ficar dando risada o tempo todo. risada de tudo e de todos porque, coçava-se distraidamente.

foi então que, de tanto permanecer ali parado, a fitar o vazio, acabou sentindo saudade das coisas do sem-fim. não do avesso do fim. ou do sem pé nem cabeça. ou do avesso do avesso. mas, do sem-fim. foi por isso que ele ficou novamente chateado.

sem mais nem menos, saltou para esta linha abaixo, mudando de cor mais uma vez. decidido a colocar fim no começo ou, começo no fim pelo avesso sem avesso que, naquela história sem pé nem cabeça, o outro escritor que era o avesso daquele que escrevia, tascou um ponto final e pronto. basta!.

mas que coisa mais sem graça!. pensou o escritor falando ao mesmo tempo sem falar ou pensar em coisa alguma. decidido a pôr termo àquela história sem pé nem cabeça, virando-a pelo avesso do avesso, escreveu: aqui é o avesso do fim do começo que vai dar no começo do fim. analisou bem, leu, releu e concluiu:

“acho que ninguém vai entender”.

disse isso porque, ele mesmo, estava bastante confuso. também, não era pra menos. havia feito tanta confusão com a história que ela parecia não ter pé nem cabeça. parecia mais como se estivesse meio pelo avesso do avesso. sem o fim do começo. nem o começo do fim.

com as palavras mudando de cor e embolando-se pelo meio do meio da história que zangou-se com o escritor, ele desligou a lâmpada, vestiu o pijama, deitou-se e despertou para descobrir, finalmente que, estivera o tempo todo sonhando.
ou tendo pesadelo?.....


O PESADELO
Terceira História

 

“que coisa mais complexa!”. exclamou o escritor, cansado daquelas histórias sem pé nem cabeça que davam cãibras em seu “cérebro”. foi quando, sem saber de onde viera, ouviu. ou pensou ter ouvido, uma voz que sussurrava: “pesadelo”.

“quem disse isso?”. perguntou o escritor, assustado.

“eu!”. respondeu a voz enigmática.

permaneceu em silêncio. ou melhor, ficaram em silêncio: o escritor e a voz. ele esperando que ela dissesse alguma coisa. ela, que ele perguntasse algo. ansioso, o escritor passou a cantarolar: “atirei o pau no gato-to!. mas o gato-to...”. nada. a voz permanecia muda. a voz ou o pesadelo?.

o escritor não sabia. aliás, ele nunca sabia muito bem coisa alguma. chegou mesmo a pensar em parar de escrever. deixar de ser escritor. que adianta um escritor que nunca sabe o que vai escrever ou, escrevendo, perde o fio da meada, o controle de suas histórias?. concluiu que escrever, às vezes, parecia mais um pesadelo do que outra coisa qualquer. no mais, escrevia porque gostava. era um escritor inédito. não havia publicado um livro sequer. suas histórias eram terríveis. ninguém as lera. buááá!.

irrompeu num pranto de fazer dó. pobrezinho!.

“pesadelo!”. voltou a sussurrar-lhe nos ouvidos, a estranha voz.

“eu sei!, eu sei!”. respondeu mecanicamente, sem pensar, o escritor inédito. estava realmente absorto, divagando com aquela linha de pensamento que, já nem importava-se com a tal voz. seu problema maior era ser inédito. algo inconcebível para qualquer escritor. e voltou para os seus prantos. chorou tanto que inundou a casa. ficou boiando nas águas de seus olhos, perguntando se estaria chovendo.

consolou-se um pouco porque, se não conseguia deixar de ser inédito, pelo menos conseguia fazer chover. já era alguma coisa. pensou até mesmo em mudar de profissão. fazer chover era uma boa profissão. tanto quanto escrever. achava.

achava por pouco tempo porque gostava mesmo era de lidar com histórias. escrevê-las. ficar discutindo com as idéias que teimavam em não vir à luz. aliás, gostava das histórias mais estranhas possíveis e impossíveis. sobretudo, das que não tinham pé nem cabeça.

então parou de chover.

então ele descobriu que a voz enigmática, vinha do pesadelo.

“eu te peguei, seu bobo!”. gritou para o pesadelo que já não tinha mais o que fazer junto dele e se mandou para outros sonhos. o escritor voltou a ficar à sós com seus pensamentos. já não poderia mais mudar de profissão porque, para fazer chover, teria que chorar e para chorar, teria que ter um pesadelo para convencê-lo de que ser um escritor inédito, era algo terrivelmente terrível. e era mesmo!. Ah, como era!.

o que fazer, então?. voltou a cair naquele pranto dolente, sem consolo. um choro descontente, de escritor que vivia naquele pesadelo de ser inédito.

será que minhas histórias são tão terríveis assim?. perguntava-se desconfiado. desconfiado de suas histórias e de sua própria capacidade.

foi por isso que a própria história acabou brigando com ele e, zangada, perguntou-lhe categórica:

“você não confia em sua própria capacidade?”.

ele respondeu choramingando: “sei não...”.

somente então, a história percebeu que o estado do escritor era lastimável. pensou, pensou e chegou à conclusão que ele necessitava de ajuda. um pouco de autoconfiança, autoestima. alguma coisa assim, sei lá!. não eu. a história é que não sabia o “sei lá!”, dela.

sabem de uma coisa?. a história tinha lá suas razões!. quando a gente não confia e acredita na gente mesmo, fica muito difícil de conseguir-se o que desejamos da vida. por isso, o escritor tinha que despertar daquele pesadelo e passar a acreditar, confiar em si mesmo e, no mínimo, mostrar suas histórias para outras pessoas. somente assim, poderia avaliar melhor sua obra. obter a opinião do leitor. ouvir sugestões. na realidade, essa seria uma excelente forma de melhorar o que vinha fazendo que, era escrever.

tudo isso ele foi descobrindo aos poucos porque, sua própria história, conforme ele a escrevia, ia ajudando-o. uma vírgula aqui, um ponto ali, um parágrafo acolá..

de forma que, sem deixar de escrever como vinha fazendo até então, ou seja, meio sem pé nem cabeça e um tanto complicado, o escritor mandou o pesadelo embora para sempre. continua escrevendo até hoje. discute com suas próprias histórias. perde o controle delas. e, embora continue inédito, já nem se lembra desse detalhe. continua escrevendo porque gosta. gosta porque escreve. e de vez em quando, chora para fazer chover. nas suas histórias, é claro!.


DEIXA QUE ESSA EU CONTO
Quarta História

Que eu contoooooooo!!!!!!!!!

 

um dia, o escritor encontrava-me meio enfarado na frente do computador. a tela em branco e um branco na mente. não vinha-lhe uma ideiazinha sequer para começar uma nova história sem pé nem cabeça. por mais que se esforçasse, acabava achando que não iria conseguir escrever nada. achou que fosse porque vivia escrevendo histórias para ele mesmo, sem ninguém para compartilhá-las. era, realmente, uma coisa um pouco triste não ter ninguém com quem compartilhar uma idéia. por mais maluca que fosse.

“afinal, existem tantas histórias pelo avesso sendo publicadas hoje em dia que, uma a mais, ou a menos, não faria diferença!”. pensou o escritor sem nada escrever porque não estava nem um pouco inspirado. se não estava inspirado, não tinha nada para escrever. se começasse a escrever sem inspiração, algumas linhas após o início, já não teria mais nada para contar. ou então, ficaria maçante e chato. sem pé nem cabeça. meio pelo avesso. mas não era dessa forma que ele costumava escrever?. meio pelo avesso e sem pé nem cabeça?. deixa prá lá!. vai entender esses escritores malucos!.

o escritor pensou em todas essas possibilidades. não é fácil escrever quando a gente não está inspirado.

“principalmente histórias atrapalhadas para confundir o leitor!”. observou o escritor que, especializara-se em escrever coisas estranhas e baralhadas.

ele escrevia coisas assim, estranhas, baralhadas, confusas, sem pé nem cabeça, sem meio ou fim porque, estava cansado daquelas histórias todas certinhas: com início, meio e fim. com seus enredos, tramas, personagens e outras regras que os especialistas haviam imposto.

quem inventa regras é inventor e não escritor. como um crítico pode achar-se o tal com suas opiniões se, não foi ele quem sentiu a história quando ela estava sendo concebida?. aí é que está a discrepância toda!. o crítico da história é o próprio escritor. além da história, é claro. mesmo porque, o escritor vive discutindo com sua própria história. e a história discutindo com o escritor.

“a liberdade de expressão existe para que, cada um possa expor seu ponto de vista”, disse-lhe uma história que ainda não havia sido escrita.

não havia sido escrita mas já estava lá, pegando no pé do escritor. de qualquer forma, o fato não era de todo ruim. acabara despertando a mente enfarada do escritor que começou a pensar no caso. quer dizer, começou e não porque já não sabia se era ele quem estava pensando no caso ou o outro que, sem pedir licença foi tomando seu lugar e impondo:

“deixa que essa eu conto!”.

o escritor já ia ficando invocado com aquela intromissão quando pensou:

“história maluca é assim mesmo...quando a gente mal espera, ela vêm e conta-se a si própria”. como estava sem inspiração, deixou que a história contasse sua própria história. afinal, ela tinha lá seus direitos!.

e a história começou com o seu “blablablá” e coisa e tal, toda atrapalhada e mais perdida que caipira quando chega numa grande metrópole. começou enrolando. foi chegando na metade ainda mais enrolada. o escritor já estava desconfiado que a história não tinha o que fazer, o que contar. ia chegar ao final daquele jeito: contando sem contar coisa alguma. mais enrolada que novelo de lã. então disse:

“tá querendo me enganar, né?!”.

e a história nem se tocou. continuou no seu “blablablá” que parecia não ter fim, enquanto o escritor começava a perder a paciência com tanta lengalenga.

então, além de enfarado, o escritor passou a ficar impaciente com aquela história mais estranha do que as que ele costumava escrever. “para contar uma coisa dessas, mesmo sem inspiração, eu mesmo contava”. pensou cortando o barato da história.

“basta!”, ordenou peremptório.

a história deu um sorriso amarelo, sem graça e foi saindo de mansinho. sem pedir licença, da mesma forma que chegara, desapareceu.

“é nisso que dá confiar em história maluca!”, exclamou o escritor que, além de não estar inspirado, pegava-se zangado.

“mas que droga!, nem idéia maluca me ocorre neste momento!”.

“deixa que essa eu conto!”.

pronto!, lá vinha outra história atazanar-lhe a paciência que, há muito, ele havia perdido.

foi por isso que, naquele dia, ele nada escreveu. estava cansado de histórias malucas que, na falta de inspiração, apareciam-lhe sem pé nem cabeça.

“histórias sem pé nem cabeça, conto eu, bolas!”, disse desligando o computador, guardando papel e canetas e desistindo das histórias. achara por bem não insistir, já que, não tinha a mínima idéia do que poderia ocorrer depois de ouvir novamente aquela voz pedindo:

“deixa que essa eu conto!”.


ERA UMA VEZ...
Quinta História

 

era uma vez a história do “era uma vez” que começava mais ou menos assim:

“era uma vez......”.

“era uma vez?”—, perguntou o escritor, desconfiado daquela história.

“sim!. era uma vez a história do era uma vez, oras!”.—, exclamou a história que não conseguira entender o porque daquela pergunta tão imprópria.

o escritor, por sua vez, continuava desconfiado daquele estranho “era uma vez”. refutava a idéia de iniciar uma história com aquele clichê. um mero jargão. quase todas as histórias têm o mesmo início e todos sabemos qual é!. cruzou os braços, cerrou o cenho e esperou.

		 era
			uma
				vez

intrigado, o escritor observou a história que, brincando, desenhou três elipses e escreveu o início da história do “era uma vez” dentro delas. “até que ficou um barato”, pensou bem antes de concluir. contudo, de história mesmo, até aquele momento, nada lera que demonstrasse algum progresso. e achou que já estava tornando-se enfadonha aquela coisa de “era uma vez a história do era uma vez que não saía do era uma vez”. será que não havia nada de diferente?. que não sairia daquilo?.

continuou esperando.

a história parecia que também fazia o mesmo porque, permanecia naquela indecisão estranha. ou seja, havia perdido o fio da meada, com certeza. deveria ser isso porque, não continuava nem desistia de contar o que já nem se lembrava mais.

“isso não é lá muito convidativo para o leitor”—, observou o escritor.

“eu não posso fazer nada”.—, respondeu a história, meio sem jeito.

“como não pode fazer nada?. Ou conta a história do ‘era uma vez’ ou desiste de uma vez e pronto!”.—, exclamou o escritor indignado com a gafe.

“está bem. vou continuar”.—, disse a história um tanto quanto insegura.

mas não continuou coisa alguma. parecia concentrada, pensando no que iria fazer quando, pareceu ao escritor que ela havia, finalmente, tido alguma inspiração.

foi quando ela lançou mão de mais uma estratégia:

pensa que é fácil contar a
história do “era uma vez”?

		se  eu tivesse  alguma
		idéia de como
		continuar essa história,
		eu não estaria inventando
		moda, oras bolas!

Era uma vez era.... uma 

		o que
		faço
		agora?

foi então que o escritor percebeu que estivera sendo enganado todo aquele tempo por aquela história que nem sabia contar a verdadeira história do “era uma vez”. mas será que alguém saberia contar tal história que, segundo os historiadores parecia mais velha que a própria história da literatura ou, da humanidade?.

“está bem!., não precisa ficar enrolando. afinal, como escritor, eu compreendo a sua boa vontade..”—, disse o escritor das histórias malucas para a maluca da história que não sabia como contar a história do “era uma vez”.

	ufa!, até que enfim esse
	maluco desse escritor
	percebeu que não dava
	mais pra continuar a
	lengalenga. acho que
	vou escrever o fim e pronto.

foi o que pensou a história que queria escrever a “história do era uma vez”, sem saber como.

bem, ela pensou. somente pensou. mas não chegou a escrever “fim” porque o escritor a impediu, trancando-a num quadrado. afinal, ela estivera fazendo elipses e quadrados o tempo todo para passar o tempo que, não haveria mal algum em mantê-la dentro de um daqueles quadrados que ela tanto gostava. resolveu o escritor.

Muito bem, acabou o seu tempo,
dona história maluca que, não soube
contar a história do “era uma vez”.
mas não se preocupe porque, 
contar histórias malucas de verdade,
é um caso para escritores
malucos de verdade.
não é para qualquer principiante
que ainda não tenha anos
de muita dedicação. mesmo
continuando inédito, isso lá, 
eu sei fazer!. até qualquer dia. 
e tenha um bom final.
		fim
	Fim.fim.fim.fim.fim. 
	fim.fim...fim..fim..

escreveu o escritor que gostava de histórias sem pé nem cabeça, sem início, meio e fim. embora ele houvesse, após muita relutância, escrito a palavra fim dentro do quadrado da “história do era uma vez” que, aliás, nem chegara a ser uma história de verdade, mas sim, uma tentativa frustrada.

aliás, frustrante!.

querem saber por quê?.

porque eu já li muitas histórias iniciadas com o velho jargão “era uma vez”, muito boas mesmo. isso depende muito de quem escreve. mas como nem todos aqueles que escrevem ou contam histórias começam com o “era uma vez” ou são malucos, nem sempre a gente pode esperar que toda história seja tão boa quanto “aquela”, lembram?.

aquela, qual?. e eu é quem vou saber?!... mais essa, agora!.


QUEM SOUBER QUE CONTE OUTRA
Sexta História

 

Ah!, agora sim, vou contar-lhes uma boa história. uma história sem pé nem cabeça, ao velho estilo (modéstia à parte), criado por este escritor que lhes dirige a palavra escrita nestas mal traçadas linhas de um “pentium,166”, com letras todas em minúsculas, estilo “arial” e tipo “14”. além disso, estou usando o programa “microsoft word” que, não poderia ser escrito em minúsculas. e escrevo com cores e fundo. obrigado pela atenção, jovens leitores!.

bem, como vocês sabem, o maior problema de um escritor fora do padrão normal, ou seja, deveras inventivo e inovador na arte de criar, é antes de tudo, ser inteligente. tenho cá minhas dúvidas, sem modéstia alguma porque, como vocês já perceberam, desde o início deste singelo livro, estou mais perdido do que cachorro em dia de mudança.

ora, não riam amiguinhos e amiguinhas!. às vezes, por mais que tentemos, somos simplesmente uns desastres. a minha desculpa preferida é que, além de todo o mundo errar, a história é quem acaba deixando-me confuso e atrapalhando o meu enredo, minhas tramas e personagens. personagens que, geralmente, são duas: eu e a própria história.

como eu e a minhas histórias vivemos nos digladiando o tempo todo, é por isso que consigo ir “espichando” essa lengalenga toda atrapalhada que, no final, nem eu mesmo consigo entender patavina. também não sou perfeito, né?.

mas, eu ia dizendo que, escrever como os outros escritores costumam fazer, não me satisfaz. não que eu seja melhor que eles. se eu fosse, não seria inédito há tantos anos. há dezessete anos que escrevo quase que diariamente. talvez um dia eu aprenda. eu sou um cara esforçado. e teimoso.

“e burro!”.

“burra é você, sua história intrometida”.

“é burro mesmo. dezessete anos e não aprendeu nada ainda!”.

“ninguém aprende tudo em poucos anos e além disso, ninguém te convidou para entrar na minha história”.

“história não é festa para que se exija convite e você sabe que eu sou a sua história sempre. mesmo que você, por ser o escritor, não admita. então, porquê não pára de enrolar os leitores e não conta logo a tal história ‘sem pé nem cabeça’ como sempre?”.

“é por isso que nunca consigo escrever uma boa história. sempre aparece uma outra, ruim, invejosa, para ficar baralhando minhas idéias até eu perder a concentração e a inspiração. é por isso!”.

“jogando a culpa nos outros novamente... é sempre assim, não escreve nada que presta e alguém tem que ser o culpado pelos fracassos do inventivo escritor de meia tigela. aliás, tigela não, meio pires que é uma coisinha assim ó, perto de uma tigela. tenho dito”.

“dito uma porção de baboseiras, para variar. vai chispando, escafedendo-se, sumindo, dando o fora do meu texto, sua história ‘água com açúcar’, vai!.”.

“é, tem gente que não desconfia mesmo!...”.

“tá querendo insinuar o quê?”.

“eu?, nada. eu sou somente mais uma história sem pé nem cabeça. você é quem é o gênio por aqui...”.

“gênio? quem disse que era gênio?. eu tento ser um escritor diferente, somente isso!”.

“é por isso que vai passar a vida inteira recebendo um reconhecimento diferente do leitor. ou seja, nenhum.”.

“quer saber de uma coisa?”.

“o quê?”.

“aperto este botão, deleto você e, boa viagem, sua história implicante!”.

foi assim que, mais uma vez, o escritor e a história acabaram desentendendo-se. mas antes de teclar o botão “delete”, do teclado do computador, a história implicante saltou para uma pasta denominada “meus documentos” e ficou lá, em meio às outras histórias sem pé nem cabeça, escondida, espiando o escritor com suas idéias um tanto quanto atabalhoadas. e ele continuou tendo-as às dúzias. uma pior que a outra.

de uma coisa, podemos ter certeza, história e escritor são, pelo menos aqui neste livro, bastante persistentes e obstinados. além de discutirem muito, o que não deixa de ser engraçado, de certo modo, convenhamos.

outra coisa, o escritor tem razão quando diz que tem sempre uma história ou alguém atrapalhando-o. acho melhor deixá-lo em paz ou, ele nunca vai conseguir terminar de contar essa história que ele nem iniciou. até mais, crianças!.

“eu não disse?. vocês viram só?. quando não é uma história maluca, é o outro escritor que pensa que sou eu e pimba!. dana a dar palpite, explicar, ocupar espaço, tomar conta do que estou escrevendo. sabendo que sabe de tudo e achando que sabe o que estou pensando ou sentindo para ficar dando tantos palpites. assim não dá para escrever mesmo!. estou cansado de ser interrompido!. acho que vou chorar um pouco e depois continuo. com licença, crianças!. buáaaaa!!.”.

acho que agora vai!. se não aparecer mais nenhuma história maluca para me interromper... ou, aí já é dose, o outro escritor que vive pensando ser eu e doido para tomar o meu lugar. ocupar o meu espaço quando estou escrevendo minhas histórias sem pé nem cabeça, acho que vai.... acho!....

como eu ia dizendo, agora vai. a história sem pé nem cabeça que, ainda não consegui escrever devido às interferências e que, nem sei como vai ser, começa assim, vejamos...

eu vou contar uma história para
vocês: sem começo, sem pé, sem cabeça,
sem meio, nem fim. pronto,
acho que contei. quem souber
que conte outra. já perdi a
minha vez.
sem pé, nem cabeça,
agora contem vocês!.....           

vamos, contem vocês que, de hoje em diante, terão sua vez. é fácil, não custa tentar. basta concentrar-se e iniciar. nem é necessário começar pelo começo. comecem pelo meio ou pelo fim. finfiririfinfin!. vale também, pelo avesso do avesso que, aos tropeços, vai dar em algum lugar que desconheço! seja meio, início ou fim.

mudem de linha, troquem de cor.

tornem a mudar de cor mais uma vez para ver como fica.

iniciem a história pelo fim que fica sem o início. ou pelo meio que vai ficar um barato. ou um rato. ou um sapato. qualquer coisa que seja diferente. um história maluca, mas que seja contente para alegrar essa gente que come, dorme, sonha, fala, anda, trabalha, consente.

quando vocês estiverem cansados, recomecem. isto será bom para que possam descansar. e quando estiverem descansados, cansem-se novamente para contar uma história qualquer, sem pé nem cabeça. antes que eu adormeça ou me esqueça ou, simplesmente, desapareça.

é, acho que toda história tem que ser mais ou menos assim: toda embaraçada, estranha, inovadora. senão, vai ficar uma coisa sem graça, parecida com tudo o que já foi contado antes mesmo de ser escrito. sei lá... acho que é mais ou menos isso!.

bem, eu contei essa história.
estranha, eu sei.
mas está uma
crise de inspiração
que não é fácil não.
contei para vocês.
quem souber que conte outra.
ou deixa como está.
na próxima,
eu prometo que tentarei
melhorar.
agora, com licença
que vou descansar.
estou doido para
escrever a palavra
fimmmmmmmmm!!!!!!!!.

		F  i   m !!!!

OUTRA HISTÓRIA MALUCA?!
Sétima História

 

outra história maluca?!. e daqui para frente tudo sem parágrafo?!. essa não!. como se já não bastassem as que você escreveu até agora, sem pé nem cabeça. umas besteiras que ninguém consegue entender lhufas!. está pensando que leitor não desconfia quando está sendo enganado?. isso não é coisa de escritor que se preze. você está abusando da sorte. porque você não volta para a escola e vê se consegue aprender alguma coisa útil para você e para os outros?. não vai desistir, não é mesmo?. foi o que pensei!. todo enganador é persistente e chato, claro!. mas fique sabendo que hei de denunciá-lo ao procom. à sociedade protetora dos animais. ao ibama. à fundesp. à funai. ao movimento dos sem-terras. à receita federal. ao vizinho. à sociedade protetora das baleias e, principalmente ao mec!. sem contar a funesp e a fininvest que financiou este computador e você não terminou de pagar, ouviu bem?
“ouvi sim e daí?. vou processá-la, sua história xarope, por usar a minha história para ficar divulgando todas essas instituições, fundações e empresas financeiras”.
“processa!, processa!. na realidade adoro processos!”.
“ai, minha nuca!”.
“o que foi, escritorzinho bestalhão?. dorzinha na nuca, é?!”.
a nuca do escritor, caro leitor, é algo deveras importante para o decorrer da história. senão, vejamos: primeiro porque, um escritor sem nuca é um escritor sem pescoço e concomitantemente, sem cabeça. sem cabeça é algo que não é fácil. sem cabeça não se pensa. se não se pensa, como ter idéias?. sem idéias não há histórias. sem histórias eu não estaria escrevendo. mesmo sem pé nem cabeça. por isso, eu quero meu pé e minha cabeça. digo quero o pé, a barriga e a cabeça da minha história. hei de processar todos aqueles que infringiram a constituição e meus direitos nela registrados.
“violaram os direitos do autor!”.
“é isso aí, sua esdrúxula história, remanescente de uma parafernália sem precedentes históricos na história dos escrevinhadores!”.
“vai sofisticar?, falar difícil, engrossar o caldo?”.
“vai me provocar com gírias reles, sua lambisgóia?! afinal, o que é isso mesmo?!”.
não importa, furou a barca. mixou o papo!. besteiról, pura catarse emocional. em tempos bicudos e de vacas macérrimas, nada mais que a escassez de palavras e frases e inspiração. se você pensa que minhas histórias são prolixas ou relapsas, saiba que eu também não sei!.
mas, como eu ia contando, o “brega nacional” com a refrega do bananal; o movimento modernista de vinte e dois mais o tropicalismo e o pessoal do ceará, não têm nada a ver com a minha história que ora narro-lhes aos cântaros, mui emocionadamente porque, minha mente verte águas caudalosas pelos cantos dos olhos intemporais, imemoriais, nessa ladainha enxovalhada de se contar histórias sem pé nem cabeça que ora me apeteça antes que eu me esqueça!.
“í, ficou ruim das moleiras!. quanta besteira!”.
“é, eu to ruim das moleiras mesmo. eu não to com nada. estou completamente por fora. absolutamente por fora. eu não tenho nada a ver com isso. não é nada disso. que eu preciso. o que eu não preciso é o que nem sei do que eu preciso. disse o cantor, ‘um quilo mais daquilo, um grilo menos disso, e etecétera e tal, sacou?”.
“por acaso, você tem um plano de saúde?, seguro de vida?, carteira assinada?, cic, rg, cpf, registro de nascimento, duas fotos 3X4, reservista militar, mãe, pai, esposa, filhos, casa de cohab, endereço, holerite, negativo do spc, do pagamento de luz dos últimos dez anos, do pagamento de água da última gestão, atestado de residência, atestado de pobreza, atestado de clemência, exame de corpo delito, exame psiquiátrico, carteira de habilitação, cd do peninha ou do tiririca, um exemplar do ziraldo, um do jô soares, dos direitos das crianças, da onu, da organização mundial da saúde, do ministério da fazenda, da receita federal, e carteirinha do mec?!. têm?!...”.
“que história mais chata!. chatíssima!. vá procurar outro para arranjar intrigas; criar picuinhas; açular com esse bafafá e teretetê, vai!”.
“vou e não vou. fui, mas voltei. estou indo, mas fico, sacou?”.
e eu que pensava em escrever um livrinho singelo, simples, diferente, prático, meio sem pé nem cabeça para a moçada, a turminha da escola.. da rede estadual, principalmente!. porquê ninguém mais escreve nada de diferente. é sempre a mesma coisa. são sempre os mesmos consagrados autores de um século, século e meio atrás que, a garotada tem que digerir, fazer a tal de ‘releitura’. cruz-credo!, como virou moda essa tal releitura!. é releitura de música, é releitura de texto, releitura de teatro, de filmes, de bula de remédios. eu estou fazendo uma releitura do mapa do meu cérebro para ver como andam os grandes canyons? será que eles andam? ufa!, tudo isso enfada, enfara. acaba nos deixando macambúzios!. será que nada se transforma?. que a evolução constante estacou e encontra-se atabalhoada, aturdidamente mirando o crepuscular céu de um chão de estrelas porque nossa vida era um palco iluminado? o que será, que será?. será, só imaginação?. o que tem de música com esses serás!. eu tento ser moderno, mas sou do era uma vez um gato rabicó. do sítio do pica-pau com goiabada de marmelo e marmelada de goiaba. eu sou do tempo da carochinha, dos contos de fadas, dragões, sapos encantados, bruxas voadoras... das histórias da vovozinha, quando estória não havia virado história porque hoje estória já virou história, fez história e podem observar o currículo, o boletim escolar, o registro na câmara brasileira do livro, o projeto da secretaria da educação e curtura do estado das azaléas. pensam que eu não penso?. pensam que eu também não sei quem foi pagu, carlos drummond de andrade, cecília meireles, mário e oswald de andrade, tarsila do amaral, jerônimo o herói do sertão, meu pé de laranja-lima, éramos seis de meia-dúzia, plínio marcos, fernando pessoa, cebolinha, xuxa, cascão, zé bento, maurício de souza, padre zezinho,sjc, mazaropi e jeca tatu?!. fui puxado à burro também!. sou do tempo do bondinho subindo a ladeira, nasci em meio à fumaça negra das chaminés de santo andré, mas meu coração está enterrado no fundo do terreiro da casinha pequenina do quintal de fazenda, acocorado mirando as estrelas cismando, solitário feito um menino descalço e abandonado sem ter histórias para contar senão para meus próprios fantasminhas camaradas, pluft!. ufa, que agora eu me soltei!. esqueci-me dos parágrafos, vírgulas, apóstrofes, hífens, acento tônico, agudo, crase e, sem crise, agora ninguém mais segura este escrevinhador sem canga e sem rédeas!. viva eu, viva tu, viva a liberdade de expressão e a forma e o conteúdo. sem pé nem cabeça. sem início, meio ou fim. fazia tempo que eu desejava não ser interrompido para dizer que... para dizer que.... ah, sei lá o que eu queria dizer mesmo?!. acho que eu não... nem sabia o que dizer. afinal, não é todo escritor que pode escrever sem nem ter o que dizer!.
mudo de linha e parágrafo.
eu sou um negro gato de arrepiar....
viram como é fácil que de tão fácil vai tornando-se cada vez mais difícil.
assimilaram bem?!. esse verde não ficou lá essas coisas, não!.
voltemos ao velho estilo padrão e prossigamos felizes da vida porque, após vinicius e toquinho, ninguém mais consegue produzir um infantil legal. por quê?. a arca de noé é o que é!. um marco na história e fim.
mas, como eu ia dizendo, ou escrevendo, ou escrevendo para dizer, uma história sem pé nem cabeça é tão inovadora quanto uma administração pública, um discurso político para leigos. entenderam? nem eu consigo, para ser sincero. e eles ganham tanto dinheiro que nós, nossos pais, nossos velhos avós e bisavós sempre pagamos mais impostos do que temos para receber no fim do mês. mas deixa isso de lado. porque o bom menino não faz pipi na cama e o mar quando quebra na praia é bonito.
acho que perdi o rumo. a rédea, o fio da meada. acho que perdi a inspiração. amanheceu. o gato comeu minha história. onde foi que eu deixei minha história?. estava escondida bem aqui, debaixo do teclado. da carteira escolar, na hora do recreio, no giz, na lousa, no construtivismo. nesse abismo, abissal, torturante bandêide no calcanhar....onde foi esconder-se minha inspiração e minha história sem pé nem cabeça?. ah, deixa pra lá!.
acho que isso é o fim!.

	fim, firirifinfin!
	fa, fé, fi, fo, fu...
	fim!
	nada como o fim!.

UMA HISTÓRIA SEM NOME
Oitava História

 

uma história sem nome, é como outra qualquer. quero dizer, a gente escreve e cada um dá o nome que acha que a história mereça por aquilo que ela significa ou deseja dizer com o seu enredo, trama e personagens. eu, bem, eu já estou acostumado. às vezes, eu escrevo a história e depois de pronta, fico trocando nome, experimentando. outras vezes, já tenho um nome ideal, bacaninha, para uma história que nem existe. isso é bem mais fácil. você vai inventando um monte de nomes de histórias e em seguida as escreve. aí é que a jurupoca pia. o que será que é jurupoca?. jurupoca pia mesmo?!. bem, isso é de somenos importância para o nosso caso. não tem nada a ver e, pelo jeito, não tenho muito a contar, narrar..... a falta de inspiração, quando se escreve, é algo doentio porque deixa a gente com a cuca fundida, quente, sem saída. aí é que está o xis da questão!. pensam que é fácil escrever uma história para um título desses: “uma história sem nome”. arre que, somente inventando algo sem pé nem cabeça mesmo!.
mas, como eu ia dizendo, ou melhor escrevendo, apesar dessa história não ter um nome, trata-se do
“era uma vez, um menino do mato”. do mato, não porque morava lá no meio da quiçaça, mas sim, porque ele era feito um menino que fora criado longe das coisas das grandes cidades, das metrópoles. sem conhecer jornais, revistas, vídeogame, televisão, cinema, teatro, trem, carro, cachorro-quente, x-salada, fliperama, supersônicos, batimóvel, fuso-horário, curral-eleitoral, shopping, sorvete de casquinha, vôlei, basquete, serv-festas, edredon, computadores, informática, era do rádio, guerras, violência urbana, sem-terras, sindicato trabalhista, petista, peemedebista, peessedebistas, chantagista, punguistas, listas e filas, (e olha que tem filas neste mundão de deus!)....
então, na sua simplicidade, era somente um menino do mato. e vivia de cócoras no meio do quintal de terra, de junto da porteira da propriedade, cismando com o sol esturricando sobre sua moleira, lá no alto, no céu muito límpido, às vezes azul, às vezes branco e o sol vermelho, quente, bonito, forte, orgulhoso... o menino do mato, cismava espiando a carreira de formigas operárias que iam pelo trilho, carregando mil pedaços de folhas maiores do que elas, formigas, e aquela vastidão de terras sem fim....
.... que desapareciam de vista que ele mirava o horizonte e o para lá, ainda mais pra lá do horizonte, deveria ter outros horizontes tão bonitos e simples de serem vistos.... como tudo era simples e belo de ser entendido à sua volta. o capim, a grama, os gravetos, o cacho de gravatá, o lagarto verde, o lagarto tiú, a taturana, as borboletas, a cobra-cega, a azedinha, a macauba, a gabiroba, o boi escarvando o chão do pasto, o caqui, o melão de são caetano, os currais, as cancelas, porteiras, as ossadas de bois abatidos e descarnados pelo mato, o uivar de lobos dentro da mata virgem, o rio, a cachoeira, a lagoa, os patos, os porcos, a cisterna, a tina de água, o batedouro, o pasto de colonhão, o capim gordura, o arranha-gato, as garranchas, os pés de milho, o pomar, o canavial, a estrada boiadeira, o berrante tocando, a tralha, a canga, o carretão de bois, as conversas, as fogueiras, o sabão feito no tacho, o chouriço, a cacunda, o cascão no calcanhar, as lêndeas que vó panhava, a cusparada de pato que vô dava porque mascava fumo, o cipoal, saci-pererê, mula-sem-cabeça, coivara, sucuri, jibóia, calango, busca-pé, batata na brasa, quentão, bandeira de são joão, estilingue, saibro, jibóia, quaresma, lobisomem, o pato, o rato, o gato do mato, o alecrim do campo, a tiririca, o carrapicho, o jatobá, o leite morno tirado na hora, o pão do forno, o bicho-preguiça, o gambá, o papa-vento, o camaleão, as lombrigas, o bicho de pé e os pés no chão, base dos cambitos, sustentáculos do corpo franzino, mirrado, de barriga grande, de tez pálida, olhos encovados, olhar de boi manso, triste na invernada mas, aquela paz crepuscular forrada e regida pelo canto dos pássaros às centenas...
“essa é a história sem nome do menino do mato. que era uma vez um menino do mato que não conhecia, nem sabia da existência das coisas das grandes cidades. então, seus olhos miudinhos, ficavam mirando uma distância que somente existia na imaginação, dentro do peito de passarinho engaiolado, ‘bascuiando’, como quem ousasse adivinhar o que poderia encontrar por detrás daquele morro por onde passava boi, boiada, as mulheres com as latas de água na cabeça, os feixes de lenha nos ombros e os homens com suas foices, machados, enxadas, fardos, madeiros de cruz no pagamento de promessas, e o homem do saco às costas que metia medo e então, tinha que desembestar para dentro de casa, bocó, caipira, caipora, pira-pora, esgravatando o chão de terra com um pedaço de pau tirado da goiabeira em forquilha, vendo e não sabendo o tempo indo, passando, perdendo-se em divagações infantis de um mundo maravilhoso, cheio de heróis rebuscados dos causos contados pelo avô junto da fogueira, na roda com os outros meninos e as meninas e o cachorro vira-latas, sarnento, deitado ao lado, espichado, pachorrento, enfarado, ‘lengando’ nos passos pelo trilho de terra que desaparecia pelos cafundós e, no negrume sinistro do pós crepúsculo, sarapintado de vaga-lume tem-tem, teu pai tá aqui, tua mãe, também!. lembrando da varinha de marmelo que doía, que marcava as pernas finas numa ardência dorida no sem tento de quem sapecava a sova e mandava arredar para não apanhar mais, não levar coça sobre coça pra deixar de zanzar feito boi errante e preguiçoso pelas brenhas e veredas sem tino que era coisa de vagabundo e causo até de tomar picada de bicho peçonhento feito cascavel ou urutu que isso é que dá pelos trilhos de terra no meio do mato rasteiro e garrancheiro....
“história de menino do mato, assim, contada acompanhando o nhec-nhec da rede, molemente na hora da sesta, e o oinc, oinc do leitão fuçando no chiqueiro, e o cocoricó do galo desregulado das horas e o muuuu, dolente do boi tristonho pastando e um burro cagando e andando sem querer chegar e os urubus revoando pelo céu lá no alto bem distante e vai distante aquele tempo de menino do mato. Ai, vai o tempo, passa, não volta no rastro, deixando uma saudade tamanha, sem medida, maior que o peito franzino do menino, ai e ai e muitos ais!. Ai que não tem fim porque o menino ficou lá no terreiro acocorado, porque o homem inventou de crescer, criar asas, ganhar os céus, as estradas, o mundo e perder-se pelas grandes cidades de concreto, fumaça de óleo diesel, céu sem estrelas, noites sem luar, ruas de asfalto, sem verde, sem rios, sem matas, sem bichos piando, cantando... é um ai que dói de rachar taquara e bambu seco ressequido tantas águas roladas num chororô que faz um dó que só vendo para aquilatar os solavancos que a saudade causa no coração do menino do mato de olhos no chão caminhando embalde, pelos arrabaldes, periféricos, com os pulmões congestionados, pisando na argamassa de construção, caçamba de sonhos num soçobro dentro do peito, sem jeito pras coisas modernas, espiando as luzes de mercúrio, o apito e as sirenes, a urgência, o imediatismo, a repetitividade, a mesmice... essas coisas de gente doida, apressada em demasia, sem ter onde chegar, nem porque, e lá vai a boiada humana com o jornal debaixo do sovaco, sonhando com a sorte grande, acotovelando-se, engalfinhando-se, assaltando-se nos cruzamentos, vendendo, comprando, roubando, judiando, espezinhando, agourando, rezingando, alimentando-se de neuroses, psicoses, artrose, artrite, conjuntivite, bronquite, cistite, reumatismo, raquitismo, banditismo, escapismo, pugilismo, malabarismos... superinformadas sem sentir nada, feito máquinas, traquinas, maquiavélicas, materialistas, cúmplices no caos nosso de todos os dias até que um fica ali, por riba dos escarro, debaixo de alguma roda de carro, com os olhos mirando não se sabe o que deixou de viver ou o que acabou de perder.....
“e o menino do mato pára, observa de soslaio, desconfia que tem algo fora do tom da violinha antiga, lá do tempo em que o céu ainda costumava ficar sarapintado de estrelas e de repente elas desapareceram para sempre, parece. então, não tem coração que agüente!, porque o menino, esquecido, abandonado, nalgum terreiro da infância acocorado, o menino resta feito um retrato de fotografia nas paredes da memória. o homem, o adulto, sem perceber, mal chegou e já empedrou, de argamassa o coração, o peito apertado, o coração lanhado, o olhar marejado...mal chegou, o adulto, coitado, feneceu... o adulto, morreu!
“esse que caminha pelas largas avenidas, não, esse não sou eu!, do que eu fora, nada resta: nem festa, antigos madrigais... somente saudade dolente e ais!.
“restou o menino, lá atrás, acocorado no terreiro, cismando o tempo todo, um mundo inteiro que, de repente, foi soterrado pelos anos idos, fugidos, perdidos, escorrido por entre os dedos da palma da mão calosa de unhas sujas e uma beleza rústica, casmurra, humildezinha, simples feito o próprio mato e suas coisas latentes nas lembranças que dançam e giram e rodopiam e partem e tornam e jamais morrem dentro, no fundo, nalgum cantinho do coração da gente quando a gente deixa de ser menino do mato para ser homem de cidade grande com a cabeça abarrotada de planos e sonhos bestas e o coração murcho feito florada quando cai geada ou quando estia e resseca feito o sertão restinguento, caatingueiro...
“não, esse homem, esse homem que caminha, embora morto, não sou eu!.
“vou lhes contar um segredo: o menino acocorado, com as plantas dos pés descalços pregadas no chão de terra do quintal de casa e com os olhos pregados numa distância sem fim, muito mais para lá do que a imaginação possa alcançar, aquele menino sim, sou eu!. ele, ele continua vivo, cismando, rindo-se das coisas dos homens das cidades, sem nem ter porque sonhar com essas ilusões sem valia porque, de sonhar, acocorado, o menino já se fez escolado, hoje é apanhador de estrelas com seu laço de éter e suas asas de querubim. não digam nada, mas o menino, está acocorado aqui, num terreiro sem tamanho, nalgum canto em meu peito, em meu coração palpitando sem jeito, nesse jeito de contar essa história sobre o menino do mato que um dia fui, sou e serei!”.

essa história sim,
feito um menino do mato,
acocorado no terreiro da
existência, cismando,
cismando...
é uma história que
jamais irá ter
fim. porque o menino,
o menino sou eu, e
como eu sou
a própria história,
sei que jamais
terei fim!.

NOVA HISTÓRIA DO ARCO DA VELHA
Nona História

essa é uma história tão moderna
quanto o arco da velha,
embora eu jamais tenha
conhecido tal arco e
nem mesmo a tal 
“velha” que, eu espero
não seja bem uma velha,
mas sim, no máximo,
uma vovó.
porque velha,
velha mesmo,
é um objeto.
uma camisa,
uma calça, uma meia,
uma panela e mais
uma porção de coisas que,
com o tempo,
não tem outro jeito senão,
acabarem envelhecendo.
o que é natural, convenhamos,......

......convenhamos, eu disse. mesmo porque, não fica bem a gente usar a palavra “velha” ou “velho”, para pessoas em idade avançada. sei lá, eu acho meio sem ética, falta de respeito para com a idade das pessoas e as pessoas em si.
ah, além do mais, vovó nilvete, que é uma mistura de nilva com espaguete, ou seria canivete? (põe no fogo não derrete, pegou beira de charrete, foi parar na vinte e sete — barretos —.......),não é nada disso, ou seja, velha, velhota, velhinha, coroca, pururuca, múmia, matusalem. por ser vovó, também não é lá nenhum brotinho, mas, não deixa de usar sua mini-saia, passar aqueles trecos todos pelo rosto, batom e, ajeitar-se feito uma mocinha. toda vaidosa e cheia de prequetês e parangolés, toda nos “trinquis”, adora sair para passear e dançar no benrose que é uma casa noturna para famílias (viram como o bom sentido prevalece em tudo?), onde, nos finais de semanas, há feijoada, jantares, coquetéis, música ao vivo e...
....bem, como eu ia escrevendo (ou dizendo), essa nova história do arco da velha é de amargar. sem pé nem cabeça para variar. mesmo porque, nem sei o que escrever. aliás, é sempre assim, eu nunca sei o que vai sair mesmo!... faz de conta que a história é quem escreve à si mesma para evitarmos confusão e eu não levar a pior na referida.
a referida, logo de início, fez reverência ao precipício mental e à confusão natural que, é natural existir quando se vira algo de pernas para o alto e cabeça para baixo e, sobretudo, dentro de uma história sem pé nem cabeça que a gente costuma ir contando, contando, até que, de repente, sem que a gente perceba, pronto: nem tem início, nem tem fim. (meio então, nem se fala!.). também, se for para escrever coisas como todos fazem, eu não escrevo e pronto. tem mais, a história é quem está contando a nova história do arco da velha, então, eu não tenho nada a ver com tudo isso. correto? obrigado meninos e meninas!. muito obrigado, mesmo!.
“vai começar a palhaçada!”.
“quer fazer o favor de não se intrometer, dona história certinha?”.
“sou mesmo. prefiro ser certinha do que essas baboseiras que você inventa e ninguém entende”.
“não entende porque é uma toupeira!”.
“toupeira é quem me diz. eu sou antiquada e conservadora, mas sou feliz. e além do mais, não sou maluca a ponto de ficar escrevendo tanta besteira sem nexo!”.
e, desta forma, caros leitores, nosso escritor que, não é nenhum jovem moderninho, voltou a bater-boca com a nossa intrometida, mas não submissa, história já meio gagá. enquanto os dois digladiavam-se à vontade, a história que preparava-se para contar a nova história do arco da velha, enfarada, bateu em retirada. foi dar uma cochilada porque estava cansada. tudo rima, mas não sai nada. nada que preste. eis o teste. da maluquice. quem disse? ora, eu!. eu, quem?. sabem que eu também não sei mais quem sou? é amnésia. dizem os médicos que sofrem de esquecimento precoce. qualquer coisa que eles não conseguem lembrar-se quando vão examinar um paciente, tascam logo um diagnóstico com essa estranha palavra: amnésia. o doente?. não, claro, o médico que, esquecido do nome da doença, escreve lá: amnésia que é o que ele está tendo na hora. um branco mais branco que sabão em pó!.
bem, o diagnóstico da nova história do arco da velha é uma amnésia das bravas. será que existe das calminhas?. sei lá!. mas isso não importa!. eu quero ver é no que vai dar essa lengalenga que vem ocorrendo desde a primeira história. aliás, da primeira até essa, a nona, parece tudo a mesma coisa. mal resolvida! mal resolvida e um tanto quanto divertida!. tanto que dá vontade de gargalhar. gargalhar e depois chorar. chorar e dormir para nem ver no que vai dar. história sem pé nem cabeça é uma coisa assim...sei lá, sem pé nem cabeça mesmo!. credo!.
aí, veio o “patinho feio”, com seu “chapeuzinho vermelho” meio de lado, parecendo um vaqueiro ‘prafrentex’, com o seu andar de “branca de neve”, adormecida nas camas dos sete anões gigantescos que cantarolavam: “pela estrada afora, eu vou bem sozinha, levar esses doces.....”. doce de batata-doce amargando na boca do “lobo mau”. muito levado aquele menino atrás de uma moita de urtiga, com uma baita dor de barriga, pensando, “será que vai dar praia?”, sob um sol escaldante. ao longe, ouvia-se o berrante do menino da porteira trepado na goiabeira, caçando bicho de pé em cabeça de prego. e o céu forrado de jabuticabas esparramadas pelo chão de estrelas, enquanto o sapo encantado perguntava ao espelho: “espelho, espelho que não é meu... existe bicho mais esbodegado do que eu?”. somente para contrariar, o espelho que, jamais havia falado, resolveu soltar a matraca e esculhambar com o pobrezinho já todo traumatizado, dizendo-lhe, “ora, vá procurar a sua turma. não te manca não, ô bicho gosmento?!”. e a cinderela que virou uma abóbora acabou prisioneira na torre do castelo e um jacaré lá embaixo de butuca pidôncho, pedindo: “joga-me suas tranças, oh escarapunzel!”. mas, escarapunzel de capuz, não dava a mínima para o jacaré pensando lá com seus cachos na cabeça raspada feito o ronaldinho: “eu, hein, jacaré?!”. e passava um porquinho atrás do outro, numa fila indiana, ao todo, em sete. feito a semana com sete dias e o arco-íris com suas sete cores, espiando do meio do céu, antes de mergulhar no mar que, fica detrás daquele morro por onde passam boi, boiadeiro e boiada. passo eu, passa tudo, passa o chico bento, barrigudo!. passa o saci-pererê, a fada encantada não, passa seu mané o português lá da vendinha, passa a filha da vizinha e assim eu passo o tempo e a vida vai passando. não passa também, o que não tem que passar. o que ainda está por nascer e os 100 dálmatas porque ficou faltando um que era meio lelé (arantes) da cuca e da nuca só porque o boi da cara preta pega na viola mas, não sabe tocar nada. e continua nessa lengalenga capenga. coisa mal resolvida. do tamanho do pequeno polegar que, sua mãe comeu tanto repolho que ninguém agüentava mais ficar dentro de casa com a chaminé fechada e o tutu-marambá paquerando o boto-cor-de-rosa e a rosa no jardim e o pato donald não conseguiu desenrolar a língua até hoje porque... ah, isso eu também não sei!. e olha que ele já tá bem velhinho para falar daquele jeito que ninguém mais entende, senão a vovozinha debaixo das cobertas com dois olhos arregalados e uma boca enorme. um bocão desse tamanho, ó!.. que de tão grande dava dó e o capitão gancho lá: “abre a boca vovó”. surda, ela ouvia tudo o que ele dizia mas, não abria a boca não porque, em boca fechada não entra avião. nem a sininho com seu pozinho de pirlipimpim, nem a emilia, nem o sabugo que era visconde, nem os sobrinhos do capitão e o rintintin e aquele pigmeu que papou o excelentíssimo sr. sardinha quando descobriu o brasil no dia em que pedro alvares cabral cruzou o cabo das tormentas atormentadíssimo, em busca das índias brasileiras que, nunca viram o tarzã, mas já sabiam cantar “ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar” e coisa e tal e tal e coisa, entenderam?. pois é, nem eu. mas, continuemos:
como todos sabem, “o arco da velha”, deve ser o arco-íris. ou não porque, essas coisas são tão confusas, afinal... (acho que estou perdido outra vez!).
recomeçando! então, joãozinho plantou um pé de feijão que subia, subia mas, não produzia nada mais que galinhas dos ovos de ouro e, lá no alto do andaime, havia um gigante meio bozó que possuía uma enorme gaiola e uma fome voraz. bicho mais sem preceito e atroz. sem educação. comia estanho derretido, argamassa, reboco de casa velha, até que ficou entupido, rindo não se sabe bem do que. nesse entrementes que fica entre as mentes, j.k. inaugurou brasília. e o senhor dagoberto inventou o supositório para elefantes, coisa que o deixou muito famoso mas que ninguém até hoje ficou sabendo porque internaram o pobre inventor num manicômio. por outro lado, que é o lado do outro lado do lado de lá, atrás do trio elétrico só não foi quem já havia morrido, os apaches, os sioux, os comanches e um cachorro velho perdigueiro que lutara ao lado dos aliados na segunda barafunda mundial... até aí, tudo natural, não fosse inventarem os pastéis de vento que é uma coisa de chinês paulistano. se não me engano, me estrepo todo porque, difamação também dá cadeia. e programa de televisão com ibope garantido. de forma que, a história que antigamente a gente escrevia estória, foi ficando assim, sei lá entende?. perguntou o sócrates na escolinha que tem de tudo, menos aula. como essa baboseira não encontra o seu próprio final, peço licença mas, não agüento mais de dores nas costas. vou ali e volto já ou não volto que, tanto faz!. com licença e até mais....

todos acreditam em
contos de fadas,
mas essa besta que
está escrevendo
parece que não!
patrocínio: 
água sanitária “bom-gosto!.
um único gargarejo
e vocês jamais
esquecerão a diferença.
experimentem!,

	Como todos vocês
	perceberam essa
	é mais uma iniciativa
	da secretaria de esporte
	para o cérebro,
	lazer para os olhos
	e cultura para a nova
	safra de grãosbretanha!.

como o palhaço que estava contando aquela história acima, sem pé nem cabeça, ainda não retornou não sei bem de onde, resolvi adiantar algumas linhas mal traçadas. se vocês não tiverem nenhuma objeção, evidente. alguém contra?. não me importo porque, eu também sou contra ocupar o espaço do concorrente desleal. mas, nem tudo nesta vida, é do jeito que deveria ser. o problema é que é sempre do jeito que os outros querem que seja. enfim, continuando:
“pode parar!, pode ir parando por aí mesmo!. estão vendo?, quando o trabalho já encontra-se quase que no final, prontinho, sempre aparece um para colocar um dedo na coisa e depois, ficar reivindicando parceria. com a música é a mesma coisa. eu componho, vêm um e acrescenta um acorde desnecessário e já quer a parceria. esse é o mundinho da inveja. nunca entrem nessa, crianças!. o que é dos outros, é dos outros. o que é nosso, ninguém pode ir tomando posse, não!. então?, não sou eu o autor dessa história?!. ninguém vai ficar deitando na minha cama somente para criar fama.
“está certo que, não sei como terminar a história, mas é minha. ou melhor, nossa. digo, é um trabalho meio coletivo, vocês não concordam?. Pois é, tem hora que é melhor deixar a vaidade de lado e admitir, sem egoísmo que, sozinho não somos lá grande coisa, não!. e, como eu não consigo chegar à bom termo com essa história truncada, sem pé nem cabeça, vou dividi-la com vocês: basta escreverem o final (hihihi!).
“escrever o final, é fácil!. basta acrescentarem algumas linhas e pronto. escrevam fim no fim e podem esperar que, em alguma coisa tem que dar. não sei bem o que, mas, enfim.... quem não tenta, sucesso não assenta. então, mãos à obra!. vamos tentar. iniciem o fim assim:......
“era uma vez uma nova história do arco-da-velha que eu vou lhes contar como termina....
“viram como é fácil?. basta querer de verdade para conseguirem. muito bem, agora que tudo foi resolvido e a história conseguiu ganhar um final, acho que vou voltar ao trabalho e, terminar esse livro maluco.
“ah, se vocês estiverem dispostos, podem ajudar-me a terminá-lo também. afinal, de hoje em diante, somos uma equipe. somos ou não somos?. em equipe, a gente trabalha melhor. surge um número maior de idéias e a coisa fica bem mais fácil. principalmente em se tratando de histórias assim, sem meio, sem início ou fim. sem pé, nem cabeça. então, prontos para a próxima?. aiôu, silver!. aqui vamos nós!......”.


O FIM DO LIVRO OU O LIVRO DO FIM
Décima História

 

era uma vez uma história sem pé nem cabeça. não tinha início, meio ou fim... acho que foi assim que o livro teve seu início no início do livro. lembram-se?. parece coincidência, não?. parece, mas não é. é somente um jeito de terminar um livro. ou iniciar, como desejarem. como são histórias sem pé nem cabeça, o fim do livro também pode ser o livro do fim. o que acham?. eu acho o maior barato. o único problema é escrever o fim do livro. ou a última história que é a que deixa sempre uma impressão do conjunto da obra. e o leitor avalia. isso quando ele consegue chegar ao final. ou quando ele reúne condições para avaliar alguma coisa. e muito mais, se ele não estiver mais embaraçado e confuso do que todas essas histórias malucas, sem pé nem cabeça. de qualquer forma, vamos ao grande final. ao apoteótico!. (que palavra!).
o fim do livro ou o livro do fim, de sobressalto, sem sobreaviso, visto que, apanhado de surpresa, não encontrou tempo para meditar, ficou espantado. assustado ficou. olhou de um lado para outro. parado, estático, estarrecido, ficou. matutou de improviso. de improviso, pensou. pensou, não disse nada. nada disse, contudo, pensou. e agora, dona aurora?. dona aurora, e agora?. a porca torce o rabo ou o rabo torce a porca?. que embrulhada!. exclamou quando o escritor que, no início era pior do que a própria história, afinal, chegara ao final. nada havia sido mudado até então. continuava sendo confuso em meio à tanta confusão. continuava obscuro em meio à escuridão. inédito, o autor, passou a escrever o final do livro ou o livro do final. ficaria bom ou ruim?. chegaria ao fim do início ou passaria a discutir com o início do fim?.
“nossa, que sujeito confuso!”—, exclamou o final do livro.
“realmente... e bota confuso nisso!”—, concordou a última história.
“acho que ele não sabe como terminar o livro”.—, disse a frase perdida no meio da história, de forma concludente.
“só quero ver no que vai dar!”—, observou desinteressado um parágrafo, a sonhar.
“um escritor assim, é o próprio fim!”—, enfatizou o livro todo a carregar o seu fardo que não era nada leve.
a mulher do escritor deu uma lida no esboço do fim que ainda não havia sido definido e disse:
“está ótimo!”—, e riu.
“parente não vale opinar!”—, disse o esboço bocejando.
“a filhinha dele também não porque, além dela ser sua filha, ele ser seu pai, os dois são assim, ó!...”—, enfatizou um trecho do texto de uma das outras histórias do livro.
com isso, ou seja, com tantas opiniões, observações, considerações finais e iniciais sobre histórias, conteúdo, possibilidades, meio, início e fim, o escritor que já estava meio confuso, acabou ficando inteiramente perdidão. pensou que, se tivesse um editor, ele tomaria uma decisão decisivamente decisória e diria o que fazer, contar ou escrever. não tinha. coitado, nunca tivera um único editor. era o inédito dos inéditos. sentia-se desamparado e entregue às favas. o que fazer?. perguntou-se e respondeu a um tempo: “não desistir”. foi o que fez. não havia desistido até então. “não vou desistir!”, voltou a afirmar peremptório, já quase desistindo.
“é, acho que não tem jeito mesmo...”—, disse o escritor, coçando a cabeça a divagar, sem conseguir concentrar-se na história final do livro ou, no final do livro que ainda não tinha uma história final.
ficou na frente do texto, bosquejo mal delineado que, ele mal e mal iniciara. passou a criar mil e uma conjecturas. pegava uma idéia que ia passando, pelo rabo, pela orelha, pelo braço, experimentava, derramava sobre o espaço vazio e, desistia rezingando que não ia dar, não estava legal. voltava para o vezo de sua mente, meio aborrecido, meio cansado, meio entristecido, meio confuso, meio...
à exemplo de sua história final, sentia-se pela metade. meio eu, meio o outro, meio vazio dos dois que, juntos, por mais que se esforçassem, não davam um. somente mais confusão na mente. mesmo assim, percebeu que não encontrava-se nem triste, nem contente. ou que, estava contente e triste. porque estava chegando ao fim do livro e, ao mesmo tempo, queria e não queria terminá-lo. já sentia saudade do seu trabalho. os escritores são assim mesmo: ficam doidos para terminarem um livro e, quando terminam, parecem um pobres órfãos. abandonados por suas criações. é por isso que, às vezes, costuma-se dizer por aí que, todo escritor é temperamental e esquisito. mas é um processo natural. agora voltemos à história em si. ou melhor, ao final do livro sem uma história final.
bem, era uma vez uma história sem pé nem cabeça. não tinha início, meio ou fim... voltou a anotar o escritor, sem ter mais nada em mente. estava mesmo, muito, muito confuso com aquela confusão toda que, ele mesmo vinha criando sem nada criar. queria escrever de forma diferente mas, as idéias ficavam baralhadas feito cartas de.. de baralho mesmo, oras!.
“eta bicho teimoso!”—, berrou o livro já cansado de esperar pela última história que não era escrita nunca.
o escritor ouviu e ficou meio zangado, meio risonho com o livro porque, afinal, sabia que ele, o livro, era como se estivesse vivo, entendem?. como se tivesse vida e compartilhasse com o autor, a mesma aflição de não conseguir chegar ao fim. foi por isso que o escritor passou a conversar com o livro, pedindo-lhe sugestões de como ele gostaria que fosse a última história. ou como ele gostaria de ser terminado.
e os dois, passaram um tempão discutindo o final. discutiram, conversaram, debateram, trocaram idéias. das mais absurdas às mais caretas e antiquadas. o tempo foi passando....
passando...passando... foi ficando tarde. escureceu com o céu todo sarapintado por astros e estrelas muito claras e brilhantes. a lua alva deslizava mansamente. o tempo continuou passando. os dois debatendo. distraídos, nem perceberam que a manhã vinha chegando. os passarinhos começaram a cantarolar; o canário belga chilreava; o galo cocoricava um lindo bom dia!; o sol bocejou despertando em seu leito no nascente; passou um carro; o leiteiro; o padeiro buzinando com seu carrinho de mão. das casas brotaram aquele vozerio e, um olor de café fresco, pão e manteiga passou a espargir-se pelo ar. as crianças passaram pela rua, em frente da casa do escritor, em direção da escola. os trabalhadores para seus empregos. a senhora idosa da casa ao lado, cuidava do seu jardim que, vivia sempre, alegremente florido, com suas rosas, bem-me-queres, sempre-vivas, girassóis, tulipas, antúrios, violetas, cravos, jasmins e uma grama toda aparada, verdejante... o senhor da praça, que era o jardineiro da cidadezinha, cuidava dos canteiros e, o cachorro ladrava para tudo e todos que passavam. e as horas haviam passado. o tempo havia passado. os dois continuavam discutindo, conversando, conversando, palrando um tititi sem fim; um blablablá animado, cheio de: reticências, mas, porém, todavia, contudo, vírgulas, parágrafos, crases, hífens, e coisa e tal...
e coisa e tal... nem perceberam que já era um novo dia. verdade, não haviam chegado a conclusão alguma, mas havia sido uma conversa, deveras agradável, saudável, interessante, profícua, espontânea. sem frases de efeito ou aquela obrigatoriedade de se ficar pensando no que dizer para não cair no ridículo. e o escritor sentia-se tão bem, feliz, realizado, contente!. os dois pegaram-se rindo um do outro, um para o outro. ele e o livro. as histórias também participaram com suas idéias. o escritor sentia-se como se houvesse realizado sua mais gratificante empreitada. estava rindo até para as paredes quando o sol adentrou seu escritório de trabalho com raios diáfanos, “calientes”... então, ele abriu a janela de par em par e olhou “o lá fora”. o ciclo da vida, as coisas e animaizinhos e plantas e nuvens e, ouvia as vozes e como tudo era interessante e inexplicavelmente belo!. belíssimo, feito a própria vida, a existência, as histórias que ele escrevera e as que deixara de escrever. mas que um dia, alguém escreveria e mesmo o seu livro e tantos outros pareceram-lhe encantados naquele momento e, bocejou fatigado, pedindo cama, de pijama, sem café, sem fome, apenas leve, sorrindo sozinho, deitado, adormecendo, sonhando....
sonhava com a última história. um final que, surgira naturalmente, como deveria ocorrer. era uma boa história, com um bom final para um livro gostoso de ser lido e, seu sonho foi ficando cada vez mais cheio de histórias sem pé nem cabeça. sem início, meio ou fim que ele, ele que adorava escrevê-las e que, no dia anterior, nem fazia idéia de como terminar o seu livro de histórias sem pé nem cabeça, nem mais lembrava-se do livro sem a última história porque, tudo à sua volta, a própria vida eram aquela história. e quando sua mulher e sua filha o viram sorrindo e conversando feito uma criança, dormindo, de pijama na cama, então entreolharam-se e comentaram:
“puxa, até dormindo?!”....
é, até mesmo dormindo. o tempo passando e ele dormindo, sorrindo, em paz, realizado, contente. decerto continuava a conversar com suas histórias sem pé nem cabeça e com o seu livro lá do outro lado, naquele lugar em que vivem as histórias, as fadas, os príncipes, os anões, os já bem velhinhos, as crianças e os anjos... os que, além da imaginação, da simplicidade, da bondade e corações puros, feito ele, ainda acreditavam em sonhos. sonhos bons, feito escrever e viver em paz!.......

 

fim.
(acho!)
(São José do Rio Preto, junho\julho de 1.999)
Mauro Gonçalves Rueda


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DIREITOS RESERVADOS PARA MARICY REGINA DE CASTRO RUEDA E JOYCE DE CASTRO RUEDA.
REGISTRADO NO EDA DE ACORDO COM A LEI N.° 9.610/98.
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Janeiro 2003

 

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