capa

eBookLibris

SHAKESPEARE: A ARTE DA PERSUASÃO

Nélson Jahr Garcia

—Ridendo Castigat Mores—

in memoriam*


 

Shakespeare: A Arte da Persuasão
Nélson Jahr Garcia (1947-2002)

Edição
Ridendo Castigat Mores
in memoriam

Fonte Digital
www.jahr.org
“Todas as obras são de acesso gratuito. Estudei sempre por conta do Estado, ou melhor, da Sociedade que paga impostos; tenho a obrigação de retribuir ao menos uma gota do que ela me proporcionou.” — Nélson Jahr Garcia

Capa:
“Shakespeare and His Contemporaries” – 1851
John Faed (1819-1902)

Nélson Jahr Garcia – Caricatura por Garnel

Versão para eBook
eBooksBrasil.org


Copyleft:
Ridendo Castigat Mores


Apresentação

 

O texto deste livro é o que Nélson Jahr Garcia colocara em seu site, Ridendo Castigat Mores*, como apresentação das obras de Shakespeare que, pacientemente, escaneou, formatou, revisou e colocou para o mundo pela www. Colocava em html. E, sempre que adicionava um novo livro, orgulhoso me comunicava para que convertesse nos formatos de eBooks que disponibilizava no eBooksBrasil.org. Em RocketEditions, foram colocadas todas as obras de Shakespeare enviadas pelo Nélson. Em outros formatos, que foram sendo adicionados, outras. Agora, também em pdf e eBookLibris.

Do seu site, as obras que Shakespeare, e outras**, que pacientementemente colocou na web, foram capturadas por muitos sites e, infelizmente, tiveram uso comercial por alguns, foram copiados em CDs piratas, colocados à venda... Tudo o que o Nélson não queria. Sua intenção era espalhar as luzes e a cultura, de forma desinteressada e gratuita. E mais chateado ainda ficou quando passaram a lhe pedir resumos, receber críticas quanto à formatação. Reconhecimentos, poucos.

Ficou tão chateado que, em um momento, até resolveu retirar o site da web. Saiu em 22.04.2002. Noticiei no eBooksBrasil.org - então eBooksBrasil.com - : “O website Ridendo Castigat Mores, mantido por Nélson Jahr Garcia, que tanto contribuiu para enriquecer a internet brasileira, está sendo descontinuado. Mais detalhes no site ou reproduzidos aqui.” Reproduzi:

“SINTO MUITO

Abri este site pensando em divulgar minha experiência, teórica e prática, com a propaganda ideológica, a comunicação persuasiva de forma geral. A idéia se ampliou e passei a reproduzir textos clássicos que se caracterizassem por, de alguma forma, conter elementos de persuasão. Daí Shakespeare, Voltaire, Maquiavel e tantos outros. Nunca cobrei nada por isso, os textos podiam ser lidos, gravados ou impressos. Nem era necessário dar o nome, email, nada. Mas eu pago, pago em dólares o direito a ter o site (para a Yahoo-Simplenet) e o nome de domínio (para a Internic). Esperava retorno? Claro. Interesse, colaborações, apoio (não financeiro). Vieram uns poucos cumprimentos e muitas críticas. Essa história de ser D.Quixote incomoda (nem Sancho Pança tenho para ajudar). Por isso encerro meu trabalho aqui, vou procurar contribuir para a cultura da minha comunidade de outras formas. Abraços e forte aperto de mão — Nélson Jahr Garcia

Voltou em 20.05.2002, a pedidos... e porque, no fundo, tinha, embora negando, vocação para Quixote. Noticiei no eBooksBrasil: “A Ridendo Castigat Mores está de volta à web, em novo endereço, sob a mesma direção: www.ngarcia.org. Legal, Nélson!”

Colocou ainda em seu site: Marketing Eleitoral, de Marcelo O. Coutinho de Lima; Pensamentos, de Blaise Pascal; Caracteres, de La Bruyère; O Estado Autoritário e a Realidade Nacional, de Azevedo Amaral; O Estado Nacional, de Francisco Campos; Leis de Murphy, Autor desconhecido; O Fascismo Italiano e o Estado Novo Brasileiro, de G. de Almeida Moura. Trabalhadores do Brasil!, de Alexandre Marcondes Filho, foi o último, em outubro de 2002.

Em 07.11.2002, noticei: “Nosso amigo e companheiro Nélson Jahr Garcia faleceu ontem, às 10:45 hs. e foi sepultado hoje, às 9:00 hs. no Cemitério Gethsêmani. Para ter uma leve idéia do maravilhoso ser humano que nos deixou, visite o website Ridendo Castigat Mores.”

Seu site foi descontinuado, mas todo o conteúdo (com exceção da página de charges e a de links) foi recuperado e transformado em eBooks, disponíveis na estantes virtuais do eBooksBrasil.org.

A contribuição que Nélson Jahr Garcia fez à internet e à cultura brasileira está espalhada por ai, de muitas formas.

Tenho certeza de que gostaria das linhas abaixo, referentes ao quadro da “capa”:

“Nesta pintura, também conhecida como Shakespeare and His Friends at the Mermaid Tavern, Faed coloca Shakespeare no centro do grupo, que inclui Sir Francis Bacon, John Donne, Ben Jonson, and Sir Walter Raleigh. O Friday Street Club, um agrupamento de homens de letras que se encontravam na Mermaid Tavern, foi criado por Sir Walter Raleigh e seu nome vinha do endereço da taverna: Friday Street. Seu proprietário, William Johnson, era um negociante associado de Shakespeare, mas não sabemos se, realmente, Shakespeare comparecia aos encontros.”

— Fonte: Shakespeare Ilustrated —
[www.english.emory.edu/]

Eu teria enviado para ele por e-mail, com a seguinte observação: “Neste quadro só falta você!”

Não falta mais.

Sei que ele não acreditava nisso, mas, sinceramente, acho que ele agora está na companhia de todos eles.

Teotonio Simões
eBooksBrasil.org


SHAKESPEARE: A ARTE DA PERSUASÃO

[imagem]

 

“Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha a tua filosofia”
(“There are more things in heaven and earth, Horatio, that are dreamt of than in your philosophy”)

 

Muito já se discutiu e se escreveu sobre persuasão.

J.A.C. Brown, psicólogo, escreveu “Técnicas de Persuasão”. William Sargant, psiquiatra, produziu a obra “Battle for the Mind”, sobre conversão religiosa e lavagem cerebral. Serguei Tchakhotine escreveu “Le viol des foules par la propagande politique.”

Os estudiosos da Escola de Frankfurt produziram várias obras que envolviam o assunto, principalmente Max Horkheimer, Theodor Adorno e Jürgen Habermas.

Infelizmente nenhuma dessas obras trouxe uma explicação satisfatória sobre o processo da comunicação persuasiva.

É que às vezes as respostas não se encontram em cientistas, pesquisadores e doutores, mas com literatos, poetas, dramaturgos; aqueles que observam, sentem e escrevem.

Interessante, percebem as coisas da vida sem utilizar metodologias científicas e que tais. Aprende-se Psicologia com Machado de Assis, melhor que em Freud; Sociologia, com Gilberto Freire, se conhece melhor do que em Durkheim.

William Shakespeare produziu uma teoria sobre a persuasão que cientista nenhum desvendou, basta ler com atenção devida.

Iago, com argumentos e artimanhas, convenceu Otelo de que sua esposa, Desdêmona, era infiel. Lady Macbeth persuadiu Lorde Macbeth a matar o rei para tomar-lhe o trono. Próspero, dominou espíritos para que o ajudassem em sua vingança. Cássio convenceu Bruto a matar Júlio César. O fantasma do rei da Dinamarca convenceu Hamlet, o filho, a vingar sua morte. Romeu seduziu Julieta e foi seduzido por ela, a ponto de se suicidarem ambos. Petrucchio domou a megera Catarina, transformando-a em mulher dócil e submissa.

Em todas essas obras, e em outras que não mencionei, há uma idéia recorrente: a comunicação persuasiva, para ser eficiente, pressupõe um fator: as fraquezas humanas. As pessoas são mais facilmente persuadidas quando se apela para o egoísmo, ambições, invejas, ciúmes, paixões, dores, arrependimentos.

Esse foi um dos legados que William Shakespeare nos deixou, há quatrocentos anos. Entender o ser humano em suas fraquezas, suas forças, suas felicidades, seus gozos e angústias.

Mas não se trata apenas de entender o outro, a nós mesmos também.

Somos todos guerreiros, às vezes, políticos, no sentido grego, constantemente. Também somos incapazes. Romeu não conseguiu ser bem sucedido com Julieta, não lhe deram tempo nem oportunidade. Macbeth não pode obter as vantagens do trono, sanguinariamente conquistado.

Quanto ao ser humano, Shakespeare nos ensina algo importante, senão fundamental: o homem não é bom ou mau, apenas homem. Um famoso humorista contestava a história do Chapeuzinho Vermelho. Perguntava: “por que lobo mau, acaso existe lobo congregado mariano ou coroinha de igreja? Lobo é lobo, nem mau nem bom, só lobo”. Pois é, o homem é homem, nem bom nem mau, apenas homem.

Shakespeare percebeu, o que os chineses já sabiam há séculos e Marx viria a descobrir mais tarde: o homem é uma unidade de contradições, maldade e bondade as carrega no peito, ao mesmo tempo e em todas as horas.

Frei Lourenço (Romeu e Julieta) em um breve monólogo disse o seguinte:

“A terra é a mãe e a tumba da natura; ministra a morte e, assim, apresta a cura. Filhos de vária espécie, no seu seio a mamar encontramos, sem receio; uns por por várias virtudes, excelentes; cada um com a sua, todos diferentes. Oh! é admirável a potente graça que há nas ervas, na flora, na pedra crassa, pois até mesmo o que há de vil na terra algo de bom, influência dela, encerra; nem nada bom existe, que, torcido do uso normal, não se revele infiel à própria natureza e nascimento. Até mesmo a alta virtude, num momento mal aplicada, em vício se transforma, e este, por vezes, ao dever dá a norma. Na corola infantil desta florzinha veneno mora que dá morte asinha, Cheirado, ao corpo todo dá alegria; mas pára o coração no mesmo dia, quando dado a beber. Dois reis potentes nas plantas e nos homens oponentes acampamento têm: a atroz cobiça e a graça benfazeja. Se insubmissa se mostra a pior, então vem logo o verme da morte e rói essa plantinha inerme.”

O arrependimento é de constante frequência na obra do dramaturgo, os personagens perpetram as piores crueldades imagináveis, mas acabam sofrendo dores de consciência. Macbeth mandou matar o rei para obter a coroa, mas passou a sofrer amarguras internas. Hamlet estava decidido a vingar o pai assassinado, mas era angustiado pela dúvida: “ser ou não ser, eis a questão”.

Os chefes das famílias rivais, Capuleto e Montecchio, após a morte dos filhos, concluem:

“CAPULETO: Dá-me tua mão irmão Montecchio; é o dote de minha filha. Mais pedir não posso.

MONTECCHIO: Mas eu posso dar mais, pois hei de a estátua dela fazer do mais puro ouro. Enquanto for Verona conhecida, nenhuma imagem terá tanto preço como a da fiel e mui veraz Julieta.

CAPULETO: Romeu fama também dará à cidade; vítimas são de nossa inimizade.”

Próspero (A Tempestade) depois de dominar espíritos para que o auxiliassem em sua vingança, termina concluindo: “Restou-me o temor escuro; por isso, o auxílio procuro, de vossa prece que assalta até mesmo a Graça mais alta, apagando facilmente as faltas de toda gente. Como quereis ser perdoados de todos vossos pecados, permiti que sem violência me solte vossa indulgência.”

Voltemos à teoria da persuasão.

A credibilidade de quem assegura a veracidade da afirmação é importante.

Como duvidar da palavra de uma feiticeira. Macbeth ouviu, não de uma, mas de três feiticeiras: “Primeira bruxa: Viva, viva Macbeth! Nós te saudamos, thane de Glamis. Segunda bruxa: Viva, viva Macbeth! Nós te saudamos, thane de Cawdor. Terceira bruxa: Viva Macbeth, que há de ser rei mais tarde!”. Realmente Macbeth se tornou thane de Glamis, depois de Cawdor e afinal rei. Tornou-se thane por merecimento, mas foi induzido pela ambição, que Lady Macbeth soube explorar, a ponto de convencê-lo a matar o rei para tomar-lhe o trono.

A força de um bom argumento, preferencialmente mesclado com sentimento, é decisivo para a persuasão.

Julieta, na cena em que está na sacada (antigamente se dizia balcão), pronunciou uma das frases mais célebres da literatura universal: “Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuaria sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu risca teu nome e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteiro.”

A argumentação, acompanhada de um fato adrede preparado, por menor que seja, tem um incrível poder persuasivo, principalmente quando se explora uma fraqueza como o ciúme. Iago furtou a Desdêmona, um lenço que lhe havia dado Otelo e o deixou às mãos de Cássio. Daí o seguinte diálogo:

“IAGO — Sede cauto; ainda não vimos nada; é bem possível que seja honesta. Ora dizei-me apenas o seguinte: não vistes porventura nas mãos de vossa esposa, algumas vezes, um lenço com bordados de morangos?

OTELO — Dei-lhe um assim; foi meu primeiro mimo.

IAGO — Ignorava esse fato; porém tenho certeza plena de ter hoje visto Cássio passar na barba um lenço desses, que foi de vossa esposa.

OTELO — Se era o mesmo...

IAGO — O mesmo, ou outro qualquer dos lenços dela, é prova muito forte, ao lado de outras.”

Incrível, o patriotismo, o amor à cidade onde se vive podem gerar susceptibilidade à persuasão, Vejam em Júlio César; Bruto orientado pelo patriotismo, e um pouco de ambição, aceita a influência de Cássio; e diz: “Preciso é que ele morra. Eu, por meu lado, razão pessoal não tenho para odiá-lo, afora a do bem público.” Matou Júlio César.

Fator importante de convencimento é a cobrança por um favor prestado.

Próspero (A Tempestade) libertou Ariel do domínio da bruxa Sicorax e, em troca, exigiu apoio para seu desejo de vingança. O diálogo é assim:

“PRÓSPERO: Quê! Zangado? Que podes desejar?

ARIEL: Lembra-te que te prestei serviços importantes nunca menti, nem descuidei de nada, nem me mostrei queixoso ou rabugento. Prometeste abater-me um ano inteiro.

PRÓSPERO: Pareces esquecido do tormento de que te libertei.”

O cansaço e o desgaste físico, geralmente, são fatores que aumentam a sugestionabildade em muitas pessoas.

Nas forças armadas a leitura da ordem do dia é realizada depois que os soldados foram submetidos a pesados exercícios e longas marchas. Nas academias de artes marciais, os princípios morais e filosóficos são discutidos ao final do treinamento, quando os alunos já se encontram exauridos. Petrucchio (A Megera Domada) forçou Catarina, imediatamente após o casamento, a viajar sob um inverno rigoroso, ocasião em que ela caiu do cavalo sobre a lama. Já em casa, ralhando com o empregado, alegou que a comida estava ruim jogando-a fora. Com isso deixou Catarina faminta por logo tempo, levando-a quase ao desespero. Não a deixava dormir à noite, fazendo muito barulho e gritando com os empregados. Não a deixava fazer nenhuma afirmação sem contestá-la. Ao cabo de algum tempo a megera hostil transformou-se em mulher gentil, delicada e obediente.

Recurso persuasivo muito utilizado, o apelo à indignação e ao sentimento de revolta, foi empregado por Marx, Lenin, Hitler e tantos outros. Cláudio envenenou seu irmão, rei da Dinamarca, tomou o trono e casou-se com a rainha. O fantasma do rei assassinado apareceu perante seu filho, Hamlet, convencendo-o a vingar-lhe a morte. Seu apelo dizia o seguinte:

“Sou a alma de teu pai, por algum tempo condenada a vagar durante a noite, e de dia a jejuar na chama ardente, até que as culpas todas praticadas em meus dias mortais sejam nas chamas, ao fim, purificadas. Se eu pudesse revelar-te os segredos do meu cárcere, as menores palavras dessa história te rasgariam a alma; tornar-te-iam, gelado o sangue juvenil; das órbitas fariam que saltassem, como estrelas, teus olhos; o penteado desfar-te-iam, pondo eriçados, hirtos os cabelos, como cerdas de iroso porco-espinho. Mas essa descrição da eternidade para ouvidos não é de carne e sangue. Escuta, Hamlet. Se algum dia amaste teu carinhoso pai... Vinga o seu assassínio estranho e torpe.”

A Shakespare não passou despercebido que os seres humanos muitas vezes, tentam convencer não outros, mas a si próprios, especialmente quando precisam justicar suas atitudes e ações. Edmundo (Rei Lear) registra bem esse aspecto:

“Essa é a maravilhosa tolice do mundo: quando as coisas não nos correm bem — muitas vezes por culpa de nossos próprios excessos — pomos a culpa de nossos desastres no sol, na lua e nas estrelas, como se fôssemos celerados por necessidade, tolos por compulsão celeste, velhacos, ladrões e traidores pelo predomínio das esferas; bêbedos, mentirosos e adúlteros, pela obediência forçosa a influências planetárias, sendo toda nossa ruindade atribuída à influência divina... Ótima escapatória para o homem, esse mestre da devassidão, responsabilizar as estrelas por sua natureza de bode. Meu pai se juntou a minha mãe sob a cauda do Dragão e minha natividade se deu sob a Grande Ursa: de onde se segue que eu tenho de ser violento e lascivo. Pelo pé de Deus! Eu teria sido o que sou, ainda que a mais virginal estrela do firmamento houvesse piscado por ocasião de minha bastardização.”

As citações mostram que Shakespeare, sem pesquisas e fundamentos científicos, mas com intuição e sensibilidade, percebeu como é frágil a mente humana. Alguns recursos de comunicação podem induzir pessoas a agirem de maneira que elas não fariam em outras condições.

Desconheço o que ocorre no céu, mas na terra há fatos e atos humanos que, com nossos conhecimentos e concepções filosóficas, mal sonhamos explicar.

 

Nélson Jahr Garcia


Notas

(*) — Abaixo, reprodução da home page do site que era mantido por Nélson Jahr Garcia: Ridendo Castigat Mores. Inicialmente, no endereço www.jahr.org e, depois, em www.ngarcia.org. Retirei os banners e links para o eBooksBrasil.org e para a Phoenix-Library.org, que o Nélson colocara.

[imagem]

Crítica e ironia: armas que ainda nos restam.

 

A expressão latina do “banner” acima significa: "com o riso se castigam os costumes". O que fazer quando certos valores impostos à nossa observância não fazem sentido? Como enfrentar leis que nos prejudicam injustamente? De que forma enfrentar pais, professores e sacerdotes a nos impingir comportamentos ultrapassados, posturas antiquadas, padrões morais superados de muito? Como responder a teses acadêmicas, princípios filosóficos tão voláteis como nuvens de verão? Com humor, riso, sátira.

Não me refiro aos chistes grosseiros e óbvios, às longas e gongóricas anedotas, ao pastelão. Penso na ironia fina, sarcástica, percuciente. Aquela observação rápida, uma palavra ou frase que desmonta a falsa imponência, a solenidade superficial, a seriedade hipócrita.

Novidade? Não, não há.

Grécia antiga, guerra com os persas, trezentos espartanos enfrentavam milhares. Xerxes, o comandante persa, tentando impressionar o general espartano, disse-lhe que suas flechas obscureceriam o sol. Leônidas simplesmente respondeu: “Melhor, lutaremos à sombra ”.

Roma clássica. Dizia-se dos gauleses serem terríveis; guerreiros cruéis, enormes e fortes, manipulando armas pesadíssimas. Júlio César partiu para enfrentá-los, saiu vitorioso. Sua frase tornou-se célebre: “vini, vidi, vici” (vim, vi, venci).

A Cristo também desafiaram, queriam indispô-lo com o Império Romano: “É lícito pagar tributo a César, ou não?” Jesus, indicando uma moeda, perguntou: “De quem é esta imagem e inscrição?” À resposta que era de César, humildemente respondeu: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.”

Voltaire, um dos maiores pensadores da história, também insistia em escrever com inteligente sarcasmo. Ironizou a Igreja, os nobres, as autoridades em geral. Chegou a escrever um romance inteiro (Cândido ou O Otimismo) escarnecendo as idéias otimistas de Leibnitz. Foi criticado, preso e perseguido, jamais esmoreceu. Essa a razão pela qual Voltaire (François-Marie Arouet) é o patrono deste site.

 


 

(**) — Relação das obras colocadas por Nélson Jahr Garcia no Ridendo Castigat Mores. Algumas podem ser identificadas pelo prefácio ou apresentação que assinava:

Shakespeare: As Alegres Senhoras de Windsor – Ricardo III – Tudo Bem Quando Termina Bem – Antônio e Cleópatra – Romeu e Julieta – Rei Lear – Júlio César – Macbeth – A Megera Domada – Hamlet – A Tempestade – Otelo, O Mouro de Veneza – A Comédia dos Erros – Sonho de Uma Noite de Verão – O Mercador de Veneza – Os Dois Cavalheiros de Verona – Trabalhos de Amor Perdidos – Medida por Medida – Conto de Inverno – Coriolano – Muito Barulho Por Nada – Tito Andrônico – Henrique VIII – Vida e Morte do Rei João – A Tragédia do Rei Ricardo II – Henrique IV ( partes I e II ).

Voltaire: A Princesa de Babilônia – Breves Contos (I, II e III) – As Cartas de Amabed – Cândido – Dicionário Filosófico – O Homem dos Quarenta Escudos – História de Jenni – O Ingênuo – Micrômegas – O Mundo Como Está – Os Ouvidos do Conde de Chesterfield e o Capelão Goudman – O Touro Branco – Zadig.

Nélson Jahr Garcia: Estado Novo, Ideologia e Propaganda Política – Propaganda: Ideologia e Manipulação – Sedução, Sadismo, Silêncio.

Outras: Trabalhadores do Brasil, de Alexandre Marcondes Filho – Discurso Preliminar Sobre o Espírito Positivo, de Augusto Comte – Leis de Murphy, Autor desconhecido – O Estado Autoritário e a Realidade Nacional, de Azevedo Amaral – La Propaganda Politica, de F. C. Bartlett – História das Lendas, de Jean-Pierre Bayeard – Dos Delitos e das Penas, de Cesare Beccaria – O Estado Corporativo, de Benito Mussolini – Da República, de Cicero – Como Mentir con Estadísticas, de Darrell Huff & Irving Geis – Assistência ao Trabalhador Intelectual, do D.E.I.P-SP – Quem foi que disse? Quem foi que fez?, do DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda – Lei do Inquilinato, Documento Público – Anti-Dühring, de F. Engels – Fala Fidel - “Ninguno de los actuales problemas del mundo se puede resolver por la fuerza”, de Fidel Castro – O Estado Nacional, de Francisco Campos – O Fascismo Italiano e o Estado Novo Brasileiro, de G. de Almeida Moura – Réquiem Para Um Rio Morto e Barzac, de Galileu Garcia – A Revolução dos Bichos, de G. Orwell – As Opiniões e as Crenças, de Gustave Le Bon – Caracteres, de Jean de la Bruyère – Do Contrato Social, Discurso sobre As Ciências e As Artes e Discurso Sobre A Origem da Desigualdade, de Jean-Jacques Rousseau – A Propaganda Política, de Jean-Marie Domenach – A Rebelião das Massas, de José Ortega y Gasset – Segredos da Guerra Psicológica - Reminiscências da Segunda Guerra Mundial, de Joseph E. Brant – Fábulas - imitadas de Esopo e La Fontaine, de Justiniano José da Rocha – O 18 Brumário de Luís Bonaparte, de Karl Marx – Instituição Militar e Estado Brasileiro, de Leonardo Trevisan – O Príncipe, de Maquiavel – Marketing Eleitoral, de Marcelo O. Coutinho de Lima – O Livro Verde, de Muammar Al Qathafi – Pensamentos, de Pascal – Testamento Político, de Richelieu – Oração aos Moços, de Rui Barbosa – Brasil, País do Futuro, de Stefan Zweig – Utopia, de Thomas Morus – A Cidade do Sol, de Tommaso Capanella – Miminha e o Cururu e Aventura no Reino Verde, de Vera Siqueira – Pensamento e Linguagem, de Lev Semenovich Vygotsky – A Literatura da Cultura de Massa (Uma análise sociológica), de Waldenyr Caldas – Luta Pela Mente, de William Sargant, entre outras.

As crônicas que publicava na imprensa local de Atibaia e reproduzia em seu site foram reunidas em volumes: Comunicando Comunicação - Crônicas e Críticas e Comunicando Comunicação - Crônicas e Críticas - Vol. II. Edições póstumas: Comunicando Comunicação. Últimos Escritos e Shakespeare: A Arte da Sedução.

 

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© copyleft 2005 — Ridendo Castigat Mores

 

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Janeiro 2005