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Cada País Tem
a Pena de Morte
Que Merece

Jacinto Luigi de Morais Nogueira

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Cada País Tem a Pena de Morte Que Merece
Jacinto Luigi de Morais Nogueira

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© 2001 Jacinto Luigi de Morais Nogueira


 

 

Cada povo tem a pena de morte que merece.

 

Morte. O que é? Vida. O que é?

É possível dissecar pena de morte sem ao menos pensarmos sobre a vida? O que significa viver? Gosto desta definição que encontrei no dicionário de Francisco da Silveira Bueno: gozar a vida, sabendo aproveitá-la. O problema é que o saber aproveitá-la está vinculado aos nossos valores mais íntimos e estes são adquiridos.

Penalização aplicada a alguém que contrariou uma lei, uma norma ou um preconceito. Perder a vida ou tirar a vida de alguém é o extremo. Certifico aqui que ver o sofrimento de alguém, seu semblante de angústia não é nada agradável. Não refletirei aqui se a lei foi contrariada ou não, se houve intenção ou não, se houve culpa ou não para se aplicar a pena. A falha de um ser humano neste julgamento é inevitável e indiscutível.

Na democracia o povo elege as pessoas que o representam. Essas pessoas criam e modificam leis. Essas pessoas criam e modificam normas. Tudo “em nome do povo”. As pessoas de uma nação democrática autorizam determinadas outras pessoas a tomarem decisões por elas. Vale ressaltar que povo e representantes sofreram as mesmas pressões culturais, mas que não obrigatoriamente reagirão da mesma maneira. Temo porém em constatar que a maioria terá respostas semelhantes.

Cada povo cria seus hábitos, seus valores, suas crenças e sua cultura. Interessante é que mesmo com resultados maus as pessoas se acostumam e o ruim passa a ser indiferente ou até mesmo bom. Passamos a seguir de uma forma cega e acrítica essas leis, esses hábitos, essas crenças, essa cultura. Aceito como ruim absoluto, de uma maneira prática e simplista, um dano que incapacite parcial ou permanentemente uma pessoa psíquica ou fisicamente . Creio ainda que a morte, como já mencionei, seja o mal supremo.

É óbvio que, diante da idéia pré exposta, NÓS SOMOS RESPONSÁVEIS por tudo que é decidido, tudo que é executado, tudo que é legislado. Há quem diga que quarenta e nove porcento da população pode não ser responsável, por ter optado por outros representantes. Acredito ainda na sua parcela de culpa pois não tiveram capacidade seja intelectual, seja social para vencerem. Ainda mais, o que tenho percebido é que provavelmente se os quarenta e nove porcento chegassem ao poder oprimiriam da mesma maneira quem pensasse diferente deles. Comodismo, incapacidade de integração com toda uma nação, omissão e fraqueza não nos livra da responsabilidade. E onde não há democracia? O povo também é responsável. Pela omissão, por aceitar passivamente, por se habituar, por compactuar. Não obstante, ainda resta a responsabilidade por sermos responsáveis pela nossa cultura e hábitos.

Quando os valores de um mundo são outros que não a vida dos que a têm e a perpetuação deste mundo (das espécies) a morte indevida será tão comum quanto uma minoria dominar uma maioria desde há milênios. Tanto a morte de árvores e animais irracionais como a dos “racionais”. Roma antiga, por exemplo, tinha uma espécie de pena de morte para crianças do sexo masculino nascidas defeituosas que não poderiam lutar para aumentar o império. O dinheiro tem a sua utilidade indiscutível. Se o homem o venera o problema é de quem? Não pouco utilizo neste texto o dinheiro como valor, por ser atual e prático. Quero enfatizar, no entanto, que valores quaisquer que o homem priorize em relação a vida tornará a vida mais frágil do que já o é. Segundo Freud, no totem, caso houvesse incesto, a pena era a morte. É explícito que o valor maior era a prevalência da espécie.

Acredito que a pessoa que tem consciência plena de seu ser pode dizer que VIVE.

Destes pressupostos pode-se concluir que existem inúmeras penas de morte e estas são apenas ideologicamente mascaradas de eufemismos. Fome, prisão perpétua, sede, depressão, homicídio, analfabetismo, alienação, infarto agudo do miocárdio por aterosclerose, fumo, alcoolismo, vício em drogas ilícitas, solidão, bala perdida, guerras, acidente de trânsito, estresse, desemprego, discriminação, cadeira elétrica, morte em corredores de hospitais, crucificação, censura, impostos mal aplicados, falta de medicamentos, forca, fuzilamento, câmara de gás e apedrejamento são alguns poucos exemplos. Daí se percebe também que muitos de nós ainda nem nascemos. Pode-se dizer também que há poucos que nem mesmo após uma cadeira elétrica morrerão. São os imortais. Poetas, músicos, escritores, alguns filósofos, “ninguéns” que amamos verdadeiramente...

A sociedade, isto é cada um de nós, destrói um produto seu ao infligir sua pena de morte. Seus filhos mais devotos, os que têm valores iguais aos dela. Vejamos: queiramos ou não, aquele que discrimina outra pessoa tem o mesmo conceito de vida e de ser humano daquele que assassina; aquele que vive em paz sabendo que há analfabetos, mortos de fome, alienados, oprimidos vêem a vida da mesma maneira que o governo que aplica a cadeira elétrica como pena. Quem trata com drogas, cigarros, bebidas não dão mais valor à vida que os que fuzilam pessoas. Quem humilha pessoas tem os mesmos valores daqueles que fazem uma guerra.

O problema é que somos narcisos demais para enxergarmos, aceitarmos e mudarmos esses fatos óbvios. Seria utópico imaginar que um dia as sociedades vão trabalhar, criar, evoluir, crescer e se desenvolver em prol do ser humano com a mesma intensidade que o fazem, hoje, visando ao lucro ou ao seus próprios benefícios?

Como pode um mundo que idolatra dinheiro julgar alguém que matou por dinheiro? Se se idolatra dinheiro pode-se chegar a um ponto em que a vida seja menos importante. E se é menos importante pode-se perdê-la por uma causa mais nobre. Acredito que já estejamos neste ponto. O povo merece a pena de morte imposta pelo infrator já que os dois seguem os mesmos valores, o infrator também merece pois sua vida não vale mais do que dinheiro. Se sua vida vale menos que ouro então por que se preocupar com a morte uma vez que a nação continuará com seu ouro? Cadeira elétrica, fuzilamento, forca, prisão perpétua e apedrejamento são penas que eliminam alguém que pensa da mesma maneira que você quando se omite diante das injustiças, por exemplo.

A pena de morte vista da maneira clássica, isto é, aplicação intravenosa de drogas letais em pessoas que cometeram crimes brutais, etc. provavelmente acontece no intuito de eliminar um risco para a sociedade. Elimina? Perdão, mas o que tenho observado é uma tendência a aumentarem a dominação, a auto alienação, a brutalidade e a cultura auto-destrutiva...

A fome como pena de morte é mais um exemplo de governo que não tem a vida como prioridade. Quem morre é responsável pela sua pena?

Morreu porque no hospital público não tinha o medicamento necessário. Quem é responsável pelo hospital público? E quem elegeu o responsável?

Passou a vida morto pois não sabia ler ou escrever. Quem destruiu as escolas? Quem parou de estudar para ganhar dinheiro?

Prisão perpétua e solitária são penas de morte? Concluo que sim.

O apagão é uma pena de morte imposta por pessoas que nós escolhemos voluntária ou involuntariamente. Merecemo-lo então!!!

A pessoa que morre devido a um enfisema pulmonar por ter fumado por trinta anos teve sua pena de morte escolhida por si mesma.

Quem morre de infarto agudo do miocárdio por aterosclerose, estresse e hipertensão arterial teve sua pena de morte infligida por si mesmo. Quem escolheu o governo que não dá bons salários para ele viajar nas férias? Quem escolheu o governo que permite vender comidas gordurosas? Quem foi alienado para permitir submeter-se a isso tudo? Ele faz parte ou não de uma sociedade que se diz desenvolvida e que impõe estas condições a si mesma por dinheiro?

A pena de morte vinculada a uma depressão, seja esta depressão iniciada por vários motivos, é uma penalização que a pessoa se aplica.

No final da estrada o que muda nas penas de morte é a maneira como nos é feito enxergá-las e percebê-las: indiferentes ou emocionados. Nas formas sutis que no-las impõem ou impomos. No tempo que decorre até consumá-las.

Indiscutivelmente ainda acontecerá por muito tempo pois continuamos preferindo olhar a conseqüência e não a causa, o fim e não o início. É necessário que saibamos que cada povo tem a pena de morte que merece, você escolhe sua pena de morte. Que somos responsáveis pela nossa evolução e certamente pela evolução da humanidade.

Hábitos, idéias, culturas, atos, preocupações “grandes” e ao mesmo tempo “pequenas”, “inúteis”, “desnecessárias” podem nos levar a caminhos com penas de morte inescrupulosas.

 

Jacinto Luigi de Morais Nogueira
16 de junho de 2001
luigi_morais@yahoo.com.br


 

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Junho 2001

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