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O EU

(Observações de um Andarilho)

Mauro Gonçalves Rueda

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O Eu
(Observações de um Andarilho)
Mauro Gonçalves Rueda

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maurorueda5@hotmail.com

©2003 — Mauro Gonçalves Rueda


O EU

(Observações de Um Andarilho)
— Pensa/mente/ando —

(LIVRO II.)

(Para: Maricy e Joyce. Minha mãe e meus irmãos)

São José do Rio Preto — 1.992.
Mauro Gonçalves Rueda.


O EU
OBSERVAÇÕES DE UM ANDARILHO

(Livro II.)

INTRODUÇÃO

 

Que “O EU”, seja útil — de alguma forma —, àqueles que o lerem. Se o lerem. E mesmo que eu tenha partido destas paragens e chegado, finalmente, ao termo de minha missão, que estes pensamentos e conceitos sobre o Ser/Eu, sirvam para alguma coisa útil. Não converter ou pregar acerca de aspectos morais ou espirituais. Mesmo porque, cada qual possui, de forma inata, o seu livre arbítrio. De forma que, este livreco, ao meu ver, pode ser lido com prazer e não somente com o rigor dos pregadores mumificados e “bitolados” por suas crenças, seitas ou religiões.

Mesmo porque, trata-se de um esboço humilde e abarrotado de contradições acerca da vida, do destino e do Ser. “O Eu”, nada mais é que uma forma de ser, pensar e agir, em busca de um único Objetivo. Em busca da unicidade através da qual, creio, devamos refletir, no intuito de simplificarmos nossa própria existência.

Há homens que, constantemente, colocam-se em posição de superioridade crendo — até mesmo que, devamos adorá-los como se fossem deuses. Pura imbecilidade e ignorância.

O homem é um ser complexo e orgulhoso. Mesquinho e egoísta por natureza. Todavia, se esquece de sua fragilidade, seus problemas, erros, doenças e, sobretudo, que uma vez tornado em pó, nada há que o difira de seu semelhante. Por isso mesmo dizemos, junte apenas o necessário porque, aquele que muito possui, tornar-se-á mais e mais ganancioso e acabará perdendo a própria paz de espírito.

Neste humilde livro, sem uma ordem metódica sobre conceitos e pensamentos aqui dispostos, à medida em que o escrevia, apenas o fazia, sem importar-me com estilo ou primazia. E os pensamentos e assuntos são entrelaçados e confundem-se, embora, há que se perceber, uma vaga tentativa de passar a imagem de um ser angustiado e abarrotado de dúvidas que, lentamente vai encontrando-se (?) e fazendo delinear seu próprio caminho. Como um ser em constante evolução.

É evidente porém que, apesar de toda a busca — às vezes de forma confusa, desenfreada e portanto infrutífera, este escrevinhador não encontra-se hoje, muito distante do jovem intrépido do ontem. De qualquer forma, há um amadurecimento natural, decorrente da própria experiência de vida.

Quiçá houvesse uma fórmula exata para que pudéssemos nos livrar de nossas imperfeições, angustias, desespero e conseguirmos uma paz definitiva. Ademais, não há nada como o tempo e a própria experiência para nos legar uma visão melhor da nossa própria existência, suas causas e objetivos.

Seria ousadia da minha parte, determinar o fim. Ou seja, porque vivemos. Da mesma forma, seria ousado dizer aquilo que nos espera no futuro ou no pós-morte. Tanto que, não sou nenhum vidente ou mago. Tampouco possuo o dom de prever o futuro.

De qualquer forma, apesar de toda a complexidade da vida e do mundo atual, creio que podemos tornar as coisas ou, a própria vida, em fardo mais leve e menos assustador. Há um quadro de pessimismo que grassa sobre o planeta e sobre nossas vidas, cada dia mais desalentador, a nos transmitir uma insegurança e um medo quanto ao futuro, terríveis e preocupantes — insegurança e medo.

Ora, isso decorre, bem o sabemos, dadas as proporções e a capacidade de destruição, do ódio, injustiça, violência, exploração, descaso das autoridades, exclusão social e outros problemas que o próprio ser humano, fez e faz vicejar e grassar em seu dia à dia.

O homem vem, lentamente destruindo o planeta. Tanto a flora quanto a fauna, são vítimas constante deste processo predatório. Não bastasse isso, o número de vítimas dessa violência desenfreada e irracional, cresce mais e mais de forma avassaladora. As guerras entre nações; a política de interesses; o poder de domínio; a subjugação dos mais fracos; o avanço das doenças (apesar do poderio das ciências médicas); a massificação infrutífera dos meios de comunicação a serviço de interesses espúrios abrangendo a política e o comércio, a descrença e as dificuldades em se conquistar “um lugar ao sol” em meio à sociedade capitalista e consumista; o abandono e o descaso para com o próximo — muito principalmente as crianças —; o nível de Ensino atávico; os problemas econômicos; dentre tantos outros milhares, vêm tornando o homem cada vez mais competitivo e desumano com a imposição da “Lei do mais forte”......

A cada dia que passa, o homem torna-se verdugo do próprio homem de forma acentuada e desumana. Todos são, de uma forma ou de outra, carrascos de si próprios ou do próximo. Afastamo-nos cada vez mais do processo que legou-nos o título de “homo sapiens” para deixarmos despertar a ira das bestas adormecidas em nós.

Os políticos profissionais, através de suas ganâncias, insensatez, descaso e despotismo, têm se tornado das mais nocivas causas desse processo de desumanização da raça. Ao invés de, através dos poderes que lhes foram legados, buscarem soluções para os problemas que afligem, principalmente, as camada sociais mais pobres, desumanamente, acabam prejudicando-as ainda mais com suas negligências; indiferença, demagogia e falcatruas.

São os políticos — detentores de missão que deveria ser tida por nobre —, as piores espécies dos males da sociedade contemporânea.

A busca do Eu, a interiorização do Ser não quer e não deve conjugar o verbo: fugir. Não desejamos incutir a idéia do desvencilhamento dos problemas do mundo e da vida, para uma fuga buscando a segurança e a paz na espiritualidade inerte, improfícua. Tanto que, o apelo maior aqui, é realizado ao próprio homem. Não atenho-me a religiões, específicas. O Um, a unicidade, a exemplo da Escola Pitagórica, talvez possa transmitir uma imagem de um Deus ou algo dessa natureza. Da mesma forma que, no que tange a frases ou conceitos como “nem uma só ovelha do rebanho será esquecida”, possa transmitir a imagem do Cristo a pregar o mesmo, através de sermões e parábolas.

Contudo, distante de tal intento, ousei misturar expressões reles com as de cunho bíblico. Mesmo porque, quando refiro-me ao “Eu”, na realidade, trata-se de uma personagem comum: o homem. O Ser humano e seu mundo mental e espiritual. O que não deixa de ser algo natural, do ponto de vista humanitário.

A bem da verdade, ao longo dos anos, tenho convivido com todos os tipos de pessoas aqui descritas. Desde o bêbado ao déspota. Do hipócrita ao ladrão. Do justo ao ignorante. E posso afirmar que, o maior volume do material usado na confecção deste livro, foi extraído da realidade, do cotidiano. Daí, o valor de tal material. Por trazer no cerne, muito mais da realidade do que possa aparentar à primeira vista.

Se digo, farás o que desejares desde que respondas por teus atos, não empresto à tal conceito filosófico — teológico, senão, uma lei natural da vida e da sociedade em que vivemos. Mesmo porque, a responsabilidade pelos atos cometidos é intransferível se se detêm a consciência das causas e conseqüências acarretadas..

No mais, quisera descobrir a forma mais simples e saudável de viver o que me resta de vida sobre a face do planeta Terra. De qualquer forma, em minha imperfeição e erros naturais, insistirei na busca. Podendo com isto, tornar-me um neurótico excêntrico ou um excêntrico neurótico. Ou ainda, com o tempo, o amadurecimento legará à minha alma, uma como que, certa tranqüilidade para que, eu possa chegar ao fim desta jornada sem o peso que ousei atirar sobre meus próprios ombros.

Fardo que, não posso alegar desconhecer seu peso, sabendo ser — EU —, um simples e frágil homem abarrotado de dúvidas; ainda de gatinhas pelas sendas da vida, à cata de explicações para compreender o que eu não compreendo.....


O EU
Observações de Um Andarilho

 

E me deste a solidão
e o silêncio das madrugadas
por companhia!.
A princípio, infiltrou-se-me
na alma, um temor incompreensível
porque, junto ao silêncio
e à solidão,
comecei a perceber
minha própria existência.
Minhas formas delineadas;
os pensamentos emaranhados
em espirais crescentes;
sentimentos que fizeram-se
em eternos segredos;
dúvidas e caminhos;
palavras embebidas na memória;
verbos, letras, canções...
E, a cada madrugada,
cada passo pelo caminho da solidão,
maior a distância
que interpunha-se
entre o que eu transformara-me
e as pessoas lá fora.
Até que, finalmente,
percebi que já não
poderia mais tornar..
O tempo, implacavelmente,
incumbira-se de tudo.
Dessa forma,
continuei perseguindo
o que nem sei.
E deixei que meus passos
conduzissem-me
sem saber por onde ia.
Apenas que, toda a minha vida,
seguia seu curso
e, a própria existência,
era todo o EU.
EU: o meu próprio silêncio.
EU: a minha própria solidão.
Na unificação do vinho e o pão.
O sangue e a carne.
O início e o fim.

***

Não sei o que foi feito
do que eu era.
Não sei o que é feito
do que sou.
O que serei,
parece-me quimera.
É dessa forma que
as coisas são..

***

Às vezes sinto medo do futuro.
Mas, o que é o futuro,
senão um passado
ainda por vir?!

***

Porquê tenho desejado saber
mais do que deveria?
Tudo vem a seu tempo.
Mesmo sem que haja desejo.

***

O que penso que
minha alma sente?.
Ou o que sinto
que minha alma pensa?.

***

Tenho sido qual a criança que,
demonstra compreender
certas coisas.
Outras,
finge desconhecer
a razão porque compreender.

***

Porquê o tempo passa
e tornam-se grisalhos meus cabelos?
Se se tornassem grisalhos meus cabelos,
sem que houvesse
a interferência do tempo,
não seria o mesmo?.

***

Não sei dizer porque
sinto o que sinto.
Apenas sei que sinto
como que num processo
natural em ser.

***

Meu olhar busca
para lá do infinito,
uma estrela para brilhar porque,
sei, a necessidade da luz,
para que possamos continuar.

***

O que eu penso
e o que faço..
O que penso
é ilimitado
e transcende
a própria existência.
O que faço
é o limite
de todas as coisas.
Mesmo do próprio pensar.

***

Que valor ter-me-ia a luz
se eu não conhecesse as trevas?.

***

Ás vezes fico pensando
em porque tenho que sentir
ou compreender
certas coisas,
sendo que,
a maioria das pessoas
jamais se preocupou
com nada disso..

***

Se quase nada sei
e quase nada sou
já é um processo dorido,
como seria ser muito
e saber demasiado?.

***

De que vale viver
se não se pensa?.
Se não se transforma?.

***

O caminho mais longo
sempre foi o melhor..

***

Como que a dor
que amadurece,
a dor, às vezes,
apodrece.
A medida exata
é o /meio/correto
para tudo.

***

Meu medo é segredo
e pode cortar
feito lâmina
se não ouso controlá-lo.

***

Porque a minha loucura
é a consciência
daquilo que sou.
Por ser tão somente
o que tenho sido.

***

E meu olhar
não encontra-se preso
num determinado ponto.

***

Todos os meus sentidos
viajam constantemente.

***

Nunca o Universo
é um ponto
em que posso tocar.

***

E sinto-me constantemente
ausente
de onde me encontro.

***

De forma que,
absolutamente,
nada me prende à nada.

***

De onde me encontro
diviso estrelas e flores.
Todavia, posso pensar
em miséria e violência.

***

Como desejar atingir
aquele estado ao qual,
subjetivamente,
denominamos perfeição?.

***

Ser o que se é,
na realidade,
é estar-se em harmonia.
Esta é a perfeição.

***

Não se vence completamente só.
Contudo, quem determina
a estratégia
de forma a convocar
aqueles que vencem?!.

***

A noite em claro
é um dia
como outro qualquer
para aqueles que têm fixos
mente e almas a buscar o horizonte.

***

Não desejo revolucionar,
explicar ou complicar.
Apenas, sigo o meu próprio
caminho.

***

Faço o que faço
se me é possível.

***

O impossível,
que o faça
aquele que o conhece.
Mesmo porque,
nem sempre o que me parece impossível,
o é para todos.

***

Se somos normais
ou fazemos parte da realidade,
não cabe a mim
discerni-lo.

***

O normal, às vezes,
parece.

***

O real,
pode ser.

***

Se a sombra me cobre,
digo: estou sob a sombra.
E não:
a sombra encontra-se
sobre o que sou.

***

Porque o que sou
não se encontra
em lugar algum.
Ainda em que pese
a aparência.

***

Ou a vida cede
ante minha consciência ou,
que se faça romper
o cordão que nos liga.
Não seria extremista
fazer uso de tal assertiva?

***

Não há como viver
sem razão.

***

Não há porque ser
ignorando o preço.

***

O meu silêncio
é a frase mais complexa
da expressão.

***

Compreender
é como deixar
e seguir em frente.

***

Como a ignorância predomina,
há mais cegos do que possamos conceber
em nossa imaginação.

***

Tudo o que possuo
é feito o vento que passa.

***

Tudo o que sou
é feito o que jamais
será vento.

***

Por isso, nada desejo.
Por isso
possuo a medida exata
do que mereço.

***

E sei que sou
tão somente uma centelha
do que não tem fim.

***

E ser parte do que
não morre,
é ser tudo
o que se pode.

***

“Amanhã, pó”. Dirão.
Ora, amanhã,
a eternidade.
Eu sei.

***

Por isso também
nada importa
em desejar tudo.

***

Mas importa o necessário.

***

Importa a consciência clara,
transparente..

***

Por isso me legaste
a solidão e o silêncio
que são o Eu revelado
na eterna busca.

***

Uma forma de ser.

***

Estar presente e ausente
de tudo
do todo
e ser
o tudo
e o todo.
Qual a própria
chama
da vida.

***

O sopro
e a luz.

***

O Eu que não é,
Sou.
Sou o Eu que é
Ser.

***

Feito no Princípio
quando o Verbo.

***

Feito o Meio
e o final do ciclo
que volta a ser
o próprio Princípio.

***

De forma que busco,
embora saiba que,
para tudo há seu tempo.

***

Do nada a tudo vejo
e a tudo aprendo.

***

Às vezes sinto pena
dos homens.
Sobretudo quando
a irracionalidade,
supera a própria razão.

***

Penso que a complexidade
em viver,
esteja na forma
pela qual optamos.

***

Pode ser que,
tudo à nossa volta,
seja realmente complexo.
Porém, o que dizer
sobre a simplicidade se,
ela é possível?.

***

Na realidade, os sonhos
sempre sobressaem-se.
E, nem sempre podemos
despertar.
Principalmente para
a realidade de um
mundo e uma vida inseguros.

***

Quem sabe eu não tenha
excedido em sonhar
para despertar demasiado tarde
para a realidade?.

***

Ou não deveria ter-me
abstido da realidade
para o sonho eterno
dos magos?.

***

O que me diz o tempo
se não creio nele?.
Nada, absolutamente,
que possa mudar
o curso dos acontecimentos.

***

O fato é que deixei-me
envolto de forma demasiada
e tudo me cansa, deveras.

***

Por isso também,
não tenho importado-me
com o que possa acontecer.
Ou tenho dado importância
de forma excessiva.
A ponto de parecer
confuso aquilo que
sinto ou penso
acerca do que possa
ocorrer.

***

O que poderá ocorrer-me
é o que deve ser.

***

Tudo à nossa volta
pode ser realidade
ou ilusão.
É o que criamos.

***

Guardar-me para o futuro?
Mas o que é o futuro, afinal?

***

Como desejar ser perfeito
quando não o somos?.

***

Da minha janela,
na madrugada,
observo estrelas
como quem observasse
o nada.
E, toda a minha existência,
encontra-se enclausurada
no brilho das estrelas.

***

Porque não desejo
saber das coisas dos homens.
Porque nada deste mundo
consegue prender-me.
E tenho vivido no eterno
caminho da busca.

***

Que medo não me deixa partir,
definitivamente?

***

Porque tenho vivido
num mundo
e num tempo
aos quais não
tenho pertencido!.

***

Que mundo afinal,
é este em que,
a ignorância impera
em detrimento
do conhecer?
E a imbecilidade
é mais forte que
a própria razão?.

***

Tenho perdido noites de sono
a escrever, a pensar, a sentir,
a perscrutar...
Contudo,
os segredos da vida e do Universo,
são insondáveis
para meras noites
insones.

***

E porque justamente eu, teria
tais privilégios?

***

Há segredos insondáveis.

***

Árvores e plantas que
brotam, frutificam
e morrem.

***

Sinto medo de meus próprios
pensamentos.
Porque, às vezes,
eles, parecem-me,
provir de qualquer
outra natureza
que não a minha.

***

Escrever como quem
alimenta-se
e, em seguida,
desprende as energias
obtidas.

***

Por isso eu sou
o que escrevo
e se assim não o fosse
eu não poderia
dizer quem sou.

***

Às vezes não sei bem
o que desejo expressar.
Contudo, o faço.

***

O vento sopra
e o tempo passa.

***

Eu observo tudo
e vejo muito pouco.
Ou, quase nada
vejo.

***

Assim é minha própria
compreensão
sobre a natureza
das coisas que ocorrem.

***

Passo horas meditando e perco-me
ao romper a linha
de pensamentos que,
penso possa, um dia,
talvez,
conduzir-me a uma conclusão objetiva
sobre tudo o que desejo saber.

***

Mas o que desejo saber
quando sei que,
quanto mais se sabe,
maior torna-se o vazio
e maior a busca?.

***

E o sofrimento é maior
quanto maior o volume
de conhecimentos acumulados.

***

Porque maiores tornam-se
o fardo e o peso
da responsabilidade.

***

Não sofre quem ignora
a causa primeira das coisas.

***

E tudo o que ocorre,
parece natural
àquele que,
ignora o porque.

***

Talvez sejam naturais.
Todavia, há uma razão.
Um motivo.

***

No desvendar,
podemos encontrar a paz
ou o desespero.

***

Porque o inevitável...

***

Ora e se se pode
evitar o que julgamos
ser natural que ocorra?.

***

Vem daí a causa
desta desenfreada obsessão
em querer seguir adiante.

***

Mesmo porque,
já não tenho
para onde caminhar.

***

Sei que enquanto
eu estiver passando
não poderei afirmar
que, finalmente,
possuo segurança
ou paz.

***

Por isso contradigo-me.

***

Por isso, “desdigo”
tudo o que disse
até então,
para reiniciar.

***

O princípio.

***

A causa vem
do princípio das coisas.

***

Nada pode ser
considerado real
sem que haja um
princípio.

***

Os fatos não ocorrem do fim.

***

Ou do meio.

***

Mas sim de Um Princípio.

***

Se assim é,
logo,
eu sou o princípio da busca.
E a busca vem
do fato de haver
um princípio para que se
a empreenda.

***

O Eu é o princípio
do princípio da Causa.

***

E o Princípio do Eu?....

***

Se tenho sofrido
todo o tempo vivido
e praticamente,
creio haver tido uma causa
para que tal
tenha ocorrido,
porque não hei eu, evitado?.

***

Então torno à opção
na maneira de ser
agir e pensar.

***

E julgo que se assim tem sido,
é porque tenho eu sido a causa
e o próprio princípio.

***

Canso-me girando
em torno de determinadas questões
porque,
embora partindo de um ponto
referencial,
ou do próprio princípio,
não tenho conseguido
sair fora deste círculo
que é meu próprio
meio.

***

Esfalfo-me:
todavia, sinto-me cada vez mais
distante de um ponto final.

***

E se, abatido,
procuro mudar a minha
própria natureza,
seguramente é um
ato em vão.

***

Qual o campesino que,
nasce e desenvolve
habilidades próprias para com a lavoura
e não consegue
encontrar um lugar em meio
a um laboratório de análises clínicas..
Tentar mudar sua natureza,
é um ato vão.

***

De tal forma tenho vivido
que, a vida tem-me sido,
um verdadeiro pesadelo.

***

Porque não hei encontrado
sequer a minha própria natureza.

***

Nem consigo encontrar
um trabalho de natureza
ao qual eu perceba afinar-me.

***

Então, entre tal emaranhado,
tenho procurado encontrar
muito mais do que sou realmente capaz
de compreender.

***

E tenho me perdido.

***

E tenho deixado de lado
a vida para tentar viver
sem sequer haver desenvolvido
uma causa real.

***

De quando em quando
tenho a impressão
de que a vida não passa
de sonho.
Outras vezes,
creio que a vida
seja pueril realidade
ante o verdadeiro sonho.

***

Eu não tenho um mestre a dizer-me coisas
senão, que tudo o que aprendo,
faço-o junto
ao meu próprio silêncio.

***

Talvez, se eu pudesse
ser um pescador ou, quiçá,
um lavrador em terras áridas
e senis,
meu aprendizado
fosse mais profícuo.

***

Todavia, as terras do viver,
para mim,
sempre foram mais áridas
e as águas dos mares profundas;
demasiado profundas
para minha sede.

***

Que eu compreenda aos tragos,
lentamente,
para não sucumbir
ao desejo de saciar
a insaciável sede
que me fustiga.

***

São lentas as horas,
os meses, anos...
E frágeis são
os músculos retesados
de meus braços, ombros e pernas.
Por isso também,
tenho minhas tarefas
conforme minhas condições.

***

Não posso realizar
aquilo que não sou capaz.

***

Seria ser contra a natureza
das “coisas” todas.

***

E tudo possui
sua medida exata
e seu peso exato.

***

Todavia, o que ouso?.
Carregar sobre os ombros
o fardo que não sou capaz?.

***

Jamais peço que me compreendam.
Sequer consigo
que me deixem em paz.

***

A minha certeza
é um poço escuro
e abarrotado de incertezas.

***

Quando sinto-me vazio,
talvez eu esteja mais próximo da certeza.

***

Porque o vazio
é um silêncio.

***

E o silêncio
não é a negação
nem a afirmação das coisas.

***

O que mais posso
querer ser
além do que tenho sido?.

***

Como o violonista jamais sabe tudo
e está sempre aprendendo,
assim é o viver
e o ser.

***

Contudo o que posso afirmar
hei aprendido?.
Ou ainda possa vir a aprender?.

***

A paz, para mim,
está em não desejar.
Negar o silêncio
e sê-lo eu próprio.

***

Como negar a existência
e ser a própria existência?.

***

Não estou próximo
nem distante.
Não estou dentro
nem fora.
Eu sou.

***

O ser a própria proximidade
e distância;
o dentro e o fora,
é ser o Princípio.

***

Feito o filho
que está por vir
eu estou por ser..

***

Mas sou o que encontra-se
naquilo que é.

***

Eu sou e estou
em tudo e em todos.
Na faísca do céu,
no silêncio,
na dor,
na mentira,
no medo
no sim e no não.
Eu sou e estou
em meu próprio ser.
Eu sou tudo
e nada sou
sendo.

***

De forma que sou o que sou.

***

O Princípio de todas
as coisas e causas
encontra-se
no princípio do ser.

***

O caso é que
não defino o ser
bom ou mau.
Mal ou Bem.

***

Contudo, suas ações
são definitivas.
E refletem a natureza
daquilo que se é.

***

Temos sido superficiais
todo o tempo.

***

E, sobretudo,
vivido num tempo
de aparências.
Em que, as aparências,
são a causa do ser.

***

E as regras do viver.

***

E, sendo assim,
nunca temos sido
o que realmente somos.

***

Mas sim,
o que representamos ser.

***

Através das aparências.

***

Por isso, temos sido,
muito pouco autênticos
e naturais.

***

Acercamo-nos do irreal,
da fantasia..

***

E tornou-se extremamente
raro conseguirmos
ser o que somos.

***

Medo em sermos
simplesmente.

***

Ou, tão somente.

***

Desejamos ser sempre
algo que jamais seremos.

***

Eis o nosso erro.

***

E eis a virtude dos que
são o que são
porque têm que ser,
naturalmente.

***

Por isso, tenho procurado
simplesmente ser eu mesmo.
Ainda que as pessoas
insistam em dizer-me
que talvez eu pudesse
ser isto ou aquilo...
Quero dizer:
“Algo ou alguém melhor
do que aparento ser”.

***

Contudo, questiono:
melhor em que sentido?

***

Talvez ocupar, conquistar
um lugar de destaque
na sociedade?..

***

Todavia é algo que,
sinceramente,
não me atrai nem um pouco.

***

Sinto-me bem como sou.

***

Apenas não consigo
adaptar-me muito bem
àquilo que denominam
“regras e hábitos sociais”.

***

Talvez eu nem deseje.

***

É. Creio mesmo que não!.
Não conseguiria jamais
ser o que sou,
tendo que adaptar-me
“aos costumes e hábitos sociais”.

***

Isso tem tornado as coisas
difíceis para mim.
Sobretudo, devido a minha profissão.

***

Ainda assim,
procuro conciliar-me com tudo isso.

***

Creio que, necessariamente,
não exista a plena e total liberdade,
sem, sobretudo,
que se faça cumprir
determinados deveres sociais.

***

Tenho plena consciência
dos deveres essenciais,
embora, preferisse a minha liberdade
total e plena.

***

De qualquer forma,
esse ponto de vista,
demonstra alguma impossibilidade quanto
a viver-se e ser algo que
realmente desejamos.

***

Eu não desejo ser obrigado..
a ser aquilo que não sou.

***

Desejo somente seguir
o meu próprio caminho.

***

Tentar fazê-lo através de
meus próprios meios.

***

Sem que interfiram.
Sem que me coíbam.
Ou, tentem persuadir-me.

***

Não há como forçar
— ou porque fazê-lo —,
a natureza.

***

Por isso, creio seja natural
que eu procure determinar
qual caminho seguir
sem que seja forçado
a fazê-lo ou não.

***

Às vezes, chego à conclusão
que, somos capazes de tudo para,
criarmos incontáveis problemas..
Problemas que,
acabam afetando a nós mesmos.

***

Outras vezes,
as pessoas à nossa volta,
o fazem por nós.

***

Por isso também,
sinto-me aborrecido
com tudo, às vezes.

***

E cansado, sinto-me.
Embora, continue vivendo.

***

Provavelmente sejam
trinta e cinco anos confusos
o bastante
para deixar qualquer um
suficientemente atordoado
em meio a tanta complexidade.

***

Não que eu tenha nascido
pensando dessa forma.

***

Mas, muito provavelmente,
vivido dessa forma.
Como que à parte....

***

Embora possa soar estranho
o “vivido dessa forma...”.

***

O tempo passa e mal percebemos,
enclausurados no cotidiano.

***

É como se fossemos programados
para algumas poucas e úteis
tarefas à sociedade e ao sistema.
O que nos impede, simplesmente,
de pararmos para pensar e analisar
o suficiente para que
adquiramos uma visão
analítica e uma consciência crítica
do que é ser e viver.

***

Algumas pequenas coisas
que nos tornam ocupados
o suficiente para que
não percebamos que
o tempo passa e,
sobretudo, com ele,
extinguem-se
nossas vidas.

***

De forma que temos tido,
todo o tempo,
uma visão generalizada
sobre o ser e viver.

***

O que nos leva, obviamente,
a formarmos opiniões
e conceitos superficiais
acerca de questões
extremamente profundas
e complexas.

***

Baseado em tal conceito,
admito que jamais um homem é capaz
de ser o que é, realmente.
Mas sim, tornar-se algo.
Talvez um produto...

***

Como diz o popular:
“produtos do sistema”.

***

E ser produto,
conseqüência de uma causa
predeterminada,
da qual não fazemos parte na realidade,
é, simplesmente,
renegar à própria
natureza em sermos
o que poderíamos vir a ser
por iniciativa própria.

***

Ora, a massificação
— em todos os sentidos —,
é um exemplo daquilo que afirmo.
Ou seja: centenas de milhares de pessoas
jamais ousaram dar um passo em frente
para não contrariarem
ou fugirem ao velho padrão e às regras
do esquema.

***

Isso implica em deixar de ser,
provavelmente,
algo mais do que somos persuadidos
a sermos.

***

Todavia, procurar fugir às regras impostas
implica, necessariamente,
em ousar, desafiar e
até mesmo, transgredir.

***

Não estou referindo-me
em ferir leis e determinadas obrigações.
Mas sim, em não deixar-me cativo e inoperantemente
impotente
diante de um sistema e um conjunto de regras e
interesses que venham
ferir minha liberdade e capacidade
de discernimento.

***

Um exemplo comum
no que tange à nossa prisão e, sobretudo,
incapacidade,
são as imposições sociais e econômicas
das quais dependemos
para que possamos viver.
De certa forma, claro.

***

Um ser humano que
inicia-se no trabalho aos 10 anos e
aposenta-se aos 65 anos;
em regime praticamente absurdo
às circunstâncias da vida moderna,
de ter que trabalhar 8 horas por dia,
por melhores que sejam
as condições de trabalho oferecidas,
raras são-lhes as oportunidades
para o discernimento.

***

Muito provavelmente,
tal ser,
acaba o dia extenuado e sem condições
para qualquer análise mais profunda
sobre porque e a que veio ao mundo.
Da mesma forma,
aos 65 anos,
dada a natureza do organismo humano,
a ociosidade de uma aposentadoria,
torna-se pateticamente doentia.

***

Dessa forma, têm-se vivido.
E, é dessa forma,
que eu desejo não
ser obrigado a sucumbir.

***

Porque toda a plenitude
e capacidade de discernimento;
de emprego de energia;
pensamento e criatividade,
nos florescem na infância
e até em determinados anos quando adultos.

***

Não que o idoso não reuna condições
para criar e desenvolver
uma linha lógica e clara de raciocínio
que venha a beneficiar-lhe.

***

Todavia, na imaturidade,
não se define precisamente
o caminho a ser trilhado.
Por isso tantos erros.
Como o erro da profissão,
por exemplo.

***

Da mesma forma,
para o ancião, não seria
deveras constrangedor,
revolucionar inteiramente
todo um processo
e uma existência?.
Talvez até impossível
devido às circunstâncias
que certamente inibirão
uma possível tentativa.

***

De forma que,
tais complexidades na existência
de um ser humano,
somente são descobertas
e visivelmente transparentes
se ele busca, a partir da adolescência
(até a meia-idade, creio),
as causas, princípio e fins
e cria uma filosofia
que o salvaguarde da ordem geral
do dia.

***

Ou seja,
que ele desenvolva por si próprio,
a capacidade de pensar e agir
fora daquilo que lhes
determinam as regras do jogo.

***

Creio que eu tenha
começado a trilhar esse caminho
demasiado jovem.

***

Provavelmente aos 11/14; e aos 20,
sentia-me extasiado e, a bem da verdade,
abarrotado de problemas.
Sobretudo, sem saídas.

***

Aos 30 anos, pude constatar que,
não somente não havia saídas como,
havia caminhado o suficiente
por um caminho sem volta.
Um processo sem retorno.

***

Então, desse no que desse,
eu já não tinha muita opção..
Senão, seguir adiante.
E o fiz.
E o tenho feito.

***

Confesso que, na maioria das vezes,
de forma atabalhoada,
tendo que,
conciliar-me com a vida lá fora
e os problemas sociais,
políticos, econômicos
e existenciais de modo geral...

***

O impasse entre o meu jeito de ser,
pensar e agir e, o jeito de ser,
pensar e agir de outras pessoas,
não nos coloca em situações constrangedoras
e de confronto o tempo todo.

***

O confronto real, eu diria,
ser proveniente dos meios atribuídos
ao sistema; à máquina.

***

Este sim, tem-me causado
certa ojeriza.
E, normalmente, uma idéia de resistência
inamovível da consciência
do que somos
ou poderíamos ser.

***

Ou fomos obrigados a aceitar.

***

Daí, incluso outros tantos conceitos e teses,
advém, eu diria,
esse meu incessante desejo de saber;
de buscar o caminho
e, sobretudo,
de me conduzir, afirmar,
ser, pensar, agir..

***

Ser o que sou, na simplicidade
de quem sabe aquilo que realmente é
e, o valor que possui,
exatamente pela valorização da própria
razão de ser.
Da personalidade.

***

Eu digo não àqueles
que vivem dizendo sim
ao espelho.
Não há nenhum indício de Narcisismo
naquilo que defendo.
Apenas a valorização justa do ser.

***

Bem, de qualquer forma,
enquanto há pensamentos,
sentimentos, sensibilidade,
nada mais natural
do que buscar elevar o ser.

***

Se se torna insensível,
rústico e, sem qualquer
anseio do encontro interior,
talvez seja então,
um caso para a mecânica
e a funilaria.

***

Estamos nos referindo
ao ser humano.
Não a máquinas.
Não a computadores ou andróides.
Algo capaz de pensar
sem nutrir qualquer forma de sentimento.
Ou algo capaz de sentir,
sem qualquer
condição de pensar.

***

O Ser.
Eis a que refiro-me.
O Eu.

***

Não o Eu egoísta
e prisioneiro de suas próprias
e tão somente necessidades
e desejos.

***

Mas o Eu coletivo.
O Eu Universal.
O Eu Imperecível.
Imortal.

***

A solidão e o silêncio
ensinaram-me a
observar as coisas todas
à minha volta.

***

Sobretudo a procurar
algumas vezes,
em meu próprio ser,
a razão de viver.

***

A dor é parte do que somos
assim como,
a ausência dessa mesma dor,
é parte do que buscamos.

***

Nós traçamos planos
e os executamos ou não.
E sonhamos; desejamos;
e lutamos por aquilo
sonhado e desejado.
Ou desistimos.

***

Viver é lutar ou desistir.

***

Lutar é buscar.
Desistir é fugir e deixar
com que morra toda a essência
do próprio ser.

***

A essência do ser
são lutas e buscas
incessantes.

***

E é, através dessas lutas;
através dessas buscas que,
aprendemos a nossa própria essência e,
despertamos em nós
o amor pela verdade e a justiça.

***

O amor pela verdade
e pela justiça,
são partes inerentes
daquilo que somos.

***

Por isso,
nenhum ser humano,
encontra a verdadeira paz
se encontra-se destituído
do amor pela verdade e pela justiça.

***

A paz para toda a humanidade
e seus mais diversos povos,
são sentimentos enlevados
daqueles que amam
a verdade e a justiça.

***

O planeta somente será preservado,
assim como a natureza,
a fauna, a flora,
e a própria espécie pensante,
se cada um de nós estiver voltado
para a luta e a busca incessantes
da verdade e da justiça.

***

O amor pelo próximo
não é caridade,
mas sim,
verdade e justiça.

***

Porque, quando despertamos
em nós mesmos,
a verdade e a justiça,
aprendemos a amar aos homens
e toda a criação.
E crescemos interiormente.
E nos tornamos fortes para a luta
e a busca.

***

Somente dessa forma,
nos tornamos dignos do respeito
e do “Sopro Eterno da Vida”.

***

Somente dessa forma,
aprendemos a despertar
cada pequena e poderosa
estrela existente em nosso
Universo Interior.

***

Como filhos, somos pais.
Como irmãos e amigos,
como amantes da paz
e do amor pela verdade
e pela justiça;
como eternos guerreiros dessa luta
e imbatíveis viajores dessa busca,
tornamo-nos responsáveis
por tudo à nossa volta,
e pela própria vida
sobre o planeta.

***

Somos o que fazemos de nós se,
realmente,
empreendemo-nos nessa missão.

***

Por isso,
nada pode nos desviar
de nossos caminhos.
Nem a dor, nem a solidão.
Nem o medo, nem a corrupção.
Nem a miséria material, nem a doença
ou, a mais extremada agonia.

***

Somente nós mesmos
podemos abandonar o caminho
e, covardemente,
nos entregarmos à sorte.

***

Não há sorte sem labor.
Não há vitória sem luta.
E não há honra, nem méritos
se, a luta não for verdadeira
e justa para que,
o objetivo almejado,
encontre-se a altura de nossos
desígnios.

***

Não se alcança a sabedoria
senão, através de sacrifícios.
Não se encontra a paz,
senão, através de muitas lutas.
Não se encontra a verdade,
senão através da razão.
E a razão tem que
ser usada com ponderação,
sabedoria e justiça.

***

Um homem somente torna-se
digno de sê-lo,
quando, humildemente,
desvencilha-se de toda
a ilusão e mediocridade;
egoísmo e prazeres;
intolerância e maldade;
ignorância e avareza que,
obscurecem o seu ser.

***

Dessa forma,
torna-se senhor de si
e de grandes virtudes.

***

Um homem somente
torna-se virtuoso
quando reconhece suas fraquezas
e imperfeições.
E, dessa forma,
contra elas,
trava a maior das suas batalhas.
De tal que, ele vence a si mesmo
ou, às condições em que jazia inutilmente,
para caminhar
pelo verdadeiro caminho
da virtude e da sabedoria.

***

A sabedoria, assim como a paciência,
é uma das maiores virtudes do ser humano.
Por isso, deve ser usada
tão somente pelas causas do Bem,
do engrandecimento
e esclarecimento do homem.

***

A sabedoria empregada com maldade
é um desvio da natureza do ser
concebido pelo amor.

***

A bondade e a boa-vontade
para com o próximo,
não são caridade.
São, indubitavelmente,
necessidades da natureza
do ser humano evoluído.

***

Não falamos em caridade
porque a natureza é perfeita e,
tudo o que é perfeito,
independe de caridade para
existir e ser respeitado
como algo criado
para ser respeitado
e compartilhado em
sua grandeza e beleza
por todos os seres viventes.

***

O esclarecimento e o amor
pelo ser humano,
superam a caridade viciosa
e improfícua em suas inúmeras
maneiras de ser praticada.

***

Quem sabe, uma côdea de esclarecimento,
seja mais profícua que uma côdea de pão seco?.

***

Se o esclarecimento supera a ignorância,
um ser humano esclarecido,
talvez encontre-se mais apto
a laborar por seu próprio sustento
do que,
um ignorante de estômago abarrotado
pela caridade.

***

Por isso, não falemos de caridade,
mas sim, de amor, verdade
e justiça.

***

A justiça não requer caridade.
nem o amor, nem a verdade.
Porque são, por si, princípios
harmoniosos e perfeitos.

***

Penso que somos
qual o trigo a ser
preparado para o pão.
A pedra bruta
a ser lapidada
para o colar de diamantes.

***

Por isso, se todas as coisas boas
são possíveis e dependem de nossa própria vontade,
esforço e dedicação,
creio que,
a nossa “lapidação” também seja possível
e carente de ser efetuada.

***

Não viemos à vida somente
para passarmos por ela.
Visto que, não se passa um único segundo
desta vida sem que se capte novos ensinamentos,
novas sensações e emoções.
Não estamos passando “em brancas nuvens”,
mas sim,
atuando sobre a natureza e,
sendo transformados à medida em atuamos.
Como que num eterno aprendizado.

***

Tudo o que vive e pensa
e age e sente, não o faz em vão.
Tudo em nós, ou à nossa volta,
ou ainda, no imensurável Universo,
tem uma razão de ser e existir.
Porquanto, uma razão temos nós em vivermos.
Em sermos seres pensantes,
agindo de conformidade com
nossos princípios, conhecimentos,
sentimentos e filosofia...

***

Talvez possamos parecer
demasiados rústicos,
violentos, egoístas, insensíveis
e propensos às fraquezas e erros.
Todavia, vencidos todos os obstáculos
que nos afastam de nossa real natureza,
não ser-nos-ia
mais gratificante ao fim da jornada,
a missão cumprida?.

***

Assim somos.
Assim é o Eu
em cada um de nós,
com a sua essência.

***

Quiçá, o tempo
e nossos anseios,
permitam-nos
o reencontro com o
Eu perdido.

***

Porque, ao longo da existência,
temos perdido
a própria personalidade
e a essência do que fôramos.

***

A enfadonha ladainha
do egoísmo bastardo
tem nos legado
o temor da entrega.

***

A entrega integra.
E, é através de tal ato
que nos encontramos.

***

Mesmo a solidão
é um entregar-se.

***

Em uma sociedade desumanizada,
caótica, cruel e injusta,
nos perdemos facilmente na desarmonia..
E deixamo-nos enclausurados no vazio
e na imbecilidade.

***

Tudo me parece fútil
quando destituído de razão.

***

O medo tem sido,
assim como a covardia,
nosso fardo cruel.

***

Porque aprendemos a temer a vida
e, covardemente,
nos escondemos de incontáveis lutas.

***

O desafio é parte
do processo que nos impulsiona
e nos lega forças para que
continuemos lutando
por nossos ideais.

***

De forma que, nosso tempo de vida
sobre a face da terra,
têm-nos sido
demasiado curto.

***

E insuficiente nossa
pobre capacidade
de compreensão.

***

A cada dia passado,
mais longa têm-se
tornado a jornada.

***

Contudo, embora a vida,
aparentemente seja toda de sofrimentos e desilusão,
por menor que seja o quinhão conquistado,
a vida toda terá valido a pena
ser vivida.

***

Não sinto-me triste
por ter que partir.
Mas sim,
por não ter feito muito mais.

***

Mais para que,
o caminho fosse tornado
menos obscuro.

***

E outros pudessem
encontrar seus próprios passos.

***

Não sei o que será
o depois.

***

Não importa....

***

Porque sei que o depois
é uma continuidade
do que não sei
encontra-se contido
no agora.

***

Isso talvez seja
muito pouco.
Ou quase nada.

***

Mas é o início
de tudo.
O princípio
da verdade.

***

A verdade, obrigatoriamente,
tem que ser encontrada
em nós mesmos.

***

Porque somos o princípio
e a própria verdade.

***

Somos o Eu
que não perece jamais
ante o tempo.

***

E somos para além
da vida
e da morte.

***

Que nos persigam
as dúvidas
e aqueles que não crêem.
Que nos fustiguem
o tempo e o medo.
Nada pode mudar
o curso dos acontecimentos
quando há necessidade
de que eles ocorram.

***

Não podemos negar
o ontem
ou o amanhã.

***

Por isso, há muito mais importância
naquilo que,
às vezes,
se nos parece absurdo,
do que a realidade cotidiana e enfadonha
que nos põe a alma cansada
e apática.

***

Temos que ser a chama e
a acha consumida
para que,
brotemos das cinzas
de todos os tempos.

***

Se por acaso
somos pequenos e frágeis,
é porque assim
temos que ser.
Até que cresçamos
e nos tornemos
grandes de fortes...

***

Esse é o processo natural
para todos e para tudo.

***

Assim, nos tornamos,
consequentemente,
o velho e o novo.

***

E mesmo nós que
nos conhecemos,
nos surpreendemos
ante tais fatos.

***

Estar-se morto ou vivo,
é, simplesmente, ser.
Ainda que possa soar
como que absurdo.

***

Ser e estar são processo naturais
tanto quanto viver e morrer.

***

Retirar o véu que
nos veda os olhos para o além-vida,
não é como solucionar
problemas matemáticos.

***

Mesmo porque,
sequer sabemos ao certo
o que é a vida
e o porque dela.

***

Se não conseguimos ainda
desvendar tais mistérios sobre a terra,
como desejamos conhecer
os mistérios da alma?.

***

Jamais haverá luz no fim do túnel,
senão,
em nós mesmos.

***

Por isso devemos,
primeiramente, descobrir
a nossa própria luz.

***

E, finalmente,
sejamos a luz e o próprio
túnel
com seu princípio e fim.

***

Sejamos o passo não dado
e o objetivo almejado.

***

Sejamos, acima de tudo,
aquilo que temos que ser.

***

Isso, talvez,
seja tudo.
Isso, talvez,
nada seja.

***

Feito a certeza
e a incerteza
do futuro.

***

Que o tempo passe
e floresçam as primaveras;
e brilhem os astros;
e sonhem os sonhadores;
e façam-se as trevas
e tornem-se em luz...

***

Que o homem seja
o caminho do homem.
E suas palavras
sejam suas palavras.
E suas decisões
sejam suas decisões.

***

Que o homem faça a si próprio
como quem planta e colhe
e alimenta-se
de seu próprio esforço.

***

Eu não desejo gritar
para ser ouvido.
Nem impor ao homem
o que ele próprio
deve descobrir.

***

Se cada ser é um
Universo diverso em si:
com sua própria luz e trevas,
assim devemos
confiar-lhe sua própria
capacidade de transformar
e, sobretudo,
transformar-se.

***

Tudo parece-nos ser
eternamente o mesmo,
numa repetitividade
doentia e enfadonha.

***

Mas o que poderíamos
afirmar convincentes
que, jamais se transforma?..

***

Em transe e em trânsito.
Como o planeta a girar.
Como um passo após outro.
Como uma estação sucede a outra.
Como um rio para o mar.
Como o vapor para o alto..

***

Tudo se repete aos nossos olhos fatigados.
Porque temos a alma e os sentidos
embotados de indiferença e ignorância.

***

O dia é claro e límpido
para aqueles que trazem em si
a idéia de um dia claro
e límpido.

***

Se se nos torna a vida,
uma tarefa insuportável,
é porque se nos torna insuportável
o pensamento sobre o viver.

***

De tal forma que,
nós fazemos com que a moléstia brote
em nosso próprio organismo.

***

A moléstia da descrença
naquilo que somos
e desconhecemos em nós.

***

Não há dor que perdure eternamente.
Nem há alegria que se nos torne
otimistas por tempo indeterminado.

***

Tudo tem início.
Porquanto finda.

***

Tudo é um ciclo.
E todo ciclo,
tende a ser causal.
Isso ocorre para que,
procuremos compreendê-lo
no intuito de que
possamos compreender a própria
existência do ser.

***

Tenho em meu ser
inata esperança de que
um dia,
eu possa chegar
a uma conclusão insofismável
sobre a existência.

***

A natureza do ser
em toda a sua complexidade.

***

A evolução e o destino.

***

A espiritualidade e seu potencial.

***

Mas, oh sonhador!..
Sequer consigo compreender
meu próprio ser!.

***

Há sobre nossa
capacidade de compreensão,
um véu de Eras.
Sombras da quimera.
Fósseis da ilusão.

***

Porque tudo o que buscamos
sempre o fazemos
por caminhos intrínsecos
e, os desvios,
nos tolhem a razão.

***

E nos perdemos.

***

Todavia, meus passos
conduzem-me.
O caminho é longo,
mas meu anseio, maior.

***

Minha vida foi e será
essa eterna busca.

***

Ainda que me faltem
recursos necessários
e o tempo seja um fator que,
delimita fronteiras,
hei de lutar contra o tempo
e a adversidade.

***

Porque sei que
em tudo isso;
nessa obstinada busca,
encontra-se a razão
do meu viver e ser.

***

Sobretudo do meu Eu.

***

De forma que, as horas lentas
arrastam-se na madrugada.
Porque sou o que sou
e nada há o que fazer.
Porque encontro-me contido
em cada partícula do que tenho que ser.
E todos os gestos, pensamentos,
palavras, sou.
Mesmo o silêncio e o vazio.
Tudo à minha volta, sou.
Concebo a idéia de meu próprio eu.
Por isso, sou um ato, uma concepção,
uma idéia.
Por isso sou as horas e a madrugada.
Tudo e nada.
Feito a própria ilusão.

***

Todos os dias são iguais
e tudo repete-se
para que eu possa
tornar a igualdade e a repetitividade
no inusitado,
no desconhecido..

***

Da razão, da loucura
e da justiça,
a própria essência
do ser eu..

***

Como que um ponto,
sou.
E, estou.

***

Como que a causa primeira
da existência do Ser
Eu.

***

Eu sou e estou engendrado.

***

Todo princípio,
toda causa,
todo ser,
todo eu.

***

A fumaça do cigarro,
o orvalho da madrugada,
o sorriso,
a vida e a morte...
Tudo engendra...

***

Não ter e sim,
Ser.

***

Feito o sopro.

***

Ser,
é tudo e tudo
está contido
na energia
Universal do Eu.

***

Por isso, o Eu,
é o próprio Universo
de todas as coisas.

***

Não há pobreza no Eu.
Há pobreza fora do Eu.
Na negação do Ser.

***

De forma que,
embora eu possa desconhecer
o princípio da natureza do ser,
o mesmo eu jamais poderia afirmar
quanto ao
Ser..

***

Pensar é ser.
Sentir é ser.
Ser é estar.

***

Sou quem escreve.
Acima de tudo
sou o que escrito.

***

Quanto tenho buscado
tanto tenho deixado.
Porque quando deixo
que as coisas ocorram naturalmente,
na realidade,
estou a inventar novos caminhos
que possam, porventura,
vir a conduzir-me na busca.

***

Se há tantos mundos
para além do qual vivemos,
porque não sabê-los realmente
existentes?.

***

O concreto, palpável,
que se prova como
quem toca uma laranja
ou uma parede,
a mim, parece-me pueril.

***

Porque hei de satisfazer-me
com palavras e teorias
que afirmam mas nada provam?.

***

Por isso, sou o que jamais descansa.
O que jamais diz sim por dizer.

***

Tudo me atrai
segundo sua natureza.

***

Nada me atrai
se tudo já sei.

***

O que posso dizer é,
já não me instiga.

***

Por isso abandono o que já foi realizado.

***

Primo pelo que não foi ainda.
Mas que, poderá vir a ser.

***

Talvez tudo não passe de mera ilusão..
Contudo, o que é ilusão,
senão um caminho
através do qual também aprendemos?.

***

Quanto a forma de ser
o que dizer
se a cada momento
nosso estado de espírito
nos faz parecer
ora uma pessoa,
ora outra?..

***

Mais ou menos como que a influência
do temperamento pessoal de cada ser.

***

O que há para além de nós mesmos que,
seja mais importante
do que a descoberta
de nosso próprio Eu?.

***

Não podemos chegar a lugar algum
sem que antes, cheguemos a nós.

***

Não possuo a medida exata
ou a fórmula de como ser.
Simplesmente Sou.

***

Como o sonhador que possui sim,
a convicção de que seu sonho
não é em vão.

***

Tudo passa com o tempo
e nada do que fora,
volta a ser exatamente..

***

Nada recua no tempo
pois que, a natureza do ser,
é a própria evolução.

***

Todas as manhãs,
por mais idênticas que possam parecer
aos nossos olhos,
diferem entre si.

***

Assim como o Ser,
a cada nova manhã,
faz-se em “outro”.

***

Hei que divagar
— em meus escritos —,
a questionar a vida
que nos envolve.

***

Mesmo porque,
a vida,
é o próprio alimento do ser.

***

A vida e seus ensinamentos,
tornam-se parte da essência do ser.

***

Assim como ser é vida.

***

Porque haveria eu
de escrever ou respirar
ao longo de todos esses anos,
não houvesse um objetivo?.

***

Da consciência de ser.
Jamais da obrigação.

***

Defendo o direito de liberdade e,
respondo por cada ato conseqüente
dessa mesma liberdade.

***

Vivo a valsar no palco da existência
tendo por companhia,
meus próprios fantasmas.

***

Certa feita, cansado de tudo à minha volta,
desejei ser a nulidade
em minha própria existência.
Contudo, o próprio ar que eu respirava,
negava-me tal intento.

***

Então pensei que pudesse
— sobre o planeta —,
existir alguém que
compreendesse o meu jeito de ser e viver.

***

Entretanto os sonhos
— às vezes —,
são meros sonhos.

***

Por isso também,
eu jamais afirmei convictamente,
compreender alguém.

***

Talvez possa parecer precipitado
afirmar que,
não haverá compreensão
— jamais —,
entre os homens.

***

Todavia, confirmo:
— precipitadamente —,
jamais haverá.

***

E corro para minha gaveta
particular de sonhos e fantasias.

***

Eu vivo eu.
Eu sou Ego.
Eu sou egoisticamente.
Todo o manancial de sonhos
trancafiado na velha gaveta.

***

Não há acesso,
caminhos
ou chaves
para a gaveta de meus sonhos.

***

Somente Eu
sendo o que sou
porque sou
possuo a chave
e o segredo
de cada sonho.

***

Por isso, morri ontem
para viver o hoje.

***

Por isso sei exatamente
Da Vida e da Morte do Ser (*)

***

E digo a todos:
— Estou vivo!.

***

E calo-me e nada digo
se nada há porque ser dito.

***

E porque sei que a verdade
é mentira
e a mentira é verdade,
digo sim ao silêncio.
E grito não
a toda e qualquer forma
de explicação.

***

Nada há objetivo em
se escrever ou respirar.
Eu contradigo
o dito anteriormente.

***

Porque hei de concordar eternamente
com tudo aquilo que acabei
de afirmar há pouco?.

***

Então não sou o que sou.

***

Nunca estou no que está.

***

O Eu não é.

***

Não tenho obrigatoriamente,
que ser.

***

Assim como há mediocridade
em tudo ser ou nada..

***

Porque confundir o explicado
ou explicar o confundido?

***

Estou morto mas vivo.
Vivo mas encontro-me morto.

***

Eis toda a filosofia
da anti-filosofia.

***

Porque engendrar filosofia
na filosofia?.

***

O vazio no vazio?.

***

O nada no nada?.

***

Porque tomar um ponto
de referência inicial
numa linha evolutiva de pensamento
se ao fim da linha
há um ponto de referência inicial...

***

Pobre de nós, os cativos!.

***

Escravos do medo e da vergonha.

***

Escravos do ciúme e dos desejos.

***

Escravos dos costumes e do tempo.

***

Pobre de nós, escravos!.

***

Pobre de nós que somente
caminhamos por um único caminho
e que nenhum atalho
nos atrai!..

***

Pobre de nós, escravos da ignorância!.

***

Covardes, frágeis e indecisos!.

***

Pobre de nós que seguimos à risca
o que mestres deste tempo nos impõe!.

***

Pobre de nós que desconhecemos
o outro lado da vida.

***

Nós que nos orgulhamos
de nossa conduta impecável.

***

Nós que ostentamos, orgulhosos,
uma imagem imaculada.

***

Pobre de nós, agrilhoados
ao desejo de posse!.

***

Queremos o poder!.

***

Queremos,
estamos famintos de tudo!.

***

Não importa o preço!.

***

Às favas tudo em nós
que nos aprisione!.

***

Fora, fora tudo!.

***

Fora qualquer coisa
que não seja desejo.

***

Sede, fome, ânsia!.

***

Tudo é tudo aqui e agora!
Então dane-se o resto!.

***

Pobre de nós os sóbrios.

***

Pobre de nós os excessivamente
justos e corretos!.

***

Nós os eretos na empáfia
do caminhar eretos.

***

Nós, os que seguimos etiquetas
e jamais vilipendiamos porque
não é justo.

***

E, arrancamos a trave de nossos olhos pecadores.

***

E cortamos a mão direita
para que ela não saiba
o que de errado realizou a esquerda.

***

E cortamos a língua
para que não sejam as palavras,
o caminho para a perdição eterna.

***

Pobre de nós que,
sequer movemos um grão de mostarda,
quando teríamos
que mover montanhas!.

***

Pobre de nós,
enclausurados nas vísceras dos répteis.

***

Nós que nos orgulhamos
de nossos atos e palavras
para que não esqueçamos
que ainda somos
humanos!.

***

Ah, nós!,
rebanho desgarrado
dos poucos que ainda
não se perderam
e, jamais renegaram a própria mãe.
Ainda que ela fosse
a dócil prostituta.

***

Pobre de nós, verdugos de nós mesmos
e, sobretudo, de um Deus esculpido em madeira
rústica e,
roída pelas traças do tempo!.

***

Eu estou aqui!, eu disse.
Eu jamais estive aqui!, eu digo.

***

Estou esperando as brasas
apagarem-se por si próprias.

***

Estou esperando o vento
soprar as cinzas.

***

Eu estive sempre, sempre
esperando.

***

E sequer descobri
porque tanta insistência.

***

Então eu disse:
pobre de mim que ainda
teimo em esperar.

***

Pobre de mim a observar
meus semelhantes
na longa espera.

***

Pobre de mim
que sempre fui
para onde qualquer um de nós pode ir.

***

Pobre de mim que jamais
consegui sair do mesmo lugar!.

***

Contudo, ainda estou esperando.

***

E consultei as Escrituras Sagradas e Profanas;
e corri para o espelho
e sequer reconheci
meu próprio rosto.

***

E fiz das noites vividas
as mais longas
que alguém jamais viveu.

***

E derramei lágrimas
pelas pedras do caminho.

***

E sussurrei versos às paredes
para não despertar
os loucos e os deuses.

***

E embriaguei-me
para bradar ao espelho:
— Vê? Não somos nada!
Ou melhor, somos tão pouco que,
sequer valemos o nada!.

***

E perdi sempre!
E apanhei sempre!
E fui reles.
E fui vil.
E arrastei-me na lama.

***

Porque era natural
que eu escarafunchasse
os dejetos dos porcos!.

***

Sim, ainda estou aqui.
Desenvolvi essa louca
capacidade de esperar.

***

Essa paciência imensurável.

***

Ainda que jamais soubesse
o que esperava.

***

Justiça, bondade, igualdade de direitos,
liberdade?
O que são todas essas coisas?!

***

Sobretudo, porque esperar
por coisas assim que,
sequer sei se existem?

***

E se existem, para que
servirão quando eu as vir?.

***

Eu, eu, eu!
Dentro, fora!
Todo o Ser
e jamais ser.
Nada de nada!
Ou tudo é o mesmo não!.

***

Tenho visto pássaros;
tenho visto flores;
(os lírios que sempre
vestiram-se de forma mais bela
que o próprio rei Salomão);
as estrelas, os riachos;
os miseráveis; os corruptos...
A tudo tenho visto
e procurado sob o sol
e o céu..

***

E li que sob o sol
nada havia que esperar
de novo.

***

Continuo esperando.
Vou continuar.
Teimosamente.

***

E mesmo na hora
da partida definitiva,
estarei esperando.

***

Porque Ser o que se É,
não passa de loucura!.

***

Dessa forma,
fez-se o caos e as trevas.

***

Porque cada um fala
a sua própria linguagem.

***

Cada um escolhe o seu próprio caminho.

***

Cada um bebe da fonte
que lhe aprouver saciar sua sede.

***

E tantas fontes há!

***

Por isso, a cada nova sede,
fui beber em fontes diferentes.

***

Fui confuso, bem sei!.

***

Mas o que é a confusão
para a eterna espera
do não saber o quê?!.

***

Tanto que ontem,
enquanto olhava para os dedos dos pés,
enlouqueci de vez.

***

E não foi tão ruim.

***

Dialogamos demoradamente.
Eu e os dedos de meus pés.

***

Mas não sei porque “meus”..

***

Porque “meus pés”;
“meus dedos”;
“meu filho”
“minha vida”...

***

Não chegamos a conclusão alguma.

***

E os dedos nas pontas dos pés
adormeceram em paz, creio.

***

Então eu disse à loucura
que viesse e fosse naturalmente
o que tinha que ser.

***

Mesmo porque,
acho que a própria loucura
tem que ser o que é.

***

Não o que fazemos ou,
desejamos fazer
com o que ela seja.

***

Ela riu e mostrou-me
em seu vídeo,
as várias formas e facetas
que lhes eram atribuídas pelos humanos.

***

Evidentemente, foi-me impossível
não gargalhar
até às lágrimas!.

***

Guerras, suicídios,
chacinas, mendicagem?...

***

Droga!, eu disse.

***

Então, ela parou pasmada.

***

É isso:
não estou preocupado com você.
Não vejo, sinceramente,
nada de excepcional em ser louco.

***

Então por Ser o ser que Sou,
veio-me um sentimento estúpido
de culpa e tristeza porque,
pobre loucura,
não pôde compreender
aquilo tudo que eu lhe dissera.

***

De forma que passei o resto da noite
feito Quixote,
batendo-me contra os moinhos
da tristeza e do sentimento de culpa.

***

O travesseiro insinuosamente
sugeriu-me um sonho.
Um sonho indesejável..

***

Porque sempre houve uma certa discrepância
entre a razão e o instinto.

***

Voltei a divagar e a vegetar.
Chega um momento em que a gente
já não consegue sentir mais nada.

***

Resta um vazio
deslizando sobre as águas serenas
de outro lago vazio.

***

Procurei-me.
Onde havia parado?
Onde encontrava-me?
O que fazia?
Por quê?...

***

Há muita seriedade!
Demasiada.

***

De tal forma que, desisti.

***

Da mesma forma que desisti
de esperar por algo que eu jamais soube.

***

Eu disse: o Ser é o Ser.
E o Eu é o Eu.
E ambos, talvez...

***

No mais, senti-me exaurido.

***

Olhei para o dia vindo
e esbocei um sorriso.

***

E, antes de deitar-me, concluí:
— Deus não é o que pensam.
Deus, o que é?..

***

Não somos Deus.

***

Nada!
Absolutamente nada desejo ser!.

***

Nada além dessa ilusão
de ter sido o que fui.

***

Mesmo porque,
ter sido o que fui,
não foi uma tarefa
tão fácil quanto
o Eu estar sentado ao lado do Pai.

***

De qualquer forma valeu a pena.
Tudo sempre vale a pena.

***

Amanheceu mais uma manhã
e continuo exatamente o mesmo:
Eu!.

***

E olho para as pessoas
que carregam seus fardos.

***

E olho para os povos
que carregam nações.

***

E olho para tudo
e não posso crer
que eu já consiga
ver alguma coisa.

***

Amanheci pensando
em como é ser Deus...

***

E percebi que alguns homens
pensam que são.

***

E eu disse que eu não.

***

De forma alguma!.

***

E eu mirava o espelho
e via o Universo.

***

E meus pulmões ardiam
por causa da fumaça dos cigarros.

***

Então eu disse: frágil!...
Sou frágil demais!.

***

E algumas pessoas disseram-me:
— Seja Deus!.

***

Eu disse: não!.

***

Então disseram-me:
— Seja um pássaro!.
— Um dromedário, talvez?.

***

Mais uma vez eu disse
não.

***

Porque eu não posso ser
o que não sou.

***

E nem o que querem
que eu seja.

***

E olhei para um monte de pedras
e concluí: “Quanta pretensão!”.

***

E tentei olhar para onde pudesse ver Deus.
Contudo, nada vi.

***

E fez-se um vazio
em meu ser.

***

E pensei no vazio que há
em ser.

***

Porque o Ser, às vezes,
é somente um vazio.

***

E pensei em tudo o que
eu já havia dito até então.

***

E parei de dizer coisas.

***

E permaneci quieto,
calado, estático.

***

E o tempo passou.

***

E a vida,
sendo extinta.

***

Em noites e dias idos.

***

E concluí que eu,
eu havia errado.

***

Por isso eu confirmei:
“Deus, não!”.

***

Porque eu sou somente
mais um entre bilhões.

***

E eu disse
àqueles que ouviam-me:
— Eu sou eu.
E isto, basta!.

***

E tranquei a porta.

***

E cerrei janelas.

***

E fiei preces.

***

E pus entranhas fora, tudo o que
achava que sabia.

***

Porque era necessário
que eu me limpasse.

***

E passei um século
flutuando pelo espaço.

***

E passei um século
trancafiado num porão.

***

E quando voltei para
o mundo e a vida,
tudo permanecia o mesmo.

***

Então lavei minhas mãos.
Então lavei minha boca.
E nunca mais ousei dizer coisas.

***

Desde então,
nada disso importa.

***

Desde então,
nunca mais pude conviver
com as pessoas, em paz.

***

Sobretudo porque,
nunca nos entendemos.

***

E eu nunca fui Deus.

***

Alguns, pensam que são.

***

Eu, não. Eu nunca!...

***

Eu apenas esperei.
Todo o tempo.

***

Feito um maluco
sentado ao pé da montanha...

***

Contemplando as nuvens
quando claro.

***

Contemplando os astros
quando noite.

***

E perguntei ao vento
de onde vinha.

***

E ele respondeu-me
que há um tempo para tudo.

***

Que cada coisa
deve ser descoberta
a seu tempo.

***

E passava a fome..

***

E ela disse-me que,
não era necessário
que eu a percebesse.

***

E partiu.

***

E veio a solidão.

***

Então, abri a porta e disse-lhe:
— Sê bem-vinda!.

***

E ela instalou-se.

***

E vieram o medo
e a dor.

***

E eu disse: passem..

***

E os lírios floriam.

***

E vieram as sombras.

***

E deixei que permanecessem
até aprender-lhes
os segredos.

***

E veio-me a morte.
E eu disse-lhe:
— Entra se é chegada a hora.

***

E ela permaneceu
rondando,
a espreitar-me.

***

E os anos foram passando.

***

E outras crianças brotaram
das entranhas do ser.

***

Feito palavras dos lábios
e o trigo nos campos.

***

E anjos bradaram as Leis.

***

E eu não queria mais
saber delas.

***

Havia injustiça na justiça.

***

Por isso, cerrei os olhos
Para consultar o silêncio.

***

E o silêncio disse-me:
Faz o que quiseres.

***

Eu respondi:
— Seja feita a minha loucura!.

***

E tornei-me indiferente.

***

E disseram-me:
— Seja mau...

***

E eu respondi:
— A natureza incumbe-se
daquilo que lhe foi designado.

***

E disseram-me:
— Rouba e mata.

***

E respondi:
— Porquê hei de matar o que
não dei à luz?.
Ou tirar de outro
o que lhe é de direito?.

***

E não ouvi os homens.
Porque o que diziam
era azedume.

***

E não ouvi a consciência.
Porque ela, há muito,
adormecera o sono dos justos.

***

E eu não fui Deus!
Jamais serei.

***

E havia deuses
em número demasiado extenso
na lista dos vivos e dos mortos.

***

E cada um pregava
sua própria doutrina
em seu próprio idioma.

***

E cada um possuía
o seu rebanho
e seu reino
e seu quinhão.

***

Então eu disse
a todos:
— Eu nada possuo.
Portanto,
deixem-me em paz.

***

E o vento varreu
minhas palavras
pelos quatro cantos.

***

Exausto, adormeci
feito um lavrador
após a sua tarefa diária...

***

E continuei em meu caminho.

***

Andava eu pelos caminhos
a divagar
e a contar pedras.

***

Um homem riu e disse:
— O mundo está abarrotado
de malucos!.

***

Passei a contar malucos
e a divagar pelos caminhos.

***

Então pensei:
Se sou maluco,
porquê hei de contá-los?.
Todos, afinal,
são eu!.

***

Olhei para meus pés
e percebi que eram idênticos.
Embora, pudessem não sê-lo..

***

E permaneci observando
as pessoas rumo ao trabalho.

***

E pensei em não ter que
fazer o mesmo.

***

Porque a maioria delas,
era triste e aborrecida.

***

Mas um pássaro, uma formiga,
não são tristes
quando trabalham livres.

***

E passei a sonhar
com a liberdade.

***

Porque não se é
quando não nos deixam.

***

E não se é feliz
quando se sabe que
não há liberdade
para ser o que se deseja

***

E pensei em ser uma nuvem.

***

Mas eu estou em mim.

***

Na carne e no tempo.
Sob o jugo social.

***

E parti para o vale.
E passei a sondar as nuvens.

***

E ouvi o troar delas.

***

Ouvi o assobio do vento.

***

O rumor da chuva.

***

E concluí: não sei.

***

Porque tudo o que sei
é que eu nunca soube
coisa alguma sobre
o mundo e os seres
e os elementos.

***

E mais uma vez,
quedei-me exaurido.

***

E desci para os guetos.

***

Ali havia miséria e dores.

***

Sujeira, farrapos, lixo
e homens e crianças.

***

E eu disse a mim mesmo
que o que eu sentia,
não era piedade.

***

Talvez, inveja...

***

Porque toda a felicidade
do mundo,
não valeria um único sorriso
que dali brotasse.

***

E em meio à violência,
havia solidariedade entre os farrapos humanos.

***

E numa lata de lixo,
havia mais ouro do que nos mais
abarrotados cofres.

***

E senti vergonha dos homens que guardam
somente para si e para os seus.

***

Dos que, quando sorriem,
mostram tudo o que possuem
no ouro incrustado nos dentes.

***

Dos que caminham eretos
porque outros carregam
seus fardos.

***

E deitei-me em meio
aos bêbados, drogados,
prostitutas, vadios...
E adormeci em paz.

***

Eles não roubam
a quem não os rouba.
Nem ferem àqueles que
não os ferem.

***

E, primitivamente,
sorrimos.
Porque não conhecíamos
as maravilhas do mundo moderno.

***

E os cães vadios
eram nossos iguais.

***

E dividíamos nossos lixos e farrapos.

***

E proferíamos palavrões
sem medo e vergonha.

***

Porque éramos naturais.

***

Como ser o que se é.

***

Ali vivi longos anos
sendo somente algo simples.

***

E não havia vergonha
em nada possuir.

***

Nem em ter que fuçar
o lixo a discorrer sobre dignidade.

***

Mas um dia, parti porque,
minha alma
ainda ansiava pelo saber.

***

E aprendi a arte dos loucos.

***

Porque a loucura
também parecia-me uma forma
de sabedoria.

***

E vaguei pelas estradas,
montes e vales.

***

E tudo é o mesmo para
os que estão vazios por dentro.

***

Mas se pode encontrar
coisas novas no velho.

***

Então, marquei encontro
com a velhice.

***

E dela, aprendi a arte
da paciência.

***

E pensei na vida do mundo contemporâneo.

***

E no desvario
dos homens de negócios.

***

E pensei na fortuna
e no acaso.

***

E preferi a solidão
dos que ousam buscar.

***

Mas eu jamais pude
quedar-me em paz,
feito um velho vagabundo.

***

Havia questões demais
a serem resolvidas.
E muitas estradas
a serem percorridas.

***

E meu coração
continua rolando
pelas estradas ainda hoje.

***

E o amanhã
será para sempre.

***

Mesmo que a vida
e as pessoas digam não,
eu direi sim.

***

E o orvalho das manhãs,
tornará verde
minhas esperanças.

***

E o sol aquecerá
o meu corpo e o meu coração.

***

Porque não vim para aceitar, simplesmente.

***

Vim para saber
e buscar e saciar
a sede e dizer:
— Agora sei!.

***

E meus pés continuarão
a pisar as pedras.

***

E meus olhos continuarão
a sondar as estrelas.

***

E meus lábios, certamente,
permanecerão selados.

***

Porque cada qual
faz o seu próprio caminho.

***

E dele aprendi a arte
de morrer e viver
a cada dia...

***

A arte de conviver
com os vivos e os mortos.

***

A arte de conviver
com os párias e os loucos.

***

E fiz-me esquecer
dos que se fazem
de reis ou deuses.

***

E renasci a cada
passo pelo caminho.

***

Por isso, digo não importa.

***

Mesmo quando a tristeza
vem arrancar-me das mãos,
os horizontes conquistados.

***

E penso que cheguei
ao fim do caminho.

***

Mas o caminho não finda jamais.

***

E se o desânimo
abate-me como que
a roubar-me o ontem
e a linha do infinito,
sento-me à porta da casa
e brinco com as pedras e ervas.(**)

***

E penso nas crianças
que ainda estão sorrindo.

***

Então sorrio por dentro.

***

E digo, amanhã —
o mesmo amanhã que desconheço —,
o sol voltará a brilhar.

***

E mãos descerram
as cortinas dos céus
para que o sol,
volte a brilhar.

***

E a luz volta a derramar-se
sobre meus ombros.

***

E torno a caminhar.

***

Por isso, também,
deitei-me à sombra
dos outeiros a relembrar-me da infância.

***

Porque nela havia o sorriso.

***

Mas era destino
o menino tornar-se adulto.

***

E caminhar ombro-a-ombro
com os falsos profetas
dos tempos modernos.

***

E em cada homem
sempre houve um Messias
oferecendo o Éden ao próximo.

***

E passei ao largo,
ignorando suas promessas.

***

Porque não se promete
a paz ou a felicidade.

***

Senão, os caminhos
não existiriam
para que os escolhêssemos.

***

Então, minha alma disse-me fatigada:
— Não é mais cômodo
seguir pelo caminho
mais curto?.

***

Eu respondi-lhe: sim.

***

E ela compreendeu
e respondeu-me:
— Está bem, prossigamos então.

***

De forma que o caminho,
fez-se ainda mais longo.

***

E, ao invés de lírios e gramíneas,
um tapete de pedras e espinhos
feriam os pés.

***

Então perguntei:
— Senhor, é este o caminho?.

***

E Ele perguntou-me:
— Filho, é essa a tua vontade?.

***

Então pensei:
“Seja feita a minha loucura”.

***

E os pés ardiam-me.

***

E os pés sangravam-me.

***

E de meus olhos marejados
e fixos no sempre,
brotou a fonte.

***

E nela, lavei as feridas
e as sujeiras de minhas mãos.

***

Para que minha alma
jamais tornasse a vedar
seus olhos.

***

E vi o fogo e as luzes.

***

O frio e as guerras.

***

O sangue e os corpos.

***

E pensei que todos os dias
eram propícios para
se morrer.

***

E que todo o pão
sacia a fome do corpo.

***

E que a água sacia a sede.

***

E eu disse à chuva
que rolava pelas montanhas
e cobria as plantas
que brotavam no vale:
— Louvada a compreensão
sobre a natureza
dos fenômenos.

***

E as águas inundaram
o vale e mataram
a plantação.

***

Então, eu soube que,
não era boa aquela plantação.

***

E que, talvez,
alguns bons homens a houvesse
semeado, cultivado.
Mas que, alguns homens
sem escrúpulos,
somente eles,
iriam desfrutar da colheita.

***

Então pensei que
a natureza era mais sábia
que alguns homens tolos
que trazem na alma
a maldade.

***

E que um dia,
teriam que restituir em dobro
o que roubaram daqueles
que trabalhavam a terra.

***

E segui meu caminho.

***

E senti saudade
e falta de atenção.

***

Então, passei a dormir junto
aos carneiros
e a conversar com eles.

***

E lhes contava coisas
e eles aqueciam-me nas noites de inverno.

***

E um maluco passava e disse-me:
— Sei que é o seu último cigarro,
porquanto, divide-o comigo.

***

E dei-lhe o último de meus cigarros
guardando somente a frase.

***

E aprendi que era melhor
pedir do que roubar
uma vida por tão pouco.

***

E pensei em que havia
muitos que o faziam.

***

Quando senti fome,
pedi ao taberneiro:
— Dá-me uma côdea de pão.
Pagar-lhe-ei com um dia de trabalho.

***

E aprendi que
era melhor pagar por aquilo
de que necessitávamos
ao invés de pedirmos
e ficarmos em dívida.

***

Porque uma dívida
remonta à outra.

***

E junto ao mosteiro,
deram-me água e pão.
E aprendi que agradecer
era uma forma de oração.

***

Por isso, tomei da flauta
e fiz uma canção.

***

E eles tomaram vinho
e dançaram.

***

E sorriam e louvavam
a música.

***

Então parti e pensei
que a música
era como que uma prece.

***

E voltei para as cidades
com suas turbulências.

***

E vi assaltos, desentendimentos,
explorações e azedume
entre irmãos.

***

E vi corpos estirados
nas sarjetas e filas de famintos e crianças
abandonadas...
E vi homens que julgavam-se reis.

***

Continuei meu caminho
e pensei em quanto
era estranho e complexo
o ser humano.

***

E deitei-me nas trincheiras,
junto aos soldados.

***

E percebi que a coragem
era o outro lado do medo.

***

E que era necessário se ter medo
para aprender a coragem.

***

E parei sob palanques
e ouvi homens discorrendo
sobre Justiça, Direitos
e Bondade.

***

E vi tantos olhares
e ombros abarrotados
pela humilhação.

***

E desejei não ter jamais,
conhecido os homens.

***

Mas eles eram parte do caminho
a ser trilhado.

***

E fui para um canto
derramar meu desespero.

***

E corri para as sombras
com a finalidade de esconder-me
para que não visse
e nem sentisse.

***

Mas a dor, quando latente,
deixa para sempre
suas marcas.

***

Então peguei-me frágil,
a chorar feito criança.

***

E deixei-me perdido
a vagas por lugares sombrios.

***

E em cada canto,
havia uma dor diversa.

***

Embora diversas,
eram dores.

***

E voltei a enfastiar-me da vida,
dos homens e deste mundo.

***

E pensei,
porquê não colocar termo em tudo?

***

E cortei os pulsos
e embriaguei-me
e cai doente.

***

Contudo, meu coração,
continuava a pulsar.

***

Se eu houvesse morrido,
o mundo continuaria o mesmo.

***

Então ergui-me e voltei
a caminhar.

***

Meu coração havia dilatado-se
e passara a pesar-me no peito confrangido.

***

Porque a natureza,
em sua perfeição,
não erra jamais.
À despeito de nossos julgamentos.

***

Então errabundo,
tornei a perambular pelos caminhos à esmo.

***

E saciei a fome da carne.

***

E mergulhei no poço
profundos dos prazeres.

***

E saciei o animal
que manifestara-se em meu ser.

***

E gozei dos prazeres da carne.

***

E concluí: é bom.

***

Por isso, por ser bom,
permaneci por longo tempo
embriagando-me dos prazeres mundano.

***

Mas neles também havia
doenças, miséria e dores.

***

Então, ergui-me da sarjeta
e sem palavras, parti.

***

Passei a perguntar
às estrelas e ao silêncio,
se aquilo era todo
o amor possível.

***

E um dia, estava eu
introspecto a coçar-me as chagas
da mente,
e pelo caminho,
uma camponesa,
tangia carneiros
a cantarolar.

***

Pensei: é somente uma camponesa
frágil, a tanger o seu parco
rebanho de sonhos.

***

E, mesmo sem desejar,
passei a ler seus pensamentos.

***

Eram tristes e alegres.

***

Humildes e simples.

***

De uma simplicidade
comovente.

***

E meu coração apequenou-se.

***

E meu coração disse:
— Há mais formas de se amar
do que
de odiar.

***

Porque o ódio
é de natureza rude e
petrifica o coração.

***

Quanto ao amor,
ama-se até mesmo
sem o saber.

***

E meu sentimento de amor,
foi pela colina,
seguindo os passos da campesina.

***

Embora eu jamais viesse a ser
“o grande amor de seus sonhos”...

***

Então eu disse a um melro:
— Meu coração
anda a vagar por aí,
doente de amor.

***

E ele cantou em resposta que,
o dele, há muito,
muito tempo,
havia espalhado-se pelo Universo.

***

E, sem entendê-lo,
permaneci calado.

***

Então, ele disse-me:
— Às vezes, algo nos parece
ser uma coisa.
Então, passamos a acreditar
naquilo que nos parece ser.

***

Lembrei-me dos tempos modernos
em que tudo são aparências...

***

— Ilusão!...
Ele disse-me.

***

E meu coração
tornou para casa, sangrando.

***

Contudo, jamais pude esquecer
a pequena campesina
a sonhar com um príncipe.

***

E quando a primeira estrela cadente
cruzou o manto negro dos céus,
eu pedi-lhe:
— Dê-lhe um bom companheiro que,
aos seus olhos e coração,
seja maior que um príncipe.

***

Ainda assim,
jamais pude compreender ao certo,
o amor entre os meus iguais.

***

E pensei em que,
talvez o amor fosse um jeito de orar.

***

Ou de plantar e colher-se.

***

Ou de dizer palavras
e aprender a ouvi-las...

***

Talvez o amor,
seja conformar-se com a vida?...

***

Ou cumprir a sina?.

***

Seguir o caminho?..

***

Ouvir os pássaros?...

***

Estar às voltas com o jantar
do companheiro e da prole.

***

Ou respirar, possa ser
uma forma de amar.

***

Então eu disse:
— O amor é um jeito
de ser e sentir.

***

E concluí:
— Eu amo,
embora,
não saiba como
e porque.

***

E choveu naquele dia
e durante toda a noite,
choveu.

***

E as águas rolavam
dos montes e transbordavam
os rios e açudes.

***

E o vento girava
os moinhos.

***

E pensei na vida.

***

E pensei no tempo de vida
que ainda teria
e no caminho
ainda por ser trilhado.

***

E eu disse a mim mesmo:
— Eu!...

***

E senti que eu poderia
chegar, algum dia,
a ser Eu.
Simplesmente, “Eu”.

***

E volvi meu olhar
para os céus, prados,
montes, vales, campinas e,
percebi que a longa estrada
ainda era a mesma.

***

E pensei:
e me deste a solidão e o silêncio
das madrugadas
por companhia!.

***

Sim, fora dessa forma que,
tudo tivera início.

***

E que nada havia
senão, a certeza
de que não existe o fim.

***

Que não há fim para aquele que busca.

***

Nem para quem se deixa vencido.

***

E mesmo exaurido e enfastiado,
continuo a vagar pelos caminhos
traçados pelos astros,
pelo silêncio e pela solidão.

***

De forma que, jamais,
pude parar e dizer:
— Aqui estou.
Cheguei ao final da longa jornada.

***

E, a cada dia vivido,
veio-me a certeza
de que o caminho
tornava-se cada vez
mais longo.

***

E tornei a indagar-me:
— O que procuro?
O que busco?..

***

E, sem resposta,
meus passos continuaram
encetando a caminhada.

***

Um após outro.

***

Como que a ilusão
da campesina.

***

O sonho do poeta.

***

O cântico do passaredo.

***

O rio correndo para o mar.

***

O Eu em busca da essência!.

***

Do Eu professo: inalcançável.

***

Do Eu dito: inatingível!

***

Mas, se o caminho
é sem volta,
porquê parar?.
Ou esperar pelo dia
de amanhã?.

***

E deixei que
meus passos conduzissem o meu corpo.

***

E com meu corpo,
meus pensamentos,
sentimentos e dúvidas.

***

E deixei que meus passos
seguissem livremente pelo caminho.

***

E percebi que o pó das estradas,
aninhava-se
em minhas roupas puídas.

***

E que o tempo e os anos,
aninhavam-se em meu ser.

***

E embranqueciam meus cabelos.

***

E traziam-me a fadiga.

***

E punha-me a respirar
com dificuldade.

***

Os anos passavam.

***

E eu sempre acreditei
que havia (ou há), algo
a ser encontrado.

***

E delirava em meus sonhos,
tendo ao pé do leito de enfermaria,
um anjo a sorrir-me francamente,
como quem dissesse:
— Levanta-te e cumpre teus desígnios.

***

E saí dali novamente
para as estradas.

***

Mas meu coração
e minha mente,
estavam confusos.

***

Porque, aos poucos,
pensei que estivesse
cada vez mais distante de tudo.

***

E assim, comecei a perder
o interesse e a deixar
que meu objetivo fosse
tornando-se em névoa de esquecimento
na memória.

***

E passei a divagar
e a brincar com as pedras
do caminho.

***

E dizia a mim mesmo:
— Ora, o que procuro,
talvez sejam pedras
com as quais brincar.

***

E passava horas
a ouvir o murmurinho da fonte.

***

E tornei às colinas
para conhecer os povos primitivos.

***

Mas não havia grande diferença
a separá-los dos povos contemporâneos.

***

E desci para as selvas.

***

E perdi-me pelos mares.

***

E atravessei o planeta.

***

E dormi ao relento.

***

E percebi que a idade
caminhava ao meu lado.

***

E, às vezes,
sobre meus ombros.

***

E fui para as feiras
palrar com negociantes e vendilhões.

***

E conheci-lhes a astúcia
e artimanhas.

***

E fugi de suas garras.

***

E corri para o trânsito.
O sinal fechado
para os que são frágeis.

***

E operários erguiam
construções assobiando.

***

E o pão era escasso.

***

Então percorri os templos.

***

E conheci a hipocrisia.

***

E reli as Escrituras
procurando o caminho.

***

E percebi que meu coração
fizera-se confrangido
e eu perdia a serenidade.

***

E que fora todo o tempo
somente um ser obscuro
a vagar pelo mundo.

***

E caminhei entre as víboras.

***

E conheci o íntimo
de algumas pessoas.

***

De outras, apenas o exterior.

***

E vi pessoas e animais.
E aprendi tanto com um
quanto com outro.

***

Mas nem um e nem outro
puderam mostrar-me o caminho.

***

Então, aborrecido,
tranquei-me nas cavernas da solidão
e do esquecimento.

***

E era como se eu
jamais houvesse
existido sobre o planeta.

***

E eu disse: é bom!.

***

Porque eu me cansara de tudo.

***

E meditei sobre
as condições de vida
dos seres.

***

E sobre o isolamento.

***

E eu disse: nem tudo
é bom ou está de acordo
com a natureza.

***

E nas cavernas
havia sombras, medo e frio.

***

E a solidão crescia.

***

E pensei em que talvez,
fosse chegada a hora
de deixar a alma em paz e,
pôr termo à busca.

***

E divisei os astros
e os desertos imensos.

***

E minha dor fez-se
maior que os desertos.

***

E minha tristeza
fez-se maior que os astros.

***

E eu disse:
estou cansado e já não possuo mais fé.

***

E senti meu coração
apequenando-se indeciso.

***

E senti meus sonhos esvaindo-se.

***

E senti fraquejar em meu ser
as forças que me empurravam
pelos caminhos.

***

E desejei a paz.

***

E desejei livrar-me do fardo.

***

Mas o sol veio
e adentrou a caverna
e derramou luz pelas sombras
do meu ser.

***

Então pensei: ainda
não é o fim.

***

E me preparei para sair
e novamente seguir meu caminho.

***

E vi que após tantos anos
de recolhimento voluntário,
o mundo era o mesmo lá fora pelos caminhos.

***

Eu, contudo,
havia mudado.

***

Sim, as agruras do tempo
haviam-me transformado.

***

Porque eu crera — todo o tempo —,
que o caminho mais árduo
fosse o melhor caminho.

***

Porque viver cada dia
era a melhor forma
de aprendizagem.

***

E a “Escola da Vida”
é para aqueles que
assumem seus fardos.

***

E que, apesar do peso,
aceitam o desafio.

***

E eu havia aceitado.

***

Por isso, ergui-me e disse:
Bom dia, sol.

***

E disse ainda:
Olá, minha vida, como vai?

***

E atirando meu fardo às costas,
voltei a caminhar.

***

E vi que não era ruim.

***

E senti renascer em meu ser, cada sonho.

***

E o “velho” rejuvenescia em meu ser.

***

E o medo havia se dissipado.

***

E o cansaço havia desaparecido.

***

E a tristeza fora-se para distante.

***

E meu corpo torna-se leve.

***

E eu disse: é bom!

***

E eu pensei: vou conseguir.

***

E encetei os primeiros passos.

***

Feito uma criança.

***

E aqui estou novamente.

***

Seguindo meu próprio caminho.

***

Cumprindo a minha sina
na eterna busca.

***

E cá estou:
refletido pelo espelho do mundo,
olhando de frente
para a vida.

***

Feito um velho veleiro
sem cais para atracar.

***

Que o vento sopre
as velas do meu viver.

***

Irei para onde meu coração
me disser: vá!

***

Porque eu estou aqui e agora.

***

E não encontro-me
em parte alguma.

***

E estou em todos os lugares
do mundo.,

***

Feito um peregrino
a atravessar fronteiras
sem ter onde recostar
meu corpo alquebrado,
vou.

***

Os astros guiam-me
e as estradas me levam.

***

Conheço de cor
cada nova estação.

***

E sei que jamais chegarei
a lugar algum.

***

Porque o caminho
não tem fim.

***

E nunca se diz: basta!

***

Porque não há um ponto final.

***

E o Eu são todas as coisas
e estradas que nos levam.

***

E porque o Eu é o próprio Universo em si,
eu sou o Universo
e tudo o que nele há,

***

Cavalgo campinas.

***

Sobrevôo os campos.

***

Subo montes.

***

Desço vales.

***

Ardo em febre.

***

E tremo de frio.

***

Eu estou no medo dos homens.

***

No cio dos animais.

***

No riso das crianças.

***

Na inteligência dos sábios.

***

Na dança dos loucos.

***

“Sob o claro do luar”.(***)

***

Nas trincheiras e no “fronte”.

***

Na fome e na doença.

***

Nos crentes e descrentes.

***

Em tudo o que atraca nos cais.

***

Eu sou o segredo das sombras
e as próprias sombras.

***

Eu sou o grito de dor.

***

A terra e o ar.

***

A faca e o corte.

***

A enxada e o pão.

***

Eu sou o brilho das estrelas.

***

O parto e o feto.

***

As Escrituras e o riso.

***

O escárnio e o desprezo.

***

O patrão e o empregado.

***

O nada e o tudo.

***

Eu sou eu.

***

E sou você.

***

Porque somos o Princípio de Tudo.

***

A causa Primeira.

***

O Sopro Universal.

***

Eu!

***

O pária, o proscrito.

***

A prostituta, o ladrão.

***

Eu, o verso e o silêncio.

***

A paz e a agonia.

***

Porque somos iguais.

***

Embora cada qual faça o seu caminho.

***

Ainda que eu diga não,
toda a essência do meu ser
está contida no essência do Universo.

***

Mesmo que eu diga:
— Eu difiro de todos
porque, cada qual
possui sua personalidade.

***

Cada qual,
o seu jeito de ser e agir.

***

De pensar e dizer.

***

Seremos sempre o Eu.

***

E estaremos em cada partícula
do Imensurável.

***

Em cada mínima célula
da criação.

***

No amor pela criatura.

***

Porque somos o Eu.

***

E cada qual busca por algo.

***

E este algo, nos integra e nos torna Uno.

***

Nós somos “O que caminha”.

***

Ainda que,
em diversas direções.

***

Mesmo por estradas diferentes.

***

Nós somos o Eu.

***

E estamos caminhando
para um único lugar.

***

Ainda que,
jamais nos encontremos pelos caminhos,
um dia estaremos juntos.

***

E não haverá diferença
entre nós.

***

Nem de raça,
nem de cor.

***

Nem na procedência,
nem no idioma.

***

E não haverá mais fronteiras.

***

Nem luta, nem ódio.

***

Não haverá rico,
nem haverá pobre.

***

Não haverá tristeza
nem alegria.

***

Apenas serenidade.

***

Porquanto ouvimos:
a cada um, será concedida a liberdade.
Conquanto, não exista liberdade
sem responsabilidade.

***

E responderemos por cada vírgula do que dissermos.

***

E a cada ato, uma sentença.

***

Embora nem saibamos
para onde estamos indo,
um dia, chegaremos todos
a um só lugar.

***

E seremos mais que iguais.

***

Seremos o Um.

***

O Eu íntegro e imaculado.

***

Ainda que digamos
que tudo não passa de mero sonho.

***

Pura ilusão.

***

Por isso, hoje caminhamos.

***

Por isso, hoje buscamos.

***

Por isso, hoje lutamos.

***

E sofremos.

***

E esperamos.

***

E caímos.

***

E nos erguemos.

***

E tornamos a caminhar.

***

Por isso choramos.

***

E imploramos e dizemos não porque
é necessário que salvaguardemos a dignidade.

***

Uns dividem.

***

Outros tomam.

***

Mas há os que entregam-se.

***

Enquanto outros, guardam-se.

***

Uns gritam.

***

Outros calam-se.

***

Uns estão perdidos.

***

Outros encontram-se.

***

Cada qual com sua receita.

***

Cada qual com seus pensamentos.

***

Sentimentos.

***

Atitudes.

***

Desejos e anseios.

***

Ninguém estará perdido para sempre.

***

E nem há danação eterna.

***

Porque nenhuma ovelha
de todo o rebanho
será esquecida.

***

Porque ninguém esquece
de si mesmo.

***

E luta por salvar-se.

***

E luta pela paz.

***

E luta pela felicidade.

***

E emprega todos os meios possíveis.

***

Uns sofrem mais.

***

Outros menos.

***

Uns permanecem por mais tempo
nas trevas.

***

Outros quase nada.

***

Mas todos encontram a Luz.

***

Porque a Luz
é para todos.

***

Porque todos
são a própria Luz.

***

E ninguém encontra-se no ócio.

***

E tudo e todos evoluem.

***

Uns erram mais.

***

Outros menos.

***

Contudo, a evolução
é inerente a todos.

***

Uns chegarão primeiro.

***

Depois, outros e outros.

***

Até que todos estejam
e sejam o Eu.

***

Porquanto,
não haverá descanso.

***

Nem paz.

***

Nem sono tranqüilo,
enquanto um de nós estiver
perdido em meio
às trevas da ignorância
e da maldade.

***

Não importa o tempo
ou a distância.

***

Importa o jamais esmorecer.

***

Importa a consciência
de que há “algo”
a ser cumprido.

***

E que não haverá descanso
enquanto toda a obra
não for realizada.

***

Porque não há regozijo
para quem encontra-se em falta
para com a obra.

***

E não haverá pão para aquele
que não semear.

***

E aquele que usar o seu próximo,
mais distante,
encontrar-se-á
à mercê de seus objetivos espúrios.

***

Porque ainda teimamos
em aprender através da dor.

***

E a dor tem sido
nossa companheira constante.

***

E nos tem tornado solidários.

***

Mas haverá um tempo
em que já não mais necessitaremos
da dor
para que caminhemos solidários
pelas estradas.

***

E teremos sempre um ente querido
ao nosso lado.

***

Mesmo aquele que,
antes, nos parecia mais
um inimigo a ser espezinhado.

***

Assim somos.

***

Essa é a nossa natureza.

***

E Ela precisa ser transformada.

***

Por isso, os caminhos
são longos.

***

E árdua a jornada.

***

Porque somos orgulhosos.

***

Mesquinhos.

***

Egoístas.

***

Descrentes.

***

E nos julgamos infalíveis.

***

Ou sábios ou melhores ou perfeitos.

***

E alguns praticam a caridade
aos brados.

***

E suas obras são ofuscadas
por seus orgulhos.

***

E uns gritam quando oram.

***

E suas preces são ofuscadas
pela divulgação desnecessária.

***

E outros choram os seus mortos.

***

Mas jamais choraram por eles
quando vivos.

***

E outros ainda
abusam do Poder e odeiam
aqueles que os colocaram no Poder.

***

E outros humilham seus iguais,
e esquecem que,
algum dia serão humilhados.

***

Outros ainda,
julgam-se orgulhosos em demasia
para ajoelharem-se.

***

Contudo, esquecem que boa parte
do caminho a ser trilhado,
o farão rastejando-se.

***

Um julga-se o mais forte.

***

Mas há sempre alguém
mais forte que ele.

***

O outro deixa-se envaidecido
de seus dons.

***

Mas outros, humildes,
o farão parecer ridículo.
Porque há sempre,
alguém com dons mais aprimorados
que os nossos.

***

E o filho renegará o pai viciado.

***

Mas um dia também será pai.

***

E o irmão excomungará a irmã prostituta.

***

Mas um dia, terá ele,
esposa e filhas.

***

E outro ainda,
sentirá vergonha da família
humilde e problemática.

***

Conquanto será um pária
porque a família
— humilde e problemática —,
foi quem o sustentou
para que ele viesse a tornar-se doutor.

***

Somos da mesma natureza.
É o que somos e fazemos.
É o que fazemos e, merecemos.

***

Não se planta trigo
para colher-se pedras.

***

Aquele que semear
há que colher o que semeado.

***

E há cegos que enxergam melhor a vida
do que aqueles que nasceram
com boa visão.

***

E há mudos que jamais pronunciarão “raca”.

***

Porquanto, às vezes,
é melhor ser cego e mudo.

***

Mas aqueles que fecharem os olhos
para as injustiças cometidas
contra o seu semelhante,
pagarão em dobro.

***

E aqueles que se calarem quando,
necessário defender o justo e humilhado,
pagarão em dobro.

***

Não dizemos: “Sou perfeito”.
Mas sim: “Estamos nos corrigindo
e melhorando”.

***

Tudo vem à seu tempo.

***

Tudo tem a sua hora.

***

E tudo tem a sua vez.

***

Portanto, precipitações e desespero,
somente adiam e nos fazem perder
o tempo, a hora e a vez.

***

Faremos o que e como desejarmos
porque temos a liberdade a nossos préstimos.

***

Mas não nos esqueçamos que,
responderemos pelos nossos feitos.

***

Come, bebe, dorme,
se assim te apraz..

***

Conquanto, não te esqueças
de teus compromissos e deveres.

***

Tudo pode ser ilusório
se é o que fazemos ser e desejamos.

***

Mas nossos sonhos serão realidade
se partirmos do princípio de que,
nós somos a própria realidade sobre a qual
agimos e interagimos constantemente.

***

Não corras demasiado.
Porém, não te quedes
a esperar pelos céus.

***

Nem juntes o que não necessitas.

***

O que não podes carregar.

***

Somente o tolo troca a paz
pela vigília do ouro juntado.

***

Porque o ouro somente
servirá como alça para o caixão.

***

Não abraces o mundo
se o mundo não cabe-te num abraço.

***

Nem sejas tolo
em invejar aqueles que
muito possuem.

***

Porque eles nunca poderão
em vida,
dizer eu tenho a paz.

***

Faremos aquilo que desejarmos.

***

Conquanto que façamos “bem”,
ainda que “pouco”.

***

Deixa o teu vizinho em paz
e cuida do que te cabe.

***

Não perca o tempo com futilidade.

***

Há muito o que ser feito
e poucos para a realização.

***

Escreve, lê e aprende.

***

Conquanto, saibas fazer uso
do que aprenderes.

***

Digo: sou livre e faço o que quero.
Porque todos temos o direito.

***

Contudo, se perco meu tempo
a pisotear pérolas na lama,
estarei a fazê-lo de forma deliberada.

***

A consciência é o nosso próprio verdugo.

***

E se pratico um crime e não sinto-me culpado,
o problema é somente meu.
Porque maior que a justiça dos homens
é a justiça de Deus.

***

Por isso , responderei pelos meus atos também.

***

Ninguém possui o direito
de limitar meus direitos.

***

Nem de coibir-me.

***

Nem de persuadir-me
a fazer o que não desejo.

***

Por isso aprendo a pensar
Através de meus próprios conhecimentos.

***

E possuímos o dom das palavras
e da compreensão.

***

E possuímos a paciência
e o dom do perdão.

***

Por isso não diga:
“Aquele não presta!”.

***

Nem arquitete vingança
contra aquele que te prejudica.

***

Porque a ignorância
é mãe dos insensatos.

***

E somente o ignorante
prejudica ao seu irmão
e, concomitantemente,
a si próprio.

***

Segue o teu caminho
e procura ser justo.

***

Não ofenda o próximo,
ainda que ele venha a dar motivo..

***

Desvencilha-te do ódio
porque ele corrói a alma.

***

Não despreza o varredor de rua porque,
o que teus olhos vêem,
talvez tua alma desconheça.

***

Aprende a ser bom e justo para consigo mesmo.

***

De forma que tua bondade e justiça
estendam-se aos teus iguais.

***

Não faças alarde do que deve ser
mantido em segredo.

***

Não desvies do teu credor
para que não sejas chamado de mau-pagador.

***

Paga o que deves.

***

Não engana aquele que,
por falta de oportunidade,
não aprendeu a somar.

***

Lembra-te que nem todos
encontram-se no mesmo nível de conhecimento
e sabedoria.

***

Não peças de volta
o que destes.

***

Nem mesmo a atenção.

***

Nem o carinho.

***

Nem a amizade.

***

Nem o amor.

***

Se não retribuem-te,
há um motivo.

***

Ou não mereces, ou,
de quem esperas a retribuição,
trata-se de pessoa ingrata.

***

O ingrato também tem a sua vez.

***

Nunca te queixes do pão sobre a mesa.

***

Ainda que seja parco.

***

Ou mesmo envelhecido.

***

A cobiça adoece a alma dos tolos.

***

O que não é teu, não é.

***

Se te julgam louco, não importa.

***

Porque a loucura
pode ser o sol da razão.

***

Mas seja louco em teu canto.

***

E não perturbe o sono do teu vizinho.

***

Diz: eu tenho amigos porque esforço-me
e prefiro tê-los a ter, um único inimigo.

***

E seja fiel aos teus princípios.

***

Conquanto, respeita os princípios
daqueles que te cercam.

***

Não tires jamais
de quem não tem.

***

Nem tampouco daqueles
que muito possuem.

***

Seja correto e se atiram flechas,
esqueça porque,
não podem ferir mais que a ignorância.

***

De que vale a esmola ao pobre se,
não o conscientiza de que
é capaz de plantar e colher?.

***

E mantenha-se sereno durante a contenda.

***

Respeita a tudo e a todos.

***

Somente o ignorante
berra pelas ruas:
“Lincha!”.

***

Porquanto, saibas que
uma vida é sagrada.

***

Por pior que possa parecer
aquele que a respira.

***

Nem a uma formiga,
rouba a vida
se puderes evitar.

***

Não maltrata o teu cão,
nem o cão do vizinho.

***

A tolerância é uma virtude.

***

Se adotas, cuida.

***

Porque és o responsável
por aquilo que vier a ocorrer com o teu semelhante
ou o teu animal quando adotados.

***

Nunca clame: Deus!..

***

Porque Ele sabe onde estás,
e o propósito final.

***

Nunca discorras
sobre o que desconheces.

***

É melhor um sensato calado
a um tolo
a falar pelos cotovelos.

***

Não tira a folha de uma árvore.

***

Nem atire detritos à fonte.

***

Não aprisione os pássaros.

***

Nem arrebanhe do rio o peixe,
senão para alimentar-se.

***

Não maldiga a chuva
se ela inunda a tua casa.

***

Nem maldiga o sol
se ele queima a tua plantação.

***

A natureza é perfeita.

***

Nós sim, cometemos erros
todo o tempo.

***

Ouve as palavras
que edificam.

***

Não dê ouvidos a mexericos
e difamações.

***

Deixa de lado
o teu violão e teus prazeres
para atender a quem necessita de atenção.

***

Não derrame lágrimas
por aqueles que partiram.
Mas sim, pelos que ainda
têm muito a caminhar.

***

Não esconda-te da vida.

***

É através do exercício do dia a dia
e dos aborrecimentos
que nos tornamos mais fortes e aptos...

***

Não sofras por coisas que
ainda não ocorreram.

***

O pessimismo é o caminho
dos fracos.

***

Não te curves ante os homens.

***

A educação possui seu limite.

***

Não endeuse os que são
semelhantes a ti.

***

Isso é ridículo.

***

Nem seja demagogo.

***

Isso também é ridículo.

***

Responde com ponderação
e desarmarás o furibundo.

***

Sê o que é e basta.

***

Isso é o correto.
E é tudo o que tens que ser.

***

Porque, pobre daquele que,
deseja ser o que não é.

***

Isso é tudo e todo o Eu.
Porquanto, pensa e busca
a Verdade.

***

São José do Rio Preto, 1.992.
Mauro Gonçalves Rueda.


Notas

(*) — Livro escrito pelo autor em caderno de capa dura, em um único poema contendo 200 páginas

(**) — Leia Fernando Pessoa

(***) — Show musical montado pelo autor e o Grupo Garranchas


 

©2003 — Mauro Gonçalves Rueda
maurorueda5@hotmail.com

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