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JHEZAB

Missão dos Setenta e Dois
cap. 10 do Evangelho de São Lucas

Romero Evandro Carvalho


 

Jhezab - Missão dos Setenta e Dois - cap. 10 do Evangelho de São Lucas
Romero Evandro Carvalho
Fonte digital: Documento do Autor
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He Sent them out Two by Two
(Il les envoya deux à deux), 1886
James Tissot (1836-1902)
fonte digital
archive.org

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© 2012 Romero Evandro Carvalho


 

JHEZAB

Missão dos setenta e dois

cap. 10 do Evangelho de São Lucas

 

Romero Evandro Carvalho


 

Esclarecimentos

 

Com lastro no Evangelho de São Lucas, tem base, este romance, cujo personagem, Jhezab, se destaca, como um dos componentes do grupo dos setenta e dois missionários, designados por Jesus, para que eles fossem diante de Si, dois a dois, para todas as cidades e lugares, por onde, Ele deveria passar.

A atuação de Jhezab, dentro desse cenário ficciconista, teve início, na sua infância, quando por desejo dos seus pais, e também, por já estar sendo aguardado para ser um iniciado na doutrina essênica, junto a uma das comunidades, às margens do Lacus Alphaltites – Mar Morto.

A sua iniciação nessa doutrina, revelou-se, muito promissora e, por decorrência disso, obteve da parte de um dos mestres – Babuck – uma especial atenção, com o fito de desenvolver e aprimorar os dons inatos do discípulo, objetivando, para que no futuro, Jhezab, fosse muito útil na divulgação de uma Doutrina de Amor, que iria ser inaugurada, conforme havia sido estabelecido nos textos proféticos de Isaias.

Jhezab, sempre orientado por seu mestre Babuck, foi testemunha ocular de vários prodígios de Jesus, quando o Rabino, curou leprosos, curou o criado do centurião, curou o homem da mão seca, curou o filho de Jairo, curou muitos cegos, curou a mulher hemorrágica, presenciou e atuou distribuindo, a primeira multiplicação dos pães e peixes e, também, esteve presente quando o Mestre Jesus proferiu as Bem-aventuranças, além de, em outras oportunidades, ouviu Jesus falar de Amor, Paz, Fraternidade, Fé e Perdão, solidariedade, família, harmonia, etc.

Esteve presente também, quando houve a prisão, a cruel flagelação e a crucificação do seu grande amigo Jesus.

 

Trechos dessa narrativa, se desenvolveram em quadros regressivos a que se submeteu o jovem Jhezab, sob a assistência e orientação de Mirtes, sua Protetora Espiritual..

Posteriormente, já totalmente consciente das suas responsabilidades como um dos setenta e dois missionários eleitos por Jesus, Jhezab, foi também, participante no dia de Pentecostes, falando línguas e promovendo curas.

Por solicitação de Pedro, Jhezab, partiu para Antioquia, como protetor de uma jovem, muito rica, que havia abraçado a Doutrina de Amor – a Boa Nova. Essa jovem, Palmira, voltava para a sua cidade natal – Antioquia —, por aconselhamento do Apóstolo, que a fez ver e sentir, o quanto é importante a família e a sua união.

 

Jhezab juntamente com Palmira, começaram a difundir os ensinos de Jesus em Antioquia, os quais, foram, posteriormente assessorados pelos apóstolos João e Paulo.

A narrativa romanceada chega ao seu auge, para júbilo de Jhezab e Palmira, quando eles têm um encontro com Maria – Mãe de Jesus, em Éfeso.

 

Este romance, se divide em duas partes: a primeira, Jhezab, está sob os efeitos de uma regressão de memória. Esse espaço regressivo, é composto de dez capítulos, entremeados por citações da Bíblia e, algumas de O Livro dos Espíritos e das Obras Póstumas de Allan Kardec.

A segunda parte, se compõe, de nove capítulos, com Jhezab, desperto dos efeitos da regressão, agora, orientado por Pedro, na divulgação da Doutrina de Amor, inaugurada pelo Mestre Jesus.

 

Os capítulos dessa última parte, também são entremeados por citações de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, a Gênese, a Bíblia, Caminho, verdade e Vida (Emmanuel) e Mãe Santíssima – Coletânea (Humberto de Campos).

Essas citações, correspondem, respaldando, definindo ou elucidando os assuntos tratados nas narrativas dos capítulos.

Autor – Romero Evandro Carvalho


 

 

Primeira Parte


 

Capítulo I
A Protetora

 

O sol avermelhado, se debruçava no horizonte.

Meus pés ulcerados, doíam terrivelmente.

Completamente fora do tempo, não sei quantos dias e quantas noites, andei desabaladamente, sem rumo.

Minhas roupas em péssimo estado, estavam imundas e rotas. Acho que, a minha aparência, era grotesca; meus cabelos desgrenhados e, com todo o meu corpo empoeirado, me detive nos arredores de Belém.

Sentei-me numa enorme pedra plana. Havia água depositada em parte da sua superfície rebaixada, onde aí, pude saciar a minha sede, lavar o meu rosto e, banhar os meus pés, bastante machucados.

Eu estava exausto, mas deu-me o ânimo para orar ao Criador.

“Deus, Querido Pai, aconchega no seu regaço, o seu Filho amado, que foi assassinado pela turba furiosa e corrompida, a mando dos poderosos do Templo.

Supliciaram na cruz, nosso querido Mestre, o mais sábio, o mais amoroso, o mais virtuoso e mais compreensivo dos homens.

Jesus, meu querido Amigo , se mérito algum me resta, ouça-me: tenha como certo, que do meu entendimento e de todas as minhas forças, serei o seu eterno arauto, difundindo por todas as plagas as suas lições de amor e perdão incondicional. Certa vez, eu O ouvi proclamar: “Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão”. De minha parte, Senhor, prometo que serei a sua voz, as suas palavras difundindo os seus ensinamentos lastreados no amor que ampara, que edifica, que aconchega, que reconcilia, que perdoa, que retribui o mal com o bem, que não pactua com o orgulho e o egoísmo, que é caridoso. Os seus ensinamentos meu Querido Mestre, pelo tempo que aqui nessa Terra eu permanecer, serão uma constância no meu falar e no meu proceder”.

Extenuado, e ainda todo dolorido, Jhezab deitou-se e, dormiu profundamente.

Rapidamente, seu espírito se desprendeu, ficando ligado ao corpo por um cordão prateado e luminoso.

Notou então, que ao seu lado, estava uma jovem, que os seus olhos carnais, em tempo algum, havia pousado em tão linda criatura, que de trajes simples, mas de um azul celestial, trazia um manto róseo sobre sua cabeça; do seu lindo rosto trigueiro, realçavam seus olhos, como duas lindas gemas azuis; seu nariz, divinamente cinzelado; seus lábios cativantes, e sorrindo, davam à mostra, dentes alvíssimos.

Sem rodeios, ela foi direto ao assunto que lhe competia transmitir ao seu tutelado, naquele momento: — Jhezab, aqui me apresento para auxiliá-lo numa viagem espiritual, retrospectiva, que você deverá fazer.

Entre, assustado e admirado diante daquela criatura de rara beleza, Jhezab, perguntou: — Como é o seu nome? De onde você vem? Qual a razão desse seu convite? Eu, a conheço?

— Poderá chamar-me de Mirtes e, quando, me pergunta de onde eu venho, eu lhe digo que, não venho, pois estou sempre ao seu lado, desde há muito tempo e, quanto a razão do meu convite, quero que você tenha sempre em mente, que jamais eu o convidaria para um fracasso, uma derrocada ou um cilada. E quanto ao porquê desse convite, em algum momento, lhe será mostrado em sua tela mental.

 

“489 — Há Espíritos que se ligam a um indivíduo, em particular, para proteger?

— Sim, o irmão espiritual; é o que chamais o bom Espírito ou o bom gênio”

“490 – Que se deve entender por anjo da guarda?

— O Espírito protetor de uma ordem elevada”.

“491 – Qual a missão do Espírito protetor?

— A de um pai para com o filho: conduzir o seu protegido pelo bom caminho, ajudá-lo com os seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida”

(O Livro dos Espíritos – Livro Segundo)

 

Jhezab, por um longo tempo, permaneceu pensativo. A certo momento, ele argumentou: — Não posso aceitar o seu convite, porque tenho que vigiar o meu corpo que está muito doente...

— Jhezab, você não está sendo convidado para abandonar o seu corpo. Ainda não chegou essa hora. Com esse corpo, você terá muito o que fazer!

Você não nota que está ligado a ele por um liame prateado e luminoso? E tem, algo mais meu irmão: você virá comigo, deixaremos o seu corpo aí e, iremos somente até aquela mole pontiaguda. A distância é muito pequena! Vamos que você só terá a ganhar! A regressão que irá se submeter, vai ser muito importante para a sua desenvoltura num futuro próximo. E tem mais, não tenha receio, pois, você já teve por algumas vezes, fazendo esse exercício de regressão, aonde estudava como um iniciado essênico; está lembrado? Agora vamos!

Ele concordou, mas nessa pequena caminhada, várias vezes olhou apreensivo para o seu maltratado corpo.


 

Capítulo II
Regressão de memória

 

Ao chegar, acomodou-se, de frente para as colinas da Judéia.

Mirtes, ao seu lado num recolhimento de profunda rogativa, expandia do seu espírito uma luz radiante, de um azul celestial.

Convidou Jhezab para acompanhá-la na rogativa a Deus: “Senhor, aqui estamos, rogando a sua proteção para essa oportunidade, deveras muito importante para o nosso tutelado. Rogamos Senhor, que o ato regressivo do qual ele se submeterá, seja de total proteção, e que os quadros estampados na sua memória, não sejam afetados por ondas deletérias. Dá-nos Senhor, uma emanação fluídica protetora, para que o nosso trabalho seja coroado de êxito, do qual, Jhezab, será o único beneficiado, fortalecendo-se com o processo regressivo, para o enfrentamento na vida material, futura, com seus sucessos e seus reveses. Ampara-nos Senhor!”

Jhezab, já começou a notar, que estava em processo de regressão. Via-se, jovenzinho, brincando em frente de sua casa, quando seu pai, chamou-o.

— Meu filho, hoje você está completando doze anos. Deixe-me dar-lhe um forte abraço, um beijo, e desejar-lhe muitas felicidades para toda sua vida, com a mente centrada no bem, e num corpo muito saudável. Eu, e a sua mãe, somos eternamente agradecidos ao Altíssimo, por termos tido você como nosso filho, alegre e cheio de vida.

Nossa vida, aqui, como você bem deve ter notado, por sua perspicácia, é muito dificultosa. Nós, eu e a sua mãe, desejamos que você tenha oportunidades de se desenvolver com saúde, com alegria e, que aprimore a sua inteligência. Como você pode muito bem avaliar, nós já estamos alcançando uma idade critica, na qual, quase nada mais podemos aspirar, senão, a sua felicidade. O que desejamos então, é que você se desenvolva como homem de bem e que seja seguidor dos desígnios de Deus, que lhe essa sua vida, enquanto muitos, não conseguem visualizar a primeira luz de um dia.

 

“O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap.XVII – item 3)

 

Assim meu filho, eu e sua mãe, resolvemos, que dentro de dez dias, nós iremos viajar; nós três. Pretendemos levá-lo a um lugar onde você poderá estudar, junto aos homens sábios e prodigiosos. Lá, você irá encontrar os meios para desenvolver a sua inteligência e, o dom que com certeza o tem, se não erro, de ver as criaturas que já morreram. Neste lugar, pelo que apurei, você terá: o seu quarto, banho diário, roupas sempre limpas e alvas, refeições diárias, estudo e meditações, além de se juntar a um grupo de trabalho, para sustento de toda comunidade. Com certeza haverá também, algum lazer, porque, nem só de pão e trabalho, vive o homem!

— Mas, papai e mamãe, eu não quero deixá-los! Mamãe, precisa de mim para ajudá-la nas tarefas domésticas: ela está doente!

— Filho querido eu vou ficar boa. Quando chegarmos em Qumran, lugar para onde vamos, que fica na posição do sol poente, nas margens do Mar Morto, lá, eu procurarei tratamento, que por ouvir dizer, é na base de bálsamos herbáticos, emanações fluídicas por imposição das mãos e orações. Vários relatos temos ouvido de muitas pessoas, que ali, se beneficiaram, reencontrando a saúde. Penso que, esses procedimentos poderão estar também à sua disposição para aprender.

Nesse estado regressivo de memória, os dias passavam, e já a caminho, eles empreendiam aquela excursão. Nos arredores de Hebron, onde moravam, até Qumram, a distancia era grande.

Vários dias e várias noites eles caminharam para chegar ao destino pretendido. Eram seis as comunidades dos essênios, em várias grutas escavadas nas encostas calcárias.

 

“A memória é uma espécie de álbum, mais ou menos volumoso, que se folheia, quando se precisa de alguma idéia apagada, da mente, ou de reviver acontecimentos passados.” (Obras Póstumas – Fotografia e Telegrafia do Pensamento – Allan Kardec)

 

Fatigados, eles se acomodaram numa pequena cobertura rústica, que estava localizada no centro de uma área plana, cultivada com trigo. Sentaram-se, todos no chão, recostaram-se, um no outro e, dormiram.

O sol, rapidamente mergulhou no horizonte e anoiteceu.

Uma voz, grave, no entanto suave, chamou: — Jhezab... Jhezab... Acorde, que este é o tempo!

O jovem acordou-se sonolento, sentou-se e, por alguns instantes, ficou a olhar admirado aquele ancião de sorriso terno e luminoso.

— Meu jovem, Jhezab, acorde os seus pais e venham comigo!

— Mamãe..., Papai..., acordem..., acordem..., vejam quem está nos chamando!

Aquele senhor portando na destra um archote, disse-lhes: — Por favor, sigam-me, que desejo acomodá-los melhor; tomarão banho, terão roupas limpas e irão se alimentar. Depois, se desejarem, poderão satisfazer as suas curiosidades, fazendo perguntas.

Asseados e satisfeitos, o pai de Jhezab, senhor Jhoshua, indagou: — Senhor, por ventura, sabia que nós viríamos?

— Muitos, que aqui residem, tinham essa certeza.

— Sabiam também o meu nome? indagou Jhezab.

— Sim, Jhezab e, sendo aguardado para a sua iniciação.

— O que é iniciação, senhor? Perguntou o menino.

— Você saberá o que seja, com o passar do tempo. Por hora, posso lhe dizer que é o estudo de muitas coisas, que lhe serão mostradas, ensinadas e praticadas.

— Ah!...balbuciou o garoto.

— Jhezab, os seus pais ficarão com você aqui, por trinta dias. Após esse prazo, se eles desejarem, poderão ficar, mas, com a obrigação de se vincularem ao trabalho na agricultura. Com essa atividade, terão o que comer, beber e vestir. Neste espaço de trinta dias, poderão, ainda, andar por todos os lugares onde for permitido, sem que ninguém os incomode. E quanto a você, meu jovem, as suas atividades, iniciar-se-ão amanhã e, tomará o dia todo.

Vamos, pois não podemos perder tempo. Somente à noite é que você voltará ao aconchego dos seus pais. Depois desse prazo você terá a cada trinta dias, a visita deles, ou irá visitá-los.

Quanto a senhora, logo ao alvorecer, eu virei buscá-la para já iniciarmos o seu tratamento de saúde.

Isso é tudo que eu tenho que lhes dizer, por hora. Tenham um bom sono bastante reparador e, que Deus os abençoe!


 

Capítulo III
Lago da Galiléia

 

Para os pais de Jhezab a mudança de vida, foi maravilhosa. Eles tinham obrigações, mas, como conseqüência disso, havia a retribuição que os contentava.

Maala, a mãe do jovem Jhezab, restabelecia-se muito bem.

Corria o tempo e, Jhezab, aplicadíssimo nas suas responsabilidades, era o eleito dos mestres, no entanto, isso para ele, nunca foi motivo de orgulho ou vaidade frente aos outros que como ele, ali estavam, objetivando, o equilíbrio emocional, o fortalecimento do caráter, o espírito solidário e o amor.

 

“Despertai, meus irmãos, meus amigos. Que a voz dos Espíritos ecoe nos vossos corações. Sede generosos e caridosos, sem ostentação, isto é, fazei o bem com humildade. Que cada um proceda pouco a pouco à demolição dos altares que todos ergueram ao orgulho.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap.VII – item11 – Lacordaire-1863)

 

E as cenas, na mente de Jhezab, se sucediam.

— Jhezab, há cinco anos, você está aqui conosco promovendo a evolução da sua natureza íntima, como também, dos seus dotes físicos, dádivas que Deus lhe deu.

Acho que é oportuno, que você conheça outros centros habitados, mais populosos, para que no futuro, quando se relacionar com as pessoas de diversas mesclas educativas e evolutivas, não se abata interiormente, sofrendo assim, algum prejuízo para as suas obrigações futuras. Assim sendo, nós dois, viajaremos. Portanto, dentro de dois dias estaremos a caminho. Quando for se despedir dos seus pais, diga-lhes que, talvez, em doze luas cheias, estaremos de volta, se Deus quiser!

 

Caminhavam ainda, pelas margens do Mar Morto, quando Jhezab, perguntou: — Mestre Babuck. O que faremos quando tivermos fome e sede? Não trouxemos nada?

— Meu jovem, em qualquer atividade que empreendermos, devemos estar bem planejados. Não se preocupe. Nós continuaremos a nossa caminhada e, se nada acontecer de anormal, e quando esta linda lua estiver às nossas costas, aí, acharemos pelas imediações, uma gruta habitada por amigos, que nos fornecerão o que comer, beber e, vestir se necessário e, ainda, um lugar para dormir. E assim será por todo o nosso itinerário.

— E qual é o nosso itinerário?

— Você não conhece. Espere para ver. Teremos oportunidade de apreciar paisagens belíssimas, que Deus, por sua misericórdia nos oferece.. Caminharemos a montante do rio Jordão e, teremos a chance de encontrar pessoas interessantes.

A certo momento da excursão, eles chegaram às margens do Lago Galiléia. Caminhavam pela praia. Em uma pequena elevação, distante um pouco da praia, sentaram para descansar. O sol pendia no horizonte. Os pescadores, alguns, acomodavam as suas redes nos barcos, outros, providenciavam consertos e, muitos deles, felizes, cantavam. Um deles, se aproximou e perguntou: — Vocês moram aqui?

— Não, nós moramos às margens do Mar Morto, à jusante do rio Jordão – respondeu Babuck.

— Eu me chamo Jasão. Desejam comprar peixes?

— Não senhor, Jasão. Estamos de passagem e, hoje, pernoitaremos aqui.

— Se não tiverem onde ficar, ofereço a minha casa. Vivo só.

— Nós agradecemos e aceitamos o seu convite.

— Então, me acompanhem. Na minha casa, eu tenho: figos, queijos, leite de cabra e estou levando um peixe. Acho que teremos um bom jantar. O que acham?

— Senhor Jasão, a sua hospitalidade nos cativa.

— Podem declinar os seus nomes?

— Eu, sou Babuck e ele, chama-se Jhezab.

Ao redor, de uma mesa tosca, eles saboreiam o jantar.

Depois, sentados, em um banco do lado de fora da casa, Jasão fitando o firmamento ornado de estrelas, disse: — “Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para o nosso Deus”.

Admirado com a frase profética, naquele instante, proferida por Jasão, um rude pescador, Babuck, completou: — Quem assim profetizou, foi Isaias!

 

“Uma voz clama: Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para nosso Deus. Que todo vale seja aterrado, que toda montanha e colina sejam abaixadas: que os cimos sejam aplainados, que as escarpas sejam niveladas. Então a gloria do Senhor manifestar-se-á; todas as criaturas juntas apreciarão o esplendor, porque a boca do Senhor o prometeu” (Isaias, 40, 3-5 – O aviso de libertação – Bíblia Sagrada)

 

— Senhor Babuck, algumas pessoas já passaram por aqui, afirmando que um anjo, como um arauto, proclamará a vinda do Senhor, que há de nos salvar, ensinando-nos a conquistar as boas virtudes. O senhor poderia acrescentar mais alguma coisa sobre isso?

— Eu posso afirmar, é que um bom homem, justo, sereno, amoroso e firme em suas colocações, alertando-nos, já está entre nós. Tenho para mim que, em pouco tempo nós deveremos conhecê-lo.

— O senhor, está falando isso, com muita certeza. Pode me dizer a razão?

— Eu e Jhezab, fazemos parte de uma comunidade essênica e,...

Jasão, o interrompeu: — Já sei, senhor. As pessoas dizem que são ascetas.

— Senhor Jasão, o que as pessoas propagam sobre a nossa doutrina e nossas atividades, o fazem, sem nos conhecerem. Nós, não vivemos na prática penitencial e contemplativa. Temos sim a nossa devoção, ao Deus Supremo, nosso Pai, mas também, temos as nossas obrigações materiais, que se compõe do trabalho para o nosso sustento e, também, do nosso próximo; estudamos, para adquirirmos cultura e uma boa evolução espiritual, e assim, procuramos agir como criaturas boas em todos os sentidos das nossas vidas.

Posso lhe afirmar mais senhor Jasão, com certeza absoluta, que Aquele, do qual o caminho está sendo preparado, Ele já existe, e está em preparação.

Jasão, inclinado e, olhando para o chão, apoiando seus braços nos joelhos e as mãos, sustentando o seu rosto, disse: — Desejo que Ele venha logo, para que nos liberte e nos diga o que deveremos fazer, frente a opressão que nos acossa.

Mas, senhor Babuck, estou entendendo, que os senhores vêm de muito longe. Posso saber para onde vão? E o que procuram?

— Senhor Jasão, como grande homem que percebo que é e, que tem um coração generoso e hospitaleiro, posso lhe dizer, pois, você, como nós, estamos esperando ansiosos a vinda do Messias.

Eu pretendo mostrar a Jhezab, para que ele observe e analise os grandes centros e, sinta o ânimo das pessoas, justamente sobre o que profetizou Isaias.

— Jhezab, você é jovenzinho, ainda terá muita coisa para ver e sentir. Quanto a mim, estou chegando aos dez lustros; acho que não terei oportunidade de ver esse Messias – disse Jasão.

— Para os próximos dias, senhor Jasão, nós estaremos em contato com as pessoas que vivem ao redor deste lindo lago, depois, iremos para Jerusalém e, na nossa volta, gostaríamos que fosse conhecer a nossa comunidade, pois teríamos muito gosto em hospedá-lo.Teremos imenso prazer, se o senhor aceitar o nosso convite.


 

Capítulo IV
Profecia de Isaias

 

Jhezab, agora, nós iremos a Cafarnaum. Lá também, encontraremos um companheiro que está nos aguardando.

Logo que chegaram, foram reconhecidos por Jonas, que gentilmente, ordenou: — Venham comigo, pois devemos nos recolher. O ânimo das pessoas está exacerbado e a atuação dos soldados, está muito enérgica. Temos que ficar no anonimato por algum tempo.

— Mas Jonas, o que está acontecendo?

Senhor Babuck, a profecia de Isaias diz: “A terra de Zabulon e de Neftali, região vizinha ao mar, a terra do além Jordão, a Galiléia dos gentios, este povo que jazia nas trevas, viu resplandecer uma grande luz, e surgiu uma aurora para os que jaziam na região sombria da morte”.

— E o povo, senhor Babuck, está aguardando ansioso a concretização dessa profecia, mas, de outro lado, os soldados, por ordem de Roma, estão reprimindo as aglomerações e as manifestações. Por essa razão é que desejo preservá-los.

— Jonas, nós o agradecemos, a sua preocupação que tem para conosco, mas, viemos nessa excursão, justamente para sentirmos o povo e as suas convicções a respeito do Senhor que está para vir e nos ensinar como deveremos proceder para recebermos as graças de Deus.

— Se desejarem mesmo, entrevistar as pessoas, pelo menos, sejam como eles na aparência, para não chamarem a atenção, porque tudo pode acontecer de desagradável. Suas túnicas brancas, chamam muito a atenção.

Providenciarei para vocês, túnicas normalmente usadas pela maioria.

Babuck, concordou.

Na praia, onde uma grande multidão se reunia, eles entrevistaram várias pessoas, habitantes do lugar, e todas, responderam em um mesmo sentido: “Que um Rabi, habitaria entre eles, e que Ele, daria àquele povo, a libertação do poderio romano e, que a predição de Isaias, realmente iria ocorrer”.

Às margens do lago Galiléia, Babuck e Jhezab, entraram em contato com um dos proprietários de barcos de pesca, de nome Simão, que receoso e apreensivo, juntamente com seu irmão André, também aguardavam a vinda daquele que julgavam ser o Salvador.

 

“Exulta de alegria filha de Sião, solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém; eis que vem a ti o rei, justo e vitorioso; Ele é simples e vem montado num jumento, no potro de uma jumenta. ....Ele proclamará a paz entre as nações, seu império estender-se-á de um mar a outro, desde o rio até as extremidades da terra” (Zacarias cap. IX – vv 9 e 10 – Bíblia Sagrada)

“E ele estará firme, e apascentará o seu rebanho na fortaleza do Senhor, na sublimidade do nome do Senhor, seu Deus, e eles se converterão, porque agora se engrandecerá ele até as extremidades da terra” (Miquéias, cap.V, vv 3 – Bíblia Sagrada)

 

Mais alguns dias, eles ficaram, na companhia de Jonas, depois, rumaram pra Jerusalém, sem antes, ficarem com Jasão, por mais alguns dias.

Jasão, nãos os acompanhou, embora tivesse sido insistentemente convidado. Mas, pôs a sua casa à disposição, para quando desejassem vir, e estar com ele.

Despediram-se, afetuosamente, com Jasão prometendo visitá-los o mais breve possível.

Babuck, muito embora, suficientemente treinado no trato das emoções, estava emocionado com a despedida.

— Jasão — meu irmão, conhecê-lo, foi e está sendo uma grande satisfação. Desejo-lhe, que as dádivas de Deus cubram o seu ser e os seus caminhos por terra e por esse lindo mar. Quero deixar com você, algo que trago comigo, há muito tempo, desde a época de jovenzinho. Considere isso, como um talismã da sorte.

Jasão tomou aquela pedra na palma da mão, que exposta a luz do sol, refletia raios coloridos.


 

Capítulo V
Em Jerusalém

 

—Jhezab, o nosso itinerário será: desceremos o rio Jordão, até chegarmos em uma grande encosta de pedra, aí, encontraremos nela, uma fenda e, por ela seguiremos; após, subiremos até um povoado denominado Betsa. Neste lugar, ficaremos dois dias, depois, iremos rumo a Samaria, cujos habitantes são avessos a presença dos judeus. Mas, eu acho que eles repudiam qualquer um que não professe a sua crença, e no deus que adoram no monte Gerizin.

E os quadros se sucediam na mente de Jhezab.

Rumando agora, pela planície verdejante de Jericó, Babuck e Jhezab, desejaram saber o que os ascendentes benjamitas tinham a lhes dizer sobre a vinda do Messias. Não foi outra informação, senão aquela mesma, de que, um Salvador viria a mando de Deus, libertá-los do assédio romano.

— Jhezab, você deve ter notado por todo esse tempo que estamos caminhando e sondando as pessoas e, que todos estão crentes na vinda do Salvador, que os guiará para a liberdade. No entanto, acho que, em Jerusalém, onde existe uma classe clerical interesseira e corrupta, que está aliada aos invasores e, que possivelmente, manipulam opiniões, o nosso Salvador, terá problemas sérios de aceitação.

Jhezab, ficou maravilhado e impressionado com a grande cidade e a imponência do Templo de construção belíssima. Conheceu a ostentação dos homens e, os provocadores e manipuladores de opinião.

— Meu jovem, temos que encontrar um dos nossos, que deve estar na Porta das Ovelhas.

Ao reconhecimento da senha, Geseel, aproximou-se, apresentando-se e, convidou-os a ficarem em um canto do pátio.

— Sou Babuck, e este, é Jhezab. Uma longa viagem nos traz até aqui, para que meu jovem acompanhante sinta a pulsação desta população, pois temos indicação de que ele, deverá se compor junto a outros, cumprindo importante atuação assessória, junto a Aquele, que trará para nós, a palavra de Deus.

Jhezab, ouvindo aprumou-se e disse: — Senhor, como serei um deles, se não estou preparado!

— Preste bem atenção no que vou lhe dizer: Nós, essênios, deveremos estar sempre preparados para difundir a Lei do Amor. Centenas e centenas de pessoas gostariam de estar junto ao Mestre dos Mestres, que há de vir, ajudando-O na propagação dessa Doutrina de Amor. Jhezab, eu, confio que você, está preparado para ser um dos arautos dessa Doutrina, há muito tempo. Esteja certo disso! – Afirmou Babuck.

Tendo como cicerone Geseel, andaram por toda Jerusalém, não perdendo oportunidade de se comunicarem com diversas pessoas oriundas de muitas regiões. O pensamento e a expectativa corrente, era na vinda daquele Homem, que por ordem de Deus, os libertaria.

Os escribas e, os doutores da lei, ainda que apreensivos, refutavam esse acontecimento e, combatiam essa idéia.

Ficaram em Jerusalém, por uma semana, entrando em contato com muitos estrangeiros vindo da Frigia, Panfilia, Egito, Cirene e, muitos outros lugares e, todos com a mesma esperança de ver o Salvador.

 

— Geseel, nós estamos muito agradecidos por sua acolhida. Minha vontade é de ficar aqui, esperando a chegada do Messias, que realmente será o nosso Salvador; Salvador de nossas almas. Como você pode notar Geseel, eu, estou velho, mas não quero chegar aos portais da morte, sem antes ver o nosso Mestre e, sentir o seu Amor por nós. Mas, não sei não, se isso será possível!

Despediram-se.

E a caminhada de volta a Qumran, foi empreendida com bastante sacrifício para o físico de Babuck.

 

Já, na comunidade, uma semana passou, com eles voltando aos seus estudos e trabalhos mediúnicos. Em uma das reuniões, com a presença de todos os responsáveis pela administração, um Espírito de alto quilate, comunicou-se dizendo: “ Dentro de poucos dias, estará entre nós, Aquele que em nome de Deus, trará as diretrizes para o amplo exercício do amor, da conquista da felicidade e da justiça”.

 

“Eis aqui o meu servo; eu o ampararei; o meu escolhido; nele pôs a minha alma a sua complacência; sobre ele derramarei o meu espírito; ele promulgará a justiça às nações. Não clamará, não fará acepção de pessoas, nem a sua voz se ouvirá fora. Não será triste, nem turbulento, até que se estabeleça na terra a justiça”. (Isaias, XLII – 1,2 e4 – Obras Póstumas – Ed. Lake — Allan Kardec –pag.111)


 

Capítulo VI
Jesus em Qumran

 

Jhezab, agora, se via num momento de meditação, na mesma casinha rústica que o acolheu, pela primeira vez que ali esteve, no meio do trigal, quando divisou, bem ao longe, alguém de rara beleza luminosa que estava chegando. Muito rapidamente, aquela criatura esplendorosa já estava à sua frente; um homem alto, de ótima aparência, de cabelos louros, levemente crestados, caídos sobre seus ombros, barbas à moda dos nazarenos, olhos, de um profundo azul e seu nariz, elegantemente cinzelado pela nobre natureza; sua túnica, alvíssima, bailava sob o vento brando.

Estático e extasiado, o jovem Jhezab, contemplava aquela figura majestosa, luminosa, que emitia paz, harmonia e, ao mesmo tempo, reconfortante e energizante.

— Jhezab, eu sou Jesus. Desejo que me leve na presença dos responsáveis pela administração deste agradável lugar.

Jhezab, que tinha a possibilidade da vidência, via, além do homem à sua frente, via miríades de cores, a irradiar ao redor, daquela figura majestática.

— Meu jovem, compreendo a sua admiração, mas, tenha sempre consigo, que todos nós somos iguais e filhos de um mesmo Pai – Deus – em seguida, Jesus se fez, como Jhezab – agora, vamos que o tempo urge e, os instantes que correm, não teremos mais. Portanto, vamos!

Os responsáveis pela administração da comunidade, iniciados que eram, nos profundos segredos da vida do espírito, médiuns de grandes possibilidades, congregados que estavam em uma sala ampla, ao redor de uma mesa, todos em pé, aguardavam a chegada do Messias. Dentre eles, estava Babuck.

— Que a paz esteja com todos! Assim, falou Jesus, com um gesto de bênçãos.

Considerando-se alheio àquela reunião, Jhezab, pediu licença para se retirar, quando Jesus, dirigindo-se aos dirigentes: — Posso pedir para que ele fique?

Todos concordaram, especialmente Babuck, que sorrindo, solicitou que Jhezab ficasse ao seu lado.

Jesus, tomou a palavra: — Meus amigos e irmãos, digo-vos: venho a este mundo trazer o desejo do meu Pai, que também é o meu, que se destina aos afortunados, para que eles sejam isentos do orgulho e do egoísmo e, que se transformem em pessoas confiantes, humildes, pacificadoras, amorosas, solidárias, condescendentes e perdoadoras; e, aos desafortunados, além de tudo que eu desejo aos afortunado, trago-lhes mais, a mensagem de esperança e fé, em melhores dias que hão de vir.

Há dias, solitário, venho pelo deserto abrasador, como já estava escrito e, desejo permanecer algum tempo convosco, meditar e jejuar por alguns dias.

— Senhor, tomou a palavra, Jeriel – o episódio que nesse dia se concretiza, além de ser por nós esperado há muito tempo, é de todo o nosso mais puro sentimento de amor, que inunda os nossos corações de infinita felicidade e alegria. Graças a Deus, nosso Pai, que tanto nos quer bem, que tanto nos ama, nos presenteou com a vossa augusta presença física entre nós.

Jesus, fique entre nós, o quanto vos achais conveniente e, na acomodação que houverdes aprovar. Conte conosco, Jesus, Mestre Querido, Enviado de Deus, e, à vossa disposição, estaremos como coadjuvantes, para o que, a nós, designares.

Para o júbilo de Jhezab, Jesus ficou acomodado a um cômodo contíguo ao seu, o que lhe proporcionou sentir com intensidade, as emanações radiantes do Mestre. Com o dom da vidência que tinha, Jhezab, com freqüência, constatava que àquele local,, vinham Espíritos, igualmente de alto quilate confabular com Jesus.

Era o décimo dia, quando Jesus dirigiu-se a Jeriel, solicitando: — Jeriel, a hora é esta. Tenho que partir e cumprir aquilo que me compete. É necessário que se incuta em nossos irmãos, a Boa Nova. Voltarei ao deserto e depois, às margens do rio Jordão, encontrar-me-ei com João Batista, que irá me batizar, para o cumprimento das profecias e, o Espírito Santo ficará comigo. Não mais voltarei aqui, assim, estou profundamente agradecido pela acolhida que me deram; que Deus os proteja e os abençoe!

Mas há algo importante que desejo solicitar: necessito que você designe dos seus iniciados, setenta e dois, como futuramente escolherei os meus, doze, para realizarem, como eu realizarei, em favor de muitos necessitados, abençoando-os, tirando das trevas os cegos, curando doentes, aleijados e estuporados e revitalizando os mortos. Por hora, irei só, porque também, tenho outro encontro, que só a mim compete, do qual não quero me esquivar.E Jesus partiu.

 

O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o senhor consagrou-me pela unção; enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar os corações doloridos ,anunciar aos cativos a redenção, aos prisioneiros a liberdade, proclamar um ano de graças da parte do Senhor, um dia de vingança de nosso Deus; consolar todos os aflitos, dar-lhes um diadema em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de vestidos de luto, cânticos de glória em lugar de desespero. Então os chamarão as azinheiras da justiça, plantadas pelo Senhor para sua gloria”. (Bíblia Sagrada – Isaias – 61, 1 a 3)


 

Capítulo VII
As bem-aventuranças

 

Babuck e Jhezab, foram os primeiros, dos setenta e dois a irem ao encontro de Jesus em Cafarnaum, para receberem as instruções do Mestre.

Jhezab, radiante, assimilava todas as afirmativas de Jesus e, rapidamente, explicava aos galileus incultos que estavam ao seu lado, que todos deveriam arrepender-se dos seus pecados, livrando-se do egoísmo e do orgulho, serem solidários para com todos os seus semelhantes, perdoando os possíveis inimigos, pois estava perto o reino, onde só haveria paz e harmonia entre as pessoas.

Assim, foram os dias acompanhando as peregrinações de Jesus por toda a Galiléia, pregando nas sinagogas o amor e o perdão e, curando os possessos, aleijados e leprosos.

Os apóstolos, Simão, André, João e Tiago, foram os primeiros a serem convocados para a grande missão.

Numa noite, Jesus estava sentado na proa do barco de pesca de Simão, na praia, fitando o firmamento, lindamente salpicado de estrelas, disse aos seus discípulos que o rodeavam: “Há muitas moradas na casa do meu Pai”

Olhando para Babuck, Ele falou, abraçando-o ternamente: “Babuck, você será o primeiro dos setenta e dois missionários colaboradores do nosso Pai nessa grande jornada, que irá nos deixar e, pelos seus méritos, irá aplainar os nossos caminhos. Você mesmo certa vez profetizou, que não desejaria deixar esta terra, sem antes conhecer-me, pessoalmente. O seu adiantamento espiritual lhe dá a certeza de que , a vida material, não é eterna e, que a sua desenvoltura entre nós, está próxima para terminar e, todos que aqui estamos e muitos outros, — conto também comigo —, necessitaremos muita da sua ajuda, da sua bondade, dos seus préstimos no preparo do nosso acolhimento e amparo, pois de uma maneira ou de outra, seremos todos sacrificados.

— Senhor, considero, que se aproxima o momento. E estou agradecido, por Deus ter permitido, que eu conhecesse e comungasse com o seu Filho Amado por muitas vezes. Obrigado meu Deus, pela oportunidade que me deu, de sentir o perfume e halo esplendoroso do meu Mestre Jesus! Obrigado Deus! Obrigado meu Mestre! Sei que não cumpri toda incumbência que me competia nesta vida, conforme prometi e desejei, quando ainda estava para vir à esta Terra, mas, meu espírito está em contentamento por ter pousado os meus olhos carnais em Ti Senhor, Filho de Deus.

— Babuck, querido amigo, você sabe, pela longa vivência, que nos dá a mostrar por suas barbas e cabelos lindamente brancos e respeitosos, que nós não conseguimos realizar tudo aquilo que achamos ser necessário. Mas, um dia concluiremos o que pretendíamos, seja aqui mesmo ou em outro lugar, pois como já disse, “Há muitas moradas na casa do meu Pai! e, muitas vidas, aqui ou acolá viveremos.

E Jesus, carinhoso e fraternal, abraçou o velho amigo, abençoando-o e, complementou: — Ainda, amanhã, mais uma vez, iremos nos encontrar!.

Nesse dia, na alta madrugada, sem conciliar-se com o sono, Jhezab levantou e foi para a praia, com seus pensamentos ligados a Babuck. Estava desolado. Ficaria sem o amigo, companheiro, irmão de ideal, conselheiro e instrutor. Caminhando pela praia, escutando somente o marulhar das pequenas ondas das águas rasas do mar da Galiléia nos seus pés, ele ouviu:

“– Jhezab, você está emitindo emanações preocupantes. Venha aqui! Eu sei que você se apegou demasiadamente ao seu mestre Babuck. Sei perfeitamente, que isso é justificável, pois desde a sua pequena juventude até os dias de hoje, ele foi, na verdade, ele ainda é, o seu orientador, que direciona e norteia a sua vida, com muita dedicação; são amigos e companheiros. Acho muito louvável a atitude que demonstra, de respeito e estima. Ele, é uma excelente criatura, mas, é chegada a hora para que ele volte junto a outros auxiliares do nosso Pai.

Assim, como ele aqui veio e, operou por vontade de Deus, ele voltará, à vida espiritual, para também operar em nome de Deus, ajudando-nos na árdua tarefa que nos compete cumprir, se for possível concluí-la. Ainda hoje, ele verá que teremos milhares de irmãos necessitados com diversos males, vindos de muitos lugares, que aqui virão. São necessitados de todas as condições, sedentos de amor, de esperança, do balsamo consolador e carentes da saúde. Muitos receberão a graça, que aguardam e desejam com confiança, mas, alguns poucos, não a receberão, por não terem a fé necessária; outros, não a receberão, porque assim deverá ser, por seus próprios desejos ou por medida compulsória. Para Babuck, será mais uma oportunidade de trabalho, frente a esses irmãos que ele deverá atuar, mas, será a última, entre nós. Portanto Jhezab, não deixe essa oportunidade passar, e capte tudo o que Babuck irá lhe dizer, instruindo-o.

 

O sol, surgia mostrando-se no horizonte. Jesus, na companhia de alguns discípulos, foi a uma pequena elevação e, aguardou que as pessoas que para ali vinham, se acomodassem.

Então, Ele, mirou o firmamento e, só para aqueles que tinham os olhos de ver, uma imensa coluna de luz, desceu e, Jesus, erguendo os seus braços, abençoou aquela multidão e, falou, ensinando: “– Bem-aventurados os que tem um coração de pobre, porque deles é o reino dos céus! ; Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!; Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!; Bem-aventurados os corações puros, porque verão a Deus!; Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!; Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça.porque deles é o reino dos céus!; Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e, exultai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós”.

Babuck, um pouco afastado da multidão, na companhia de Jhezab, assimilava todos aqueles ensinamentos e, explicava com algum detalhe para o seu discípulo, amigo e companheiro.

— Jhezab, pobre de espírito, não é aquele que nada sabe, ou um ignorante, mas sim, o homem simples e modesto; este ganhará o reino dos Céus.

Quando Ele nos fala, sobre aqueles que choram, não quer dizer que Deus, o nosso Pai, se satisfaça com os que padecem, sofrem, choram, mas, que eles serão consolados e amparados por toda vida.

Os mansos, os de índole pacífica, meu amigo, serão aquinhoados aqui nesta terra, enquanto que os rebeldes e renitentes no mal, serão daqui descartados para outras esferas, outros mundo, evolutivamente pobres. Ele já nos disse certa vez, “que existe muitas moradas na casa do meu Pai”. Isto é, existe muitos mundos habitados por todo esse firmamento – mundos muito adiantados e mundos muito pouco adiantados como o nosso e, até piores que o nosso.

Àqueles, que tem fome e sede de justiça, Ele quer nos dizer que, os menos favorecidos na vida, os injustiçados pela justiça e pelos poderosos, se resignados e indulgentes, serão beneficiados com o amparo e o amor de Deus.

Jhezab, os que forem misericordiosos, tiverem compaixão com os companheiros ou companheiras de jornada, que promoverem atitudes e meios para minimizar os sofrimentos alheios, com qualquer tipo de ajuda, estão sendo considerados por Jesus, no patamar da misericórdia e, receberão a misericórdia do nosso Pai.

Jesus, nos disse, que se tivermos o coração puro, veremos a Deus. A título de exemplificar, Jhezab, vamos visualizar uma escada de evolução espiritual. Nós, estamos, ou só na frente da escada, ou estamos nos mantendo no primeiro degrau. Esta escada de evolução, é infinitamente extensa. Jesus está nela, sempre trabalhando e evoluindo. Portanto, para um dia chegarmos a ver o nosso Deus, milhares e milhares de vivências teremos que experimentar, para adquirirmos o coração puro, sermos benevolentes, perdoarmos quem nos ofenda, esquivarmo-nos do orgulho e do egoísmo. Não resta dúvida meu amigo, que teremos tarefas difíceis pela frente, mas não vamos esmorecer, pois uma coisa é certa: a evolução do espírito, está para todos nós, desde o maior dos facínoras até o homem ou a mulher mais evoluído. Portanto, para caminharmos com mais rapidez na direção de Deus, não há segredo, enigma ou coisas religiosas inacessíveis à razão. Sejamos simplesmente puros de sentimentos.

Quando Ele nos salienta, que os pacíficos serão chamados filhos de Deus, está fora de dúvida, que os que agem como pacificadores, que se preocupam com uma sociedade harmoniosa e que atuam na implantação da paz, fazem isso em nome de Deus, consciente ou inconscientemente, como seus herdeiros, como seus filhos. Mas Jhezab, esteja certo, que Deus, ama verdadeiramente a todos nós , os seus filhos, nos mais diversos mundos. Ninguém e, nada, está fora do sua assistência e vigilância do seu amor.

Jesus, também nos disse que o reino dos céus, será dos perseguidos por causa da justiça. Jhezab, a justiça, no momento que atravessamos, é defectível; acho, que ela continuará assim por muito tempo; mas, tenhamos esperança, que um dia, ela realmente seja exercida com elevada ética e como consequência, imparcial. Hoje ela pende os seus tentáculos portentosos para os mais abastados e poderosos, deixando os menos aquinhoados na escuridão e desprotegidos. Mas, um dia, tudo se equilibrará.

Babuck, estava ofegante, mas, continuava: “Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem por minha causa”. Aí está meu amigo, uma predição do Mestre, que dá a todos nós, seus seguidores, a certeza de que, Ele, estará sempre conosco a nos amparar, guiar e proteger.

Jhezab, vem à minha mente, como formações sucessivas, imagens, que alguns de nós, estão caminhando intimoratos, dentro de uma grande arena de um circo, e aí, testemunham que são seguidores de Jesus e, cantando, sofrem ataques de feras famintas, outros são agredidos e mortos por indivíduos animalizados, outros ainda, queimados vivos. O vermelho, tinge o piso arenoso, formando enormes poças de sangue. Mas percebo, que os espíritos dos nossos irmãos sacrificados, saem dos seus corpos retalhados, felizes e são amparados por almas luminosas.

Se isso, acontecer mesmo, meu querido, eu desejo estar lá para ajudar, se me permitir nosso bom Deus.

Naquela madrugada, Jesus, dirigiu-se ao catre, onde Babuck mantinha-se com uma respiração ofegante, cansada, e Lhe falou: — Meu amado companheiro, todos nós devemos ter a certeza de que um dia volveremos à Pátria Espiritual; nela está a nossa verdadeira vida. Você cumpriu quase tudo que prometeu ao vir para esse lugar. A sua atuação, na volta para a vida do Espírito, está reservada, junto a companheiros que você nesse momento está registrando na sua retina espiritual. Vai, meu grande amigo e colaborador e, que Deus o abençoe!.

Uma tranqüilidade se estabeleceu em Babuck, que em tempo, despediu-se do seu Grande Mestre.

— Jhezab – disse Jesus – com a dignidade que Babuck merece, providenciaremos o seu sepultamento e, agradeceremos a Deus, nosso Pai, por nos ter enviado para o nosso convívio, este Espírito de tão alto quilate, que ocupou esse corpo, cumprindo obrigações e responsabilidades importantes junto a sua comunidade, na qual, você foi um dos beneficiários.

Após, essa tarefa e dever, todos nós iremos por algumas cidades vizinhas e, em suas sinagogas, vamos proclamar aos desesperançados e aos renitentes no pecado, a palavra de Deus. E se houver necessidade, vamos orar em favor dos doentes e curá-los na medida dos seus merecimentos.

 

“Todo aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras e as pratica, eu vos mostrarei a que é semelhante. É semelhante ao homem que, edificando uma casa, cavou bem fundo e pôs os alicerces sobre a rocha. As águas transbordaram, precipitaram-se as torrentes contra aquela casa, e não a puderam abalar, porque ela estava bem construída. Mas aquele que as ouve e não as observa é semelhante a terra movediça, sem alicerces. A torrente investiu contra ela, e logo ruiu; e grande foi a ruína daquela casa”. (Bíblia Sagrada – Lucas – cap. 6 – vv. 47 a 49)


 

Capítulo VIII
Ai de vós, escribas

 

— Jhezab, já reconheci, que estão infiltrados na multidão que nos acompanha, muitos dos setenta e dois missionários, seus companheiros, que solicitei a Jeriel. Oportunamente, eu os convocarei, mas, por hora, desejo me afastar e, sozinho, quero orar e meditar.

Nas primeiras horas da manhã, convocou os doze apóstolos: Simão chamado Pedro, depois André, seu irmão, Tiago, filho de Zebedeu, e João seu irmão, Felipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, chamado o Zelador e Judas Iscariotes.

Com eles Jesus andou e, em uma planície, onde se aglomerava uma multidão, vinda da Judéia, de Jerusalém, da região marítima, de Tiro e Sidônia, Ele, curou enfermidades e livrou os desequilibrados dos espíritos imundos.

Ainda nessa oportunidade, Jesus, proferiu com severidade um sermão, advertindo os escribas e fariseus, que apegados aos ditames antigos, “olho por olho, dente por dente”, não admitiam a doutrina do Mestre Jesus, que a todo momento, proclamava o Amor. E assim, Jesus, com austeridade que a situação exigia, observou com veemência: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Vós que fechais aos homens o reino dos céus; vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar; Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Devorais as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso sereis castigados com muito maior rigor; Ai de vós escribas e fariseus hipócritas! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes, pior que vós mesmos; Ai de vós, guias de cegos! Vós dizeis: Se alguém jura pelo templo, isto não é nada; mas se jura pelo tesouro do templo, é obrigado pelo juramento. Insensatos, cegos! Qual é o maior? O ouro, ou o templo que santifica o ouro? E dizeis ainda: Se alguém jura pelo altar, não é nada; mas se jura pela oferta que está sobre ele, é obrigado. Cegos! Qual é o maior? A oferta ou o altar que santifica a oferta? Aquele que jura pelo altar, jura no mesmo tempo por tudo que está sobre ele. Aquele que jura pelo templo, jura ao mesmo tempo por Aquele que nele habita. E aquele que jura pelo céu, jura ao mesmo tempo pelo trono de Deus, e por Aquele que nele está sentado; Ai de vós escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, sem contudo deixar o restante. Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo; Ai de vós escribas e fariseus hipócritas! Limpais por fora o corpo e o prato e por dentro estais cheios de roubo e de intemperança. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do corpo e do prato, para que também o que está fora fique limpo; Ai de vós escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão. Assim também vós, por fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisias e de iniqüidade; Ai de vós escribas e fariseus hipócritas! Edificais sepulcros aos profetas, adornais os monumentos dos justos, e dizeis: Se tivésseis vivido no tempo de nossos pais, não teríamos manchado nossas mãos como eles no sangue dos profetas...” (Mateus = cap. 23 vv. 13 a 30)

 

Jhezab, ainda na sua retrospectiva, desligado que estava do seu corpo que dormia, escutava os ensinamentos e explicações do seu amigo e mestre Babuck: “– Meu caro jovem, muito rapidamente o tempo escoa e, o principal é que a palavra e o chamamento ao amor que Deus deseja que pratiquemos, seja difundido. Os obstáculos, que deverão surgir dificultando a propagação desses ensinamentos, não poderão ser causa para que desistamos dessa empreitada. Deveremos estar firmes e convictos, que a todos nós, compete cumprirmos a todo custo, até pelos sacrifícios pessoais, para que a palavra de Deus ecoa em todos os cantos desta Terra.

Jhezab, meu bom companheiro, os escribas e fariseus, se empenham unicamente, objetivando usufruir e extorquir dos menos favorecidos e ignorantes, qualquer coisa, em benefício próprio. Para alcançar os seus tentames, eles valorizam demasiadamente às práticas vãs das tradições, como as, ritualistas, o formalismo das letras e dos dogmas, afastando por completo o que é de mais puro e importante, que é o fortalecimento do vínculo espiritual e fluídico do homem, com a atmosfera divina que paira no Templo de Deus.

Jesus, meu caro amigo, nos adverte que as aparências, as posturas, os pensamentos, os gestos, sejam verdadeiramente os reflexos da nossa intimidade, e que não se represente exteriormente a bondade, tendo no íntimo, a maldade, a inveja, o orgulho, o egoísmo e outras vicissitudes.

Ele ainda nos alerta, que a misericórdia exercida em favor dos menos favorecidos, é a medida correta para que sejamos homens de bem, como foi o samaritano que teve compaixão, socorrendo um homem, por ele desconhecido, que foi assaltado e ferido por ladrões na estrada de Jerusalém a Jericó, enquanto que, um sacerdote e um levita, a este homem, não acudiram.

Jhezab, a advertência que Jesus fez aos escribas e fariseus, não destina-se somente a eles, mas a todos nós. Devemos valorizar, tanto você que está na matéria, quanto a mim, que agora estou na vida do espírito, que as coisas transitórias, as materiais, nos ajudam a evoluir, mas não têm importância capital, como tem o engrandecimento do Espírito que se ajusta ao amor, a caridade e a solidariedade incondicional.

Pela primeira vez, Mirtes, atenta que estava, aos ensinos de Babuck, com sua beleza e candura, se manifestou: “Jhezab, o Amor é paciente, bondoso, generoso, humilde, delicado, tolerante, inocente, sincero, jamais é egoísta e nem orgulhoso”.

 

“Testemunhais assim contra vós mesmos que sois de fato os filhos dos assassinos dos profetas. Acabai, pois, de encher a medida de vossos pais. Serpentes! Raça de víboras! Como escapareis ao castigo do inferno? Vede, eu vos envio profetas, sábios, doutores. Matareis e crucificareis uns e açoitareis outros nas vossas sinagogas. Persegui-los-eis de cidade em cidade, para que caia sobre vós todos o sangue inocente derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem mataste entre o templo e o altar. Em verdade vos digo, todos esses crimes pesam sobre esta raça. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas... e tu não quiseste! Pois bem, a vossa casa vos é deixada em diante. Porque eu vos digo: Já não me vereis de hoje em diante, até que digais: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor” (Bíblia Sagrada – Mateus cap. 23 vv. 31 a 39)


 

Capítulo IX
O homem de bem

 

Em continuação, o espírito de Jhezab olhava e sentia firmemente as seqüência das cenas da regressão à qual se submetia.

Jesus caminhava, mas, parecia mesmo que flutuava.

Um leproso o abordou a certo momento e, humildemente, foi dizendo: “Senhor, se queres podes curar-me”. O Mestre, piedosamente vendo aquele homem prostrado em sua frente, respondeu incisivamente: “Eu quero, sê curado”

E no mesmo instante, as chagas desapareceram.

Numa outra oportunidade, em Cafarnaum, aproximou-se de Jesus, um centurião, fazendo-Lhe uma sentida súplica: “Senhor, meu servo está em casa, de cama, paralítico, e sofre muito”

Disse-lhe Jesus: “Eu irei e o curarei”.

Respondeu, o centurião: “Senhor, eu não sou digno que entreis na minha casa. Dizei uma só palavra, e o meu servo será curado. Pois eu também sou um subordinado e tenho soldados às minhas ordens. Eu digo a um: Vai e ele vai; a outro, vem, e ele vem; e a meu servo: Faze isto, e ele o faz “.

Jesus, ouvindo-o, virou-se aos que O seguiam e disse: “Não encontrei semelhante fé em ninguém em Israel...Vai, seja-te feito conforme a tua fé ”.

Outra cena é mostrada a Jhezab: dentro de uma sinagoga, estava um homem possuído por um demônio imundo, que direcionou sua exclamação a Jesus: “Que tens tu conosco Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: O santo de Deus!”.

Mas Jesus intimou-o dizendo: “ Cala-te e sai deste homem”

O espírito imundo agitou-o violentamente, dando um forte grito e saiu.

O jovem Jhezab, ainda com o amparo de Mirtes e de Babuck, continuou vendo as cenas. Agora, presenciando, a cura do homem que tinha a mão seca, depois, a cura da filha de Jairo, a cura da mulher com fluxo de sangue, a cura de vários cegos, mudos e surdos.

Em outro momento, próximo ao dia da Páscoa, festa dos judeus, vendo a grande multidão que O acompanhava, Jesus, operou a primeira multiplicação de cinco pães e de dois peixes, saciando a fome e mais de cinco mil pessoas.

Ainda em estado regressivo, Jhezab, ouviu Babuck, a lhe dizer: — Os feitos de Jesus foram extraordinariamente muito expressivos. Em virtude dos incomensuráveis dotes espirituais, que não temos condições de avaliar, o nosso Mestre, movimentou com a força do seu pensamento, recursos fluídicos e, pelo veio da vontade firme , da confiança, da fé, Ele, agiu produzindo alimentos, saciando a fome, e depois, curando.

Então, Jhezab, a lição que devemos tirar dessas atuações de Jesus, é que o pensamento direcionado para as atuações benéficas, surtem efeitos grandiosos, e isso, também, está afeito a todos nós, desde que atuemos sempre como homens de bem; homens de bem, realmente vinculados nas leis de justiça e de amor. O Homem de bem é justo, age de forma abrangente, independente de raças ou crenças, por entender que todos nós, somos irmãos e filhos de Deus.O homem de bem, atua com bondade, urbanidade e benevolência. Não cultiva, no seu coração, para despejar sobre seu semelhante, o ódio, o rancor ou o desejo de vingança; ele, perdoa, esquece as ofensas, é tolerante para com as fraquezas alheias, reconhece as suas fragilidades e suas imperfeições, não se envaidece e aceita o seu próximo como ele o é.

Se atuarmos, dessa forma, meu amigo, com certeza, teremos condições de sermos úteis à sociedade na qual vivenciamos. Isso meu caro, tanto vale para o plano físico, como também, para o plano espiritual, no qual, me localizo.

 

“Porque esta é a vontade de Deus que, praticando o bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos. Comportai-vos como homens livres, e não à maneira dos que tomam a liberdade como véu para encobrir a malícia, mas vivendo como servos de Deus. Sêde educados para com todos, amai os irmãos, temei a Deus, respeitai o rei” (Primeira Epístola de Pedro – 2. 15 a 17 – Bíblia Sagrada)


 

Capítulo X
O suplício de Jesus

 

Jhezab, começou a ficar agitado.

— Mirtes – indagou ele – você me disse do porquê, tenho que me submeter a isso?

— Não. Eu não lhe disse. Só lhe falei que a certo momento você saberia. É meu desejo que você mesmo identifique essa situação, que creio, será de grande aprendizado.

— Quando será esse momento! Você não acha que está demorando demais? Eu quero, o quanto antes, cuidar do meu corpo que está doente!

— Meu caro protegido, para o seu bem, é melhor que tenha um pouco mais de paciência. Não ponha tudo a perder. Arguiu Mirtes, advertindo-o.

Acalmando-se, Jhezab, volta ao estado regressivo, e mais quadros formam-se na sua mente.

Caminhando pela Galiléia, Jesus, acompanhado pelos doze apóstolos e alguns dos setenta e dois missionários, faz a seguinte afirmação: “Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte. E o entregarão aos pagãos para ser exposto às suas zombarias, açoitado e crucificado; mas ao terceiro dia ressuscitará”.

Ouvindo aquela afirmação do seu Querido Mestre Jesus, Jhezab, não se conformou. Não conseguia compreender como tal fato poderia acontecer de tão desastroso, contra uma pessoa que só proclamava o amor, a paz, a concórdia, a solidariedade, o perdão, a esperança de dias melhores e, que curava os mais diversos males do corpo e do espírito. Na mente de Jhezab, não pairava outra coisa, senão uma convicção robusta de que Jesus era todo constituído pelo Amor de Deus. Assim, resolveu dirigir-se a Ele e, expressar a sua indignação e revolta, quando o Mestre, captando os seus pensamentos, levantou-se e, olhando firmemente para Jhezab, o admoestou somente com um olhar, impedindo uma possível manifestação do jovem missionário.

Ainda na tela mental de Jhezab, os quadros se sucediam e, ele se viu: sendo convocado por Jesus, juntamente com um outro, para tomar emprestado uma jumenta e sua cria; quando Jesus ordenou que os comerciantes deixassem o Templo; quando o apóstolo, Judas Iscariotes beijou Jesus e, em seguida, este, foi preso.

 

“Ainda falava, quando chegou Judas Iscariotes, um dos Doze, e com ele um bando armado de espadas e cacetes, enviado pelos sumos sacerdotes, escribas e anciãos. Ora, o traidor tinha lhes dado o seguinte sinal: Aquele a que eu beijar, é ele; prendei-o e levai-o com cuidado. Assim que ele se aproximou de Jesus, disse: “Rabi”, e o beijou. Lançaram-lhe as mãos e o prenderam” (Marcos .14 vv 43 e 44 – Bíblia Sagrada)

 

Outra cena, muito expressiva e muito triste foi mostrada: No meio da multidão enlouquecida, Jhezab, com medo, que tomava todo o seu ser, presenciava paralisado o castigo que os truculentos guardas, covardemente, impunham a Jesus, vibrando o látego, com várias tiras de extremidades metálicas, que feriam profundamente o corpo, já extenuado do Mestre.. O sangue de Jesus, tingia o piso empedrado.

A ponto de enlouquecer, de ver tamanha atrocidade, e sem coragem para movimentar qualquer ato em favor daquele Homem Bondade, que muito amava, Jhezab, via-se chorando copiosamente, compadecido com a violenta dor que Jesus demonstrava.

A certo instante daquele horrível espetáculo, Jhezab, sente o seu rosto ser atingido por algo , que identificou como sendo um pedaço do flagelado corpo de Jesus, que estava sendo lentamente assassinado. Tomando-o, em suas mãos, aquela “parte do corpo de Jesus”, que se desprendeu de um azorrague que fustigava o Mestre, Jhezab, sentiu uma forte vibração, levou-a contra seu peito aquela relíquia, e guardou-a.

Ainda, em sequência, mais algumas cenas. A cada cravo que era introduzido, pregando Jesus no madeiro, Maria, mãe de Jesus, sentia como se fosse uma punhalada em seu coração e, se revoltava: “Filho Amado, com tamanho sofrimento a que se submete, custa-me acreditar que essa sua agonia, enormemente dolorosa, já pudesse estar escrita, e que o Enviado de Deus, teria que sofrer, ser violentado, rudemente castigado no seu corpo, na sua dignidade, por atos de covardia das autoridades, dos príncipes e dos sacerdotes, incitado por uma multidão insana, para morrer, à qual, você só desejou ajudá-la e instruí-la, direcionando-a para o caminho do bem e do amor”.

Jesus, estava sendo crucificado, entre dois ladrões.

Maria, sua mãe, Maria, mulher de Cleofas, Maria Madalena e João, o único apóstolo presente, mediante aquele martírio, estavam todos abatidos pela dor que pungia os seus corações.

Agora, Jhezab, se viu saindo do meio daquele multidão, temeroso da possibilidade de ser abordado e também preso pelos guardas que gritavam: “Vamos prender mais alguns deles e enforcá-los, pois assim, o reinado deste Jesus se extinguirá para sempre”. Correndo, desabaladamente, cansado, se escondeu em um pequeno e estreito beco. O pânico,tomava conta de todo o seu ser. De repente, o lugar ficou completamente escuro como breu, e o céu ribombava; faíscas de fogo precipitavam e chovia abundantemente.

Pelo barulho e pela respiração ofegante, notou que alguém mais dividia com ele aquele lugar. Mas, ainda com muito medo, não desejou saber quem era e o do porquê, para ali, aquele individuo foi se ocultar.

 

”Eis que vem a hora, e ela veio, em que series espalhados, cada um para o seu lado, e me deixareis sozinho. Mas não estou só, porque o Pai está comigo” (João – 16 vv 32 – Bíblia Sagrada)


 

Segunda Parte


 

Capítulo I
O despertar da regressão

 

— Jhezab, o que de real importância que deveria ser mostrado nessa retrospectiva, aconteceu.

Portanto, agora, você deverá reanimar novamente o seu corpo, que lá está.

— Mirtes, meu bom anjo, eu poderia pedir para que você me ajudasse...

Não deixando ele terminar a frase, Mirtes, acrescentou: — Meu caro protegido, você se esqueceu que foi um dos escolhidos pelo nosso Mestre, para se compor aos setenta e dois?

Você assim como outros, têm uma ou várias missões a cumprir. Assim sendo, norteie as suas responsabilidades para os objetivos a que foi convocado, no entanto, você tem a livre escolha. Deus, não nos obriga a fazermos aquilo que não desejamos. Está somente em você a decisão de continuar a ser um dos missionários de Jesus.

Da minha parte, meu caro, quero que saiba: se você desistir, que neste caso, é o mesmo que desertar, abandonando o trabalho de difusão da Boa Nova, que nada mais é do que a propagação do Amor de Deus para conosco, ficarei muito decepcionada com o seu proceder, porque, na verdade, isso será fugir dos seus próprios desejos, da sua própria vontade.

Como espírito, você não se lembra, mas, antes de nascer nos arredores de Hebron, a sua vontade, até obstinada, se assim posso me expressar, você pediu para ser um dos auxiliares na propagação da Lei do Amor, que seria implementada por Jesus.

Todavia, seja o que for que decidir, estarei sempre ao seu lado.

O sol quente, banhava o seu rosto e, Jhezab, despertou. Sentiu fome e sede. Para a sua imensa surpresa, um pão, uma porção de favo, uma bilha d’água e uma túnica limpa, e também, uma par de alpercata, estavam dispensadas ao seu lado. Surpreendendo-se, ainda mais, notou que os seus ferimentos estavam todos cicatrizados.

Jhezab, ajoelhou-se e, orou: “Deus de bondade infinita! Perdoe esse seu filho, que não teve forças, equilíbrio e coragem, para sequer, emitir uma só palavra de protesto em favor do seu Filho Amado; rogo o seu perdão, meu Deus, porque fui covarde e egoísta, anulando-me no meio da multidão, diante do bárbaro sofrimento a que se submetia o meu Grande Mestre Jesus. Fui, verdadeiramente, um covarde, naquele momento pungente. Nem mesmo, tive uma palavra de conforto, solidarizando-me com a Senhora Mãe de Jesus, que se abatia, presenciando a fustigação que sofria Jesus, sendo maltratado, xingado, cuspido e açoitado com violência; me perdoe Mestre Querido Jesus, se agi como um pusilânime! Dá-me o perdão, Deus, embora, neste instante, avalio, que nem para isso tenho direito e merecimento de pedir!”

Jhezab, prostrado, em um certo momento, ouviu: “– Meu querido menino, todos nós, queiramos ou não, até o mais voraz facínora, somos filhos de Deus e estamos sob a sua tutela diuturnamente. Até mesmo aquele irmão, Judas Iscariotes, que traiu Jesus, com um gesto, que todos nós consideramos sublime; um beijo. Judas, avaliando o péssimo resultado do seu gesto, atormentado, suicidou-se e, agora, está sendo amparado e protegido com muito amor, por nosso Pai”.

Com sua vidência, que era bem desenvolvida, Jhezab, viu Babuck em toda a sua plenitude luminosa. Envergonhado, pediu perdão ao seu mestre, por ter sido um fraco.

“– Jhezab, não vamos querer contar os grãos de areia de uma tempestade que já passou. Estamos agora, em um momento que requer o nosso maior esforço e união. E esse momento, é a oportunidade que temos de provar a nós mesmos, que abraçamos com convicção a Doutrina de Amor inaugurada por nosso Querido Jesus. Acho que agora, você já tem conhecimento do porquê a sua protetora, Mirtes, o acompanhou naquela regressão”.

— Sim, já tenho! Ninguém, para o meu futuro, terá forças e poder suficiente, que sejam, quais rudes forem, para demover a minha convicção de agir e acreditar na Doutrina de Amor propalada por nosso querido Mestre Jesus. Com destemor, serei um arauto, propagando em todas as plagas, o Amor e o perdão, virtudes sublimes e, combatendo, o egoísmo e orgulho, verdadeiras chagas que destroem e corrompem a sociedade.

Desejo também, nessa oportunidade, agradecer a cura dos meus ferimentos, os alimentos, a túnica e a sandália.

“— Eu – disse Babuck — não tenho mérito nenhum nessas providências. Ande por aí, que deverá encontrar alguém caridoso, que por isso foi responsável”.

Como se estivesse sendo guiado, Jhezab, caminhou numa direção, certo de que iria encontrar aquele benfeitor. Era Benatan, o seu professor de meditação.

— Meu bom aluno, não vamos perder tempo com agradecimentos a mim, que não os mereço.

Atrás dessa mole, há um pequeno reservatório de água. Lave-se e vista-se. A noite não demora a chegar. Temos que encontrar uma caravana que, não muito longe daqui, está acampada, na qual, você irá se compor e, irá voltar para Jerusalém.

Lembrando-se do acontecido, quando da flagelação de Jesus, Jhezab, pegou aquele “pedacinho de Jesus”, que trazia consigo com muito zelo, acondicionou-o em uma das dobras da sua nova túnica, sem antes, mostrar e dizer ao seu professor, de como aquela relíquia estava na sua posse.../p>

Benatan, tomou em suas mãos, aquela relíquia divina, sentiu uma vibração energética revigorante e, de olhos cerrados, ficou por algum tempo e, disse: — Veja só, meu bom aluno, como Jesus deseja, por seu intermédio, promover o bem; Ele, quer que você se incorpore, verdadeiramente, com todas as suas forças interiores e, intimorato, seja, sem receio, com convicção, mais um fiel arauto da sua Doutrina de Amor. Com essa atuação, meu querido aluno, você terá condições de proporcionar a muitos o entendimento do amor, da solidariedade, da fraternidade, da comiseração, enfim, promoverá benefícios a muitos, como também, si próprio.

Jesus nos disse: “Quem vos ouve, a mim ouve; e que vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou”.

E nos disse mais, para que estivéssemos sempre convictos: “— Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores... Tudo que pedires ao Pai em meu nome, vo-lo farei...”

Portanto, vamos agir, e espalhar a sua Doutrina, que também é nossa. O tempo que temos, é escasso; vamos cumprir o trabalho que está sendo determinado para ser realizado. Não nos é permitido vacilarmos.

— Professor, gostaria de ter o senhor junto a mim.

— Eu também meu caro, gostaria de ter a sua companhia, mas, a minha missão, como determinação que recebi, será ir na direção do oriente, além do Jordão.

 

“167 – Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os Espíritos. Há os que gozam desta faculdade no estado normal, quanto estão perfeitamente acordados e dela conservam uma lembrança exata; (...) O médium vidente julga ver pelos olhos, como aqueles que têm a dupla vista; mas na realidade é a alma que vê, e é essa a razão pela qual eles vêem tanto com os olhos abertos como com eles fechado; donde se conclui que um cego pode ver os Espíritos como aquele que tem a vista boa(...) (O Livro dos Médiuns)

“843: O homem tem livre arbítrio nos seus atos?

— Pois se tem liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livre arbítrio o homem seria uma máquina.” (O Livro dos Espíritos)


 

Capítulo II
Divulgação da Doutrina

 

Jhezab, juntamente, com outros pares, sob a direção de Pedro, se reuniram para fixarem objetivos presentes e futuros, para a divulgação, a todos os povos, da Doutrina de Jesus.

Mas, chamou à atenção de Pedro, a uma certa anulação que Jhezab se submetia, e interpelou-o.

— Jhezab, eu sinto no meu íntimo e que me vem à mente, um quadro muito expressivo, quando você declara: “que ninguém iria demovê-lo da sua convicção de ser um arauto da Doutrina de Amor propalada por nosso Mestre”. Você se recorda disso tudo?

— Sim

— Então, porque esse abatimento? Você está se lembrando daquelas cenas horríveis do passado. Não está?

Aquilo tudo, meu menino, realmente foi muito triste e, muitos se lembrarão, que nós falhamos. Mas, assim deveria ser, senão, não estaríamos aqui, agora, convictos que deveremos levar adiante as notícias da Boa Nova, do amor universal de Deus para com todos os povos, que nos foi ensina por Jesus.

Cada um de nós, teve a advertência totalmente baseada no Amor, no que correspondeu, em decorrência dos nossos atos, que considero, terem sido infelizes, mesquinhos, egoístas, que a história por toda a sua eternidade manterá em seus registros. Eu, cheguei a afirmar: “Eu nem conheço esse homem!”. Mas, tanto você, quanto eu, nos arrependemos e fomos perdoados por nosso Raboni – disse Pedro,

E continuou Pedro: — Numa certa oportunidade, nós seguíamos o Mestre. Estávamos com medo e perturbados, quando Ele, nos chamou a atenção, e disse: “Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte. E o entregarão aos pagãos para ser exposto às suas zombarias, açoitado e crucificado; mas, ao terceiro dia ressuscitará”.

Nós, seus seguidores – você também estava presente – não compreendemos. As palavras de Jesus, eram enigmáticas para nós. Mas, como Ele mesmo, previu, não somente uma vez, mas por quatro vezes, isso nos foi dito, e realmente, aconteceu” Nós não tínhamos condições de mudar nada!. Já estava escrito no céu, que seria dessa maneira que nós perderíamos Jesus aqui na Terra. Mas, é bom lembrarmos do ensinamento que Ele nos deixou: “Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão” É isso que devemos fazer: propagar as palavras de Jesus; palavras de Amor!

Então, Jhezab, trate de levantar o seu ânimo, porque nós necessitaremos de todos os setenta e dois missionários que Ele convocou, inclusive, Babuck, que deve estar nos orientando também, espiritualmente, para que levemos a Boa Nova a todos. Você se lembra quando Ele nos falou sobre o semeador de sementes? Nós meu amigo, é que teremos que fazer o trabalho de semeadores dos seus ensinos para todos, indistintamente, quer aceitem ou não, quer estejam receptivos ou não. Esses ensinos, se encadeiam com outro, quando nos disse: “Ninguém acende uma candeia para pô-la debaixo do alqueire; põe-na, ao contrário, sobre o candeeiro, a fim de iluminar a todos os que estão na casa”. Portanto, é nosso dever estarmos a pleno do nosso bom ânimo, para propagarmos a Doutrina de Amor do nosso Querido Mestre, pois, tudo o que Ele nos ofereceu, instruindo-nos para a prática da benevolência, devemos fazer com que a luz desses ensinamentos, seja como nossa candeia, vamos erguê-la, como na parábola, para que ilumine a muitos milhares e milhares de irmãos. Deus ainda, por Jesus, nos deu o poder da cura; podemos curar diversos males e expulsar os espíritos perseguidores.

Jhezab, estas são as nossas obrigações, vamos, portanto, ao trabalho e cumprir a nossa missão!

Após, chamar a atenção do jovem missionário, Pedro dirigiu-se a todos: “Meus irmãos, Jesus, nos legou a responsabilidade de levarmos ao mundo os seus ensinamentos. É de suma importância que estejamos todos, convictos, e que a custo, até das nossas vidas, estejamos investidos como mensageiros da Doutrina de Amor. Devemos estar certos que em todos os lugares que estivermos agindo com amor, em favor dos desvalidos de toda ordem, Ele, estará conosco.

O profeta Joel, profetizou: “ Que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo; Vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos e vossos jovens terão visões; naqueles dias, derramarei também o meu Espírito sobre os escravos e as escravas; farei aparecer prodígios no céu e na terra, sangue, fogo e turbilhões de fumo; o sol converter-se-á em trevas e a lua, em sangue, ao se aproximar o grandioso e temível dia do Senhor, mas todo que invocar o nome do Senhor será poupado, porque, sobre o monte Sião e em Jerusalém, haverá um resto, como o Senhor disse; e entre os sobreviventes estarão os que o Senhor tiver chamado.”

Meus irmãos — continuou Pedro — Jesus de Nazaré, o nosso Mestre, o fiel interprete de Deus, Nosso Pai, que operou prodígios, os quais, muitos que aqui estão, presenciaram, e que nos ensinou a Doutrina de Amor, não foi compreendido pelos sacerdotes, príncipes e escribas e, também, pelo povo em geral. Ele, foi cruelmente morto, mas, por ordem de Deus, ressuscitou, partindo os grilhões da morte.

Todos nós somos filhos de Deus, com amplas condições de sermos úteis à sociedade, como um todo. Para isso mesmo, com os reveses da vida, devemos ter sempre o ânimo de perdoar, como Ele mesmo nos disse, conforme dito por João, que testemunhou, naquela hora de agonia do nosso Mestre: “Pai, perdoai porque eles não sabem o que fazem”.

A assembléia constituía-se de mais de três mil pessoas, e todos, sem exceção, abraçaram a Doutrina de Jesus.

João, tomou a palavra e disse: Meus amigos, o que Jesus quer nos revelar e que realmente entendamos, é que no centro dos seus ensinamentos, está o Amor. Ele, está de braços abertos, mostrando-nos toda a luminosidade do seu Espírito e, falando a cada um de nós, que é na prática efetiva do Amor, que seremos conhecidos e reconhecidos no olhar de Deus. Não resta dúvida, que todos nós temos limitações, temos ainda dificuldades, mas o que conta em nosso favor, é o esforço da nossa parte para promovermos as mudanças, e sermos considerados homens e mulheres de bem. Então vamos fazer como Jesus disse e, que é importante que se repita: “Ninguém acende uma candeia para pô-la debaixo do alqueire; põe-na, ao contrário, sobre o candeeiro, fim de que ilumine a todos os que estão na casa.” É assim meus irmãos, que devemos de ora em diante proceder, espalhando a todos, os benefícios do Amor.

Retomando a palavra, Pedro, afirmou: Sabemos todos que é muito difícil lidarmos com situações desarmonizadoras, mas devemos nos dedicar com afinco, com determinação, para estarmos bem equilibrados nessas ocasiões e, nas ocasiões cruciantes. Jesus, certa vez me disse: “Perdoe, não sete vezes, mas, setenta vezes, sete vezes”. Esse, meus irmãos e minhas irmãs, é um chamamento para um perdoar eterno!; um perdoar, sempre! Então, vamos estar atentos sempre a esse ensinamento, em qualquer situação das nossas vidas.

 

“Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse sem outro móvel, senão a caridade!(...) Vinde a mim, vós que sois bons servidores(...)” (Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XX – O Espírito de Verdade – 1862)

 

“Marcha, pois, avante, falange imponente pela tua fé!. Diante de ti os grandes batalhões dos incrédulos se dissiparão, como a bruma da manhã aos primeiros raios do sol nascente”.

(...)” Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XX – Erastos – Paris 1863)


 

Capítulo III
Festa da Messe

 

Festa da Messe – dia de Pentecostes.

Pedro, reuniu novamente os companheiros de apostolado, e mais Matias, recém-incorporado aos onze apóstolos e, lhes disse: — Meus irmãos, volto-me a vocês, com humildade, na certeza de estar cumprindo o melhor, conforme me foi legado por Jesus – “Pedro, apascenta as minhas ovelhas”.

É meu dever, portanto, esforçar-me para concretizar o seu desejo, pois temos que estar unidos e preparados para o futuro, que eu, assim como muitos de vocês já atinaram, está bem próximo e que muitas dificuldades se agigantarão em nossos horizontes.

Meus irmãos, considerando que ainda somos vacilantes, vamos nos unir em pensamento e rogar o amparo e a orientação de Jesus, para que tenhamos o equilíbrio necessário, a fim de que, enfrentemos os obstáculos que se opuserem a nós, com denodo e amor. Vamos visualizar, então, a figura amorável do admirável Peregrino de Amor e de Bondade, Jesus, que carinhosa e pacientemente nos ensinou e ainda nos ensina.

Repentinamente, em seguida a essas palavras de Pedro, uma forte rajada de vento, movimentou-se em torno deles, alterando-se, para como que fossem, línguas de fogo, pousando sobre todas as cabeças dos apóstolos e dos missionários que ali se encontravam e, todos, inclusive, Palmira, originária de Antioquia, que a pouco havia se incorporado aos setenta e dois, foram ungidos, e começaram a falar em línguas por eles desconhecidas.

Assim, com a possibilidade de falarem diversas línguas, divulgaram as palavras de Jesus, a todos os estrangeiros que afluíam a Jerusalém, no dia de Pentescostes.

Nesse dia memorável, onde os benefícios e as benesses de Deus, proporcionadas aos trabalhadores do bem, através da atuação de Jesus, milhares e milhares de criaturas assimilaram a Doutrina de Amor e do Perdão.

Dias após muitas reuniões dos primeiros seguidores de Jesus, foram realizadas, sendo que, em uma delas, o Mestre se apresentou: “— A paz esteja convosco!”.

Maravilhados com aquela aparição inesperada e exuberante, embora, por todos desejada, eles ficaram estupefatos, mas, adoraram vê-Lo, radiante e sorrindo. Alguns, mesmo diante aquela realidade, hesitaram em acreditar, que este seria o Mestre; dentre eles, Tomé, também chamado Didimo, que teve oportunidade de constatar, que aquele, era Jesus.

Jesus, em mais essa ocasião, lhes falou:”— Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”.

Após, ainda maravilhados com a aparição, Pedro, com a autoridade que lhe foi concedida, disse aos seus iguais: — Ordena-me o pensamento, para que nós nos espalhemos em um ou dois pares e, comecemos imediatamente, com muito mais empenho e credulidade, irmos propagar os ditames da Boa Nova, pois, os tempos de muitas agruras, estão próximos.

— Jhezab, querido amigo, tenho uma missão especial para você cumprir. Sente-se aqui ao meu lado – disse Pedro. Em seguida, fez um sinal para Palmira, para que também ela fosse alertada.

Inicialmente, dirigindo-se a ela: — Cara e corajosa companheira de ideal em Jesus. Sou a primeira testemunha da sua conversão, acolhendo com fervor a Doutrina de Amor proclamada pelo Filho Amado de Deus. Tenho absoluta certeza, que Ele, com suas bênçãos, cobre e cobrirá sempre as suas intenções.

Minha querida jovem, manifesta-se no meu pensamento para lhe dizer, o qual espero a sua anuência, pois, o intuito é somente para preservá-la, assim como a Jhezab, pelo menos por esse quadrante que estamos a passar, que vai ser difícil.

Pois bem. É meu desejo que você regresse para a sua pátria, e lá, no ambiente familiar, gradativamente exponha o nosso ideal e, divulgue o amor, o perdão, a solidariedade, a caridade, a fé e a esperança. E com gradação ponha o seu dom de curar, àqueles que necessitam.

Outra coisa importante, que faz com que eu desejo que volte: Jesus, nos ensinou, que devemos honrar pai e mãe. Isso, cara companheira, com entendimento desdobrado, quer dizer: respeitá-los, estimá-los, protegê-los e amá-los; é também, ampará-los com desvelo, como eles, conosco, fizeram o mesmo, desde a nossa tenra idade até quando, ao nosso lado conviveram. Tenho certeza, Palmira, conhecendo a sua impecável e alta qualidade moral, os seus pais, estão tristonhos por não tê-la por perto. Sendo você, a única descendente, lhe compete, com o robusto amor que tem no seu coração, que esteja sempre próxima para assisti-los.

Querida amiga, você vai juntamente com Jhezab, jovem também de muitas qualidades e de grande possibilidades espirituais, plantar a primeira semente da Boa Nova em Antioquia. Prevejo queridos companheiros que aquele povo num futuro bem próximo, comungará também conosco.

Palmira, como ja lhe disse, mas infelizmente tenho que afirmar, o nosso horizonte aqui, vai ficar tenebroso.

— Jhezab, confio em você a guarda e proteção da nossa companheira nessa viagem que é longa e cansativa. Faça um planejamento, o quanto antes e ponham-se a caminho. Que Deus os proteja e abençoe!

Ela, ouviu atentamente as argumentações e aquiesceu, assim como, Jhezab.

Naquela noite, pouco antes de se acomodar para dormir, Jhezab, em oração, sentiu a aproximação de Babuck e, vendo-o, admirou-se mais uma vez com a luminosidade do seu amigo professor, que lhe falou:

— Jhezab, você fez muito bem em aceitar as ponderações de Pedro, no entanto, você não questionou se teria que ficar por lá definitivamente. Na minha opinião visualizando as circunstâncias atuais, eu o aconselho que fique por lá, pois, admito que o trabalho naquela seara, deve ser amplo e profícuo. Como você sabe, tudo o que lhe digo é como uma sugestão, nunca é uma ordem. É do seu entendimento que, cada um cumpre o que de melhor lhe aprouver.

Desejo lhe dizer também, que Deus, com toda a sua sabedoria e poder, nos deu Jesus como nosso Excelso Protetor. É importante, então, que tenhamos a fé inabalável em tudo aquilo que Ele nos fez ver e sentir , quando nos disse: “Ide pois ensinar a todas as nações”. Assim meu querido jovem missionário, é a oportunidade que está se revelando, cabendo a você, com humildade, ensinar e praticar esses ensinamentos, também, com o seu exemplo de homem de bem.

 

“(...) Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados. Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos discípulos, a mansidão aos tiranos domésticos, como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o sei mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde tendes que semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes de enxada e da charrua evangélica. Ide e pregai!” (Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XX – 4 – Erasto – Paris 1863)


 

Capítulo IV
Em Antioquia

 

Passados alguns dias, já preparados para a longa viagem, Palmira e Jhezab, se juntaram aos caravaneiros mercadores, com destino a Antioquia, bela capital dos reis Selêucidas.

A viagem foi longa, monótona e cansativa. O calor abrasador reinava durante o dia e, à noite, a temperatura, caia bastante. Ainda assim, por muitos dias, Palmira, se mostrava feliz, pois estava voltando para junto ao seio familiar; estava sempre cantarolando, alegrando os companheiros de viagem.

A jornada foi concluída, sem nenhum incidente sério, somente Palmira, um dia antes de chegar ao final da viagem, foi acometida de um forte abatimento e febre bem alta.

Em Antioquia, ela foi recebida por parentes e amigos, com muita festa.

— Filha querida, nós não víamos o dia em que você estivesse novamente conosco, para encher os nossos corações de muito amor. Com constância. Nós sonhávamos com você, entrando por esse portal, alegre, feliz, radiante, cantando canções de amor, alegrando os nossos corações. Você, querida filha, está nos trazendo novamente à vida plena. Somos muito gratos pela sua compreensão de voltar ao aconchego do seu lar. Querida filha, você é o nosso grande tesouro!

— Papai e mamãe, espero que tenham recebido a carta que lhes enviei, justificando a minha permanência em Israel. O chamamento que recebi, calou fundo do meu entendimento, que resolvi me agrupar com muitos, que pretendiam trabalhar em favor da divulgação de uma nova doutrina, baseada, principalmente no amor fraterno e amigo, e no perdão.

Isso, tomava toda a minha vontade. Não desejava outra coisa, senão ser útil nessa divulgação. No entanto, certo dia, tenho certeza que foi por obra de Deus, eu aquiesci a um pedido baseado no amor e na união familiar. Com as argumentações, que me foram oferecidas a meditar, compreendi, que o que me foi dito com autoridade – Honra o teu pai e a tua mãe —, surtiu um efeito enorme dentro de mim, e , aqui estou para compartilhar com todos, a minha alegria, de novamente, encaminharmos as nossas vidas baseadas na união familiar coroada na compreensão, carinho, atenção, fraternidade, sinceridade, na fé e no amor

 

“Honra eu pai e a tua mãe, como te mandou o Senhor, para que se prolonguem teus dias e prosperes na terra que te deu o Senhor teu Deus” (Bíblia Sagrada – Deuteronômio – 5 vv 16)

 

Ao concluir, Palmira, titubeia e, se não fosse os braços fortes de Jhezab, teria caído. Recolhida, aos seus aposentos, desacordada e com febre, imediatamente, um esculápio veio assisti-la, mas, não soube diagnosticar o mal, receitando somente, suco das folhas de salgueiro, para abaixar a febre.

Mas Palmira, continuava ainda muito mal.

Jhezab, estava desolado, triste e decepcionado com a vida. Constatou os dois extremos da vida: a alegria imensa das pessoas, que novamente se uniram e, imediatamente, uma nuvem triste e doentia que se abateu sobre essas mesmas pessoas.

Convidado que foi para hospedar-se, recolheu-se, cansado e entristecido com a situação dolorosa que estava se agigantando sobre a linda jovem, Jhezab, recostou-se e orou, rogando para Deus, através de Jesus, um bálsamo curador em favor da sua companheira de ideal, que estava sem perspectiva de melhora e, mergulhou num sono profundo. Em alta madrugada, acordou sobressaltado e chorando; lembrou-se do estado doentio de Palmira e de um sonho, cujas cenas, realmente tinha presenciado: Sonhou que Jesus estava sendo surrado violentamente de forma inclemente. Visualizava o seu Mestre completamente extenuado, com o vibrar do látego no seu corpo, quando um pequeno pedaço da carne de Jesus, desprendeu-se do azorrague, atingindo o seu rosto.

Jhezab, lembrou-se perfeitamente do martírio que assistiu, quando os guardas açoitavam o corpo de Jesus, dilacerando sem dó e sem piedade, as costas do Enviado de Deus, que já se apresentava como só, uma enorme ferida e, o sangue, escorria em abundância.

Pôs-se em pé e, lembrou-se que havia guardado aquela relíquia – pequeno pedaço do corpo de Jesus – em uma das dobras da sua túnica. Sob a luz bruxuleante de uma candeia, surpreso, verificou que a gola da sua túnica, tinha uma pequena mancha de sangue. Imediatamente, promoveu a descostura da gola e, tomou na mão aquele “pedaçinho de Jesus”e, no seu pensamento se estampou a figura radiosa do Mestre e, com todo cuidado, sem fazer qualquer barulho, dirigiu-se ao quarto de Palmira e, colocou na testa dela, aquela relíquia, prostrou-se ao seu lado e orou fervorosamente: “Jesus, amigo e Mestre de bondade e de amor, opere Senhor, em favor dessa jovem, sua missionária, que abraçou de corpo e alma a sua Doutrina de Fraternidade e de Amor, e que é, a alegria e a felicidade desta família, como também é a minha, devolvendo-lhe a saúde completa. Ela retornou a este lar, para cumprir o seu mandamento, Senhor – “Honra e seu pai e a sua mãe”.

Jhezab, ficou mais algum tempo ao lado da sua querida. Constatando que ela dormia tranquilamente, e sem febre, retirou-se, levando aquele “pedaço de Jesus”. Comovido com o que havia ocorrido, grossas lágrimas rolam no seu rosto e, agradecido, com a relíquia junto ao seu peito, ora fervorosamente: “Jesus, Querido Amigo e Mestre Amado. Muito obrigado por sua atuação, debelando a misteriosa febre que fustigava o corpo da minha querida eleita. Farei todo empenho, Senhor, para corresponder por toda a minha vida, por estas plagas, levando com convicção, a mensagem da Boa Nova. Muito obrigado Jesus!”

 

“A par da medicação ordinária, elaborada pela Ciência, o magnetismo nos dá a conhecer o poder da ação fluídica e o Espiritismo nos revela outra força poderosa na mediunidade curadora e a influência da prece” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XXVIII – Preces pelos doentes e obsediados)

 

Jhezab, acordou no meio da manhã, ouvindo um forte burburinho na casa.

Palmira. estava linda, maravilhosa, sorrindo, como que esbanjando saúde por todos os poros, tomando a sua refeição matinal, deixando à mostra na sua testa, uma pequena mancha.

— Jhezab, venha, sente-se aqui ao meu lado e tome o desjejum comigo. Desejo também contar-lhe um sonho muito expressivo que tive: Eu sonhei com um homem, radiante de luz. Era alto, postura ereta, cabelos longos caídos em seus ombros, Seu olhos, maravilhosamente azuis, penetrantes, barbas partidas ao queixo e, vestia-se com uma túnica simples, azul claro, que dirigiu-se a mim, com um leve sorriso nos lábios: “Palmira, minha filha, querida companheira, você não veio para o seu meio familiar, para morrer; tome o seu corpo e viva, pois a tarefa que lhe cabe, ainda não começou.”

Ele tocou na minha fronte, e me abençoou.

— Palmira você sonhou com aquele homem admirável, que eu tive o enorme prazer de conviver. Você sonhou com Jesus — o Filho de Deus. Ele era e, ainda é, o homem que personifica o Amor e todas as virtudes!

O esculápio ao chegar, ficou admirado com a recuperação da jovem. Examinou a pequena mancha na testa da jovem e, constatou: — Isso aqui, é uma mancha de sangue coagulado! Senhorita Palmira, você teve algum ferimento? Deixe-me examinar o seu couro cabeludo. Algum ferimento nas mãos; no nariz...

— Senhor, tenha certeza, eu não tenho nenhum ferimento.

Jhezab, ouvindo aquele diálogo, pediu licença para se ausentar, foi até o seu aposento, procurou aquele “pedacinho de Jesus”, e não mais o encontrou. Só havia o pano, no qual tinha depositado aquela relíquia. E nem na gola da sua túnica havia qualquer vestígio de sangue. Imediatamente, mais uma vez, ajoelhou-se e orou, agradecendo a cura daquela criatura que já estava amando, e guardou segredo.

 

“...o agente propulsor é o Espírito, encarnado ou desencarnado, que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância de seu envoltório fluídico. A cura se opera pela substituição de uma molécula sã a uma molécula malsã. A potência curadora estará, pois, em razão da pureza da substância inoculada; ela depende ainda da energia da vontade, a qual provoca uma emissão fluídica mais abundante, e dá ao fluido uma força maior de penetração; depende, enfim, das intenções que animam aquele que quer curar, quer seja ele homem ou Espírito” (A Gênese – O Fluidos – item 3)


 

Capítulo V
O Apóstolo João

 

Com a recuperação de saúde, da filha única e herdeira, aquele clima funesto se esvaiu e, a alegria, voltou a reinar novamente.

Palmira, estava ótimamente bem e muito feliz, porque tinha com constância a companhia de Jhezab. E com isso ela era toda sorriso, sem se incomodar de estar dando demonstração dos seus sentimentos de amor, direcionados ao varão. Quanto ao jovem, a recíproca era verdadeira.

O tempo escoa...

Ela, ungida que foi no dia de Pentecostes, inicia no seu lar, os ensinos da Doutrina de Amor, junto aos seus familiares e empregados da casa. Jhezab, colaborava, com as narrativas dos prodígios promovidos por Jesus, assistindo aos doentes, cegos, paralíticos, dementados e, até, tendo ressuscitado alguns considerados mortos. No início, era só um agrupamento familiar que se reunia uma vez a cada lua cheia.

Com o passar do tempo e, a notícia se alastrando, passaram a se reunir também, na lua nova. E a comunidade foi crescendo.

Em uma certa ocasião, chega a Antioquia, João, que estava com destino a Efeso.

Palmira, oferece ao jovem apóstolo, a sua hospitalidade.

João, permaneceu em Antioquia, por alguns dias e, constatou o bom crescimento dos adeptos de Jesus. Teve oportunidade de transmitir-lhes alguns ensinamentos, contando e explicando algumas parábolas, prodígios e curas promovidas por Jesus.

Dirigindo-se a Palmira, João perguntou: — Querida irmã, o que aflige seu coração? Noto o seu ar entristecido. Você também Jhezab, não está parecendo nem um pouco com aquele que eu conheci. Onde estão os seus ânimos?

— João, você deve ter notado que os meus pais não estão aqui, e você ainda, nem os conhece. Eles estão acamados e, parecem que estão abobados. Nós não estamos tendo condições de ajudá-los a saírem desse quadro enfermiço, que está minando os seus corpos.

— Querida amiga, o que posso lhe dizer é que, nem mesmo Jesus curou a todos na sua cidade. Apenas um homem que tinha a nacionalidade síria.

No caso de vocês, admito que algo forte está acontecendo, e que não está ligado a autoridade moral, para atuarem favor deles: acho que o vínculo de parentesco que existe entre vocês, é que está anulando as suas possibilidades de vidência e de cura, sendo assim, empecilho para que a ajuda possa se concretizar. Leve-me até eles!

Ao chegar, João analisou o quadro e, num gesto, impondo as mãos, disse: — Saiam em nome de Jesus. Eram dois os espíritos obsessores que atuavam sobre o casal, com fortes fluidos deletérios; foram afastados.

E aos doentes João ordenou: — Senhor e senhora, o tempo das suas agruras, terminou. Há necessidade que se levantem, pois, para a filha que tanto amam, não é chegada a hora de deixá-la órfã de pai e mãe.

Jesus, nos disse certa feita: “Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e, vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á. Então, levantem-se em nome de Jesus!.

E eles levantaram, agradecendo, abraçando e osculando àquele que os beneficiara.

— Por favor, meus irmãos, vamos orar em agradecimento a Jesus; pois esse sim é o grande benfeitor.

 

“46 – No caso de obsessão grave, o obsedado está como que envolvido e impregnado de um fluido pernicioso que neutraliza a ação dos fluidos salutares, e os repele. É do fluido que será preciso desembaraçar-se; ora, um mau fluido não pode ser repelido por um mau. Por uma ação idêntica à do médium curador no caso de moléstia, será preciso expulsar o fluido mau com o auxilio de um fluido melhor. Esta é a ação mecânica, porém que nem sempre basta; será preciso, também, e acima de tudo, agir sobre o ser inteligente ao qual é preciso ter o direito de falar com autoridade, e esta autoridade, não é dada senão à superioridade moral; quanto maior é esta, maior a autoridade” (A gênese – cap.XIV – item 46)

 

Antes de partir, João, em particular, conversou com Jhezab e , convocou-o a ir a Creta, em virtude de os dois missionários que para lá foram designados, não chegaram ao destino. A notícia que se ventilou, foi que a galé, infelizmente naufragou.

— Meu amigo estou convocando-o para mais essa missão, no entanto, você tem toda a liberdade de aceitar ou não. Noto, que existe um liame bem forte entre você e Palmira. Portanto, esta decisão, compete a vocês avaliar.

— Irei conversar com ela sobre o que me posicionou e avaliaremos os nossos objetivos.

— Faça o que de melhor possa lhe satisfazer. É importante, meu querido amigo, para o nosso bem viver, que façamos aquilo que nos preencha de alegria e que a sua repercussão, seja também favorável ao nosso próximo.

 

— João, permaneça aqui, para que a nossa comunidade possa se sentir mais fortalecida e confiante nos ideais de Jesus. Eu aceito ir a Creta e, com auxilio de Jesus, exercerei o meu trabalho missionário, implantarei a sua semente de amor, em todos os irmãos que estejam receptivos.

— Jhezab, agora, não posso ficar. Tenho que tomar posse de uma pequena casa, em Efeso, para a qual, vou convidar, para lá residir, Maria, a Mãe de Jesus. Desejo afastá-la das fortes recordações que ela tem do seu Filho Querido e, também, isolá-la dos acirramentos e atribulações dos seus parentes, assim como, preservá-la dos embates físicos entre cristãos e os judeus.

Em Efeso, creio que ela, terá a paz que muito bem merece. No meu regresso prometo ficar algum tempo.

— Quando eu regressar de Creta, João, é meu desejo juntamente com Palmira, irmos visitá-la.

— Façam isso mesmo, que ela certamente terá muita alegria em recebê-los.

 

Ambos viajaram. Cada um para o seu destino.

Antes da partida para Creta, Jhezab sonhou com sua protetora, Mirtes, que somente, com aquele lindo rosto, lhe sorria.


 

Capítulo VI
Regresso a Antioquia

 

Em Creta, Jhezab que viajou só, antes de desembarcar, fixou na sua túnica, um pedaço de pano, com a gravura de um peixe. Essa providência, logo facilitou para que tivesse os primeiros contatos com alguns cristãos do lugar.

Durante três anos, ele permaneceu na ilha, ajudando a difundir a Doutrina da Boa Nova.

A comunidade cretense, estava robustecida; Jhezab, que coordenava as atividades, avaliou, que poderia regressar a Antioquia; sua presença na ilha, no sentido de assessorar os seguidores de Jesus, era dispensável. Assim, despediu-se, levando o calor humano, a receptividade dos companheiros e companheiras, que consigo inauguraram diversos núcleos de orações, proporcionando a muitos, necessitados ou não, o entendimento do amor para a cura do espírito e, imposição das mãos, para a cura do corpo.

Alguns dias antes da sua despedida, em uma assembléia, muito concorrida, ele discorreu sobre o momento que presenciou, quando Jesus proferiu As Bem-aventuranças, salientando ao final, o poder da fé. Encerrando a sua oratória, promoveu muitas curas.

Ele deixou a comunidade cretense, em franca expansão.

 

Antioquia, como grande centro comercial, estava como sempre, muito agitada.

À porta da residência de Palmira, Jhezab foi logo reconhecido por um dos serviçais, que se alegrou, abraçando-o e beijando-o, àquele que considerava um grande amigo e, que retornava. Em seguida, saiu gritando pelos longos corredores: — Senhora, senhora, o amigo Jhezab, voltou!.

Palmira, risonha, veio correndo e, enlaçou-o num grande abraço e, neste mesmo instante, declarou o seu amor por ele, sob os olhares dos seus pais e dos serviçais, para júbilo de todos.

Rapidamente, uma mesa foi posta, com frutas, pães, leite, doces, vinhos, mel e sucos, para essa comemoração.

Sentindo aquele acolhimento amoroso, Jhezab solicita que todos, se aproximem e, fiquem ao redor da mesa. Cerrou seus olhos, convidando a todos para uma oração de agradecimento.

“Jesus, meu Grande Mestre, disseste-nos certa ocasião, que ninguém chegaria ao Pai, senão por Vós. Então Jesus, aqui estou, na sua presença, para agradecer a oportunidade de trabalho que me proporcionou em outras plagas, para cumprir o que me foi designado, expandido a sua Doutrina de Amor.Como sabeis, o trabalho foi profícuo e gratificante para o meu coração.Mais uma vez, ponho-me à sua disposição.

Agradeço Senhor, esse reencontro, que preenche todo o meu ser de felicidade e de amor, ao lado de pessoas amigas e queridas, que verdadeiramente fazem parte desta minha vida. Saliento, meu Mestre, agradecendo, ter preservado, Palmira, com muita saúde e feliz ao lado dos seus queridos, para júbilo do meu coração. Confesso Jesus, se assim posso me expressar: Palmira, é a alma gêmea de minha alma e, que com ela quero caminhar por toda a eternidade.

Obrigado Senhor. Muito obrigado!

 

“298 – As almas que devem unir-se estão predestinadas a essa união, desde a sua origem, e cada um de nós tem, em alguma parte do Universo, a sua metade, à qual um dia se unirá fatalmente?

— Não; não existe união particular e fatal entre duas almas. A união existe entre todos os Espíritos, mas em graus diferentes, segundo a ordem que ocupam, a perfeição que adquiriram: quanto mais perfeitos, tanto mais unidos. Da discórdia nascem os males humanos, da concórdia resulta a felicidade completa”.

“299 – Em que sentido se deve entender a palavra metade, de que certos Espíritos se servem para designar os Espíritos simpáticos?

— A expressão é inexata; se um Espírito fosse a metade de outro, uma vez separados estaria incompleto”.

“A teoria das metades eternas é uma imagem que representa a união de dois Espíritos simpáticos. É uma expressão usada até mesmo na linguagem vulgar, e que não deve ser tomada ao pé da letra.” (Comentário de Allan Kardec)

(O Livro dos Espíritos – Livro II – cap. VI – item VII)

 

— Palmira querida, por todos esses três anos, as únicas coisas e acontecimentos que não gostei foram: ficar longe da sua companhia e as viagens, tanto da ida como na volta. Constatei, pesaroso, o sofrimento daqueles escravos permanentes das galés, com a movimentação dos pesados remos; muitas vezes, eram açoitados, para que pusessem mais força e rapidez, afim de que, proporcionasse ao barco, mais velocidade.

Quanto à estadia na ilha, foi muito bom, e os resultados da nossa atuação, foram excelentes. Conseguimos plantar, com relativa facilidade, a doutrina da Boa Nova, inaugurando vários núcleos. Isso, foi o grande contentamento que essa viagem me proporcionou.

E aqui em Antioquia, o que é que você me conta?

— Aqui, acontecimentos relevantes aconteceram. E, em virtude disso, para cá veio, partindo de Jerusalém, Barnabé, que ao constatar o nosso progresso na divulgação dos ensinos de Jesus, a nós se juntou, e como grande orador, arrastou multidões para nossas reuniões. Ele ficou algum tempo conosco, depois, viajou para a cidade de Tarso. Posteriormente, regressou na companhia de Saulo, que também se juntou a nossa comunidade, fazendo um trabalho profícuo voltado aos discípulos, por ele chamado de cristãos.

Saulo nos contou dessa mesma cadeira da qual você se acomoda, sobre as suas atividades, como tribuno, na perseguição que implementava contra os homens e mulheres que seguiam a doutrina de Jesus. Falou-nos da sua tristeza e arrependimento da condenação à morte por lapidação de Estevão, e profunda amargura ao presenciar o desenlace da sua querida amada Abigail. Disse-nos, ainda com detalhes do seu grande dia quando viu Jesus, em plena luz do dia, no deserto e, quando Ele lhe dirigiu a palavra:” Saulo, Saulo, por que me persegues?” Acrescentou que nesse episódio, ficou completamente cego, sendo curado na cidade de Damasco, e posteriormente, também batizado pelo suave e meigo ancião, Ananias.


 

Capítulo VII
O encontro com Maria

 

Passado algum tempo, Palmira e Jhezab, resolveram viajar para Efeso.

Lá, encontraram João, em grande atividade de evangelização. Dezenas de pessoas, atentamente, ouviam a sua oratória, baseada no amor, na fraternidade e na esperança de dias melhores.

— Meus amigos! A que devo a ventura de vê-los? Que Deus os abençoe! Vejo que estão ótimos, saudáveis e felizes! Como estão os seus pais, Palmira?

— Depois que você os curou, eles só faltam voar como passarinhos, de tão leves e saudáveis.

— Fico muito contente com essa comparação. É um sinal, de que estão muito bem! Mas tem uma coisa, minha cara amiga, que você sabe muito bem: as dádivas que eles receberam, não foram minhas, mas sim de Deus, nosso Pai. E tem algo mais que não devemos esquecer: se eles não tivessem merecimento, não seriam curados daqueles assédios, que estavam minando os seus corpos. Para nós, aquele episódio, serviu para nos ensinar que a emotividade, os nossos sentimentos, nos levam para dois caminhos: o caminho do abatimento e da tristeza, que atrapalham e tolhem a nossa vontade de ser útil para amenizar uma situação e, a outro caminho, que nos leva a termos fé inabalável, de que seremos úteis para a aquisição da felicidade. O vínculo de parentesco a levou para o primeiro caminho, e você, assim como, também Jhezab, vacilaram diante o infortúnio que viviam o senhor Rezek e a senhora Landhyr.

Meus amigos, tenhamos sempre em mente, que em qualquer situação, até mesmo no enfrentamento do perigo para nossas vidas, vamos manter a Fé firme, inabalável e convictos de que algo de bom resultará das nossas atuações, para a nossa felicidade no futuro.

— Obrigado amigo, por mais essa lição – disse jovem.

— Bem, vou lhes fazer uma pergunta óbvia: vocês querem ver e conversar com Maria, a mãe de Jesus, ou preferem ficar aqui na cidade?

O casal, somente sorriu.

— Bom, diante da resposta clara e significativa – acrescentou João, pilheriando – não há dúvida. Então vamos, que temos uma boa caminhada pela frente.

No percurso, Jhezab, deu ciência a João, sobre a sua viagem Creta, da qual resultou, uma boa propagação da Doutrina de Amor de Jesus.

Palmira, por seu turno, também falou sobre atuação em Antioquia e, na vinda de Barnabé e Saulo àquela cidade e dos bons resultados, beneficiando a muitos.

No alto de um alcantil, com vistas para o mar Egeu, localizava-se a morada de Maria.

Eles a encontraram, sentada na frente da modesta casa, sendo ouvida por algumas pessoas, pelo trajar, muito simples. Sem desviar a atenção dos ouvintes, aproximaram-se e acomodaram-se. Atentos e embevecidos, acompanharam ouvindo com atenção, a descrição que aquela nobre Senhora, fazia do seu querido Filho, na infância, na sua adolescência, no seu trabalho na carpintaria junto com seu pai, José, na ajuda que ele proporcionava aos pedintes.

Algumas horas passaram. Ao final daquele relato, ela ofereceu àquelas pessoas, o que ela tinha de alimentos: leite de cabra, pão e mel.

João, se adiantou um pouco, indo de encontro com Maria, dizendo: — Mãe, estou na companhia deste casal, missionários da primeira hora, convocados pelo Mestre Amado Jesus, oriundos que são de Antioquia – Palmira e Jhezab.

— Venham, venham meus queridos, que eu desejo abraçá-los. Contem-me como está o trabalho de vocês, na divulgação da Boa Nova!

Jhezab, assim como Palmira, discorrem sobre suas atividades e da alegria de estarem cumprindo a missão, da qual, se comprometeram executar.

— Fico feliz com essa propagação, que com certeza, está propiciando a vocês, muitos benefícios.

Meus queridos, o que sinto nesse momento, me leva a crer, que um forte liame os une – liame de amor puro e verdadeiro. É meu desejo, que sejam nesse quadrante de suas vidas, protegidos e abençoados por nosso Pai Celestial. Da minha parte, quero lhes dizer também, que sempre estarão nas minhas orações.

Meus filhos, obstáculos, dificuldades, empecilhos, adversários brutais de toda ordem, desastres, atentados, fazem parte do estágio evolutivo que experimentamos. Mas, se nós nos mantivermos na firme intenção de progredir espiritualmente, no balizamento que nos legou Jesus, conseguiremos no fim desses embates, a vitória, e um dia, habitaremos em outras moradas, mais felizes.

 

“1 – Não se turbe o vosso coração. – Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. – Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós aí estejais” (S.João, cap.XIV, vv 1 a 3)

“A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são mundos que circundam no espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos”

(O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. III)

 

Palmira, filha querida, quero lhe dizer, que até pelo seu próprio nome, você foi uma escolhida para a divulgação da Boa Nova. O seu nome, se traduz como: “A porta do Templo”. É meu desejo que assim sempre seja! A Porta do Templo, para que aqueles que se achegarem e realmente ouvirem as palavras de Amor proferidas por seus lábios, tenham o acesso e a transformação, para uma vida melhor.

 

“Palmira — Porta do Templo” (Grande Enciclopédia Delta Larouse – vol.14 – pag.6.356)

 

As horas passaram sem que percebessem. Já estava anoitecendo, e o retorno a cidade foi adiado para o dia seguinte. Com isso, as conversações se alongaram, pela noite adentro.

Palmira e Jhezab, enlevados e atentos às narrativas, como que, suaves acordes produzidos pela Mãe de Jesus, com algumas intervenções de João, estavam embevecidos e admirados.

Na manhã seguinte após fazerem uma pequena refeição, Maria lhes disse: “— Palmira e Jhezab, se Deus nesse momento me permite, eu desejo abençoá-los e, rogar-Lhe, que os ampare, os guie, os proteja e lhes dê coragem e ânimo para levar adiante a missão que abraçaram, com vistas para que haja nessa nossa Terra bendita, mais Amor”.

Ambos, agradecidos, abraçaram e oscularam aquela Venerável Senhora, escolhida por Deus, para trazer para esse mundo, Jesus, o Cristo.


 

Capítulo VIII
O desenlace de Maria

 

O tempo passou e, certo dia, Jhezab e Palmira, receberam uma carta de João, lhes comunicando a morte daquela Nobre Senhora, que consideravam como mãe – Maria Santíssima – como ficou conhecida pelos muitos necessitados, pobres e mendigos, por ela beneficiados.

João, descreveu: “Fui avisado, que ela adoecera. Imediatamente, suspendi as minhas atividades na cidade e, sai a procura de um esculápio, no entanto, não encontrei nenhum, que se dispusesse a me acompanhar. Pensei comigo: Deus é sábio; nada acontece por acaso; não cai uma tâmara, para daí surgir uma outra tamareira, sem que Deus queria. Então, que se cumpra os desígnios de Deus!

Fui para a casa da minha mãe Maria, correndo. Chegando, ofegante, vi que a porta estava aberta, como sempre; entrando, vi Maria deitada no seu leito, de olhos cerrados, respirando lentamente e, ao seu lado, ajoelhados, um pobre homem e uma mulher, rezando. Indaguei: — O que aconteceu? Ele, me respondeu: — Eu e minha mulher, estávamos do lado de fora da soleira da porta, ouvindo a Mãe Santíssima, falar sobre o seu Filho Amado; sobre os seus ensinamentos de amor. De repente, ela levantou-se, calou-se, e ficou olhando fixamente para algum lugar no horizonte. Ela se transfigurava e grossas lágrimas brotaram dos seus maravilhosos olhos azuis. Ela falava: “Meu Filho Querido, que felicidade revê-lo... Leve-me contigo...! E ela, desfaleceu. Tomei-a nos meus braços, com ajuda da minha mulher, e a acomodamos. Tentamos falar com ela, mas, Ela ficou assim, muda, respirando tranquilamente.”

Durante a noite que fiquei em vigília, percebi na casa, uma movimentação de Entidades de muita luz, providenciarem um cerco luminoso ao redor da casinha. Tive então, a certeza de que a minha Mãe Maria, iria nos deixar. Ela teve a visão do seu Filho e, com Ele, desejou partir para a Espiritualidade Maior; e assim aconteceu, pela manhã, ela nos deixou. A notícia se espalhou por toda Efeso e arredores. Centenas e centenas de pessoas, os mais humildes, por aqui passaram para render-lhe homenagens e para agradecer os prodígios que ela pode proporcionar a muitos.

Meus amigos, eu tinha a intenção de fazer-lhes uma visita, mas, estou notando uma movimentação não muito amistosa de soldados romanos em grande número. Ainda não sei, se somos nós, os cristãos, os seus alvos, ou é, a própria população do local, que deseja ter mais liberdade política, ou ainda, são as duas razões.

Assim, meus amigos, percebo que tenho muito coisa a fazer por aqui. Nãos os convido para aqui vir, pelas razões que já expus, mas se desejarem vir, estarei de braços abertos para recebê-los, pois, muito me ajudarão em ambos os casos que mencionei.

 

“Sim minha mãe, sou eu!...Venho buscar-te, pois meu Pai quer que seja no meu reino a Rainha dos Anjos...”

“Maria cambaleou, tomada de inexprimível ventura. Queria dizer de sua felicidade, manifestar seu agradecimento a Deus; mas o corpo como que se lhe paralisara, enquanto aos seus ouvidos chegavam os ecos suaves da saudação do Anjo, qual se a entoassem mil vozes cariciosas, por entre harmonias do céu” (Mãe Santíssima – Coletânea – Espírito de Humberto de Campos – Psicografia de Francisco Cândido Xavier)


 

Capítulo IX
Na arena do circo

 

Palmira e Jhezab entristecidos com a notícia vinda de Efeso, adiaram as suas pretensões de unirem-se em matrimônio, sem marcarem uma nova data.

Transcorreu um ano, sem que houvesse alguma oposição efetiva à comunidade cristã de Antioquia, que havia se alastrado de modo considerável. Muitos missionários, do lugar, partiram em direção ao Oriente, para propagar a Boa Nova.

Mas, começou a chegar notícias vindas de Jerusalém, ventilando um período de terror contra os seguidores de Jesus.

E não demorou muito, por todo o Império Romano, os cristãos foram perseguidos.

Jhezab e Palmira, como muitos outros de Antioquia, foram aferrolhados numa galé, e transportados para Roma.

As mulheres, foram separadas dos homens; muitas delas, as mais jovens, foram usadas sexualmente e seviciadas pelos guardas truculentos.

As prisões de Marmetina e Esquilino, em Roma, ficaram superlotadas de inocentes cristãos. Grande número deles, não resistiram aos maus tratos, a falta de alimentação, falta de água, sendo que, tudo isso se agrava com a falta total de higiene. Os que morriam nas celas, eram jogados nas jaulas das feras famintas. Os que se mantinham em pé, trôpegos, em levas, eram empurrados sob açoites de chicotes para dentro da arena do grande circo, para divertirem a platéia ensandecida e, servirem de alimentos para as feras esfomeadas.

Palmira, consciente do que poderia lhe acontecer e também a Jhezab, recolheu-se a um canto do cárcere, ferida e humilhada, prostrou-se e orou, imaginando estar na presença de Maria Santíssima. Por alguns instantes, se viu deslocada do seu corpo e visualizou aquela Majestosa Senhora.

“— Mãe Santíssima, rogo o seu amparo para enfrentar com coragem os momentos cruciantes que não tardam a chegar. Quero, com fervor, testemunhar ao mundo ai fora, que creio em um único Deus, Pai do meu Querido Jesus, que inaugurou nessa Terra, a maravilhosa e irrefutável Doutrina de Amor e do Perdão.”

“— Querida Filha, é chegada a hora da sua libertação. Estarei ao seu lado, juntamente com outros tantos Espíritos de Luz. Tenha confiança, que nós os ampararemos e, numa luminosa caravana, entraremos no Plano Maior, onde Jesus nos aguarda. Procure manter-se calma e em oração contínua.

Jhezab, o seu querido amor, já está conosco, lúcido e a aguarda.

Minha filha, escute, que ao seu lado, uma outra filha, sua irmã em Deus, está cantarolando. Estimule-a e cantem, cantem com todas as forças que restam dos seus pulmões, que um imenso coral se formará nesse cárcere injurioso, que ai se formará uma coluna de luz em direção aos céus e Deus ouvirá e as amparará.

Creia minha filha, na eternidade da alma; fique firme, altiva, fervorosa e perdoe os seus algozes, que desta atmosfera fria, triste, escura e repugnante, você ressurgirá para a verdadeira vida do Espírito e, juntamente com outras e outros que foram e serão sacrificados, nós promoveremos o auxílio necessário a todos os oprimidos imersos em dores e gemidos”.

Palmira e muitas outras mulheres, entram na arena do grande circo, cantando com todo fervor e força, que ainda lhes restavam, glorificando a Deus.

Do lado oposto a elas, dezenas de homens, também caminhavam em colunas para o centro do circo, sendo parados a chicotadas em frente a tribuna do governador, que após ser anunciado pelas estridentes cornetas, levanta-se do seu trono e, com ar e postura arrogante, faz apenas um gesto autorizando a matança.

Palmira, ainda cantando, a todo pulmão, com seus olhos cerrados, na sua mente se estampa as figuras dos seus queridos pais. Abriu os olhos, sente algo no seu ser, vira-se, e não muito distante divisa a sua querida mãe, corre até ela e, abraçam-se.

— Filha querida, não sei o que foi feito do seu pai. Eles nos separaram!

Quando elas notaram, vindo em suas direções, um homem, ainda com o rosto macerado e olhos encovados, que lhes dirigiu a palavra: “– Minhas queridas, Landhyr e Palmira, sempre estivemos juntos e fomos felizes; vamos nos abraçar como sempre o fizemos nas horas tristes e alegres e, novamente, juntos, nesta hora cruciante, vamos nos unir em um só coração na direção de Deus, nosso Pai e, despedirmo-nos desta vida..”

 

“A alvorada desdobrava o seu formoso leque de luz quando aquela alma eleita se elevou da Terra (...) desejou rever a Galiléia com seus sítios preferidos (...) lembrou-se dos discípulos perseguidos (...) penetrou nos sombrios cárceres do Esquilino (...) aproximou-se de uma jovem encarcerada, de rosto descarnado e macilento, lhe disse ao ouvido: “— Canta minha filha! Tenhamos bom ânimo! (...) Convertamos as nossas dores da Terra em alegrias para o Céu” A triste prisioneira nunca saberia compreender o porquê da emotividade que lhe fez vibrar subitamente o coração. De olhos estáticos (...) cantou um hino de profundo e enternecido amor a Jesus (...) daí a instantes, seu canto melodioso era acompanhado pelas centenas de vozes que choravam no cárcere, aguardando o glorioso testemunho”.(Coletânia – Mãe Santíssima – H.Campos – Psicografia Francisco C. Xavier)

 

Romero Evandro Carvalho — autor


 

©2012 — Romero Evandro Carvalho

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Outubro 2012

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