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D.E.I.P-S.P

ASSISTÊNCIA AO
TRABALHADOR INTELECTUAL

—Ridendo Castigat Mores—


 

 

Assistência ao trabalhador intelectual
Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda - S.P. (D.E.I.P.)
Edição
Ridendo Castigat Mores

Versão para eBook
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Fonte Digital
www.jahr.org
Copyright ©
Autor: Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda - S.P. (D.E.I.P.)
Edição eletrônica:
Ed. Ridendo Castigat Mores
(www.jahr.org)
“Todas as obras são de acesso gratuito. Estudei sempre por conta do Estado, ou melhor, da Sociedade que paga impostos; tenho a obrigação de retribuir ao menos uma gota do que ela me proporcionou.” — Nélson Jahr Garcia (1947-2002)


 

ÍNDICE

APRESENTAÇÃO
Nélson Jahr Garcia

ASSISTÊNCIA AO TRABALHADOR INTELECTUAL
Discurso do Prof. Cândido Motta Filho
Discurso do Dr. Salvador Julianelli
Discurso do Prof. Dr. Spencer Vampré
Discurso do Dr. Eduardo Pelegrini
Discurso do jornalista José Barbosa
Discurso do jornalista Dario de Barros
Discurso do Exmo Snr. Dr. Getúlio Vargas


 

ASSISTÊNCIA AO TRABALHADOR INTELECTUAL

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Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda - S.P.


 

APRESENTAÇÃO

Nélson Jahr Garcia

 

Getúlio Vargas chegou ao poder através da Revolução de 1930.

Na época a sociedade brasileira vivia um momento de conflitos. Havia divergências dentro das Forças Armadas; das oligarquias agrárias, entre si e com os incipientes empresários industriais e, principalmente, entre os trabalhadores e os segmentos economicamente dominantes.

A Revolução Russa ainda inspirava muitos líderes proletários a lutar por uma revolução que rompesse a dominação das classes possuidoras e levasse os trabalhadores do campo e das fábricas ao poder. “Luta de classes” tornara-se uma “palavra de ordem” cada vez mais freqüente.

O governo Vargas apesar das insistentes promessas de democratização do país, realizou o golpe de Estado de 1937, instaurando o Estado Novo, regime de autoritarismo absoluto, à imagem e semelhança do fascismo italiano e o do nazismo alemão. As justificativas para o golpe eram as divergências internas, que ameaçavam degenerar em guerra civil, e o perigo comunista.

A exemplo do Ministério da Propaganda nazista, criou-se o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) e os DEIPs (Departamentos Estaduais de Imprensa e Propaganda). Dentre os seus objetivos havia o de difundir a teses do fascismo italiano de que a luta de classes deveria dar lugar à cooperação entre elas

Criava-se, assim, a imagem de uma sociedade homogeneizada e massificada em que os interesses divergentes das classes e frações ficavam diluídos no “interesse do povo” ou da “nação”. A partir daí eram todos igualados, tanto o operário como o industrial, o patrão como o empregado... não se diferenciavam perante a Nação, no esforço construtivo: eram todos trabalhadores”. A qualificação “trabalhador” era a categoria utilizada para a simplificação onde os empregados, além de igualados aos patrões, eram postos lado a lado com Getúlio, “o maior trabalhador”, e com os demais membros do governo como Marcondes Filho, .... “um trabalhador brasileiro que há trinta anos, como proletário intelectual, trabalha sem descanso”. (vide, em www.jahr.org “Estado Novo: ideologia e propaganda política”).

O texto aqui reproduzido faz parte dessa campanha, uma tentativa de generalizar a designação “trabalhador”, para todos os segmentos sociais do país.


 

ASSISTÊNCIA AO TRABALHADOR INTELECTUAL

Discursos pronunciados no salão nobre do Deip por ocasião da solene instalação do serviço de Assistência ao Trabalhador Intelectual da Diretoria de Censura e de Publicidade Sanitária, do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda. — SÃO PAULO - 1944

 

Às 19 horas do dia 21 de dezembro de 1943, no Salão Nobre do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda de São Paulo, com a presença do Exmo. Senhor Doutor Getúlio Vargas, DD. Presidente da República, do Exmo. Senhor Doutor Fernando Costa, DD. Interventor Federal no Estado de São Paulo, de Ministros e Secretários do Estado, de altas autoridades civis, militares e eclesiásticas, de representantes de associações de classes, de sociedades culturais, do ministério público, da imprensa, do magistério, da indústria, do comércio e da lavoura, foi instalada solenemente a ASSISTÊNCIA AO TRABALHADOR INTELECTUAL, serviço organizado pelo Prof. Cândido Motta Filho, Diretor Geral do D. E. I. P., por determinação do Exmo. Senhor Doutor Fernando Costa, na Diretoria de Censura e de Publicidade Sanitária, do D. E. I. P., nos termos da Portaria n. 63 de 12 de outubro de 1943, tendo sido nessa ocasião pronunciados os seguintes discursos:


 

Discurso pronunciado pelo Prof. Dr. Cândido Motta Filho, dd. Diretor do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda de S. Paulo:

 

“Como vê, senhor Presidente, o recinto é pequeno para acolher os que querem, ao assistir esta solenidade, testemunhar, mais uma vez, seu profundo apreço a Vossa Excelência.

Neste plenário ecoa, em sua força opinativa, a simpatia de S. Paulo pelo eminente Chefe da Nação que, em tempos tão difíceis, fez um Brasil tão grande! Estão aqui, além das altas autoridades estaduais e federais, mestres e estudantes, educadores e jornalistas, escritores e poetas que vêem, no modesto empreendimento que hoje se inaugura, um grande empreendimento do governo de v. exa., que fazendo tudo pela terra, não se esqueceu jamais o homem da terra brasileira e do direito que ele tem a uma convivência digna.

Ontem foi o trabalhador das fábricas e dos campos; hoje é o trabalhador intelectual, porque, para v. exa. só o trabalho é fecundo, só ele dá à vontade coletiva de um povo, um sentido substancial. O verdadeiro solidarismo humano, distanciado das teorias extravagantes, provêm da compreensão do trabalho que se anima e se reanima pela idéia de que os homens não existem mas coexistem. A assistência ao trabalhador intelectual era um princípio consagrado pela Constituição de 1934. Mas, como essa constituição não se animara num clima a ela correspondente, mas foi, como o monge Savonarola, um profeta desarmado, o artigo tornou-se inútil. A Constituição de 10 de novembro teve o mesmo propósito, fixando no artigo 136, que “o trabalho intelectual tem direito à proteção e solicitude especiais do Estado”.

Não poderia porém esse artigo ser letra morta, porque, a par da obra constitucional, propiciava o governo de v. exa. os meios para que ela pudesse se alimentar efetivamente das exigências sociais, da vocação do povo e da valorização da cultura.

Há mais de vinte anos que os povos, atormentados por crises enormes, procuram definir-se. E o Brasil só se poderia definir, pela perfeita identidade entre o Estado e a Nação, pela exata correspondência entre a sua realidade e a sua legalidade. Ao falar de um povo que até hoje sofre a pressão de doutrinas e modismos estranhos, um grande sociólogo disse: “uma vida que se imita, é uma vida que se falsifica”.

Daí o esforço da revolução brasileira, daí o compromisso de nossa geração, daí a atitude de v. exa. traçando um roteiro, de extraordinária bravura cívica, que é o de impedir a existência de instituições estrangeiras destinadas ao triste e incrível papel de falsificar a república. Dependendo a nossa originalidade, procurando as nossas verdades, deveríamos inicialmente conhecer os nossos valores sociais e políticos e proporcionar os meios para que todas as vozes fossem ouvidas e para que a democracia não fosse apenas uma promessa eleitoral, mas na honestidade de seus propósitos e no encanto de sua ideologia, uma possibilidade para todos, dentro da capacidade de cada um.

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Portanto, é neste admirável e fecundo período arquitetônico do Estado brasileiro, é que o Brasil se define, pelo conhecimento de si mesmo, pela lealdade para consigo mesmo, por essa extensa obra educacional que v. exa. vem proporcionando através de todas as atividades de interesse público

Quando se afirma que a educação é que dá a um povo a consciência de si mesmo, não se tem somente em conta, a escola, mas esse processo dentro da vida, que proporciona a maneira do homem conduzir-se em sociedade e, portanto no lar, no trabalho, na administração pública, na vida civil e militar.

Assim, quando v. exa. leva a assistência e o direito social ao trabalhador, a seus filhos e sua família; quando v. exa. faz com que, produtores e consumidores, participem dos negócios públicos, - v. exa. transpõe os limites escolares e alarga a capacidade educativa do Estado.

Instalado hoje, neste Departamento, o primeiro serviço social no Brasil para o trabalhador intelectual, cumprimos, com o apoio do eminente Interventor Fernando Costa, um postulado fundamental do regime. E surgiu neste órgão de atividade cultural, em razão de seu próprio significado que o leva a compreender, em todas as suas conseqüências, as virtudes do espírito.

Ao acercar-se da publicidade, das modernas formas de divulgação do pensamento, o Departamento abre-se para os jornalistas, escritores, mestres, estudantes, poetas e artistas. Sabe o que eles são e sabe quanto eles lutam, em regra, tão desguarnecidos como as térmitas de Metterlink...

E assim procede principalmente porque o Departamento procura reviver tradições, rememorar feitos, compor as virtudes do passado para as soluções do presente, faz o que pode e o que pode v. exa. para que a República seja, dentro em breve, uma segura expressão dos grandes anseios do espírito brasileiro.

Ele não é um artifício, mas uma tribuna de onde conversamos com o povo e de onde ouvimos o povo. Não é um órgão de partido. Não traduz a impertinência das místicas sangrentas, o capricho das ideologias forasteiras. Mas é um órgão da Nação, pela Nação, sem suspeições, sem disputas estéreis, sem personalismos, sem localismos.

Pode, portanto, de perto, por conhecer o cotidiano, compreender a vida do trabalhador intelectual, suas dificuldades e seus desencantos. Pode ampará-lo, sem humilhá-lo, sem dele exigir compensações, porque reconhece no intelectual o homem livre por essência.

Ainda em 1934, o escritor Marcel Prévost consagrava uma de suas crônicas à condição material do escritor que, muito embora melhorada em nossos dias em alguns aspectos tornou-se mais difícil em outros.

François Mauriac fez, na “Societé de gens des lettres” um eloqüente apelo em favor do intelectual esmagado pelas condições econômicas. Esse apelo se tem feito sentir entre nós, nas sociedades literárias e jornalísticas. Porém um ponto delicado sempre se apresentou. De um lado, o auxílio do Estado poderia ser transformado em coação por parte do Estado, de outro lado, em simples promessa de caráter demagógico.

Entre nós, nada disso constitui problema, porque a assistência, discreta e desinteressada, só visa assegurar, entre nós, a proeminência da vida do espírito, a garantia humana da mais humana das criaturas, que é o intelectual; evitar, quanto possível, as amarguras desnecessárias, os desalentos infrutíferos ou a formação daquele tipo intratável de mentalidade que o sociólogo Mannhein, denomina “mentalidade hipócrita” ou farisáica, que não se apresenta de frente, mas que procura aviltar pelo resmungo e pelo cochicho, a ação dos desprendidos e dos lutadores de boa fé.

Começamos, Sr. Presidente, por um começo simples e modesto. A Assistência ao trabalhador intelectual é, inicialmente, um ponto de partida. Dentro em breve ela alcançará a plenitude de sua finalidade. Ela conta com v. exa. porque, em todas as horas e principalmente nesta hora, todos os homens que pensam, estão com v. exa. na luta pela vitória do Brasil, desse Brasil, que é liberdade e justiça, pela cultura de seu povo, pelo trabalho de seus mestres, pelas obras de seus escritores, pelos versos de seus poetas”.


 

Discurso pronunciado pelo Dr. José Salvador Julianelli, Censor Técnico Chefe da Assistência ao Trabalhador, Intelectual:

 

“Constitui para nós motivo de grande e imensa honra a presença de v. exa. no ato de instalação do serviço de Assistência ao Trabalhador Intelectual.

Constitui grande honra, mas, não surpresa, sr. Presidente. E, isto porque v. exa. desde a juventude, tem os olhos e o pensamento voltados para aqueles que se consomem no trabalho silencioso dos gabinetes, no burburinho das redações, nos laboratórios e na difícil tarefa de, das cátedras, orientar a mocidade estudiosa - que é outra viga mestra da própria vida dos povos, fiel das aspirações coletivas, na preocupação constante de melhorar e dignificar-lhes a situação.

É que v. exa. sabe, perfeitamente, que a justiça social se confunde com o próprio problema da cultura. E num país como o nosso, em que o homem de pensamento foi sempre relegado a um plano inferior, e tratado sem nenhuma consideração, é extraordinário que o Governo venha “spont-sua” oferecer-lhe a mão, conduzindo-o ao lugar a que tem direito e amparando suas vicissitudes.

Bem diverso já é, atualmente, o panorama nacional nesse setor.

Já hoje as associações de cultura são órgãos consultivos da República. E v. exa., sr. Presidente, vem, com a sua presença, tornar realidade em S. Paulo uma promessa constitucional, pois que a Constituição de 37 estabelece proteção e solicitude especiais do Estado ao trabalhador intelectual.

E essa consagração constitucional é o próprio pensamento de v. exa. quando afirma: “Tive sempre a preocupação de prestigiar a inteligência, de oferecer aos que honram a nação pelo trabalho mental, oportunidades de desenvolvimento e campos mais vastos de estudo”.

A Assistência ao Trabalhador Intelectual instala-se no Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda.

É que o Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda, órgão eminentemente de cultura popular, é a presença do Brasil no Brasil, como bem afirma o seu ilustre diretor, o professor Cândido Motta Filho.

A assistência se faz ao intelectual, que é o homem livre por definição. E tanto isso é verdade que o saudoso escritor Zweig afirmava que “numa sociedade onde os intelectuais perecem, perece a liberdade”.

Sem sabermos nós, que aos intelectuais coube sempre a responsabilidade de todos os movimentos políticos e sociais da história humana, portanto, a efetivação desta assistência social é um imperativo de justiça.

Assistido pelo poder público, terá o conforto da assistência médica, farmacêutica e dentária. Terá, também, a presença permanente e o conforto moral e material do Instituto Nacional do Livro e Conselho das Bibliotecas do Estado, da Secretaria de Educação e do Departamento de Assistência Social.

A sua eficiência far-se-á sentir sem ônus para esse mesmo poder público, porque esta assistência que será apenas coordenada pelo Estado, vem da própria consciência social do país, e do vivo e palpitante solidarismo paulista.

E assim é, exmo. senhor Presidente, que as classes conservadoras, os institutos universitários e principalmente os estudantes, todo S. Paulo, enfim, ampara esta realização por compreender o seu elevado alcance no próprio cenário nacional.

E a presença de v. exa., comandante em chefe das forças brasileiras de Terra, Mar e Ar, em torno de quem todos se uniram na hora presente, é um penhor seguro do que afirmamos. E vem v. exa., sr. Presidente, com o prestígio de sua presença, prestigiar o valor e a utilidade do serviço de Assistência ao Trabalhador Intelectual que hoje, sob a égide de v. exa., aqui se instala solenemente”.

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Discurso pronunciado pelo Prof. Dr. Spencer Vampré, membro da Academia Paulista de Letras e Lente Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de S. Paulo:

 

“Exmo. sr. Presidente da República. Foi, por certo,. porque sou modesto trabalhador intelectual - e não político militante, - e porque ponho o amor de nossa Universidade de São Paulo, o de sua brilhante e promissora juventude, o amor das letras, e o amor da Pátria, acima de todas as coisas neste mundo, que Cândido Motta Filho se lembrou de ir buscar-me à minha querida Cátedra na Faculdade de Direito, para dizer a v. exa., senhor Presidente da República, quanto esta generosa iniciativa da Assistência ao Trabalhador Intelectual faz reverdecer e florir o coração de nossa gente.

É que São Paulo, disputando a primeira plana na construção industrial do Brasil, e contando as horas de cada dia por milagres de criações que enriquecem o comércio nacional, - não poderia esquecer os homens de letras, desde os modestos mourejadores da imprensa diária até os mestres e os estudantes, que a imprevidência ou a desfortuna puseram às portas da miséria ou da dor.

Pobres cigarras sonhadores, muita vez, as surpreende o inverno da vida, ou, pior do que isto, a gélida indiferença dos que triunfaram e enriqueceram, e, - egoístas afortunados - cerram os olhos para que o sofrimento deles lhes não empane o gozo sibarita da vida.

É que se honra a terra bandeirante de primar entre as mais acolhedoras e benfazejas das regiões do Brasil; terra feraz onde desperta para a vida cívica uma mocidade que bebe na história doa seus avós exemplos memoráveis de civismo e de amor à Pátria, terra, que alargou os limites da América Portuguesa, para que, na majestade de sua extensão territorial, se plasmasse a amplitude infinita das aspirações de sua gente; que sonhou e realizou o que é hoje o Brasil - uma unidade viva de irmãos, a quem não separam estreitos regionalismos, ou os ódios de raças, de credos e de partidos; - uma Pátria livre e liberal que se apresta a mandar os seus exércitos a defender no além mar os postulados da civilização e da cultura humana, e que, - graças a isso, e à energia clarividente de v. exa., amanhã se assentará nos Congressos da Paz? tratando de igual para igual as Nações que gloriosamente reivindicam os ideais democráticos do mundo: - a rija, tenaz e liberal Inglaterra; a senhoril, incomparável e maravilhosa América do Norte; a China, heróica e invencível; a Rússia, que resgata pelo sangue heróico doa seus soldados, os desvarios e os crimes da Revolução Bolchevista; a França, esmagada, porém nunca vencida, - a França que, na frase de Vitor Hugo, é a segunda Pátria de todos os intelectuais do mundo; e todos os demais países, espezinhados pela bota germânica, que afirmam o seu direito à vida e à liberdade e lutam por uma Humanidade mais esclarecida, onde não faltem o pão e o trabalho, e onde imperem a Lei e a Justiça, onde não haja homens que sejam rebotalhos sociais, e onde cada um tenha um lugar ao sol, um labor assegurado e uma vida digna!

Foi com este objetivo que Cândido Motta Filho, coração aberto ao sofrimento dos que labutam sem êxito, nos primeiros degraus da vida mental de São Paulo, - depois de haver socorrido com a discrição e a generosidade de seu carinho, tantos estudantes necessitados e tantos sofredores humilhados, mas talentosos, - concebeu a iniciativa, - que há de ser a mais generosa de toda a sua vida, - de fundar esta seção de Assistência ao Trabalhador Intelectual a que a grande alma de Fernando Costa deu logo o mais decidido e caloroso apoio. Eis-nos, por isso, reunidos aqui, Sr. Presidente da República, lembrados de que v. exa. uma vez pronunciou estas memoráveis palavras: - “Tive sempre a preocupação de oferecer aos que honram a Nação, pelo brilho mental, oportunidades de desenvolvimento e campo mais vasto de estudos”.

Temos a certeza de que v. exa. verá neste Serviço de Assistência o primeiro germe de uma seara a que certamente liberalizará o melhor de sua proteção, como Chefe, do Estado, que honra a nossa Pátria, e como trabalhador intelectual que honra as nossas letras. Daqui a alguns dias, tomará v. exa. posse de uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, - justo galardão a uma fecunda atividade em prol das letras nacionais - ao mesmo tempo que afirmação. tão gloriosa, para v. exa. como para as letras brasileiras, de que considera a mais alta honraria de sua vida o pertencer àquele altíssimo cenáculo.

Qualquer que seja o lugar que o futuro reserve a v. exa. na história intelectual do país, há de registar que lançou as bases da proteção efetiva e da assistência eficaz ao trabalhador intelectual, fazendo inscrever na Constituição de 10 de novembro este preceito, porventura o mais luminoso de quantos encerre: - “O trabalho é um dever social. O trabalho intelectual, técnico e manual, tem direito à proteção e solicitude especiais do Estado”.

A semente, que hora se lança, há de merecer de v. exa. aplauso e proteção. Em, nome dos trabalhadores intelectuais de S. Paulo, felicito v. exa. pelo que já realizou e exprimo as esperanças de todos pelo muito que poderá fazer ainda.

Senhor Presidente, nenhum traço poderá ser mais luminoso na futura biografia de v. exa. do que este - “amou e protegeu as letras, honrando-as com talento, e protegendo eficazmente os trabalhadores da inteligência”

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Discurso pronunciado pelo Dr. Eduardo Pelegrini, dd. Presidente da Associação Paulista de Imprensa:

 

“Está inscrito no artigo 136 da Carta Constitucional vigente, o princípio de que o trabalhador intelectual, técnico e manual, têm direito à proteção e solicitude especiais do Estado.

Ao redigir este dispositivo, o autor daquela Carta não pretendeu, certamente, lançar no corpo da lei máxima brasileira um preceito meramente teórico, vago, platônico, destinado apenas a fazer efeito ou tornar sonora e colorida a paisagem árida e monótona que, em regra, é característica marcante dos textos legais.

Quem conhece a vida do trabalhador intelectual, cheia de asperezas e dificuldades, não pode conceber que, em torno dela, se pudesse fazer qualquer espécie de literatura, sobretudo, tendo em vista que a orientação do poder público, nesse particular, foi sempre de elevação e dignificação do homem que produz, seja qual for o setor de sua atividade.

Assim, pois, aquele dispositivo não podia deixar de ter um sentido real, positivo, a que medidas administrativas posteriores viriam dar um contorno mais preciso e definido.

Foi o que sucedeu em São Paulo, cujo Governo acaba de instituir, já em moldes práticos, portanto destinada a uma atuação imediata e eficiente, a Assistência aos Trabalhadores Intelectuais.

Pela justiça que encerra, pelo espírito de solidariedade humana que irradia, aquela medida governamental encontrou desde logo um acolhimento simpático, de que é testemunho expressivo o aplauso franco, sincero e expontâneo, que de todos os lados brotou.

Associações de classe, estabelecimentos de ensino, hospitais, médicos, dentistas, advogados, farmacêuticos, todos, enfim, que pela natureza de suas atividades, podiam, de qualquer forma, prestar sua cooperação, acorreram, imediatamente, a oferecer seu contingente de esforços, de modo a facilitar à direção do DEIP a plena execução da portaria que instituiu, em São Paulo, o Serviço de Assistência aos Intelectuais.

A esse coro de aplausos venho juntar, agora, o da Associação Paulista de Imprensa, em cujo nome falo neste instante, por amável deferência do professor Cândido Motta Filho para com a entidade representativa do jornalismo bandeirante.

Em ligeiro e despretensioso comentário divulgado recentemente pelo “Diário Popular”, tive ensejo de repetir um fato de todos nós conhecido e por todos nós certamente lamentado: - é que, paradoxalmente, por circunstâncias múltiplas e desconcertantes, o homem que, através de sua atividade benéfica, contribui para orientar o país e elevar o seu nível cultural, é, precisamente, aquele que arrasta uma vida áspera, incerta, penosa, cheia de atribulações e sobressaltos, quando não sacudida pelas mais amargas decepções.

Sem dúvida, o fenômeno não é exclusivamente nosso.

Pode-se mesmo dizer que é mundial. Mas é também fora de dúvida que, no Brasil, ele se apresenta de modo mais intenso e generalizado, sendo raros, raríssimos mesmo, os intelectuais que conseguiram prosperar dentro de suas atividades normais. Os que vencem, é porque, em regra, se entregam a outros misteres.

No que diz respeito ao jornalismo, então, o fenômeno é impressionante. É certo que algumas medidas legislativas têm procurado criar para o trabalhador de imprensa uma situação menos precária. Infelizmente, porém, não se conseguiu ainda criar para ele uma posição de segurança profissional, provavelmente porque o problema é complexo e tem sua solução fora de medidas governamentais.

Por isso mesmo a classe jornalística é a que, entre os intelectuais, oferece maior número de casos que reclamam amparo e assistência. Dirigente que sou de uma associação de imprensa, posso aqui dar disso meu testemunho pessoal.

E poderia - se isto não fosse penoso - mencionar casos concretos, de velhos jornalistas que, cansados e doentes, incapacitados por um trabalho de longos anos, tão ingrato quão absorvente e apaixonante, hoje se encontram na mais triste miséria, batendo à porta de sua associação de classe, num pedido de socorro que é ao mesmo tempo um grito pungente de angústia.

São casos dessa ordem que o Serviço de Assistência, ora instituído com o apoio do Chefe da Nação, através de sua honrosa presença nesta casa, vai ter de enfrentar. E estou certo de que o fará com tato e sabedoria, de modo a obter que o intelectual - tão pobre quanto cioso de sua dignidade - receba a ajuda não como uma dádiva, mas sim como uma retribuição justa do bem que ele fez à coletividade, através de uma existência profícua e nobre, dedicada à causa do povo e da nação”.


 

Discurso pronunciado pelo jornalista José Barbosa, aluno da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo:

 

“O nome do serviço que inauguram é expressão que tomada no seu sentido mais amplo eqüivale dizer assistência não só ao intelectual propriamente dito, mas assistência ao jornalista profissional, ao estudante menos favorecido pela fortuna e aos que exercem as profissões liberais.

Por isso foram buscar o estudante provinciano para aqui dizer duas palavras, o estudante que um dia atravessou os umbrais de uma Casa de 116 anos, em cujo nome falou uma de suas figuras mais tradicionais e ilustres, o prof. Spencer Vampré, e onde aprendeu o culto da Justiça e do Direito, sendo hoje um dos seus filhos espirituais; foram buscar o estudante que, um dia, atraído pelo jornalismo, entrou para a imprensa e hoje é um dos seus modestos representantes, onde vai encontrar o seu pão cotidiano e o necessário para a manutenção dos seus estudos, como fazem muitos dos seus colegas.

Tem ele, senhor Presidente, nesta hora angustiosa para todas as pátrias e para todos os povos, alguma coisa para dizer.

É acima de tudo, um moço. E os moços, como v. exa. bem sabe, têm só uma linguagem: a da franqueza e a da sinceridade.

Falam com vista no futuro, e trazem nas suas palavras e nas suas afirmações algo de profético, têm a intuição que rasga os horizontes do tempo, adivinhando os movimentos subterrâneos que se processam no mais profundo da alma dos povos.

Assim, todos aqueles que prescindirem da cooperação da mocidade, que desacreditarem dos seus atos, que não derem ouvidos às suas palavras, correm o risco de perder o contato com a parte mais vital da Nação.

Como filho do Brasil, interessado na sua grandeza, na sua glória e no seu desenvolvimento, tenho acompanhado de perto a obra de v. exa., objetivando o revigoramento das legítimas forças nacionais em todos os setores.

Compreendo assim o sentido de que ela é portadora, buscando soluções brasileiras para os problemas do Brasil. Por isso, eu me sinto com coragem de dizer o que penso e sei que v. exa. me compreenderá.

Um dos traços marcantes do Governo de v. exa. tem sido o grande empenho em amparar os fracos, tornando as condições de vida do trabalhador compatíveis com a dignidade humana.

Como estudante, cursando uma escola que tem sido o termômetro e a bússola da nacionalidade, cumpre-me reconhecer que ainda não há um serviço organizado de assistência ao estudante. E esse Departamento de Assistência ao Intelectual que ora v. exa. inaugura, estendido à classe universitária será de grande alcance social. O estudante proletário, e é em nome desse que falo no momento, quando amparado nos seus esforços e no seu ideal, transforma-se, geralmente, no grande estudioso, no visionador dos problemas nacionais, no escritor-expressão do seu povo, e que mais tarde poderá vir a ser, noutros campos, um servidor eficiente e dedicado da Nação.

Esse serviço de Assistência, na sua finalidade, abrange também o jornalista. O homem que labuta diariamente na imprensa, pensando menos em si do que nos outros. Vive na agitação da hora que passa, em contato com a realidade da vida, com os seus quadros alegres e as suas paisagens tristes e dolorosas, consumindo-se, muitas vezes, pela noite a dentro nas redações, onde amassa o pão espiritual para o alimento diário do público sempre exigente nem sempre satisfeito. Esse tem sido o destino de grande número de intelectuais brasileiros.

V. exa. já foi jornalista, e jornalista de combate, e bem sabe que poucos merecem mais do que eles. Esses homens, entretanto, registaram, ainda há pouco, o aumento de salário para todo o funcionalismo público, e até agora, com raras exceções, ainda não tiveram a santa satisfação de registar o seu próprio aumento. Não resta a menor dúvida que as empresas jornalísticas são quase todas particulares, e, de certo modo, estão fora do âmbito das atividades do Estado. Mas mesmo assim, tenho certeza, esse fato não passou despercebido à visão de v. exa. Este Departamento virá, assim, ao encontro das necessidades de uma classe laboriosa, cuja influência na educação popular, e portanto na formação dos povos, é de grande eficiência, e jamais poderá ser esquecida.

A finalidade do Departamento vai ainda mais longe. Prestará assistência aos profissionais liberais. Aos advogados, aos médicos, aos engenheiros. Não se restringirá, porém, apenas à Capital, mas se estenderá até às cidades provincianas, onde repousam as forças construtoras e as reservas da Pátria.

Falei, senhor Presidente, como estudante e jornalista, encarando a questão sob o ângulo social. Reconheci o grande alcance do novo órgão criado. Disse, a princípio, que acima do estudante e do jornalista, estava o moço.

Fiel ao espírito de sua época e com os olhos em nossa Pátria, este moço, desde muito cedo, aprendeu a ver os fatos com objetividade, com ponderação e equilíbrio. Não o movem paixões políticas ou interesses de grupos. Sempre cultivou a independência do espírito, em cuja sobrevivência sempre acreditou.

Diante do panorama universal, este moço tem certeza de que as nações e os povos, caminham a passos acelerados e firmes para a libertação política e econômica.

A primeira liberdade é uma conquista de outros séculos, de lutas intensas e árduas. A liberdade econômica, tão importante como a primeira, é uma conquista do nosso século.

O Brasil, graças à visão descortinadora de v. exa., está ao lado das Nações Unidas.

E é para a paz, fundamentada na Justiça social que vamos caminhando. Mas essa paz não cairá do céu. O exemplo da guerra passada é bastante eloqüente: os povos ganharam a guerra e perderam a paz. Mas agora estamos ganhando a guerra, e vamos ganhar a paz.

Neste momento, senhor Presidente, todo o povo brasileiro confia na ação enérgica e vigilante de v. exa. E o Brasil, pela voz de sua mocidade, que sempre teve uma confiança inabalável nos princípios democráticos, ganhará a guerra, e ganhará a paz.”


 

Discurso pronunciado pelo jornalista Dario de Barros, Diretor de "Veritas" e Presidente da Associação dos Profissionais da Imprensa de São Paulo:

 

Exmo. Sr. Doutor Getúlio Vargas, digníssimo Presidente da República, Exmo. Sr. Interventor Federal, Exmos. Srs. Diretores Gerais, do D. I. P. e do D. E. I. P., Senhoras e Senhores:

A Terra Bandeirante sente-se agora envaidecida e sobremodo honrada com a nova visita que lhe faz o eminente chefe da Nação. E, para a coletividade jornalística do Estado, constitui motivo de grande contentamento a presença de V. Excia., Exmo. Sr. Presidente nesta casa, onde a cultura e a inteligência estão a serviço dos mais altos interesses do País. Pessoalmente a mim e particularmente à Associação dos Profissionais de Imprensa de São Paulo, o estímulo que V. Excia. nos proporciona hoje, promovendo a inauguração do Serviço de Assistência aos Intelectuais, representa um fato da maior relevância, no tumulto dos acontecimentos contemporâneos. V. Excia. bem conhece a obra patriótica que a A. P. I. S. P. realiza no nosso meio, fiel ao seu programa elaborado sob a inspiração do benemérito Governo Nacional. Por isso mesmo é que fomos dos primeiros a aplaudir a iniciativa altamente significativa desse espírito brilhante que é Motta Filho, forte estóico da formação brasileira, que atendendo à própria índole jamais esquece o magno problema de assistir às classes menos favorecidas e que mais concorrem para o fortalecimento da Pátria.

O Serviço de Assistência aos Intelectuais, não representa uma criação paulista, e sim, uma criação brasileiríssima de iniciativa de um homem digno que vive inteiramente votado ao bem comum, servindo com dedicação excepcional e lealdade ao Governo de V. Excia. Represento, Exmo. Snr. Presidente, a classe dos trabalhadores da Imprensa, ou jornalistas, os repórteres fotográficos, os revisores, os gráficos, os correspondentes, os Diretores de sucursais, os locutores e redatores das Rádio-Emissoras, os elementos da Publicidade e todos quantos exercem função jornalística e que se encontram filiados à Associação dos Profissionais da Imprensa de S. Paulo, entidade fundada na vigência do Estado Nacional, que bem compreendendo as enormes responsabilidades do momento, guardou para si, a suprema honra de ser a primeira organização civil a adquirir no Brasil Bônus de Guerra. Isso dá a nós, Exmo. Senhor Presidente, autoridade para falar neste instante a linguagem franca e sincera, sem rodeios, sem preocupações literárias, a linguagem que V. Excia. tornou condição excepcional dentro da vida brasileira. Isso atribui a nós, Exmo. Sr. Presidente, a oportunidade de dizer ao Chefe da Nação, que os jornalistas de São Paulo, os homens da nossa imprensa, recebem com especial carinho, a visita do cidadão Getúlio Vargas, porque reconhecem nosso preclaríssimo patrício o Extraordinário Estadista, que interna e externamente, engrandece o prestígio nacional.

A V. Excia., Exmo. Sr. Presidente da República, as homenagens da Associação dos Profissionais de Imprensa de São Paulo.”

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Discurso pronunciado pelo Exmo. Snr. Dr. Getúlio Vargas, dd. Presidente da República, encerrando a solenidade da instalação da Assistência ao Trabalhador Intelectual:

 

“Devo confessar-vos que, quando penetrei nesta sala, não sabia o que aqui se realizaria; devo agora dizer-vos da minha surpresa, da agradável surpresa pelo que acabo de presenciar, neste pequeno recinto, condensado da intelectualidade, que transparece na fisionomia de todos, como de todos se irradiasse.

Bem disseram os oradores que o Brasil, neste momento de guerra, ao lado das Nações Unidas, se sente perfeitamente à vontade na defesa da causa pela qual combate porque o Brasil, pelas suas tradições, pela sua organização, pela sua vida, é um país democrático.

Nós não temos receio da palavra democracia. Apenas entendemos que democracia não é demagogia como liberdade, também, não é licença nem anarquia.

Tenho sempre o ouvido atento a todos os brados que vêem da consciência da nacionalidade. Neste recinto ouvi a palavra de professores, de estudantes, de jornalistas, de todas classes intelectuais, merecedoras do nosso apreço. Nunca fui surdo à voz dos moços. O cântico da mocidade tem sempre em mim, a compreensão e a tolerância.

Sinto-me, por isso, perfeitamente à vontade, apesar da comoção que me domina, para fazer-vos estas declarações. E, particularmente, ao jovem estudante e jornalista, devo dizer que encontrou em meu espírito repercussão profundamente simpática a sua lembrança de que os trabalhadores da imprensa devem ter melhor remuneração.

Antigamente, costumava-se denominar aos representantes do país, no parlamento, de pais da pátria e repetia-se que os pais da pátria eram geralmente padrastos das letras. Hoje, não há pais da pátria; há pessoas que se orgulham e se honram em servir sua pátria. E nelas não pode deixar de ter repercussão profundamente simpática a fundação deste serviço de assistência ao trabalhador intelectual. Os senhores podem contar com o apoio moral e material do governo para a fundação que acaba de se instalar, não só porque traduz o espírito da. lei, como porque encontra profunda ressonância no coração de todos os brasileiros”.


 

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Julho 2001

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