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DANCEI, MEU AMOR

Ana Vitória Vieira Monteiro


Dancei, Meu Amor
Ana Vitória Vieira Monteiro

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© 2000,2006 Ana Vitória Vieira Monteiro
maraka@zaz.com.br


DANCEI, MEU AMOR

De
Ana Vitória Vieira Monteiro


DANCEI, MEU AMOR

 

Um Homem e uma mulher, um banquinho, fitas largas coloridas num canto do chão, no outro um cesto, pétalas de rosas vermelhas.

LUZ violeta no centro da ARENA ilumina um homem (ele usando um manto preto) e uma mulher (usando um manto branco). Ambos com as máscaras de Teatro tapando o rosto, imóveis como estátuas no parque, enquanto a platéia entra e se acomoda nos lugares.

MULHER (com máscara) — Senhor

Mensageiro da comunicação

Entre os homens és Deus.

És o Dragão, sangue, sêmen,

Poder purificador

que regenera e liberta.

És Hermes, senhor da inteligência, do comércio.

HOMEM (com máscara) — Chamo por teu nome,

És o Mago, inventor de todas as Artes.

Senhor da eloqüência,

do Mistério, e da arte de decifrá-lo.

MULHER — Carregou-me no colo

nas cartas do tarô

HOMEM — na pintura, na poesia,

e agora, neste momento.

(Tiram as máscaras)
Num instante como que acordados pelo movimento em volta se olham demoradamente, movidos por uma força que lhes é peculiar. Afastam-se rapidamente um do outro e dando voltas em círculos parecendo procurar entender o que acontece, ao som de estridentes gritos, carros, buzinas, barulhos em geral, que têm o poder de acorda-los definitivamente. Olham nos olhos de cada pessoa em sua volta, quase desafiadoramente, ousando acordar de um sono milenar (cordas de um tchelo vindo do fim do mundo são ouvidas).

MULHER — Estou muito feliz de poder me comunicar hoje, queria dizer muitas coisas que não fazem sentido pra minha atual realidade, fico em dúvida se será importante falar o que se passou, ou se isso é irrelevante. Ouço uns sussurros de apelo para que revele ou oriente alguma coisa, que não sei bem o que é ou quem realmente pede.

Mas sei que terei que falar, porque esperam que eu fale, mas não sei bem o que querem, vou dizendo o que meu coração sugere, e espero que acerte no que ele quer dizer.

HOMEM — Terão que ter muito cuidado, e cautela
mas de uma forma lógica devem
intervir na ação que se desencadeia
de maneira direta, e deixar claro quem
é quem e o que pretende com tudo.
Cada um de nós faz o que dá e pode
Para mim é isso. (tira o manto e surge em uma roupa moderna)
(tira o manto, aparece de saia justa e salto alto)
MULHER — Cansei estou cansada, e surpresa com o que faço.
Agora, mas como comecei, não vou parar tão cedo.
Tinha dez moedas no bolso do casaco
do lado direito, do armário...
HOMEM — Mas por que falar disso agora?
MULHER — Um exercício de autoconhecimento.
HOMEM — Vamos lavar roupa suja em público?
MULHER — Ou suja-las mais ainda....(risos)
HOMEM — Já vi que nesta história quem dança sou eu.
MULHER — Ou eu... pois se soubesse dançar, dançaria.
Se voz tivesse para cantar, cantaria.
Se as cores me fossem dadas, pintaria.
Se do barro fizesse formas, esculpiria.
Se soubesse escrever, escreveria
Mas como só sei falar, direi. (Ameaçadora)
HOMEM — (interrompendo o que já sabe ser uma condenação)
Eu é que preciso falar, para poder ter um pouco de paz
E’ uma necessidade forte que surge e me obriga a vir aqui.
Falar de algo há muito contido dentro do meu peito.
(risos dela)
Não ria, por favor, deixe-me falar hoje, senão não vou conseguir nunca mais.
Perdoe... mas preciso e quero mesmo fazer isso.
MULHER — Finalmente se expor?
HOMEM — Não sei nem como estou conseguindo.
Está vendo que me enrolo, me desculpe.
Não falo do que eu quero e mais preciso falar, desta maldita, insuportável, timidez... que me atrapalha, me trava e me cala. Que impede de dizer coisas, as coisas que quero dizer a você e que não consigo quando tenho a oportunidade(ri).
MULHER — Aí surge aquele riso nervoso, desvia os olhos, fala do tempo, conta estórias, todas as estórias, cita nomes, mas não fala.
HOMEM — O que sei que esperas ouvir e que nunca sai da minha boca. Juro que eu tento, mas me atrapalho, fico rubro, transpiro nas mãos, olho pro chão, querendo que o mundo se abra e me engula vivo só para não ter que falar nada.
Sinto e vejo que você se diverte em me ver nesta constrangedora situação.
Fica aí, parada, esperando, fazendo da sua espera a minha tortura de não saber como, de que maneira chegar.
MULHER — E eu aqui querendo ser tocada...
HOMEM — E eu aqui sem tocar.
Preciso falar desta detestável maneira minha de ser, que se reserva tanto que cala tanto a tal ponto absurdo que constrange me constrange, te constrange. Que às vezes fala com o olhar, um canto de olho, que se esconde para te ver de longe, que aviva a minha imaginação.
MULHER — Sonha em fazer o que não faz, fala o que não revela, debocha do que admira, desdenha do que quer, confunde, me confunde, te confunde... aí você diz que é assim mesmo, que gosta de solidão porque é sensível, discreto, que gosta de privacidade, que é um ser solitário, que é intocável, quando isto é uma mentira!
HOMEM — Eu quero mais é que um terremoto me abale e me tire deste Estado!
Preciso ser libertado de mim mesmo, quebrar couraças desta imensa reserva que me impede de dar, de doar o meu imenso amor. Suprir esta carência de ser carente de amor!
Se recebo amor não chega em mim, se quero dar amor não sai do peito, nem em forma de dor
MULHER — Aí você vem e chama a mim de indiferente, arrogante orgulhosa, egocêntrica.
HOMEM — Aí eu quero morrer! E nem isso eu posso fazer.
MULHER — Ás vezes fico pensando se isso tudo não é para esconder uma grande covardia e incompetência da sua parte para com a sua própria vida.
HOMEM — Céus, o meu problema e que sou o meu maior problema!
(risos)
MULHER — E como resolver isso?
HOMEM — Não sei. Atrapalho-me todo e hoje, exatamente hoje, depois de tanto me esconder, me exponho assim, de qualquer jeito, diante de você, meio me sentindo ridículo, aliás , totalmente ridículo! Creio mesmo que devia me fantasiar de palhaço pela palhaçada que me obrigo a fazer!
MULHER — (rindo) Agora não tem jeito, já foi.
HOMEM — Fiz, tá feito. (Falando rápido, meio tímido e nervoso, mas se revelando) Talvez devido a algum trânsito no meu céu astrológico que amanhã vai me levar ao arrependimento. (Meio falando juntos, amando-se novamente) Timidez! desmedida, medida, tida, contida, explodida, ilógica...!!! Que não agüento mais conter que tem de sair de mim para você e gritar que quero, preciso te amar!!!
MULHER — Que te amo!!!
HOMEM — (dando um vexame) Não vivo sem você e é pra você, por você, que dou este vexame!!!...
Desculpe o mau jeito, deste jeito meu de declarar o meu amor. (beijam-se).
MULHER — Lembra-se da magnífica tarde em que te conheci, no Circo do Piolin?
HOMEM — Lá no Largo do Arouche?
MULHER — Como estávamos felizes!
O circo cheio de gente, prá todos os lados,
tinha trapezista, domador de cavalo,
gente bonita.
Lembra?
HOMEM — Comprei pipoca, te ofereci e você sentou lá na arquibancada!
MULHER — Luzes!!!
O palhaço chegou !!!
HOMEM — Hoje tem brincadeira?
Tem sim senhor!
O palhaço o que é?
É ladrão de mulher!
De cara pintada de branco,
que me conferia um quê nem quê de sagrado.
MULHER — (rindo) Debochei de todo mundo,
Você tinha até uma flor que saia água, lembro levei um banho daqueles, na cara, e eu ria e ria!
HOMEM — Eu caía no chão e levantava.
MULHER — Com a calça que estava sempre escorregando, aqueles imensos sapatos se apoiando numa bengala mole.
HOMEM — Palhaço! Como fui Palhaço!
(música canto-falado)
MULHER — Marcou firmeza, na dor de gostar de ser assim teimoso, orgulhoso e duro, marcou firmeza, no desespero de afirmar que é assim este teu jeito seu de ser.
HOMEM — Porque não me aceita como sou?
Você não gosta de mim!
Não me entende?
Há! Como o mundo é cruel
MULHER — Marcou firmeza
Fechou os ouvidos
Aos toques de D’eus
HOMEM — Desculpe-me mas todos têm defeitos e virtudes porque não aceita os meus?
MULHER — Marcou firmeza em ser como é, afinal é a sua personalidade.
HOMEM — Se deixar de ser assim, serei como?
Não serei mais eu
Porque ser como você quer?
Você não manda em mim!
Sou diferente, não está vendo, sou diferente
MULHER — Mas você não é diferente, é igual! A todos os ignorantes do mundo.
HOMEM — Como?
MULHER — Tão fechado em si.
HOMEM — Que não percebi. A igualdade no outro.
MULHER — Direi. Para o mundo inteiro
Ha! O mundo inteiro....
Que mundo?
Vejamos, quantos são? Você, ele, e você...
Pronto... ! (pára a música)

Este é o meu mundo todo.
As pessoas importantes do meu mundo todo!
Não passam dos dedos de uma mão!
Este é o meu mundo todo!

Que tudo o que faço, é pensando neste mundo todo.
Ha, há, há.
Que pequeno, que grande.

HOMEM — Não que eu seja uma alma solitária, Dizendo que não há mais pessoas que me importam no mundo mais que você. Há, e muitas!
Mas você, querida, é e são as pessoas que representam o meu mundo todo!
MULHER — Quando digo, ou faço algo
Penso logo, o que será que ele irá dizer?
O que será que vai falar?
Acho que não gostaria disso ou daquilo
O meu mundo todo.....

Conheci a felicidade plena
Ao contemplar teu rosto, que recebi como um presente divino.
Que palavra mágica deveria dizer, prá você entender que te amo?!
Tão difícil de ser conquistado, de agradar; diga, fale: que estrela te agrada?
Talvez algo mais simples...
Um aconchego?
Fale o que deseja, fale !
A minha tortura é saber que nada do que faço ou digo, te satisfaz realmente, não acho a medida certa, (para si) prá reter teu sorriso só para mim...
HOMEM — Qual é?
MULHER — Tudo que desejo é só e simplesmente te agradar!
Sinto que não consigo.
HOMEM — Perdão.
(silêncio de ambos)
Em quantos tons devo pedir perdão?
MULHER — Qual é a medida certa?
HOMEM — PERDÃO, PERDÃO, PERDÃO
Perdão, por ter te dado Uma vida,
Esta vida que tens vivido
MULHER — Tão sofrida e dura, que me mata.
HOMEM — PERDÃO, PERDÃO, PERDÃO
Meu amor
Por tudo que te aconteceu
MULHER — E eu não pude impedir
HOMEM — PERDÃO, PERDÃO, PERDÃO
Eu até tentei,
Mas não deu,
Perdão.

Que posso fazer senão te pedir PERDÃO
Pelo que fiz.
Pelo que não fiz?
MULHER — Pelo que deveria ter feito...
HOMEM — PERDÃO, PERDÃO, PERDÃO
Não me perdôo até que me perdoes
MULHER — Tão lindo, tão meu
HOMEM — PERDÃO.
MULHER — Pensei que eras um DEUS
HOMEM — Mas não sou!
MULHER — Me enganei. Meu homem como um Urano profano rejeitou com indiferença os filhos meus e seus.
HOMEM — Você me idealizou !?
MULHER — Meu Rei, pensei que eras um Rei.
HOMEM — Perdão. Por não ser Rei.
MULHER — Queria te esquecer.
Não lembrar mais dos teus olhos, que me deram vida. Quando eu quiz morrer vivi por ti e pela vida que trazia em mim, fecundada por ti.
E agora?
HOMEM — E agora?
MULHER — Diga, que farei?
Chorarei, até não puder mais abrir os olhos?
Foi sempre assim, não é?
Só que agora você está muito longe.
Longe demais, não posso mais te alcançar, enlaçou seus braços em outros abraços, como sempre.
HOMEM — Como sempre... (triste)
MULHER — Como sempre.
HOMEM — Não te esqueci, todos os beijos que dei foram na tua boca, sempre, acredite.
MULHER — Paciência.
(para si) Tenho que encontrar palavras...
(com ironia)
Há! Ontem ouvindo o canto dos pássaros
Vendo o bater das azas, paradas no ar, do beija flor,
descobri algo importante realmente.
Que todos vocês não são,
como imaginei, todo o meu mundo.
HOMEM — Não querida era só eu e os nossos....
MULHER — Quem sabe agora possamos até...
Ficar anos sem nos ver, e tudo bem!
HOMEM — Talvez eu possa ser curado pela tortura da solidão.
MULHER — Telefonarei no seu aniversário.
HOMEM — Jura?
(imitando o telefonema)
“Que bom, você desapareceu...”
MULHER — (decidindo) Agora estou com pressa.
HOMEM — Fica comigo! Tenho tantas coisas para te dizer... espera!
MULHER — Há é isso!
Meu Deus onde eu estava com a cabeça?
Que não percebi.
Provavelmente enfiada em alguma latrina.

Agora que encontro palavras para dizer,
tenho que me tornar poeta para falar.
Quero esclarecer, pensando bem:
você foi um grande filho da puta!
Que projetou em mim tua loucura.
E eu acreditei, “que não sabia amar,
que jamais saberia o que é isso.”
HOMEM — Temos de viver, este é o problema que carregamos nesta vida.
MULHER — (com ironia) Há, há ! E vamos seguindo este caminho, sem salvação, condenados a morrer.
(põe a máscara)
Por capricho da Vida, de humana que sou, terrestre, telúrica.
HOMEM — (para ela) Vivendo aqui esta vida que tanto gosto, neste planeta.
MULHER — Azul, azul..
Cheio de verde, cheiro de mata
HOMEM — Com um sol dourado que de tão dourado ficou azul, azul...
MULHER — Invocando meus deuses tribais, falando com as águas das cachoeiras.
Com o fogo das fogueiras, que faço. Em noite de lua cheia, ou nova...
(música)
Sou a magia, sente tem magia no ar
HOMEM — No fogo que queima, no incenso que perfuma, na chuva que cai
MULHER — Ninguém me pega, nem me vê
MULHER — Só ouve o canto
Sente o perfume
HOMEM — De se deixar tocar, não tenha medo, me deixa chegar
MULHER — Tem magia no ar (tira a máscara) Cheguei, estou aqui, sou aquela que esbarrou no milagre, que fez e recebeu maldições
Que foi a Bahia, falou com todos os Santos, que andou atrás do trio elétrico, que subiu as escadarias da casa de Oxun Maré
Jogou búzio com Peceu
Pegou as estrelas com as mãos na Pedra Preta e viu o Sol nascer
Que rezou a Santa Maria no terço, com a Santa Maria na cabeça
Que entrou em vários universos, que tomou São Pedro e num vôo selvagem recebeu as chaves do reino do Céu e da Terra
Vi as cores do arco Íris, toquei a Pedra e ganhei as conchas do mar
Falei com Deus e com o Diabo
HOMEM — Pronta para falar das coisas que vi lá? Contar que viu o Sol nascer a meia-noite ?
MULHER — Que falei com as flores,
dancei com o ar, e aprendi a nadar. Nas ondas nervosas das labaredas.
HOMEM — E eu amei o amor, pelo amor. Eu te amei amor, por amor.
MULHER — Estou aqui!!!
Pronta para entrar num Vulcão
E no Vale da Lua ver o Sol nascer.
(começam a dançar apaixonadamente um bolero mexicano, em um barzinho no passado de suas lembranças — música)
HOMEM — Acariciei a montanha
Como suave brisa da manhã
Como orvalho umedeci teus montes
Como rio fecundei tuas terras

Penetrei em teus mistérios
Explodi em suas entranhas
Como fogo de um vulcão
Sacudi teu corpo te fiz viver

Cobri teus montes de neve
Perpetuei este momento
Imperceptível e suave

No segredo de um silencio
Fiz-me brisa, fiz-me orvalho
Para te tocar me fiz fogo
MULHER — Agora, como águia
Faço do meu canto um grito
Para que despertes
E te lembres
Do orvalho da brisa e do fogo
(elpára a música, mas a dança continua, com acordes inesperados)
MULHER — (para si mesma) Não sei o que aconteceu
Com este insensato coração
Bateu forte outra vez
HOMEM — Não sei mesmo o que acontece
Mas este coração
Insiste em continuar
Batendo mais forte
MULHER — Arma sorrisos idiotas
Ilumina o meu olhar
Faz o meu corpo esquentar
E pedir por vida
HOMEM — (para si mesmo e olhando para ela) Vida que busca a vida
No teu corpo
Anseia por te tocar
MULHER — (afasta-se) Ah! Não sei o que acontece
Com este pobre coração
Que não aprende nunca
A lição
Coração insensato
Maltratado
Abalado
Mas não sei o que acontece
Minha mente não quer
Amar novamente
Mas o cérebro, logo ele
Trava, e trava legal.
HOMEM — Provocando em mim
Um conflito maior
Que a luta
Do bem e do Mal
MULHER — Jura que um dia
Vou ouvir este bolero sem chorar!
(pára a música , e fala para si mesma)

Vou ouvir sem sofrer
Sem lembrar

Dançar em outros braços
Sentir outras pernas
Quero e quero
Viver e esquecer

Ouvir de outro
Até as mesmas palavras
De amor
Que você um dia disse
Sem me lembrar
de você

Jura que um dia
Vou ouvir e dançar
Não vou lembrar
Nem de seu nome

Quero por que quero
Esquecer-te
(pegando a máscara)
Já que não posso voltar
ao ventre de minha mãe,
e
começar tudo de novo.

Aprender a falar.
Ouvir outra língua,
outros costumes,
ser estrangeira,
em algum lugar

Aventurar-me para bem longe,
onde ninguém me conheça,
nem jamais tenham ouvido
falar de mim.

HOMEM — Ficar com saudades
daqueles que amo.
Poder voltar, sem mágoas,
sem dor, nem medo.
(pega a máscara e o manto)
Dou
tchau e “bença”
ao passado,
e,
sem voz para gritar,
murmuro — Enfim
Adeus! (sai)
MULHER — (colocando a máscara e o manto)
Quero ficar para sempre
nesta ilha
bem longe dos Deuses
arianos, das suas guerras
do Bem e do Mal
De seus domínios
de Poder
Que criaram indiscriminadamente
uma raça de meio humanos e meio deuses
que faz a Terra sofrer
e o Céu penar
por tamanha aberração
Não vou entrar em seus domínios
Vou viver com as feras
fadas, duendes e sereias
junto da beleza da natureza
selvagem.
HOMEM — (voltando de máscara)
Eterna e sábia e distante
Deusa de Tríplices dons
Podes ir aos infernos
sem mácula.
Aquecer a terra, com amor
Brilhar nos céus, refletir o Sol
Para os humanos verem
e estarem junto a ti
daquela donde nasceram.
Por gratidão
Meu povo deu ao nosso protetor
O bastão com um tridente na ponta
MULHER (com máscara — DIANA)
Trago o direito
das mães darem a luz
em paz.
pois no ventre de minha mãe
aprendi a lutar com serpentes.
HOMEM — Presides o conselho dos reis
Divina Senhora!
Concebe Vitória a quem merece
MULHER — Não tomo parte nas guerras
arquitetada pelas mulheres
por seus desejos de Poder
de seduzir o alheio
Tenho cinqüenta filhas e um filho
daquele amante de rara beleza,
que me traiu com Juno
HOMEM -Embriagados pelo teu vinho.
(silêncio)
MULHER — Basta olhar a Lua
Para falar comigo.
Que te darei o leite e mel
para beber.
HOMEM — Dá-me depois o esquecimento
desta aventura senhora,
ou a lembrança para sempre
que tenho um segredo a suportar

(Ambos tiram as máscaras, cumprimentam o público)

MULHER — Renunciamos o paraíso, temos que viver eternamente neste inferno do eterno retorno e carregados de culpa por não termos sabido ser fiel ao pedido do Deus para não comermos do fruto da árvore sagrada. Desde então a falta de cumprimento à palavra empenhada é um estigma insuportável. Neste embalo a humanidade vai vivendo o drama de viver e morrer, sempre a busca do amor total e irrestrito, somos humanos e como humanos representamos os dramas humanos, para agradar o deus (indica a platéia) para que um dia no perdoe do pecado original.
Eu que digo tantas palavras das palavras dos deuses, agora não tenho palavras para dizer o quanto estou feliz por vocês terem vindo nos ouvir falar belas palavras.
HOMEM — A profissão do artista vive por causa única e exclusiva de vocês, da presença de vocês, muito obrigado, por estarem aqui conosco.
Os dois sorriem e jogam beijos quentes para a platéia, apertam as mãos de quem estiver mais próximo.
Colocam as máscaras e se retiram do palco em compasso.


 

DA AUTORA

Pertenço à 4ª geração de estudiosos do espiritualismo, como dizia minha amada e saudosa avó materna Miretta Lacerda, os dons para-normais estão na nossa genética e o gosto, pelo estudo de pesquisa, aprendi na convivência diária com ela, que me alfabetizou aos cinco anos de idade, quando todas as crianças começavam a ler aos sete anos. Ela orientou as minhas primeiras e segundas leituras. Depois “assaltei” a biblioteca de minha mãe Philomena (assim com PH, como gosta de lembrar), que os mantinha trancados, pois sabendo do meu gosto por livros achava que eu tinha pouca idade para os devorar, no entanto deixava à vista as fábulas de Esopo e as mitologias gregas, que releio até hoje. Meu pai, no entanto, lia e relia para mim os livros de iniciação esotérica e de alquimia, comentando longamente a cada parágrafo.

Primeira filha de meus pais, nasci em 2/2/45. Devido à vitória dos aliados na guerra recebi o nome de VITÓRIA, na cidade de São Carlos. Aos 5 anos meus pais se separaram e com minha a família (mãe e dois irmãos) viemos para São Paulo onde permaneci, estudei piano, fiz os estudos primários e secundários no bairro da Penha.

Aos 16 anos FUI trabalhar no jornal da Penha onde tinha uma coluna para jovens, minha mãe casou-se novamente e ganhei mais um irmão, meu pai também casou. Participei dos movimentos dos jovens daquela época, freqüentei passeatas, ouvi Elvis e Villa Lobos no Teatro Municipal de São Paulo e uma vez por ano de férias íamos ao Rio de Janeiro.

FUI para a Radio Marconi, casei com o radialista e jornalista Gil Gomes, indo morar no Jardim da Saúde. Tivemos três filhos; estudei astrologia, pintura e tapeçaria espanhola durante 14 anos, depois nos separamos. Estudei então acupuntura, shiatsu, doin e parapsicologia, abrindo a Clínica Vitalista Paracelso como terapeuta acupunturista.

Recomecei a escrever editando jornais alternativos, participei de movimentos de Ecologia, de preservação animal e vegetal, dei palestras por todo o Brasil.

Tornei a me relacionar amorosamente, encontrei Marcos, um quiromancista inigualável que depois de dois anos, se matou por saber ser portador de uma doença incurável.

Fechei o consultório depois de 12 anos e FUI em busca de realizar meu sonho:

Ser ESCRITORA.

Mudei de casa, mudei de vida, mudei de calendário — rejo-me hoje pelo calendário Maia. Formei um grupo de estudos xamânicos somente com artistas. Compus poesias e músicas.

Gil Gomes e eu nos toleramos quase nos perdoamos e ficamos amigos, depois da morte do Guilherme, as vezes conseguimos rir juntos.

Mas o primogênito Guilherme Gil Gomes, depois de perder sua filha por incompetência médica na hora do nascimento, algum tempo depois, veio a falecer prematuramente de hepatite C, depois de anos de luta contra este grande mal que o atormentou nos últimos anos de vida.

Daniel entrou para a faculdade de direito e se casou, deu-me três netas, se tornou pastor da Igreja Cristã, e se mudou para Guarulhos e foi trabalhar com o pai na radio.

Vilma se formou advogada, abriu escritório e casou e mora perto de mim.

Entrei para o mundo VIRTUAL, criei dois sítios e passei a responder incontáveis e-mails por dia — descobri um novo mundo de muitas janelas e portais.

Embalada por impulsos interiores tive a loucura de não desistir até que meu sonho virasse realidade! Escrevi para TEATRO as peças — O DISCO SOLAR — CHICO MENDES e o ENCANTADO — BRASIL OUTROS 500 — A VIZINHA de NOÉ — MÃE da MINHA MÃE — PRATOS LIMPOS — FOGO ETERNO — CASACO DE ANTÍLOPE — o monólogo da FÊNIX — DANCEI MEU AMOR.

Minha história e as histórias que escrevo ainda não acabaram, pois a vida que vivo continua no mundo material, no mundo teatral e no mundo virtual.

Retomei algumas atividades, como a astrologia, a pintura e a tapeçaria como forma de lazer. E escrevo, escrevo e escrevo... penso em fotografar São Paulo, o que é um velho plano meu, mostrar a cidade a seus habitantes através de meus olhos.

Escreva para: anavitoria@maraka.zzn.com.


 

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