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CHICO MENDES E O ENCANTADO

Ana Vitória Vieira Monteiro

www.ebooksbrasil.org


 

Chico Mendes e o Encantado
Ana Vitória Vieira Monteiro

Versão para eBook
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Fonte Digital
Documento da Autora

© 2001,2006 Ana Vitória Vieira Monteiro
maraka@zaz.com.br


CHICO MENDES
e o
ENCANTADO

de
ANA VITÓRIA VIEIRA MONTEIRO


PERSONAGEM:

Contador de histórias de cordel
Corruíra o Encantado
Chico Mendes
Coronel
Menino - Adulto

CORO dos seringueiros
CORO das mulheres
CORO dos jagunços


 

INTRODUÇÃO DA AUTORA

 

Pensar, meditar e repensar é o que mais faço na vida.

A noite era de Lua Nova, não motiva olhar o céu, estava eu sentada pensando no escritório de minha casa a busca de um novo tema que me inspirasse uma peça teatral, quando surgiu a imagem de Chico Mendes na minha mente, olhando com seus olhos verdes claros, recebi aquilo como uma sugestão especial, talvez tenha sido algo inconsciente pois Chico morava no Acre e este estado é o campeão de hepatite C e meu filho estava com esta terrível doença.

Escrevi o meu texto, quando o amigo e diretor de teatro Luiz Fernando Guimarães pediu para ler a peça em São Carlos - texto sumiu do computador - reescrevi em dois dias, sem ler enviei pedindo desculpas - ele retornou dizendo que estava muito bom - ai é que fui ler o que escrevi e acabei também gostando. A peça foi apresentada como um evento em São Carlos que por “coincidência é minha cidade natal” no dia 22 de dezembro de 99 no Teatro São Pedro na data em que Chico morreu, sem que nenhum de nós tenha planejado nada.

Na cultura brasileira existe uma profusão de lendas, deuses e heróis, que são cultuados de geração em geração, suas histórias são contadas em segredos, como é do temperamento dos nativos, “não falar para ouvidos leigos de seus deuses ou melhor dizendo de seus ENCANTADOS” e quando alguém quer saber, desviam do assunto.

Os nativos guaranis ao gravarem em CD seus cantos sentiram que estavam revelando seus segredos, o mesmo ocorreu com os xavantes, e igualmente acontece com as religiões que tem origem na floresta até hoje. Os habitantes do mundo urbano das regiões da floresta do Amazonas, não fogem a este perfil, herança cultural da longa convivência com os nativos, que muitas vezes acabaram em parentescos, gerou um tipo maravilhoso de pessoa, pois deles absolveu o saber viver no silencio da mata, a paciência, a fala mansa, o bom humor, a simplicidade e a aceitação de seu destino, corpo de tronco largo e forte - do europeu introjetou a perseverança, a malícia, e o desejo de progresso material, o olho claro e pele branca.

Deu no que deu - Chico Mendes - falar dele e de CURRUPIRA é realmente uma honra.

Chico Mendes foi uma das pessoas que mais contribuíram para chamar a atenção para a floresta e seu povo. A impressão que tínhamos era que somente índios viviam por lá, e caboclos incultos, mero engano, foi justamente Chico quem mostrou o quanto não sabíamos nada sobre o que acontecia naquele lugar.

Este homem foi de uma coragem, de quem conhece o seu destino, ao denunciar para além das fronteiras da mata o que lá acontecia à questão dos seringueiros, da devastação, dos mineradores, dos fazendeiros, antes dele morreram da mesma forma que ele muitos outros lideres seringueiros que ousavam divergir da política exercida pelos que representavam a ORDEM e a LEI.

CHICO MENDES é um HERÓI, destacou-se do comum se fez ouvir e conseguiu que os seus pedidos fossem atendidos transformando a questão da floresta uma prioridade para o MUNDO inteiro.

CURRUPIRA faz parte da mitologia nacional, é invocado em todas os rituais de pajelança é o GUARDIÃO da FLORESTA o deus da cura..Afinal os deuses sempre conversaram com os heróis.


INTRODUÇÃO do PRIMEIRO TEMPO

Na platéia uma pessoa está atentamente ouvindo chocado a voz de CHICO MENDES no radio-noticiário nacional e internacional contando que:

 

A destruição de animais e vegetais provocadas por alterações no meio ambiente terrestre. Trabalhos científicos estimam que o número total dessas espécies no planeta está entre 5 milhões e 30 milhões. De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), a degradação ambiental é responsável pela destruição de cerca de 100 espécies a cada dia. Os pesquisadores calculam que, até o final do século, cerca de 25% da flora e da fauna terrestre deve desaparecer.

(Esta pessoa levanta-se agitado)

Degradação ambiental - A extinção de espécies ocorre naturalmente desde que surge vida no planeta. Suas principais causas são as modificações climáticas. As desertificações, glaciações e alterações da atmosfera pelas atividades vulcânicas tornam o meio ambiente desfavorável à sobrevivência de diversos grupos, que desaparecem.

A maioria das espécies, porém, consegue se adaptar a essas mudanças e sobrevive.

Nas últimas décadas, a ação humana tem sido responsável por boa parte do desaparecimento de plantas e animais. A poluição%5620 das águas e do ar, a contaminação pela radiatividade, o uso indiscriminado de produtos químicos e a destruição de habitat de grande diversidade biológica, como as florestas tropicais, ocorrem com maior velocidade que o processo de adaptação dos seres vivos ao meio ambiente alterado. Desta forma, eles não se adequam às novas condições de vida e se extinguem. As espécies vegetais são ameaçadas, ainda, pelo desmatamento indiscriminado, as queimadas e a extração predatória de madeiras nobres. Quanto à fauna, ela sofre os efeitos da caça e comércio ilegais dos animais selvagens.

(a pessoa realmente se perturba com o que ouve)

Espécies ameaçadas - Em todo o planeta, a quantidade de animais em via de extinção é enorme. Entre eles estão a baleia azul, o mico-leão-dourado, o elefante, o rinoceronte negro e o gorila-das-montanhas da África, o cervo da Tailândia, o panda gigante da China, o pingüim grande da Islândia e do Canadá, o cavalo selvagem da Europa Central, o bisão (boi selvagem) e o pelicano branco da França. No Brasil, cerca de 200 espécies podem desaparecer em pouco tempo. Entre elas estão o lobo-guará, a onça-pintada, o tatu-canastra, a ariranha, o sagüi e o jacaré-de-papo-amarelo. Várias espécies vegetais também correm risco de extinção. É o caso das orquídeas de Chiapas, do México, e das bromélias, típicas das zonas tropicais e subtropicais, encontradas no continente americano e parte da África

(Não contendo a emoção declara) - No Brasil as coisas tomam dimensões alarmantes vamos citar algumas das espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção pelos seus nomes populares são:

Águia-cinzenta.

Amambé-de-asa-branca, cotinga, ferrugem.

Anambezinho.

Andorinha-do-oco-do-pau, capacetinho-do-oco-do-pau.

Anumará.

Apuim-de-cauda-amarela.

Apuim-se-cauda-vermelha.

Aracuão, jacu-molambo, jacu-porco, jacu-verde, jacu-taquara.

Arapaçu-do-nordeste.

Arapaçu.

Araponga-do-nordeste, guiraponga.

Arara-azul-de-Lear.

Arara-azul-grande, ararauna.

Ararinha-azul.

Ariranha.

Bacurau, rabo-branco.

Bacurau, tesoura-gigante.

Balança-rabo-canela, beija-flor-de-Dohrn, besourão.

Baleia-franca, baleira-franca-austral.

Barbado, guariba.

Barrigudo.

Besourão-de-rabo-branco.

Bico-virão-da-caatinga.

Bicudo, bicudo-verdadeiro, bicudo-preto.

Cabeçuda, tartaruga-meio-pente

Caboclinho-de-papo-branco.

Cachorro-do-mato-de-orelha-curta.

Cachorro-do-mato-vinagre.

Calimico.

Cameleirinho-de-chapéu-preto.

Caminheiro-grande.

Cardel-amarelo.

Cariacu.

Cervo-do-pantanal.

Chauá-verdadeiro, jauá, acumatanga, camutanga.

Choquinha.

Chorão, charão, papagaio-da-serra, serrano.

Codorna-buraqueira, perdigão, inhambu-carapé.

Codorna-mineira, codorna-buraqueira, buraqueira.

Coroinha, pintassilgo-do-nordeste.

Crejoá, quiruá, catinguá.

Cuitelão, bicudo, violeiro.

Curiango-do-banhado.

Cuxiu-de-nariz-branco.

Cuxiu.

Doninha-amazônica.

Falcão-de-peito-vermelho.

Fura-mato, tirida-de-orelha-branca.

Gavião-de-penacho, uiraçu-falso.

Galito, tesoura-do-campo, bandeira-do-campo.

Ganso-do-norte, ganso-cor-de-rosa, maranhão, flamingo.

Gato-do-mato-grande, maracajá.

Gato-do-mato-pequeno.

Gato-do-mato.

Gato-palheiro.

Gavião-pomba.

Gavião-preto, apacamim, gavião-pato.

Gavião-real, gavião-de-penacho, uiraçu-verdadeiro, cutucurim, harpia.

Guará.

Guariba.

Guaruba, ararajuba.

Guigó, sauá.

Jacaré-do-papo-amarelo.

Jacaréaçu.

Jacu-de-barriga-castanha.

Jacu-estalo.

Jacucaca.

Jacuguassu, jacuaçu.

Jacutinga.

Jaguatirica.

Jaó-do-sul, zabelê, juó.

Jubarte.

Lobo-guará, guará, lobo-vermelho.

Lontra.

Macaco-aranha.

Macaco-prego-do-peito-amarelo.

Maçarico-esquimó.

Macuco, macuca.

Mãe-da-lua.

Mergulhão, patão, pato-mergulhão.

Mico-de-cheiro.

Mico-de-cheiro.

Mico-leão-da-cara-dourada.

Mico-leão-da-cara-preta.

Mico-leão-dourado, sagüi-piranga.

Mico-leão-preto.

Muriqui, mono-carvoeiro.

Mutum-cavalo, mutum-etê, mutum-da-várzea, mutum-piry, mutum-do-nordeste.

Mutum-de-penacho, mutum-pinima.

Mutum-do-sudeste.

Negrinho-do-mato.

Onça-pintada, pintada, canguçu, onça-canguçu, jaguar-canguçu.

Ouriço-preto.

Papa-capim, cigarra-verdadeira.

Papa-formiga.

Papa-formigas-de-gravaté.

Papa-formigas.

Papa-mosca-estrela.

Papa-moscas-do-campo.

Papagaio-da-cara-roxa, chauá.

Papagaio-de-peito-roxo, papagaio-caboclo, papagaio-curraleiro, jurueba.

Parauacu-branco.

Paruru, pomba-espelho.

Pássaro-preto-de-veste-amarela.

Patinho-gigante.

Pavoa, pavão, pavó, pavão-do-mato.

Peito-vermelho-grande.

Peixe-boi, guarabá.

Peixe-boi, peixe-boi-marinho.

Pica-pau-de-cara-amarela.

Pica-pau-de-coleira.

Pica-pau-rei.

Pichochó, papa-arroz.

Pintor-verdadeiro.

Preguiça-de-coleira.

Rabo-amarelo.

Rato-do-mato-ferrugineo.

Rato-do-mato-laranja.

Rato-do-mato.

Rolinha-so-planalto, rolinha-do-Brasil-central.

Sabiá-castanho.

Sabiá-cica, araçu-aiava.

Sabiá-da-mata-virgem, sabiá-do-Mato-Grosso, sabiá-da-serra, virussu, tropeiro-da serra.

Sabiá-pimenta.

Sagüi-bigodeiro.

Sagüi-da-serra-escuro.

Sagüi-da-serra.

Sagüi.

Saí-de-pernas-pretas.

Saíra-apunhalada.

Socó-boi.

Soim-de-coleira.

Surucucu-pico-de-jaca, surucucu.

Sussuarana, onça-parda.

Tamanduá-bandeira.

Tartaruga-de-couro, tartaruga-gigante, tartaruga-de-pele.

Tartaruga-de-pente.

Tartaruga-verde.

Tatu-bola, tatuapara.

Tatu-canastra, tatuaçu.

Tauató-pintado, gavião-pombo-grande.

Tesourinha.

Tiriba, fura-mato, cara-suja

Toninha, boto-cachimbo.

Uacari-preto.

Uacari.

Veado-campeiro.

(Um guarda do Teatro vem retirá-lo

GUARDA - Meu caro está exagerando, isto é um teatro,

(mas ele embora contido continua)

Borboletas:

Eresia erysice. Família Nymphalidae.

Eurytides lysithous harrisinus. Família Papilionidae.

Eutresis hypareia imeriensis. Família Nymphalidae.

Heliconius nattereri. Família Nymphalidae.

Hypoleria fallens. Família Nymphalidae.

Hypoleira mulviana. Família Nymphalidae.

Joiceya praeclara. Família Nymphalidae.

Mechanitis bipuncta. Família Nymphalidae.

Melinaea mnaisas. Família Nymphalidae.

Moschoneura methymna. Família Pieridae.

Napeogenis cyrianassa xanthone. Família Nymphalidae.

Orobrassolis ornamentalis. Família Nymphalidae.

Papilio himeros himeros. Família Papilionidae.

Papilio himeros baia. Família Papilionidae.

Papilio zagreus zagreus. Família Papilionidae.

Papilio zagreus neyi. Família Papilionidae.

Denuncio que não bastando isso os direitos humanos são desrespeitados na zona da mata amazônica, seres humanos são mortos cruelmente, com requintes de perversidade após seção de tortura, onde os membros do corpo são decepados a titulo de exemplo no mais completo anonimato..

(Finalmente é retirado do teatro)


PRIMEIRO TEMPO

 

CONTADOR de Histórias:

Tão vendo este folhetim?

Tem, tim, por, tim, tim

Da história que eu vou contar

Ela tem começo, e não tem fim

Um dia muito distante

Onde hoje há mar

Era sertão.

E onde hoje é deserto

Era um lugar inserto

Na floresta e aconteceu

Uma história de verdade

verdadeira

Destas, de arrepiar a moleira

De criança nova na mamadeira

Quando os Encantados

Iam para clareira

Falar com gente faceira,

Em encontros demorados

Havia muita magia no ar

naquele lugar!

Vou contar,

o que neste folhetim está

Quem quiser acreditar

Que acredite, ou duvide!

Pode duvidar do meu falar.

Mas para comprovar

eu não engano...

Prova vão querer tirar

O folhetim pode comprar.

Na floresta amazônica, os sons de pássaros, barulhos de folhas e de pequenos animais é quebrado quando lá longe nos igarapés, ao longo da trilha da seringa, ecoa um grito desesperado de um homem.

CHICO MENDES - (fala com seu falar cantado) CURRUPIRA, Até quando, até quando, vou andar sem te encontrar?

(Corruíra que estava à sombra de uma árvore frondosa de 200 anos que ele mesmo viu crescer, pula assustado, pois não é comum o ser humano o chamarem assim, o grito se repete por três vezes porem agora mais perto. Corruíra respondeu com um forte assobio e tudo o mais na mata silencia. Até o grito de quem chamou! )

CHICO MENDES - Meu caboclinho onde está você. Currupiraaaaa

(Dançando em seus movimentos fazem barulho andando com os pés voltados para traz quando quer andar para frente, peludo, assustador. CHICO MENDES não se assusta não.)

CHICO MENDES:

Eu sei que está aqui, eu sei

vim pedir a vossa proteção,

No seringal que ando,

nem flor tem tempo de crescer

A seringa morre pequena

A borracha está acabando

O povo quando não morre

de fome, morre humilhado

por se ver maltratado

rezando em vão

para um deus surdo

cantando estão!

CURRUPIRA - Quem é você homem?

CHICO MENDES:

Nasci em Porto Rico

um seringal pobre.

Corruíra!

Venha cá para me falar

Como isso vai ficar.

Os jagunços a mando

De quem quer aqui ficar

estão querendo

com a floresta acabar

O teu reinado está ameaçado,

é árvore caindo uma trás da outra

todos os dias que nem dominó

e ninguém planta no lugar

Vim colher castanha

para poder te falar, tem dó!

Há tanta fumaça que nem vejo o céu

e minha vida corre perigo, de tanto reclamar

marcado está,é certo por uma bala

Que é incerta, sei que vou morrer dela.

CURRUPIRA - Porque?

CHICO MENDES:

Por ser inconformado!

E não ver solução!

É muita humilhação.

Para quem em palavras acredita

Promessas feitas em vão

(Currupira se agita e vento forte levanta quando sua voz sai tudo silencia)

CURRUPIRA:

Quem derrubar uma árvore,

matar um bicho sem precisão

se perder na mata vão.

Rodando no mesmo lugar

e não tem quem livre não!

Vão comer sem parar

Peste vai pegar,

morrer devagar

Para parar de matar

Quem não pode sair do lugar!!!

Quem a mata derruba

A mata, mata!

CORO DE JAGUNÇO - Madeiraaaaaaaaaaaaa

CHICO MENDES

Tua lei

Eu sei

É dura

Já falei

Ouvir-me

Não vão

Não.

CURRUPIRA

To ouvindo, estou te ouvindo

No meu caminhar

Vou ver, vou olhar

Vou verificar, o seu falar

CORO DE SERINGUEIROS (Tocando maracá e cantando)

A floresta é de quem trabalha

Nós vamos vencer

Não vamos morrer,

Nem desaparecer,

CORO DE SERINGUEIROS

Virar animal em extinção

como o lobo-guará,

a onça-pintada

o tatu-canastra, a ariranha,

o sagüi e o jacaré-de-papo-amarelo

CORO DE JAGUNÇOS

Madeiraaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Sai dai

Seu moço

Que a gente aqui

Só obedece

As ordens do Sinhô

O CORONEL (Aparece tacando fogo nas roupas de um dos trabalhadores que ameaçou mudar de lugar)

Isto aqui, é para mostrar

O que acontece

Quem quiser

Que acompanhe

Este cabra da peste

CONTADOR DE HISTÓRIAS - (meio quieto fala num canto)

Para a história não perder o encanto

Todos saem horrorizados

até os jagunços se espantam

diante do poder

de vida e morte do homem

doutor formado

Coronel para as mulheres

Que mata até matador

Do sertão.

Um dia o coronel cortou os pés, os braços de um caboclo bravo só para mostrar quem mandava mais.

Mas o coronel não conhecia

O inimigo novo que tinha.

O Chico sabia falar, tinha lábia

O danado que nem passarinho

Pendurado no ninho.

Para parar seu canto

Só matando.

CHICO MENDES

Meus camaradas, seringueiros,

vindos de todo os lados,

Esquecidos neste chão,

completamente jogados

A sorte abandonados

Não somos nem contados

Para o país não existimos não

Nossa voz tem que ser ouvida

Nem que seja um dia na vida

Ultrapassaremos esta medida

Do direito de ser cidadão

Vamos falar para o mundão!

Já que nosso sangue correu neste chão

Os nossos mortos foram

Queimados vivos como as árvores,

Mas como sementes, brotaram

Da Terra, renascem, e querem viver

Árvore derrubada vira móvel e utensílio

Homem assassinado morto, vira

Idéia, brota revolta e pois na gente fica

A vergonha da vida que ele não viveu

CORO DE SERINGUEIROS

Se não ganharmos,

Pelo menos, temos

que empatar o jogo!

CORO de SERINGUEIROS

Nasci condenado a morrer

Antes da hora que Deus mandou

CORO FEMININO

É crime no céu, é crime na Terra

CORO DE JAGUNÇOS (entrando sem jeito, de facão na bainha)

E moto serra no chão

Se não morro matado

Morro por peste, e doença feia

Trazida de longe,

no sangue de quem mandou

CORO DE SERINGUEIROS

Mas eu quem sou?

só a metade de mim

é índio, mãeinha

Meu pai nordestino,

veio na guerra

Para a borracha vencer

Deixou-me aqui, menino

Sem dizer quem eu era

Índio não é

No norte não nasci

Esta floresta viu

Caboclos me tornaram

Como corruíra fiquei

Existe, mas ninguém vê

CHICO MENDES

Eu sou filho de Deus

Eu sou filho do Diabo

Não sou certo

Nem errado

Só sou um homem bravo

Valente, e destemido

Nascido marcado

Como gente indesejada

Incomodo

Quem está de um lado

E quem ta do outro

Sou cabra danado

Os jagunços que aqui estão

Não sabem de nada não

Matam por comida

Até seu irmão

Temos que contar para eles

Que escravos são

Que eles não sabem não

Nascem e vivem mandados

Pela lei do sertão

Pensando ser o Coronel

Sempre com razão

Matam sem perdão

A liberdade é um direito

De todo o cidadão.

CORO DE MULHERES

Que liberdade seu CHICO

Quando não se tem razão

Nem nascido acham que são

Acre é o Brasil ou não

CHICO MENDES

Acre é Brasil, não é Bolívia não

Temos que nos dar as mãos

Inventamos o empate meu irmão

Mas a luta é contra quem manda

O jagunço matar a gente

Eles sofrem tanto quanto a gente,

Meu pai veio do sertão

A floresta assusta e mata a jagunçada

Jamais vão ter dinheiro para voltar

Para o sertão ver a sua amada

Vale a pena contar a vida de quem fica

Filho vai Ter e não vai voltar

Sou sonhador sim

Vivo imaginando o que vai ser

Quando eu não estiver mais aqui

Sonho com um mundo melhor

Onde não haja mais impunidade

Para a maldade dos maiorais

Que mandam até no Poder

Da sala de seus arraiais

CORO DE JAGUNÇO

O homem tem razão

Saída está tendo

Este lado é que é o meu

CHICO MENDES

O A B C temos que aprender

Vencer com saber a lei do facão

Pois isto aqui não é sertão

Estão matando irmão

Que na floresta vive, com razão

Pois a floresta não tem dono

E eu não vou ficar do lado errado não

Isto não é política, não é religião

Isto é coração!

CORO DE SERINGUEIROS (canta o estribilho)

CHICO MENDES

Vem irmão vem

Pro nosso lado lutar

A mata é de todos

Nós vamos trabalhar.

OS JAGUNÇOS (largam o facão e a moto serra e passam para o lado dos seringueiros)

A gente não sabia

Que gente nossa

Aqui nesta terra

Vivia, vivendo da seringa

Seu Getúlio mandou

Nordestino lutar

Na Segunda guerra mundial,

E seringa tirar, a guerra acabou

E muito soldado não voltou

O que foi que aconteceu?

O patrão falou

Que viraram bugres

Gente má e sem valor

Que nem índio queria

Que vivessem na floresta

Que a gente fazia um favor

De acabar com este pavor

Que o asfalto tem que passar

Porque boi e vaca vão pastar

Entre asfalto e gado

Quem perdeu foi o caboclo

E tu és gente ou é louco?

CHICO MENDES

Sou filho do norte

Sou macho e não corro

Mirei na mata

Mistérios nunca vistos

Falei com o encantado

Que a gente vive aqui

Como vive o beija flor

Na paz do Senhor!

CORO DE JAGUNÇO

Agora entendi e do teu lado estou

E nós vamos lutar

Espero que corruíra

Perdoe, o estrago que fizemos

Esta mão que árvore derrubou

Agora vai plantar e seringa vai tirar!

CORO DOS SERINGUEIROS (gritam) - Empatamos, empatamos

Empatamos!

(CURRUPIRA Olha e dança ao som dos maracás).

Na floresta anda para frente anda para trás, com seus pés

sempre voltados para trás, parece que vai quando quer voltar!


SEGUNDO TEMPO

 

CONTADOR DE HISTÓRIA

O seu Chico Mendes

era um contador de história,

e história contou

pros meninos que encontrou

MENINO

Fale meu padrinho

do caboclinho da floresta

Conte uma história

Que hoje é dia de festa

CHICO MENDES

Pois é ele existe de verdade

Ainda ontem falei com ele

MENINO

É, já viu mesmo o Currupira ?

CHICO MENDES

Já vi sim, até o dragão da

Moto Serra

Comendo feio na floresta

MENINO

Que jeito ele é?

CHICO MENDES

O dragão ou o Currupira?

MENINO

O Currupira

CHICO MENDES

Verde, verdinho, verdinho

MENINO

Minha nossa!

CHICO MENDES

Ta com medo?

MENINO

To.

CHICO MENDES

Então não conto não

MENINO

Conta sim, que eu agüento.

CHICO MENDES

Assim que eu gosto.

MENINO

Conta logo padrinho!

CHICO MENDES

To falando aqui

e estou mirando ele ali

MENINO

Aonde?

CHICO MENDES

Ali mesmo,

quando você for maior vai ver

Para isso tem comer

Muita macaxeira

MENINO

Fala logo padrinho

Não enrola

CHICO MENDES

Ele é grande tem pelo

E anda para trás

Quando quer contigo falar

MENINO

O padrinho já viu o CURRUPIRA mesmo?

CHICO MENDES

Já, já vi

Ele vive

Lá no meio da floresta

Dos lados do encantado

Desencantou para mim,

assim

Que nem uma flor

Da Vitória régia

Que nasce branca, e

A noite esquenta e fica rosa

Para bem pouca gente vê

O caboclinho é o Rei da mata

Esta lá para proteger

Pobre ou rico

Mas só quem merecer

Sua lei é implacável

Quem derruba árvore

E mata bicho sem comer

Ele condena a comer sem parar

MENINO

Fica gordo?

CHICO MENDES

Gordo é pouco fica doente.

E o médico vai proibir de comer o que mais gosta

O cabra vai ter de ficar sem comer

Se não ele vai morrer

Currupira então vai obedecer

MENINO

Te trouxeram um presente

Um desenho muito lindo

Tem todas as cores

(uma toalha azul com as cores do arco íris na ponta)

CHICO MENDES

Tudo tem uma precisão

Este presente é lindo

Vou usar como uma toalha

Banhar-me arco íris

MENINO

Eu me vou, tenho que fazer

Ainda o caminho da seringa

Obrigado pela história que me contou!

CHICO MENDES

Vê se não para, para cheirar flor

Se não Currupira vai ver

Distraído fica

Na mata, vai se perder

MENINO

Que nem o padrinho?

CHICO MENDES

Para menino

Que eu nunca me perdi

Apesar de ficar inebriado

Com o perfume que senti

Da flor do jagube


TERCEIRO TEMPO

(CHICO MENDES quieto olha a toalha, está triste nada espera do mundo. Conversa com CURRUPIRA que agitado como é já está se acostumado com o jeito de Chico que é manso no falar.

 

CURRUPIRA

Marcado você estava

Marcado você ficou

Mas tuas histórias vão contar

Ainda muito tempo

Por este mundão

Para o povo compreender

Que tem coisa que existe

Sem mata não podem viver não

Pois do mundo do encantado

Muita coisa se falou

Mas homem nenhum viu

O que este homem viu

Se estiver marcado é para viver

Na memória deste povo

Eterno será

Com Currupira viverá

CHICO MENDES

Sei que o destino já está traçado

Seu intento ainda eles vão conseguir

Esta luta não vai parar

Mas meu sangue é o ultimo

Que vão derramar

Que a hora esta chegada

Porque assim Deus quer

Para mim não peço nada

Vou encontrar com o traidor

E morrer de emboscada

CORONEL (num canto para outros dois fala)

No Natal você vai Ter

Um presente anunciado

CHICO MENDES num canto fica

CORO DE SERINGUEIROS e de MULHERES (de branco, caminhando no meio da floresta, com maracá na mão)

O país todo vê

no dia 22 de dezembro de 1980

Na TV quem matou Salomão Aiala

O povo não pode perder.

O desfecho de

Tão medonho crime

Ainda sem solução

Enquanto na mata

Há coronel fazendeiro

Mandando pistoleiro,

Matar mais um seringueiro!

É o décimo terceiro

CONTADOR DE HISTÓRIAS

Na seringa sempre tinha

Umas reza

Com o padrinho

E a madrinha

(seringueiros fazem o sinal da cruz em semicirculo)

Tocam maracá

Dançam,

dois para lá dois para cá

e tocam mara cá

Para CURRRUPIRA

Chamar.

Mas enquanto isso

Sem nada desconfiar

Mas cismado

Já sabia o que

Iria se passar.

Não querendo alarmar

Para a novela

Não estragar

Dos dois soldados

E da mulher

A tagarelar.

CHICO MENDES

Passe-me a toalha nova,

Que eu vou tomar banho

E sonhar um pouco.

Com mundo lá para frente

No 2.120 quando eu não estiver mais aqui

Vou até escrever

Para deixar de prova

Que sou um sonhador

Que nunca parei de sonhar.

Sonho com uma casa

Para ficar com minha mulher

Ter comida para os filhos,

netos, até bisnetos

Todos quero ver crescer

Isto é sonhar demais?

Sonho isso para mim

Sonho isso para você

Dá-me a toalha

Nova que ganhei.

MULHER

Aquela?

CHICO MENDES

Aquela que eu ganhei!

A noite está escura

Vou logo

De encontro

Com a sorte dura

MULHER

A Morte, credo em cruz três vezes.

CHICO MENDES

Não, Sorte!


QUARTO TEMPO

(Ao longe ouve-se já os cantos altos das mulheres, puxando cantos e o som dos maracás feitos pelo padrinho xamã fazendo seus trabalhos de fé estão Currupira chamando. Pareciam já saber, que naquele dia à noite Chico Mendes ia morrer.)

 

MENINO (chegando da morto afobado)

Seu Chico

Tem dois homens

Armados para te atocaiar

Fica com esta arma de fogo

Está carregada de balas.

CHICO MENDES

Arma você está andando com um revolver?

MENINO

Dizem que a tua vida

Não vale uma banana no cacho

CHICO MENDES

Não quero arma não

MENINO

Ta, seu Chico Mendes, eu avisei

CHICO MENDES

Já estou avisado

Vai embora logo

Menino, que isto

Aqui não é TV.

Noite na mata, Chico tira a roupa o som de água cai e leva 40 tiros nu como nasceu, o homem morreu, enquanto um jagunço de chapéu e camisa vermelha corre pelos fundos, Chico arrasta - se agarrado na toalha de arco íris CHICO abraça a filha e morre com a cabeça nas cochas de sua mulher na véspera do Natal do ano de 1988-

CURRUPIRA

Solta o seu grito, toda a mata silencia, até os cantadores e canta

Quem derrubar uma árvore,

matar um bicho sem precisão

se perder na mata vai.

Rodando no mesmo lugar

e não tem quem livre não!

Vão comer sem parar

Peste vai pegar,

morrer devagar

Para parar de matar

Quem não pode sair do lugar!!!

Quem a mata derruba

A mata, mata!

No mundo todo as pessoas começam a comer compulsivamente, é a gula e a peste chegando O CONTADOR DE HISTÓRIAS, tira seus folhetins do cordel e sai de vagarinho mas antes pega mais um livrinho e lê:

DIREITOS HUMANOS - Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz do mundo,

Considerando que o desrespeito pelos direitos do homem resultara em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,

Considerando ser essencial que os direitos do homem sejam protegidos pelo império da lei, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,

Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,

Considerando que o povo das Nações reafirmara, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher, e que decidiram promover os progressos sociais e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Estados Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades fundamentais do homem e a observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades são da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,

Agora, portanto,

A Assembléia Geral proclama:

A PRESENTE DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações como o objetivo de cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados Membros, como entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Art. 1° - Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Art. 2° - (1) Todo homem tem capacidade para gozar dos direitos e das liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. (2) - Não será também feita nenhuma distinção, fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Art. 3° - Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Art. 4° - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Art. 5° - Ninguém será submetido à tortura, nem tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Art. 6° - Todo homem tem direito de ser, em todos os lugares, reconhecidos como pessoa perante a lei.

Art. 7° - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direitos a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Art. 8° - Todo homem tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes recurso efeito para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela Constituição ou pela lei.

Art. 9° - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Art. 10 - Todo homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Art. 11 - (1) Todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

(2) - Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática era aplicável ao ato delituoso.

Art. 12 - Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Todo homem tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Art. 13 - (1) Todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

(2) - Todo homem tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Art. 14 - (1) Todo homem, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

(2) - Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Art. 15 - (1) Todo homem tem direito a uma nacionalidade.

(2) - Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Art. 16 - (1) Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

(2) - O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

(3) - A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Art. 17 - (1) Todo homem tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

(2) - Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Art. 18 - Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

Art. 19 - Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão, direito esse que inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Art. 20 - (1) Todo homem tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.

(2) - Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Art. 21 - (1) Todo homem tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.

(2) - Todo homem tem direito de acesso ao serviço público do seu país.

(3) - A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Art. 22 - Todo homem, como membro da sociedade, tem direito à previdência social e à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade.

Art. 23 - (1) Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

(2) - Todo homem, sem distinção qualquer, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

(3) - Todo homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

(4) - Todo homem tem direito a organizar sindicatos e a nestes ingressar para proteção de seus interesses.

Art. 24 - Todo homem tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.

Art. 25 - (1) Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe e à sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e o direito à previdência em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

(2) A maternidade e a infância têm direitos a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Art. 26- (1) Todo homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

(2) - A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

(3) - Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Art. 27 - (1) - Todo homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.

(2) - Todo homem tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.

Art. 28 - Todo homem tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Art. 29 - (1) Todo homem tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

(2) - No exercício de seus direitos e liberdades, todo homem estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

(3) - Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Art. 30 - Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.


 

BREVE HISTÓRICO DE ANA VITÓRIA

 

Pertenço á 4ª geração de estudiosos do espiritualismo, como dizia minha amada e saudosa avó materna Miretta Lacerda os dons para-normais estão na nossa genética e o gosto pelo estudo de pesquisa aprendi na convivência diária com ela, que me alfabetizou aos cinco anos de idade, quando todas as crianças começavam a ler aos sete anos. Ela orientou as minhas primeiras e segundas leituras. Depois “assaltei” a biblioteca de minha mãe Philomena assim com PH como gosta de lembrar, que os mantinha trancados pois sabendo do meu gosto por livros achava que eu tinha pouca idade para os devorar no entanto deixava a vista as fabulas de Esopo e as mitologias gregas, que releio até hoje. Meu pai no entanto lia e relia para mim os livros de iniciação esotérica e de alquimia comentando longamente a cada parágrafo. Atrás da porta assistia as seções espíritas de minha tia Beni irmã mais nova de minha avó.

Cresci num universo de pessoas sempre em questionamento filosóficos, que colocavam a prova tudo que recebiam do mundo astral, conta-se que meu bisavô Elói Lacerda pedia o endereço dos espíritos recém encarnados que se comunicavam em suas seções espíritas e depois ia conferir a veracidade dos fatos. Do lado paterno os Vieira Monteiro eram cristãos católicos, depois desiludiram -se com o Bispo de São Carlos pelos idos de 1945, ficando além das alegres fogueiras das festas juninas o nome dos apóstolos dado para os seus filhos, meu pai chamava-se Pedro que desenvolveu o gosto pelo esoterismo devido a um presente de uma pessoa que deu a ele uma bola de cristal puríssimo e um livro da Cruz de Caravaca, como demonstração de gratidão por um favor recebido, que me foi ofertado pouco antes de sua passagem deste mundo.

Primeira filha de meus pais nasceu em 2/2/45. Devido à vitória dos aliados na guerra recebi o nome de VITÓRIA, na cidade de São Carlos. Aos 5 anos junto com minha a família vim para São Paulo e aqui permaneci, estudando piano, fazendo os estudos primários e secundários no bairro da Penha, FUI trabalhar no jornal da Penha onde tinha uma coluna para jovens, FUI para a Radio Marconi, casei com o radialista e jornalista Gil Gomes, indo morar no Jardim da Saúde. Tivemos três filhos, estudei astrologia, pintura e tapeçaria espanhola. 14 anos depois nos separamos. Estudei então acupuntura, shiatsu, doin e parapsicologia, abrindo a Clínica Vitalista Pára Celsus como terapeuta acupunturista. Recomecei a escrever editando jornais alternativos, participei de movimentos de Ecologia, de preservação animal e vegetal, dei palestras por todo o Brasil - Tornei a me relacionar amorosamente, encontrei Marcos um quiromancista inigualável que depois de dois anos, se matou por saber ser portador de uma doença incurável. Fechei o consultório depois de 12 anos e FUI em busca de realizar meu sonho. Ser escritora.- Mudei de casa, mudei de vida, mudei de calendário passei a me reger pelo calendário Maia. Formei um grupo de estudos xamanicos somente com artistas. Compus poesias e músicas.

No entanto meu filho primogênito Guilherme Gil Gomes, depois de perder sua filha de incompetência médica na hora do nascimento, algum tempo depois, veio a falecer prematuramente de hepatite C depois de anos de luta contra este grande mal que o atormentou nos últimos anos de vida sem cura. Daniel entrou para a faculdade de direito e se casou , deu-me três netas se tornou pastor da Igreja Renascer - Vilma se formou advogada abriu escritório e casou e veio morar comigo.

Entrei para o mundo VIRTUAL, criei um saite e passei a responder milhares de e-mails por dia, descobri um novo mundo de muitas janelas. Embalada por impulsos interiores tive a loucura de não desistir até que meu sonho virasse realidade! Escrevi para TEATRO as peças - O DISCO SOLAR - CHICO MENDES e o ENCANTADO - BRASIL OUTROS 500 - A VIZINHA de NOÉ - E outros textos inédito - MÃE da MINHA MÃE - PRATOS LIMPOS - FOGO ETERNO - CASACO DE ANTÍLOPE - monólogo FENIX.

Minha história e nem as historias que escrevo ainda não acabaram pois a vida que vivo continua no mundo material no mundo teatral e no mundo virtual, apesar de que os que amei terem se transferido para o no mundo espiritual.

FUI


 

© 2000,2006 – Ana Vitória Vieira Monteiro
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