Ayhauska é a Mestra no Caminho de IÓ
Ana Vitória Vieira Monteiro
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Documento da Autora
© 2001,2006 Ana Vitória Vieira Monteiro
IN MEMÓRIA
dos
avós
Miretta Lacerda
e
Vitoriano Perea
do
pai
Pedro Vieira Monteiro
e
Lauro dos Santos Lima
da
neta
Nélcia Penha Gomes
da
cunhada
Mariana Gil Gomes
do
filho
Guilherme Gil Gomes
GRATIDÕES
Dedico este livro à Deusa Mãe. Confio aos que ouviram e falaram com os Deuses sempre vivos, e aos que com Eles convivem
À
mamãe
Philomena Lacerda Monteiro
Aos filhos
Daniel
Vilma
Aos dedicados colaboradores, sem eles não haveria possibilidade deste trabalho ser feito.
Alexandre Gomes de Queiroz
Beth Carpineli
Aleyona Canedo da Silva
Marcos Di Cicco
Joaquim De Campos Salles
Rogério Ciryllo
Ayhauska
é a
Mestra no Caminho de IÓAna Vitória Veira Monteiro
INTRODUÇÃO
Esta obra é fruto de experiência única, obtida por meio de uma Planta de Poder, a Ayahuaska, aliada à Magia do Mito com os deuses ancestrais.
A realidade é mais fantástica do que a ficção e a auto-iniciação é uma realidade da qual não imaginei ser possível nos dias de hoje, por esta razão brinquei com ela mas ao escrever percebi que aprendi a não me auto-iludir pensando que tudo seria uma brincadeira ou a cair na tentação de misturar realidade com ficção, por inibições pessoais. Por esta razão que tive que usar o meu discernimento, para citar nomes, datas e lugares sem recorrer a apelidos. Detalho cada passagem importante nos “rodapés ou comentários” e algumas fotos para ilustrar o que pode parecer inverossímil.
Foi ao seguir uma sugestão interna fruto de minha rica imaginação, que eu me vi percorrendo os Caminhos de I Ó pensando que podia jogar impunemente com os deuses.
Tive a experiência de tomar o misterioso chá de Ayahuaska — foi um caminho sem volta — hoje ao escrevê-la tento abandonar a história que eu vivi, pois este esforço me obrigou a estar dias seguidos recordando, nos menores detalhes, cada um dos eventos de minha vida, assim ao doar para os leitores sai de minha memória, livrando-me da acomodação do passado.
Segui o meu fio condutor a intuição que me levou ao aprendizado da linguagem dos sinais das Plantas Sagradas, que como todo sistema esotérico possuem um sistema simbólico de notações de seus respectivos ensinamentos. Todos os deuses e deusas representam forças da Natureza e princípios espirituais fundamentais. Descendo da misturas de várias culturas pois sou brasileira e todo brasileiro tem várias origens, e acomodar as múltiplas crenças dentro de si sem ficar descrente ou neurótica foi o meu desafio. Carrego dentro de mim os deuses da floresta, os orixás, os mitológicos deuses gregos, egípcios, a tradição dos hebreus e romanos. Silenciar suas vozes ou deixá-los falar tornou-se um desafio a ser vencido pois todos querem existir.
No Universo os opostos complementares buscam o equilíbrio visando ir além de suas diferenças, podendo abalar estruturas radicais de certos princípios das mais variadas escolas filosóficas que, guerreando entre si, tentam elucidar o mistério do Bem e do Mal. Estava escrito no Céu tudo o que aconteceria e aqui está relatado com todas as letras.
Pertenço à TRADIÇÃO que aceita Espírito e Ciência; Arte e Magia, que trazem dentro de si mensagens através dos Auto-Iniciados. Não titubeio em navegar nessas águas. Por estes canais, entrei e saí de vários estados de consciência, abrindo o contato com outras energias e formas de vidas inteligentes, habitantes do nosso pequeno Planeta Azul.
Não entro nas questões de cunho pessoal, reservo isso para outro momento, pois não é possível tratar de um assunto tão importante como a auto-iniciação e falar de família ao mesmo tempo, onde tudo é tão intenso, no entanto não fugirei ao tema.
Como sou racional, moderna e preocupada com os avanços tecnológicos, pareceu-me surpreendente que valores do passado remoto da humanidade possam surgir com força suficiente para provocar situações de risco e abalar sólidas estruturas do meu inconsciente humano. São estes motivos que me levaram repensar sobre conceitos de vida, proporcionando melhor aceitação das diferenças, assim pude buscar convivência em harmonia, junto de minha família e da na próxima Era de Aquário.
As Forças de iniciação agiram no dia a dia de minha vida como um grande técnico, armando laços invisíveis numa trama surpreendente.
Esta é a estrada trilhada por uma rebelde. Nela encontrei o fator surpresa através da AYAHUASKA, que estraçalhou meu medo e me levou por caminhos nunca antes imaginados.
Ao jogar com a Deusa IÓ fui levada a fazer a minha auto-iniciação que provocou o cair dos véus de Ísis e a Ayahuaska foi a mão que puxou este véu e o fogo que queimou a ponte.
Quero trazer boas palavras, contando sobre conhecimento contido na memória arcaica dos povos da floresta, no sentido do ser humano não esquecer da grande Mãe Terra e que ela ainda não abdicou do direito de cuidar dos SEUS FILHOS.
Ela se prepara no sentido de se harmonizar com o grande Pai Cósmico, pondo por terra todas as filosofias partidárias mantenedoras do povo escravizado no dilema entre o Bem e o Mal.
Com as mudanças de todas as estruturas, cheguei à compreensão que o ser humano deve viver em paz utilizando-se da arte como veículo. A arte, não conhecendo limites, desvinculou o sentido das religiões e do Estado, pude resgatar o poder e o direito de todo o ser humano de representar o Divino e vê-lo presente em si e na pessoa do próximo.
A realidade do peso de uma programação verbal que foi usado no dia à dia por mim. Era meu desejo inconsciente, prever, antever e arquitetar, tudo isso através da força de suas palavras.
Percebi que a magia dos rituais religiosos e o teatro estão firmados na repetição didática de palavras. Esta ação é repassada ao cotidiano nas cerimônias de formaturas, casamentos e outros acontecimentos da sociedade. Estão presentes também nos momentos que eu quanto mãe comparei meus filhos a outras pessoas (invejei), ou mesmo no valor que dei à opinião alheia, ou ainda no que a Mídia detecta nas pesquisas de opiniões, (opinião pública dos vizinhos e conhecidos)
Ana Vitória
São Paulo 20 de fevereiro de 1997
ADEUS
Percebi que precisava mudar tudo na minha vida radicalmente. Ir a algum lugar distante, ao umbigo do mundo, nas entranhas do mundo
Já que não posso voltar
ao ventre de minha mãe,
começo de novo.
Tudo.
Sair do país.
Ouvir outra língua,
outros costumes,
ser estrangeira.
Quero ir para bem longe,
onde ninguém me conheça,
e nem jamais
tenham ouvido falar de mim.
Quero ficar com saudades
daqueles que amo.
Poder voltar
a eles
sem mágoas, sem dor, sem medo.
Visito o ex. amor.
Entrego a aliança.
Dou.
tchau e “bença”
ao passado e
sem voz para gritar,
murmuro: Adeus!
CAMINHO DE I Ó
O TREM partiu vagaroso e, através da janela, vi a Estação da Luz em São Paulo ficar para trás. Acenei aos meus filhos e à prima Iara.
Relaxei. Despreocupada, pensei no que faria no tempo disponível, além de desligar-me dos padrões sociais e familiares que estava acostumada a viver.
Na cidade de Bauru trocamos de trem. Aproveitei o tempo do longo percurso para conhecer melhor meus parceiros de viagem; um casal de amigos da prima Iara que por minha sorte queriam alguém para acompanhá-los neste percurso e dividir as despesas. Eles eram alegres e inteligentes, sabiam tudo sobre o mundo andino bem o oposto de mim, que estava descobrindo agora, a bem da verdade tinha comprado um livro para orientar os viajantes na América Latina que deveria ler durante a viagem de trem, naquela hora eu só tinha uma certeza iria para CUZCO a capital dos INCAS.
No minúsculo compartimento do carro leito, é meu hábito, meditar antes de dormir. Logo depois, surgiu-me do nada a maravilhosa idéia de interiorizar os jogo olímpicos, como um mecanismo de auto-iniciação, imediatamente comecei a elaborar o jogo, assim como se alguém de um outro plano estivesse ditando.
JOGANDO COM A DEUSA
A “competição” teria como obstáculos à ignorância, o orgulho, o ciúme, a inveja e o ego. Deveria suspender todas as guerras no período de duração do jogo. À medida que fosse vencendo essas provas, teria o privilégio de abrir um diálogo interior com o astral. No final, a “coroa de louros” seria a pacificação do espírito. Segundo as normas antigas, o atleta esportivo oferecia o seu jogo a alguma divindade.
Concentrei-me novamente e me veio à mente a deusa IÓ, meu jogo seria oferecido a ela. As lições a aprender seriam passadas através de pistas baseadas em seu arquétipo. Como gosto de mitologia não tive dificuldades em saber seu significado. IÓ é um Mito muito interessante: tinha sido aprisionada por ordem de Hera e estava sendo vigiada pelo monstro de cem olhos, mas com ajuda de Mercúrio conseguiu se livrar e assim pôde fugir da Grécia. Andando mundo a fora, IÓ encontrou o Criador Prometeu, que apesar de atormentado por uma ave que bicava seu fígado, ainda conseguiu indicar a ela o caminho ao Egito. Chegando lá, IÓ fundou novo reino ensinando as vogais A E I O U, as letras B, T além do símbolo ÔMEGA e o culto à Mãe Terra.
Animada continuo dando asas à minha imaginação — Na antiga Grécia havia o Pentatlo, nome coletivo dos cinco exercícios que constituíam os jogos. No meu jogo, cada exercício seria representado por cada uma das cinco vogais, acrescidas das suas duas letras. Deveria decifrá-las, vivenciar as lições simbolizadas por elas.
Deduzi rapidamente que as letras correspondiam a valores numéricos perpetuados no alfabeto iniciático das cartas do tarot egípcio. Era um esquema de cosmovisão dos iniciados da antigüidade. Sendo assim, em cada estágio, eu me orientaria pelos Arcanos Maiores do Tarot, que coincidentemente estavam comigo. No entanto nem desconfiava do que isso iria acarretar para a minha vida, as mudanças radicais por que eu passaria dali para diante, chego mesmo a pensar que tive uma vida até este momento a partir do término deste jogo tive outra vida, e o que desejo relatar é justamente o percurso da TRANSFORMAÇÃO.
*
Na Bolívia, no ano de 1982 eu era apenas mais uma viajante desconhecida. Senti-me livre. Estávamos na estação de trem da cidade de Quijarro, lotada de andarilhos brasileiros, franceses, germânicos e nativos, sentados ao lado de sacos feitos de panos coloridos, imensos. Todos numa eterna espera por alguém que vai chegar ou então para partirem.
Conversamos animadamente, ensaiando o portunhol, quando um nativo me chamou a atenção pela sua altura maior do que o comum, forte, moreno, que estava ao nosso lado correspondendo ao meu olhar aproximou-se ao ouvir meu nome, perguntou:
— Tu nombre és Victória?
— Vitória — respondi assustada. Gargalhei nervosa e admirada pela sua iniciativa rápida.
— Pero tienes un bello nombre, no deverias despreciar-lo.
—Eu, como?
Continuei, displicente. Ele, com um meigo sorriso, olhava-me com olhos de quem me vira antes. Continuou falando bem devagar:
— Tu destino és vencer y para vencer, tienes que conquistar com calma y paciência.
— Como?
— Si, hay un dicho que dice asi: “A quien nada le pasa, no tiene nada que vencer".
Meus amigos se impacientavam ao ver-me conversando com estranhos, devo esclarecer que eu não os conhecia, sabia apenas não eram namorados e que tinham a mesma profissão, eram psiquiatras; e de mim eles também sabiam pouco, que eu tinha acabado de me divorciar do radialista Gil Gomes e que iria fazer terapia assim que voltasse daquela viagem. Mas sentindo que estava diante de uma pessoa incomum e arrisquei perguntar mais coisas. Meus colegas faziam gestos inúteis no ar.
—Como posso vencer?
— Para realizar la victoria que tu nombre atrae hacia a ti, deves salir de lo convencinal y del cotidiano. Porque la victoria pide una entrega absoluta.
— É difícil — disse aflita.
— Basta vencer el miedo.
— Falando, parece fácil!
— Deves aceptar el desafio. Aceptas?
— Aceito!
Nisso o temido trem da Morte chegou com dois vagões apenas e com muita carga. O corre-corre começou, provocando enorme confusão de bagagens, animais e pessoas. Fui no trem e aquele homem ficou.
*
O CAMINHO DO E
Sem parar, passamos por várias cidades, seguindo o roteiro pré-estabelecido por eles, o que achava muito bom, apesar de sempre perguntarem a minha opinião antes, mas como eu vinha de um divórcio recente em que passei obedecendo, o tempo todo, automaticamente repetia o mesmo comportamento. Apesar de eu ter a esperança de que naquela viagem poderia voltar mais independente, ser eu mesma novamente. Mas só o fato de não precisar cuidar de ninguém, isto é dos três filhos, era uma maravilha, nem eu imaginava o quanto estava estressada, precisando dormir uma noite inteira sem interrupção e sem a preocupação do que deveria fazer no dia seguinte. Achava uma benção ter encontrado estas duas pessoas na minha vida.
De novo estava no vai e vem do trem, só que agora em direção a La Paz. Na viagem fui surpreendida por imensa dor de cabeça provocada pela altitude. Estávamos muito acima do nível do mar.
A dor de cabeça foi superada ao vislumbrar o acender das luzes da grande cidade encravada na terra. O trem fazia caprichosos círculos pelas laterais e encostas da montanha.
Participei com prazer quase infantil da disputa pelos melhores lugares junto às janelas, queríamos fotografar e registrar a visão panorâmica estupenda. O trem continuava em movimento espiralado, descendo vagarosamente até atingir o imenso vale. Parecia até que estávamos entrando numa grande cratera de vulcão.
Ao chegar, descobrimos que havia greve geral de transportes que durava vários dias e que não acabaria naquele momento. Irritadíssima, sentei-me no meio fio da calçada ao lado das malas e chorei. Desejei que La Paz fosse de fato um vulcão em erupção, e que explodisse com as malas e com a dor de cabeça, levando tudo pelos ares. Meus companheiros me ajudaram a carregar as malas, pois sentia-me arrependida de tê-las trazido.
Continuei chorando por três dias ainda, devido à forte dor de cabeça que não me deixava em paz. Parei ainda chorando num bar para tomar um suco e o proprietário, notando meu evidente mal estar, perguntou:
— Aceita tomar um chá especial, bom para esta dor de cabeça?
— Sim, qualquer coisa que acabe com esta dor.
A HISTÓRIA DAS FOLHAS DE COCA
Rapidamente ele serviu um chá de folhas de coca em saquinhos, industrializados, explicando em um razoável português: É bom remédio, vaso dilatador, anestésico, inibidor da fome. No império Incaico era usado com fins medicinais ou ainda associada a outras plantas em rituais sagrados. Quando os invasores a descobriram, um Amauta sentenciou: “Para nós esta planta é uma benção, para vocês será uma maldição”, prevendo a distorção de seu uso.
Com o chá nas mãos, afirmei: Concordo plenamente com o Amauta, mas será que não tem jeito desta maldição ser tirada?
— Não é uma maldição é uma constatação.
— Sim como se faz para parar com isso uma vez que está acabando com a juventude?
— Tem um jeito sim. Parar totalmente de desrespeitar esta planta, o seu espírito negativo, e é só todo o mundo parando de usar em pó branco o que é folha verde para melhorar, ela a planta, está matando como o fumo e a cana que produz álcool, não há controle, são forças telúricas poderosas, que atraem para quem as toca desta forma o pior que existe no mundo, com tanta sedução que a pessoa não se dá conta que é dominada, não dominante poderosa como pode pensar que seja.
Depois de um meio silêncio para me servir mais chá continuou: Conhece a história dos Amautas?
— Sim, claro!
— Irá a Tiahuanaco?
— Vim para isso.
— Gostaria de aconselhá-la a ver primeiro a imagem de EKEKO reproduzida em pedra.
— Sem dúvida.
Acabei me tornando sua freguesa diária pois a cada dia este homem que deve ter percebido a minha total ignorância sobre seu país ia me contando histórias e mais histórias sobre o seu “misterioso” mundo. Seguindo seu conselho, fui visitar o Mito mais antigo da humanidade o EKEKO com dez mil anos de história.
Acreditando realmente na força do poder de EKEKO pedi a ele “EKECO” proteção e força para esquecer as humilhações e mágoas sofridas.
Ao curvar-me para colocar flores no patamar da imagem, encontrei um pacote de 500 dólares em notas de 10 para espanto de meus amigos.
O nativo transeunte que presenciou tudo e percebeu minha perplexidade diante do fato ocorrido contou-me que era um presente deste deus. Esta divindade costumava surpreender as pessoas, presenteando-as. Aconselhou reverenciá-lo regularmente com oferendas de flores, chicha (bebida feita de milho), cigarros e música. Para mim foi um milagre total, para meus amigos intelectuais céticos, foi sorte; como eles não acreditaram que foi o Ekeko quem me deu os dólares eu não dividi nada com eles, no entanto dei uma das notas do maço para o nativo que não aceitou.
*
Registrei a primeira vogal, achando que se as coisas fossem assim seria muito divertido. Para decodifica-la recorri ao meu conhecimento sobre numerologia, que indicou o valor numérico de cada letra do alfabeto e o seu significado interior. Ciência esta que nos leva a um relacionamento íntimo com a inteligência do universo, graças a Pitágoras o pai da matemática, que dizia “os números representam qualidades, os algarismos quantidades.”
Ao estudar as vogais senti que pareciam com as ondas do mar, cada vogal ou letra parecia uma onda, que ia e vinha. As vogais com as quais eu iria trabalhar eram cinco, e duas letras, portanto ao todo somavam sete, coincidentemente nasci no dia sete.
Mais rápido do que pensava estava percorrendo o caminho da auto-iniciação. Para saber os detalhes da lição da vogal E usei o conhecimento dos Arcanos do Tarô e o quinto arcano corresponde à letra He no sistema cabalístico, deduzi que iria trabalhar a minha impulsividade.
Os meus companheiros de viagem ficaram tontos com a descoberta que fizeram ao meu respeito, eu era mística, e já que eles sabiam não escondi mais meu baralho de tarô, e falava livremente sobre o que eu pensava.
A médica não se contendo disse rindo: Olha Ana se perguntarem eu vou dizer que somos médicos psiquiatras o que é verdade, acompanhando você que é nossa paciente, pois você toma muitos remédios e não pode andar sozinha, e depois da viagem vai voltar para o sanatório, está bem?
Não preciso dizer que eles falavam mesmo isso para as pessoas, o que se tornou gozado pois teve viajante que queria montar esquema para a minha fuga, e quando contei isso eles pararam de falar tal coisas, se desculpando, sinceramente.
Vogal E — EQUEKO: serenidade.
Cor: branca.
Valor numérico: cinco.
No plano Arquétipo, o número cinco é a Árvore do Conhecimento do bem e do mal.
Representa o majestoso, e a liberdade é nossa primeira respiração Vital =Início de um caminho.
Provas deste estágio:
1) Opor-se à tentação que se aproxima;
2) Não tirar proveito da vitória obtida pelo próprio esforço ao vencer a indiferença da pessoa do sexo oposto;
3) Provar ter capacidade de realizar determinado trabalho, cumprir sua missão, guardar segredo. Produzir.
La Paz 8 de agosto de 1982
COMENTÁRIO: A lição de Equeko, para mim foi vital, pois se tratava da sobrevivência de ganhar o meu próprio dinheiro, não depender mais de terceiros. Queria tirar de cima da minha genética psíquica a miséria e a incapacidade, que em cada geração pegou um membro de minha família.
LENDA DO IMPÉRIO INCA
Subimos as encostas que circundam La Paz. Já no planalto andino chegamos a Tihuanako, outrora importante centro religioso e militar cujas estradas ainda guardam as marcas dos povos antigos. Este território era ocupado também pela nação Aymará.
De longe avistava duas portas, que tinham talhados em si ideogramas que no seu conjunto manifestam os pensamentos, a cosmovisão e a lógica dos povos Andinos. Na Porta da Lua está representado o Calendário Venusiano dos movimentos lunares.
A Porta do Sol, originalmente, era revestida de placas ouro, na qual estava talhado um calendário de astronomia, que era consultado como Oráculo pelos sacerdotes Amautas. Esta porta é o último marco vivo da antiga rota marítima entre os continentes Mú e Atlântida.
Os povos fiéis à tradição comemoram no dia 23 de junho o fim de um ano e o início de outro. No dia 23 de setembro, às 10:30 da manhã, ocasião em que o Sol se posiciona exatamente no centro da Porta. Hoje, durante as festas que eram presididas pelo Inca, um ator cuidadosamente escolhido o representa. Ao seu lado localiza-se o Templo dos Amautas de Kalasasaya. A Porta é um marco fiel que cumpre ainda sua função. Lembrei que estávamos no ano de 4.524 do calendário incaico.
Tudo caiu menos ela.
Esqueci as recomendações do Oráculo de minha juventude e repeti inconsciente o gesto milenar de reverência ao Sol, que tem sua representação em imagem esculpida no alto da Porta, carregando um bastão em cada mão. Senti que o Oráculo não fora desativado pelo tempo. Falou comigo, mostrou cenas do futuro.
Uma lenda dizia que antes do mundo existir, quando nem estrelas havia no céu, existia Tiahuanaco e nesta região surgiram doze Amautas. Em igualdade de sabedoria, mas sentindo falta de liderança. Então, inspiraram-se numa cena da natureza que os inspirariam a decidirem qual deles iria liderá-los: “Morreu uma lhama e em volta dela juntaram várias aves de rapina, porém nenhuma delas se atrevia a comê-la. Somente depois que o condor real saciou sua fome e se retirou foi que o resto das aves completou o banquete”. Assistiam a cena os doze sacerdotes conhecidos como Amautas. Chegaram à conclusão que quem deveria liderá-los era o mais velho e sábio, o de maior transcendência espiritual.
Depois de terem resolvido a questão da liderança espiritual, os Amautas, por ocasião do surgimento dos Incas, colocaram os seus conhecimentos a serviço destes.
Pisei o mesmo chão, ouvi a voz do vento vinda das áridas colinas, olhei o que restou da pirâmide, senti o cheiro de mar. Ao lado do imponente muro com rostos em alto relevo de pedras, registrando os traços predominantes de todas as raças possíveis na terra, e também estátuas de pedra de homens com seis dedos nas mãos e nos pés.
Ao passarmos por Sillustani entro num círculo de enormes pedras, saúdo o Sol, reverencio a Terra e reenergizo-me.
Logo depois, fomos à cidade de Copacabana, ponto de muitas iniciações. Local que está hoje a Igreja da Virgem índia esculpida em 1800, às margens do lago Titicaca. Na época Lemuriana este lago foi porto de mar antes que o continente Mú afundasse. Vista do alto do avião lembra cabeça do Puma. No centro de suas águas encontram-se as ilhas do Sol e da Lua, de onde o casal de irmãos Incas veio e imediatamente foram identificados como Filhos do Sol, aceitos pela população como legítimos governantes.
Tinham a missão de unificar os povos da Cordilheira dos Andes através do sistema de Federação, com o nome de nação Kechua, falando um só idioma. Tinham de introduzir a filosofia Solar, proibir a antropofagia e os sacrifícios humanos. Impor somente três leis: não mentir, não roubar, não ser preguiçoso. Para esta nação seria cobrado imposto de 2/3 da produção. A capital seria o local que o cajado de ouro entrasse fundo na terra, sem resistência O Império Incaico se estendeu aos quatro cantos conhecidos como TAWANTISUYO.
A busca da Capital levou de 20 a 30 anos. Por onde passavam, construíam relógios solares, dividindo o dia em quatro períodos.
Estes lugares até hoje são palco de iniciações esotéricas. Levaram a Cuzco as melhores e mais inteligentes pessoas daquelas sociedades, formando uma grande e forte nação.
Não puderam contar com a adesão dos Otavalos, Shaninkas e Uros, eternos rebeldes. Recusam-se a mudar seus hábitos tribais.
*
Finalmente chegamos a Cuzco. Apesar de nunca ter estudado sobre os Incas, algo em mim sabia tudo sobre este império dourado “estranhei não ver o teto das casas cobertos com fios dourados de ouro. ”
Cuzco, Cidade-Estado centro do poder Solar Inca, viveu no apogeu provavelmente por 400 anos. Estava na fase de consolidação do poder quando em 1492 os europeus chegaram à América: Cristóvão Colombo em São Salvador e Pizarro em Tumbes, no Peru. Trouxeram em seus navios dois irmãos em disputa de poder, Ferdinando e Francisco Pizarro, e um inimigo comum, Don Diego de Almagro. Em 1500 chega ao Brasil, Pedro Álvares Cabral.
Nos Andes, o Inca Huayna Cápac governava e ampliava seus territórios até o Reino de Quito. Logo estabeleceu o Império e também gerou um filho ilegítimo (Atahuallpa) com a princesa do antigo governo recém conquistado. Numa consulta ao Oráculo descobriu o eminente fim do Império Solar. A notícia se espalhou e outros Oráculos confirmaram a profecia. Todo o povo chorou e lamentou antecipadamente.
Chegando em Cuzco mandou construir Machu Pichu (Montanha Velha) como ponto de observação, sentinela avançada, e manteve sob segredo. Tomou iguais providências em relação a outras cidades importantes de seu Império. Em 1526 Huayna Cápac morreu e seu sucessor legítimo, Huáskar, sobe ao trono do Sol.
Atahuallpa, ainda adolescente assumiu o Império de Quito, incitado por sua mãe e cortesãos a iniciar guerra civil contra Huáskar, que prontamente vai a combate. Na cidade de águas medicinais de Cajamarca, no norte do Peru, Huáskar é preso por Atahuallpa que se autoproclama Inca reinante.
Os espanhóis chegam na América. Atahuallpa impressionou-se com os cavalos, armas de fogo e com a cor de suas pele, iguais às dos Incas. Recebeu-os bem, vendo neles descendentes do Sol, portanto seus semelhantes. Deu ordem que ninguém os tocassem, e os ajudassem em tudo que fosse preciso. Os Incas reverenciados como deuses pelo povo, ao verem os espanhóis, pensaram que também fossem deuses pela semelhança da cor da pele.
Pizarro pediu reforço de homens à Espanha, ficando em Cajamarca, prudente. O reforço chegou e então foi armado um cerco em volta do castelo. Mulheres e crianças foram seqüestradas; em troca da libertação delas, Atahuallpa foi obrigado a se batizar. Foi preso, torturado e morto como herege, logo depois, por ter jogado a Bíblia no chão, alegando não ouvir voz de Deus ali.
O conquistador, depois de matar o jovem Inca, encontrou Huáskar preso nos porões, pediu resgate em ouro à população. Recebeu dois carregamentos de ouro provenientes de Quito e de outros lugares. Impressionou-se diante da facilidade com que venceu e pediu mais ouro, que começou a ser entregue. Ambicioso, pensou que podia dominar tudo. Assassinou Huáskar, violentou e matou as mulheres, homens e crianças da cidade. Pizarro, contando com numerosos aliados nativos, marchou sobre Cuzco no ano de 1.533.
A esposa de Huáskar havia mandado de Cuzco onze mil lhamas carregadas de ouro no sentido de pagar o resgate de seu marido, mas ao ver inutilidade no seu gesto, mandou voltar o carregamento. Acompanhada dos Amautas pegou o Disco Solar do Templo, reuniu os principais quipos e objetos sagrados e também o jardim de ouro. Escaparam pelos túneis até a cidade secreta, Machu Pichu, mandando lacrar em seguida os acessos a Cuzco. Seu filho, o heróico Inca Manco II e os homens valentes ficaram na capital protegendo o povo das atrocidades de Pizarro.
O novo Inca rebelou-se contra os invasores iniciando uma ação armada no sentido de tirá-los de Cuzco, mas não obtiveram resultado, os espanhóis tinham além de armas de fogo, cavalos, desconhecidos dos Incas.
Em 1.536 Manco II retirou-se com sua corte. Foram à cidade de Huillka-pampa, conhecida como Planalto dos Homens Pássaros. Em 1.545 travou nova luta. Foi assassinado. Homens e mulheres foram levados como prisioneiros a Cuzco, foram humilhados e estuprados perante o povo em praça pública.
Manco II foi sucedido por Sayri Tupac que morreu da mesma forma. Em 1560 subiu ao trono o Inca Titu Cursi que morre misteriosamente em 1571
Tupac Amaru, o novo imperador, tentou se adaptar aos novos tempos aprendendo usar armas de fogo e roupas ocidentais.
Certo dia, quando estava reunido com os Amautas, eles avistaram no céu um condor brigando com uma águia, que o venceu. O condor caiu morto aos pés do Inca. Os Amautas interpretaram esta cena como um sinal que o Império realmente havia acabado ali. O Inca retirou-se para sempre indo à floresta com sua corte levando consigo tudo o que possuía. Alguns Amautas decidiram acompanhá-lo e outros foram às montanhas mais altas.
O Frei Ortiz foi morto em Marcanay quando iniciava uma ação armada, que pretendia invadir Huillka-pampa, com um exército espanhol composto por 250 soldados e 1.500 nativos. Eles caçaram Tupac Amaru e ao encontrá-lo, levam-no a Cuzco aprisionado, onde foi julgado por heresia. Foi torturado e decapitado ao lado dos 100 guerreiros encontrados em sua companhia, no dia 24 de setembro de 1572.
Em 1595 os restos mortais de Frei Ortiz foram transportados de Huillka-pampa a Cuzco em pompas religiosas. Os nativos são escravizados, na minas de prata, cobre e estanho, sendo quase todos dizimados. Mas em 1824 os espanhóis foram expulsos pelas Tropas de Antônio José Sucre em Ayacucho.
Presume-se que os descendentes diretos dos Incas sobreviventes acompanhados dos Amautas, entraram na Floresta desaparecendo até os dias de hoje.
*
Depois de 439 anos alguns agricultores encontraram a Cidade Sagrada abandonada, com esqueletos de mulheres e brinquedo de crianças, além de peças domésticas em ouro.
Em 1911 o explorador Hiram Bingham encontrou restos de ouro espalhados nos cantos, revelando existência de Machu Pichu ao mundo.
Andei por Cuzco como se conhecesse a cidade de longa data. O antigo me era familiar e ao mesmo tempo todo o moderno não o era. Aproveitei o dia mandei inúmeros postais aos meus filhos.
*
MACHU PICHU — RESISTÊNCIA DE UMA RAINHA
Em poucos lugares a alma da América Latina é tão transmitida como em Machu Pichu, a cidade de pedras. Nas montanhas o ponto mais alto é Huaynu Pichu, o Templo da Lua. Estratégica sentinela de onde se avista tudo em volta. Abaixo, no ponto oposto, está Porta do Sol. Impossível de ser avistada da pequena estrada, somente quando estamos muito próximos é que conseguimos vislumbrá-la.
Absolutamente autônoma, com campos de agricultura em sua volta. Permaneceu oculta aos invasores durante anos depois da conquista espanhola. Contam que, provavelmente, é ligada por túneis a vários pontos da América Latina.
Conferi a hora pela terceira vez pelo grande relógio solar feito em uma pedra única. Percorremos as casas de poucas dependências, revelando a inexistência de grandes construções. Carregava na bolsa as cartas de tarot com intenção de consultá-lo assim que encontrasse o lugar ideal.
Deparei com uma casa de pedra como as outras mas diferente pois seu formato era circular, sem teto nem janelas. Mentalmente pedi permissão para entrar, aos guardiões do local. Coloquei o pano no chão e acendi um incenso, cuidadosamente peguei o meu inseparável tarô, embaralhei as cartas e, concentrada, joguei visando o futuro. Depois, meus companheiros que antes estavam descrentes, fizeram suas consultas. Sem notar formou uma pequena fila de turistas do lado de fora da casa. Joguei para eles a tarde inteira, com a colaboração do médico companheiro de viagem que traduzia tudo para o inglês, achando tudo muito louco devido ao grau de meus acertos. Ao sair o guarda também pediu uma consulta e me contou com ares de admiração:
— Senhora, ninguém costuma entrar nesta casa!
— Desculpe-me a intromissão.
— A casa é do Inca! Só a senhora fez isso! É xamãna?
— Não, não sou xamãna. — disse admirada.
Nada convenceria esse homem que, respeitosamente, ao sairmos, implorou por uma bênção. Concordei em abençoá-lo, fazendo-o pela primeira vez. Não sei quem ficou mais gratificado, ele ou eu.
Percorremos o caminho da direita e lá está ela: a Porta do Sol, que permaneceu secreta por mais tempo que o próprio Império, graças à resistência e determinação de uma mulher, a última Imperatriz deste povo — Rumi, nome que dei a ela na minha peça O disco Solar anos depois.
*
NAS CERCANIAS de Cuzco, além da soberba beleza natural, havia muitas ruínas ainda não exploradas. Decidimos andar pelos arredores seguindo apenas nossa intuição, sem roteiro. Foram passeios diários por vales e montanhas.
Depois de seguir por estradas de terra como se tivéssemos sido guiados por alguém, chegamos a Qrikancha e logo viramos à esquerda, parecendo saber o que iríamos encontrar.
Chegamos ao Templo da Lua, pequeno anfiteatro ao ar livre de origem pré-incaica, com uma pedra retangular preta virada em direção à beira de um imenso precipício que se encontrava ao lado de vários buracos vazios semelhantes a túmulos.
Curiosa, subi na pedra, deitei-me olhando as pontas de meus pés vejo o céu azul límpido, sem nuvens, contemplo extasiada a abóbada celeste, acompanhada de indescritível leveza e infinita paz. Senti que este seria o melhor momento para se morrer. Suavemente entreguei-me.
Senti que um dia eu deveria morrer neste lugar e não o fiz. Para não deixar pendente esta morte aos deuses locais, ritualisei o meu sacrifício, senti que morri mesmo, de verdade. E nunca mais tive a sensação de que alguma “coisa“ pedia o sacrifício de minha vida. A sensação que tive foi que seria maravilhoso morrer assim.
O amigo de viagem ao lado, com olhos estatelados e faca nas mãos, avançou diretamente sobre meu peito. Levei um tremendo susto e acreditei que iria morrer de verdade. Gritei assustada, saindo do transe. Quando me virei de lado vi que havia talhada na pedra, na altura do coração, uma fissura destinada a escorrer o sangue derramado nos sacrifícios. E por alguns segundos fiquei grudada na pedra, e o meu amigo bestificado com o que tinha feito. Riu muito dizendo que era brincadeira quando voltamos.
Naquela hora senti que vivenciei no século XX, por captação, o sacrifício de uma sacerdotisa no século X.
*
QUANDO a sorte está do nosso lado todas as boas coisas acontecem. No mesmo dia quando tentávamos achar o caminho que nos levasse a Cuzco, encontramos um micro ônibus parado, com vários turistas, diante de uma ruína de pedras que formavam um semicírculo.
Este achado arqueológico era diferente dos demais, pois as pedras não são tão bem encaixadas. Resolvemos nos aproximar, apreciar de perto. A princípio os turistas se assustaram, ao notarem que éramos turistas brasileiros, relaxam. Eles contaram que estávamos diante da ruína de Oenquo.
Oenquo é um dos 360 oratórios que circundam Cuzco. Uma gruta milenar que abriga em seu interior um pequeno altar destinado a sacrifícios ao deus Puma, animal consagrado à Lua.
Por precaução, não deitei mais em pedra alguma. Percebi que não era conveniente nem mesmo a captação por pensamentos. Distrai a mente falando mentalmente o meu nome, assim permaneci presente, sem deixar a mente vagar no passado da história, nem entrar na curiosidade dos outros que estavam por perto. Depois de lembrar-me das palavras de minha avó: — “Quando muitas pessoas sensitivas estão reunidas num só local, uma delas dá abertura ao processo de captação, por empatia ou pôr algum outro motivo. Devemos ter bom senso de não sair captando tudo, correndo o risco de ficar com os sintomas da captação, somatizando-os, como problemas reais. Se isso acontecer não há remédio que salve esta criatura.”
*
A PRIMEIRA AYAHUASKA
Procuramos o lugar indicado para tomar uma bebida exótica originária da Floresta Amazônica peruana. Uma planta de Poder meus amigos me disseram, perguntei: O que é isso?
— Um chá, quer tomar, não é obrigada, uma amiga nossa médica no Acre toma direto no Daime, que é uma religião, foi ela quem nos deu o endereço daqui.
—Não se preocupe, eu vou, estamos fazendo tudo junto, não há razão para não ir, afinal é apenas um chá.
— Olha Ana dizem que o gosto é ruim.
— Vocês vão tomar?
— Vamos.
— Então eu vou também.
À noite subimos a pequena ladeira e eles com o endereço nas mãos bateram numa porta, que um homem atendeu solícito, falaram que eram recomendados da tal amiga e ele nos levou para uma sala e nos fez sentar numa mesa retangular, e nela colocou um frango e disse: Olha preparei isso para vocês, façam o seguinte, balancem um pouco antes de tomar, e depois tomem tudo o que conseguirem e comam um pedaço de frango, e passem a caneca para o outro até terminar tudo.
Tá, respondo. Ao lado havia quatro homens sentados numa mesa redonda que nos olhavam de lado; achei que aquilo era uma espécie de clube privado.
A grande jarra chegou até mim, olhei o líquido marrom escuro e grosso, mexi e virei garganta abaixo, depois peguei um pedaço do frango que estava ótimo, e assim fizemos até a jarra terminar. Conversamos por mais um tempo, alegres feito crianças, pensando que isso era tudo. Na realidade me sentia um pouco bêbada, amortecida, mas enfim pensei um porre de vez em quando não faz mal a ninguém. Satisfeitos, partimos a caminho do hotel. Tivemos vários ataques de riso no caminho, então comecei a perceber que estava com uma certa alteração na consciência. Senti que havia uma mudança, o ouvido começou zumbir.
Os meus amigos falavam de coisas que eu não entendia e me pareceu que eu respondia, sem ter controle do que falava. Resolvemos parar na praça das Armas, encostamos na primeira parede que vimos que foi justamente a da Catedral, que foi construída encima das ruínas do antigo palácio do Inca.
Coloquei as mãos nas pedras que palpitavam na parede em um só som acompanhando o ritmo do meu coração que já me saía pela boca. Percorri com as mãos as reentrâncias ásperas das pedras junto ao chão. Notei que havia as pedras lisas perto dos tijolos. Ouvi o som de tambores junto com rezas. Ao mesmo tempo surgiram mil cores, vindas de um ponto luminoso, formavam um maravilhoso rendado parado no ar. O impacto dessas emoções era muito grande, tentei raciocinar inutilmente para tentar estancá-las, pois eu me encontrava no meio da rua, descontrolada.
Falávamos de coisas de nossa infância. Chorei todas as separações. Perdi a noção do tempo e o som da voz de meus amigos se perdeu no espaço, onde eu estava, que lugar cheio de luzes era aquele? Impossível descrever aquelas luzes. Inenarrável, lembro que me vi usando uma máscara de ouro subindo uma montanha íngreme com milhares de pessoas junto, fui olhando o brilho da máscara e me aproximando cada vez mais e era eu quem estava — lá atrás da máscara. Chorei mais ainda e alguma coisa me distorcia o rosto em contrações incontroláveis, algo estava dentro de mim e queria sair, parecia uma planta espinhosa sendo puxada à mão. Que levou uma eternidade para finalmente sair, claro que vomitei feito uma louca. Meus braços viraram troncos de árvore, multiplicados em mil. Mais um pouco quase viro um cristal de tanto brilho e transparência.
Quando me dei por mim vi meus amigos em estado lamentável como eu já na rua do hotel ele conversava com um cachorro sarnento em francês e ela andava sem destino rindo do outro lado da rua. O que pareceu rápido, durou horas, precisamente 10 horas, a partir da hora em que chegamos na casa do chá. Uma única pessoa poderia contar o ocorrido: o homem de poncho branco que eu vi estava sentado no jardim da praça.
Ao nos ver bem um ao outro antes de entrar no hotel juramos: Nós não vamos falar sobre isso nem entre nós, está bem, o que se disse aqui não se repete, para ninguém, vamos esquecer tudo.
— Está bem.
No dia seguinte senti meu corpo e mente muito leves. Estava falante e me sentindo muito bem. Fui sozinha à catedral convencida, depois da experiência da noite anterior, que lá era ponto de poder. Dentro da Igreja o guia que acompanhava um grupo de turistas, relatava:
— Aqui foi, na época do Inca, o Templo do Sol. Antes disso era o Templo da Mãe Terra. Agora é uma catedral católica.
Olhei em volta, feliz. Os templos não mudam de lugar, só de dono. Agradeci por ter esquecido minhas mágoas, não sei se devido à viagem em si, ao local, à bebida do dia anterior ou às três coisas juntas.
O mesmo guia, conta na porta da Igreja: Neste local foi executado o último Inca, pela Santa Inquisição. Olhei aquela praça e não consegui imaginar a cena deste estraçalhamento e nem do massacre cruel das mulheres da nobreza Inca que estavam prisioneiras.
Ouvindo o relato todos ficaram indignados, na emoção do momento o guia foi até o centro da praça, virou-se para a catedral, cantou em Ketchua longos versos ao Sol. Observado por nativos que permaneceram paralisados diante de tal coragem. Refiz o caminho da casa em que tomamos o chá e o hotel para ter noção da distância, constatei que era muito perto.
*
A NATIVA
Atravessamos a Cordilheira dos Andes de ônibus com destino a Lima, na costa do Pacífico. Estávamos numa estrada com inúmeras curvas fechadas e íngremes. Percebíamos vestígios de acidentes recentes devido a inúmeras oferendas destinadas a apaziguar os espíritos dos mortos colocados em buracos cravados na encosta, ao longo do trajeto.
Olhando através da janela impressiono-me com a proximidade daquelas montanhas, último olhar a Cuzco e vi um enorme arco-íris brilhando sobre os picos eternamente nevados que circundam a milenar capital.
Ao meu lado viajava uma mulher nativa que estava no mesmo local onde havíamos tomado o chá, dias antes. Dirigiu-se a mim, com a ternura de velhas amigas:
— Você bebeu uma planta sagrada, não “bebida exótica”. Esta planta vai ajudá-la a recordar de si mesma. Sempre que precisar pense nela, na cor, no cheiro e sabor, assim você estará trazendo de volta a força poderosa contida na planta.
— É verdade, mesmo?
— O meu pai conheceu vocês na estação de trem, na Bolívia e estava presente quando tomaram a bebida sagrada. Cuidou de vocês naquela noite. Ele é um grande Xamã. Disse que você possui um destino especial.
— Ele sabe tanto a meu respeito.
Ela desconversou, enumerou sobre as coisas de seu povo, de seus costumes e de suas tradições.
Querendo voltou a falar, perguntei:
— Você é Xamã?
— Não — respondeu simplesmente, para encerrar o assunto.
Dividiu comigo o calor da manta de peles de lhamas. Eram trinta e seis horas de estrada íngreme. Ao chegarmos em Lima a mulher foi tão ágil ao sair do ônibus não me dando tempo para despedidas.
*
EM LIMA perguntei-me o que haveria de interessante em uma ex-repartição pública. Este lugar fora anteriormente um mosteiro católico, construído na época da invasão espanhola, passando recentemente por uma reforma bem especial.
Os pedreiros ao removerem o antigo piso, acharam no sub-solo um alçapão que era a entrada de um porão. Lá foram encontradas várias câmaras destinadas à tortura e farto material que denunciava requintes perversos de criatividade dos padres, usado na época da inquisição no Peru, exposto agora à visitação pública.
Desacreditei quando vi bonecos de cera representando cenas dos torturados na hora dos interrogatórios. As celas eram espaços minúsculos, cavados na terra, verdadeira gaiola para animais.
Cadeiras com tiras de couro mantinham os prisioneiros com os pés esticados com fogo sob as solas. Havia também aparelhos com amarras que imobilizavam o pescoço obrigando a vítima a ficar com boca aberta onde introduziam purgantes ou outras coisas. Algumas vítimas eram amarradas em camas com rodas e tinham seus membros deslocados.
Ao sair observei na porta uma relação com os nomes das famílias torturadas, acusadas de bruxaria, pois discordavam da nova religião que se impunha com o apoio do Estado.
Em seguida fui visitar o Museu Arqueológico e Antropológico de Lima. Estava em exposição um imenso painel mostrando toda a civilização pré-histórica andina, a partir dos povos Chavin de Huantar, que viveram entre os anos de 1.300 e 400 a.C..
Encerro minha visita aos irmãos Andinos e começo cumprir o itinerário de IÓ, o longo caminho da vogal E.
*
TERAPIAS MILENARES
Chegando ao Brasil, resolvi procurar uma atividade criativa e que não dependesse de idade ou diferença sexual. Definitivamente não tinha vocação para a carreira do comércio, por isso não aceitei as várias propostas de sociedades de lojas de roupas finas.
A amiga Gení, comentou que seu filho, estudante de medicina, estava aprendendo acupuntura. Ele explicou alguns detalhes sobre esta milenar ciência oriental:
— É difícil para eu falar disso mas vou repetir o que meu filho disse: No princípio Deus criou o céu e a terra, quer dizer que o Criador Um se polarizou em duas forças complementares e antagônicas, positiva e negativa — e isso se reflete no mundo e no corpo humano, através dos conhecidos pontos de acupuntura, São princípios eternos que governam todos os fenômenos, visíveis e invisíveis.
Interessei-me imediatamente pela idéia, e consegui o endereço do curso de aurícula-acupuntura, sem a mínima noção do que realmente se tratava.
Não encontrei a menor dificuldade em entender a filosofia desta arte onde o bem e o mal não brigam, mas harmonizam-se, descobrindo um mundo novo.
Depois do curso concluído me indicaram um novo curso de acupuntura a fim de aprofundar o conhecimento. Este ministrado pelos médicos Rui e Eváldo Leite, a quem agora presto as minhas mais sinceras gratidão.
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ACUPUNTURA
Sem a menor idéia do enorme número de doenças que o ser humano pudesse ter, encontro no curso avançado de acupuntura o médico, que fiquei amiga Dr. Ney, que além de me ensinar sobre o valor transformador do equilíbrio das energias Yn; telúrica — Yang; cósmica nos alimentos, macrobiótica, se encarregou de apresentar-me o mapa do inferno humano. Todas as semanas íamos a hospitais, prontos socorros e necrotérios.
Coerente com o pensamento do pensamento do lendário Imperador Amarelo, criador do princípio dos opostos complementares In e Yang, ele aconselhava a não perder tempo com os doentes, e sim cuidar dos bons para estes continuassem bons. Dizia o imperador que o homem é um microcosmo e como tal, as leis cósmicas atuam sobre ele assim como fazem na natureza. Qualquer desequilíbrio pode gerar doenças.
Descobri que os pontos do corpo têm vida e inteligência, manifestam-se. Esta arte pertence à memória de toda humanidade. Suspeita-se que este conhecimento venha da Atlântida.
Fascinou-me os pontos chineses, a idéia do corpo humano ser um sistema energético, submetido a topografias coerentes. Saber que tais energias se fazem presentes em todas as fases biológicas, atuando de maneira misteriosa e evidente ao mesmo tempo, sob o nome de energia Vital.
Ao entrar em contato com a teoria do arcabouço genético, desvendaram-se os mistérios dos chakras, da aura, dos registros akásicos. Deduzi que a realidade existe em muitas dimensões simultaneamente.
Tornei-me aluna assistente do Dr. Kimura, herói nacional japonês com 45 anos de prática de Acupuntura no Brasil. Passados dois anos, quando nos despedíamos no portão de sua casa, carinhosamente me fez recomendações: Você só pode se intitular acupunturista depois de dez anos de prática diária e deve trabalhar gratuitamente por algum tempo, que será determinado agora por nós.
— Quanto tempo? — interrompi ansiosa
— Quanto quer dar?
— Um ano? — arrisquei.
— Seis meses. — respondeu o mestre.
Após cumprir o combinado, fiz uma visita a ele e ofereci-lhe um quadro a óleo, de minha autoria, com inúmeras papoulas, que foi colocado na parede no mesmo instante.
Terminado o período sugerido pelo mestre, alguns colegas do curso anterior de acupuntura me procuraram, com a finalidade de dar continuação aos estudos. Aceitei prontamente.
Estudamos e ensinamos sobre tudo que se referia ao conhecimento do corpo humano e seus sete corpos. Nesta época meu irmão Lauro deu sua primeira palestra sobre quiropracxia, aprendida na Aliança Espírita. Os jovens médicos começaram a descobrir que havia mais conhecimento sobre saúde nos meios chamados religiosos e alternativos.
Começamos uma peregrinação atrás de tudo aquilo que pudesse nos ensinar a melhorar a saúde.
Realizamos os primeiros congressos sobre terapias alternativas, parapsicologia e Era de Aquário.
O movimento alternativo começou a crescer, novas técnicas de prevenção da saúde chegaram ao nosso conhecimento. Cada vez mais eu ficava convencida que as divergências entre corpo, mente e espírito é as causas do sofrimento humano. Percebi que a identificação responsável por quase todos os enganos é a de não termos corpo perecível, só estamos usando-o temporariamente.
A idéia de positivo e negativo foi radicalmente alterada na minha cabeça. Descobri os conceitos da alquimia oriental. Estudei sobre as filosofias de linhas personalistas e abstratas e também sobre a verdade que todas elas encerram. A idéia de um Ser Divino Criador, com preferências, acabou. Comecei a enxergar que na natureza tudo é necessário, puro, bom e santo.
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Ao lado da minha casa, possuía mais uma propriedade onde morava minha mãe e irmão. !uando ele se casou, mamãe passou a ocupar somente um quarto e a cozinha, ficando o restante vazio, e lá criei um espaço alternativo.
Em 1984 crio o Centro de Estudos Vitalista Paracelso (CEVIP) que comportava uma livraria, salas de espera, secretaria, salas de atendimento de acupuntura, médicos e psicólogos, além de um salão no andar superior destinado a aulas e palestras. O nome Paracelso atraiu alquimistas de todas as espécies.
Promovemos palestras regularmente na Câmara Municipal de São Paulo. Participei de movimentos como Médico Pé Descalço, movimentos ecológicos, povos da floresta, apoio às comunidades rurais que trabalham sem agrotóxicos. Estudei plantas, flores e raízes medicinais.
Espantei-me com a capacidade do ser humano em arranjar doenças. Estudei fisionomia, linhas das mãos, astrologia, linguagem corporal. Com o tempo decifrava facilmente as pistas sempre sinalizadas que o corpo revela na superfície da pele, denunciando o que está por dentro.
Muitas vezes desejei não saber tanto, principalmente quando estava próxima de pessoas íntimas. A melhor forma foi aprender a ficar calada, guardar o que não deve ser revelado.
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O MOVIMENTO dos Médicos Pés Descalços e as comunidades rurais realizavam encontros em acampamentos com múltiplas opções de palestras. Quem sabia ensinava, quem não sabia aprendia. Havia muita troca de informações e experiências com fogueira, música e violão.
Dr. Eliezer Mendes, num destes encontros, comandou um relaxamento coletivo de psico transe, com participação de mais de 500 pessoas. Ressaltou que o estado alterado da consciência tem o poder de eliminar muitos males do ser humano. Alertou que evitássemos a contaminação vibratória através da captação espontânea, conceito há muito conhecido entre os astrólogos, espíritas e esotérico assunto que muito me interessava.
Sentados na grama, em círculo, conversamos sobre o conhecimento oculto:
— Não há nada oculto, tudo está às vistas claras. A humanidade é como uma criança em crescimento, acha que os pais sabem tudo e portanto têm de resolver tudo. Se você desvendar a vida e colocar a responsabilidade deles sobre o mundo, ficam bravos. As pessoas precisam chegar a determinadas conclusões por si mesmas, mesmo que levem muitas vidas em uma só questão.
— O processo evolutivo é lento, na virada do milênio a tendência é de uma aceleração planetária. Alguma coisa provocará este movimento — comenta o ufólogo.
— Já estão ocorrendo vários fenômenos. Quantas epidemias estão surgindo, mudanças climáticas bruscas, movimentos do solo — conclui o naturalista.
Resolvi citar as palavras do Imperador Amarelo que ocorreu num dialogo que teve com seu ministro Li Po, em 4.000 a.C.:
— “O universo é cíclico, há início, meio e fim. Quando alguma coisa termina é porque traz dentro de si uma semente do novo início, está germinando. Ao mesmo tempo começa a florescer e frutificar lançará as primeiras ervas daninhas de sua destruição. Essa é a lei: há vida e morte.”
*
TESTEMUNHO DO AYAHUASKEIRO
No palco uma pessoa que timidamente, de cócoras, chapéu nas mãos, relatou sobre um chá composto por dois vegetais. Mostrou várias fotos das plantas, sendo interrompido a todo minuto com perguntas das mais diversas:
— Esta bebida é alucinógena?
— Não.
— Vicia?
— Não.
— Você teve algum benefício ou cura?
— Muitos! Mudou minha vida. Antes eu me embriagava, fumava e cheirava. Fui internado várias vezes. Não conseguia estudar, nem trabalhar. Minha vida não valia nada. Parei com tudo quando descobri que este vegetal poderia me dar o que há muito tempo eu buscava: o verdadeiro transe.
— Há quanto tempo?
— Estou na Luz há cinco anos.
— Retornou às drogas?
— Não.
— O gosto é ruim? Precisa tomar muito?
— O gosto não é um mel; a quantidade é você quem vai decidir.
— Qual a diferença entre os Xamãs bolivianos e os brasileiros? — perguntou um estudante.
— Os xamãs só conheciam o lado curativo e do uso das coisas do cotidiano que poderiam ser obtidas através desta planta. O Mestre Irineu foi quem descobriu aqui no Brasil o lado da transcendência espiritual que esta planta pode oferecer.
— Há muitos povos indígenas usando-a? — perguntaram.
— Praticamente os povos habitantes da divisa amazônica: Brasil, Peru, Bolívia, Equador e Venezuela.
— Como ela foi conhecida fora da floresta?
— O território do Acre apesar de pertencer à Bolívia, estava ocupado por seringueiros brasileiros vindos do estado do Ceará, por volta de 1969. Anexado ao Brasil em 1903, pelo Barão do Rio Branco. Iniciando depois no Brasil uma cultura cabocla da Ayahuaska.
— E o que contam as lendas? — perguntei.
— Os Incas e Amautas fugindo dos espanhóis, alcançaram Machu Pichu e de lá presumo que foram para Serra Madre de Dios. Calculamos que depois do aparecimento deles naquele local, devem ter tido contato com os xamãs da selva amazônica boliviana, pois depois disso surgiram “maestros” curadores, que a usam até hoje misturada com outras plantas medicinais, para a cura de doenças e adivinhação, eles por sua vez ensinaram aos seringueiros brasileiros, no começo do século vinte os segredos do seu feitio.
Os brasileiros perceberam que o chá de Ayhuaska poderia não só curar algumas doenças, mas transcender, elevar, evoluir, quando usado sem nenhuma mistura, como é o caso de algumas pessoas que se tornaram mestres, pois na época suspeita-se que já eram esotéricos, espíritas cristãos, devido à ética, símbolos e orações usadas em seus trabalhos espirituais, aglutinando em volta de si a população local. O chá da Ayahuaska, usado desta maneira recebeu outros nomes, iniciando assim no Brasil a Cultura do chá de Ayahuaska.
— Os Incas usavam Ayahuaska?
— Pouco se sabe sobre os hábitos da casa real incaica, com certeza seus sacerdotes usavam várias plantas, em ocasiões especiais.
— No seu relato a história dos Incas e o Chá estão ligadas.
— Creio que sim, apesar dos nativos dos povos da floresta não revelarem nada ao homem branco; enquanto os Amautas, ao contrário, nos deixaram alguns relatos, provavelmente por serem semeadores de cultura.
— Crianças também bebem este vegetal?
— Tanto crianças como velhos e mulheres. Já dei o testemunho a vocês, buscadores da verdade, e afirmo que vegetal cura muitas doenças, pensem sobre isso, a floresta amazônica é a maior farmácia do mundo.
Desejo falar-lhe, perguntar o nome daquele vegetal. Procuro e não o encontro, deu a palestra e foi embora. No entanto fico alerta e pergunto às pessoas sobre o orador, sem obter resposta. Faço saber em diversos lugares de meu interesse por este vegetal e pela história dos Incas.
Chego em casa com o carro todo sujo de lama, meu filho Guilherme o coloca na garagem, ajuda a tirar a barraca do bagageiro, os vizinhos espiam, curiosos. Absorta nos pensamentos do fim de semana, entro em casa, o cachorro em festa me recebe, o telefone toca, é alguém querendo saber se cheguei bem. Tudo que eu quero agora é tomar banho quente, trocar de roupa, comer e dormir, vem à mente, o jogo iniciático, parece que todo mundo sabe que estou fazendo este jogo e ninguém facilita nada, sinto que concluí as tarefas do E.
O CAMINHO DO A
MINHA vida ficara completamente tomada pelos deveres de Terapeuta. Começava atender as pessoas às oito horas da manhã e só parava às cinco da tarde. Às oito horas da noite eu retornava ao CEVIP ministrava aulas de acupuntura, duas vezes por semana. Outros dois dias eram dedicados ao Colegiado de Sensitivos, e paralelamente a estas atividades, promovia vivências de Shiatsu um final de semana por mês.
Certo dia, no CEVIP, eu sou surpreendida pela chegada de um jovem pesquisador vindo de Rondônia. Ele veio me propor uma experiência com Chá. Suas narrações a respeito dos seus efeitos coincidiram com outras histórias ouvidas nos encontros de Comunidades Alternativas. Interessei-me pela sua proposta.
“Ana Vitória, pesquiso há algum tempo sobre os efeitos do vegetal. Somente um tema me interessa: provar pela experiência transcendental se ela se dá por si mesmo, ou se a hipnose produzida pelo ritual que induz, ou se independe uma coisa da outra”. Gostaria de reunir pessoas saudáveis e críticas, sem nenhuma informação anterior e ouvi-las depois.
— Existe algum risco?
— Que eu saiba não. Mas, eu sei muito bem que a mente é estranha, podemos ficar fora de controle até num simples relaxamento usando apenas a respiração. Muitos povos na antigüidade estiveram na Amazônia procurando o conhecimento sobre esta mistura. Existem vestígios que foram deixados na mata na passagem dos fenícios, egípcios e druidas, que mostram que este continente nunca foi desconhecido do resto do mundo. Achamos alguns índios isolados no meio da selva, só conseguimos chegar até eles por avião. Qualquer picada aberta na mata, em dez dias está fechada outra vez, tamanha rapidez com que as plantas crescem. Eles relatam que sempre chegam seres vindos do ar trazendo sementes e vão embora.
— Quem?
— Não sei.
— Estrangeiros invadindo o Brasil?
— Se fossem estrangeiros, a Força Aérea saberia. Só podem ser extraterrestres.
— Ouvi falar, que nesta região existem muitas cidades desconhecidas, pirâmides...
— Há muitos arqueólogos andando por lá, a mata é perigosa, a maioria não volta. Acabam sendo atacados por mosquitos tão pequenos que entram nos orifícios do corpo da pessoa, matando-os sufocados. Estes mosquitos são verdadeiros guardiões dos segredos da floresta.
*
VOGAL A
— Aceitei sua proposta e reuni quinze pessoas, previamente escolhidas, que obedecessem a simples critérios: evitar beber ou comer alimentos fermentados e evitar também o uso de metais.
Chegamos pouco antes do horário marcado. Na sala de espera conversamos animadamente, contei a eles minhas aventuras nos Andes. Falei sobre o chá muito estranho que havia bebido em Cuzco e que desconfiava ser idêntico ao que iríamos tomar naquela noite.
Casualmente menciono que estou fazendo o jogo auto-iniciático baseado no mito da deusa IÓ. Mário, meu amigo, é um dos participantes do grupo, ouviu tudo atentamente, depois comentou eufórico:
— Ana quer dizer que ainda não encontrou a letra A, eu não acredito, é a coisa evidente, ao ouvi-la achei o regente da vogal A é o mito da deusa Ana, que dirige a divisão do ano. Às vezes são confundidas IÓ, com Têmis ou até com Ana, Rainha de Cartago irmã de Dido e de Pigmalião.
— Ana Perena? — perguntei admirada pela informação recebida. — A divindade divide um ano do outro? Nossa Mário, você vai ao fundo do baú da história!
— Dido não é o apelido de infância do seu ex-marido? — perguntou.
— O nome é Cândido Gil Gomes Jr, conhecido só pelo sobrenome Gil Gomes. A mãe dele começou a chamá-lo de Dido e este apelido pegou entre os familiares. Eu sempre o chamei de Dido.
— Olha o Mito! — comentou Mário.
— Quantas vogais faltam? — perguntou uma amiga visivelmente interessada.
— I, O e U, as letras B e T, e o ômega. E ainda falta realizar o culto à Terra Mãe.
— Vai ser gozado ver você fazendo culto à Terra Mãe, acendendo fogueira e tudo mais. — debochou a amiga.
— Muita coincidência!
— Você não deve se esquecer do pedido dos deuses. Pedem o cumprimento da promessa feita a eles, melhor você continuar o trabalho de auto-iniciação começado nesta sua viagem. — disse Mário.
— Sei que deverei cumpri-lo de um jeito ou de outro. Os sinais aparecem espontaneamente, como agora — respondi meio irritada, por antever as conseqüências da brincadeira.
— Não se irrite, eu sei o que é isso pois tenho meu próprio jogo, os Doze trabalhos de Hércules. Mas, há anos parei numa tarefa que espero vencer neste grupo.
— O que é? — perguntei intrigada.
— O medo, querida, o medo do desconhecido.
*
O pesquisador entrou na sala interrompendo nossa conversa. Cumprimentou-nos cordialmente e fala sobre as sua deduções em relação àquela bebida, pois sabia que éramos na maioria Terapeutas.
— Estou muito satisfeito por estarmos fazendo esta experiência. Acredito no poder deste vegetal. Com a ajuda dele podemos resolver muitos problemas psicológicos e físicos. Pretendo conhecer melhor esta planta. Agradeço a confiança e o amor ao conhecimento, que sei que possuem. Obrigado por terem aceitado de bom grado e gratuitamente a estes estudos. Tomo a primeira dose e reconheço ser o mesmo chá de Cuzco, sua cor e cheiro eram muito peculiares. Fiquei surpresa ao perceber que os efeitos não se repetiram. Perguntei ao pesquisador: A Ayahuaska é o mesmo chá tomado pelos andinos?
— Sim, apesar de ser conhecido por outros nomes. Você tinha experimentado? Há quanto tempo e por que não me disse antes?
— Suspeito que a bebida seja a mesma. Tomei há cinco anos, no Peru, como não tinha certeza, nada te disse. Desculpe-me. Existe outra bebida parecida?
— Com os mesmos efeitos, não.
— É então é o mesmo
— Os efeitos nunca se repetem, mas valeu.
O conselho de Mário não saía da minha cabeça, mas estava com preconceitos de colocar coisas relacionadas ao meu próprio nome.
Assim que cheguei em casa acrescentei no caderno de notas:
Vogal A — Ana: Perfeito, majestoso.
Cor: preta.
Valor numérico: um.
Ana, antiga divindade grega que tem correspondência cristã na figura de Santa Ana, mãe de Maria, avó de Jesus.
Confirma iniciação feita em vidas passadas, nos mistérios.
Provas deste estágio:
1) Aprender ser original, criativa e inovadora, seguir sempre em frente, nunca recuar. Retomar esta liderança que foi adquirida em vidas passadas;
2) Iniciar a passagem das coisas que estão no plano astral para o plano físico;
3) Início de um trabalho no campo dos binários: espírito — matéria;
4) Desafio: Para fazer ouro, é preciso ter ouro.
COMENTÁRIO: Caí numa armadilha terrível, mas aonde eu caí qualquer um cairia. O EGO. Ao escolher meu nome como o nome da deusa fato que achei natural. Demorei mais de dez anos, na realidade só quando fui reler os escritos para passá-los definitivamente para o computador e mais cinco anos para editar na net é que me toquei que o A era da própria AYAHUASKA, como um deus da floresta, Estou realmente chocada, depois de tudo. Embora o valor do A de Ana e do A de Ayahuaska não iriam interferir na lição, quanto valor numérico, muda tudo quanto o sentido da mesma. Mas mal sabia eu que ao deixar isso acontecer tive que amargamente aprender a ser avó ao perder uma neta filha do Guilherme ainda de berço. Tentando pensar se fosse o que devia ser, o que teria mudado, é um raciocínio que ainda não estou pronta para fazer, mas que farei um dia.*
AYAHUASKA EM SÃO PAULO
Cheguei mais cedo na clínica, encontro meu amigo pesquisador sozinho, contei a ele minha experiência no Peru: Como disse, conheci esta bebida em Cuzco. Na ocasião, não sabia nem o nome da planta de onde fora extraído o chá. Coisa de viajante. Gostaria de alguns esclarecimentos, se fosse possível.
— Estes vegetais estão espalhados por toda floresta amazônica. Apenas o nome muda conforme a região, Mariri, Iajé, Ayahuaska. Acredito, pelos fortes efeitos que você relatou, que foi misturado a outras plantas.
— Não! Não acredito nisso. — retruquei.
— Acredite, isso acontece freqüentemente naquelas regiões. Quando você tomou o chá, não estava buscando cura alguma, tomou por pura curiosidade. Acho que eles quiseram dar uma lição nos estrangeiros, entende? Lá, o chá não é tomado assim em qualquer situação.
— Apesar disso, foi bom e ajudou muito. — esclareci.
— Quem não merece não sofre. Quando se toma o chá, o inconsciente, as fantasias e os medos são liberados. A transcendência vem depois e depende do nível espiritual de cada pessoa e também de sua necessidade no momento. Cada indivíduo vive um tipo de experiência diferente. Pode acontecer ainda de não haver transcendência. Há gente que não sente absolutamente nada.
A EXPERIÊNCIA DO VEGETAL
Toda a tarde ia a clínica e tomávamos o chá à vontade até às quatro horas da manhã, sem fazermos nenhum ritual ou invocação interna. Eu, particularmente, nem sequer rezei, nem antes e nem depois. Saíamos da clínica somente às sete da manhã. Percebi que estava perto de achar a porta de entrada para o caminho da inspiração criativa e da originalidade, apesar de não dar nada do que deu na primeira vez.
Nos dias que se seguem repetimos os mesmos atos, e nada de “pegar” apesar de me dar uma certa alteração no comportamento, no décimo quarto dia eu vi algo muito significativo: eram seres de um azul profundo, enormes, olhavam-me atentamente.
No décimo quinto dia o gosto do chá era simplesmente insuportável, estava feliz pela pesquisa estar chegando ao fim. Desta vez pedimos para tomar dose menor. Conversava com uma colega, quando tive um imenso ataque de raiva que foi sucedido por uma pequena hemorragia do intestino alto. Percebi que alguma energia estava sendo liberada, envolvendo o estado psico-anatômico, devido ao estresse natural dos quinze dias anteriores, que regularizei rapidamente fazendo uso dos meus conhecimentos de acupunturista.
O MESTRE DA UDV
Na semana seguinte quando nos reunimos novamente na clínica, o pesquisador apresentou ao grupo o Mestre da UDV (União do Vegetal) de Rondônia.
O mestre tomou a palavra: Meu nome é Augusto Jerônimo da Silva, conheço esse Vegetal há muitos anos. O poder que o Vegetal exerce em nossos corpos e mentes, bem como a transcendência que nos é permitida não são induzidos, o ritual só existe para facilitar as passagens dos estágios de consciência e manter o padrão vibratório alto. Como todos vocês passaram por isso, gostaria de poder oferecer outra experiência, com a mesma planta: o ritual sagrado.
O pesquisador completou explicando as funções de cada planta no ritual: O Cipó dá Força, a Chacrona oferece Luz e os dois juntos dão o Poder. Este Poder é a participação, mesmo que por segundos, da comunhão com as forças do além.
No dia seguinte iríamos conhecer o Vegetal dentro da ritualística da UDV. Estávamos muito curiosos. Fomos bem recebidos na chegada. Deram-nos cobertores e nos ajeitamos num canto da sala. Depois da abertura preliminar, o chá foi servido, cantou as chamadas de entidades ou forças da natureza.. Colocou música popular, cantando novamente. Visualizei imagens relativas à sua letra, antes mesmo da música começar. Notei o cuidado de dar começo e fim ao estado alterado da consciência enquanto outros iam e vinha para o banheiro.
Como foram dias inteiros dedicados àquele trabalho, fui cuidar das minhas coisas que ficaram atrasadas assim que a pesquisa terminou. Passei a me interessar pelo estudo de plantas e raízes medicinais, fazendo várias incursões pela mata com grupos de raizeiros, aprendendo identificá-las e usá-las da maneira correta. Tempos depois soube que duas pessoas do meu grupo tornaram-se Mestres da União do Vegetal.
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TRANSITORIEDADE DA MANDALA
Com o tempo fui me envolvendo cada vez mais depois de ter tomado essa planta misteriosa e poderosa, coisa que guardava como segredo a todos aqueles que não tivessem participado dele comigo.
Comecei a sentir uma necessidade interior de elaborar uma Mandala que pudesse ser o símbolo da Organização e que ao mesmo tempo represente graficamente todo o meu pensamento.
O passo mais importante é fazê-la e depois decodificá-la, com a ajuda do Mario que era membro da Rosa Cruz e me paquerava há tempos. Estava curiosa de como seria a representação do mundo do meu subconsciente. Elaborei uma composição geométrica perfeitamente ordenada que representasse em símbolos as idéias e intenções da alma. Meu objetivo era que esses símbolos, ao serem contemplados, abrissem "chaves” e ajudassem fazer conexões, permitindo ir fundo nos mistérios da vida. A nossa missão na Terra é revelar estes mistérios através da descodificação de signos.
O primeiro desenho que fiz da mandala foi na terra, depois passei para o papel e mais tarde numa tapeçaria. Minha irmã Luzia ajudou-me a bordar. Às vezes tínhamos a sensação que não acabaríamos nunca. Depois de pronta Mário, um amigo arquiteto, mediu cada desenho relacionando-os numa seqüência numérica, que mais tarde foram transformadas em sons e mudras, gestos com as mãos.
Fiz uma interpretação da Mandala segundo a cabala e por este motivo convidei um amigo cabalista para oficializar sua consagração. Neste ato, o oficiante, voltado para o leste, canta os mudras, pois é um som que em particular atrai forças protetoras, que são geradas a partir dos sinais perfeitamente geométricos.
Comecei usar vasos de formato circular como Mandálas vivas, cada flor plantada indicava um aspecto da vida física, psicológica e espiritual. As reações das flores denunciavam interferências na minha vida que poderiam ser detectadas com horas de antecedência. Meus alunos gostaram da idéia e elaboram seus próprios vasos. Estudamos cada um deles e constatamos que realmente refletiam o estado de seu dono, assim como as cartas do Tarot na hora da consulta.
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TERAPIA DO AMIGO ESPECIAL
Existem algumas atitudes são típicas dos aquarianos, como solidariedade e amizade. Os nativos deste signo acham que podem resolver os problemas do mundo e eu, por ser aquariana, também tenho essas atitudes como características marcantes de minha personalidade.
Algumas pessoas me procuraram querem formar um grupo de estudos sobre o tema da amizade. Nos reuníamos uma vez por mês e os integrantes eram psicólogos, assistentes sociais e jornalistas. No fim do ano percebemos que estávamos capacitados a ajudar pessoas com problemas de solidão. Era pura ilusão. Mesmo assim, tentamos.
Criamos o “AMIGO ESPECIAL” e por dois anos atendemos gratuitamente milhares de pessoas nas delegacias, ruas, hospitais e manicômios, tratando de maiores e menores abandonados, drogados, suicidas e superdotados.
Para exercitar as técnicas de amizade visitei templos e outros grupos de estudo. Conheci mestres, gurus, dirigentes espíritas, africanos, psicólogos que dirigem equipes de estudo sobre paranormalidade, psiquiatras, xamãs e uma infinidade de outros estudiosos de áreas até então desconhecidas.
As pessoas que ocupam o topo da pirâmide do esoterismo possuem alguns problemas complexos e não dividem com ninguém suas questões pessoais. Elas pertencem ao grupo de indivíduos que classificamos como super dotados. São acometidas de distúrbios da paranormalidade, trata-se da ausência repentina de seus dons, ou o excesso dela, conflitos nos processos naturais de iniciação, desarranjos na vida ou doenças por captação ou somatização.
Desenvolvi uma terapia específica, exclusiva para classe sacerdotal. Recebi gente de todo o país e enriqueci meus conhecimentos a partir de estudos sobre estas pessoas.
Um dia recebi a visita de uma sensitiva que se queixava de uma interferência na sua paranormalidade depois de ter o útero extraído por causa de um tumor canceroso. Ela procurou ajuda, para recuperar sua paranormalidade perdida depois da cirurgia. Mas, assim que ela entrou no consultório canalizou o seu próprio mentor que orientou o tratamento. Segui todas as indicações à risca e depois de quatro sessões ela recuperou sua paranormalidade, podendo voltar às suas atividades normais no centro espírita.
Deste dia em diante passei a colocar os pacientes paranormais no transe induzido. A partir disso perguntava ao Eu Superior qual seria o procedimento mais adequado, tendo respostas sempre certas. No entanto para as coisas de vida particular nada acontecia, e isso me deixava frustrada — ajudar os outros e não ser capas de me ajudar para mim era coisa sem explicação.
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CHEGAM AS 12 CRIANÇAS
Querendo comprovar a crença na eficiência das terapias alternativas, nós do Amigo Especial decidimos tutelar criança fora da idade de adoção e até com problemas de saúde. O objetivo era acompanhar seu desenvolvimento até a maioridade. Diante disso, fomos ao Juizado de menores expondo nossas pretensões e conseguimos ganhar a tutela de doze crianças.
Decidi multiplicar o número de pontas da Mandala, de seis passou a doze. Além de ser uma homenagem ao número de crianças, o número doze simbolizava muito: os doze meses do ano, os doze signos do Zodíaco, os doze trabalhos de Hércules e os doze deuses do Monte Olímpio.
Abrigamos uma grande casa alugada na mesma rua do CEVIP, mobiliada através de doações. No dia que as crianças chegaram os membros do Amigo Especial recepcionaram-nas com muitas roupas e brinquedos novos.
Ficou resolvido que cada grupo composto por cinco membros seria “tutor” de uma criança, tendo como funções levá-las passear e cuidar de suas roupas e estudos. As outras despesas seriam arcadas por um grupo que não queria se identificar, tendo como intermediárias para as doações uma assistente social do Juizado de Menores e um membro do Amigo Especial que também era funcionária do Juizado de Menores.
Durante alguns meses aplicamos nas crianças os conhecimentos sobre terapia alternativa e os resultados foram ótimos, pouco depois recuperaram a saúde física e psíquica. Modificamos a alimentação de carnívora passa a macrobiótica diminuindo os remédios.
Com os sinais I O se aprende mais
Os métodos adotados causaram espanto e descrença, a princípio, julgavam serem procedimentos religiosos. Alfabetizamos rapidamente os pequenos ao buscamos métodos milenar que consistiram na formação de letras e palavras a partir de apenas dois sinais gráficos: “I” e “O”, sinais geradores de todas as letras. Ensinado as crianças, cumpri uma das missões de IÓ.
Depois de três meses aprendendo fizeram a avaliação na escola pública do bairro. Foram aceitas e passaram a freqüentaram a sala de aula do ano escolar correspondente a cada idade.
A Professora. Beth Carpinelli, tomou conhecimento dos progressos alcançados, convida-me a ministrar umas palestras aos professores de sua escola. Encantados decidiram aplicar o método em alunos com dificuldade de aprendizado. O que foi feito e em pouco tempo estavam, acompanhando o programa do ano.
“Voluntários caridosos” apareceram, questionando a alimentação e os métodos de ensino, argumentavam indignados: — São crianças carentes, podem comer qualquer coisa. Além disso, você não deve impor idéias religiosas deste tipo. O objetivo de vocês a princípio, é muito bom, mas não dá certo.
O desentendimento culminou com a doação de salchichas, que diante de meus protestos, ficaram indignados, quando mandei devolvê-las.
A assistente social, depois de visitar a casa, encaminhou-as para adoção em países europeus. Todas as doze crianças.
Fiquei frustrada ao vê-las indo embora. A assistente social, membro do Amigo especial e do CEVIP, veio em minha direção argumentando:
— Ana vitória, o melhor é que as crianças tenham um lar com pai e mãe.
Totalmente inconformada, ainda tentei salvar a situação: É claro que eles têm uma família, somos nós! Cuidamos muito bem deles.
— Se você realmente ama estas crianças, abra mão. Deve ficar feliz por dar um bom destino a eles.
Com o coração ainda cheio de esperanças, argumentei: Este não era nosso objetivo. A Casa da Criança não é lugar transitório ou um simples asilo. É uma casa escolhida especialmente para as crianças. A idéia inicial de proporcionar a elas condições dignas de seguirem seus próprios caminhos, sem renegar suas origens, parece que não vale.
Falei para o vento do deserto, em seguida o apoio financeiro foi retirado.
No dia da despedida ofereci reproduções da minha Mandala, feitas por minha mãe, a cada uma das doze crianças, recomendando que guardassem junto de si. A dor ao vê-las partindo era imensa. Foram adotadas por famílias italianas e francesas.
Outras crianças chegam ocupando a casa que acaba se transformando realmente num asilo.
Passou a ficar muito pesado agüentar frustração, então entreguei a direção da casa. Os novos diretores não conseguiram coordenar mais a casa sem nossa ajuda e tiveram de fechá-la definitivamente. A sociedade, O Amigo Especial, fechou também, na mesma época.
Fiquei pasma ao perceber que minhas mãos começaram a enrugar rapidamente e de um dia para outro os dentes ficaram sensíveis e abalados. De alguma maneira precisava controlar minha pressa e ansiedade de querer resolver tudo. No balanço das conclusões notei que os sinais “I” e “O” funcionaram muito bem. Aprendi que são sinais eternos e que a qualquer época terão a mesma utilidade. Consegui começar a ensinar a doze crianças alguma coisa de bom. Elas me ensinaram o início da dolorosa lição do desapego.
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Passamos então a distribuir sopa nas ruas da cidade, uma vez por semana.
Encontrei homens que haviam sido empresários de sucesso e que um dia resolveram após ouvir uma voz interior mendigar nas portas das Igrejas católicas, levando mensagens da Virgem Maria a quem a intuição mandasse. Outros não sabiam porque estavam nas ruas, apesar de terem casa e família, mas algo os empurrava para dormir ao relento no chão das calçadas, soube que alguns voltaram à vida anterior depois de anos.
Notei que a atração que algumas pessoas sentem de andar pelas ruas sem destino, não se limita às ruas, conheci muitas outras que não param nem um ano em uma só casa, elas me contaram que algo as impulsiona a mudar freqüentemente. Outras precisam mudar de religião, batizando-se em todas elas. Em algumas apliquei um ponto de acupuntura chamado de “andar sem destino” e até onde eu sei ajudou-as muito.
*
ROMPENDO COM A ZONA DE CONFORTO
Coincidentemente minha mãe decidiu se retirar da sociedade, renunciar o conforto, praticando o suicídio social. Esta decisão causou um grande impacto em mim e meus irmãos, também nos meus filhos.
Ela estava sendo radical como sempre fora. Foi morar sozinha numa barraca de acampamento, a mesma que anteriormente abrigara o cabalista Denizard Rivail em retiro de seis meses. Foi uma fuga do século XX para ajudar a si mesma, assim eu entendi.
Seu retiro ficava num grande terreno ao lado da reserva florestal de Mairiporã. Embora o caminho escolhido fosse aparentemente duro, ela estava feliz podendo retornar à sua essência. Estava disposta a encontrar as maravilhas que só podem ser percebidas além dos nossos olhos, que estão sempre apressados em conseguir ver. Ela queria reciclar sua vida junto à natureza. No primeiro momento me senti abandonada, mas depois percebi a coragem de seu ato.
Certa tarde eu fui visitá-la e fiquei muito satisfeita, pois estava saudável, havia resgatando seu prazer comendo feijão sem passar mal, depois que resolveu plantar, colher e cozinhá-los com as próprias mãos. No silêncio da mata aprendeu se comunicar com os animais, com os elementais e com os espíritos da natureza. Aprendeu também a usar a magia das plantas e a proteger sua família à distância.
Numa de minhas visitas a seu retiro ela me mostrou um pé de limoeiro e disse:
— Ana, este limoeiro representa sua vida. Tudo que acontece com ele sabia que é uma representação daquilo que está acontecendo com você. Veja que alguns dos frutos dele estão sendo atacados por bichos e não crescem. Está acontecendo alguma coisa com você?
— A Casa da Criança teve de ser desativada e isso me deixou muito triste. Cada criança recebeu uma Mandala que a senhora pintou. Tenho esperança de reencontrá-las um dia.
— Minha filha, você queimou muito karma com elas. Lembre-se de que poderia ser com um de seus próprios filhos. Iria doer mais ainda. Aconselho você a realizar rapidamente a cerimônia da queima de karma.
Tempos depois, nas montanhas verdejantes de Mairiporã, realizei a cerimônia na presença de 33 pessoas. Assim que fui visitá-la novamente, depois de concluída a queima do Karma, ela se apressou fazendo uma limonada. Disse feliz:
— Ana, a praga que estava destruindo sua árvore está controlada. Agora estou preocupada com sua irmã, pois a árvore dela não está boa. Vamos vê-la?
Descemos rapidamente o bosque até perto do riacho onde se encontrava a pequena árvore enfraquecida. Cuidamos dela, colocamos cristais e plantamos dente-de-leão. Buscamos água da fonte e regamos as outras árvores das pessoas da família.
Mais tarde, de volta à barraca, minha mãe resolveu jogar Runas para prever a possibilidade de outras mudanças.
Estava muito aflita com a vida que eu levava, então perguntei: Mãe, será que é destino não conseguir me firmar em nada?
— Minha filha, lembre-se sempre que quanto maiores os dons, maiores também são os problemas.
— Para que? — reclamo inconformada.
— Tudo aquilo que se aprende deve ser depois ensinado. Somente assim conseguimos nos desapegar do aprendido. Devemos manter a informação na corrente, esta é Lei.
— Aprender, ensinar, aprender... sem fim?
— Aprender a fazer tudo por amor. A oportunidade de tornar o outro independente de você é de grande alegria. Não é para isso que criamos os filhos?
— Sim, mas logo vão embora!
— Voltam sempre para lhe ver e ouvir, seguir seus conselhos.
Notei que falava de si mesma, da saudade que sentia dos filhos ainda pequenos à sua volta. Apressei-me abraçando-a. Senti o calor do peito de minha mãe junto ao meu e, repentinamente, tive um grande medo de perdê-la. Insisti que voltasse comigo, mas ela não quis, disse que estava criando peixes. Na despedida, perguntei:
— O Ego não ama, não é mesmo?
— Não, Ego não ama. O primeiro caminho do amor é ter respeito e adoração. O oposto é inveja.
O CAMINHO DO I
A Lua energiza as emoções, a intuição e a criatividade, segundo aprendi. O hemisfério lunar é a metade direita do cérebro e simboliza a natureza yin, feminina. É objeto de adoração em todo mundo, tem elo com a fertilidade, nascimentos e ciclos menstruais. A deusa Lua foi chamada de Diana, Ártemis e Hécate. Na Europa, antes do advento do cristianismo, predominava a religião da Lua. A festa da Páscoa é na verdade remanescente das celebrações das festas da Lua, que durante séculos foi a religião do povo. Os rituais à Lua foram reprimidos com caça às mulheres de Poder, condenadas por heresia, torturadas e queimadas nas praças públicas.
Contudo, nos lugares que o culto à Lua-Diana era muito forte, o cristianismo incentivou o culto à nossa Senhora da Imaculada Conceição, representando Maria com os pés sobre o globo esmagando as cobras. Quando nasci, minha avó, minha mãe e a madrinha Rosa me ofertaram a ela. Coincidentemente no dia de meu nascimento a Lua estava no signo de Sagitário, na casa oito, durante a quarta minguante. Este dia foi consagrado ao Papa Pio IX que proclamou o dogma da Imaculada Conceição.
Mas, as fases da Lua é algo tão importante que nada conseguiu abalar este conceito antigo, principalmente por causa da agricultura, e os místicos entendem que a fase da Lua nova é propícia para semear nos campos, é também boa para novas idéias e projetos. O Quarto Crescente é época de colocar em prática novos projetos. A Lua Cheia é a fase de conclusão e acabamento. Na Quarta Minguante surge a significação do projeto e o desenvolvimento de nossa consciência. A escuridão da Lua, antes da Nova, é época da abandonar velhas idéias, de transformar a energia, de meditar e adquirir novos conhecimentos.
*
Ao dirigir um grupo de meditação na Lua Cheia no salão Etálides do CEVIP, tive a oportunidade de aprender significativa lição.
O Sol e a Lua estavam em signos zodiacais opostos, isso quer dizer que eu deveria prestar atenção em duas questões opostas, mas igualmente importantes. É possível até projetarmos a nossa polarização interna em outra pessoa, como foi meu caso. Essa pessoa irá manifestar o oposto de seus presentes objetivos, causando grandes transtornos, porque depois que esta fase lunar passa, continuamos a ignoramos a busca a que estávamos empenhados.
Nesta ocasião, no início da reunião, uma jovem entrou em transe (Orixá — Oxum), o que não era comum, nunca tinha acontecido antes, quando acabamos a meditação ela ainda não havia retornado ao seu estado normal. Fiquei atrapalhada pois não sabia como lidar com este fato, nada sabia sobre Candomblé.
Meu irmão que iniciara as reuniões de introdução aos princípios esotéricos no CEVIP, presenciou tudo e no final, disse preocupado:
— Ana Vitória, você precisa aprender lidar com esse tipo de transe, há diferenças profundas entre canalizar elemental, espírito e extraterrestres, vocês têm dificuldades de entender a natureza dos elementais. Pode dar muito trabalho mexer com o que não se domina.
— Você tem razão, mas eu não mexi com nada disso não, devo ter feito algo involuntariamente, era só uma meditação direcionada à prosperidade, afinal a energia de Oxum está ligada com o ouro, os fetos e as crianças recém nascidas, ao amor. Preciso estudar mais sobre o assunto.
Mal sabia eu que a questão não era estudar e sim vivenciar. Senti-me incompetente diante deste fato e acabei tomando uma decisão radical, parei de continuar dirigindo qualquer meditação em luas Cheias ou não. Pelo menos até não temer mais surpresas desse tipo.
*
VOGAL I
Meu irmão e eu organizamos e dirigimos o Colegiado de Sensitivos por dois anos. Cuidei da parte administrativa do Colegiado, atraindo novos membros e encaminhando a médiuns pacientes com potencial, além de continuar com os atendimentos individuais. Lauro dirigia os estudos esotéricos e treinava os membros.
Em seguida, abrimos atendimento ao público fiel a nossos princípios e Tradição, usávamos métodos de captação, energização e cromo-terapia, tornando a Iniciação prática e acessível a todos.
Na primeira reunião são anunciados os nomes dos nossos protetores espirituais. A partir de então o Colegiado passou a se chamar Ordem do Arco Íris, com divisão de graus baseado nas sete cores do Arco-Íris e o iniciado recebia o título de Amauta.
Fiquei satisfeita e pasma ao mesmo tempo, pois o Arco-Íris era símbolo da bandeira dos Incas, e os Amautas eram seus sacerdotes. Intrigada, perguntei a meu irmão:
— Por que os Incas?
— Ora Ana, foi você que trouxe a energia dos Filhos do Sol e da Luz.
— Vieram comigo lá do Peru? — perguntei espantada.
— Sim, claro! Saiba, minha irmã, que na crença destes povos havia no plano espiritual uma Fraternidade conhecida como Filhos do Sol, que ascendeu no plano evolutivo. Alguns espíritos que a compunham retornaram ao plano espiritual do Planeta Terra e criaram a Fraternidade do Arco-Íris, destinada a dar continuidade a sua antecessora.
— Que espíritos são estes?
— Os Incas e os Tupis.
— Entendi! Isso quer dizer que nós fazemos parte do plano físico desta Fraternidade?
— Sim, como canais, ponto de passagem para eles, por isso chamamos Ordem do Arco-Íris.
Neste momento tive um “flash”: achei o vogal I! Ansiosa, procuro as anotações feitas na viagem sobre as ruínas do Império Inca. Reli a parte que falava das visões.
Escrevo rapidamente as anotações sobre a vogal I que acabara de achar.
Vogal I — Ísis: brilho
Cor: vermelha.
Valor numérico: nove
Marca o momento que o iniciado passa para o segundo ciclo de iniciação
Ísis é uma deusa egípcia que às vezes é confundida com IÓ.
Provas deste estágio:
1) Superar a covardia física;
2) Lutar contra superstições e preconceitos;
3) Adquirir o conhecimento empírico das entidades do plano astral;
4) Superar o arrependimento sobre aquilo que foi feito e que não pode ser mudado;
5) Vencer a indecisão;
6) Lutar contra os condicionamentos;
7) Realçar a clareza e a pureza das intenções;
8) Trabalhar sem se deixar influenciar por terceiros;
9) Aprender a ser só.
COMENTÁRIO: Achei que Ísis era uma deusa e a mãe Terra era outra, na realidade todas são mães de Criação. Mas o mais difícil foi superar o arrependimento sobre o que foi feito e não podia ser mudado. Pois naquele momento sentia que não tinha sido uma boa esposa e nem uma boa mãe para as crianças, deixei de cuidar delas direito, e já sabia que nada podia ser mudado. E não me deixar influenciar por terceiros era pior ainda.
É sempre bom iniciar uma nova etapa. Agora tenho pela frente um segundo ciclo. Iniciei-me também na Ordem do Arco-Íris recebendo o cordão verde, de servidora.
Olhando a Mandala exposta no salão do CEVIP lembrei-me das doze crianças e dos doze membros da Ordem das Etálides, personificados na estrela de 12 pontas da Mandala. Achei que era hora de mudar de Estrela a Sol, acrescentando mais duas pontas. O número 14, como vibração, representa a capacidade de sintetizar e de ser misericordioso. Invoca também os quatorze reis da dinastia dos Incas.
Encerrei assim uma história e comecei outra, percebendo que a lição do caminho não vem na ordem como é descrita romanticamente nos livros, e muito menos como imaginamos. Sempre acontecem de maneira imprevista e surpreendente.
*
BLOCO DE OURO
O dia estava especialmente agradável e as flores exalavam muito perfume. No CEVIP, depois de cumprir a agenda, sentei-me com a secretária para ver e responder as correspondências, quando senti um ligeiro cansaço. Retirei-me com a intenção de descansar um pouco no quarto.
Assim que me deitei, vi na direção da porta aberta um cilindro azul parado no ar, girando, vindo perto de mim. Pára aos pés da cama, transformando-se em um bloco retangular de ouro, de superfície irregular, com dimensões próximas a um metro e vinte de altura e vinte centímetros de largura. Começou a vibrar em ressonância com o meu cérebro. Do mesmo modo voltou à forma cilíndrica e desapareceu na direção da porta.
Adormeci por dez minutos. Acordei sentindo-me diferente, não sabia exatamente o que havia acontecido, mas algo mudou no meu inconsciente. Percebi que em dez dias a constante ansiedade havia diminuído.
GANHO UM ORIXA — OGUN
Nesta época, os grupos de Ecologia e Defesa do Meio Ambiente começaram a surgir no mundo todo. O vírus da AIDS assolava o país e aquela liberdade sexual tão decantada foi violentamente ameaçada. Os astrólogos afirmavam que esta doença manifestou-se na Terra quando Plutão entrou no signo de Escorpião. A cura deve ser encontrada quando entrar em Sagitário.
Comecei a participar como terapeuta voluntária numa casa de apoio a estes doentes. Eram doze pessoas internadas em regime semi-aberto, em estado grave e não contavam com o apoio familiar.
Meu envolvimento foi tão grande que comecei a participar de campanhas preventivas, pois a contaminação estava se acelerando, e em grande parte era devido às drogas injetáveis.
Os médiuns e sensitivos procuravam investigar a freqüência vibracional da doença no campo astral. Os terapeutas e acupunturistas concluíram que estávamos diante da síndrome Yn.
Entre os internados havia um muito especial, um homem que trabalhava em Santos como zelador, agora ele estava também cego e revoltado com seu estado. Certo dia fez um pedido que em um primeiro momento podia parecer impossível:
— Ana,eu quero morrer podendo caminhar com minhas pernas de pé, por conta própria.
— Mesmo sem ver nada?
— Sei que você pode me ajudar a abrir a terceira visão para localizar os objetos através da vibração deles.
— Sabe também distinguir energia emitida de um pedaço de madeira, da cadeira, da árvore plantada e de seu elemental?
— Sei.
Concordei, diante de sua determinação. Trabalhamos por algumas sessões ativando este seu sentido. Em pouco tempo ele começou a sensibilizar sua visão interior e numa das sessões viu sua mãe falecida. Aproveitou este momento singular pediu perdão a ela. Começou a melhorar o sentido de direção e o equilíbrio e não se apoiava mais nos móveis para andar. Quando disse que estava vendo, aos outros moradores da casa, debocham dele.
Tempos depois, fiquei sabendo que desceu sem ajuda os 30 degraus da casa e depois entrou na ambulância. Fez a passagem deste planeta no Hospital das Clínicas. Herdei suas riquezas: uma trouxa de pano branco bem amarrada, abrigando seus pertences sacerdotais, objetos do seu Orixá, Ogum. Decidi que o melhor a ser feito era outra queima de Karma.
*
FEIRA ITINERANTE
Com o objetivo de levar o conhecimento das artes e da magia à população do interior do estado, elaborei um evento que englobava quase tudo. A primeira amostra foi no dia dos Reis Magos, no CEVIP, com absoluto sucesso.
Os ônibus lotados de esotéricos percorrem as cidades do interior de São Paulo, alegres, felizes, cada um respeitando o trabalho do outro, sem divergências, para nós oportunidade única de ficarmos juntos e conversar, levamos nossos filhos conosco.
A cada dois meses organizávamos uma nova feira que trazia em seu programa, entre outras coisas, palestras que abrangiam todos os segmentos de pensamentos, eu costumava dizer que não tínhamos intenção doutrinária, mas sim mostrar apenas tudo o que existia neste universo, e cada pessoas iria julgar e escolher o melhor para si mesma.
Havia espaço para campanhas de prevenção à AIDS, de defesa da vida dos animais, estímulo ao plantio de mudas de árvores em extinção como o pau-brasil, defesa dos direitos a terra para os índios, concretizando a população sobre as discriminações involuntárias aos estrangeiros, negros, às mulheres, aos deficientes físicos e aos loucos e insanos.
Nossa presença nas cidades era marcante, os mais variados tipos de pessoas nos procuravam com profundo interesse. Tínhamos o apoio e participação de terapeutas, ufólogos, Hare Krishnas, professores, ciganos e esotéricos de todas as espécies. Dando toque alegre e colorido ao nosso trabalho.
Guardo até hoje com carinho vários presentes especiais que ganhei nessas peregrinações. Um desses presentes, um crânio de cristal, teve grande significado em minha vida, pois despertou meu interesse os estudos de telepatia, clarividência e do cérebro.
SOU CHAMADA DE ANTICRISTO
Em Bauru, aconteceu um fato que me deixou assustada. Pessoas pertencentes a religiões radicais começaram a distribuir folhetos dizendo que nós éramos o 666, o antiCristo. Furiosos, nos acusam, fazendo um cordão de mãos dadas em todo o quarteirão do prédio da feira.
— Nós somos servos de Deus obedientes à Bíblia. Vocês adoram tudo, são hereges, pecadores, representantes de Satanás.
— Deus é tudo, criou tudo. — respondi tranqüila, achando que este seria um argumento suficiente para convencê-los de que estavam nos julgando de maneira errada.
— Vocês não aceitam que Jesus é o único Salvador da humanidade.
— Ainda a mesma história milenar... suspirei impaciente.
— Vocês blasfemam, adoram outros Deuses!
Quando percebi que aquela discussão não serviria para nada, tentei encerrar o assunto: Vamos parar com esta conversa inútil, isso lembra uma desavença há algum tempo atrás sobre a questão do mundo ser redondo ou não. Para que discutir?
O homem queria me converter à sua fé de qualquer maneira. Indignado, gritou olhando os seus amigos que estavam parados logo perto da cena:
— Irmãos, esta mulher está possuída por Satanás!
Imediatamente todos começaram a orar e levantaram as mãos em minha direção, exorcizando-me. Fiquei apavorada, pois não imaginava passar por uma cena dessas em pleno final do século XX.
Fiquei muito triste quando lembrei que por causa de fanáticos religiosos deste tipo, foram exterminados os Incas, Astecas, africanos, judeus e muitos dos nossos índios, mas estava bem acompanhada.
Seguimos em frente, este fato não abalou nossas crenças nem nossa luta. Tínhamos várias cidades a visitar, onde recepções calorosas nos aguardavam.
*
Pouco tempo depois tenho de retornar à capital, pois Guilherme, meu filho, seria pai em poucos dias. A cesariana foi atrasada por duas horas. Soubemos que o médico visitou mais uma vez “rapidinho” seus filhos. Minha neta, devido ao atraso do parto, ingeriu muito líquido aminoático, que provocou sua morte quarenta e quatro dias depois. Escrevi diariamente relatórios dos fatos.
Semanas depois, mais uma morte de bebês agora gêmeos nas mesmas circunstâncias, no mesmo dia da semana, devido a mais uma visita do médico aos seus filhos. Interditamos o hospital, provando que estes acidentes eram constantes. Fui informada de que fatos como este são quase rotina. Devido ao atraso no atendimento hospitalar, constantemente ocorre morte de parturientes ou de bebês que ingerem líquido da placenta.
*
Determinada a entender porque nós tivemos de sofrer tanto, lembrei-me então de uma pessoa que poderia me ajudar, um simpático astrólogo americano, Ry Redd, discípulo de Edgar Cayce, que conheci numa das Feiras da Nova Era.
Contei sobre a neta, omiti sua morte, disse apenas que não estava bem de saúde e pedi-lhe que fizesse o mapa astral de vidas passadas. Logo ele retornou com o relatório. Estava muito ansiosa que acabei lendo ali mesmo. Um dos parágrafos dizia: “jamais sentirá o amor de seus pais”. Emocionada com aquilo que acabara de ler, contei a ele que minha neta havia morrido dias antes.
Redd comentou carinhosamente:
— Somente as almas muito especiais ficam tão pouco no planeta. Elas voam a outras dimensões de Amor e de lá olham por nós como anjos celestes.
Aceitei sua explicação como consolo, tão necessário naquele momento.
*
Assim que voltei à rotina do consultório a Dra. Hilda Dias passou-me a direção da Sociedade Brasileira de Parapsicologia. Eram novas reuniões e congressos. Meu interesse em estudar os fenômenos paranormais é cada vez maior.
Este movimento foi responsável pela organização de todas as terapias alternativas, englobando-as dentro da visão Holística, pois freqüentemente surgem inúmeras modalidades terapêuticas que precisam ser agrupadas em um ponto comum.
Conseguimos também que as editoras se interessassem em aumentar o número de edições de títulos de escritores brasileiros da área de terapias alternativas e paranormalidade. Essas publicações despertaram o interesse do grande público, que estava isolado de sua cultura, num país que a maioria do povo é constituída de paranormais!
Hoje em dia, mais e mais pessoas nascem com a consciência alterada, basta olhar as crianças e ver como se desenvolvem rapidamente e têm grande intuição, percepção, canalização e telepatia. Incorporou-se no cotidiano de todos. Sem dúvida alguma somos um povo com imensa sensibilidade.
O CAMINHO DO O
CONHECIDA como uma mulher muito sábia, mamãe costumava atrair muitas pessoas até ela. Atraído por sua fama, o Pai de Santo Marcos de Oxum, da casa Ilê de Oxum Apará, foi até Mairiporã. Depois de conversarem, pediu que ele me fizesse uma visita, a energia que Oxum traz à Terra aplacaria a dor das recentes perdas.
O Pai de Santo tratou-me com seus banhos de ervas aromáticas e cantos para cabeça. No dia da festa da Oxum fui ao terreiro reverenciá-la, acompanhada de minha filha Vilminha.
*
VOGAL O — Ao som dos tambores, os filhos de santo dançavam louvando todos Orixás. Os convidados estavam amontoados nos cantos, tive dificuldade em arranjar uma cadeira vazia. Pela primeira vez assisti a uma festa dentro de um terreiro de Candomblé.
Ele entrou vestido de saia dourada, com muitas rendas, manifestando Oxum. Sentado no trono, recebeu reverências de todos e fez uma bênção coletiva. Depois de distribuir os camarões que estavam em sua cesta, retirou-se, indo a uma sala no fundo da casa. A figura do médium havia desaparecido por completo na presença de Oxum. Era impossível enxergar uma figura masculina ali, quando existia a energia feminina do amor maternal.
Imediatamente formou-se uma fila. Quando chegou minha vez, estava muito emocionada e intimamente procurei conter as lágrimas insistentes. Respirei fundo evitando olhar o Orixá no rosto, mas num impulso irresistível ajoelhei diante de Oxum e recebi o abraço da santa. Ela encostou seu peito junto ao meu. Uma energia emanada do amor verdadeiro conseguiu arrancar de lá do fundo, escondidos dentro de mim, todas as mágoas, tristezas, abandonos e solidão da minha vida. Neste momento foram transformados em amor.
Nos braços de Oxum restabeleci a paz e fui premiada com o dom do esquecimento. E neste colo amantíssimo encontrei a vogal “O” ao contemplar extasiada o dourado de suas roupas. Aceitei a força do mito e pedi perdão a esta energia por ter brincado com coisas tão sérias. Prometi intimamente cumprir o que faltava a IÓ. Ela ouviu meus pensamentos e, sorrindo, cobriu-me com sua proteção, em sinal de compreensão.
Neste momento me veio à mente aquela moça que não saiu do transe no ritual da Prosperidade, agora entendi que ela estava sob as forças de Oxum. Comecei a aprender tudo sobre Candomblé, com o Ekede da casa.
Paciente e metodicamente escrevi no caderno de notas, os caminhos da próxima etapa.
Vogal O — Oxum
Cor: azul.
Valor numérico: 6.
Deusa Africana da água doce, seu metal é o ouro e seu dia é sábado. É protetora da gestação e das crianças recém nascidas. Protege as emoções semeando amor para germinar nos nossos corações.
Segundo a Lei tem valor de OM, ou seja, o próprio Sol.
1) — A bifurcação do caminho, indica a grande Lei da Analogia.
2) — O Livre Arbítrio, pois toda matéria existe graças ao Espírito e não ao contrário.
3)Adaptação, preparação
COMENTÁRIO: relacionar a riqueza com o AMOR foi uma grande lição que abala qualquer pessoa, somente assim entendi a força da criação em todos os níveis como força de sustentação da vida. Muitas vezes depois disso recorri ao AMOR para superar perdas (inclusive as financeiras) até entender que somente o AMOR reconstrói.*
MASSACRE DOS IANOMAMI
No CEVIP fizemos uma importante reunião para decidirmos como organizaríamos o Ritual do Anhangabaú Opá. A proposta do grupo indígena era resgatar as almas dos guerreiros mortos pelos jesuítas portugueses numa emboscada cruel no Vale paulista, no começo da colonização em São Paulo.
Assim como os membros do CEVIP e da Ordem do Arco-Íris, eu também estava animada com a idéia da convivência com os nativos que descobriram nos esotéricos bons canais para perpetuarem suas idéias. Defenderíamos os mesmos pontos filosóficos básicos: a resistência pacífica.
A pedido de meu namorado, fizeram um jantar típico indígena, com pratos como arroz, feijão, mandioca, banana, milho, batata doce, peixe e licor de Jurubeba. Percebi o quanto seus costumes foram absorvidos por nós. Exibimos a eles o vídeo do desfile da escola campeã do carnaval mostrando que absorvemos mais do que as comidas, utilizam também a arte plumária, ilustramos nossa fala.
Nesta noite nós aprendemos as danças sagradas, ouvimos as deliciosas histórias sem fim e fumamos tepenguá ou seja o cachimbo.
Somos surpreendidos com a notícia que os Ianomâmis tinham sido massacrados por garimpeiros no Amapá. Os nativos presentes declaram-se em luto, pintando o rosto de preto e imediatamente fizemos vários rituais em homenagem aos mortos da floresta. A imprensa nacional e internacional é informada e então se seguiu um ato Ecumênico na Catedral da Sé.
Quando entrei na Catedral encontrei um nativo Bororó que me contou estar desiludido com a Igreja Católica:
— Vi no altar da igreja lá de minha aldeia um Bororó pregado na cruz e fui perguntar ao padre o que significava aquilo. Ele respondeu que aquele era Cristo.
— Como? Cristo é branco!
— Ele disse que Cristo também era Bororó, e eu retruquei inconformado: se for Bororó, por que vocês proibiram nossos cantos e danças sagradas? A partir deste momento eu desacreditei no Deus dele e voltei aos meus rituais.
*
ABRAÇANDO O VELHO DEMÔNIO
O Arapoty ou o Ritual do Perdão no Vale do Anhangabaú adquiriu uma enorme conotação, iniciou à zero hora do dia 25 de setembro de 1993, sob chuva fina. A noite estava escura, sem estrelas.
O dia seguinte amanheceu cinza e garoando. Às 11hs da manhã, Kaká Werá Jecupé que é nativo Kaiapó Txucarramãe, Beth e eu nos sentamos no centro do gramado, concentrados. Fizemos um círculo de flores e Kaká, com o maracá, começou sua invocação. As pessoas olham de longe, respeitosas, e em poucos minutos a garoa fina parou de cair e o céu abre-se azul. Neste momento surgiu no alto um ser esvoaçante, rosa, pairando no ar, depois veio outra igual em branco. As duas começaram a girar junto conosco e apareceram outras duas, uma amarela e outra azul, deram um giro e em espiral entraram na terra. Minutos depois acompanhadas do que imaginamos ser os espíritos dos índios mortos há 500 anos, finalmente resgatados!
O céu fecha novamente, o som do trovão anuncia o raio iluminado.
Na presença da Justiça de Xangô,
em pé no meio do Vale,
absoluto
com seu machado, Iluminado,
diante dos Pajés presentes, declaramos
o fim dos Velhos Demônios.
*
O ESTUDO DO ALUNO
Os três meses seguintes me sobrecarregaram fisicamente, e por este motivo tive de diminuir o número de atendimentos, mas mantive o ritmo anterior para as aulas individuais.
Todo o dia acontecia alguma coisa que consumia todo o tempo: a causa indígena, as obrigações na casa de Santo, família, rotina doméstica; a escola das crianças, mercado, banco, faxineira, torneira pingando, a cadela de estimação parindo, o namorado que estava querendo me apresentar a sua família, e o medo que senti que ao assumir este relacionamento mudasse muito a estabilidade social duramente conseguida.
Certo dia eu fiquei muito surpresa com uma novidade trazida por um terapeuta aluno: Ana Vitória, não sei qual é a sua posição a respeito de Plantas de Poder, você experimentou alguma vez estes vegetais?
— Poucas vezes, mas continua atuando em mim até o momento presente.
— Que bom, na verdade vim convidar para conhecer um grupo de Ayahuaska.
— Daime ou União do Vegetal?
— Daime. Você conhece Ayhuaska?
— Conheço sim, e como!!! E você, há quanto tempo toma o Chá?
— Há cinco anos, gostaria que você participasse do nosso grupo. Aceita?
— Claro que sim. — concordei interessada.
— Você bebe o Chá regularmente? — perguntou.
— Tomei em dois períodos um em Cuzco uma vez e bastou por cinco anos e depois com a UDV União do vegetal durante uma experiência, depois parei mas foram tantas informações na época que estou digerindo ainda. Talvez esteja na hora de tomar de novo. Como você conseguiu o fornecimento?
— Eu e outros interessados fomos até o Acre, na comunidade Daimista do Céu do Mapiá. Lá nós fizemos um acordo, recebermos o Chá por dois anos e a partir disso poderíamos estudar seus efeitos e benefícios. No final deste prazo temos de decidir se vamos realmente incorporar a doutrina ou sair definitivamente. O prazo está no fim.
— Este seu grupo é do que?
— De autoconhecimento, freqüentado por amigos e estudiosos como você.
Aceitei o convite na possibilidade de resolver alguns problemas como a alergia a metais, brincos, relógios, pulseiras e também a pouca assimilação da vitamina E pelo organismo.
ENCONTRO COM O MAU HUMOR
Definitivamente este fato me impressionou, chegamos ao local, e encontramos outras pessoas esperando na porta, já de roupa branca. Fomos apresentados aos “fiscais” que gentilmente indicaram nossos lugares, e alguns trocam de roupa pondo as fardas do Santo Daime.
Nos primeiros momentos cantamos músicas selecionadas de vários hinários do culto ao Santo Daime. Mas depois de duas horas tive uma enorme surpresa: vi se despregar do meu corpo uma energia densa que ficou pairada no ar. Olhei estupefata pois bem diante de mim estava o famoso mau humor matinal, dizendo:
— Está vendo, sou eu quem provoca em você as explosões emocionais de todas as manhãs.
Não podia acreditar naquilo que estava vendo, era mais do que constatar que papai Noel existe, mas mesmo espantada queria ver mais. No mesmo segundo esta “energia” invadiu meu corpo e instantaneamente levantei sem controle, mas consciente, e comecei a fazer caretas a todos, possuída pelo incontrolável pior mau humor que alguém pode imaginar. Veio de uma só vez o que eu fazia aos poucos todos os dias. Não podia duvidar daquilo que via, sentia e ouvia. “Aquilo” que estava ali, fosse o que fosse, era verdadeiro. Estava comigo há tanto tempo que até parecia ser algo da minha própia natureza. Revelou-me a sua intervenção. Estava chocada, inconformada por ter deixado me influenciar por tanto tempo. Enquanto pensava, vomitava. Era gosma com imagens impregnadas, bem visíveis.
Quase desesperada e curvei-me diante daquela “presença”, reconheci seu poder. Indiferente a mim, projetou-se num outro universo, para sempre.
Os participantes, absolutamente concentrados, cantavam. Apenas um dos “fiscais” deu atenção àquilo que ocorrera comigo. Limpou a sujeira no chão, olhou e sorriu. Coloquei um par de brincos que estavam na bolsa, observei por minutos, e não causam alergia que antes eu tivera por anos. Percebi mais uma vez o poder desta planta. Fiquei tão grata a tudo que nem me importei do vexame que dei e graças a Deus que ninguém disse nada.
A partir desse dia o tão famoso mau-humor matinal nunca mais voltou, levando consigo a alergia por metais, graças a Deus. Surpreendi com a Ayahuaska que agora já tinha novos nomes, ela não se repete jamais, cada hora era uma coisa, e a CURA não termina nunca, quando pensava que estava bem de um lado acontecia outra coisa, outro aspecto de alguma coisa ruim de mim fazia a sua valsa do adeus, e assim passei dando vexames durante três anos seguidos, em tudo que foi igreja do Daime.
*
MONSTRO DE CEM OLHOS
Pesquisei nas livrarias algo que se referisse à história do Monstro de cem olhos, mas não encontrei nada parecido. Passei então a procurar nos mitos gregos e deparei-me novamente com a história de IÓ. Este mito relatava o tormento que ela passou antes de ser libertada por Mercúrio da guarda do Gigante de cem olhos.
Nestas alturas levando-o a sério mesmo, identifiquei finalmente os Gigantes na minha vida, urgindo serem contidos enviados ao centro da Terra, pois não há doutrina para os demônios e sua legião.
A título de pesquisa, pedi um exame detalhado de aura e de chakras na Ordem do Arco Íris, pois pretendia comparar com outros exames, posteriormente. O ”estudo” sobre Ayahuaska continuava e proporcionou-me uma nova cura: desde o tempo das feiras itinerantes eu estava com pouca assimilação das vitamina A e E. Numa dessas sessões de “estudos”, Marcos conseguiu ter contato com parentes desencarnados há algum tempo, resolvendo assim suas sérias pendências.
Pedi um exame espiritual detalhado na ordem do Arco Íris e comparei com o anterior. Tive uma surpresa boa, estava com campo áurico melhor. Passei então a usar florais do Deserto, 11:11, que ativa os gatilhos pré-codificados colocados dentro de nossos bancos celulares de memória antes do nosso nascimento. Eles interferem na realidade criada em outras dimensões simultaneamente.
Contei à minha mãe as curas que estava conseguindo obter através da planta. Ela fica indignada:
— Como você vai a estes lugares e não me convida, sua egoísta?
— Desculpe-me, não imaginava que a senhora queria novas experiências!
— Você toma isso há bastante tempo?
— Tomei pela primeira vez no Peru e depois em outros lugares.
— Por que nunca me contou? — perguntou ainda inconformada.
— Perdão, mãe, mas acontece que a senhora sempre acreditou que experiências espirituais com o uso de alguma coisa externa não têm validade, por isso fiquei com medo de contar.
— No princípio dos tempos deve ter sido por auxílio das plantas de poder que o homem chegou onde está.
— A senhora quer ir ou não quer? — perguntei impaciente.
— Quero.
*
No mês seguinte fomos os três, Marcos, mamãe e eu, “estudar”. Tudo aconteceu novamente, comecei a canalizar as tais entidades milenares. Desta vez observando a atuação, senti que eram como se o corpo estivesse ligado a mecanismos parecidos com transmissões de rádio, e o cérebro humano seria equivalente a uma estação transmissora com um poderoso radar.
Desmistifico o resto das idéias pré concebidas escondidas na mente da concepção de Morte, Céu e Inferno, até alcançar a Luz. Não pude olhar devido ao intenso brilho dela. Comecei a procurar o equilíbrio entre a luz e a sombra.
Um outro exame na Ordem do Arco-Íris confirmou que o campo áurico continuava a melhorar. Deduzi que o chá não fazia mal ao corpo astral, nem etérico, mas desequilibrava os chakas temporariamente, necessitando um passe de reequilíbrio após os trabalhos. Passei a tomar o floral dos sete chakas antes e depois dos “estudos”.
*
Mamãe, Marcos e eu fomos à festa dos Reis Magos na Igreja do Daime, em Mauá. Chegamos uns dias antes, descansamos e tomamos banhos nas várias cachoeiras existentes daquele privilegiado lugar.
No dia 6 de janeiro, com grande grupo, fomos para o trabalho de duraria 12 horas ou mais. Logo avisto a igreja, em forma exagonal, dentro do terreno da comunidade bem no meio do mato. Inúmeras pessoas vestidas de branco entram lentamente, elas vinham de todas as partes. Lá dentro os homens ficavam de um lado e as mulheres do outro. No centro ficavam os dirigentes e músicos, ao redor da estrela.
Depois da reza do terço, cantamos o hinário do Mestre Irineu. Assim que começaram os hinos não conseguia mais ficar na fila da dança. Fui ao banheiro fora da igreja e transcendo dentro dele evacuando. Aprendi sobre mim mais que durante a vida toda que vivi. Saí, acendi uma vela como num “altar” e beijei o chão.
Lá fora fiquei olhando o céu, distraída com as estrelas. A fiscal pediu que eu voltasse ao Templo. Lá dentro passo por outra “limpeza”, vomitava pela janela, enquanto via imagens halográficas, em linhas marinho e verde claro. Não conseguia vomitar e prestar atenção a elas. Passei muito mal e os limites do corpo atrapalham o desenvolvimento de meu trabalho. Relutei em abandoná-lo com medo de perdê-lo. Da garganta saíam em jorros toda água que ingeri na vida, sentia-me um lixo.
Retornei ao salão passando perto de mamãe que encontrava-se muito concentrada ao lado de outras mulheres, desisti de pedir sua ajuda. A fiscal sugeriu que eu me colocasse na fila da dança. Tentei, mas tive outro fracasso. Admirei aqueles que conseguiam dançar, tocar maracá, cantar e mirar ao mesmo tempo. Procurei por Marcos na ala dos homens e avistei-o sentado com os olhos fechados, desisti também de pedir sua ajuda. Os outros amigos estavam firmes no salão, não sei se evitam me olhar ou se realmente não me viam. Estou muito tonta, quando de repente uma onda de amor se desprende do grupo e me toca. Parei imediatamente de pensar.
Levada por este inesperado bem estar, eu sentei na providencial cadeira de praia que estava vazia. As ondas continuavam a me tocar. Entreguei-me por completo a essas energias de puro amor, elevando-me rapidamente através de vários planos de consciência, deslocando-me do corpo em direção ao astral. Ampliei a percepção e, sensível, confiei na Luz, entreguei-me a ela. A cadeira de praia se transformara em um magnífico trono e o vórtex do Chakra coronário girava rapidamente. Neste momento foi acionada uma “estação de rádio” biológica no meu corpo, que transmitiu a mim e a dez pessoas em igual sintonia. O locutor era um ser magnífico, feminino, vestido de Luz. A maioria estava ocupada, cantando, dançando ou com os seus pensamentos em outra vibração, mas estas dez pessoas que estabeleceram contato foram atingidas. No intervalo entre o hino à Mãe Celestial e outro, do meio do salão todas as 300 pessoas ouviram alto e metalicamente, por três vezes, apesar de eu estar murmurando:
— OS SEUS DESEJOS SERÃO REALIZADOS!
Dentro de mim explodiam Luzes multicoloridas. Ouço o pipocar dos foguetes vindo lá de fora. Mamãe se aproximou com um incenso. Os cantos no salão continuavam fortes ao som da marcação dos maracás. Ouço minha mãe reclamando:
— Que vergonha minha filha, você é uma médium treinada e dá este vexame?! Parou o ritual! Até parece que não sabe que não pode interferir, somos convidadas. Conte, quando os nossos desejos serão realizados?
— Aquele Ser falou no sentido da eternidade, então não sei quando isto vai acontecer realmente, e nem se vai acontecer nesta vida, mas que nossos desejos serão realizados, isso serão.
Receosa, lembrei-me de que desejei coisas no passado e que naquele momento não as queria mais. Não gostaria de realizar os desejos que não queria mais.
Não podia mais continuar falando pois a fiscal se aproximava. Levantei emanada de grande amor e fui abraçar e abençoar todos, na medida que fui fazendo isso aquela energia foi diminuindo.
Cheguei perto de um Ser Divino Maravilhoso e tive de voltar por incapacidade de me manter na luz, mas pelo menos pude vê-la, a única capaz de solucionar na Terra as nossas necessidades.
Fiquei em estado de serenidade por várias horas. Essa serenidade me proporcionou um grande bem estar que se prolongou por vários dias, até que voltei gradativamente à normalidade, ao mundo dos mortais, só que desta vez muito mais alegre, feliz, gratificada.
*
AYAHUASKA NA CASA DE SANTO
Neste período o Pai de Santo Marcos de Oxum, quando soube de meus “estudos”, desejou ter também uma experiência com Ayahuaska. Depois de irmos três vezes aos rituais da Estrela do Oriente, ousamos experimentar o Chá dentro do terreiro de Santo, na feitura de IAÔ (médium que se inicia) de Oxossi, para satisfazer a nossa curiosidade espiritual, pois devia ser um bom aprendizado.
No dia marcado a casa de Santo estava na movimentação natural deste tipo de iniciação. Tomei o banho de ervas e pus a roupa de “ração”. Saudei o Pai de Santo e então todos nós tomamos o chá, menos a pessoa a ser iniciada, e que tudo ignorava.
As Ekedes, as Labaces e os Ogans cumprimentaram-me sem deixar dos seus afazeres enquanto passo pela cozinha indo a direção do roncó, o quarto de recolhimento. Encontro o IAÔ, calmo, sentado no chão. Conversamos pouco, falamos sobre a importância da iniciação na mudança de vida e na proteção e qualidades de seu Orixá:
— Oxossi é o caçador das almas, o senhor do ar. Representa o número 6, seus signos zodiacais são Touro e Libra e seu astro regente Vênus. Estão relacionados a ele, o metal cobre, a letra sagrada H, a cor verde e o chakra Esplênico. — contei tudo o que sabia a respeito deste orixá.
— O que são chakras?
— São centros de força que controlam todas as energias que transitam pelos corpos espirituais. É através deles que as energias cósmicas, kundalínicas, solares e etéreas se manifestam em todo o ser humano.
— Por favor, fale sobre o Esplênico. — pediu interessado.
— Este chakra está ligado ao baço, às glândulas supra renais e aos rins. É a sede da energia solar, tem seis raios, isto é, seis cores, verde, vermelho, amarelo, azul, laranja e violeta.
— E se este chakra não estiver funcionando direito?
— Provoca anemia, profundo abatimento e esgotamento nervoso, por isso, inconscientemente, você começa a sugar energia do próximo.
— E o outro percebe?
— Pode não entender, mas percebe.
— Como posso evitar?
— Basta mentalizar o centro esplênico em grande rotação, captando energia diretamente do Sol. Você pode também recuperar as energias através do uso dos florais do Himalaia.
— Só?
— É o essencial.
O ritual começou e tudo ocorreu como o esperado, menos o Chá que não surtia efeito. Marcos e eu nos entreolhavamos querendo saber o que estava acontecendo, e o IAÔ, estava em êxtase, a mim só restou desvendar-lhe o futuro nas entranhas do animal sacrificado na sua feitura.
Voltei no dia da festa em comemoração ao término de seu recolhimento de 22 dias. O Iaô saiu glorioso, deu seu nome sagrado e dançou ao som dos tabaques. Senti-me privilegiada por receber de Oxóssi essa lição de respeito, não permitindo que seu filho dividisse conosco seu segredo de iniciação. Compreendi aquela manifestação do elemental, as sábias práticas da milenar arte de zelar os Orixás da cultura africana e da Força da Natureza individualizada e cultivada no ser humano.
Mas depois a casa de santo foi fechada, pois o que nenhum de nós sabíamos era que não se deve servir Ayahuaska numa Casa de Santo, pois desinstala todos os Exus.
*
VIDAS PASSADAS
Falar sobre vidas passadas é um assunto muito delicado, ainda mais quando se trata da vida de outras pessoas. Muitas pessoas fazem interpretações erradas daquilo que vêem em sessões de regressão a vidas passadas. Quando, por exemplo, alguém visualiza um rei logo conclui que em outra vida foi rei. Isso não quer dizer que ela viu coisa errada, mas também não representa que necessariamente tenha sido rei, pode ser que tenha servido com tal dedicação e amor a esta pessoa que sua personalidade se projetou no outro. Por esta razão existem inúmeras Cleópatra, Napoleão, Jesus e outros.
Paralelamente aos estudos sobre regressão a vidas passadas, eu estudava o arcabouço genético, que traz em sua essência a idéia de que antes do corpo parar, morrer, os pontos energéticos se desligam um atrás do outro, mesmo que esta morte tenha sido acidental, o corpo sabe sempre antes o que vai lhe acontecer. O mecanismo que permite isso é a memória contida nos pontos energéticos estudados pela acupuntura, um registro secreto que retém informações de todas a vidas anteriores. É através de suas vibrações que se dá a seleção automática da nova vida na terra.
Nesta época, aceitei um convite de Maurício, fiscal da Estrela do Oriente, propondo fazermos uma regressão a vidas passadas usando Ayahuaska, pois desde que fizera exercícios para sair consciente da matéria não conseguia mais se recordar dos sonhos e nem regredir a vidas passadas, nem por hipnose.
Nossos experimentos eram feitos numa sala da Estrela do Oriente. Tomávamos o chá sozinhos e eu conduzia o relaxamento que era seguido da regressão ao útero materno. Ele ficava deitado e eu em pé ao seu lado. Regredindo junto e viajando em sua história neste planeta, chegamos a uma de suas vidas, em que ele era um sacerdote Egípcio e eu era uma menina que ele distraía com seus “truques” de mágicas.
Continuamos a regressão até que ele viu e resolveu no passado distante questões pendentes na vida atual. Conscientes de nossa antiga amizade, passamos a preservá-la agora também.
*
ASTROLOGIA — FLORAIS — YAHUASKA
Devido aos últimos fatos, precisávamos realmente descansar. Formamos um pequeno grupo de estudiosos e viajamos para o litoral, na cidade de Saquarema. Levei essências de florais e mapas natais de todos, pois dedicaríamos alguns dias a nós mesmos.
Fizemos tratamentos preventivos, pois as doenças, de um modo geral, resultam do desentendimento entre alma e personalidade. A alma alerta para mudanças necessárias e quando a personalidade não corresponde com as mudanças, surgem doenças como última manifestação desta resistência.
Os florais atuam no nosso psiquismo dissolvendo formas pensamentos, o nó, que são alimentados pelas mágoas, medos, o floral desgasta este nó. Preparei fórmula para os trânsitos astrológicos do ano.
Marcos nos deliciou com sua maravilhosa arte culinária, Maria Ester nos ensinou a dança do ventre, tomamos banho de mar. Eu e o Marcos fomos convidados pelo anfitrião a coordenar vivências de astrologia, florais e acupuntura na Suíça, ocasião em que seria formalizada minha iniciação no Daime no seu grupo no Céu dos Alpes.
Fizemos breve trabalhos espirituais com Ayahuaska que foram produtivos e reveladores. Observei na prática que a música é um elemento catalisador dos processos mentais que ativa os mais diversos e profundos níveis da personalidade. Cada nota, cada timbre emitido repercute no nosso cérebro como uma expressão vibracional, que participa do sistema único da totalidade, despertando-nos de um longo sono conectando com outros planos através da expansão da consciência.
Embora já soubesse que as notas musicais influenciavam os estados alterados da consciência, a experiência de constatá-la foi muito agradável.
Tentei rememorizar as vezes em que me senti irritada com algum som. Lembrei-me daquela experiência vivida durante quinze dias, que participei numa clínica, quando encontrei a vogal “A”, que no final dela tive uma hemorragia no intestino alto e senti que essa reação física foi uma irritação ao tom da voz de um dos nossos companheiros, que tinha longas conversas comigo, mas sempre acabávamos discutindo acaloradamente. No início eu julgava ter sido em razão dos temas que escolhíamos, mas foi também em função da irritação que seu tom de voz produzia em meus ouvidos super sensíveis naquelas circunstâncias.
Com o acúmulo diário da convivência o organismo não agüentou, mas naquela época não tinha consciência de que era esta a causa.
*
ANIMAL DE PODER
Na noite seguinte fomos à praia e conversamos a respeito de nossos animais de poder enquanto caminhávamos pela areia. Comentei: A energia do animal de poder é tão grande que nos defende e favorece nossa saúde física. Os antigos xamãs se projetavam no astral usando imagens de animais com a intenção de não serem reconhecidos por seus pares. Todos nós temos energia animal ou telúrica, contida em nosso interior, circulando por canais específicos. Se a saúde estiver frágil é necessário praticar auto-massageamento, Tai Chi ou acupuntura, para podermos ativar estas energias.
— Como o xamã se projeta no astral? — perguntou Marcos.
— Existem técnicas que criam forma — pensamento para escolher o animal que melhor se identifique com sua personalidade e depois atraí-lo para perto de si. Devemos fortalecê-los com danças. Precisamos ter boa saúde física e os meridianos bem equilibrados. Quem não tem estes requisitos não consegue achar nada, mesmo dançando ou fazendo os exercícios.
— Como se cria a forma — pensamento?
— Todas as vezes que pensamos sobre uma coisa, a vontade do espírito age sobre a matéria, criando assim uma forma — pensamento.
Animados com a idéia, fizemos exercícios para atração do animal de poder. Marcos não conseguiu atrair o seu.
EXTRATERRESTRES NO DAIME
Num dos Trabalhos daquela temporada na praia eu percebi em transe ouvindo sons sutis como de radares e a minha cabeça virou uma grande caixa de sons, por onde passavam vozes vindas de outra dimensão dando notícias alarmantes em relação ao planeta — mas depois disso aconteceu exatamente o contrário; um ser vindo talvez das profundezas do inferno disse que ia acabar comigo, me quebrar inteira. Nós todos ficamos desconcertados, mas não conversamos a respeito disso. Acordei normal e fui à praia.
*
Cheguei de viagem e consultei meu mapa astral e a progressão do ano dizia que este era um período em que poderiam ocorrer rompimentos amorosos ou familiares, pois Saturno transitava na casa 12 em Peixes, mal aspectado com a Lua natal na casa oito, talvez morresse alguém da minha família, temi por mamãe.
*
Mas morre repentinamente a mãe do Dido, nos braços de nosso filho Daniel, que com ela vivia. Essa perda provocou enorme vazio no coração e na vida de todos nós. Acreditei ser esta a morte a qual o mapa se referia.
Daniel casou-se logo depois. Guilherme continuou morando sozinho e Vilma começou a namorar firme. Percebi que esta era a hora certa de me casar novamente.
FIM DO CEVIP
Marcos e eu pensamos em comprar uma casa menor e legalizarmos nossa união. Queríamos fechar o CEVIP e ficarmos só trabalhando em casa. Fiquei feliz só em pensar que teria tempo para escrever os livros que estavam criados na minha cabeça e descansar perto do mar.
Desacelerei os trabalho no CEVIP, começando assim a desmontar aos poucos a organização que estava ativa há quatorze anos. Fechei a livraria, com o tempo deixei de criar novos eventos e cursos, encerrei as palestras mensais, diminuindo as funções administrativas. Levei muito tempo anunciando que o CEVIP seria desativado.
Aluguei a frente do prédio para uma empresa ligada à ecologia. A Ordem permaneceu no salão por um pouco mais de tempo até conseguirem um lugar para a nova sede. Eu continuei no consultório até vender as casas e poder sair definitivamente.
*
Giordano Bruno disse: O ser humano não pode formar-se sem sofrimento, porque é ao mesmo tempo o mármore e o escultor.
*
O NAMORADO ACABA COM A VIDA
Marcos, como de hábito, foi a São Vicente visitar sua família. Desta vez ele voltaria à noite, pois, no dia seguinte, iríamos a uma caminhada à Terra Sem Males, com Kaká Werá e Maurício.
Não voltou.
Recebi por telefone a notícia: houve um incêndio provocado por ele na casa de sua avó. Ele foi socorrido rapidamente pelo corpo de bombeiros, mas com graves ferimentos. Foi hospitalizado imediatamente e passou por várias cirurgias. Sua mãe e eu nos revezávamos em seus cuidados. Marcos faleceu depois de dois meses. Fez antecipadamente sua passagem à Terra Sem Males.
No seu enterro entendi porque todos insistiam tanto que ele mudasse a vibração rapidamente e porque seus animais de poder o tinham abandonado. Concluí que ele já devia ter visto este fato consumado, pois era cartomante e astrólogo. Fiquei muito brava por não ter me dito nada, preferindo partir.
Com raiva de mim mesma, me sentindo incompetente, e envergonhada perante todos, pois apesar de ser astróloga, taróloga, acupunturista e ter a intuição afinada, não vi o que estava eminente. A única coisa que me consolou e aliviou, foi a idéia de que ele provavelmente já estaria familiarizado com a dimensão em que passou a viver.
Completamente só e vulnerável.
Triste
Sem ele,
sem meus filhos.
Entrei na menopausa,
parei de ver as pessoas,
caminhei por desertos.
Acendi a fogueira que
por três meses
ardeu e queimou
o que não servia
Diminuí os atendimentos,
as aulas
Avaliei o que restou e
decidi
dedicar mais tempo
para o que restava de mim.
Cansada,
estressada,
despedaçada,
quis saber onde errei.
As idéias embaralhadas
viraram peças de quebra-cabeça
espalhadas no chão.
Restou uma única solução,
sair catando as sobras de mim.
Por aí!
Como?
Incompetente,
repeti a lição:
separei-me daqueles que amava.
Fiquei só.
Quis
nunca mais
passar por esta dor
do interminável adeus.
Tudo lembrava o que foi
o passado,
Pensei: tudo isso vai passar.
Neste momento,
a única coisa que eu sabia
era que só o que não passa
é a marca deixada
no coração
já tão cheio de cicatrizes.
Sangram só de bater no peito.
PROMETEU
ISOLEI-ME. Lembrei-me da casa, da clínica, da vida, quase tudo havia se acabado. Orei por Marcos, evitei pensar muito no assunto. Nesta mesma época faleceu, num acidente de automóvel, um amigo quase irmão do Carioca do Maurício e da Niriá. Choramos nossas perdas e nos consolamos, fazendo companhia uns aos outros.
Quando isso tudo iria acabar? A fatalidade estava por perto. Dias depois, morreu um primo meu, no dia seguinte ao seu enterro morreram mais quatro pessoas amigas e mais duas no dia que se seguiu, todos de acidente de automóvel. O desespero começou a tomar conta dos parentes, me preocupava por ver tanta gente partir, não por mim mesma
Diante de tantas mortes, passei a reavaliar tudo que fiz durante tantos anos, as pessoas em minha volta, o que eu faria se soubesse antes que elas iriam morrer ou não, a transitorialidade da vida. Coisas que poderiam ter acontecido, mas que não aconteceram. Era dura a solidão da transição desta etapa, é quanto percebemos o quanto estava apegada a vida no corpo humano.
Minha mãe não podia ajudar, pois também se sentia sozinha. Mesmo assim, perguntou solidária:
— Agora, com o CEVIP desativado, o que podemos fazer?
— O que nunca fizemos antes na vida. — respondi confiante.
*
CONSULTANDO O ORÁCULO
Precisava achar um final para esta fase de tantos sofrimentos. Decidi então consultar um amigo Luiz que além de ser artista plástico conhecido era também tarólogo e morava na Prainha em São Vicente, apesar de ser duro ir até lá, passar sozinha por onde andei com o Marcos.
Ele e sua esposa me receberam carinhosamente, ofereceram chás, bolos e doces feitos por eles mesmos. Sentamos no banquinho de meditação japonês na sala ao lado de incensos e cristais, colocou as cartas e as analisou cuidadosamente, olhando-me com seus meigos olhos azuis, e voz pausada revelou: Esta é a “hora da prática”, a Torre caiu, está vendo?.
— É verdade, estou esmigalhada.
— Tente, é o despertar.
Continuou, explicando o significado da carta:
— O lampejo do raio só inspira medo na mente do ignorante, porque atua por constrangimento astral, é a força elétrica da kundalini. Esta carta corresponde ao planeta Marte no corpo humano, à vontade primordial. O lampejo do raio em cima da Torre do Arcano XVI será de iluminação.
— Concordo plenamente com a carta. Eu, que sei astrologia, numerologia, Tarot, quiromancia, não previ a morte de Marcos, de tão cega que estava.
— Este foi seu constrangimento astral, mas a carta mostra duas pessoas caindo da torre, leva-me a crer que haverá outras tensões. Lembre-se, como medida de prevenção, de respeitar as autoridades tanto físicas quanto espirituais.
Ouvi tudo que precisava ouvir, restava arranjar forças para cumprir o caminho.
*
PELAS IGREJAS
Maurício, Niriá e eu participamos de trabalhos seguidos nas Igrejas do Santo Daime, onde recebemos imensa energia de amor.
Projetava-me em universos alheios e captava todos que estavam à minha volta, embora soubesse que no meu interior existia algo inteligente que podia perceber o quanto minha natureza estava áspera e rebelde. Neste momento de vulnerabilidade deixava-me jogar nas altas regiões do Céu, mas caía nas baixas regiões do Inferno.
Sabia que bastava apenas um momento de distração neste ping-pong para, cedo ou tarde, ser pega e estraçalhada. Não tinha forças para lutar contra qualquer coisa que fosse, que não me dava paz.
Pensei que este momento fosse demorar, mas logo chegou. Senti-me impelida a encarar de frente as energias estraçalhadoras que surgiram de dentro do meu ser, furiosas, incontroláveis.
Mamãe foi a Mairiporã jogar água no meu limoeiro. Cuidei do vaso de flores como quem cuida de criança doente, comecei a positivar tudo em volta. Limpei a casa, comprei roupas novas, coloquei flores no vaso.
Em todos os trabalhos com o Chá a limpeza interior continuava, dando-me a impressão de que mesmo que vivesse dois mil anos fazendo isso, não chegaria a limpar tudo o que deveria ser limpo. Só assim para ficar a gosto do divino.
Lembrei-me da velha cartomante do bairro da Penha e de suas previsões: “Quando precisares de ajuda, amigos desta e de outra vida virão em teu auxílio.” Percebi que a única solução era ritualizar as mágoas do passado que pareciam sucumbir-me. Deveria me livrar delas, do contrário deixaria de viver.
*
A DEPRESSÃO
Tomei uma decisão radical, livrar-me de tudo em um só golpe. Dois fiéis alunos e amigos me assistiram nessa tentativa. Entramos no consultório às 17hs, em silêncio. Estávamos determinados a encarar tudo, pois pior não poderia ficar.
Discutimos a respeito dos diagnósticos e procedimentos mais adequados. Estava convencida de que no contato com as estruturas internas do pensamento, podia tentar uma integração telepática com a fonte da rede que comanda o sistema nervoso. Deste modo poderia canalizá-las e tentar transmutá-las.
Separamos as músicas e cristais apropriados, bem como incensos, copo com água, toalhas e papel higiênico.
Deitei-me na maca direcionada ao Norte verdadeiro, usando roupas confortáveis, largas, sem metais, jóias ou cinto. Segurei com força o cristal. Fizemos o equilíbrio dos meridianos, depois sangria e ventosas.
Tomamos o chá e esperamos calmamente o cérebro fazer a sua parte. Deveria proceder como uma amazona dos tempos mitológicos, pois iria guerrear contra o universo misterioso do corpo. O coração disparou como um tambor. Respirei profundamente e através da visualização interior acompanhei o caminho percorrido pelo ar. O cérebro entrou em estática de baixa freqüência, colocando-me frente às forças algozes.
Mergulhei fundo, senti as impregnações negativas de maneira quase palpável. Pareciam entidades independentes de meu corpo. Admirei-me com o grande número de “seres” que lá estavam. Descuidei da respiração por segundos e perdi o controle. Reagi rapidamente respirando forte. Algo que se mexia foi violentamente desgrudado de dentro dos intestinos. Vomitei, mas as tais entidades não saíam. Chorei enquanto as energias vitais abriam caminho no interior das entranhas.
Senti-me sendo estraçalhada, arrebentada. Não agüentando mais lutar, entreguei o corpo totalmente. Pouco me importava se morresse naquele momento.
De repente, vi surgir no cérebro uma luz branca e rubi que se transformava em uma longa corda de tons verdes e amarelos. Do topo da cabeça foi à região abdominal e, em um só golpe, saiu pela boca em forma de moléculas de oxigênio, levando consigo tudo o que ainda restava.
Levantei da maca para vida. O coração batia suavemente. Nos abraçamos, sorrindo, até chorar. Olhei para os lados e vi a sala toda bagunçada. Comentei:
— Que desordem nós fizemos!
— Nós não, você! Foram seis horas de trabalho! — exclamou Maurício.
— Passou muito rápido, graças a Deus. Vou tomar banho, trocar de roupa e tentar entender o que se passou.
Acredito que o corpo guarda em sua memória tudo o que nos acontece. Tenho certeza de que existe um princípio operacional inteligente, seletivo de informações. Este princípio, através de um estado especial de consciência, pode estabelecer comunicação com o sistema nervoso, revertendo-o. Este processo é estimulado pela capacidade de escolha das opções que nos são oferecidas, é à força da vontade pessoal, mostrando ser capaz de gerar significados novos, remodelando as redes neurais.
Aprendi na prática definitivamente a deixar de me apegar pela forma, o que eu tinha saudades era dela, pois o espírito é vivo, só choramos a perda da forma, e isso é que é loucura, e a nossa dependência da forma, com tudo o que ela significa.
*
Meu irmão Lauro, como bom esotérico, sabia que os problemas passam mais rápido quando trabalhamos em favor do próximo. Foi pensando nisso que me incumbiu de psicografar mensagens vindas do astral.
Marcamos uma sessão para a semana seguinte. Convidamos os amigos espiritualistas, formando assim uma grande corrente energética. Esta reunião causou-me enorme surpresa, pois sem ter praticado este tipo de atividade antes, ainda assim consegui realizar satisfatoriamente 14 psicografías, auxiliada no astral pelo espírito de minha avó Miretta Lacerda. Neste dia, recebi uma mensagem em que ela revelava estar presente naquele trabalho de cura com o Chá sagrado. Acredito que ela foi o cipó em que me agarrei ao levantar da maca, podendo com isso largar o freio de mão tencionante do passado, codificado na genética.
*
Peguei o conhecido caderno de viagens e escrevo o estudo sobre Prometeu, autor do modelo do corpo humano segundo a mitologia Grega:
Prometeu: Misericórdia.
O valor numérico: 12.
Provas do caminho:
1) Proceder como visitante no plano terrestre, como alguém que está fora de casa, um estrangeiro;
2) Ser cortês e ceder o lugar a qualquer outro convidado, com a obrigação de não criticar, sem se descuidar dos interesses de sua própria casa, seu corpo.
Prometeu avisa que qualquer prepotência em casa alheia (o outro), acarretará conseqüências em seu próprio lar (seu corpo). Cada mau uso de seus talentos será pago com sua própria privação.
Período de espera, mudança de opinião.
COMENTÁRIO: Não sei o que é mais angustiante: a desgraça quando vem ou a espera do que vai acontecer depois dela.*
TRÊS VEZES PARABÉNS
O sol estava novamente brilhando no signo de aquário. Ele é a estrela mais próxima de nós, adorado por tantas civilizações: os romanos o chamavam de Deus Sol; no Egito, Akhnaton rendeu glórias ao Sol chamando-o de Deus Ra, Deus de cabeça de falcão; no século XIV a.C., Osiris tornou-se o brilhante filho da Luz.
Nesta época eu comemorava mais um ano de vida, só que desta vez de malas prontas para viajar. Estava indo para a Suíça dar palestras e consultas a convite dos amigos Nirá, Maurício e Carioca. Antes da partida fizemos uma festa de despedida, em que todos amigos compareceram.
— Feliz aniversário, Ana Vitória!.
— Obrigada a todos vocês! — disse emocionada.
Maurício chegou alegre, contando: Consegui um vôo num horário bom, estaremos sobrevoando o Oceano Atlântico na hora mais favorável para você iniciar um novo ano de vida.
Guilherme surpreendentemente veio me abraçar em seguida: Feliz aniversário! Parabéns, mamãe, você merece.
— Ana, trouxe um casaco de antílope para você agüentar o frio da Espanha.
— Obrigada Cida, vai ser a primeira parada.
Abri os inúmeros presentes, em seguida cortei o bolo e todos cantaram enquanto eu apagava as velas.
No dia seguinte cantaram parabéns no avião e quando cheguei na Espanha recebi cumprimentos de nossa anfitriã.
Três votos de parabéns, bom sinal.
*
AYAHUASKA EM MADRI
Encontrei o amigo Carioca tão triste quanto nós. Não tinha ânimo para passear. Nossa anfitriã, uma mulher senhora muito interessada sobre todas as manifestações da espiritualidade da América Latina, que já tinha se hospedado em minha casa no semestre anterior e estava a alegre em me receber.
Conheci os membros da Igreja do Daime espanhol. Dois dias depois dei uma palestra introdutória às vivências que iria acontecer na Suíça, ressalto a importância em se conhecer sobre vidas passadas, os florais e a acupuntura. Algumas pessoas pediram uma vivência lá também, mas resolvemos unir todas num grupo só e elas concordaram, formou-se então uma alegre caravana para a Suíça.
No final da reunião, quando todos foram embora, notei surpresa que o meu casaco de Antílope havia sumido.
*
AYAHUASKA NOS ALPES
Estava na pequena cidade de Saint Garle, a mesma em que Paracelso deu aulas de medicina há quinhentos anos. Ao andar pelas ruas, senti-me honrada com a coincidência de ministrar, justamente aí, a primeira palestra sobre Terapias Holísticas.
O grupo composto por trinta pessoas de várias nacionalidades. Com certeza, tudo o que foi feito e dito nestes dias daria um grande livro. Fizemos mapas de vidas passadas e falamos sobre eles. Ressaltamos e indicamos os eficientes Florais do Deserto, poderosos suavizadores dos trânsitos astrológicos na vida presente. Aplicaram também moxas e ventosas antes de cada concentração.
Todos nós estávamos nos preparando para este encontro, pois sabíamos que tivemos uma vida em comum no continente de Atlântida. Nesta sessão tentaríamos nos recordar dessa vida, em regressão coletiva.
Para facilitar a comunicação, reduzimos ao máximo o texto a ser traduzido simultaneamente em quatro línguas: inglês, alemão, francês e castelhano. Falava de relaxamento, indução hipnótica e projeção mental.
Nós,
em círculo,
uns em pé e
outros deitados no chão.
Parecia
que tudo o que tínhamos a fazer,
era dar e receber perdão.
Abençoar.
Ocorreu troca múltipla de perdão
entre os grupos que lá estavam.
sabíamos que deveríamos fazê-lo.
Concluído,
trouxemos
a sensação
de libertação e paz.
Ficou na mente
a luz dos cristais
que disputam
com as montanhas nevadas dos Alpes
o brilho luminoso.
Senti que havíamos feito muito mais do que a lembrança deste feito,
Minha tarefa estava terminada
Cumpri o prometido
No passado de minhas lembranças
No sábado realizamos a cerimônia de compromisso do grupo, na qual recebi a estrela símbolo da iniciação no DAIME e ganhei de Maurício um poncho branco, que sempre uso desde então.
 No domingo fizemos um trabalho cantado que durou seis horas. Todos miraram, mas ninguém tomou o Chá e nem sentiram sua falta, alguns até duvidaram que não haviam ingerido Daime.
*
Fomos descansar numa estação de esqui cidade, nos Alpes, em que eu ficava olhando para as montanhas nevadas e tentando mentalmente esconder debaixo da neve tudo que fosse problema de minha vida, pensei “já que não há solução pelo menos congelo”.
Voltamos a Berna para assistir ao carnaval mais bem comportado do mundo. Participamos do Bloco do Carioca, saímos vestidos de branco em sinal de luto ao amigo músico. Uma cantora sueca, em homenagem, cantou Din Din, de Maísa. Choramos muito, ele pelo amigo e eu por Marcos.
*
Terminados os deveres na Suíça, Maurício perguntou onde iríamos passear.
Sugeri:
— Vamos visitar o túmulo de Paracelso?
— Tanto lugar interessante para ir e você quer viajar até a Áustria só para visitar um túmulo? — argumentou indignado.
— É um sonho visitar o local onde ele foi enterrado. Mesmo não sendo católico, ao saber que estava doente parou com todas suas atividades, internou-se num convento e dedicou o resto de seu tempo a estudar a Bíblia.
— Fantástico!!! Vamos a Salzburgo visitar o túmulo de Paracelso!
— E de Mozart também. — concluí continuando — Gostaria de homenagear este homem que viveu muito à frente de seu tempo. Foi o pai da alquimia, da medicina, da química e da homeopatia. Quebrou com o preconceito de se ensinar apenas em latim, deu aulas na língua do povo, aboliu a Toga, simbolizou os conhecimentos esotéricos livrando-se do julgamento da Santa Inquisição. Foi o primeiro homem a pensar que o organismo feminino precisa de medicina diferenciada da masculina e que estudou o mais infindável número de coisas. Além de ser citado em quase todas as páginas dos mais antigos livros de Tarot. Grande Paracelso.
De trem, fomos até a Áustria, atravessamos a sua bela ponte, caminhamos pelas pequenas ruas e achamos o convento que o abrigou até os últimos dias e guarda seu corpo até hoje.
Absorvida por estes pensamentos, não demoramos a achar Paracelso. Contemplei emocionada. Li os dizeres de sua lápide, que já sabia de cor:
“Aqui jaz Felipe Teofrasto de Hohenheim. Famoso doutor em medicina, curou toda espécie de feridas: lepra, gota, hidropisia e outras enfermidades do corpo, com ciência maravilhosa. Morreu em 24 de setembro no ano da graça de 1541.”
Coloquei flores ao lado de outras já existentes e junto delas um bilhete:
Abençoado Paracelso, agradeço a oportunidade de ter podido pronunciar seu nome todos os dias, por 14 anos seguidos. Aprendi muito com o senhor e por isso pude também ensinar outras pessoas.
Ana Vitória
Na escada ao lado de seu túmulo fizemos a consulta do Tarot, fotografamos a disposição das cartas com a intenção de estudá-las depois.
Ao lado da pequena alameda, perto do jardim, avistava-se o túmulo da família de Mozart, mas o corpo dele não está lá, nunca foi achado. Dizem que foi enterrado como indigente.
Agradeço a Mozart por sua genialidade. Inúmeras vezes estudei, dormi, fiz relaxamentos, meditação, e tomei Ayahuaska ouvindo suas composições. De lá fomos até Veneza.
*
EM PARIS
Em Paris hospedei-me perto da Universidade de Sorbone, onde o ator escritor e diretor de teatro Antonin Artoud fez escandalosas palestras. Sentei num café e tive mais uma crise de melancolia, possivelmente por captação. Esforcei-me em retê-la. Fui passear pela faculdade e depois parei num outro café.
Maurício veio me buscar pensando que eu estivesse perdida. Fomos passear as margens do rio Sena, quando uma buzina chamou a nossa atenção. Um homem nos chamou falando em italiano: Perdão senhora, são italianos?
— Não, brasileiros.
— Boas pessoas! Senhora, acabei de montar o stand do costureiro Valentino, aqui ao lado, na Feira Internacional de Moda e fiquei sem dinheiro para colocar gasolina no carro, para voltar a Milano. Por favor, a senhora pode me emprestar 100 dólares?
Maurício sussurrou no meu ouvido:
— É golpe!
Olhei mais uma vez para o homem e resolvi dar o que ele me pedia: Aqui está.
Entreguei-lhe o dinheiro e virei-me para ir embora, quando ouvi ele me chamando novamente:
— Senhora, não posso aceitar assim, tome meu cartão com o endereço em Milano. Fique com este casaco Valentino de antílope puro.
— Não posso aceitar este casaco, vale muito dinheiro! Não posso pagar!
— Senhora, por favor, fique com este outro casaco também!
— Está bem, mas aceite mais 100 dólares de acréscimo.
— Obrigado, não sei como agradecer. Tenha um ótimo dia, felicidades.
Com dois casacos de Antílope nas mãos, sentei num banco e comecei a rir.
*
ACERTANDO O TEMPO
De volta ao Brasil, iniciei a procura de uma nova casa, tendo em mente os objetivos futuros, agora mais do que nunca.
Sentindo-me presa ainda ao passado comecei a valsa do adeus aos objetos desfazendo-me das coisas pessoais acumuladas ao longo dos anos, livros, papéis, roupas, móveis e coisas inúteis. O que ainda tinha utilidade dei para os filhos ou amigos, o resto queimei. Fazia fogueiras diariamente no fundo do quintal.
As únicas coisas que salvei deste imenso incêndio foram as fotos e cadernos com anotações. Revi um por um, divertindo-me ao ler a história de IÓ.
Normalmente termino tudo que começo, mas algumas coisas estavam andando devagar demais, como o que envolve o jogo auto iniciático. Como consegui realizar quase tudo que desejei na vida, acho bom me dedicar mais para terminar essa história. Guardei o caderno junto das coisas que iriam me acompanhar na nova vida.
CALENDÁRIO MAIA
Dias depois, recebi a rara visita de Ana Luisa, uma amiga esotérica. Ela notou o quanto estava angustiada com as dificuldades da mudança de casa, por isso tentou sugerir algo novo:
— Você está assim porque quer. Se trocar o calendário, o próprio tempo fará o que for necessário.
— Mudar o tempo?
— Não, a referência de tempo. Passar a se reger por outro sistema. No dia 15 de agosto de 1987, houve um alinhamento de planetas, e nosso calendário ficou alinhado com o dos Maias.
— Eu fiquei sabendo desta convergência harmônica em que sete planetas estavam em signos de fogo. — completei.
— Se verificar esta convergência verá o quanto ela é purificadora. Mas não se esqueça de que tudo que purifica, destrói o impuro primeiro. No calendário atual estamos no ano de 1995, nas contas dos Maias, vamos entrar no ano 1 da Profecia. Muda tudo!
— Entendo, mudamos de sintonia.
— O ano 1 das transformações proporcionará à humanidade maior sincronização planetária, gerando “retorno” correspondente às reais estruturas arquetípicas coletivas. Isto vai gerar uma nova ordem na Terra. A humanidade vivenciará seus Mitos!
As frases de Ana Luisa me preocuparam, lembrei-me de minhas dívidas com IÓ. Quase pensando em vós alta, comentei:
— Em junho próximo terá a Festa do Sol, em Cuzco e Tihuanaco, em comemoração ao novo ano.
— Os povos fiéis à tradição comemoram o ano novo nesta data. No calendário Maia será o ano 1 da revelação.
— Não precisa dizer mais nada, já me convenceu! Sinto-me mesmo no fim do ano.
— Ano novo, casa nova, não é mesmo?
— Ano novo, casa nova e vida nova! Obrigada por me ajudar a superar os pensamentos negativos fundamentados no princípio horroroso de sobrevivência em limitações.
*
Antes de mudar de casa, senti que estava na hora de modificar a Mandala outra vez. Pensei em colocar animais de Poder em sua volta. Os animais e a estrela ficariam contidos num quadrado e este, por sua vez, teria um grande círculo em seu redor. Agarrei-me neste símbolo, pois a cada mudança ajudava a me definir e resolver problemas. Talvez fosse exatamente por estas variações da vida que minha Mandala tinha os traços tão provisórios.
Colhi muda de flores do jardim de inverno da casa em que estava morando e a plantei na nova casa, esta seria a maneira de saber se seria bem vinda. Quando as mudas brotassem seria o momento ideal para fazer a mudança.
Todo o dia ia até a nova residência para incensá-la, levei cristais e pedras especiais de minha ritualística pessoal. Ao ver brotar a frágil mudinha, mudei-me animada. Deixei na antiga casa as lembranças de muitos anos lá vividos. Esta mudança representava o início de mais uma nova história. Às vezes tinha a sensação de que havia nascido e morrido várias vezes em um só corpo humano.
O dia seguinte datava 22 de junho de 1.995, ano novo Maia, ano 1 da profecia da transformação.
Feliz ano novo, Ana Vitória!
*
Quando mudei a noção do tempo, passei por um efeito psicológico considerável em minha mente. Só o fato de me convencer que tínhamos finalizado o ano, criei uma nova alma. Neste momento, foi desencadeada uma série de outros efeitos que nem conseguimos imaginar normalmente. Entendi porque as mudanças do calendário foram tão importantes para a história da humanidade. O nascimento de Cristo causou uma mudança significativa para toda sua posteridade, pois iniciou uma nova referência para a contagem dos dias, imposta por César de Roma. As alterações posteriores realizadas pelos Papas da Igreja Católica Romana também foram responsáveis por estas mudanças.
*
Nos jardins da casa nova encontrei ao lado do gramado uma linda palmeira, um jasminzeiro e muitas tiriricas que eu arrancava todas as manhãs, imaginando que elas representavam os pequenos empecilhos da vida. Mas como sei que o que atrapalha também é o que ajuda, notei que elas poderiam ajudar como um bom regularizador do estrógeno que estava em baixa no meu organismo devido à entrada da menopausa. O remédio sempre está no raio de cem metros do doente.
Depois ia ao bosque em frente de casa andar pelas alamedas, praticar Tai Chi Chuan, na volta trazia pequenos gravetos secos que caíam das árvores, para alimentar o fogo na lareira.
O guarda da rua e os novos vizinhos olhavam-me curiosos. Neste início tive tempo para ouvir músicas prediletas, e ler os novos lançamentos sobre esoterismo, às vezes ia jogar Bingo, ao cinema, ou ao teatro com a Beth, pintei alguns quadros, bordei novas tapeçarias e dediquei-me ao estudo e pesquisa sobre Ayuahaka, e aprendi a navegar na Internet. Tudo maravilhoso, mas começo a entediar-me com a falta de movimento a que estava acostumada.
Pouco tempo depois, Beth, Vicky e eu fomos ao Congresso Xamânico, no Rio Grande do Sul na cidade de Canela, percebemos que estes encontros tinham a pretensão de se tonar uma instituição financeira aparentemente rendosa, perdeu o brilho inovador.
Diante da nossa desmotivação, fomos fazer compras de roupas de inverno, saborear boas comidas e apreciar a estupenda paisagem local, quando encontramos com amigo o xamã Agustín Guzmán, o mesmo que havia nos apresentado à experiência de São Pedríto em São Paulo no sitio da Vick. Nesse encontro que tive a ousadia de pedir que fizesse um favor; trazer do Peru uma Ayahuaska que tivesse o mais alto grau que algum Xamã pudesse fazer, e ele concordou.
Não sei porque fiz isso, e não sei o que o motivou a aceitar o meu pedido. Na volta, reiniciei meu tratamento espiritual dos passes magnéticos, na Ordem do Arco Íris. Recebi um convite para terapeutisar dois grupo, um deles era composto por pessoas com tendências suicidas e outro por pessoas querendo resolver problemas de timidez. Trabalhei os dois grupos separadamente por três meses e no final resolvi uni-los para fazermos exercícios de equilíbrio entre os dois lados do cérebro. Participei de alguns eventos de amigos como oradora, e entrei para uma academia de musculação.
*
O isolamento a que tinha me submetido começou a pesar, até então estava absolutamente só em casa a não ser pela presença da empregada que ia embora às quatro da tarde, e as visitas ocasionais de meus filhos.
Devido à boa convivência com artistas comecei a procurar alguém para ocupar um dos quartos vazios.
ROMAN QUÍCHUA
Na segunda-feira, entrando no Alfa 13 para receber passes magnéticos na Ordem do Arco-Íris e ver meu irmão, encontrei o artista em metais — o andino Roman, que “coincidentemente” estava lá à procura de um lugar para morar. Eu o conhecia de longa data e comprava seus quadros regularmente, já tinha convidado para participar de vários eventos meus, era alguém diferente muito rebelde, arisco com as pessoas de descendência européia.
Sem pensar duas vezes, convidei e ele aceitou imediatamente. Conversando já no caminho de casa, ele contou: Sua mãe, durante os trabalhos espirituais do grupo das Peregrinas, recomendou-me a Ayahuaska como bom recurso na busca de minhas raízes.
— Ela contou-me, que a Beth e eu estivemos várias vezes à sua procura na Praça da República, para levá-lo a algum grupo ou igreja do Daime, lembra? Recusou todas as ofertas.
— Desculpe-me, mas sou resistente e rebelde.
— Você teve sorte: vai haver um feitio, onde poderá apreciar como é preparado o Chá.
— Não gosto de igrejas.
— Esta é diferente.
— Quero ver!
— Verá, conte com isso.
Ao chegar em casa fica contente de verificar que não desfiz dos quadros feitos por ele, e conto a viagem aos países andinos, a primeira experiência com o chá, e de minha admiração pelos Incas e a relação desta com a Ordem do Arco Íris.
Sua chegada, mudou um pouco o meu ritmo, acordava já de manhã ao som do martelo no metal, ele trabalhava loucamente no jardim, reproduzindo inúmeras mandalas andinas, e o deus Inti da porta do Sol de Tihuanaco. À noite conta que tinha o destino de reproduzi-lo sempre, fala também sobre as nações nativas que formaram o império incaico, o seus hábitos, música, e alimentação. Para ilustrar toca na Kena e na Samponha as músicas das montanhas e cozinha com comidas especiais, leva-me conhecer as comunidades bolivianas em São Paulo, fiquei pasma em saber que existem 6.000 aymarás e kolhas morando e outros tantos em trânsito para negociar mercadorias vindas da região de toda a cordilheira andina.
O FEITIU
Duas semanas depois, usando o pouco chá que tinha ganhado de um amigo, ofereci e me responsabilizei em cuidar pela primeira a alguém em transe de Ayahuaska e ele pela primeira vez tomou. Não sei se devido à pouca quantidade ou à nossa ansiedade não aconteceu nada.
Dias depois fomos à Igreja Flor Das Águas e lá como não podia deixar de ser, Roman viu pela primeira vez a aura de uma planta, vivência que valeu mais que mil palavras. Depois em casa passou a me ajudar a enterrar as minhas pedras no jardim, tocar quena e samponha na hora em que faço meditação, descobrindo o valor do som criado no momento.
Dias depois, recebi uma visita de Denizard Rivail uma autoridade em cabala, convidando-me a ingressar no Sindicato de Terapeutas Holísticos, recém inaugurado.
*
CINCO LITROS DE AYAHUASKA PERUANA
Don Agustín chegou de Cuzco, cumprindo o prometido meses antes: trouxe o garrafão de cinco litros de Ayahuaska como eu pedira, ele a meu convite se hospeda em casa e torno-me sua assistente naquela temporada, ocupando-me o dia inteiro com telefonemas, palestras, vivências e entrevistas. Percebi que ele não bebia São Pedríto, curiosa que estava, atrevi-me a perguntar por quê?
Don Agustín respondeu com sua experiência de Xamã: Ana, todos começamos tomando grandes quantidades, depois diminuímos gradativamente, à medida que interioriza tudo o que aprende. Quando pára de tomar é uma nova pessoa, pensar na planta já é o suficiente. O prazer de manter a mente elevada é natural, não há mais variações de humor, de desejos, e de domínio.
— Quer dizer que você não toma nunca mais?
— Não, ainda preciso tomar uma ou duas vezes por ano, mas faço sozinho nas montanhas, em jejum e em silêncio. Viajo o mundo todo mostrando ao ser humano outras possibilidades de vida, é só. Cada um deve procurar por si mesmo. Para mim as plantas curaram doenças físicas e psíquicas. Pertenço à nova linha de Xamãs andinos. Na antiga linha é o Xamã quem entra em transe; portanto é o único que toma o chá, para assim curar os doentes. Agora, está mudando, as pessoas não nos procuram mais só para curar o físico, mas para evoluir espiritualmente, se conhecer, e diante desta realidade o Xamanismo tende cada vez mais a ser coletivo, e o mais experiente apenas dirige e orienta o ritmo e todos participam como responsáveis dos trabalhos, na qualidade de iniciados no Xamanismo.
— Isto vale também para a Ayahuaska?
— Para todos os ritos de plantas de poder.
— Como devo proceder para tomar o Chá que você trouxe?
— Ana Vitória, beba sozinha.
— Sozinha, sem ninguém?
— Pode pedir para alguém ficar perto, para ajudar, mas não mais de uma pessoa, o Roman por exemplo.
— Mas ele nunca tomou nenhuma bebida.
— Pode tomar agora.
— Argumente.
— Ta bem, desde que fique somente por perto.
Seguindo as instruções de Dom Agustin, resolvi que seria naquela noite mesmo. Ao saber, anunciou que passaria a noite fora. O Roman ficou. Apesar de estar temerosa bebi o chá peruano super graduado e dei cautelosamente em menor quantidade ao amigo artista, que via no fato de tomar conta de mim uma razão missionária para ter vindo morar em minha casa.
No dia seguinte Dom Agustin voltou e verificando que estava tudo em ordem, perguntou: Gostou do Chá de Don Mateu?
— Nunca tomei nada tão forte.
— É o melhor do Peru, como sei que vai continuar, da próxima vez tente entrar em contato com o seu Mentor. Ele, somente ele, vai te orientar e dizer tudo o que precisa saber e o que fazer daqui para frente, minha parte está feita, se quiser agora tomar com mais pessoas pode.
O MENTOR
Num dos fantásticos trabalhos que fazíamos o bendito MENTOR aparece, e sem mais rodeios diz de uma só vez tudo o que tinha que dizer, e numa das coisas disse que eu iria escrever muito e seria muito lida. Que tinha para mim um trabalho especial e urgente. Perguntei seu nome, ele disse, mas não sei bem o porque resolvi chamá-lo apenas de MENTOR
Diante daquela LUZ não tive dúvidas, minha submissão foi total, na realidade entrega total e absoluta.
Duas semanas depois voltou a Cuzco, e me deu de presente seu maracá. Roman assumiu a função de Guardião dos trabalhos com o Chá, ajudado a incensar tudo, cuidando das músicas e de mais outros detalhes.
PRIMEIRO GRUPO
Minhas amigas chegam para participar conosco, Beth, Lucinha, Vick, trazem seus amigos, minha mãe. Contatei finalmente o Mentor e tomada de violenta emoção o saudei em versos:
Salve presença Sagrada.
Salve filhos do Sol e da Luz.
O momento do encontro chegou,
vieram até aqui
fazer seu reino de Paz e de Amor.
Finca o bastão
no chão do meu peito
E faz do meu coração o seu tambor.
MUDEI A MANDALA MAIS UMA VEZ
Roman pegou o desenho e passou para o metal, pintou e o colocamos na parede do jardim. Estava feliz por ter direito a mais uma mudança na minha vida. A mandala era o meu parâmetro de que as coisas na vida são ligadas: nada acontece que não reflita no resto da vida.
Nos outros trabalhos que fazíamos todas as vezes que vislumbrava a sua presença luminosa repetia os versos já recebidos.
Nos dias que se seguiam me inspirava a criar versos e mais versos, vinham prontas e algumas vezes musicadas, mas como não sabia cantar, achei ironia receber músicas sem cantá-las e timidamente arrisquei a cantá-las, o chá estava soltando a minha voz, o Roman ensaiava cantar algumas músicas em louvor a Pacha Mama.
Inevitável pensar na interiorização dos jogos Olímpicos e que o jogava em honra a IÓ. Divago em meus pensamentos ao perceber quanto aprendi com os “esportes” espirituais que indicou o dever de defender os valores humanos a todo custo, e advertiu claramente a conceder a natureza o que lhes é devido: adoração total e irrestrita, o ser humano não pode viver no planeta sem cuidar da fonte mantenedora de seu corpo, e tão pouco negligenciar a de seu espirito.
*
Os dias prosseguiam amenos, no entanto ainda sentia falta dos meus filhos, do companheiro e de todos que haviam partido.
Nesta época, um primo muito querido tornou-se meu hóspede por três meses, trazendo alegria e festa. Há muito tempo não o via, nosso contato, na maioria das vezes, era telepático. Ele me contou do dia em que esteve entre a vida e a morte, no Chile. Conferimos as datas e concluímos que foi na mesma ocasião que eu senti aqui seu pedido de ajuda, imediatamente reuni alguns alunos e vibramos para ele, até que sentimos que estava bem.
Encantado com essa atitude, contou como as coisas aconteceram com ele:
— Ana, eu estava sendo colocado entre os mortos, dado como morto, quando um médico se aproximou e notou que eu ainda respirava, dando-me uma nova chance de vida. Fiz grande esforço mental, era só isso que eu podia fazer. Desta maneira, recuperei-me rapidamente.
— Pois é, primo, eu vi você na maca e daí em diante fizeram várias vibrações, até que lhe vimos sentado conversando com alguém. Na ocasião, lamentava não poder confirmar se este trabalho tinha dado resultado. Todos as pessoas que me ajudaram naquela vibração vão se sentir muito felizes em conhecê-lo pessoalmente.
Com a chegada da primavera a casa entrou em clima de festa e descontração, debaixo do jasminzeiro sentado em flor, sentados no gramado ou na rede, em meio de inumeras conversas filosóficas, leio aos amigos presentes as poesias, a leal amiga e cantora Lucinha Luz musicalizou, ao som de seu violão, cantando em seguida para todos nós.
Em meio às conversas, ela pergunta: Muitas pessoas também passam por transformações iguais à sua Ana?
— Hoje em dia, muitas pessoas estão passando pelos mesmos processos espirituais espontaneamente.
Para ilustrar melhor meus pensamentos, completei: É importante estudarmos mais este Chá. Que surgiu na vanguarda dos novos tempos, acelerando o cérebro e desenvolvendo em milhares de pessoas a “cultura da telepatia, clarividência, intuição”. As análises mostram que, embora as substâncias encontradas nos preparos estejam em doses demasiadamente baixas para mostrarem suas propriedades alucinógenas, elas permitem a manifestação de propriedades psicotrópicas.
Ouviram atentamente e concluímos que o chá realmente acelera a capacidade criativa portanto evolutiva e que as pessoas que gostam de transe e o buscam em drogas como o pó produzido com substâncias químicas a partir da folha de coca, a abandonaram imediatamente, ao experimentarem esta planta de Poder.
*
AYAHUASKA EM CASA
Acordei eufórica pois acabara de sonhar com minha avó materna, Dona Miretta Lacerda, com enorme lucidez no qual minha avó, estendendo-me a mão, disse que em breve receberia a Ayahuaska em casa, para fazer um trabalho especial. Tentei imaginar de que maneira iria chegar até mim, sendo que ainda não passei o endereço a ninguém.
*
Um amigo dos poucos que possuíam meu novo endereço, após me telefonar, avisa que viria me visitar com um casal seu conhecido. Ela já me conhecia de trabalhos nas Igrejas e ele fazia o Chá. Haviam me indicado a ele como pessoa confiável para receber o Chá regularmente, o que muito me admirou pois o que ela vira de mim fora aqueles vexames que já me referi.
Ao chegarem fizemos um trabalho no jardim e depois ofereci a eles um saboroso peixe de água salgada. Ressaltou a importância de fazermos a concentração de cura ensinada pelo Mestre Irineu no ALTO SANTO, perguntou o nome de nosso grupo. Como não havia pensado nisso antes uma vez que não tinha grupo algum, respondi o primeiro nome que me veio à mente, PORTA DO SOL, e ele conta que o dele é O TRONO DA LUA. Deu-me o documento do Confém, confirmando que o Chá não é alucinógeno, que deveria ser usado com respeito e seriedade e um depoimento seu escrito para mim.
Santo Daime é, para mim, o caminho da Salvação. Ele proporciona às pessoas mais equilíbrio entre o Eu inferior e o Eu Superior, para que possam ter uma vida melhor e mais saudável.
É a palavra Amiga: “Faça com que sua Luz brilhe de dentro para fora. Procure manifestar a todos a luz interior que vibra através de suas palavras.”.
Com este encontro constatei que tudo aquilo que tiver de acontecer, acontece, e que os sonhos são eternas realidades inquestionáveis. E o dinheiro para pagá-lo que também não tinha foi dado pelo meu filho Guilherme que nunca havia me dado nenhum presente de aniversário e logo depois ele veio e me deu um cheque no valor do Daime, sem saber de nada, pois ele não tomava o chá.
*
LUA NOVA COM AYUHASKA
Passamos a tomar o Chá no período da lua nova e uma vez por mês fazíamos a concentração de cura por orientação do MENTOR.
Fazíamos exercícios para o nivelamento dos dois lados do cérebro, com o auxílio do Chá. A redução do desnível entre o lado direito e o esquerdo é percebido na mesma hora em que são desligadas do cérebro as energias negativas, ou seja, o que chamamos de obsessores astrais.
Maravilhados com tal rapidez, constatamos que o efeito deste simples exercício facilita a tomada de decisões e a autotransformação, despertando sentimento de religiosidade ou resgatando as origens ancestrais.
Desligo-me energeticamente das pessoas da Ordem do Arco-Íris, não da Ordem em si nem de meu irmão.
Oxum veio outra vez, emanada numa jovem, mas desta vez sabia como cuidar. Louvei a divina Orixá e cantei em adoração a ela.
Dias depois, na presença dos membros da Ordem do Arco Íris que estavam numa reunião em minha casa, declarei em versos:
Divina presença,
mestres manifestados
em meus semelhantes,
agradeço as lições de cura
que aprendi
com o coração limpo e
sem revolta.
Hoje digo: irmãos, obrigada
por terem me ensinado na dor,
o que na dor receberam.
Transmuto seus ensinos
em gratidão e amor.
Faça-me agora, mestre,
ensinar no amor
o que de vocês recebi na dor.
Retomei na Lua Nova o fio da meada perdida em um dia na Lua Cheia.
O CAMINHO DO T
OS NATIVOS das tribos Aymará e Kolha residentes em São Paulo, afastados de suas tradições, vieram em casa a convite de Roman e fizemos juntos a reverência a Pacha Mama e aos quatro elementos: água, fogo, terra, e ar.
Neste dia recebi mais uma poesia:
Os filhos do Sol
estão de volta,
trazendo no peito
um cristal e
nas mãos uma planta sagrada
que foram buscar no Astral
Sendo o segundo canto do nosso Hinário, mais tarde, outros nativos chegaram e a casa virou uma verdadeira central latino-americana da cultura ancestral. Eram Xavante, Bororo, Munduruku, Tupi-Guarani, Tucano, Xaninca, Aymará e Kolha que vinham de todas as partes. Estavam meio desconfiados de verem uma mulher branca dirigindo um ritual Solar/Lunar. Neste dia tomaram a planta de poder pela primeira vez em suas vidas, aproveitei para exaltar que não deixassem morrer os seus conhecimentos sagrados. Impassíveis, responderam: Ana, eles já se perderam.
— Não! Ficaram gravados nos cantos, nos desenhos e nas histórias contadas pelas mulheres aos seus filhos pequenos. Procurem os pajés, escrevam, mostrem a cultura desconhecida do Brasil ao mundo.
Na verdade, tanto eles quanto os andinos estavam mais interessados em se adaptar à grande cidade e esquecer suas origens, muitas vezes mestiça. Na esperança de convencê-los, ainda acrescentei:
— Nós constituímos um povo, o Brasil ainda é um grande caldeirão de povos, por isso, não desprezem os mestiços. A maioria dos nativos que vêm para as cidades, como vocês, casam-se com brancas, gerando índios mestiços.
Eles não responderam aos meus protestos, pois achavam muito revolucionária a idéia de defender a igualdade dos direitos humanos, sendo que a lei não os reconhece como iguais.
Fizemos juntos alguns exercícios de harmonização do cérebro. Senti que o diálogo interno do meu cérebro foi eliminado, proporcionando-me grande paz interior, mais presente a cada momento. Sentia-me inteiramente viva.
Venci o medo. Terminou,
para mim,
a guerra milenar
entre o Bem e o Mal.
Estou fora deste combate eterno,
pois percebi que
onde há luz, há também sombra,
uma é decorrência da outra,
são imutáveis e inseparáveis.
Nós temos um
corpo perecível, telúrico,
apenas o espírito que o anima
é eternamente cósmico.
Refletimos a essência
dos dois reinos
que nos foram dados,
em busca de harmonia.
Pacifiquei corpo, mente e espírito
e reconheci que toda a criação é boa,
sagrada e santa.
Determinei que a partir de então estava fora das guerras, fossem elas espirituais, políticas ou financeiras. Não usaria o sagrado nome de Deus em vão, como justificativa da barbárie.
No precioso caderno de anotações, acrescentei mais uma letra encontrada:
Letra T — DEUSA TERRA.
valor numérico: 2
Simboliza a continuidade da passagem entre um e outro degrau.
Provas do caminho:
1) Levar uma vida corporativa, permitir a existência de uma escolha;
2) Trabalhar em campos diferentes daqueles até agora vividos;
Ter tato, diplomacia;
4) Desenvolver-se ou estagnar.
COMENTÁRIO: Esta parte foi a mais difícil pois teria que domar meu jeito estúpido de ser, e não me acomodar. Falando é fácil, a prática é que são elas. Os transes com os nativos foi algo forte demais para todos nós, acredito que alargamos bem nossas fronteiras energéticas, apesar do meu medo das forças telúricas que se apresentavam, embora não ameaçadoras as vivenciei com serenidade apavorante. Foi neste momento que constatei que os nativos não transcendiam para o cosmo, assim como nós descendentes de europeus não sabíamos lidar bem com as telúricas. Na época do descobrimento do Brasil, um pouco antes este segredo se perdeu no nosso território onde as plantas de poder foram guardadas em segredo na floresta do Amazonas e somente agora é que os nativos estão por iniciativa própria retomando o caminho.*
VINHO DA ALMA
Decidi criar, por certo tempo, a terapia do ócio. Alguns amigos me apoiaram e descansam comigo.
Quem não participava do lazer, colaborava oferecendo comida ou flores. Nesta fase, transformava quase tudo em poesia, voltei a tocar piano, bordar tapeçaria e praticar jardinagem.
O jardim estava lindo, haviam nascido muitas flores embaixo do jasminzeiro. Os amigos vinham passar parte do dia comigo, filosofávamos e ouvíamos o canto dos pássaros que habitavam o bosque em frente de casa. Esta paz era comparável somente ao paraíso descrito nas narrativas arcaicas.
Numa dessa tardes dei por mim que, apesar de todos os meus estudos e experiência com Ayahuaska, não sabia o significado de seu nome. Pedi a Roman:
— Por favor, traduza o significado da palavra Ayahuaska.
— Chicote de Deus, Vinho da Alma ou Bebida da Juventude. Não sei o porquê deste último.
— Talvez por aumentar imunidade do corpo, devolvendo a saúde e a energia.
— “Aya” significa alma e “huáska” significa chicote ou corda grossa.
— Huáscar não era o nome do Inca irmão de Ataualpa?
— Segundo a história, sim.
— Chicote da alma. Interessante.
Uma aluna interrompeu nossa conversa e perguntou: Ana, quantas são as nações da floresta amazônica na fronteira com o Brasil que usam Ayahuaska?
— Sei apenas de nove: Iaminawa (AC), Kaxinawá (AC), Jawahawá (AC), Pojanawá (AC), Maku (AM — Colômbia), Apurinã (AM), Ashaninka, (AC — Peru), Tukano (AM) e os Tikuna (AM).
— Essa tradição é preservada até hoje?
— É um dos poucos hábitos que não mudou com a interferência dos homens brancos, mas naturalmente devem conhecer este vegetal por outros nomes.
Don Agustín chegou em casa, tinha saído de Cuzco, passado por várias capitais do Brasil e daqui seguiria até a Argentina e Chile. Mas antes fomos a um sítio no qual tive um contato de quinto grau com naves espaciais de outro planeta, o que gerou a minha ida a Tocantins, pois tinha “recebido uma mensagem que iria passar uma nave por lá e ela estava com problemas”.
*
TOCANTINS
No dia seguinte viajei à capital da Ecologia da América do Sul, num ônibus que levou horas de estrada, mas valeu conhecer uma cidade em construção, num calor de que ultrapassa os 49 graus, pois quase todas as árvores foram derrubadas, para dar lugar a cidade. No entanto, Tocantins é cercada por belíssima mata pré-amazônica, prolongamento das terras dos Timbiras. Hoje é um parque nacional de reserva indígena de Tocantins, um dos maiores do mundo, onde a figura do pajé está aos poucos sendo transformada em enfermeiro, agente de saúde.
Logo que cheguei fui convidada a falar sobre acupuntura num programa de televisão em que aproveitei para comentar sobre o surgimento de naves espaciais dias antes, em São Paulo.
Ainda no dia da entrevista, o jornal da mesma rede de televisão informou que foram vistas naves espaciais no Japão, na França, na Argentina e no Brasil, nas cidades de São Paulo e Belo Horizonte. A última aparição foi no estado de Tocantins. Devido a esta notícia, mais jornais vieram me procurar para novas entrevistas. Conversas com os mil místicos que foram lá morara devido a uma profecia.
ÍNDIOS DO BANANAL
Não podia deixar de ir à Reserva do Parque Nacional de Tocantins, onde estão algumas aldeias Xerente e Akwé. Com eles fui para uma longa caminhada na mata, passamos por cavernas que têm em suas paredes marcas de palmas de mãos humanas, em baixo relevo.
Na aldeia participei de reuniões com caciques e pajés, debatendo sobre a situação do índio na Brasil. O pajé tomou a palavra:
— Os indígenas estão desaparecendo gradativamente, mas ainda existem muitos grupos que o homem branco não conhece. Os preconceitos com nosso povo são muitos, as matas estão sendo cortadas e os rios estão secando. Cacique está sendo chamado de prefeito e Pajé de enfermeiro.
O cacique reforçou o argumento.
— As áreas indígenas demarcadas pelo governo e as instituições particulares que as protegem são apenas jogo. Através dos índios o governo consegue manter o território amazônico e pré-amazônico ocupado, pois somente nós sobrevivemos na mata. Nossos povos estão sendo estimulados a procriar, mas a descaracterização é progressiva. Há uma invasão progressiva de igrejas, escolas, bebidas, drogas, postes de luz, radioamador, televisão, panelas de alumínio e outras coisas mais nestas áreas delimitadas. Além disso, o governo aparece regularmente para a contagem do número de pessoas. Devido a esses motivos, nós temos de aceitar o inevitável, não há mais tradição a se preservar.
— Concordo inteiramente, mas não acho justo com a humanidade que desapareçam sem deixar alguma contribuição de sua cultura. Pertenço a uma tradição antiga, nosso povo desapareceu a muito tempo do planeta, mas nossos princípios ficaram e os defendemos até hoje. Apesar dos contínuos massacres que temos sofrido em todo mundo e em todas as épocas, somos seres humanos. Não podemos desistir do sagrado direito de conviver em paz e liberdade.
Nos olhos daqueles nativos estava estampada a expressão de quem já havia aceitado a fatalidade de seu destino, desejando levar consigo seus segredos como demonstração de dignidade tribal.
*
Nosso grupo seguiu viagem para a Ilha do Bananal. Paramos numa cidade onde se localiza uma lagoa especial, pois no centro de suas águas existe uma imensa rocha de cristal que só pode ser vista quando o nível da água está baixo.
É a mesma rocha que vi em sonhos. Os nativos costumam ir até aquela pedra para tocá-la. Meditamos à beira da praia do lago olhando a belíssima rocha de cristal, ao som dos trovões e à luz dos relâmpagos, constantes naquela região onde de dia o céu é metade dia e metade noite.
*
ILHA DO BANANAL
Às margens do rio Tocantins, não esperamos por muito tempo chegar a canoa trazendo o pai adotivo de meu amigo o Javaé que vinha nos buscar. Avistei-a já na curva do rio, carregando o forte nativo e seu pequeno filho, alegre por nos ver. Depois das apresentações, levamos nossa bagagem naquela estreita embarcação, feita de um só tronco de árvore.
O nativo remava devagar e cuidadosamente. Segurando no casco do barco podia sentir que flutuava a apenas dois centímetros do nível da água, fator que impedia-nos de qualquer movimento no período de uma hora senão o barco viraria.
Subimos o rio contornando a ilha do Bananal, em águas límpidas e calmas, já dentro da mata. Nesta hora o céu estava pintado de laranja e a noite caía lentamente. Em meio às matas verdejantes podia-se ver a aldeia dos Javaés.
Todos os nativos vieram nos receber. Depois de conhecer a família de nosso anfitrião, Javaé Tadeu, fomos apresentados ao cacique, à professora e aos pajés.
Fomos levados de canoa à outra margem, onde armamos as barracas. Um dos integrantes da excursão avisou: Não se assustem com os jacarés que dormem nesta praia.
— Jacarés, aqui? — disse espantada.
— Esta é a ilha do Bananal, lembra-se?
— Está certo, o que mais?
— No rio há piranhas e botos que fazem barulho a noite toda. Eles dão a luz aqui neste cotovelo de rio.
Apesar de saber que tinha uma visão romântica da floresta era inevitável deslumbrar-me diante da lua cheia que brilhava soberba, ao canto dos botos. Deitei no chão da barraca, mas não conseguia olhar para as estrelas temendo os jacarés que estavam descansando na praia.
No dia seguinte, só levantei quando ouvi as vozes de meus companheiros. As crianças nativas nos cercaram alegres e curiosas ao verem os presentes que havíamos trazido, brinquedos doados por amigos de Tocantins.
Fiz amizade com um jovem pajé Avá-Canoeiro, visitante da aldeia, sedento para aprender as novidades dos métodos de cura utilizados pelo homem branco. Contei-lhe sobre acupuntura, florais e astrologia. Conversamos todas as tardes aos pés das laranjeiras que ficavam às margens do rio. Certo dia, comentou:
— As nossas tradições estão acabando, todos estão desanimados, perdidos, sem nenhuma referência do que são. Desta maneira, o melhor é desaparecer.
— Por favor, acenda a fogueira e conte-me como este povo foi forte e valente.
— Posso até contar, mas de nada adianta. Em nossa aldeia há postes com luz, nossa arte virou artesanato; a música, folclore e a língua, dialeto. Já tem índio nascendo loiro, as mulheres desejam usar batom e saia curta, os homens jovens querem ser jogadores de futebol e os velhos querem morrer logo. O povo não ouve as minhas histórias e não sei curar as doenças novas trazidas pelos brancos.
Mostrando a laranjeira, comentou: Nem a árvore dá laranjas, secaram-se todas.
Nada pude dizer diante desse relato, ficamos parados na beira do rio, observando seu encontro com o mar. Nele iam misturadas nossas lágrimas.
*
AYAHUASKA COM OS PAJÉS
Ao amanhecer, os dois pajés e eu fomos em direção à velha árvore, dentro da mata. Depois de muito andar em meio a inúmeros espinhos e charcos, escolhemos um lugar para nos acomodar e tomar o Chá.
Quinze minutos depois de iniciado o trabalho, um dos pajés sumiu, sendo seguido pelos outros. Ouvi vários barulhos de animais e aves, quando ouvi um dos pajés gritar: Ana, você sabe subir em árvores?
— Sei! Por que?! — falei olhando para os lados e para cima, tentando localizá-los.
— Tem bicho grande aí perto de você!!!
— São animais do astral. — respondi, saindo à procura deles.
Avistei-os no alto das grandes árvores, sentei-me ao lado de um toco e fiquei parada, quieta. Peguei o maracá, toquei e cantei em louvor aos elementais da floresta, dando voltas ao redor da velha árvore, quando notei alguns animais próximos a mim.
Os pajés desceram das árvores, cautelosos, aproximando-se aos poucos. De repente, joguei-me de cara no chão, com os braços abertos. Neste momento senti meu corpo se fundindo com a terra, que emitia um som para o meu chakra solar. Percebi que estava diante da eternidade, que exigia a renovação de meus votos como sacerdotisa na Terra.
Éramos um só ser, ela dentro de mim e eu dentro dela. Lembrei-me de todas as vezes que repeti este gesto, era como se eu o fizesse uma única vez, em todas as repetições. Poderia morrer ali, acho mesmo que morri e renasci. Os minutos pareceram horas. Voltei ao som que o pajé emitia com o maracá. Reverenciamos a Terra, o espírito da mata. Cantamos muito. Eles diziam que o espírito da Floresta veio falar conosco. Na volta, caminhamos conversando alegremente. Um deles comentou preocupado:
— A floresta vai desaparecer, vai sumir tudo.
— Você viu isto?
— Vi e acredito na minha visão, Ana Vitória.
Entreguei ao pajé mais velho as sementes de cipó e chacrona para serem plantadas num lugar onde pudessem ser preservadas da extinção. Em lágrimas, entregou ao mais novo, para guardá-las. Ensinei a eles qual a melhor data para colher e como preparar o Chá.
Olhei demoradamente aqueles homens com marcas tribais tatuadas no rosto, pois não queria esquecê-los nunca mais. Eram guardiões da floresta, filhos prediletos da mãe Terra.
À noite, deitei no chão, perto dos nativos da aldeia. Olhamos as estrelas e de madrugada os discos voadores riscavam o céu. Sem o mínimo espanto os nativos contemplam este fenômeno. O mais velho dos pajés comentou: Eles gostam de passar nesta hora da noite, os botos param de cantar,
No dia seguinte, passaram a me chamar de pajé! No fim da tarde o Sol brilhava de um lado e a Lua do outro. Na beira do rio cantei com os botos novas canções oferecendo aos meus filhos e netas, para que o espírito da mata os protegesse.
Banhei-me no rio cheio de piranhas, cobras, jacarés e botos, mas nenhum deles me atacou. Deixei o rio levar as marcas das lembranças ruins adquiridas ao longo da vida.
Na manhã do dia seguinte, ao levantar, vi várias canoas na curva do rio, todos acenavam com as mãos. Reconheci o pajé no meio das crianças que iam alegres, sorridentes e barulhentas. Tadeu e seu filho nos levam embora, vagarosamente, do mesmo modo que havíamos chegado.
No percurso da volta, declamei um poema que recebi do astral na mata:
Andei, andei no vale,
subi a serra.
Atravessei
os rios de tuas terras
Vi o Sol e a Lua
e as Estrelas no Céu
Chamei o cipó
A chacrona a água e o fogo
Falei com meus índios na floresta
Subi na árvore, mais alta e vi a floresta sumir.
Quando ouvi um boto e avisar
que a Força ia chegar
A Força chegou e me levou
Além das nuvens
a casa de meu Pai
*
O CAMINHO DO B
Em São Paulo tenho hora marcada com o professor de astrologia, Héctor Luiz Othón Gómez, cubano radicado no Brasil, indicado pela amiga Maria José.
Ao tocar a campainha de seu apartamento, ele surge sorridente.
— Héctor?
— Ana Vitória!
— Boa Tarde! Estava lhe esperando, seu mapa está aqui, acabei de estudá-lo. Sente-se.
Indicou-me duas confortáveis cadeiras ao lado do computador que exibe na tela meu mapa.
— Estou preocupada com a passagem de Saturno na casa doze em Peixes, já perdi meu marido de forma chocante e não agüento mais nada — inicio a conversa diretamente.
— Melhor deixar Saturno sossegado, ele só está terminando um ciclo, trata-se de um período de trabalho de clarificação das dimensões transcendentes e sutis. Estas dimensões constituem a mais oculta fonte de força que vai lhe ajudar a superar os obstáculos da vida. O importante, “guruga”, é que você está com o Planeta Urano em trânsito por cima de seu Mercúrio natal, ponto superior da abençoada Estrela de Davi. É a hora de brilhar, prepare-se para dar passagem a conhecimentos de poder para todos. “Hasta la Victoria, siempre “guruga” e para trás ni para coger impulso”.
— Estou confusa, sinto certo isolamento interior.
— Pode ser outra coisa.
— Já mudei a regência dos dias para o calendário Maia, a noção de divisão do tempo fez significativas alterações na ordem das coisas.
— Pode mudar de Calendário do jeito que quiser, mas o ideal é organizar a vida a partir dos ciclos imutáveis dos astros, como você faz com o ciclo da Lua e do Sol.
— Em causa própria é complicado.
— Eu sei, mas Maria José disse que você está fazendo bom trabalho com Ayahuaska. Com este mapa astral maravilhoso, você é a pessoa certa para ser mensageira do “Novo Vinho” no Teatro Oficina. No dia em que eu estava pensando nisso recebi seu telefonema, coincidência maior não existe! Você é a pessoa que eu procuro. Está pronta para ouvir minha proposta?
— Sim, estou.
— Que tal um grupo de bons atores, cabeças abertas, fazendo um grande ritual no teatro? Trata-se de uma obra de Eurípedes escrita no ano 400 a.C.. Este autor, antes de morrer, saiu da Grécia e exilou-se na Macedônia, indo morar perto de um grupo de mulheres, as Bacantes. Foi aceito em seus rituais. Acabou se convertendo ao culto de Dionísio e escreveu “As Bacantes”, sua última obra trágica, contando a história do deus do teatro e suas sacerdotisas e do estraçalhamento de seu primo Penteu.
— Conheço a história dessa divindade de origem asiática, da cidade montanhosa de Nisa na atual Índia, conhecido como “Dio-nísio”, o deus renascido, cultuado no teatro até hoje.
— Exato. Esta peça está sendo ensaiada no Teatro Oficina pelo diretor Zé Celso Martinez, que fez a adaptação com mais três pessoas do seu grupo. Desde que cheguei ao Brasil estou esperando por este evento. Houve várias tentativas de encená-la, mas sempre acontece alguma coisa que os impede de entrar em cartaz. Vamos levar Ayahuaska às Bacantes?
Admirada com a forma direta de Hector, respondo, tentando ganhar alguns minutos para pensar: Você tentou pedir Ayahuaska aos inúmeros grupos religiosos que existem em São Paulo?
— Já, mas eles só concordam se os atores forem até a igreja. Três atrizes foram e gostaram, mas o que nós queremos é tomar o Chá durante os ensaios, uma vez apenas que seja.
— É necessário, mesmo, pois a Ayahuaska não é nenhum “barato” que se toma impunemente, ela vai transformar mesmo, não tenha duvida, não sei como está a situação deste Teatro agora mas seja ela qual for, depois da Ayahuaska vai mudar.
— Creio que seja mesmo necessário fazê-lo, Ana, voltando ao tema ele é atual. Dionísio foi rejeitado em Tébas por ser estrangeiro, foi a divindade que lutou pelo direito de viver para defender a honra de sua mãe, difamada pela corte tebana que duvidava da paternidade divina de Dionísio.
—No mundo inúmeras pessoas sofrem discriminação por serem originais de outros países.
Falei lembrando dos latinos que vivem na periferia da cidade de São Paulo enfiados nas confecções coreanas clandestinamente.
—Sei que você está preparada, tem astral e energia especial, “guruga”.
— Qual é o objetivo, realizar um ritual em homenagem ao deus do Vinho, levando de verdade um novo vinho hoje seria a Ayahuaska, assim como ele fazia ao chegar na cidade com o seu cortejo no solistício de inverno?
— Exatamente, limpar no astral a deturpação que ouve em Roma sobre o sentido verdadeiro de sua festa. Lá ele recebeu o nome de Baco, que virou sinônimo de alcoolismo e orgias sexuais, o que provocou a queda do império romano!
— Até parece castigo de Dionísio, mas você disse Baco?
— Sim, ele ficou com essa imagem no mundo todo e as suas festas são celebradas até hoje principalmente no Brasil. O Carnaval é a festa que tem seu nome originado a partir do “carro naval” com que o deus chegava às cidades!
A cabeça tonteia. Achei a letra “B”, Baco!
— A peça é musicada? — pergunto interessada.
— Todinha, vinte e cinco cantos.
— As músicas estão ensaiadas?
— Acredito que não.
— Quando estiverem prontas, avise. Levarei a Ayahuaska ao ritual de Dionísio, afinal é o deus do novo Vinho.
— Obrigado, Ana, você é o máximo, ninguém fez isso antes. Encarar Dionísio não é uma tarefa fácil, só mesmo quem tem a ver com ele.
— Não tenho a menor dúvida, pois nasci no carnaval, e tenho um filho que também nasceu nas festas “dionisíacas”, sou aquáriana Hector.
Depois pego o meu caderno e acrescento:
Letra B — Deus Baco:
Valor numérico: dois
Indica equilíbrio, o que está em cima é igual ao que está em baixo.
São duas forças iguais e paralelas agindo em direções opostas.
Pode alcançar grandes alturas e grandes profundidades. É um ciclo de desenvolvimento oculto que não deve ser percebido pelo outro
O trabalho do iniciado está ligado ao assunto da neutralização do binário Vida-Morte.
COMENTÁRIO: Esta foi a mais difícil até escrevi um livro sobre esta lição, A morte da Fênix pegou na jugular, e só foi depois deste livro que eu decidi editar este de agora, tudo foi muito complicado, ou eu sou muito rebelde, acho que deve ser a última possibilidade a correta.
Procuro informações a respeito desta história de Vida e Morte. Acho dois métodos práticos de obter esse conhecimento:
1- Contato com os habitantes desses planos.
2- Trabalhar com as Egrégoras em oposição aos Elementais, às energias da Terra e aos Anjos, energias do cosmos.
*
Hector visita-me tempos depois, conversamos no jardim interno debaixo do jasminzeiro, local que uso como sala de visitas no verão e na primavera, por ser agradável e acolhedor.
Como estava ansiosa com a proposta que ele me fizera, logo introduzi o assunto: Estou animada com o projeto. Soube que na antiga Grécia o povo participava do CONHECIMENTO através do teatro.
— Exato, “guruga”. Na Grécia, cantavam em coro as Boas Novas nos Evangelhos de Dionísio, todos os anos, até que um sacerdote declarou em transe: “EU SOU DIONÍSIO”. Nasceu o primeiro ator. Depois as pessoas puderam assistir às celebrações dionisíacas como platéia. Nasceu o Teatro.
— É, o teatro e o sagrado estão ligados, laços indissolúveis, mas faremos o trabalho sem platéia, um verdadeiro ritual. Concorda?
— Claro! Além do mais o Teatro Oficina foi construído especialmente para encenar “Bacantes”. Conhece sua história?
— Não. Conte, por favor.
— Existem várias coincidências em tudo. No terreno onde está localizado o teatro funcionava um centro espírita, que depois foi abandonado. Zé e Renato Borghi eram estudantes de Direito na época, mas começaram a se reunir para fazer teatro.
— Soube que lá foi um importante ponto de resistência na época da ditadura militar.
— Sim, depois pegou fogo. Então eles reconstruíram o teatro com arquitetura própria para Bacantes, com teto móvel, fonte de água, uma pira de fogo no meio da pista onde acontecem as cenas, canteiro com terra e árvores plantadas.
— E onde a platéia fica?
— Aos lados, como nos peitoris de navio, tudo em canos de ferro azul, dando a impressão de que estamos no navio de Dionísio, em alto mar. A prefeitura de São Paulo tombou o teatro recentemente, é patrimônio público agora!
— Estou curiosa e motivada, sei que os atores conhecem o transe da representação, querido, mas não conhecem o transe da Ayahuaska. Isso me assusta um pouco.
— Não se preocupe, estão de coração limpo e aceitam muito bem seu trabalho, conversei com Zé Celso. Faremos o ritual no penúltimo ensaio geral. A lua estará em Aquário e Saturno transitando em movimento direto, sendo uma conjunção com a sua Vênus natal na casa 12 e Júpiter em trânsito estará no meio do céu, “guruga”, graças a Dio, porque Júpiter gera a possibilidade de se obter compreensão completa da vida.
— É bom mesmo.
— “Guruga”, livre-se dos condicionamentos.
— Devemos ter alguma pendência séria de vidas passadas com o teatro, se não este arriscado projeto não estaria acontecendo.
— ”Guruga”, o acaso não existe, tenha coragem, estou junto. O momento ideal é este, desata o nó e pronto, está livre! Com a benção de Deus.
*
O CAMINHO DA PALAVRA
O projeto seria feito dentro em breve. Vou até ao escritório, na biblioteca e pego o amarelado caderno de viagens e penso na minha vida. Folheio o velho caderno que é agora testemunha involuntária de minha história.
Nunca pensei que as coisas se desenvolveriam desta maneira, a partir de um jogo solitário, com regras tão simples. É imprevisível saber que arquétipo cultural vai atuar, pois nossas raízes são um caldeirão de culturas. Mas como não via saída diferente para mim só me restou ir em frente.
*
À noite, recebo a visita da amiga Beth, explico a história toda a ela e ao Roman que desconfiado de tudo reluta mas me ouve até o fim, convidando-os para esta nova jornada. Conversando à luz das estrelas, entendi que iria resgatar algo perdido no passado, a partir do futuro de minha vida.
Regredir a memória a Tebas, puxar a energia das Bacantes, repetir gestos e rituais, eu que já brigava com o mito cultural enraizado em minha alma de Saturno, agora vinham arquétipos mais ancestrais ainda, vinha Dionísio, pior que Dionísio vinha Agave mãe do infeliz Penteu, além de Cadmuns pai Semele, e o velho sacerdote cego Tirésias .
Neste momento, concebi mais um canto:
Venho do reino da terra.
Transformei-me em Luz para te curar.
Por longo tempo
te espero aqui.
Toma agora tua porção de cura,
limpa as tuas mágoas
nas gotas de orvalho,
que abrirei o caminho
para que possas ir ao infinito,
ao encontro celestial.
*
DIONÍSIO NO TEATRO OFICINA — IÓ
Apresso o passo quando me aproximo do Teatro Oficina, pois vejo que Héctor está me esperando na porta. Cumprimentamo-nos rapidamente. Lá dentro ele me apresenta aos atores que nos esperavam.
Da mesma maneira que fiz o ritual a Terra Mãe, farei a Dionísio. Destino é destino, “quem não tem de que sofrer, não sofre”. Os atores descem para o penúltimo ensaio geral, chegam concentrados pois serão seis horas de ritual.
Noto um ligeiro sorriso no canto dos lábios de Héctor e enorme seriedade nos olhos castanhos de Roman que gentilmente me acompanhou. Os atores estão nervosos.
Para iniciar o trabalho, fazemos uma roda com o garrafão de Ayahuaska no meio. Acendo uma vela e coloco num canto do jardim. Respiro profundamente, e penso na antiga Grécia, nos tempos em que este ritual era feito ao ar livre. Dou poucas e necessárias explicações, depois sirvo a dose necessária a cada ator, músico, contra-regra, pim-bin, produção e às pessoas amigas. Antes da roda ser desfeita tomo a minha dose e falo a todos:
— Estamos fazendo um resgate coletivo.
Todos pulam alegres, e correm para a porta de fora. Começaram então o ensaio geral.
Primeiro sinal.
Segundo sinal.
Cronos entra pela porta da frente e tocou o Berrante, os atores com tirsos e coroa de hera na cabeça gritam:
— IÓ, IÓ, IÓ.
Todos nós respondemos igualmente.
Os tambores dos Sátiros anunciam que o deus do barulho está presente. Gritos de saudação:
— IÓ, IÓ, IÓ! Evoé! Baco!
Não consigo acreditar em tamanha coincidência! Saudação a IÓ?!
“Os atores elevam os tirsos em mais uma saudação a IÓ. Zeus, filho de Réia, conquista e fecunda a mortal Semele dando a luz a Dionísio. Semele morre fulminada, mas Zeus consegue salvar seu filho, gerando-o nas coxas. Ao nascer foi amamentado por Ino, passando a viver depois entre as Bacantes.”
Saio dos bancos da pista e vou ao último andar, atônita por tão inesperada surpresa promovida por IÓ. Peço proteção espiritual. Coloco o poncho branco sobre os ombros, Héctor com seus olhos azul esverdeados brilhando sorri e levanta as mãos em saudação.
A noção de tempo começa a desaparecer, estamos entrando em outro estado de consciência, onde o tempo não existe. “O teatro é o mesmo, mas nada ali é mais a mesma coisa”. Incrível como os atores se seguram nas falas do texto e não se perdem nem por um minuto, não erram a marcação, conseguiram REPRESENTAR, sem que seus egos interferissem.
Rapidamente criam agilidade, ritmo e leveza ao som de lindíssimas melodias de louvação à entidade presente. Dionísio, na voz e no corpo do ator Marcelo Dummont, declara:
CHEGUEI!
“Vim da Ásia, mudei a forma divina para a forma humana,
SOU DEUS FEITO HOMEM!”.
Neste momento senti as forças que a palavra falada evoca, no momento em que são pronunciadas.
Mesmo sabendo tratar-se de texto decorado para a peça de teatro, reverencio este deus, murmurando:
— Perdão. Clemência. Misericórdia.
Furioso, contínua: “A cidade precisa aprender, queira ou não, precisa de iniciação em meus rituais. Vim defender a causa de minha mãe Semele.”
Num impulso irresistível, Héctor, Roman e eu beijamos o chão em reverência total e irrestrita à Mãe Terra.
Olho para o último andar e não vejo o operador de pim-bim no seu lugar, junto aos holofotes. Vou procurá-lo e o encontro vomitando no banheiro.
— O que está acontecendo? — pergunto preocupada.
— Não sei, Dionísio cobra algo, eu não sei o que.
— Pense na energia representada e tente recordar-se o que foi feito contra ele.
— É mesmo. — disse chorando e cambaleante. Olha em direção à pista onde se encontra o representante de Dioniso e começa a pedir perdão.
Agora tinha certeza de que ele estava bem. Abro a porta do banheiro, dou descarga e limpo o chão, deixo um incenso aceso para amenizar o terrível odor que impregnava o local.
Desço as escadas na hora em que Dionísio festeja com seus adeptos, entro no seu coro e danço com as Bacantes e Sátiros.
Penteu chega e não aceita o novo deus, seu primo. Tirézias e Cadmo alertam o jovem governante de sua loucura em não aceitar a presença deste deus em suas terras. Neste momento percebo que um dos atores não está bem, subo novamente e encontro uma Bacante lacrimosa:
— Não podem fazer isso com ele, não podem prendê-lo.
Apesar do choro e da lamentação pela sorte do deus nas mãos de Penteu, ela está bem, captou algo que deve ter sido representado nos palcos do passado Grego.
Ouço Penteu falar a Dionísio:
— “Quem te tirou da masmorra?”
— “Aquele que traz a vinha.”
Levo a taça cheia de Ayahuaska para Dionísio. Que levanta a taça consagrando o Novo Vinho no Teatro em um novo tempo.
De súbito, sinto alguém passando muito mal, mas algo me detém impedindo ir ajudar.
Uma luz dourada risca como chicote todo o teatro, levanto os olhos na contemplação de tão maravilhosa visão. As poucas pessoas da platéia se mexem como se tivessem levando chicotadas, as pessoas jogam-se no chão, outros sussurram alguma coisa.
Héctor sorri, seus olhos claros refletem estranha luz, no rosto de Roman escorrem copiosas lágrimas. A moça ao lado estende os braços e de suas mãos saíam fachos de luz abençoando a todos. O operador de pim-bim continua chorando e pedindo perdão.
Cupido dança em seus ensaios, flechando algumas pessoas, imediatamente envolvidas por todos recebendo sorrisos pela sorte. O Mensageiro relata esbaforido: “Penteu, aceita este novo deus nas suas terras!”
Dionísio se apresenta aos olhos de todos na sua forma divina, vestido de touro, todo de preto e com chifres. Clamando por vingança, assiste à morte trágica de Penteu, assassinado por Agave que o confundiu com um leão. Depois que o corpo foi estraçalhado pelas Bacantes, Dionísio pega seu coração, saúda Pã e vai embora para a Porta do Sol, vestido de todas as cores do Arco-íris volta e começa a esmagar uvas com os pés e convidando todos a o imitarem.
Superando a inibição inicial, tiro o sapato e pela primeira vez na vida esmago uvas com os pés, dançando alegremente. Ao mesmo tempo, no coração, peço perdão a ele por não ter sabido entrar em contato com meus instintos naturais, prometo expressar alegria e prazer melhor daí em diante.
Depois de oito horas de ensaio, terminamos com grande festa. Em roda, sentados no chão, todos nós sorrimos. Pergunto a eles como foi a experiência, do ensaio com a Ayahuaska imediatamente um deles fala:
— Foi muito bom, não esqueci o texto e tive uma belíssima compreensão dos personagens.
— E para você? — disse olhando para o ator que estava ao lado.
— Consegui ficar inteiramente presente, adquiri grande espontaneidade.
— E você?
— Fiquei natural, não forcei nada. Foi a primeira vez que a peça aconteceu realmente.
O diretor, entusiasmado, declara:
— Eu estou com a Ayahuaska e não abro!
— Eu também! — responderam todos.
O diretor convida Roman para representar Pã tocando flauta andina, na estréia.
Peço perdão a Dionísio,
Shiva,
Cristo.
Ao Criador
que desejou
no planeta Terra
ninguém pudesse viver
sem ser destruído,
estraçalhado ou morto
por doenças e velhice.
Mergulhada
na dor
de
minha consciência,
necessito
filosofar
para um dia poder
passar
pela Porta do Sol.
*
RODA DE FOGO
As jovens atrizes passam a se reunir em casa todas às segundas-feiras. Formamos uma roda em volta da fogueira acesa no jardim. Conversamos sobre a experiência com Ayahuaska no teatro. Procuro deixar claro que este chá não confere talento, simplesmente desperta ou acelera este dom em quem o possui, proporcionando a oportunidade de evolução aos atores. Traz à consciência o sentido do sacerdócio da arte de representar o divino na Terra.
Uma atriz que ali estava conta que só depois de ter vivenciado a experiência de morte e renascimento no ritual de Dionísio, na experiência com o Chá, é que aprendeu o papel real das atrizes e atores no teatro.
— Como foi isso? — pergunto interessada.
— Como no princípio do teatro, quando o ator recebia a iniciação Dionisíaca ao tomar do vinho sagrado. Senti que naquele dia fiz a minha iniciação, estraçalhando o Penteu interno e entregando meu coração a Dionísio, descobrindo este deus em mim e adorando-o no outro. Acima de tudo, aprendi que isto é necessário a cada vez que se entra em cena.
Agradeço interiormente por ter cumprido o resgate a Dionísio, sem ao menos imaginar que seria este o sentido da minha presença naquele local. Neste momento recebo uma mensagem e transmito imediatamente: “Sempre se usou o canto como forma de memorização dos ensinos, a música é um fator fundamental em todas os credos. No futuro, quando não houver mais necessidade de religar ninguém, as religiões serão desnecessárias, restando a arte como única expressão de unir o homem ao que é divino.
*
CONVERSANDO com amigos, aproveito para contar a eles as razões e coincidências que me levaram ao teatro. Cada vez que revejo a peça, descubro uma coisa nova, algo dito que não ouvi antes. Sinto que a Arte é ainda a grande saída instintiva da humanidade, cumpre sua função, sempre preservando a cultura do povo.
Sem artistas nenhuma religião ou governo se seguraria. Tampouco surgiriam comerciantes ao redor dos Templos, Palácios e Teatros. Todos estão ligados pela magia de IÓ.
*
O fim de semana chegou rápido, a última apresentação acabou às duas da madrugada. Decidi passar por quatro dias em São Lourenço com um grupo de novas amigas do teatro.
Depois de vencer as curvas da estrada, já próxima da cidade, noto que não há placas nas árvores dando boas vindas ou pedindo para não danificá-las, não há mais o burburinho dos jovens idealistas andando por suas ruas.
A cidade continua a mesma desde a última vez que vim ao Congresso de Comunidades Alternativas em que estavam presentes as maiores inteligências do país. Lembro que foi aqui que dei duas palestras sobre acupuntura, fiz vivência de saúde mental, chefiei o ambulatório do evento e ouvi a palestra do ayahuaskeiro.
Uma das amigas quis saber como foram os tempos de contra cultura. Conto a elas minhas histórias enquanto andamos pelo parque:
— Esta luta valeu, hoje posso ir ao supermercado e encontrar os produtos naturais que quiser, sou respeitada como Terapeuta holística. Usar cristal no pescoço e andar de roupa colorida não é mais coisa de maluca beleza. Hoje em dia, usar ervas medicinais naturais é atitude de gente inteligente, os Florais são bem aceitos em qualquer lugar. A Ayahuaska é reconhecida como religião ganhou dois nomes Daime e Vegetal no sistema urbano.
Paramos para rezar diante da imagem de Nossa Senhora da Conceição, esculpida em mármore branco; visitamos o teatro ao ar livre e concluímos que lá seria um excelente cenário para representar “Bacantes”.
*
PRAÇA VITÓRIA
A proprietária do hotel indica um belo passeio: visitar a praça Vitória.
Comento com elas:
— Na última vez em que me indicaram um passeio, dei de cara com Ekeco, por isso estou curiosa para ver o que há de bom nesta praça, mesmo porque temos algo em comum: o nome.
A proprietária ouve nossa conversa e diz simpática: Outro motivo para ir até lá! Daqui nós costumamos ir a pé.
No alto do morro encontramos uma praça, um obelisco e um templo branco com sua arquitetura no estilo das linhas gregas. Elas andando na frente, viram-se para mim e uma delas pergunta:
— Ana, você achou o ômega?
— Não. — respondo distraída.
— Então venha aqui ver uma coisa. Não é Ekeco, mas é um Obelisco que vai dar sorte.
Leio extasiada o que dizia a inscrição de uma placa de bronze.
Lado ocidental:
“Glória a todos aqueles que chegaram a este lugar. Está localizado entre o 22o e 23o grau da latitude sul, no trópico de Capricórnio por Lei traçado. É a demarcação do final de um ciclo e início de outro. Acompanhando tais pessoas os gêmeos espirituais, o parelha manusica, através do Itinerário de IÓ — INRI — SL/SP”.
Lado oriental:
“Glória do mesmo modo àqueles vindos de todas as partes do globo, que assim o fizeram devido às excelsas irradiações que este lugar emana. É o Templo dedicado ao supremo arquiteto manifestado no Avatar Cíclico, conhecido como Maitréia. Aos mesmos, a Lei que a tudo e a todos rege, faculta o insigne privilégio de serem considerados como sementes da nova civilização.”
O oriente se volta para o ocidente.
AUM
Em homenagem a esta surpresa que acabo de receber, resolvo dar sete voltas ao redor do obelisco. Volto-me para o templo à minha frente, recordando-me do templo de Apolo e de seu Oráculo. Reverencio, saudando os quatro pontos cardeais. Saio sem dar-lhe às costas.
Ainda vendo o templo no fim da rua, pergunto a mim mesma por quê não tinha vindo antes à praça Vitória, em outras vezes que estive nesta cidade. Contrariei o hábito que tenho de sempre visitar os lugares batizados com o nome de Vitória.
Continuei divagando e concluí que agora sim sabia qual era o novo paradigma da Era de Aquário. As sacerdotisas sempre souberam as mensagens que cada Era traz em si, e perpetuaram através das cartas do Tarot e da milenar ciência da astrologia. Todos estes sinais estão à nossa disposição para que possamos vencer os limites impostos pelo passado, deixando que apenas o futuro influencie no comportamento do ser humano.
Certos sinais estão contidos na Física Quântica, povoando nossos dias. Perdida em meus pensamentos, comento em voz alta:
— “Quando ocorre uma colisão, as duas partes absorvem a energia dissipada. É uma questão de fusão e não uma fissão.”
O que era uma crença na minha adolescência, tornou-se uma certeza. Hoje percebo a importância de saber que vivo um momento único.
Ocorre-me que ainda data encontrar a vogal “U’, última tarefa, que pode levar anos”.
Subitamente escrevo outro canto:
O arco-íris
tem sete cores,
sete cores têm o arco-íris
na ordem da Terra.
Chegou a ordem!
Chegou a ordem!
Na ordem da Terra,
quem traz a paz
é o índio guerreiro,
guerreiro da paz.
CAMINHO DO U
LUA cheia, o último espetáculo teatral, fim da temporada de Bacantes. Uma leve garoa cai do céu. Chego mais cedo ao teatro, pois os companheiros do Corpo Santo não viriam. Marcelo Dumont já estava iniciando sua concentração para interpretar mais uma vez Dionísio.
— Olá, Marcelo. Tudo bem!
— Tudo ótimo. Gostei muito das flores que você tem jogado.
— Hoje vamos realizar uma orgia de flores lá do urubusal.
— Urubusal? Chama assim o terceiro andar?
— Sim, pois parecemos urubus quando ficamos virando a cabeça par lá e para cá, acompanhando as cenas que se desenrolam aqui em baixo. Pode reparar, lá só ficam os contra regras, amigos, penetras e nós.
— Não parecem urubus, mas sim as Urânias!
— Urânia?
— Sim, lá em cima, como se estivessem velando por nós.
Termina de falar vai alegremente em direção ao camarim. Fico parada no meio da pista fico por alguns instantes ainda, com a palavra Urânia na cabeça. Com a vogal “U”, mais precisamente.
ACHEI a letra U
Estava curiosa para saber o que significa essa palavra, pois assim encontraria as provas da última lição de IÓ.
Colocamos por todo o teatro incensos que exalam suave perfume de mirra e alfazema, escolhidos especialmente para a ocasião. Sento-me perto do Pim Bim, verifico os sacos de pétalas de rosas, conferindo se estão corretamente separados:
•Para as cenas que saúdam IÓ, seriam lançadas pétalas de todas as cores;
•Brancas para Zeus e Harmonia;
•Vermelhas para Semele e Dionísio;
•Amarelas para Tirézias e o Mensageiro;
•Folhas verdes para os ensaios de Dionísio;
•Cor-de-rosa para a cena em que Dionísio sai da prisão;
•Multicoloridas para a saudação a Semele, feita por Dionísio. Também na cena do estraçalhamento de Penteu e na entrega de seu coração a Deus, pelas Bacantes.
A peça começa com os atores cantando no andar de cima e depois eles todos vão, para fora do teatro do outro lado a rua e o teto móvel se abre, deixando surgir á bela Lua cheia. Fogos de artifícios pipocam anunciando que o deus do barulho chegava com seu cortejo num carro-naval aberto e prateado.
Com os tirsos nas mãos, cantam:
Das terras da Ásia,
das Santas Montanhas floridas,
do Tímolo,
eu chego
com o deus do barulho.
IÓ! IÓ! IÓ!
A dor é doce,
o fardo leve.
Cantando,
Evoé Baco
Evoé
Nós gritamos em coro com a platéia:
— Evoé Baco, Evoé!
Mãe Réia saúda IÓ e nasce Zeus. Jogo pétalas de rosas brancas sobre os dois.
A banda dos Sátiros toca alucinadamente, acompanhada de sons e gritos das Bacantes. De repente pairou sobre o teatro uma grande tensão. Vejo, através da parede de vidro, a polícia prendendo um ladrão de carros, no estacionamento ao lado. No telão, aparece o rosto de uma Bacante. A fotógrafa registra tudo em sua câmara, discretamente. Os atores de outras companhias estão presentes, e emprestam seu brilho cantando com os Sátiros.
A platéia delira quando vê Dionísio dançando “na boquinha da garrafa”, o público não se contém e entra em cena. Neste momento, um carro de polícia, com sirene ligada, entra inesperadamente, acabando com tudo. Todos se assustam e fazem silêncio diante de tal fato, mas uma mulher começa a berrar apavorada.
Penteu entra em cena e o carro policial sai. Alívio geral. Somente então a mulher percebe que tudo não passou de uma representação. Penteu pede aos homens da platéia ajuda na ação repressiva, alegando que aquilo tudo não passava de um grande desrespeito à moral e aos bons costumes. Prende Dionísio.
Intervalo.
A platéia está dividida entre duas idéias: de um lado, a civilização e a ordem, de outro o prazer. Ninguém se arrisca a emitir a própria opinião. Silenciosos, bebem no bar de Baco. Na porta do teatro, o pipoqueiro comentava o espetáculo com seus fregueses. Um rapaz é escolhido na platéia para ser o Boi da noite.
Embora todo parecesse desagradável não era todos gostaram muito disso, pois as Bacantes tiram-lhe a roupa e oferecem a máscara do Boi para colocar no rosto, a pessoa vivencia ser o Boi sagrado teve até uma pessoa que levantou os braços em direção ao céu e depois à Terra, em saudação sagrada a todos. A platéia aplaudiu delirantemente.
Nesta noite o Mensageiro ajoelha-se reverente. Dionísio joga-se de braços abertos e rosto voltado ao chão, aos pés da Força presente na atriz nua, que recebe as honras em aplausos e urros da platéia.
O Mensageiro continua: “Senhor Penteu, aceita este novo deus em suas terras?”
Do Urubusal assisto a tudo, pedindo misericórdia, piedade, clemência e perdão à energia extraçalhadora presente nestes segundo eternos.
O sinal anuncia o intervalo para o terceiro ato. Não saio do lugar, continuo quieta. Agora quero ficar quieta. Hoje foi um dia importante, de muito aprendizado. Só tenho a agradecer tudo que aprendi nessas últimas horas. Vi de perto a força do transe. Bendito seja aquele que consegue aprender com o teatro!
Continuo pensando: As pessoas, usam a cocaína à procura de transe. Inocência, estão bem longe do verdadeiro transe, além de estarem procurando o mal ancestral para si mesmo. Deturpa o real sentido da palavra “orgia”, que significa a relação estreita da matéria física com o espirito divino através do “novo vinho”, tão decantado na antiga Grécia. Basta prestar atenção no texto de “Bacantes” para aprender.
*
A Tragédia de Eurípedes, levou-me a refletir sobre a minha condição humana e a relação com o Universo. Começamos a mexer o caldeirão da mistura de culturas com todos ingredientes genéticos, nos três níveis. Resultará num novo povo, uma raça, com todas as cores do Arco-íris, provando assim a Unidade do Divino, a Luz do Sol, que ilumina a Lua e a Terra.
Silenciosa,
quase com medo
de que ouçam meus pensamentos.
Ouso pensar
nos estraçalhamentos da vida,
nos amigos de juventude mortos
por defesa do ideal.
No marido comunicador
com tanta dificuldade de se comunicar
comigo e com seus filhos.
A neta, o namorado, os antepassados
que fizeram sua Caminhada Sagrada
a terra sem males.
Vivo, entendo,
agradeço,
o que aprendi
com as Plantas da Floresta
pelo toque que recebi do alto astral.
Do Urubusal, solto no ar as pétalas de rosas que estavam em minhas mãos. Caem suavemente sobre Dionísio.
Faltam três dias para o natal. Aniversário de mais um filho de Deus. Este grande homem também fez seu vinho. Descendo as escadas, murmuro sua oração automaticamente:
“Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome, vamos nós ao vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixai cair em tentação, livrai-nos e protegei-nos de todo o mal. Amém. Amém. Amém."
Várias vozes silenciosas, respondem: Amém.
Abro os olhos
e vejo o Urubusal se retirando,
depois de comer a carne de
Penteu,
oferecida pelas Bacantes.
Um novo tempo começa
IÓ
VITÓRIA
IÓ
RIA!
Cheguei em casa de madrugada e, mesmo cansada, ainda tenho forças para complementar o velho caderno de notas:
Vogal U — Urânia: celeste.
Cor: verde.
Valor numérico: dois.
Representante da música e da cultura, confere os seus iniciados dons e talentos do encanto e da sorte.
Urânia é a Vênus celeste, amava toda a Natureza e presidia as gerações. As Urânias, como Ninfas, governavam as esferas celestes. Vênus, deusa da beleza e do amor fecundado pelo sangue de Urano.
Em seu altar não era permitido, jamais, nenhuma gota de sangue; por isso ofereciam-lhe somente flores, perfumes, incensos e frutas.
O iniciado possui a consciência de que pode ser identificado de acordo com o grau de suas aspirações espirituais.
São Paulo, 22 de dezembro de 1996.
Ana Vitória Vieira Monteiro
COMENTÁRIO: Esta ultima lição fez com eu concluísse automaticamente a última lição de I Ó — ÔMEGA — o fim de um período, e o início de mais um. A PORTA DO SOL tornou-se uma realidade, e eu me tornei escritora. Aprendi com o teatro e passei a amá-lo de coração alguns anos depois, quando morreu meu filho Guilherme foi, no teatro que encontrei lenitivo para a minha dor. Estava em cartaz o DISCO SOLAR de minha autoria. Aprendi muito com o jogo de I Ó, estou mais calma, sei que nem tudo tem explicações, e os mistérios continuam sendo mistérios, por mais que falemos deles não vamos nunca conseguir desvendá-los, e quem quiser saber vai ter que atravessar pelos caminhos sóbrios de sua mente que MENTE e ultrapassá-los, transcender e voltar trazendo apenas a lembrança do que viu, para uns esta lembrança é uma benção para outros uma maldição que só passa com o esquecimento. Só sei que aquela Ana VITÓRIA que partiu no trem, para CUZCO não voltou.
CANTO A MERCÚRIO
Meu Senhor, Mercúrio.
És o Dragão, sangue, sêmen,
Poder purificador
que regenera e liberta.
És Hermes,
Senhor da inteligência, do comércio.
Chamo por teu nome,
Evangelho de Boas Novas.
É o Mago, inventor de todas as Artes.
Senhor da eloqüência,
do Mistério, e da arte de decifrá-lo.
Carregou-me no colo
nas cartas do Tarot,
na pintura, na poesia,
e agora, neste momento.
Se, és o Soma aos indianos,
Senhor,és, o Mensageiro dos Céus.
Manifesto na Terra
no Som
na Luz
no Poder
duma Planta de Saber
Aya-Huaskar.
R á!!!
EPÍLOGO
Depois de contar a história deste jogo, quero deixar sugestões aos amigos caso queiram estar participando deste caminho também.
A interiorização dos Jogos Olímpicos, como todas olimpíadas, aceita jogos de todas as Tradições indiscriminadamente, portanto as possibilidades são inúmeras, dependendo da Tradição e tendência de cada participante.
Sugestões:
Os doze trabalhos de Hércules
O caminho do Arco Íris
O caminho dos Orixás
Os caminhos dos Arcanos Maiores do Tarot
O caminho dos doze apóstolos
O caminho dos números
O caminho do Santo Graal
O caminho das cinco vogais duas letras e um símbolo de I Ó
Amigos que começaram a estudar o jogo auto-iniciático, tiveram a maior dificuldade foi decidir qual caminho seguir e quais as regras a estabelecer a si próprio.
Costumo dizer que é natural, não importa qual caminho seguir de forma maneira irá percorrê-los, sugiro que levantem seus mapas astrais de nascimento, e a numerologia do seu nome, será de grande ajuda, na hora da escolha. Ao fazê-lo poderão constatar que talvez estejam fazendo o jogo auto-iniciático e não sabiam, neste caso, verifiquem que ponto está nesta caminhada e continuem, só que agora com consciência.
Se tiver algum amigo que esteja fazendo a mesma caminhada que você, troque idéias com ele uma vez por ano, será bom este contato entre caminhantes.
Importante é que está com tocha nas mãos e precisa chegar até o fim do caminho com ela acesa, e acender a pira do grande Templo, onde outros jogos irão acontecer. Contribuindo assim para a paz mundial.
Lembre-se enquanto durar os jogos, até que o último atleta espiritual termine, jamais deve haver combate entre os participantes. Estaremos assim contribuindo para a paz estabelecer no mundo, uma infinidade de tempo.
FIM
BREVE HISTÓRICO DE ANA VITÓRIA
Pertenço à 4a geração de estudiosos do espiritualismo, como dizia minha amada e saudosa avó materna Miretta Lacerda, os dons para-normais estão na nossa genética, e o gosto pelo estudo de pesquisa, aprendi na convivência diária com ela, que me alfabetizou aos cinco anos de idade, quando todas as crianças começavam a ler aos sete anos. Ela orientou as minhas primeiras e segundas leituras. Depois “assaltei” a biblioteca de minha mãe Philomena (assim com PH, como gosta de lembrar), que os mantinha trancados, pois sabendo do meu gosto por livros achava que eu tinha pouca idade para os devorar, no entanto deixava à vista as fábulas de Esopo e as mitologias gregas, que releio até hoje. Meu pai, no entanto, lia e relia para mim os livros de iniciação esotérica e de alquimia, comentando longamente a cada parágrafo. Atrás da porta assistia às seções espíritas de minha tia Beni, irmã mais nova de minha avó.
Cresci num universo de pessoas sempre em questionamento filosóficos, que colocavam à prova tudo que recebiam do mundo astral. Conta-se que meu bisavô Elói Lacerda pedia o endereço dos espíritos recém encarnados, que se comunicavam em suas seções espíritas, e depois ia conferir a veracidade dos fatos. Do lado paterno os Vieira Monteiro eram cristãos católicos, depois desiludiram -se com o Bispo de São Carlos pelos idos de 1945, ficando além das alegres fogueiras das festas juninas o nome dos apóstolos dado para os seus filhos. Meu pai chamava-se Pedro e desenvolveu o gosto pelo esoterismo devido a um presente de uma pessoa que deu a ele uma bola de cristal puríssimo e um livro da Cruz de Caravaca, como demonstração de gratidão por um favor recebido, que me foi ofertado pouco antes de sua passagem deste mundo.
Primeira filha de meus pais, nasci em 2/2/45. Devido à vitória dos aliados na guerra recebi o nome de VITÓRIA, na cidade de São Carlos. Aos 5 anos meus pais se separaram e com minha a família (mãe e dois irmãos) viemos para São Paulo onde permaneci, estudei piano, fiz os estudos primários e secundários no bairro da Penha.
Aos 16 anos FUI trabalhar no jornal da Penha onde tinha uma coluna para jovens, minha mãe casou-se novamente e ganhei mais um irmão, meu pai também casou. Participei dos movimentos dos jovens daquela época, freqüentei passeatas, ouvi Elvis e Villa, Vila Lobos no Teatro Municipal de São Paulo e uma vez por ano de férias íamos ao Rio de Janeiro. FUI para a Radio Marconi, casei com o radialista e jornalista Gil Gomes, indo morar no Jardim da Saúde. Tivemos três filhos; estudei astrologia, pintura e tapeçaria espanhola durante 14 anos, depois nos separamos. Estudei então acupuntura, shiatsu, doin e parapsicologia, abrindo a Clínica Vitalista Paracelso como terapeuta acupunturista.
Recomecei a escrever editando jornais alternativos, participei de movimentos de Ecologia, de preservação animal e vegetal, dei palestras por todo o Brasil.
Tornei a me relacionar amorosamente, encontrei Marcos, um quiromancista inigualável que depois de dois anos, se matou por saber ser portador de uma doença incurável.
Fechei o consultório depois de 12 anos e FUI em busca de realizar meu sonho:
Ser ESCRITORA.
Mudei de casa, mudei de vida, mudei de calendário — o Maia. Formei um grupo de estudos xamânicos somente com artistas. Compus poesias e músicas.
Mas o primogênito Guilherme Gil Gomes, depois de perder sua filha por incompetência médica na hora do nascimento, algum tempo depois, veio a falecer prematuramente de hepatite C, depois de anos de luta contra este grande mal que o atormentou nos últimos anos de vida.
Daniel entrou para a faculdade de direito e se casou , deu-me três netas se converteu ao Cristianismo se tornou pastore trabalha com o pai.
Vilma se formou advogada, abriu escritório e casou.
Entrei para o mundo VIRTUAL, criei um saite e passei a responder incontáveis e-mails por dia — descobri um novo mundo de muitas janelas.
Embalada por impulsos interiores tive a loucura de não desistir até que meu sonho virasse realidade! Escrevi para TEATRO as peças — O DISCO SOLAR — CHICO MENDES e o ENCANTADO — BRASIL OUTROS 500 — A VIZINHA de NOÉ — E outros textos inéditos — MÃE da MINHA MÃE — PRATOS LIMPOS — FOGO ETERNO — CASACO DE ANTÍLOPE — o monólogo FÊNIX. Minha história e as histórias que escrevo ainda não acabaram, pois a vida que vivo continua no mundo material, no mundo teatral e no mundo virtual, apesar dos que amei terem se transferido para o no mundo espiritual.
FUI
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BIBLIOGRAFIA
Artoud e o Teatro — Alain Virmaux, Ed. Perspectiva
Tarot Mitológico — Juliet Sharman-Burke e Liz Greene, Ed. Siciliano
Caminho do Xamã — Michael Harner, Ed. Cultrix
Fator Maia — José Arguelles. Ed. Cultrix
Medeia, Bacantes As Troianas. — Euripedes, Ed. Ouro
Plantas Alucinógenas — Sangrarei J., Ediouro
Guiado pela lua — Edward Macrae, Ed. Brasiliense
Retorno à cultura arcaica — Terence Mackenna, Ed. Nova Era
Saturno em trânsito — Erin Sullivan, Ed. Siciliano
Ponto de Ruptura e Transformação — George Land e Beth Jarman, Ed. Cultrix
Contaminação Vibratória — Eliezer C. Mendes, Arte e Ciência
Dicionário de Mitologia — Tassilo Orfheu Spalding, Ed. Curtrix
Dicionário de Mitologia Greco-Latina — Tassilo Spalding, Ed. Itatiaia
Mitologia Grega — Georges E Zacharias, Papirus
Livro de ouro da medicina chinesa, Ed. Objetiva
© 2001,2006 Ana Vitória Veira Monteiro
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Fevereiro 2001
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