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O BAILE DOS BICHOS

Mauro Gonçalves Rueda


O Baile dos Bichos
Mauro Gonçalves Rueda

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maurorueda5@hotmail.com
maurorueda@uchoanet.com

©2003 — Mauro Gonçalves Rueda


 

Índice

Primeiro Quadro
Quadro Dois
Quadro Três
Quarto Quadro
Quadro Cinco
Sexto Quadro
Sétimo Quadro
Oitavo Quadro

 


O BAILE DOS BICHOS

TEXTO PARA TEATRO
infanto-juvenil
Coleção “JOYCEANA” — Volume: 3
CENA ÚNICA DIVIDIDA EM 8 QUADROS

Escrita em São José do Rio Preto, dia 20 de junho de 1.988
Todas as músicas de autoria de Mauro Gonçalves Rueda


 

 

Para Maricy e Joyce de Castro Rueda

 

 


Personagens

01 — Lagartixa
02 — Baratinha
03 — Burro
04 — Gafanhoto
05 — Sapo
06 — Macaquinho
07 — Mosquito Japonês
08 — Papagaio
09 — Vaga-lume Gago
10 — Tartaruguinha


PRIMEIRO QUADRO

(O Palco deverá ser adaptado conforme as necessidades para cada quadro, ficando a critério da direção. Recomendamos a utilização de um grupo musical para a execução das músicas contidas no texto. Ou, a utilização de fitas)

 

LAGARTIXA — D. Barata! D. Barata! (Lagartixa afobada. Procurando sempre de forma aflita) Onde será que ela foi se enfiar justo agora, essa baratinha maluca? Sempre atrasada ou perdidona atrás do “Flit”... Ah... Boa tarde, meninos! (Dirigindo-se ao público) Boa tarde, meninas! Eu sou a Lagartixa (embora não pareça) ...É... como eu dizia, quero dizer, hoje é um dia muito especial. Faremos o nosso grande baile dos bichos. Vai ser divertido, e além do mais, isso aqui andava tão sem graça ultimamente...

BARATINHA — Ahá! Falando sozinha, hein? Eu bem que desconfiava. Tá ficando gagá! (Entra a baratinha fricote)

LAGARTIXA — (Se recompondo) Ah, é você baratinha?

BARATINHA — Não Pedro Bó, é o Expresso da Meia Noite!

LAGARTIXA — (À parte) Ainda por cima, mal educada. (Voltando-se para a baratinha) ...Hã... mas por onde você andava? Logo começam a chegar os convidados e...

BARATINHA — Ora, ora! Não se preocupe... Afinal, um baile não necessita de grandes preparativos.

LAGARTIXA — Como não? Como não? A Orquestra? Onde é que está a orquestra, hã?

BARATINHA — Orquestra? Que orquestra, minha filha? Coisa mais careta! Onde já se viu baile no “Uchoa Clube” com orquestra ? (Ri espalhafatosamente) Essa foi boa, não foi?! (Para o público)

LAGARTIXA — Desconfio que estão querendo me gozar. (Dirigindo-se á barata) — Não precisa de orquestra, não é? Me diz então quem vai tocar esse baile?

BARATINHA — Quem não tem orquestra, toca com um grupinho qualquer. Foi tudo o que consegui!

(GRUPO MUSICAL FAZ INTRODUÇÃO DE UMA MÚSICA)

BARATINHA (Dirigindo-se à Lagartixa) — Ouviu?! Ouviu?! Quer melhor? (Ao público) — Infelizmente não tínhamos nada melhor do que isso!

LAGARTIXA — Ainda estou meio em dúvida... será que eles sabem tocar mesmo?

BARATINHA — Já vi que santo de casa não faz milagres. Ô da guitarra! Solta um som aí pra essa turma aprender que em Uchoa também tem gente boa nesse negócio!

(Entra a Música)

(O REINO ENCANTADO)

Eu fiz um castelo
Lá no fundo do Quintal
Um reino encantado
Onde não existe o mal
Lá a natureza
Vive sempre a sonhar
Não há rei ou homem
Que o possa governar
Lá não há tristeza
E nem há solidão
No reino encantado
Dentro do meu coração

Ai que bom seria
Se a vida fosse assim
Sem qualquer tristeza
Só alegria sem fim
Lá não há soldados
Nem há leis ou ilusão
E toda a riqueza
Se faz com o coração
Lá todos se amam
E vivem como irmãos
Lá a paz floresce
Pra alegrar nossa canção

Ai que bom seria
Se a vida fosse assim
Sem qualquer tristeza
Só alegria sem fim

(Enquanto a música era executada, baratinha e lagartixa dançavam pelo palco e os outros bichinhos iam chegando. Ao final da música, entra o burro zangado)


QUADRO DOIS

 

BURRINHO — É uma vergonha! Por isso nosso país não vai para a frente: a “gente lóita, lóita, labóita... ninguém oxiléia a gente, nóis nunca que evolói”!

GAFANHOTO — Xíiii! Falou o depósito de besteiras!

BURRINHO — Olhaquí ô gafanhotozinho titica! não é que eu sendo burro por natureza, ocê vai querê me destratá na frente dos otro assim não, tá sabendo?

GAFANHOTO — Qué isso, seu burro! Brincadeirinha! (À parte) Ele bate forte “quenêm” o Maguila. Eu hein!

SAPO (Se exaltando) — Saldar as dívidas externas! Acabar com a inflação! Congelar os preços! Acabar com a poluição... nós não queremos mais ouvir essas coisas... Tudo o que queremos é curtir um bailinho. Tá sabendo?!

MACAQUINHO — Vixe!, o sapo engrossou o caldo. Essa sai. Dá nele! Dá nele!

MOSQUITO JAPONÊS — Iiiááá! Arigatô nô? Cataniqui-nacaneca! Netaneta, sueto-deta, inhô inhô inhô! “Quem balá leva mexe! Todo mundo pro assalto que isso aqui é um banheiro!” Chíi... me enrolei todo. Acho melhor eu ficar quieto.

VAGA-LUME GAGO (Entra correndo) ...Vavi ...vavi...

BURRO — Vavi, vavi o quê, vaga-lume? Desembucha, sô!

VAGA-LUME — É quiqui... é quiqui... Chíi... num didi dianta! Essa guagui... gagui...

MACACO — Gagueira!

VAGA-LUME — É isso! Me ma mata!

GAFANHOTO — Isso aqui tá parecendo programa do Gugu.

BARATINHA — E, pra não perder o pique, com a nossa banda, o valsão “A Caminho do baile”.

(Entra a música todos dançam)

(A CAMINHO DO BAILE)

A dona coruja falou pro seu burro
Ô seu valdomiro, o que é que ocê têm?
E o valdomiro, o burro amuado
Num coice dizia, eu não tenho vintém
A dona cegonha passava e ria
E ria a hiena e o lobo também
E mesmo o grilo que era sargento
Bateu continência sem saber pra quem

Lalalaiá, lalaiá
Lalalaiá, lalaiá
Preste atenção minha garotada
Que o baile dos bichos já vai começar

Lá longe apontava a anta dentuça
Junto com a cobra e o rato babão
E todos os bichos foram se chegando
Lagarto, carneiro, tatu e pavão
Morcego, minhoca, macaco, elefante
Veado, cabrito, tucano e o leão
E todos se foram pro baile dos bichos
Menos valdomiro o burro cabeçudo
Zangado, sisudo e sem educação
No caminho empacado, cuspindo no chão

Lalalaiá, lalaiá
Lalalaiá, lalaiá
Preste atenção minha garotada
Que o baile dos bichos já vai começar


QUADRO TRÊS

(Ao final da música entra todo destrambelhado um papagaio. De óculos)

 

PAPAGAIO — Currupacopapaco! Ruuuuu! Que baita confusão! Me convidaram pra um baile da bicharada... vim lá das “Parmêra” e o que vejo? (Tira os óculos limpa, ajeita de volta no rosto) — Não vejo nada. Essa droga já não presta pra coisa alguma! Preciso trocar as lentes. (Para o público) — Olá garotada! Vocês querem bacalhau? No armazém do “Birrara têm”. Querem saber de uma coisa? Tô invocado! Onde já se viu me chamarem de urubu disfarçado ? Outra coisa... limão de caipirinha é a vó! Os caras nem esperam amadurecer, meu!

LAGARTIXA — Acabou o discurso?

PAPAGAIO — Bom... é que...

GAFANHOTO — Parece besta!

SAPO — Tem gente que não desconfia...

VAGA-LUME — Papá... papá...

MACAQUINHO — Hí... ele tá com fome!

MOSQUITINHO — Enloscou de novo!

BARATINHA — Esse vai longe!

BURRINHO — Desenrosca o disco!

VAGA-LUME — Papipô! Eu caqui... quero... fafi... fafifa fafefi... fofufa falá, meu!

MACAQUINHO — Agora vai!

SAPINHO — Tá parecendo o homem da cobra...

GAFANHOTO — Tá bom! Fala, mas sem exageros, hein?!

VAGA-LUME — Eu vavi... vavi... va...

BURRINHO — Sempre a mesma história. Não dá pra mudar o repertório não?

MOSQUITINHO — Tá bão, tá bão! Agora chega. Já falou demais. Tá falado e pronto!

VAGA-LUME (Irritado) — Papi... papipô! Vavi... adádá...

PAPAGAIO — Traduz! Traduz que nóis num manja essas línguas das estranja!

VAGA-LUME — Caqui... caquicasá!

TODOS — O quê?

VAGA-LUME — Côa... coa... Lali... lá li lanterna... vavivô caquica casá!

LAGARTIXA — Vai gostar de luzinha assim lá na esquina!

PAPAGAIO — Já marcou a data?

VAGA-LUME — Saci... sasa... saci...

GAFANHOTO — Enroscou de novo.

SAPO — Saci, vavá, papá... vai falar bem assim em comício político meu!

VAGA-LUME — Saci... sá... baba... do!

MACAQUINHO — Puxa, que legal! E, vai ter festa?

MOSQUITINHO — Têm bolo, tem?

BARATINHA — A Lali, quero dizer, a D. Lanterna... já sabe dessa história?

VAGA-LUME — Claqui... claqui... claro!

BARATINHA — Já que é assim... não tem mais jeito mesmo... vamos nessa!

(Entra a música)

(O VAGA-LUME)

Lálaialalaiá, laialalaiá, lalalalaiá
Quem... quem é que vêm lá
Com uma lanterna... ligada no ar?

Sou eu, sou eu o va... vá....
Vavá... Vaga-lume...
A pipi... a piscar

E, o que fazes pra lá
Pra lá e pra cá
Piscando, piscando
Sem nunca parar?

Eu tô tôtô... a babá...
Tôtô a bailar...
Porque va... vi... vou
Va... vi... vou casar

E, quem, quem é a feliz
Feliz senhorita
Que vais desposar? — É... a mã mi... minha... nana...
na... ni... namorada...
La... li... la... lanterna
Va... vi... va o amar!


QUARTO QUADRO

 

MACAQUINHO — Muito bem! Muito bem! Como todos já perceberam isso aqui é uma historinhazinha. Faz-de-conta. Teatrinho musicado. Vocês certamente estão gostando, não é verdade? Muito bem! Como fazer teatro ou qualquer outro tipo de espetáculo artístico no Brasil é muito difícil e caríssimo, nós estamos improvisando tudo. Sem figurinos adequados e sem outros recursos que poderíamos adaptar. Mas, vejam por exemplo, que eu sou o macaquinho.

LAGARTIXA — Eu sou uma lagartixa...

PAPAGAIO — Currupaco! Eu limão de caipirinha, quero dizer, um papagaio!

GAFANHOTO — Muito prazer. Eu sou um gafanhoto!

SAPINHO — Não levo jeito com toda essa formosura, mas sou um sapinho.

VAGA-LUME — E... eu... saci... sou... o vava... vava...

SAPO (Ajudando) — O vaga-lume. E gago ainda por cima!

MOSQUITINHO — Bizzz... eu um mosquito japonês, nô!

BARATINHA — Eu sou a D. Baratinha, muito prazer!

BURRINHO — Fiquei com o papel de burro. Sempre sobra pra mim. Tô ficando traumatizado!

MACAQUINHO — Acho que está faltando alguém...

PAPAGAIO (Procurando) — Tá não, currupaco... (Pela platéia) ...O Zé Gordo tá ali meio escondido...

GAFANHOTO — O Prefeito e a D. Prefeita também vieram?

SAPINHO — Então quem será que está faltando?

MOSQUITINHO — Não aparecendo o DDDrim...

BURRINHO — Do que é que eles tão falando, hein, hein?!

VAGA-LUME GAGUINHO — Pra mamim... sóci... fafi... fafi... falta... a mami... minha... na... na... nani... namorada.... lali... la... li... lalanterna!?!...

MACAQUINHO — Enquanto a gente descobre quem está faltando, vocês vão ouvir agora, a melhor música de hoje. A que fala de mim é claro. Ouçam:

(Música)

(O MACAQUINHO)

Era uma vez um macaquinho
Maluquinho e peralta pra danar
Vivia fazendo travessuras
E não deixava sua mãezinha descansar
Pulava e um canto para o outro
Fazendo estrepolias sem parar
Quebrava tudo tudo pela casa
Já bem cedinho começava aprontar

Um dia o pai dele se zangou
E não deixou o pilantrinha ir brincar
Pela floresta com seus amiguinhos
E de castigo, num cantinho foi parar

Oh mas que danado ele era
Lá no cantinho, sentadinho a pensar
Amanhã eu levanto bem mais cedo
E novamente começo a aprontar...


QUADRO CINCO

(Todos dançam e vão para um canto. A música termina e personagens conversam entre eles fora do raio de ação da cena seguinte que é realizada pelo mosquitinho. À princípio, sozinho)

 

MOSQUITO JAPONÊS — Íiiii, nô! Pra fará a verdade, eu num chô muito chegado em baire, nô. Arém do mais aquere bulo é meio encanado comigo, né?! Mas eu não ter medo de violência!

PAPAGAIO (Chegando sorrateiramente e imitando os movimentos do mosquitinho. Se embaraça todo e cai)

MOSQUITINHO (Fazendo o primeiro Katá do Karatê) — Platicá espolte. Kalatê dá saúde, nè?

PAPAGAIO (Imitando sempre) — Dá saúde, né... (Ri) ...E minhoca na cabeça, nô?

MOSQUITINHO (Virando-se de repente e dando de cara com o papagaio imitando-o) — Gozando minha cala, seu suco de abacate?

PAPAGAIO (Disfarçando) — Que é isso, seu Bruce Lee? Eu só tava querendo aprender!

MOSQUITINHO — Têm que te folça. Folça vontade, nô?

PAPAGAIO — Folça não ter, nô! (Apalpando o bíceps) Vontade menos ainda, nô?! (Ri)

MOSQUITINHO — Papagaio só fala nô?! Sem mover um só músculo. Papagaio pleguiçoso!

PAPAGAIO (Para o público) — Chii, mosquito convencido, nô? Cheio de fricotezinho! (Voltando-se para o mosquitinho) — Sabe que é? É que ainda tô meio verde, viu?!

MOSQUITINHO — Que tem isso com Kalatê?

PAPAGAIO (Novamente para o público e imitando o mosquitinho) — Que tem isso com Kalatê?! (Rindo) — Mosquito xarope!

MOSQUITINHO — Tá farando sozinho?

PAPAGAIO — Não “futucacarac’ôataquara! Tô vendo se consigo ficar maduro!

MOSQUITINHO — Ah, vai plovocá, né?

PAPAGAIO (Imitando e fazendo gestos) — Ah vai plovocá?

(Os dois se preparam. Se estudam. Preparam golpes. Entra o burro)

BURRO — Que legal! Que legal! Gostei desse novo passo de dança. Vocês inventaram, agora, é? (Imitando desordenadamente)

(Entram todos e passam a imitar também. Música do Mosquitinho)

(O MOSQUITO JAPONÊS)

Um, dois, três
Um, dois, três
Eu vou contar pra vocês
A história do mosquito
Do mosquito japonês

Mosquito fez “Kalatê”
Mosquito sabe lutar
Mas mosquito sabe mesmo
É zumzum-zumzumbizá
Mosquito vai pro Japão
Pra se aperfeiçoar
Depois luta com “Baygon”
Faz o “Flit” arrepiar.
Um, dois, três
Um, dois, três
Zumbe o mosquito japonês!
Mosquito fazer pastel
Pastel bem cheio de ar
Pra “fleguês” que é “Blasileilo
Bem facinho de enganar
Depois mosquito flabica
Máquina de computá
Mas não ensina blasileilo
E deixa ele se ferrar

Um, dois, três
Um, dois, três
Zumbe o mosquito japonês
Eu contei essa história
Quem souber que conte outra
De um mosquito que é chinês!
Saionará!!!


SEXTO QUADRO

(Quando a música termina, todos permanecem imóveis. Feito estátuas)

 

GAFANHOTO — Meu avô me deu um pára-quedas... por isso virei aviador...

BARATINHA (Saindo do transe) — Bela róba!...

LAGARTIXA (Também saindo da posição de estátua) — Minha avó me deu uma vassoura e foi assim que comecei a voar!

PAPAGAIO — Ser aviador é fácil. Quero ver é você virar urubu, como eu já virei!

SAPINHO — Corta esse papo de aviação, gente! Isola. Tô traumatizado!

VAGA-LUME — Papi... pur... cá... quê?

SAPINHO — Com essa história de aviação... de voar... um dia eu fui à uma festa no céu e olha só como fiquei... todo achatado! Quando eu estava caindo, caindo, eu gritava ”arreda, arreda pedra senão te esburracho! Arreda pedra se não te esborracho!”. Olha só comécôtô!

MACAQUINHO — E daí? Quem é feio não muda de jeito nenhum!

SAPINHO — Eu te meto o braço...

MOSQUITINHO — Vão começar com a mesma lengalenga?

BURRINHO — Querendo eu ajudo acabar de achatar?!...

SAPINHO (Para o burrinho) — Escuta aqui o trator de pobre: vai achatar coisa nenhuma, está ouvindo?

LAGARTIXA — É sempre assim... não tem um baile em que não aparecem esses tititís!

BARATINHA — Acho melhor a gente continuar com o baile e acabar com essa bagunça!

GAFANHOTO — É... só que dancei nessa história...

MACAQUINHO — Uai, queria o quê mais, além de dançar?

BURRINHO — Vai ver, tá a fim de plantá bananeira?

PAPAGAIO — Quer se aparecer?

SAPINHO — Ainda faço um fuzuê aqui hoje!...

MOSQUITINHO (Para o sapinho) — Vai ver se tô na esquina, vai!

BURRINHO — E se ocê num tivé lá?

LAGARTIXA — Além de burro, é burro mesmo!

MOSQUITINHO — Se eu não estiver lá, então tomei doril!...

PAPAGAIO — Ou então, água do rio... aquele cheio de coisa boiando... (hihihihi)

GAFANHOTO — Vô mimbora!...

BARATINHA — Ei, ei calma!

LAGARTIXA — Vai embora não, bobo! Agora que a coisa tá esquentando!...

MACAQUINHO — Tá com dor de barriga?!...

BURRINHO — A privada é logo alí, ó!!!...

VAGA-LUME — Fafi... fafi...

PAPAGAIO — Até ele acabar de falar, dá pra você ir e voltar... aproveita!...

VAGA-LUME — Fafi.. fica... mami... mais... a fafi... fes... tata... tá... le... le... ga... gal!!...

GAFANHOTO — Todos contaram uma história, eu também quero contar.

SAPINHO — Se não for comprida como a do vaga-lume...

VAGA-LUME (Para o sapinho) — Cha... cha... chi... chato!

GAFANHOTO — Vocês deixam? Vocês deixam eu contar a minha história também?

TODOS — Claro! Claro! Afinal, não temos outra alternativa!

GAFANHOTO — Aí moçada, cantando comigo:

(Entra a música)

(O GAFANHOTO)

O meu nome é Ananias
Gafanhoto aviador
Já cruzei os sete mares
Já voei de norte a sul
Ontem mesmo quando eu vinha
Sobrevoando ao luar
Acabou a minha gasolina
E comecei a gritar:

— Aiaiaiaiai
Agora eu me esborracho
Tô caindo, tô caindo
Sai da frente, sai de baixo

Me lembrei do pára-quedas
Que me deu o meu avô
Esquecido deixei ele
Secando no quarador
Foi então que o meu anjo
Vinha passando e notou
Emprestou-me suas asas
Depois se pôs a gritar

— Aiaiaiai
Agora eu me esborracho
Tô caindo, tô caindo
Sai da frente, sai de baixo!


SÉTIMO QUADRO

(Fim da música. Todos se preparam para partir)

 

BARATINHA — Puxa, estou exausta!...

LAGARTIXA — Nem me fale! Nem me fale! Levei um pisão e meus pés estão em frangalhos!

BARATINHA — Eu não te falei pra tomar cuidado com o sr. Burro?

MACAQUINHO — Pois é... ele pisa forte!

PAPAGAIO — Que nada! Tão delicado!

BURRINHO — Quequêcêis tão falando?

BARATINHA (Disfarçando) — Hã?... nada não! Nada não!

LAGARTIXA — Você dança tão bem! Parece uma pluma...

BURRINHO — Modéstia à parte, levo jeito.

MACAQUINHO — Só se for pra burro mesmo!

GAFANHOTO — Esse deve ter fugido da escola!!...

SAPINHO — É pessoal... Sábado tem mais!

LAGARTIXA — Sábado?

VAGA-LUME — É... é... si... sim... ma... mi... meu... caqui... ca... ca... casa... me... mento!!

PAPAGAIO — Maior barato, meu! O casalzinho pisca-pisca do ano!

VAGA-LUME — Papis... ca... cá... nã... não... va... vi... va... vi... vê lá caqui... como é... caqui... que cecê... fafi...fala!

MOSQUITINHO — Se tiver bolo eu tô nessa!

MACAQUINHO — Sujeito fominha, seu!

SAPINHO — Ei! Me lembrei! Agora eu sei!...

LAGARTIXA — Lembrou? Sabe?!...

BARATINHA — Tá falando do quê, afinal?

BURRINHO — Todo mundo acaba se lembrando de alguma coisa... Tem hora que não consigo me lembrar nem onde é que eu moro.

PAPAGAIO — Qualquer dia cê esquece até quem você é!

BURRINHO — E acabo te acertando, seu filhote de canguru!!...

MOSQUITINHO — Não é cangulú, nô! É ulubú!...

PAPAGAIO (Imitando) — ...Nôm! Non é ulubú... Êta cambada de analfabetos!

GAFANHOTO — Eu também me lembrei!!... É isso mesmo!!...

LAGARTIXA — Está bem, está bem! Agora querem, por favor, revelar esse tal segredo que vocês dois conseguiram guardar e acharam de se lembrar agora?

GAFANHOTO — Eu falo!

SAPINHO — Peraí... eu falo. Fui eu quem lembrou primeiro!

MACAQUINHO — Tira no par ou impar!

BURRINHO — É isso aí!!

MOSQUITINHO — Quem ganhar, fala né?

(Os dois jogam a sorte no par ou impar)

GAFANHOTO — Eu quero par.

SAPINHO — Eu vou de ímpar.

(Eles jogam e dá par)

SAPINHO (Mais do que depressa) — Ganhei! Ganhei!

GAFANHOTO — Eu ganhei, dois e dois são quatro e quatro são par!

SAPO — Mentira! Tá calculando errado: dois e dois são cinco. Não é seu burro?

BURRINHO (Indeciso, contando nos dedos) — Peraí! Peraí! (Faz as contas) — dois e dois... deixem-me ver... hummm... nenhum dos dois acertou!

TODOS — Como?

BURRRINHO — Nem quatro, nem cinco.

MACAQUINHO — Ah é, é? Então quanto deu aí nas tuas contas?

BURRINHO — Sei não... tô com a calculadora falhando.

(Todos riem)

LAGARTIXA — É burro mesmo!

VAGA-LUME — Caqui... ca... ramba! Essa... ssa... fafi... foi... de a... margar!

PAPAGAIO — Leva no Fantástico, leva!

BURRINHO (Cara-à-cara com o papagaio) — Que cê tá querendo insinuar, hein?

PAPAGAIO — Que você é esperto. Muito, muito esperto, mesmo! (Rindo)

BURRINHO (Pomposamente) — Modéstia à parte...

LAGARTIXA — Modéstia à parte... além de burro, toupeira!

BARATA — Afinal quem vai falar?

MOSQUITINHO — Acho que não precisa mais não...

TODOS — Não?

MOSQUITINHO — É... quem estava faltando... lá vem ela...

(Aparece a Tartaruga. Vem se arrastando lentamente, despreocupada. Ensimesmada.)

TODOS — A Tartaruga Dagmar!!!...

(Entra a música da Tartaruga)

(A TARTARUGA)

Olha a tartaruga
Tartaruga Dagmar
Corre, corre, corre
Mas nunca sai do lugar

Parece uma bolinha coitadinha
Escondida em sua casinha
Que carrega sempre às costas
Daqui prá lá, de lá pra cá
Lá vai Dag-Dagmar
A tartaruga muito louca
Vai em marcha lenta
E diz que não dorme de touca

Corre-corre-corre
Tartaruga, Dagmar
Mas toma cuidado
Pra depois não decolar
Aiaiai que cansadinha
Acabou a gasolina
Na subida é fogo
Não tem santo pra ajudar
Sempre tão esquisitinha
Corre-corre sem parar
Pois está se preparando
Pras “Jornadas de Ibirá”

Olha a tartaruga
Tartaruga Dagmar
Corre-corre-corre
Mas nunca sai do lugar
Corre-corre-corre
Tartaruga Dagmar
Mas toma cuidado
Pra depois não decolar...


OITAVO QUADRO

 

TARTARUGUINHA — Oi “Zente”! cheguei! Já vai começar o baile?

MACAQUINHO — Outro?

BURRINHO (À parte) — Essa parece o progresso do país...

PAPAGAIO (Irônico) — Progresso é dose!

LAGARTIXA — Sempre pra chegar e não chega nunca!

MOSQUITINHO (Cavalheirescamente) — Baile somente sábado, dona taltaluga.

TARTARUGUINHA (Fala morosa e arrastada) — Ué... mudaram a data outra vez??!

GAFANHOTO (Segurando o riso) — Pra senhora ver. Outra vez!

SAPINHO — Então?!...

TARTARUGUINHA — Fazer o quê, né? Volto sábado.

VAGA-LUME — De que a... anono?

TARTARUGUINHA — Hã?

BARATINHA — Nada não! Ele disse: então vamos andando.

TARTARUGUINHA — É... então vamos andando... (Começa a se movimentar)

PAPAGAIO — Êeee marcha lenta! Mais parada que zóidebêbado!

MACAQUINHO — Dá-lhe Airton Sena pelo avesso!

SAPINHO — Olha o DDDRIM minha gente!

TODOS — Vamo s’imbora pessoal! que a festa acabou!!!!...

(Todos saem correndo, entra a música “O REINO ENCANTADO”. Volta o elenco e brinca até o final da música para, em seguida, despedir-se do público)

FIM

São José do Rio Preto, 20 de Junho de 1.988.

 

As músicas do texto, bem como as letras, são todas de autoria de MAURO RUEDA e, foram apresentadas em Uchoa, no Show “O Reino Encantado”, nos dias: 10\11\12 de Outubro de 1.988. E nos dias 25\26\27 e 28 de março de 1.989, em forma de musical.

Agradecimentos especiais: Dr. Miguel José Chaddad e D. Lila Chaddad, os únicos administradores no município de Uchoa a incentivarem a ARTE e a CULTURA sem interesses. A ARTE pela ARTE. Ao casal Chaddad, dedico este livro.

Ainda: para Paulo Ferrari, José Vivan, Elton Piovani, Eliana Groto, Denise Salgado, Demerval Gordo, Doglas, Milena Groto, Cristina Prandi, Antônio Seco que gravou e Erbis Secato que reeditou em VHS.

Mauro Gonçalves Rueda

 

PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DA OBRA.
DIREITOS RESERVADOS PARA MARICY REGINA DE CASTRO RUEDA E JOYCE DE CASTRO RUEDA.
REGISTRADO NO EDA DE ACORDO COM A LEI N.° 9.610/98.
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. BY: MAURO GONÇALVES RUEDA.


©2003 — Mauro Gonçalves Rueda
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