Bermuda Azul
Lira Vargas
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<Bermuda azul
Sugestão: praia de Copacabana cheia no domingo de verão, passa um avião cortando o céu azul, um hotel faz parte desse cenário.
Naara é muçulmana, seu marido em traje comum, caminha a sua frente, com seus 22 anos, Naara olha fascinada a praia com aquela gente quase nua, numa barraca de picolé o vendedor faz um gesto de oferecimento a ela, seus olhos azuis deparam com um casal sentado no quiosque tomando uma bebida diferente (cerveja). Ela vai acompanhando seu marido distraído e aproveita sua situação de mulher, que deve andar atrás do marido, e acompanha as lojas do outro lado da calçada.
Entram em sua recente residência. Ao chegarem, Naara comenta com o marido como é lindo o Rio de Janeiro. Ele a repreende pelo exagero.
No dia seguinte Naara está outra vez fazendo o mesmo percurso pela praia de Copacabana, seu marido vai andando na frente e as mesmas cenas se repetem em seus olhos, o brilho de fascinação pela beleza das pessoas livres.
O vento balançava sua roupa, o calor imenso e novamente eles passam pelo quiosque e depara com o mesmo casal tomando aquela estranha bebida, os olhos do rapaz encontram os seus, por um momento ele dá um sorriso, ela o olha seriamente, mas não ri. O rapaz moreno totalmente físico de carioca permanece olhando-a por um longo tempo, ela abaixa a cabeça, arrependida pelo fato.
Ao chegarem em casa ela está preocupada, vai até a janela de seu apartamento e percebe que fica exatamente em frente ao quiosque. Solicita do marido um binóculo, este pergunta asperamente, “pra que?”, e Naara responde que gostaria de ver um navio que passa no horizonte. O marido a olha com desconfiança e Naara abaixa os olhos escondendo a culpa.
Seu marido finge que esqueceu o pedido e se distrai com um livro. Naara volta a pedir pelo binóculo e o mesmo, asperamente, levanta do sofá e vai no quarto pegar o binóculo. Ansiosamente Naara vai até a janela a procura daquele homem que a olhara de uma maneira tão esquisita. Posiciona o objeto para o mar e discretamente vai descendo até encontrar o quiosque e fica olhando aquele homem. De repente ele olha pra cima e a vê. Assustada Naara recua, seu marido percebe seu gesto e vai se levantando perguntando o que foi, nesse momento um avião corta o céu e ela finge que foi tomada pela saudade de seu povo. O marido balança a cabeça criticando sua infantilidade e a pega pelos braços e a leva para o quarto.
No dia seguinte Naara pergunta ao marido se não vão dar o passeio pela praia, ele nega, informando que está cansado. Naara vai até o quarto pega o binóculo e procura aquele homem. E lá está ele na mesma mesa de bar, dessa vez sozinho, ele percebe que está sendo visto e olha pra cima, nesse momento alguém atrapalha a visão, ambos tentam se ver, mas quando ela nota que ele já percebeu levanta o binóculo para outra direção, mas o homem dá um sorriso. Naara vai até a cama e senta, olha para seu livro de ensinamento e pede perdão.
No outro dia seu marido a convida para passear na praia, Naara procura uma roupa bem sedosa e acompanha seu marido, ao passear na praia, ela procura com ansiedade aquele homem que balançou sua cabeça. E lá estava ele sentado na mesma mesa. O marido na frente e Naara à procura daquele olhar, daquele sorriso meigo.
Ao chegar em casa, seu marido tem a surpresa de uma viagem urgente. Naara sente uma certa satisfação. Na manha seguinte seu marido faz apenas uma recordação: não sair de casa. Naara concorda e abaixa a cabeça.
Naara ansiosa pela hora da tarde, se arruma com capricho, chega a hora do passeio e não resiste, desce de escadas até a rua, vai até ao quarteirão, volta pela praia à procura do namorado oculto e, para sua surpresa, lá estava ele. Ao perceber que estava sozinha, levanta da cadeira e a acompanha, Naara percebendo, aumenta os passos e passa da direção de seu prédio. Ele pega em seus braços e tenta um diálogo.
Não podia ser diferente, Naara estava envolvida por aquela emoção. Conversa rápida, o homem compara seus olhos com o céu, diz que daria tudo para ver aquelas pernas e que ela ficava muito bonita de roupas azuis. Naara solta de seus braços e Pedro pede que ela volte no dia seguinte, Naara retorna para a calçada e entra assustada no prédio.
No dia seguinte, na mesma hora, Naara vai até o quarto da empregada, revira suas roupas e acha uma bermuda azul. Não resiste, veste a bermuda e uma camiseta e põe suas roupas por cima.
Desce as escadas correndo, a juventude falava mais alto, a alegria em seus olhos eram notáveis, ao passar pelo porteiro dá um sorriso, o mesmo estranha aquela atitude, pois desde que fora morar ali, nunca o cumprimentou.
Naara chega na calçada da praia e ali estava Pedro, a mesma cena, ela vai andando ele a segue e conversam banalidades. Ao chegarem ao Leme, a tarde caia o sol dourando as nuvens, um vento quente, era alegria no ar. Ambos riem daquela loucura e sorriem, era verdade, o amor tomara conta dos dois. Brincam na areia, suas roupas esvoaçantes a fazia mais linda, beijam-se com a liberdade dos pássaros que sobrevoavam nesse momento o mar, no horizonte passa um navio, e um avião corta o céu, Naara conta o episódio da primeira vez que pediu o binóculo ao marido para vê-lo na praia.
Pedro pede para ver suas pernas. Naara diz que tem uma surpresa pra ele. Levanta a roupa e deixa a mostra a pele branca e a bermuda azul. Pedro fica surpreso com aquela bermuda, ela diz aonde conseguiu. Riem muito até que se abraçam e a bermuda foi para longe, já era noite e se amam sem a preocupação da hora. Amanhece o dia, Naara assustada percebe o sol em seu rosto, olha assustada, “cadê Pedro?”. Assustada, levanta, mais acima Pedro a olha carinhosamente. Ela diz que precisa ir embora.
Seguem pela praia, de mãos dadas, as vestes dobradas em seus braços, de bermuda azul e camiseta, ela segue despreocupada. Pedro diz que deseja vê-la a tarde, pois ele é médico e após as dezesseis horas, ele faz aquele relax e que a esperaria outra vez.
Naara entra na portaria, eram seis horas da manhã, ela sobe pelas escadas e procura a chave no bolso da blusa, pega a chave abre a porta e depara com seu apartamento cheio de pessoas, seu marido e demais parentes a sua espera.
Assustada ela para na porta. Os olhares de condenação percorreram seu corpo, a empregada dá um sorriso e sai, Naara olha para o marido e diz que precisa falar com ele a sós.
Vão até o quarto, chegando lá ele a conduz até a janela e mostra a calçada.
Naara sobe no parapeito e se joga.
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