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O PONTO ARQUIMÉDICO

Dartagnan da Silva Zanela


O Ponto Arquimédico
Dartagnan da Silva Zanela

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dartagnanzanela@pop.onda.com.br

©2003 — Dartagnan da Silva Zanela


 

O Ponto
Arquimédico

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Dartagnan da Silva Zanela

 

 


Introdução

 

Este pequeno livro reúne artigos de minha autoria que foram publicados na imprensa regional do interior do Estado do Paraná (Fatos do Iguaçu, Folha Regional e Diário de Guarapuava), como também foram reproduzidos na internet em folhetins eletrônicos e em algumas home pages abertas à discussão de idéias.

Os artigos não se encontram organizados em uma ordem cronológica e muito menos por assunto e espero que minhas palavras para você, amigo(a) leitor(a) sirvam como um ponto arquimético para você poder, não mover o mundo, mas mover-se no mundo e vê-lo como ele é e, principalmente, para vermos nos males do mundo a nossa imagem.

Boa leitura e boas meditações.

 

 


O impertinente pertinente

 

O ato de aprender só tem sentido quando este vem de uma vontade que emana do âmago de nosso ser, quando procuramos desvendar as entranhas de algo pelo simples necessidade de suprirmos uma curiosidade que nasceu em nós e tornou-se maior que nós mesmos, ficando a nos devorar por dentro. Ou, como nos lembrava Jean Piaget, que este processo, que é a aprendizagem se dá a partir de um princípio que o mesmo chamava de equilibração. Em outras palavras, só nos sentimos motivados a aprender quando algo ou alguém nos tira de nosso equilíbrio interno e faz-nos sentir inseguros frente aos saberes que nós julgávamos ter plena confiança. Doravante, tal sensação acaba por nos impelir no sentido de voltarmos a nos sentirmos em um estado de equilíbrio, nos impelindo a enriquecer nossa alma.

Todavia, há duas formas de retornarmos a este estado. Uma seria através da senda traçada por Hugo de São Victor, que nos ensina, que para que possamos aprender algo, primeiramente temos que nos prostrarmos com humildade diante de nossos erros e bem como diante da verdade que estar por se revelar a nós ou, em outras palavras, reconhecendo a nossa própria ignorância diante do objeto ou do fato que nos levou a dúvida que está a nos assolar, para assim, começar a desvendar os seus átrios, em seus mistérios, para passar a ser algo integrante de nós, familiar a nós como nos lembra Sir. Popper.

Mas, há uma outra maneira de se chegar a tranqüilidade e não é pela via do logos, mas sim, pela via da iniqüidade, ou em outras palavras, pela comodidade de ignorarmos as questões que são apresentadas a nós e que acabam em alguns casos até minando o nosso âmago. Mas, como fazemos muitas vezes em nossas vidas, acabamos por virar as costas àqueles que se apresentam de forma impertinente, com as suas dúvidas e bem como as polêmicas que habitam no seu íntimo, com a face impávida, com se a tudo soubéssemos, pelo fato de tudo ignorarmos.

O menosprezo as indagações, por mais estapafúrdias que pareçam, é um ato de ignorância da própria ignorância, pois quanto fechamos nossos olhos ao vazio que se abre em nós acabamos por mergulhar na lama que está neste. Quando olhamos com desdém para os pontos de interrogação que nos abordam, estes acabam por nos levar em assalto. E ao invés de nos levar a caminhar adiante, estes acabam por nos assaltar, levando-nos além de uma forma de vislumbrar os montes mais elevados e de sorrir, deixam-nos um vazio tamanho onde passamos a confundir o que somos com a ausência do que poderíamos ser, devido ao desprezo que tivemos para com aqueles que julgamos impertinentes, por acharmos pertinente nosso impertinente vazio existencial.

 

 


A Grande Família

 

Conversas informais, muitas das vezes, nos levam a reflexões interessantes, que não merecem ficar enclausuradas no diálogo entre um pequeno grupo de amigos, merecendo assim, ser divulgado a quem queira ouvir, e neste caso, ler.

Muitas pessoas freqüentemente recriminam a postura dos representantes públicos, quando estes realizam seus conchavos e alianças que são firmados através de troca de favores entre ambas as partes para se chegar ao poder e bem como, para se governar a conquista obtida. Ao invés de ficarem perplexos meus amigos, com este fato que se apresenta de maneira escarnada a nossas vistas. Eu vos digo que isso, diante das circunstâncias em que vivemos, estas atitudes são de certa maneira “naturais”.

Mas, como assim? Bem, lembremos que o que determina o andamento das relações de poder na macro-esfera da sociedade são sempre as relações que fervilham nas micro-relações de poder, que são arroladas em nosso cotidiano. Por isso digo para vocês que, podemos muito bem ver nas atitudes tomadas pelos nossos governantes com as que são tomadas em uma grande família (ou pequena) como a nossa. Podemos comparar os conchavos dos governantes para obter a governabilidade com as tentativas de um pai, que não quer ver o seu filho birrento quando ele chegar em casa para assim manter a paz no lar, doce lar. Do mesmo modo que, podemos comparar as oposições com as chantagens feitas pelos pirralhos que pintam e bordam para poderem obter o que anseiam, mesmo sabendo que o que papai ganha não dá para propiciar o que este fedelho tanto reivindica como sendo um direito seu, e este deve ser inquestionável. Do mesmo modo que podemos comparar as explicações dadas por um parlamentar corrupto, com as de um pai, tentando justificar para os seus filhos porque chifrou a mãe de seus filhos. Justificando o que não tem justificativa.

Ops. Não deixemos o restante deste anfiteatro do poder de fora. Não podemos nos esquecer dos grandes pais da nação, que somos todos nós, pacatos cidadãos, que adoramos viver sem dar a devida atenção para o que nossos filhos fazem, visto que, todos os representantes políticos que aí estão a ocuparem suas confortáveis cadeiras com seus polpudos salários, foram paridos por nós através de nossos votos. E nós, como pais relapsos que somos com estes nossos “aborecentes” de terno e gravata, ficamos a paparicá-los e ao mesmo tempo a nos queixar para o vizinho dos desfeitos do pimpolho ao invés de falar-lhes diretamente e se necessário puxar-lhes as orelhas. Em muitas ocasiões, parecemos com aquelas mães que largam suas crias e as deixam fazer peraltices mil e, ao invés de lhes aplicarmos o devido corretivo, puxando-lhes as orelhas para lhes lembrar o que é correto e o que é errado, preferimos ficar a tomar chimarrão com nossas comadres e nos gabar de feitos nunca feitos pelos frutos de nosso ventre. Digo, voto.

E assim seguimos no nosso dia a dia, a escolher pessoas semelhantes a nós para depois, desdenhá-las e culpá-las por todos os males que nos afligem, pelo simples fato de estas pessoas serem por demais semelhantes a nós e aí, de uma maneira um tanto que perversa, utilizamos o conceito de ética para apontarmos o dedo acusador no cisco que está nas vistas alheia, mas, nos fazendo de cegos frente a trave que está junto de nossos olhos e devido a esta cegueira primordial, colocamos muitos dos larápios que estão a ocupar os cargos de “otoridade” nesta nossa confusa República e que acabamos por nos esquecer que o ato gerador desta parte de nossa tragédia existencial partiu de nós, de nossa debilidade em reconhecer as nossas fraquezas e tentar corrigi-las para que esta não se torne um agente multiplicador.

A vida perdoa a tudo, menos a fraqueza. E como somos fracos.

 

 


A Bacia de Pilatos

 

Muitas das vezes nos indagamos sobre a origem do mal na sociedade, no seio da vida humana. Apontamos para as chagas sociais como se estas fossem a raiz de toda a violência e de toda destruição, apontamos nosso dedo acusador para as desigualdades sociais, para o sistema, como se todos estes fossem os causadores dos males que assolam a humanidade desde o princípio dos tempos, desde o tempo em que havia apenas o silêncio primordial, antes do Verbo anunciar a Verdade.

E diante da perturbação que nos assombra, que nos cerca, pergunto-me diante destas supostas causas de todos os males, se alguma vez, meu caro leitor, quando você esta infecto com alguma virose, o médico apontou para febre e para constipação como sendo as causas da enfermidade? Não? Então por que insistimos em apontarmos para os sintomas dos males como se eles fossem a raiz de todas as dores?

Acalmar a febre, pode tanto acabar com a enfermidade como pode levar a uma piora do quadro, pois a raiz do mal não está na febre, mas no interior do corpo do enfermo e que por sua vez, não tão simplesmente o agente causador da doença, o vírus no caso, mas sim, a fraqueza do corpo que se permitiu contaminar.

Do mesmo modo, a vida em sociedade. O mal não nasce do mundo exterior, ele habita nosso âmago. Enquanto olhamos para o mundo exterior com nossos dois olhos, relegamos ao desdém as falhas que habitam o nosso mundo interior, nos esquecendo da passagem de São Mateus no cap. XXVII, 22-24, onde o mesmo nos lembra da condenação de Cristo por Poncio Pilatos.

Nós, homens, geramos nossos grilhões e nos esquecemos deste feito e por orgulho e vaidade, culpamo-nos uns aos outros por isso e em alguns casos, fazemos vistas grossas diante dos males que estão em nossa volta por medo, de que alguém perceba os nossos rastros turvos.

Mesmo passados 1969 anos, nós continuamos como em um processo dialético a nos portamos como os Judeus, que “democraticamente” condenaram Cristo e bem como Pilatos, que por omissão, lavou suas mãos diante do mal que estava diante de suas vistas. E fazemos tudo isso, pelo simples fato de nos recusarmos a nos ver como culpados.

Mas culpa de que? De simplesmente sermos o que somos, por sermos humanos e podermos escolher livremente o nosso destino para o nosso bem e para nosso mal, levando nossos atos a repercutirem para o bem e para o mal daqueles, que muitas das vezes nós nunca iremos conhecer. Este é o preço da liberdade: o risco da danação.

Neste dia 25 de dezembro em que celebramos o nascimento do Salvador, até o dia, em que lembramos o nosso erro e a Ressurreição daquele que padeceu no calvário, meditemos nos conflitos que habitam nossa alma, ao invés de fazermos vistas grossas, no embalo de uma nostalgia passageira.

 

 


Cristo entre os Homens

 

Os Reis das Nações que as governam e os que exercem autoridade sobre elas se fazem chamar de benfeitores. Que não seja assim convosco.
(Evangelho Segundo S. Lucas XXII 25-26)

 

Um dos ecos da Teologia da Libertação que mais se propagam pelos quatro cantos desta Terra de Macunaíma, é a releitura feita da figura de Cristo Jesus, apresentando ele como se este fosse um grande líder político, revolucionário, que estava lutando pela libertação de seu povo que estava sendo oprimido por um cruel Império, chegando ao absurdo de alguns sacerdotes sectários desta pseudoteologia de compará-lo, o Cristo, com Ernesto Guevara de La Sierra, o homem que dizia que todo revolucionário deveria ser um assassino em potencial.

Durante algum tempo, até compartilhei desta interpretação até que um dia, levantei a seguinte questão: Segundo conta a Sagrada Escritura o Messias seria aquele que iria libertar o Povo Judeu dos seus Algozes, correto? Mas, se Jesus era um líder político e que estava a nortear seu Povo para libertação, por que o povo judeu o condenou e libertou a Barrabas?

Ora, pelo simples fato de Jesus não apontar para o caminho dos Césares, como um caminho de libertação, mas sim, para o caminho do Espírito. Cristo era um Mestre que apontava para o caminho da Elevação e do aprimoramento da alma humana e não para o caminho da revolução mundana, como era apontado por Barrabas.

E como o Filho de Deus não havia dito a seu povo o que eles queriam ouvir, como todo político faz, mas sim, o que eles deveriam ouvir, como todo Mestre da Senda da Retidão o faz, e este foi condenado por aqueles que amava e deu sua vida por aqueles que amava e alias, qual político que se sacrifica em nome de seu amor ao próximo? Nenhum! Os únicos sacrifícios que estes fazem, é em nome da própria glória. Se estes são caridosos, obreiros e estão junto nos momentos de dor, é simplesmente porque está esperando algo em troca: um possível voto. O Líder político vive a fazer malabarismo para se equilibrar e se manter no poder, não importando o que tenha que fazer para tanto. Alias, para quem conhece este jogo de perto, sabe muito bem do que estou a falar e como também sabe, o quanto que o Santo Nome do Pai é usado em vão nos palanques.

Todavia, lembramos que neste jogo não só as grandes peças degeneradas, pois estas o são porque encontram correspondência em nossa mediocridade. E, do mesmo modo que elegemos nossos governantes e escolhemos nossos ídolos, é que Barabas foi liberto. Foi pela vontade popular que Cristo Jesus foi condenado.

Ecce Homo, Cristo Jesus, foi condenado não por ser um líder político, mas por dizer palavras que revelavam a Verdade sobre nós, e a verdade, é algo que não cabe no seio da política, mas sim, nas veredas do Espírito. Se não elevarmos nosso Ser, ele facilmente perecerá junto as fraquezas da carne frente as tentações deste mundo.

Aprimore-se e corrija a si para que o próximo possa se espelhar em seu exemplo. Retiremos a trave do orgulho e da vaidade de nossa vista para que possamos ver com clareza nossa realidade, pois, somente a Verdade nos Libertará e não a doce ilusão de uma Utopia.

 

 


Da Mácula em nossas Mãos

 

“Si vos manseritis in sermone meo, vere discipuli mei estis et cognoscetis veritatem, et veritas liberabit vos ”.
(Evangelho Segundo São João, VIII: 31-32)

 

Natal nos dias de hoje, parece mais uma data para acerto de contas, um tempo para darmos um pretexto para nos justificarmos diante de um espelho com o aço corroído pelo esquecimento que temos para com nossas faltas e bem como para com a Verdade Revelada. Ao invés de nos voltarmos para nosso interior para renovarmos nossos valores e para corrigirmos nossos passos, preferimos nos conter em dar apenas uma bela garibada em nossa aparência de pessoa que vive em retidão, como a um fariseu.

Nos portamos no transcorrer do ano entregues a hipocrisia de um dia a dia, onde fingimos sermos o que não somos, para os outros e para nós mesmos e, quando chega o vigésimo quinto dia do mês de dezembro, ao invés de nos prostrarmos diante da tribuna da consciência, preferimos continuar a fingir e até, nos apresentamos de bons diante do espelho por termos realizados alguns pequenos atos de caridade que muitas das vezes, não nasceram da bondade que habita nossos corações, mas sim, para simplesmente fazermos bem o papel de “bonzinhos” no Natal e pior: de acreditarmos na mentira que estamos a contar para nós mesmos.

Nossa vida e bem como a maioria das relações que firmamos no correr dela, em sua maioria se vêem calcadas mais na mentira e na dissimulação do que na verdade. Você já parou para se perguntar, com quantas pessoas você se apresenta como realmente é? Você já parou para pensar no número de pessoas que lhe conhecem como você realmente é e que gostam de você por ser assim? Provavelmente não, porque a resposta para estas indagações são tenebrosas.

E aí, para continuarmos nossa dissimulação com ares de maestria, em dezembro passamos a justificar nossas encenações de bom mocismo, dizendo que tudo é fruto da “Magia do Natal”, época em que todos passam a ficar mais sensíveis, em que começamos a nos desligar das correrias e atropelos do tempo mundano para começarmos a mergulhar no tempo mágico do nascimento do Cristo Jesus. Mas, será que não estamos a confundir a Magia Salvífica do Natal com o feitiço de uma ilusão que nós criamos para nos esquivarmos a ação mordaz de nossa consciência?

Às vezes me pergunto: teria Cristo Jesus decido dos Céus para que nós nos sentíssemos como pessoas de bem? Não. Ele veio para nos mostrar a nossa face pecaminosa e para nos mostrar o caminho da Salvação: a Verdade. E podemos nos referir a ela e ao sentido do Natal, simplesmente relembrando do “pré-natal de Maria, junto de seu esposo José, que estavam a procura de um local para pernoitar e nada encontraram a não ser, as portas das paragens da cidade fechadas, indo encontrar repouso junto dos animais do mesmo modo que a Verdade é sempre vista, como o nascimento e a morte deste filho de marceneiro, que nasceu sem luxo e padeceu, condenado pelas mãos de uma multidão ignóbil. Esta é a magia do Natal, de nos revelar a nossa face, de retirar as ramelas de nossas vistas para nos vermos como realmente somos, para nos arrependermos diante da Verdade e nos libertarmos através dela, construindo uma vida livre da injúria e da falsidade, para que deixemos o lodo para balizarmos nossa vida na Rocha.

Todavia, preferimos fechar nossas vistas e continuar a nossa encenação e a continuarmos a nos queixar dos reveses da vida, nos esquecendo que os males que assolam o mundo, desabrocham a partir de nossos corações antes de darem frutos.

E como nós, seres humanos, somos criatura fracas, sempre que vemos a Verdade em meios aos encantos das ilusões, acabamos por nos portar do mesmo modo que o oficial nazista do filme Indiana Jones e a Última Cruzada, que acaba por pegar o cálice mais ornamentado imaginando que fosse o Santo Graal, sendo que ele, na verdade era apenas um copo de barro.

Eis a Verdade Cristã: simples como a vida e a mensagem de Cristo Jesus e por isso, pouco compreendida e vivida nos nossos dias por nós. Queremos enfeitar tanto, que acabamos por estragar tudo.

 

 


O olhar do Leviatham

 

Encontramos sempre a presença de uma atitude serena nas meditações filosóficas, enfatizava Hegel. Sempre que nos encontramos em momentos crise, o espírito humano, em lugar de procurar alhures para a resolução de seus males deveria, segundo o mestre alemão, recolher-se a si mesmo na intimidade do silêncio da razão para assim, poder desvendar através dos contornos de si o reflexo que há em nós, do mundo que está em nossa volta.

Todavia, nos tempos em que nos encontramos imersos, a atitude mais comum que vislumbramos em meio a nós é o avesso do que fora asseverado acima. É quase que uma convenção aceita por todos de que o caminho para a resolução de todos os males de nossa sociedade é via ação política. Não no sentido Aristotélico que o termo evoca, mas sim, no sentido mais decaído possível, que seria simplesmente a tomada do poder pelo grupo ao que se faz parte em detrimento do grupo, ou grupos, que julguemos serem nossos inimigos como asseverava Carl von Smitt, apesar de muitas das vezes não só não compreendermos as razões tal circunstância, como também as ignoramos.

E neste cenário, é que vislumbramos a figura de Tomas Hobbes. Este nomeia uma de suas obras com o nome de Leviatham, esta figura Bíblica, que os Santos Padres definiam como sendo o símbolo da sociedade dos maus, que fora escolhida por este sábio como símbolo do Estado, do Estado Moderno.

Tal escolha não poderia ter sido mais feliz, se fossemos meditar seriamente sobre a problemática da política nos dias atuais, visto que, como já havíamos dito, em todos os cantos que volvemos nossas vistas nos deparamos com o desejo, com a ânsia pelo poder político, pela sua tomada, para assim, supostamente, resolver todos os problemas que se apresentam aos nossos olhos, não precisando ser especialista em nenhum ismo para constatar os sintomas deste mal. Mas, e quanto a cura?

Nos esquecemos que a grande transformação e como conseqüência a resolução dos problemas que estão a nossa volta, aparentemente exteriores a nós, tem suas raízes deitadas no âmago de nosso ser, de nossa alma. Por isso, me coloco a perguntar muitas das vezes: se, os maus governantes que deleitaram seus traseiros fofinhos nas cadeiras mais cobiçadas por muitos homens, assim o foram porque foram escolhidos por homens que tinham suas almas corroídas por inúmeros vícios do espírito como a inveja, a cobiça, a ira e tutti quanti correto? Pois bem, e estes como nós, membros desta sociedade tão avançada, em termos tecnológicos, não conseguimos atinar nossa percepção para o fato de que pouco adianta querermos solapar o poder que está nas mãos de outrem se não formos melhores que ele, pois, sempre que o fazemos sem o sê-lo, acabamos por cometer erros piores do que o elemento que antes estava a comandar esta potestade das trevas. E sendo assim, será que vendando nossos olhos para os males que habitam nosso ser conseguiremos curar as chagas que nos agrilhoam?

Como explicar isso para pessoas que fazem suas vidas girar entorno desta visão estrábica? Como convencer os membros da sociedade dos maus para volverem seus olhos para a misericórdia da Verdade? Esta é, uma atitude tão difícil quanto o ato de nós nos vermos como geradores e mantenedores desta maldita sociedade, e repararmos nossa maldade.

 

 


Com as madeixas ao vento

 

...o fanatismo puro se desenvolve mais com base no ódio do que na esperança.
(Raymond Aron)

 

No Livro dos Prefácios, o grande historiador Sérgio Buarque de Holanda, onde nos adverte da grande responsabilidade que um historiador tem para com os que irão consultar uma obra de sua autoria e bem como, todo aquele que se aventurar na complexa tarefa de apresentar o fruto de uma pesquisa, de um estudo histórico sério para a sociedade. E, no que tange a questão da seriedade, isso é uma das coisas que mais nos carece aqui nestas terras de Pindorama.

Mas, como estávamos a dizer, Buarque de Holanda na obra já referida, adverte-nos que todo estudo histórico, todo olhar que nós direcionarmos para o passado na tentativa de melhor compreender o ser humano em seu devir por este mundo, é semelhante ao ato de se apontar uma lanterna para o interior de um quarto escuro. Jamais se consegue visualizar toda a abrangência do quarto devido a limitação de nossa fonte de luz. E pior, ao apontarmos para um canto do quarto para poder melhor visualizar o que ali está, o indivíduo acaba correndo o risco deixar o restante nas trevas e desta maneira na completa incompreensão. Para este ato, nós damos o nome de recorte temático, temporal e espacial, que nada mais seria a resposta as perguntas: o que é? Quanto e onde este o que está ocorrendo?

Mas, se o problema se restringi-se simplesmente na incompreensão de um determinado quadro histórico, a questão se tornaria simples. Todavia, ela se faz bem mais complicada, pelo fato de que, quem costuma direcionar o seu olhar para o passado e não assume as suas limitações humanas quanto a complexidade da natureza humana, acaba por projetar assim, não simplesmente uma sombra no que não fora iluminado pelas luzes da curiosidade da Razão, mas sim, acabar por tolir a memória social.

Um exemplo deste ato desmedido pude não só eu, mas o Brasil todo assistiu, na edição do FANTÁSTICO deste domingo dia 25 de novembro de 2002, onde em mais uma das infindáveis reportagens sobre o Golpe de 64, onde desta vez procurou-se falar da participação da CIA no processo que levou a queda do Presidente. Como havia dito, estes apresentaram com sua sinistra lanterna apenas um canto deste quarto escuro de nossa história, apagando o restante da memória coletiva, visto que, inúmeros dados basilares para boa compreensão do que ocorrera de fato.

Mas, que outra parte do quadro seria esta? Ora, aí eu fico a me perguntar porque, uma vez ou outra, o FANTÁSTICO não apresenta uma reportagem sobre a participação da KGB no processo que levou os militares a afastarem o referido Presidente; por que não se apresenta uma reportagem falando das intrínsecas ligações entre as lideranças de esquerda tupiniquim com o Partido Comunista Soviético? Ou então, trocando em miúdos, por que simplesmente não se apresenta o ocaso de 64 dentro de seu contexto histórico, que no caso era a época em que o mundo vivia atemorizado com o correr da Guerra Fria em sua lógica apocalíptica (corrida armamentística e formação de áreas de influência) e que a pouco havia-se presenciado em 62 a Crise dos Mísseis?

Ninguém se lembra disso? Então vamos tentar reavivar a nossa memória.

Desde os tempos de Stalin, que todo os partidos comunistas do mundo não passavam de secretarias do partido comunista de Moscou. Este fato não é informação secreta não, tanto que, você pode encontrar em qualquer livro de história. Ou então, basta você dar uma breve estudada na vida política de Luiz Carlos Preste, o “Cavaleiro da Esperança”, que também respondia pelo codinome no movimento comunista internacional: O Velho, onde este, sempre antes de realizar qualquer ação dentro do Brasil, esperava sempre antes, as ordens vindas de Moscou, como foi o caso da Intentona Comunista, e como foi o caso da guerrilha no Brasil que começou as suas fortes articulações no interior do País em 1961, onde tanto a extinta URSS e bem como Cuba, enviavam não só equipamentos como também treinavam os guerrilheiros brasileiros, que entre eles, podemos destacar o presidente do PT, o senhor José Dirceu, que não só fez curso intensivo de guerrilha, como o José Genuíno, mas também de espionagem.

Em outras palavras, não eram só os homens de verde que enviavam os seus homens para fora do país para assim receberem o treinamento especial, os vermelhos também o faziam e com uma diferença brutal: os segundos estavam a serviço dos interesses do movimento comunista internacional que durante o período da Guerra Fria procurava ao máximo aumentar a sua área de influência, criando países satélites. Quanto ao segundo, estes enviavam os seus pares para serem treinados na Escola das Américas justamente para conter a atuação ilegal e genocida destes no território nacional. Isso não significa que este humilde missivistas, esteja a defender a intervenção militar como sendo algo áureo, mas sim, colocando as coisas dentro da devida ordem, ou como diria Tomás de Aquino, estou apenas procurando apontar a causa prima deste acontecimento de nossa história.

Ora, mas o que isso tem haver com o golpe de 64? Tudo. Meu caro, coloque-se no lugar de um oficial militar da década de 60, vendo de baixo de suas ventas, a articulação de movimentos guerrilheiros pelo interior do país. Juntamente com isso, temos o senhor Carlos Lacerda no Rio de janeiro e o senhor Ademar de Barros em São Paulo, organizando exércitos para-militares de direita. Para apimentar isso tudo lembre-se que esta década é uma das décadas mais quentes da Guerra Fria, justamente no período que Kruchev havia querido implantar 100 ogivas nucleares em Cuba (1962), que gerou as duas semanas de terror que poderiam levar o mundo a um conflito nuclear. Se você meu amigo, vendo tudo isso debaixo de suas barbas, iria deixar um presidente que mantinha uma relação próxima com o mundo que estava no lado de lá da Cortina de Ferro continuar no poder? Ou melhor, se os milicos não tivesse dado este golpe de Estado, você já parou para pensar o que poderia ter ocorrido com o nosso País? Ou melhor, você já parou para pensar como que nós estaríamos hoje?

Não? Então eu lhe digo: ao invés de termos 20 anos de ditadura, nós poderíamos ter virado um Vietnã e estarmos hoje colhendo os frutos de uma guerra civil, pois, lá estariam os gringos financiando os exércitos para-militares de direita e os soviéticos a financiarem os guerrilheiros de esquerda, do mesmo modo que ocorreu na Ásia e na África, que até hoje colhem os ônus de inúmeras guerras civis desmedidas, onde estas fustigaram povos que se deixaram guiar por um sentimentalismo barato em um misto com Utopias estapafúrdias e tolas.

Por isso, sempre quando ouço alguma reportagem sobre o dito golpe de 64 lembro-me desta outra parte do quarto, que na maioria das vezes se vê obscurecida pelas sobras das lanternas maliciosas de militantes marxistas ressentidos, visto que, a maioria absoluta dos jornalistas e são sectários desta doutrina política ou no mínimo, fortemente influenciados, como muitos professores, pois, nunca podemos perder de vista que aproximadamente 80% dos membros desta classe que residem no RJ e em SP são filiados no partido dos trabalhadores. Se isso não é um dado relevante, eu não sei o que pode vir a ser.

E de mais a mais, como nos lembrava um outro grande historiador, Lucien Febvre, que uma pergunta mal formulada não nos leva simplesmente a lugar nenhum, mas sim, para um lugar totalmente equivocado como no caso das inúmeras reportagens sobre a Ditadura Militar, que enfoca uma bruta atenção aos militares e suas ligações incestuosas com os EUA e omite toda e qualquer informação sobre as relações incestuosas da esquerda dita nacional com a URSS e com Cuba.

E por fim, levanto uma última questão: pode a verdade nascer de um ódio desmedido frente a um grupo de pessoas? Pode a justiça nascer de uma ânsia desmedida de condenar outrem por seus erros, ao mesmo tempo que se omite os seus e de seus pares? Ou vocês acreditam que fanatismo político fruto do ódio partidário pode vir a nascer algo bom? E o mais engraçado é que os detratores da Ditadura militar eram e são francos defensores da ditadura da URSS e da que há em Cuba, como que estas fossem o Paraíso celeste.

 

 


Covardia e Utopia

 

Como educador, já participei de inúmeras palestras e cursos e, algumas das vezes ministrei estes para os públicos mais variados possíveis. Destas experiências vividas por mim, uma das coisas que mais me chamava e chama minha atenção, é o forte uso do termo utopia pelos educadores para justificar a má qualidade de nosso sistema educacional e bem como do nosso modo de educar.

Mas, obviamente, que o que estes educadores apontam como mal da educação não é o culto a uma ou outra utopia (o que eu concordo como sendo um dos males), mas o contrário, a suposta ausência de uma. Bem, só para pontificar, todo ser humano que vive a cultuar uma utopia, antes de mais nada, não passa de um covarde, que procura justificar os atos mais esdrúxulos em uma possibilidade de mundo sem possibilidade alguma. Tal forma de educar foi muito bem utilizada pelos piores tipos humanos já gerados, como Hitler, Stalin, Fidel Castro, Pol Pot e entre outros, que simplesmente queriam fazer do mundo sua imagem e semelhança.

Lembramos aqui que educar, como nos ensina o próprio sentido da palavra (do latim ex-ducere) é um ato de guiamento de uma pessoa para fora de sua subjetividade para o mundo objetivo, para libertá-la da senda do mundo imediato para que este possa transcender a si mesmo. Muito bem, aí eu pergunto, que tipo de educadores são estes que dão primazia em seu ato de educar ao guiar as vistas dos educandos por um mundo que só existe em suas imaginações doentias em detrimento da compreensão do mundo como ele é?

Estes, ao invés de levar os jovens infantes a compreenderem o mundo estes passam a direcionar as vistas deste para o mundo que eles, os ditos educadores acham justo, pelo simples fato de estes não compreenderem a complexidade do que está a sua volta. Preferem então, ensinar que não se deve procurar conhecer e compreender a realidade, mas sim, simplesmente transformá-la segunda o seu bel prazer.

Ao invés de apontar um horizonte, estes, lhes guiam para um anti-horizonte, desvalorizando sua capacidade fazendo-os se sentir excluídos e discriminados, do mesmo modo que Hitler fez com os jovens alemães se sentirem como sendo os excluídos da “comunidade” européia após o fim da primeira guerra mundial, e veja no que deu.

Por isso friso, que tal ato, nada mais é que a formula perfeita para se criar multidões insanas prontinhas para destruir o que seu guia aponte como sendo o grande mal da face da terra. Por isso, sempre quando estamos em meio a uma multidão, quando estamos junto com a maioria frente a um determinado acontecimento, é mais que hora de pararmos para pensarmos nossos atos, antes que seja tarde.

E de mais a mais, é muito fácil comparar um mundo irreal que só existe somente em nossa imaginação doentia como sendo o mundo perfeito, pelo simples fato de que no império da imaginação tudo é possível devido a ausência das tensões da vida real. Por isso, toda vez que comparamos um sonho com uma realidade concreta, teremos a resposta obvia de que o mundo melhor é o sonhado. Mas quando ponderamos ambas, a partir das categorias do mundo real, veremos que a única coisa que o sonho utópico gera quanto implantado, é um grande pesadelo, visto que, toda utopia nasce do ódio e da incompreensão do que está a sua volta e da covardia e da preguiça de compreender e de enfrentar as falhas de nossa própria natureza.

 

 


O Genocídio da alma

 

É de uso entre os pedagogos apregoarem todas as pragas possíveis ao exercício da memória, dizendo que este método de ensino se resumiria a uma simples e vulgar decoreba. Mas, eu perguntaria então, a que tipo de exercício de cultivo da memória estas distintos profissionais estão a se referir? Ou será que eles crêem que há apenas uma forma de se cultivar esta faculdade essencial para o desenvolvimento do pensamento, como bem nos ensina Platão a mais de 2500 anos?

Bem, para não deixar estas mal fadadas linhas no escuro, lhes digo que há de forma genérica, dois tipos de exercício para o cultivo da memória: a memória mecânica e a memória eidética. A primeira é simples. Para que a pessoa consiga lembrar-se de algo, ela passa a fazer uso de esquemas prontos onde se usam algumas palavras como mecanismos para lhes remeter o intelecto até a informação desejada, que por sua deixa, é realizado sem a menor ponderação, quanto ao que se está fazendo.

Doravante, não entenda a memória mecânica como um simples exercício onde a professora pergunta quem descobriu o Brasil, mas sim, de forma mais ampla e bem como truculenta e maniqueista. Um exemplo desta falta de decoro são as relações mecânicas que se fazem em torno de termos como neoliberalismo e conservador. Sem nunca a pessoa interrogada e mesmo a interrogadora terem lido um autor ou uma obra que seja deste cunho passa a denominá-la de forma mecânica e vazia o que vem a ser estes dois temas. Em outras palavras, define o que não compreende a partir do que não sabe.

Mas, e a memória eidética, o que seria este exercício? Ao contrário do primeiro, neste a pessoa não procurará fazer uso de subterfúgios para obter uma resposta, mas sim, fará uso da memória enquanto faculdade basilar para se realizar uma reflexão sobre um tema sugerido por uma determinada circunstância, visto que, o ato de refletir só é possível mediante a rememoração das experiências vividas e dos conhecimentos adquiridos. Refletir nada mais seria que o ato onde o homem procurará considerar as suas próprias ações, onde procurará fazer seu intelecto tomar conhecimento de si, o que muitos chamariam também de um ato de tomada de consciência. Em outras palavras, aqui o indivíduo procurará através da memória evocar questões entorno do tema rememorado e não simplesmente informações estáticas e vagas de significação concreta.

Se você não exercita o seu lembrar, a sua memória, e não passar a ponderar, a dialogar e a discutir com suas lembranças, com toda certeza você não conseguiria aprimorar o seu Ser e com toda certeza, ficará estagnado. Por isso, sugiro a todos que façam o “dever de casa”, que Platão ministrava aos alunos da Academia: ao final do dia, antes de repousar, procure relembrar tudo que você, viveu e aprendeu e procure sobre estas lembranças refletir e obter nossas lições após este exercício de eidético de memória, que também poderia ser chamada de dialética do espírito.

Um homem que se torna incapaz disso, de reconhecer as falhas que habitam em seu âmago, torna sua consciência um limbo, e sua vida, um singrar pelo deserto, onde qualquer vulgata na forma de informação passará a ser tida como ícone de elevada cultura.

 

 


O tribalismo e a modernidade

 

Albert Camus, quando em vida, enfatizou em uma de suas obras (O Homem Revoltado) que jamais o ser humano se embrenharia em uma luta onde estivesse em jogo uma Verdade, mas unicamente, em peias onde se estiver em questão a validade de símbolos que determinados grupos cultuam e reverenciam, que por sua vez, acabam sendo o canal de focalização de suas emoções, que na maioria das vezes seriam as mais baixas que habitam o âmago de nosso Ser, e esta baixeza, por sua deixa, passa a representar o que há de mais elevado. Em outras palavras: uma inversão de valores.

Todos os grupos, todos os aglomerados de massa humana se congregam em torno de símbolos, acabando por vendar os seus olhos diante dos fatos e acontecimentos que nos revelam a verdade, pelo simples fato de que o que lhes convém não é a comprovação ou não de uma verdade, pelo simples fato de estes não estarem a procura dela, mas sim, da legitimação das atitudes tomadas pelo grupo ao qual faz parte, não importando o quão esdrúxula seja as posições tomadas por eles, visto que estes passam a se auto-denominar como senhores da verdade, apesar de sempre negá-la, como faziam os nazistas, os fascistas, e como fazem os comunistas e demais istas que vivem a gritar por todos os rincões deste mundo.

E mais. A verdade dificilmente se revela em meio as multidões, pelo simples fato de todas serem irracionais, pois quando estamos entregues a fluidez destas, não realizamos uma parada em nosso ritmo de ação, para silenciarmos nossa alma e ouvirmos a voz de nossa razão, de nossa consciência. Não paramos e refletimos sobre o que estamos a fazer, como haveria de ser o comportamento de um homem civilizado, mas sim, agimos de maneira meramente impulsiva, instintiva, de acordo com o nível de excitação que as pulsões da multidão nos proporcionam.

Deste modo, se volvermos nossos olhos para a sociedade moderna, a imagem que chegará aos nossos olhos é a de uma sociedade onde as pessoas de um modo geral se entregam ao tribalismo de comunidade emocionais (fazendo uso da expressão do Sociólogo Michel Maffesolli), onde as vidas destas e bem como os rumos de nossa Civilização passam a ser decididos em balbúrdias onde grupos A ou B clamam pela sobreposição dos seus símbolos, mas nunca, obviamente, a verdade nua e crua.

Quanto a esta sociedade decadente, já havia dito também Nietzsche, que a arte existe para que a verdade não nos destrua, todavia, o desprezo pela Verdade, nos leva pari passo para o mesmo rumo, em todos os sentidos, pois como está no Evangelho segundo São João: apenas a Verdade Liberta. Verdade esta que segundo o Evangelho (visto que este Livro Bíblico é profundamente gnosiológico) seria nada mais que a plena revelação do Ser nas coisas.

Por isso, enquanto nós não enquanto grupos, mas enquanto indivíduos continuarmos a votar, a direcionar nossas vidas unicamente em torno de símbolos, a única coisa que veremos diante de nossas vistas será lágrimas e ranger de dentes e em nosso íntimo, apenas frustração por nos darmos conta que os símbolos que tanto acreditávamos, nada mais eram do que semelhante a nós, um legítimo espelho de nossas almas onde se vislumbra apenas pó e sombras.

 

 


Quanto Custa uma Utopia?

 

Uma expressão usada com freqüência por muitos de nós para se referir aos males que assolam a humanidade e dentre estes, destacando-se principalmente o da miséria de grande parte da humanidade em detrimento da bem viver de uma outra parcela de seus iguais é a de Capitalismo Selvagem. Sempre em todo grande “debate intelectual” de botequim surge a dita expressão apresentando-a como sendo a raiz de todas as enfermidades sociais que afetam o nosso tecido social.

O que chama a minha atenção mais ainda é que, tal expressão nada mais é que um cacoete mental, marxista vulgar, diga-se de passagem, que é repetido intensamente por seguidores desta corrente doutrinária, e por muitos, que nem fazem idéia do que seja o conteúdo e o resultado da aplicação dos seus postulados no mundo a fora.

Por isso, apresento aqui, uma outra expressão, esta usada ironicamente por J. O. de Meira Penna, em seu livro Ideologias do Século XX, não para que esta seja repetida como a raiz de todos os males que afetam a humanidade, mas sim e com plena certeza, que afetou boa parte dela no correr do século XX, e que está a afetar muitas no correr desta nova centúria que se inicia, que seria Socialismo Selvagem.

Mas como assim? Não é o socialismo que dizem ser uma doutrina política que se apresenta como uma redentora da humanidade, que propõe-se a acabar com a exploração impingida pelos opressores sobre os oprimidos?
É, só que para tanto, para edificar o seu suposto paraíso celeste aqui na terra, eles simplesmente sacrificaram em menos de 70 anos mais de 180.000.000 (em tempo de paz) de pessoas civis, inocentes. Stalin para coletivizar as terras confiscando-as dos camponeses, ceifou 30.000.000. Pol Pot, que procurava edificar o homem perfeito, que seria o Homem Socialista, conseguiu a façanha de matar 1.500.000 de Cambojanos em menos de 1 ano, lembrando que esta cifra representa mais da metade da população do Camboja. Isso sem falar do El Comandante de Cuba, que encarcera todo e qualquer um que for petulante o bastante para dirigir uma palavra que seja contra a sua pessoa e bem como ao seu regime despótico obscurecido. E as FARC que acobertam e bem como auxiliam o narcotráfico internacional! E a China “Popular”, que sacrifica por ano cerca 150.000 Cristãos e Budistas pelo crime hediondo de simplesmente confessarem estas Doutrinas Sacras? E a Coréia do Norte, onde burocratas fofinhos vêem seu povo penar e definhar de fome?

É óbvio que no pensar dos crentes desta pseudo igreja da libertação, estes homens, não eram socialistas, mas sim, ditadores que negaram o evangelho segundo Marx. Estes nunca reconhecem os seus erros e muito menos os assumem, preferindo justiçá-los com alguma desculpa chinfrim, como a que consta no livrinho de Paul Singer — O que é socialismo hoje — onde o mesmo tiro o corpinho fora, diante dos crimes do socialismo, quando afirma que: “...um regime cujas características não satisfazem tais anseios, ou seja, que proporcione aos seus trabalhadores condições econômicas, sociais e políticas de existência, que não são as oferecidas pelo capitalismo em seu estágio mais adiantado, não superou o capitalismo, e portanto não pode ser considerado socialista (p. 19)”.

Aí eu me pergunto, que desgraças mais deverão ser impingidas sobre a face deste mundo para que estes cidadãos se convenção de que os frutos de sua incompreensão do mundo, leva apenas para desgraça em massa mas não para a libertação? Que males mais deverão ser realizados para edificar a sua dita utopia?

 

 


Os ecos no desfiladeiro

 

Mário Ferreira dos Santos, um dos maiores nomes de nosso pensamento filosófico, dizia-nos quando em vida que um homem para ser livre, deveria ser como a um guerreiro, um homem que não foge dos desafios que a vida lhe apresenta, sem procurar alguém para responder por ele, mas sim, respondendo por si só diante do algozes que anseiam por fustigá-lo.

Diante do dito deste grande filósofo anarquista e Cristão, podemos vislumbrar algumas observações quanto ao último pleito eleitoral que acabaram por nos revelar que o mesmo não foi a eleição mais democrática e livre de toda a nossa história. Digo isso não pelo fato do senhor Luiz Inácio da Silva, vulgo Lulá-la, ter sido eleito para ocupar a cadeira mais cobiçada desta República, mas pelos motivos e pelo discurso que acabaram por elegê-lo, os quais também iriam eleger qualquer um dos outros três Cavaleiros do Apocalipse ou até, quem sabe, um dos dois aprendizes de feiticeiros, se a circunstância fosse outra.

O que faz estalar os meus olhos é justamente a atmosfera cultural que acabou por impelir este grupo de homens para o poder, onde não se procurou um governante que apresentasse um plano de Governo para a Nação, mas sim, um plano de governo para o governo, e nada mais.

Quanto a este ponto, lembro uma passagem dita por um outro filósofo libertário falecido faz poucos anos, o grego Cornélius Castoriadis, que dizia que o processo eletivo é muito semelhante a Comunhão praticada pelos Católicos onde os eleitores depositam o seu voto em uma urna, com a mesma “fé” e esperança que os segundos quanto estes estão a comungar um pedacinho massa como se fosse o Corpo de Jesus Cristo.

Digo isso com o devido respeito ao Rito, pois compreendo o significado simbólico da Comunhão. Porém, crer que poderemos transformar o país, que poderemos mudar o rumo de nossa nação para o bem ou para o mal com um simples voto de cabresto (pois para mim o voto obrigatório não é nada mais que isso), não passa de uma crença mundana e vazia, visto que, não serão as decisões tomadas por um homem e um grupinho de Burocratas que irá mudar os rumos de nosso país, será sim, o consenso e a ação de milhares. Essa é que é a carvoeira da História.

Para complementar o dito por Castoriadis, os interesses que levaram fulano escolher beltrano como governante, não foram tentativas de afirmar a dignidade do ser humano enquanto um ser livre, por assumir-se responsável por si, pelos seus atos e bem como pelas conseqüências destes. Houve sim, uma atitude totalmente contrária a esta, onde boa parcela da população procurava candidatos que prometessem se responsabilizar praticamente pelas suas vidas, negando assim, o princípio de sua natureza mais elevada, que seria o seu livre caminhar.

Será necessário, pergunto eu, que o Estado intervenha nas relações sociais para que resolvamos, por exemplo, o problema da fome e do desemprego. Eu digo não apenas que não, mas, que a intensa intervenção governamental apenas agrava mais ainda estes três males que assolam esta nossa Pátria Brasilis.

Nunca podemos perder de vista, antes de qualquer coisa, quem são os membros de nossa elite, que por sua deixa, não são os banqueiros, mas sim, os Burocratas que ocupam cargos governamentais. Não? Então meu caro leitor me responda a seguinte pergunta: quem é que fica com mais de 34.5% do PIB de nossa País, quem em?

E mais, todos os programas que são criados pelo governo para erradicar com a fome, necessitam de grandes importância em capital, que por sua vez, não é obtido através de árduo trabalho, mas sim, através de impostos que acabam onerando o setor produtivo. Tudo bem se todo este dinheiro fosse alimentar e educar todos aqueles que tem fome de pão e de palavra, mas o que me causa repulsa é o fato de que boa parte desta verba é utilizada para custear as despesas e regalias de um bom tanto de burocratas que ao invés que auxiliarem na resolução deste grave problema, acabam sim, apenas complicando-o mais. Mas, como nós preferimos que alguém ajude o próximo a se rastejar, negando assim a nossa obrigação (no sentido Kantiano) para auxiliá-lo a se levantar, acabamos por deixar os destinos destes e o nosso nas mãos de fariseus, que fazem sua pretensa caridade com didim alheio.

Doravante, a alta taxação do setor produtivo com impostos como todos nós já sabemos oneram o setor produtivo e este dinheiro, que por sua vez, não é mais destinado a formar poupança para aumentar as linhas de crédito, pois acaba indo parar em programas ditos sociais e assim, reduzindo a capacidade de empréstimo dos bancos e deixando o presidente do Banco Central em numa saia justa: ou ele aumenta os juros para conter os empréstimos para não cairmos assim na ciranda louca do imposto inflacionário (emissão de papel moeda sem lastro) ou, baixa os juros e acaba levando o país a dançar de novo no ritmo da ciranda da inflação.

Aí pergunto: sentimentalismo farisaico ajudou a resolver o problema da fome e do desemprego? Não. Pelo simples fato que foi esperado que alguém que estava muito distante de nossos problemas pudessem resolvê-los e com este mesmo sentimento que acabamos por eleger o atual Presidente.

Todavia, preferimos atribuir a nossa responsabilidade a outrem, só que, desta maneira, nós acabamos por negar a nossa liberdade, a nossa soberania enquanto pessoa, como nos lembra Edmund Burke ao dizer que: “os homens estão preparados para a liberdade civil na proporção exata de sua disposição a controlar os próprios apetites com cadeias morais... A sociedade só pode existir se um poder de controle sobre a vontade e os apetites for controlado em algum lugar; e quanto menos houver dentro de nós, tanto mais haverá fora de nós.

Pois está ordenado na eterna constituição das coisas que os homens de mente despreparada não podem ser livres. Suas paixões forjam suas próprias algemas”.

Acha que não? Então de uma olhadinha nas pessoas que acabam sendo contempladas por estes programas e veja os estragos causados em sua psique, na constituição de sua estrutura de valores e vai ver, gradativamente, uma pessoa viciada na dependência Estatal.

Casos de Paternalismo Estatal existe as pampas no história universal, mas não há caso mais ilustrativo do que a Lei dos Pobre da Inglaterra de 1597, onde o Governo inglês passou a se responsabilizar pelas pessoas miseráveis e inválidas. Com o passar do tempo, ao invés de diminuir o número de miseráveis e mesmo de inválidos, estes aumentaram, chegando inclusive ao ponto de haver pessoas que se auto-mutilavam para obter o benefício de viver sem trabalhar encostado nas largas costas da Lei Inglesa.

Do mesmo modo que nos dias de hoje, onde um ex-barrageiro relatou-me que seu irmão presenciou dois amigos seus cortarem os dedos um do outro (previamente anestesiados com medicamento e algo mais, obviamente). Todavia, não o fizeram para imitar o Presidente (que na época era apenas um rés pretendente), mas sim, para poderem se aposentar por invalides, de modo similar aos casos registrados na Inglaterra do século XVI.

Por isso, questiono a relevância positiva dada pela mídia ao último pleito eleitoral, que nada mais foi, que uma luta entre patrimonialista, Estatólatras que se apresentaram como os libertadores do povo brasileiro, onde o eleitorado ansiava não só por alguém para depositar a sua confiança, mas para que tome para si as responsabilidades que são suas.

Lembramos aqui, que todos os grandes tiranos, nunca proclamaram querer sucumbir com o povo que se propunham governar, mas sim, libertá-los. Se diziam francos defensores da liberdade e da justiça pessoas como Napoleão, Lênin, Stalin, Hitler, Mussoline, Ho Chi Min, Mao Tse Tung, Pol Pot e Fidel Castro.

Todas estas figuras se apresentavam como um fio de esperança na vida de inúmeras pessoas que resolveram não ouvir os conselhos dados pelos calafrios da espinha e, devido a isso, todos nós sabemos no que deu.

Quanto ao nosso amanhã, depende de nós e da porcentagem de responsabilidade que iremos assumir diante dos desafios que nossa nação terá de enfrentar, visto que, quanto mais chamamos para nós a responsabilidade pelos males que estão a nossa volta, maior é a nossa autoridade perante o mundo e, quanto maior a responsabilidade que depositamos no Estado ou em outrem, menor será nossa credibilidade quanto aos rumos do País, e bem como, de nossas vidas.

 

 


As abóboras e o andar da carruagem

 

De longa data que ouvimos falar e até mesmo falamos que o Estado procura vestir a imagem de um Grande Pai, protetor de todos os seus filhos, que por sua vez, seria toda a gente que vive sobre as terras que estão sobre sua alçada.

Todavia, nos esquecemos que quem coloca os ditos “mequetrefes” na posição em que se encontram, onde estes transformam seus cargos em instrumentos de manutenção de seu status quo, na maioria das vezes são os mesmos que os chamam mais tarde de “mequetrefes”, e coisas do gênero.

Mas, como nos lembra o adágio popular, todo o povo tem o governante que merece e neste caso, nós merecemos todos os governantes que tivemos, com todas as suas limitações e defeitos de fabricação, pois estes, nada mais eram que os correspondentes de nosso imaginário, figuras que tanto nosso ser clamava. Podemos dizer que o processo eleitoral nada mais seria, nestas condições, que um grande espelho de Narciso, onde o eleitorado envaidecido se deixa seduzir pelo seu próprio reflexo na figura dos candidatos que se expõe na vitrine eleitoreira.

E como é de costume, com o passar dos anos os espelhos não vão apenas refletir a imagem que está diante deles antes de irmos para o dito grande baile da “democracia”, mas também, aquela imagem cotidiana que muitas das vezes tanto nos causa repúdio. Talvez, por vermos nossa cara lavada e deslavada a pairar nas águas pálidas da lagoa dos arrependidos.

Podemos até mesmo ousar a dizer que na maioria dos casos, onde vemos um cidadão a esbravejar contra tudo e contra todos, não o faz pelo fato de este ter se deitado no Cálice de Apolo, mas sim, por simplesmente estar sedento de inveja do outro que está a fazer aquilo que ele gostaria de estar fazendo: legislando em causa própria e se fazendo de leitão do orçamento para também poder mamar deitado na polpuda leitoa das verbas públicas.

Parece absurdo, mas se prestarmos bem atenção nos conversas fiadas, poderemos perceber nos deslizes que são dados nestes diálogos informais, onde o cidadão moralista, ao mesmo tempo que critica outrem por estar desviando verbas públicas, por estarem fazendo mau uso do que é patrimônio comum, olha para os regalos que este obteve com esta situação e diz: pena que eu não posso ter um carrão deste ou, um casarão como aquele.

Talvez seja por este motivo e por outros, que poderíamos definir o cenário político atual de nossa nação como sendo o reino das decepções e da desconfiança . Não simplesmente para com os homens públicos, mas sim, para conosco mesmo, pois passado algum tempo, nos lembramos que somos os maiores responsáveis pelos revezes que estamos a viver. E é isso que nos deixa tão enlouquecidos! Saber que o trem está desandando e que os maiores responsáveis somos nós mesmos e, provavelmente seja por isso que nos silenciamos de forma omissa na indignação barata.

E assim segue a carruagem com inúmeros cães a ladrar, curando a ressaca da carruagem das ilusões, a ovacionar a nova coleira para mais a frente fustigá-la, como se esta fosse um castigo imposto e não como fruto de sua vil escolha.

 

 


Sociedade civil e seus calos

 

A sociedade brasileira desde sua aurora vive a espera de um milagre. Nossa história econômica poderia ser resumida em uma epopéia de milagres endêmicos, como nos lembra tanto Paulo Arantes como J. O. de Meira Penna, e justamente no que tange esta questão é que está a meu ver o cerne de nossa deficiência enquanto nação e bem como enquanto Estado.

Deste modo, podemos atinar nosso olhar para a compreensão das veredas que levam ao desenvolvimento de uma nação se volvermos os mesmos não simplesmente para as riquezas que as terras desta lhe ofertam e nem também, unicamente para as capacidades que este povo apresenta, mas sim, no interstício destes dois fatores, que nada mais seria que o desafios que lhes são apresentados.

O ser humano quando não se sente desafiado a algo, esmorece, padece ou simplesmente vegeta, e neste sentido, vemos em nossa história econômica este triste dado que foi uma procissão de milagres seguidos de tragédias, com novos milagres que vinham a suprir as carências geradas pelas tragédias, visto que, esta é de forma Apocalíptica que nós caracterizamos os desafios que o mundo nos apresenta.

Se partirmos desde o início de nossa constituição histórica, quando começou a haver os primeiros contatos entres os nativos desta terra de Pindorama e os Lusitanos, vemos sempre esta mãe gentil, ofertar aos seus “novos filhos” regalos para compensar o aspecto infernal de seu clima escaldante. E lá foi a procissão de salvacionista oscilando entre benesses e fatigas. Pau-brasil, pedras preciosas, ouro, açúcar, café, Revolução de 30, 50 anos em 5, milagre brasileiro, República Nova, Estado Patrimonialista...enfim, sempre uma nova solução do “além” se apresentava para nos “salvar” quando começávamos a aceitar os desafios que a contingência vivida nos apresentava.

E bem por este motivo, que este humilde missivista observa com olhares cépticos o novo governante, como também, observava com o mesmo olhar incrédulo, os demais cavaleiros do apocalipse que concorriam a tão disputada cadeira, pois todos, ao invés de se apresentarem como candidatos prontos a desafiar os cidadãos desta terra apresentavam, e bem como o eleito apresenta, não desafios, mas sim, bajulações e caminhos que nos levarão a presença de um novo milagre, que o mesmo convencionou chamar de pacto social, junto ao Estadossauro.

Todavia, não sou estúpido como eram os oposicionistas do governo FHC, que durante longa data, o crucificaram, ou melhor, o malharam como um Judas, pois, não creio na centralização do poder, pois desta a única coisa que advém é penúria para toda a coletividade.

A solução para nossas chagas não está nas mãos do líder operário, agora Presidente da República, mas sim e principalmente, nas mãos dos mais de 5.600 Prefeitos e lá se perdem as contas do número de Vereadores que estão junto aos Municípios, e bem como o número dos munícipes que são a base da organização de uma nação.

Por isso digo: as reformas que a Pátria tanto clama, devem emanar de baixo, pois só a partir do momento que estivermos calcando nossos pés em firme solo, é que poderemos ousar querer tocar os Céus.

 

 


A Democracia da CUT

 

O Presidente Nacional da CUT, o seu João Antônio Felício, sentiu-se ferido com as declarações feitas pela atriz Regina Duarte no início do Programa eleitoral de José Serra. De tão ofendido que ficou que resolveu dar a ela uma lição sobre democracia e acabou por deixar visível por entre a sua máscara politicamente correta a face totalitária de sua alma.

O texto da Carta era o seguinte:

“O direito de defender os próprios pontos de vista é inalienável. Acreditar que seu candidato, por suposto José Serra, é o melhor, é direito seu e que ninguém questiona.

Também está no campo da total inquestionabilidade seu direito de fazer campanha para qualquer candidato que você queira, o que, aliás, é um direito de qualquer cidadão numa sociedade democrática.

Mas já transcende não só o direito, mas até a dignidade, prestar-se ao papel de terrorista e/ou patrulheira do voto dos que querem mudança, dos milhões de brasileiros prejudicados (o que felizmente não é o seu caso) por um modelo econômico excludente e perverso.

Lula, por sua história e por seu presente, merece respeito; o mesmo respeito, ao menos, com que trata seus adversários.

Você, Regina, é uma figura pública, até então merecedora de todo nosso respeito, mas para que ele continue, você também deve dar-se a ele.”

Para o ilustre petista é uma grande falta de respeito expressar os seus sentimentos quanto a libélula barbuda que é o seu candidato, é uma falta de decoro dizer o que pensa a respeito da estrela rubra, pois para eles, dizer o que se pensa é dizer algo que eles aceitem e concordem e desde que não coloque a público a sua face plúmbea.

Pois eu digo ao senhor, meu caro, que falta de respeito e a postura de boneco Kem, estilo Collor, onde se apresenta uma face colorida, mas em nenhuma hipótese, cogita apresentar ao público a suas ligações com organismos terroristas e narcotraficantes como as FARC’s. Por que os petistas não colocam em seu programa eleitoral as demandas dadas no FORO de São Paulo? Pelo simples fato dos petistas não serem jamais sinceros em suas propostas e em suas atitudes, pelo simples fato de faltarem com o dito respeito para com o eleitorado.

Como Regina Duarte, muitos outros cidadãos brasileiros estão temerosos com a vitória de Lula, ou melhor, da intelectuária que o fabricou, e se ter medo e ser proibido de tê-lo e de demonstrá-lo, de compartilhar as inquietações que minam a sua alma é passa a ser tido como uma falta de respeito, o que nos restará não mais será a nossa frágil democracia que já se vê fustigada de gatunos e falsos moralistas, mas apenas uma Cuba a Brasileira.

 

 


Muiraquitã e a salvação da Nação

 

Uma coisa que me impressiona é a forma como se portam os pseudo-críticos que bradam aos quatro ventos sobre o aumento da taxa de juros em nosso país. Realmente esta é uma medida extremamente desagradável, mas que, não se explica de forma tão chula e tosca como muitos entendidos no assunto que temos presentes neste país dirigido em suas partes diminutas por Macunaímas que engrossam as forjas desta idiocracia que impera de forma tão pujante.

Por isso eu pergunto: por que os juros sobem? Só por que os banqueiros assim desejam? Obviamente que não. Primeiramente não podemos nos esquecer que dinheiro, como tudo, tem o seu valor, que chamamos correntemente de poder de compra. Mas como é isso? Bem, todos sabemos que o caviar é uma iguaria caríssima, não pelo simples fato de ser o que é, mas devido a sua disponibilidade. Se a oferta de caviar aumenta-se na mesma proporção que as batatas, obviamente que o seu preço, o seu valor, irá despencar e este produto de luxo seria vendido ao preço de batatas. Idem para com a moeda. Quanto maior a emissão de papel moeda sem o seu devido lastro, menor será o seu valor. A isso damos o nome de inflação. Correto?

Pois bem, e onde entram os juros nesta história toda? Um banco quando realiza um empréstimo, está entregando dinheiro real, um capital existente, na crença de que o seu cliente irá lhe pagar com um capital em potencial, que será o possível lucro que ele obterá com seu investimento. Mas, ao invés de o banqueiro querer participar dos lucros que seu cliente poderá obter com seu possível (e muitas vezes apenas suposto) grande negócio, ele abre mão em nome de um taxa, denominada juros.

Muitas das vezes esta se torna um tanto que salgada, mas o por que disso? Bem, para que a moeda não tenha o seu valor depreciado, faz-se necessário que se emita apenas a quantia de papel moeda que corresponda ao valor de seu lastro. Mas se a demanda por empréstimos for maior que a oferta de papel moeda? Bem, para se evitar a emissão enlouquecida de papel moeda (sem lastro e consequentemente sem valor), tem que se restringir à demanda de empréstimos. Para tanto, se elevam as ditas taxas de juros.

E se baixarmos as taxas de juros, não haverá um maior aumento de investimento no setor produtivo? Claro, e com toda a certeza, porém, apenas à curto prazo. À longo prazo, nós teremos um aumento da inflação, devido a emissão desenfreada de papel moeda sem lastro e pelo triste fato de que a boa parte dos empréstimos não serão pagos e outro tanto até será, mas o investimento feito não conseguirá dar bons frutos.

Mas aí, meu caro leitor, você deve estar se perguntado como que se faz para se aumentar a demanda de capital para que se possa aumentar os empréstimos e que se diminua as taxas de juros? É simples, basta primeiramente que o tiranossauros rex diminua a sua taxa de roubo do setor produtivo que chega a raia de 35% do PIB e de contra partida, diminua os investimentos nos projetos sociais populistas que são metidos pelo governo e que com toda certeza continuarão a existir com o próximo governo e até quem sabe cresçam, o que é muito provável.

Tomando esta medida, conseguiremos o feito de elevar gradativamente a poupança e assim, poderemos aumentar os empréstimos e bem como diminuir a (bem)dita taxa de juros, pelo simples fato de os recursos que antes eram aplicados em obras populistas de políticos de índole pífia, que em nada dão de retorno a sociedade, a não ser viciar as massas desvalidas com a caridade que estes fariseus modernos fazem com o dinheiro alheio.

Alias, com o nosso dinheiro, passaram a ser investidos no setor produtivo e aí sim, reaquecendo a economia e gerando os tão ovacionados empregos que no momento se fazem ausentes. Claro que esta atitude deve vir pari passo de uma profunda reforma do Estadossauro e todos nós passarmos a planejar nossas vidas dentro de uma perspectiva de longo prazo.

E esta razão longa, é justamente o que a maioria quase que absoluta não tem, por fazerem apenas o uso em seus pensamentos de uma ponderação entre um possível coeficiente eleitoral do que e seu tempo de mandato do que, considerar os seus atos a longo prazo. E o pior que para a maioria da população, o bom governante é justamente aquele com uma razão curta. Bem, cada povo com a sua auto-imagem refletida em seu governante.

Quanto a questão da pobreza, creio que se todos nós assumirmos nossa responsabilidade diante dela ao invés de atribuirmos esta para o Estado, com toda a certeza, além de minimizarmos este problema, conseguiremos uma maior integração do tecido social, o que também a longo prazo nos dará bons frutos como o comprometimento mútuo onde todos os cidadãos tomarão conhecimento das inúmeras realidades brasileiras, dos inúmeros Brasis, como nos falava Gilberto Freire.

E por fim, de nada adiantará aumentar as nossas exportação enquanto este mostrengo Estatal continuar a reter a maior parte de nosso PIB, sob a desculpa esdrúxula de melhor distribuir a riqueza de nosso país.

Para darmos uma guinada em nossa economia, temos que perder este nosso jeito Macunaímico que crer que todos os nossos problemas com proventos se resolverão com um passe de mágica. Por isso digo aos inúmeros Macunaímas que habitam em nossas almas, que nossos problemas só se resolverão, com muito sacrifício, trabalho e criatividade e não, na crença dos poderes fabulosos de uma mera transição de poderes após um pleito eleitoreiro, como Macunaíma, com sua pedra Muiraquitã.

 

 


Notas sobre educação

 

As novidades importam menos que a verdade, assim nos lembra o prudente Jorge Luiz Borges. Pena que, muitos dos meus pares de ofício não dariam jamais ouvidos a este homem.

É comum ouvirmos no meio pedagógicos muitos professores e pedagogos a clamarem aos quatro ventos que devemos transformar a educação, que devemos estar sempre abertos as novidades, que devemos inovar, e etc. e tal. Não digo que não devemos estar abertos às novidades. Devemos sim, pois creio piamente nas palavras do Apostolo Paulo, onde o mesmo nos ensina que devemos experimentar de tudo e ficar com o que há de bom. Mas o experimentar de tudo não implica em adotar a toda e qualquer novidade, visto que nem tudo que reluz é ouro.

Já pararam para pensar o que é uma vida preza ao devir das novidades? Basta imaginar uma adolescente doente por não poder estar vestindo a última moda, basta imaginar um professor ou qualquer pessoa em idade adulta, incapaz de tirar uma conclusão por conta própria, quando se vêem diante de inúmeras informações e argumentos que apontam inúmeros prós e contras sobre um assunto, por depender sempre da última palavra que deve ser dada por uma das estrelas desta seara (a educação, no caso), sem falar que muitos destes falam sobre os mesmos sem pleno e seguro conhecimento da causa.

Neste sentido, lembramos também que, grande parte dos escritos sobre educação, sofre de um grave mal, que o historiador Lucien Febvre nominava de “anacronismo histórico”. Mas o que é isso? Seria simplesmente quando nós olhamos para um tempo passado e projetamos sobre ele os valores e conceitos de nosso tempo presente. Ou seja, a partir do momento em que fazemos isso, nós estamos iniciando o processo de compreensão da realidade de forma totalmente avessa, pois se você quer compreender as razoes que motivavam um grupo de pessoas, você deve se perguntar primeiramente a partir das razões destes e não, a partir das suas, pois deste modo, a pergunta estaria equivocada e consequentemente, jamais nos traria a resposta à inquietação que está a nos fustigar.

Por isso, quando procuremos ler a obra de um Comenius, por exemplo, não devemos lê-lo como se ele tivesse lido Piaget, Hume, Kant, Hurssel, Camus e tutti quanti, mas sim como ele sendo um homem de seu tempo, com as limitações de seu tempo e bem como com as preocupações de sua época, para apenas depois pensá-lo a partir de nossa situação histórica. Pois se não for assim, você descobrirá o que você pensa a respeito de Comenius (às vezes nem isso), mas jamais o que ele pensava a respeito da educação.

Um bom exemplo de anacronismo histórico, e bem como de estupro da linguagem, é a postura de muitos educadores que bradam eufóricos sobre as ditas escolas tradicionais. A impressão que tenho é que estes nunca pararam para refletir que as tais concepções da dita escola tradicional surgem justamente com o advento da modernidade. Ou seja, de tradicional só tem o nome. Mas então, o que seria a educação tradicional?

E mais. Vamos um pouquinho mais longe. Antes de nós pensarmos algo a partir de nossos postulados, você já procurou pensar a você mesmo a partir das categorias deste? Imaginar após a leitura de uma obra como esta, como que um Comenius, por exemplo, veria a educação do mundo de hoje, que pareceres ele daria diante de um educador como você? O que um Aristóteles teria a dizer sobre o nosso mundo? E um Sto. Agostinho?

O problema é que nos acostumamos a nos ver como se estivéssemos no estágio mais avançado de nossa civilização e como inquisidores profanos nos arrogamos o papel de a tudo julgar, a todos os povos de todos os tempos, mas jamais sermos julgados pelos critérios de outrem, por cremos que somos a nada da civilização. Apedrejamos as gerações passadas como as principais responsáveis pela situação de penúria de nossa educação, mas, somos incapazes de assumirmos a nossa responsabilidade pelas inúmeras debilitações que nada mais são do que fruto de nossa ignorância “modernamente aprimorada”, de nosso olhar anacrônico de desdém frente aos problemas que nos circundam, e diante das problemáticas levantadas por aqueles que a muito deixaram este mundo.

Alias meu caro, o que é um problema, o que é problematizar algo? Por um acaso você não está com problemas para meditar sobre esta indagação levanta por este humilde missivista, está?

É, a pesar de tantos modismos e banalidades, a verdade ainda mantém o seu brilho ofuscante, mesmo diante da opulência de nossa vaidade.

 

 


O olhar mórbido dos ruminantes

 

Petrarca em uma pequena obra sua procurava nos advertir das diferenças que existem entre um amigo e um bajulador, visto que, para uma alma desatenta, a diferença entre ambos parece ser praticamente imperceptível, mas, se atinarmos o mínimo que seja, a nossa percepção, vislumbrará em nossa vista, a face nua e crua da personalidade das pessoas que estão próximos de nós.

Doravante, se entendermos o estudo e o ofício de ensinar como um profundo sentimento de amizade pelo saber, veremos que este anda muitíssimo mal acompanhado.

Primeiramente lembremos que uma amizade para ser valorosa tem que ter sua finalidade em si mesma, pelo que a pessoa é em si e não pelo que ela pode vir a nos proporcionar, correto? Pois bem, quando aos ditos senhores do saber, estes estão a levá-lo a perder a sua graça, pois basta dizer com quem andas que eu direi quem tu és, não é assim que está escrito?

É típico ouvirmos em conferências, e bem como na fala cotidiana de muitos educadores, que devemos procurar ensinar conhecimentos que os alunos possam dar alguma utilidade, que se deve levar ao conhecimento do aluno saberes que ele vá usar hoje, sem aquele bla bla bla de que ele irá utilizar um dia.

Todavia, algo que não atina à retina destes senhores e senhoras é que os saberes que, se assim podemos nos referir, são imprescindíveis para a existência humana não são úteis, mas sim inúteis, ou melhor, dizendo: estão além da utilidade, saberes os quais levam o ser humano a transcender a sua realidade finita e patética.

Ou então me digam: qual a utilidade da poesia e da literatura? Qual a utilidade das artes plásticas e da história? E da Religião e da Filosofia? Nenhuma, pois estes saberes não são para utilizarmos no nosso dia a dia e nem para pensar simplesmente o nosso cotidiano, mas sim, para refletirmos e ponderarmos para além do agora, para assim, transcendermos a dor e a felicidade.

Deste modo, ensine a um garoto apenas a utilidade de algo, e ele um dia pode vir a matá-lo com o saber raso que lhe foi transmitido, mas, ensine-o isso, juntamente com a importância singular que cada indivíduo tem, e ele dará a sua própria vida para salvá-lo.

Será que nos dias de hoje alguém se sacrifica por outrem pelo simples fato dele ser uma pessoa plena de dignidade? Provavelmente não, visto que em tal ato não há utilidade prática alguma, e nem eivamos nenhum regalo de imediato para nossa triste condição de neo-ruminantes.

 

 


O olhar mórbido dos ruminantes
Parte II

 

Quem não cola não sai da escola, dizem os alunos em seu vil adágio, mas em contrapartida, não entram no império da maturidade, como muitas pessoas que estão com uma idade biológica avançada.

Lembro aqui, que entendemos por maturidade o mesmo que Aristóteles, onde o mesmo ensinava aos seus discípulos que a maturidade consistia em se aprender com a experiência, a nortear a sua alma pelas veredas retas e não por caminhos oblíquos.

Mas, nesta república de botocudos, ser tido como uma pessoa madura é quase que sinônimo de malandragem. Se você é uma pessoa esguia na malícia e que como dizem, que sabe se dar bem na vida e ceifar dela os mais deliciosos regalos, você será tido como uma pessoa que sabe viver, experiente.

Todavia, aquele que prefere o caminho reto, uma vida honesta e contida quanto aos devaneios que os labirintos deste por vir nos oferta, passa a ser visto como uma pessoa...fora de padrão, boba, se assim nos podemos nos referir.

Um bom exemplo disso, nós podemos verificar no “código moral” da gurizada, onde sinônimo de esperteza é o aluno que cola, que ludibria a si mesmo na crença de que está a enganar o professor. Esquece o mancebo que quem está fingindo (e se prejudicando) que aprende é ele e não o professor (o fingimento dele é outro).

E pobre do aluno que se mantém de forma reta diante dos estudos, se dedicando aos afazeres que lhe são destinados, se dedicando a sugar da herança da civilização o mais tenro mel que é o saber. Este infeliz passa a sofrer na maioria das vezes todas as formas de discriminações possíveis (os CDF’s), pelo crime hediondo de ter sido honesto consigo mesmo e com a sociedade, por cumprir o seu dever.

E este ciclo vicioso continua o seu caminho, e o aluno colador se torna ou o candidato degradado a um cargo político, ou o cidadão, que vê nas eleições um momento de ouro para se dar bem na vida. O aluno que colava, acaba por se tornar o cidadão que sonega seus impostos, que desrespeita as normas de trânsito e que depois, ainda tem a cara de pau de apontar o seu dedo acusador para chamar os membros da classe política de corruptos, do mesmo modo que, quando era mais moço, culpava o seu professor pela sua reprovação.

Não se ensinou ao garoto que amadurecer é acima de tudo se assumir responsável pelos seus atos e pela conseqüência deles e isso, só se aprende quando passamos a refletir e a ponderar sobre nossas experiências, sugando este doce favo de mel, que é a saberia. Mas, é óbvio que este favo está envolto de inúmeras abelhas, prontas para ferroá-lo, visto que, aprender e amadurecer dói, pois, o caminho da verdade é um caminho de pedras e não de flores. (continua)

 

 


O Olhar Mórbido dos Ruminantes
Parte III

 

Os adágios populares sempre revelam verdades perenes sobre a constituição da natureza humana, verdades universais que transcendem as limitações geográficas e bem como temporais, mas também, estes pequenos aforismos que emanam da boca de populares, muitas das vezes revelam aspectos doentios de nossa constituição psicológica.

Um exemplo disso e que alias, mais nos interessa neste momento, é o dito: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Estas poucas palavras revelam o quanto que somos hipócritas em muitos momentos de nossas vidas enquanto educadores e enquanto pais. Lembremos sempre que as palavras são mudas e neurastênicas diante do poder silencioso de fala de nossos gestos e estes, como bradam em auto em bom som a sua mensagem.

E quando passamos a ver a educação por este viés, podemos vislumbrar a magnitude de sua problemática. É óbvio que todos nós sabemos da relevância de nossos atos mais corriqueiros influem na constituição dos pequenos, mas por serem tão obvias, a impressão que nos passa é que todos nós fazemos questão de fazer vistas grossas diante deste fato. Mas que fato?

De que a educação de uma criança começa no mínimo dezoito anos antes de seu nascimento, a partir de nossa própria educação, de nossa formação enquanto ser humano, pois não podemos nos esquecer que o adulto sempre será o espelho da criança, onde este mancebo procurará os exemplos, os valores e o que ele julga serem virtudes aos quais procurará imitar e assimilar, para assim constituir a sua personalidade.

E é justamente nas idades mais tenras que nós forjamos as bases de nossa personalidade, visto que, a criança nada mais é que o pai do adulto, como nos lembra Platão. Deste modo, como queremos apontar uma possibilidade de grandeza para os nossos pequenos sendo o que apresentamos como símbolo de virtude, não passam de um amontoado de massa humana viciosa? Pergunte-se o que há no centro de uma sociedade, que valores ela julga serem mais elevados para o reconhecimento público de uma pessoa que você terá desnuda a sua face.

Como pessoas como nós, que sempre procuramos dar um jeitinho sórdido em tudo, uma sociedade que destaca uma pessoa pelo seu protuberante glúteo, que supervaloriza o emotivo (barato) em detrimento da razão? Quais as virtudes de uma sociedade que em 2001/2002 gastou mais em peitos de silicone e viagra do que em pesquisas sobre o mal de Alzheimer?

E é esta a sociedade que quer educa as idades mais tenras, que proclama um mundo melhor. Pobres pequenos! Se a educação é a herança de uma civilização, obre deles que recebem este fardo chulo, e pobre dos mortos, que tem suas memórias maculadas. E quanto às gerações vindouras, é melhor nem falarmos de sua sorte.

 

 


S/cem Soluções

 

Já é lugar comum se ver muitas pessoas a culparem outrem pela sua situação calamitosa, acreditando sempre que o mundo está conspirando contra ele. Uma pessoa quando comete um crime, ela o fez não pelo fato de ter assim optado, mas sim, por causa de um trauma de infância, porque a sociedade o excluiu, ou pelo fato de o sistema lhe limitar as oportunidades, ou porque os gringos são extremamente ricos e nós desgraçadamente pobres.

Engraçado, se a responsabilidade pela minha circunstância, no sentido que Ortega y Gasset apregoa a este termo, jamais é minha, isso quer dizer que eu posso fazer qualquer coisa, sem ter que responder pelas conseqüências que este meu ato trará, correto? Isso quer dizer que eu poderia fazer o que me desse na telha, pois seria eu uma vítima desta trama que foi armada contra minha pessoa? Obviamente que discordo de tal posição, mas para aqueles que crêem no que foi postulado acima, pergunto-lhes: se tudo que muitos indivíduos fazem de errôneo é justificável, por que os mesmos não fazem, como muitos outros que estão em circunstâncias similares e às vezes idênticas, que ao invés de olhar com pesar o mundo a sua volta, estes procuram apresentar uma solução para suas vidas e às vezes para as de outros que estão próximos dele sem destruir a vida de outras pessoas que eles desconhecem?

É claro que, para agir deste modo, urge primeiramente que se assuma como responsável pela sua circunstância e se reconheça como único agente capaz de transformar a sua vida, pois, se assim não agirmos jamais alguém, mesmo que lhe estenda as duas mãos, poderá transformar de forma positiva a sua vida.

Deste modo, a solução para nossos dilemas existenciais não se encontra nos exemplos dados pelos nossos representantes políticos, mas quem sabe, em nossos atletas. Isso mesmo. Estes distintos homens e mulheres que enfrentam inúmeras dificuldades procurando fazer das tripas coração para alcançarem os seus objetivos, que na maioria das vezes não são nem um pouco pequenos.

Estas pessoas não dão simplesmente 100% de seu potencial, mas sim, 110% ou mais de si. E é isso que faz a diferença entre um povo vencedor e um que se faz de coitadinho. Vocês pararam para reparar a força que havia no olhar de um atleta como o Ronaldo, quando estava disputando uma partida na COPA passada? Esta força não vinha tão somente de sua grande habilidade com a pelota, mas principalmente de seu amor pelo que ele faz e pela responsabilidade que ele investiu em si mesmo e sem esquecer, obviamente, do fator que faz a diferença entre a boa-venturança e a danação, que é a autodisciplina.

Por isso digo: entre quem entrar após este pleito, nós brasileiros só conseguiremos solucionar os nossos problemas que a várias centúrias urgem por soluções, quando começarmos a não simplesmente acharmos que se nós dermos apenas 50% de nosso potencial já será o suficiente para passarmos e superarmos esta etapa da vida. Ora, isso é pensamento de aluno vadio, que quer levar tudo no jeitinho, nas cochas.

Por isso, para mudar um país, não basta votarmos certo, pois a postura de um governante sempre corresponde à índole de seus governados. Urge que sejamos melhores que nós somos, pois, como nos lembra F. Nietzsche, alcançar um ideal é superá-lo e não nos agarrarmos nele como a um carrapato sedento pelo sangue de sua vítima.

Assim sendo, enquanto continuarmos a olhar para estes como uma desculpa para justificar a nossa dramática circunstância, continuaremos na mesma, pois grande é a alma que é capaz de ser maior que a própria dor e que consegue fazer germinar pujança onde só há aridez lembrando que, o que mais vale não é fazer a diferença e o bem quando se esta no regozijo de uma vida tranqüila (o que não deixa de ter sua importância), mas sim, quando não se há mais esperança e tudo parece levar-nos a decrepitude.

Deste modo, pergunto-lhe meu caro leitor: o que você faz nos momentos de penúria: procura responsáveis, culpados pela sua circunstância ou procura olhar a diante dos horizontes no intento de solucioná-los? Esta é a diferença entre o cidadão CDF e o que a tudo empurra com a barriga.

 

 


As veredas que mais lhe apraz

 

Não há nada de errado em você não ter conhecimento de algo, e assumir isso. Nada mais natural que se responder quando indagado sobre algum assunto que não se tem uma opinião formada quanto ao mesmo pelo simples fato de julgarmos não termos subsídios suficientes para expressar não uma posição definitiva, mas simplesmente, para apresentar um parecer pleno de sinceridade.

Não há nada de errado em você não ter conhecimento de algo, e assumir isso. Nada mais natural que se responder quando indagado sobre algum assunto que não se tem uma opinião formada quanto ao mesmo pelo simples fato de julgarmos não termos subsídios suficientes para expressar não uma posição definitiva, mas simplesmente, para apresentar um parecer pleno de sinceridade, visto que, já nos ensinava o finado Eça de Queiroz, para que possamos ponderar sobre algo e assim ensinar este a outrem, faz-se necessário apenas uma única competência: Saber.

Diante disso, vemos no cenário nacional, verdadeiros usos e abusos no que se convencionou a ser chamado de debate. Pelo que este humilde missivista entende por debate seria uma contenda de idéias, seria quando duas ou mais pessoas, com posições distintas quanto a um determinado assunto e que estas tenham o mínimo conhecimento do que estão falando. Digamos assim: eu levaria algumas idéias e o outro traria algumas outras e realizaríamos uma permuta. O problema é quando um trás algumas idéias e o outro apenas a sua baba enfurecida, como se esta fosse grande coisa.

Deste modo, o que vemos com grande periodicidade são cenas assim, onde grupos de pessoas, todas compartilhando da mesma opinião quanto ao assunto que está em pauta e a isso, eles tão o nome de debate. Bem, no meu dicionário isso se chama consenso, hegemonia, mais jamé, um debate. Porém, estes tipos de cenas se tornaram tão corriqueiras que quando as pessoas se deparam com elas, muitas das vezes para não dizer na maioria, passam a ter uma impressão confusa quando ao que se está sendo exposto ao invés de ter uma visão mais clara da realidade, visto que, o compromisso dos supostos debatedores não é trazer a baila a verdade, mas sim, pura e simplesmente convencer os observadores que eles estão com ela, apenas de na maioria das vezes não estarem. Além disso, nos supostos debates, onde todo mundo tem a mesma posição quanto ao que se está em “discussão”, podemos vislumbrar com clareza a construção de uma imagem maniqueísta da realidade, onde eles, os defensores dos fracos e oprimidos seria os únicos representantes “legais destes”, se auto intitulando como os mocinhos da história, os do bem. E todos aqueles que se opuserem a eles, são mais do que imediatamente tachados de representantes das Potestades das Trevas, de infiéis, ou simplesmente que vão arder no inferno, os reacionários.

Doravante, para auxiliar neste ardil diabólico, se assim pudermos nos referir, que castra qualquer possibilidade de debate, faz-se o uso em larga escala de topus, de lugares comuns da linguagem para denominar, desarmar os seus oponentes, que por sua vez, são meras palavras, slogans que são apresentados como a resposta definitiva para tudo, mas, ao mesmo tempo, não querem dizer muita coisa, para não dizer nada.

Um exemplo disso, são termos com conservador, reacionário, de direita, tradicional, etc. Quando um debatedor apresenta seus argumentos e estes põem em risco a sua posição de baluarte hipotético da libertação da sociedade, este, antes de apresentar os seus artifícios retóricos, faz uma introdução similar a esta: “mas estas suas posições são muito reacionárias!” Automaticamente, esta expressão como as demais que foram apresentadas no início deste parágrafo, acabam por remeter no imaginário coletivo a uma imagem retrógrada, maléfica, superada, o que por sua vez, acaba por desqualificar os argumentos de seu oponente e bem como a sua pessoa e desta maneira, acaba por levar o debate por veredas envoltas de um sentimentalismo tosco, que acaba por obscurecer qualquer argumentação racional.

Para ilustrar, podemos citar o suposto debate quando a ALCA, com o título: Diga sim a vida e não a ALCA. Espera aí, isso é um debate ou um palanque da canhota? Aí reuniu-se algumas pessoas para explanar sobre tão complexo assunto e uma multidão para assistir na esperança de sair dali com uma visão mais clara do que estava em jogo. Doce ilusão!

Uma boa imagem que possamos apresentar a uma multidão pode muito bem convencê-las a acatar as nossas idéias, mas, isso não significa que estejamos trazendo a elas uma visão mais lúcida do que está a nossa volta lembrando que, não é a superficialidade dos discursos retóricos populistas que vos guiará pelas veredas que mais apraz a retidão, esta jamais nos salvará, pois somente a verdade nos salva, como nos lembra o Evangelho segundo São João e, a última coisa que pode emergir em um cenário como este, é a Verdade.

Tal situação em que se encontra o debate em nossa sociedade faz-me lembrar de uma passagem, que conta-nos que uma certa vez um peregrino foi até Roma visitar o Homem que se encontrava à frente do Trono de São Pedro no seu tempo e fora adentrando a Basílica do mesmo Santo, onde ficou abismado com a tamanha riqueza que havia e há dentro desta, cuja beleza é capaz de encantar a qualquer um. Nisso, o Papa chega junto deste simplório peregrino e lhe disse: “como você pode ver meu filho, Pedro não precisa mais dizer que não tem nenhum dinheiro.” Em silêncio, o peregrino passou mais uma vez seus olhos que se faziam luzir diante da beleza do templo e responde calmamente para o Sumo Pontífice: “É, mas também não pode mais dizer para o aleijado levanta-te e anda.”

Pensem nisso senhores formadores de opinião. Nem sempre convencer o outro a acatar e aceitar nossos propósitos significa fazer um bem, pois, sábio é o homem que dobra seus joelhos diante dos fatos, e estúpido aquele, que quer ocultar a verdade em nome de seus desejos, como assim nos lembrou este peregrino anônimo, pois é muito fácil para que o altar da verdade se tornar uma gaiola de um circo de horrores, visto que, é muito mais fácil dominar os homens pelos seus vícios do que pelas suas virtudes, pois cada um segue as veredas que mais lhe apraz.

Tamanha é a fragilidade da verdade. Tamanha é a força da vaidade.

 

 


O anti-horizonte

 

É coisa mais linda de se ver as propagandas politicamente corretas que despontam em nossa sociedade por intermédio dos veículos de mídia. Falam o tempo todo a despeito da tal cidadania, mas, nada explicam a respeito da mesma.

Mas então o que seria esta tão aclamada e ufanada cidadania? Há uma passagem no livro dos Atos dos Apóstolos que diz que Paulo iria ser acoitado por um centurião romano e o Apóstolo mais que depressa grita indignado: “vocês não podem fazer isso! Eu sou um cidadão Romano!” Um superior pediu então para os soldados para que o soltassem e então lhe perguntou: você é mesmo um cidadão romano? E Paulo lhe respondeu que sim e, sem apresentar um documento que seja, para comprovar o que ele havia dito, o soldado romano acreditou.

Esta é a condição prima de ser cidadão: que é a dignidade estampada na face, sem a necessidade de ter de comprovar o que se é com um título ou qualquer forma de documento. Doravante, ser cidadão não se restringe no simples ato de votar e de participar da vida pública da cidade, mas sim, e principalmente, de comungar de alguns valores em comum e vivenciá-los plenamente.

Deste modo, quando o centurião romano olhou para a feição do Apóstolo Paulo, ele não viu simplesmente um homem, mas sim, um cidadão romano, um indivíduo que vivenciava os valores que estavam no centro do Império, em um misto com os valores que estavam acima do Império, que era o Cristianismo nascente.

Deste modo, os valores que muitas das vezes são expostos nas propagandas que procuram estimular a participação no pleito eleitoral, não passam de firulas que não encontram na maioria das vezes, infelizmente, em nosso dia a dia.

Um valor, um princípio em que nós depositamos nossa confiança não é simplesmente um amontoado de palavras que regurgitamos para fora, para impressionar os nossos edis ruminantes. Já nos ensinava Siddharta Gothama, em sua forma simples de ser, que nós somos aquilo que pensamos, que nós somos aquilo que desejamos. Ou seja, o valor que guia o senso de cidadania de nossa gente, de nossa cidade, e bem como o nosso, não é aquele bla bla bla que ouvimos em todos os cantos, mas sim, aquele que nós vemos transparecer nos atos, no jeito de ser das pessoas.

Sendo assim, a cidadania brasileira poderia se resumir em dois tipus ideais: a cidadania da Lei de Gerson e a de Macunaíma. O primeiro tipo é aquele que quer se dar bem, sem medir, obviamente, as conseqüências que seus atos, desde que ele fique por cima da carne seca. O resto é resto.

Quanto ao segundo é tão triste senão mais que o primeiro. Este se alguém lhe pede para pensar, ele já começa a reclamar: “aí! Dói a cabeça! Não quero!” E aí sai pelas ruas revoltadinho com o mundo chamando todo mundo de alienado e coisas do gênero pelo simples fato dos demais não verem em sua demência motivo algum para se empolgar.

Aí lhes pergunto se vocês conhecem alguém que se declare assim? É óbvio que e estes ainda são capazes de explicar as suas supostas posições, digo, te enrolar com uma bela lorota do tipo “isso é para o bem da nossa gente” ou, “devemos lutar contra a ALCA”, etc., mas em nenhum momento fala-se que devemos corrigir os pontos falhos que existem em nossa maneira de viver, visto que para ambos os tipos de cidadãos, os problemas do mundo são males gerados sempre pelos outros, nunca por nós. Santa Imprudência!

Deste modo, se para que se cultive um sentimento sadio de cidadania faz-se necessário que se assuma a condição de liberdade. Para tanto, temos que ser responsáveis pelos nossos atos e por suas conseqüências nunca, depositando toda a responsabilidade em outrem. Mas como preferimos na maioria das vezes, viver sem culpas, nos aliviando do pesado fardo da responsabilidade por nossas vidas. Passamos a ter o paternalismo patrimonialista como liberdade, e o oportunismo vil como cidadania.

Não nas palavras, obviamente. Mas na nossa sutileza de Paquiderme do nosso jeitinho de ser.

 

 


Em pelego de cordeiro

 

Em nosso país já é de praxe que se fale e se condene o que se desconhece, e que se fique morrendo de ódio daqueles que procuram compreender o que está a sua volta para não acabar falando o que não convém. Minha avó chamava estas pessoas de fofoqueira, mas hoje, com as mudanças que nossa sociedade vem a sofrer, recebe o nome de cidadã.

Em nosso país já é de praxe que se fale e se condene o que se desconhece, e que se fique morrendo de ódio daqueles que procuram compreender o que está a sua volta para não acabar falando o que não convém. Minha avó chamava estas pessoas de fofoqueira, mas hoje, com as mudanças que nossa sociedade vem a sofrer, recebe o nome de cidadã.

Não sou contra que se expresse o que se pensa, mas já que vai partir em tal empreitada, o mínimo que se pode exigir é que primeiramente a pessoa se informe não unicamente em panfletos partidários, mas que, se possível for, ler várias fontes com posições distintas quanto ao assunto. Mas, a arrogância aqui foi elevada os status de virtude, e lembro, as sábias palavras de Hugo de São Vítor, onde o mesmo nos ensinava que a primeira virtude para se aprender algo é a humildade de se curvar diante dos fatos para assim poder melhor caminhar na direção da revelação verdade, que nada mais é que o fruto do esforço de captar e compreender o que está diante de seus olhos.

Mas, diante da arrogância estandardizada que coroa parte de nossa sociedade, convido o leitor para alguns dados importantes para melhor compreensão e dois slogans de campanhas políticas que tem tomado a dura cadeira que é dada aos bodes expiatórios, que é a ALCA e o dito Neoliberalismo. Quanto a primeira, sugiro que antes que você meu amigo, deposite a sua assinatura em um abaixo-assinado furibundo, procure visitar o site oficial das negociações onde todas as minutas estão a disposição para estudo (http://www.ftaa-alca.org/)ou, se for ousado o bastante, pergunte aos ditos defensores da pátria, que lhes cite pelo menos quatro obras sobre o assunto que eles tenham lido e que estas não sejam cartilhas de partido para ver se eles realmente conhecem as veredas que eles pretendem guiá-los ou se apenas decoraram algumas palavras de ordem.

Quanto ao outro ponto, este é mais cômico. São inúmeras as pedras que se atiram encima do que chamam de neoliberalismo. Se você tiver tempo, passe pelos corredores dos cursos de economia e dos cursos da área de humanas (ferrenhos críticos desta) da região e pergunte: quais são os autores que eles discutem e você vai ficar pasmo ao saber que estes desconhecem por completo quem sejam os ditos autores neoliberais, apesar, de alguns defenderem e outros condenarem enfaticamente o dito falado. Não só nos cursos de economia como se você perguntar para qualquer um que faça a pose de baluarte de luta contra o “maléfico” neoliberalismo verá, que eles os desconhecem suas teses quase que totalmente.

Perguntem a estes indivíduos se eles conhecem von Mises, F. Hayek e demais membros da escola austríaca de economia? E Eric Voegelin? E Milton Friedman? Aí eu me pergunto: como podemos querer destruir o que ignoramos? Será que estes sabem a diferença que há entre o que é liberalismo e o patrimonialismo tiranossaurico que assola nosso país desde os tempos do Pedrinho tirano?

Por fim, fico a me perguntar como que se pode edificar uma sociedade mais justa a partir de posturas falaciosas? Será que é pedir muito que os defensores de teses A ou B, sejam no mínimo, sinceros e coerentes? Talvez seja, infelizmente.

 

 


A Nau de (des)Caminha

 

Em períodos como o que estamos vivenciando, que é um pleito eleitoral, costumamos comparecer a comícios, comitês, e toda e qualquer forma de balbúrdia, típicas manifestações desta estirpe que ocorrem de quatro em quatro anos em nossa sociedade. E de certa forma adoramos estes tipos de “Festividades”, se assim podemos nos referir, visto que nestes locais, na maioria das vezes temos ao invés da procura por propostas plausíveis para o bom andamento da barca nação, desta confusa República de Tamoios e Tupinambás.

Em períodos como o que estamos vivenciando, que é um pleito eleitoral, costumamos comparecer a comícios, comitês, e toda e qualquer forma de balbúrdia, típicas manifestações desta estirpe que ocorrem de quatro em quatro anos em nossa sociedade. E de certa forma adoramos estes tipos de “Festividades”, se assim podemos nos referir, visto que nestes locais, na maioria das vezes temos ao invés da procura por propostas plausíveis para o bom andamento da barca nação, desta confusa República de Tamoios e Tupinambás, vemos e nos deixamos na maioria das vezes que pulhas com ares de santidade, nos iludam com suas sandices, como se estas fossem versículos que reafirmassem as promessas da Sagrada Escritura.

Nos deixamos envaidecer com as palavras destes homens que se apresentam de forma um tanto que confusa, como libertadores das mazelas, dos fracos e oprimidos pelas potestades das trevas, e de maneira mais obscura e minguada, estes apresentam propostas para a função que é devida aos cargos que se propõe a ocupar, as quais deveríamos aguçar com maior intensidade o nosso ouvir, mas que, por leviandade, quem sabe, preferimos fixar as nossas atenções na possibilidade de sentirmo-nos vencedores através da vitória de outrem.

Pois bem, mas como é muito complicado refletirmos sobre as posições destes distintos senhores, em meio ao calor dos shows de sentimentalismo barato com os mesmos a frente, tangendo multidões embebidas em sua volúpia, cabe a nós ponderarmos algumas observações sobre este fenômeno tão peculiar. Estes acontecimentos são de “fácil” compreensão, pois, sempre que nos encontramos em meio a euforia, dificilmente paramos para refletir quanto as posição apontadas pelos candidatos e principalmente, quanto as posições que nós adotamos e quanto a forma que nos portamos neste período. Todavia, como nos lembra a Sacra Escritura, é nos mais fácil ver o cisco nos olhos alheios que o travessão que está nos nossos e, complementando, como se pudéssemos ver algo com clareza com a visão obstruída.

Nesta ocasião, vem-me a mente, uma breve lição que nos é ensinada pelo grande sociólogo Gilberto Freire, em sua obra Como e por que sou e não sou Sociólogo, onde o mesmo nos diz, que é, digo, era de sua índole, sempre participar da sociedade em sua plenitude. Gostava ele de estar sempre envolvido em todos os grandes acontecimentos da sociedade, desde as festas requintadas da elite pernambucana até e principalmente, das festividades populares.

Julgava ser tal postura imprescindível para se compreender a sociedade, pois, só conseguimos compreender a natureza de uma manifestação social quando nos deixamos envolver por ela. Mas, para que tenhamos uma visão clarividente da natureza dos acontecimentos vividos, ele nos dizia que era fundamental que nos entregássemos também, a longos períodos de solidão e silêncio, nos deleitando assim na voz ácida de nossa consciência, mergulhando em um intenso movimento de reflexões sobre a cena que acabamos de participar nesta peça de teatro que é a vida.

Deste modo, metade da lição nós já fazemos, que é a de participar das festinhas públicas dos candidatos. Mas quanto a outra, que é a de realizar esta difícil tarefa a qual Macunaíma quando era intimidado a fazer reclamava melancolicamente da forte dor de cabeça que sentia, visto que pensar, e principalmente sobre as atitudes que devemos tomar, não é uma das tarefas mais agradáveis que existe nesta vida, e vai ver que é por estas e outras que preferimos nos entregar na maioria das vezes no deleite da assim aclamada pela mídia tupiniquim, festa da democracia.

Vai se ver também que é por isso que o nosso saudoso Machado de Assis atinava em suas palavras, de uma maneira um tanto pessimista, realista talvez, que uma das primeiras coisas que perdemos no meio político é a liberdade, pois para se gozar desta faculdade de nossa natureza o indivíduo deve se responsabilizar pelos seus atos e principalmente, pela conseqüência destes e, para tanto, devemos pensar muito bem no que estamos fazendo, coisa deveras complicada em meio a euforia carnavalesca que envolve este rito de passagem, que decidirá os rumos que esta Nau tomará nos próximos longos quatro anos e, pelas conseqüências que poderão frutificar desta aventura impensada.

Realmente, nestas terras plantando tudo se dá, plantando-se por aqui muitas ilusões, discórdias e iniquidade. E o pior: como dão frutos!

 

 


O lirismo dos gansos

 

Estamos próximos do fim desta procissão de falsos profetas, onde em caravanas circenses, fazem seus espetáculos, suas demonstrações de malabarismos com as palavras, demonstrando grande habilidade em impressionar as multidões com suas consciências individuais sufocadas pelos badalos do momento.

Estamos próximos do fim desta procissão de falsos profetas, onde em caravanas circenses, fazem seus espetáculos, suas demonstrações de malabarismos com as palavras, demonstrando grande habilidade em impressionar as multidões com suas consciências individuais sufocadas pelos badalos do momento.

Por ilusões momentâneas cometemos grandes erros em nossas vidas, mas pior que as ilusões de momento são as ilusões que se enraízam, e passam a ter ares de verdade. Aliás, esta é uma técnica muito usada desde o início de século XX, de repetir incansavelmente uma mentira até que esta tome ares de verdade, ou melhor, até que esta seja aceita como sendo a verdade.

Uma destas pérolas, é justamente um dos slogans de campanha e uma das candidaturas ao mais elevado cargo desta República a baixo da linha do equador e que seus seguidores passam a repetir como bons papagaios a revelação feita pelo seu “Grão Mestre” iletrado, que no caso seria o dito de que ninguém é melhor que ninguém, que tudo é uma questão de oportunidade.

Quanto ao que tange a oportunidade, realmente, todo ser humano tem direito a ter um espaço para desenvolver seus talentos, mas, outra coisa bem distinta é a afirmativa de que ninguém é melhor que ninguém. Primeiro, uma coisa é oportunidade e outra bem diferente é ter aptidão para um determinado feito e em muitos casos ter vontade para tanto. Ops. Esqueci que termos como vadiagem e malandragem são tidos como politicamente incorretos. Fazer o que.

Por isso, com toda certeza haverá aqueles que me tacharão com o jargão de ignorante, de reacionário e dirão que o processo de aprendizagem é contínuo e que nós estamos em constante transformação. Todavia, tal prerrogativa não nivela todos nós em um só patamar, pois se vermos a questão da dita paridade de capacidades nesta perspectiva, veremos do mesmo modo, pessoas em um processo de aprendizagem bem mais adiantado que outras que, por sua deixa, não estão nem um pouco preocupados em elevar seu conhecimento.

Deste modo, vejo neste tipo de slogan, simplesmente a manifestação da inveja dos incapazes. Isso mesmo, quando uma pessoa ou um grupo de pessoa é incapaz de realizar algo que outro consegue, estes procuram justificar sua incapacidade de se aproximar dos feitos deste, apregoando que estão sendo excluídos, e aí, passam a reivindicar não que todos se elevem intelectualmente ao nível do mais aprimorado, mas sim, que os mais sábios sejam reduzidos a idiotice da maioria.

Doravante, como nos lembrava Montesquieu em seus ensaios, muitas das vezes a diferença entre um homem em um ganso é menor que a que há entre um homem e um homem. Mas, uma coisa que este distinto homem não conseguiu imaginar é que os homens gansos iriam reivindicar que os homens se curvassem diante de suas sandices. Coisas do século XXI.

Não me envergonho de dizer que existem pessoas melhores do que eu, no que faço. Reconheço com alegria a genialidade de Bethoven, Bach, Aristóteles, Mário Ferreira dos Santos, Ludwig von Mises, de um J. O. de Meira Penna, Gilberto Freire e muitos outros, pois, no meu vocabulário, o verbete humildade significa reconhecer o talento e a superioridade dos que são melhores do que eu, me espelhando em seus exemplos para assim aprimorar o meu ser. Mas, ultimamente, nestas terras de Joãozinho Trinta, ser humilde significa exigir que alguém que seja mais sábio que você aceite seus devaneios como se fossem manifestações de lucidez.

É óbvio que estas observações feitas por este modesto ensaísta, não agradarão a muitos, visto que não sou populista, e ao contrário dos defensores deste tipo de posições, não vivo de bajulações e muito menos de hipocrisias ditas sobre a desgraça alheia. Sou apenas um cidadão comum que não se deixa impressionar com as caravanas dos desejos, e muito menos com os mercadores de ilusões.

 

 


Palavras ao vento

 

Um dos maiores reclames que vislumbramos no cenário nacional é a postura impávida de boçais, falando grosso, dizendo que você tem de lhes ouvir e respeitar os seus ditos, que a sociedade tem de ouvi-los e aceitar o que estes estão a dizer pelo direito inalienável que todo o cidadão tem de poder expressar a sua opinião.

Bem, uma coisa que este distinto espécime se esqueceu é que do mesmo modo que todo cidadão tem o direito de expressar o que supostamente pensa, o restante da população também tem o direito de não dar pelotas para o nhé nhé nhé que este julga ser essencial para o bom andamento da sociedade.

De mais a mais, uma pessoa para poder exercer este sacro direito que é o direito de opinar, deve, ter primeiramente uma opinião formada sobre o assunto ao qual está a se referir.

Como nos ensinava José Ortega y Gasset, esta coisa que muitos de nós chamamos de opinião, nada mais é que um estranho que habita no âmago de nosso ser. Mas como assim? Simples, meu caro, uma pessoa que por ter ouvido algumas outras falarem a respeito de um determinado assunto, como por exemplo, ALCA e neoliberalismo, passam a não só repetir mas a defender teses que eles não tem a menor compreensão e a condenar outras posições que não tem o menor conhecimento.

É óbvio que esta distinta criatura que se vê como um cândido cidadão consciente de suas prerrogativas dirá que é um indivíduo bem informado, mas, um dos primeiros sintomas da ignorância é justamente a presunção e a arrogância. Em alguns casos ele se justifica em sua própria ignorância e, em outros casos, estes mais requintados, o indivíduo se justifica desqualificando os que tenham uma posição contrária a sua e que cometem o crime inafiançável de provarem que estão falando abobrinhas.

Muitas das vezes, quando um indivíduo exige de uma pessoa que ela se informe melhor do que ela está falando, ela é tachada de arrogante, pois, nesta república caliente, humildade significa que, uma pessoa que conheça bem o assunto aceite as obvias asneiras ditas por um suposto elemento dito esclarecido, mesmo que este segundo insista em dizer que o primeiro esteja errado. Humildade neste país é a malícia se sobrepor a Sabedoria.

E, como somos uma sociedade onde todos nós procuramos cultivar uma determinada imagem, temos também que apresentar uma imagem de pessoas sensatas, preocupadas com os descaminhos de nossa sociedade. Mas, como a sensatez exige um mínimo de humildade diante dos fatos e diante da verdade, o que se apresenta como uma postura de lucidez nestas terras de Caminha, é a de uma pessoa que se entrega ao deleite de um profundo sentimentalismo a gritar slogans e palavras de ordem como se estes ditos fossem conceitos rigidamente comprovados.

O ato de falar é muito fácil e, do mesmo modo, extremamente falível por expressarmos o que vem em nossa telha, por demonstrarmos primeiramente o que sentimos e não o que pensamos, visto que, pensar, é algo que exigem um tempo e um grande silêncio interior coisa que, na maioria das vezes nos negamos, do mesmo modo que o diabo se nega à cruz.

E mais, o ato de pensar, se assim podemos nos referir, seria semelhante à postura de Cristo diante das tentações de Satanás. Pensar dói, nos desequilibra, testa a capacidade da razão para decifrar os enigmas da realidade, obscurecidos pelos nossos desejos e sensações.

Deste modo, as ofertas que nos fazem para acalentar os nossos desejos, por sua vez, não passam de ilusões, palavras ditas ao vento que encontram grande regozijo nas cabeças de vento ou, na fresca que as vez sopra em nossas mentes.

Por fim, enquanto houver multidões a gritar histéricas se achando os baluartes de moralidade e sapiência, vocês podem ter plena certeza que Hitler, Stalin e tutti quanti estarão a sorrir no inferno.

 

 


Um Cursinho de Férias

 

Aristóteles nos ensina que a maturidade seria a capacidade de poder aprender com a experiência. Parece simples, mas para que possamos aprender com a experiência, faz-se necessário que admitamos que estávamos errados e que se for necessário corrigir o nosso feito visto que, para tanto, a pessoa tem que estar com sua alma munida de uma boa dose de humildade e isso, é a última virtude que um político esquerdoso virá a ter, pois, como que alguém que acredita ser parte da vanguarda libertadora da humanidade oprimida irá admitir que tomou uma posição errada?

Com toda a certeza, uma pessoa desta estirpe dirá que eles realizam sistematicamente autocríticas, mas, nestas suas assim denominadas autocríticas sempre chegam a conclusão de que se eles e seus pares cometeram algum erro, foi por culpa de seus adversários e que, de mais a mais, se por uma desgraça do destino eles vierem a admitirem a culpa, logo justificam que foi em prol de uma grande e justa causa: a revolução!; a justiça social!; e bla bla bla...

Doravante, para se poder iniciar este processo de amadurecimento faz-se necessário que o indivíduo se responsabilize pelos seus atos e principalmente, pela conseqüência que estes venham a gerar, coisa que alias nossos representantes e nós, na maioria das vezes, não sabemos fazer e que, por infelicidade geral, muitas das vezes, não fazemos a menor questão de aprender. Aliás, fazemos questão de fazer o inverso. Sempre o culpado por nossa situação ser assim ou assado é de terceiros. A culpa é sempre do FMI, da ALCA, dos EUA, do Sistema, da Globalização, do Neoliberalismo, e assim para diante, mas, nunca nossa.

Nós jamais conseguiremos desenvolver uma política econômica séria e muito menos ser uma nação digna de respeito enquanto não aprendermos a dura lição de reconhecer os nossos próprios erros e corrigi-los. Mas, como para fazer isso teremos que ser pacientes e principalmente, fazer o esforço hercúleo de se debruçar sobre nossos passos, sobre nossa história para assim aprenderemos a olhar para frente sem estarmos com véus sobre nossos olhos, sem querer tapar o sol com uma peneira ideológica.

No que tange a questão da responsabilidade, quem sabe um cursinho de férias para os nossos representantes públicos e para nós com os banqueiros internacionais, que procuram zelar ao máximo o dinheiro de seus correntistas, retirando o mesmo que estava na forma de investimentos em países com alta instabilidade. Quem sabe assim, os primeiros aprendem com estes a terem maior zelo para com o dinheiro público e os segundos, definitivamente aprendam, a ver o mundo com os olhos da razão sem ofuscar estes com sentimentalismo de ocasião e assim aprendam a difícil tarefa de pensar antes de se deleitar no fervor das multidões insanas.

Quem sabe consigamos assim, quebrar com esse nosso complexo de Macunaíma.

 

 


Afinal de contas:
quem é o clone do Collor?

 

Já se tornou mais um jargão politicamente correto atribuir a figura do candidato a Presidência da República, o Senhor Ciro Gomes, o atributo de ser uma cópia mal feita do ex-presidente da República, o Senhor Fernando Collor de Melo.

É incrível como é fácil você ensinar palavras novas para papagaios e bem como para muitas pessoas que, após ter ouvido uma e outra palavra passam a repeti-las como uma verdade inquestionável e como senhores desta, sem ao menos saberem do que estão a falar.

Nos relatos da CPI que levou a queda do ex-presidente, mais especificamente, no prefácio deste, que fora escrito pelo então Deputado Federal José Genuíno, onde o mesmo nos afirma: “o Brasil nunca mais vai ser o mesmo após a CPI”. E realmente não o foi visto que vieram após esta primeira, inúmeras, uma verdadeira enxurrada de CPI’s, caçando toda e qualquer espécie de político corrupto, toda e qualquer espécie de marajá.

Ops. Vejam só como o destino é irônico. Os delatores do assim nominado caçador de marajás foi derrubado por pessoas que passaram a usar a mesma estratégia discursiva sua: a de faxineira moralista da corrupção. Alias, tratando-se de moralistas politicamente corretos, os partidários do PT são os campeões. E aliás o seu candidato a presidência muito bem absorveu o discurso de caçador de marajás emplacada juntamente com a campanha pela ética na política, iniciada pelo finado Betinho.

Mas então, isso não quer dizer que tudo continua na mesma? Não. O moralismo de Collor, era típico de um aventureiro, descomprometido ideologicamente, um verdadeiro Indiana Jones, fazendo uso das palavras do Historiador José Murilo de Carvalho. Todavia, o falso-moralismo da era pós-Collor, é mais terrível, pelo simples fato de ser contaminado até a medula por uma ideologia genocida que é o marxismo, e sendo assim, essencialmente maniqueu.

O político corrupto não é mais qualquer indivíduo que faça mau uso das verbas públicas (que são bem fartas e mal utilizadas), mas sim, todo e qualquer político que seja tachado de direitista. Alias, nos dias de hoje se você se declarar de direita ou conservador, a sua imagem automaticamente será relacionada com a de um crápula, de um elemento safado. É incrível como se usa hoje a expressão “capitalismo selvagem” para apontar o caos de nosso mundo e a apresentação de uma solução que não seja impregnada de jargões populistas que as esquerdas idolatram.

Diante disso eu pergunto: se em menos de 70 anos o marxismo foi responsável direto pelo assassinato de mais de 180.000.000 de pessoas e onde foi implantado gerou apenas miséria, por que então não se usa a expressão socialismo selvagem para denominar os defensores de propostas socializantes e que vêem em Cuba e na China exemplos exímios para o nosso país?

Ops. Isso é politicamente incorreto, do mesmo modo que chamar o Lula e sua trupi de cópias do Collor, por terem incorporado o discurso do Fernandinho.

 

 


Cuba Libre: o Brasil do Futuro

 

É incrível como a mídia nacional faz vistas grossas a determinados acontecimentos que se apresentam no cenário internacional e bem como no cenário nacional. Nos dias de hoje a desinformação se faz reinante de forma despótica. Tamanha é a omissão que se faz a pontos que são basilares para compreensão do cenário histórico contemporâneo que acreditar que o Regime cubano é um Estado de direito e que o PT é um partido democrático, não é uma aberração, mas sim, um comportamento normal, aceitável, do mesmo modo que ser filiado no partido nazista na década de 30 na Alemanha não só era normal mas sinônimo de comportamento politicamente e eticamente correto.

Diante disso, antes de qualquer outra palavra, sugiro a leitura do artigo O Paraíso Carcerário da jornalista Graça Salgueiro, publicado no jornal virtual Mídia sem Máscaras. Neste, a jornalista aponta uma questão deveras interessante: antes da revolução maldita, o arquipélago possuía apenas seis presídios, mas nos dias de hoje em que uma boa parcela da elite pensante deste país vê naquela sucursal do inferno um paraíso democrático, existe aproximadamente 800 presídios. Isso sem fala dos inúmeros prisioneiros políticos que são colocados em clínicas psiquiátricas passando a serem tratados com altas doses de psicotrópicos e choques elétricos, por sofrerem de uma anomalia metal gravíssima: a de pensar com a própria cabeça e ver o mundo com os próprios olhos sem pedir a benção de uma ideologia genocida.

E mais, o código penal deste ilha democrática e de por medo em qualquer Tirano. Na letra da Lei cubana diz que é crime passível de muitos anos de prisão: a “propaganda inimiga”, a “sabotagem”, a “rebelião contra a autoridade”, a “injúria ao chefe de Estado”, o “ultraje”, a “entrada ou saída ilegal do país”, a “periculosidade”, as “tendências criminosas” (entendam o que quiserem por tendências criminosas nesta ilha), a “recusa de delação”, a “imprensa clandestina”, o “abuso da liberdade religiosa”, a “desobediência”, a “subversão” ou “outros atos contra a segurança do Estado”.

Confesso que fico intrigado as vezes com algumas fantasias que me vem a mente, como por exemplo: como seria a reação de pessoas filiadas ao PT, PSTU, PCB e do B, padres esquerdosos da CNBB, e tutti quanti que simpatizam com este regime de horror que eles chamam de “democracia popular”, se o atual governo resolvesse fazer uma reforma do código penal tornando-o não idêntico, mas semelhante ao cubano? Será que eles passariam a chamar o governo de “um sonho realizado”?

Pois bem, é por estas e outras que me dispus redigir estas linhas, que não é simplesmente a situação que vive o povo cubano (que por si só já é uma aberração), mas principalmente, o fato de existirem em nosso país uma imensa legião de hipócritas que defendem este regime como se fosse um arquétipo de liberdade a ser seguido por nós brasileiros desde que, eles estejam no poder, obviamente, visto que pimenta nos olhos dos outros é refresco, no da gente, uiuiu!

Lembro-me dos tempos em que eu era simpatizante, quando eu participava de algumas reuniões, encontros e retiros de formação. Via sempre bandeiras com a face do “São Che”, camisetas a venda com a mensagem: “VIVA CUBA LIBRE!”, e isso sem falar do material do movimento estudantil que em suas diversas facções, exibem um exímio material de doutrinação marxista. Lembro-me ainda que brincávamos que se aparecesse um liberal nós o pegaríamos. O Deus meu, como a tenra idade é perigosa com seu ímpeto de justiça. Santa Presunção!

Ímpeto o qual é tão desproporcional que é incapaz de aceitar a verdade que se apresenta ante suas ventas, pelo simples fato desta lhes esbofetear a face para ver se acorda. Mas, como todo bom zumbi, este, não acorda dizendo: “Acorda Mane! Você não está vendo que você não está vendo que estão te fazendo de idiota!.

Quanto a isso, lembro-me que uma vez participei de um encontro de formação da juventude petista, visto que tenho muitos amigos filiados a este partido, onde procurei questionar algumas posições do partido e de seus líderes. Acabei por receber o título de futuro intelectual de gabinete.

E lá esta e creio que por muito tempo ainda, estas multidões de estudantes que não estudam e assim não cumprem com as suas obrigações, a cobrar que outros realizem as suas. Não é a toa que estes jovens não tenham uma visão clara da realidade e vêem assim em cuba um bom exemplo para todos nós, servindo de massa de manobras para crápulas de interesses espúrios, como se isso fosse sinônimo de ser consciente da realidade, agindo do mesmo modo que a juventude nazista e fascista.

Como o mundo da Vodkas, tropeçando sempre nas mesmas pedras.

 

 


A Banda

 

Tive, a grata felicidade de viver vários destes momentos em minha vida, mas nunca senti tamanha alegria como nos instantes em que me entreguei a pura contemplação da apresentação da Banda Municipal Segredo de Foz do Jordão.

Diz-se que a poesia revela a sua beleza e a sua grandeza quando nos deparamos com algo que não conseguimos explicar, quando nos deparamos com algo que nós conseguimos entender em sua profundidade, mas, tamanho o assombro que as palavras nos faltam para explicar o visto e aí, nos entregamos ao simbolismo e as metáforas para tentar apresentar ao mundo, o que só os olhos de nossa alma conseguiram vislumbrar.

Tive, a grata felicidade de viver vários destes momentos em minha vida, mas nunca senti tamanha alegria como nos instantes em que me entreguei a pura contemplação da apresentação da Banda Municipal Segredo de Foz do Jordão.

Não pela música, que, aliás, fora executada com profunda maestria pelos infantes artistas, mas sim, pelos olhares fortes destes e de seu mestre, pessoas com suas almas inundadas com um amor sincero pelo seu ofício, felizes pelo simples fato de estarem possuídas pela arte de quebrar o silêncio do mundo, com o cantar da melodia silenciosa da alma.

Ao sentir a força daqueles olhares, amendoados de contento, veio a minha mente, um dos ensinamentos do grande historiador inglês Arnald Toinbee que nos dizia quando vivo que, onde há vontade há caminho, e estes pequenos, juntamente com seu mestre, nos mostraram em sua apresentação que eles são a afirmação da sentença entoada pelo finado sábio, visto que, estes conseguiram galgar o primeiro lugar no Concurso Interestadual de Bandas e Fanfarras.

Nesta apresentação estes intrépidos artistas nos ministraram a lição, que toda a nossa sociedade e bem como nossos representantes e candidatos a tanto, necessitam urgentemente aprender, que todos nós necessitamos assimilar: que não existe glória sem sacrifício, que sem disciplina e retidão, esta força criadora que edifica o ser humano jamais brotará no âmago de nosso Ser, e do mesmo modo em nossa sociedade.

Lição muito difícil de ser apreendida por uma sociedade como a nossa, que se encontra imersa em vícios, a viver a se degradar com se tal ato nos levasse a grandiloqüência da perfeição.

Felizes são aqueles que atravessam as provações que nos são impingidas pela vida, felizes são, aqueles que conseguem se tornar maiores que a sua própria existência e ainda, presentear aos que estão a sua volta com a grandiosidade de sua alma. Senti-me assim presenteado, diante da apresentação destes jovens e talentosos músicos, que partilharam comigo naquele momento, a grandeza que eles cultivaram em suas infantes almas. Feliz, por sentir a alegria e a beleza que brotava das notas entoadas e que se fazia refletir na luz que havia em seus olhares.

Por fim, o que este humilde ensaísta tem a dizer vocês não é apenas Parabéns, mas muito obrigado, por esta demonstração de grandeza.

 

 


Na mesma vala

 

Tomei para leitura nesta manhã a Revista do Instituto de Estudo Empresariais, onde, na sessão de frases, apresentava-se um aforismo de Edmund Burke, onde o mesmo nos adverte que: “é um erro comum supor que as maiores vozes pelo povo são os mais ansiosos por seu bem estar.”

Conselho o qual cai como uma luva no momento que estamos passando, que seria este rito de passagem, mundano obviamente, onde as vozes dos quatro cavaleiros do apocalipse, fazendo uso da expressão o amigo Heitor de Paula, prometem soluções miraculosas para as chagas que estão a afetar o corpo de nossa sociedade.

Ou, se recorrermos a sabedoria da Sagrada Escritura, encontraremos em Lucas, cap. 21, a Parábola do óbolo da Viúva, onde Jesus em sua Sabedoria, aponta-nos que a viúva que havia ofertado apenas algumas moedas no Templo, havia dado muito mais que todos os homens bem nascidos, que haviam posto lá grandes quantias, pois, estes fizeram isso porque se sentiram obrigado, mas a viúva ofertou aquelas moedas, que era o que ela possuía de melhor e o fez, não por se sentir obrigada, mas sim, por que assim o seu coração apontava, como sendo o que deveria ser feito.

Assim sendo, como vemos neste período, inúmeras pessoas a afirmarem que fizeram isso e aquilo pelo POVO, subindo nos altares dos césares, a mostrar para todos que sempre ajudaram o próximo e que pretendem, se eleito, continuar a realizar seus feito beneméritos.

Estes “assinam” de certa forma, um contrato onde se obrigam a realizar obras em prol do POVO, obras as quais são feitas com tamanha má vontade, que são como são e tem o custo que tem.

Estes homens e mulheres que sobem em seus palanques, nunca estão a nos ofertar o que eles tem de melhor, mas simplesmente, o que eles sentem que devem dizer para nós, por sentirem-se obrigados pelo fato de sermos nós, meros cidadãos, que daremos o aval para que ele possa integrar o seio da Burocracia, e mamar...

Assim, eles nos ofertam muito, e gastam muito, mas não o que eles tem de melhor a nos oferecer visto que, o que eles tem em vista é o que há de melhor para o seu conforto e bem-estar, idem, os eleitores.

Não é a toa que as multidões, as massas incendiadas em épocas de campanha eleitoral, jamais ouvem a verdade, jamais atinam o seu olhar para aquela que nos liberta, pelo fato de estes, do mesmo modo que os candidatos a cezarocrata que anseiam por debruçar-se nos braços de Leviatham, estão entregues as volúpias de Behemont, tendo em vista, apenas, o que há de menor dentro delas.

Deste modo, não é de nos causar admiração que em todo e qualquer pleito eleitoral, sempre vemos no lugar de um debate racional de idéias e propostas para a nação, uma fogueira de vaidade a corroer nossas máscaras e a desnudar nossa natureza oculta que muitas vezes, nem nós mesmo conhecíamos.

A nossa vaidade nos cega, e nos guia por onde ela quer, nos dominando pelas nossas fraquezas e falhas, colocando todos nós, candidatos e eleitores em uma vala comum.

 

 


Os Eleitos

 

Tempos atrás estive em uma mesa redonda onde o tema abordado havia sido terrorismo e fanatismo. Lembro de antemão que não irei redigir palavra alguma neste momento, nenhum comentário quanto a falação dos integrantes da mesa mais sim, quanto a uma surrada pergunta que fora levantada na platéia que, por sua vez, era basicamente composta por acadêmicos dos cursos de Relações Internacionais, Direito, História e Filosofia, de faculdades da cidade de Guarapuava.

Mas qual era esta pergunta tão capciosa que foi levantada por este estudante de filosofia? Era a seguinte: o que o senhor acha de o povo Judeu se achar o povo escolhido por Deus? Obviamente que o professor pop star da mesa redonda, pelo fato de ser um materialista, respondeu, obviamente, o que o jovem acadêmico queria ouvir, mas, eu ouso lhe dar agora, meses depois de sua interpelação no auditório, uma resposta a suas inquietações, resposta a qual estava engasgada em minha garganta desde aquela noite e que devido a ocasião não ser propícia para me manifestar, fiz-me calar, até este momento.

Primeiramente, devemos pensar o sentido de uma afirmação quando esta é proclamada e, deste modo, o que significaria ser escolhido por Deus. O que significa ser um povo eleito por Adonai? Bem, se você é escolhido pelo Altíssimo para ser tido como seu povo, para viver neste mundo de penúria, com toda certeza não o é para se ter uma vida confortável e ser a autoridade máxima no reino de César, mas sim, o contrário, para ser um exemplo de virtude, de conduta pia e reta.

Doravante, tal fato é facilmente constatado, bastando que tenhamos lido, não havendo a necessidade de ter estudado o Velho Testamento para averiguar, que O Todo Poderoso, em nenhum momento, tolerou as atitudes iníquas de seus escolhidos, mas, pelo contrário, Este foi extremamente rígido, pois, se estes são o povo eleito, estes devem portar-se como tal.

Deste modo, além de o Senhor lhes cobrar diligência, este terão que enfrentar as potestades dos césares, visto que o Reino de Deus é um, e o dos homens é este mesmo.

De mais a mais, basta que estudemos um pouquinho de história das religiões comparadas para constatarmos, que toda religião proclama a sua maneira, que os seguidores de sua doutrina, são o povo eleito por Deus e, do mesmo modo, o ser eleito não seria apenas a declaração do homem voltado para o mundo exterior mas sim, a aceitação do homem voltado para o mundo interior, que visa o caminho reto e a elevação de sua alma.

Seguindo este raciocínio, poderemos constatar que todos estes tipos humanos, em qualquer região do planeta, independente de sua confissão religiosa, sempre serão um mártir, e acima de tudo, um exemplo de conduta. Diante disso, é fácil entender o porque um materialista acha absurdo um povo ser tido como o povo eleito por Adonai, visto que as vistas de sua alma se encontram apenas direcionadas para o mundo exterior desconhecendo assim, a magnitude do mundo interior de seu ser, não atinando assim a sua compreensão para o que seria a escolha de um mero mortal pela parte do Criador.

 

 


De olhos vendados

 

Já nos ensina o adágio popular que o pior cego que existe é aquele não quer ver, e deste tipo de cego, o mundo está cheio e nós muitas das vezes nos portamos como tal. Há certas obviedades que não só nos batem em nossas faces com uma luva de pelica como nos esfregam a verdade em nossas ventas e nos dizem: você não esta vendo!

É óbvio que até mesmo a cegueira tem sua justificativa teórica e que, convence a muitos homens de visão sã a arrancarem seus olhos para melhor ver as cores do mundo. Esta teoria nada mais seria que o tão celebrado relativismo cultural onde, sistemas culturais que logo a primeira vista nos mostram a sua crueza e futilidade, são nos apresentado como sendo tão válidos quando uma tradição milenar. Mas, como tudo é relativo, a falsidade e a verdade passam a ter o mesmo teor, o mesmo valor, dependendo, obviamente, de quem esteja falando e de que forma esteja a se pronunciar, pois, para nós, vale mais um discurso bem feito do que uma verdade expressa de forma direta.

Um bom exemplo disso, é a entrada do Mago na ABL (Academia Brasileira de Letras). Não me refiro à aprovação do escritor na mesma visto que endosso as palavras de Percival Puggina quanto o assunto, mas sim, refiro-me aos “críticos literários” que defendem o pluralismo cultural proclamando aos quatro ventos que Camões e Monteiro Lobato tem o mesmo valor para nossa língua, ou que a obra de Tomás de Aquino e a do Marques de Sade tem o mesmo valor para a alma humana. Este agora cai de joelhos babando de indignação pelo fato de um místico de quinta categoria ter adentrado na galeria dos Imortais.

Se estes vêem em ritos tribais uma religiosidade tão digna quanto a Tradição Católica Milenar (idem demais Religiões Tradicionais), que mal há em colocar um escritor pop na Academia?

Obviamente que o mal existe e é preocupante, desde que você veja o problema dentro de uma hierarquia noológica dos valores e da cultura de um modo geral e não em uma perspectiva relativista. Ops., eis aí o seu veneno. O relativismo absoluto, não nos leva a descrer e a duvidar de tudo, mas sim, a acreditar em qualquer coisa, parafraseando com Chesterton. Até mesmo na mentira de si mesmo.

Por fim, são justamente estas pessoas que vivem a pregar que devemos ter consciência disso e daquilo. Todavia, se o ato primeiro que devemos tomar para que possamos fazer emergir em nós a consciência de si e em si, é o de reconhecer os travessões que estão em nossas vistas e assim procurar sempre o que há de mais elevado para integrar nosso intelecto, experimentando de tudo como nos ensina a Sacra Escritura. Deste modo, como poderemos realizar tal empreitada, acreditando que tudo é relativo, e bom, dependendo da maneira que se volve os olhos sobre o que está em nossa frente?

É por estas e outras, que existem pessoas que acreditam que um partido político que adota como exemplo de conduta, como um verdadeiro arquétipo, um país como Cuba seja um partido democrático, do mesmo modo que há pessoas que acreditam que Paulo Coelho contribui para a Língua Portuguesa, merecendo assim adentrar no Salão da ABL, visto que tudo está se tornando relativo, até mesmo a inteligência e a dignidade.

 

 


De olhos vendados
Parte II

 

Em um de seus escritos, o professor Olavo de Carvalho nos lembra um dos ensinamentos recebidos de seu amigo Juan Miller, onde o mesmo definia a pessoa neurótica, como o indivíduo que a muito tempo havia contado uma mentira e que passado este ela passa a crer que a sua mentira é uma verdade inabalável. Deste modo, como vemos pessoas a enganarem umas às outras com auto-enganos, Dio Santo.

Assim sendo, para podermos averiguar o dito, basta-nos volvermos nossos olhos que poderemos avistar cenas inusitadas de casos patológicos de neuróticos convictos e orgulhos por seu estado de insanidade. Dentre os inúmeros casos de pessoas que sofrem deste tipo de enfermidade destacaremos apenas a dos cientistas sociais de pregam com profunda convicção o seu relativismo absoluto junto com seu multiculturalismo.

Os relativistas defendem tão ferrenhamente que suas convicções, afirmando e argumentando que tudo a nossa volta é relativo, que não existem categorias universais e muito menos, leis perenes, pelo fato destes estarem imersos em uma “verídica lorota”, que eles ouviram ou leram em algum lugar e passaram a professar esta, como uma fé do absurdo, simplesmente porque que quem disse isso foi uma das estrelas da inteligentzia tupiniquim ou cultuado por esta intelectuária estratosférica.

Tão obscura que é este credo que os seus fies esquecem-se ou não perceberam que a afirmação de que tudo é relativo, que não há valores universais e absolutos, é em si contraditório, pois se tudo é relativo, o relativismo se torna a única norma, e esta por sua deixa, absoluta e despótica, negando a seu próprio principio.

É óbvio que existem questões que são relativas, pelo simples fato de estas serem acidentais, contingentes, mas isso não quer dizer, que em categorias universais possamos aplicar a mesma norma, lembrando assim, das palavras do sábio Gustavo Corção que nos advertia para que não aplicássemos conceitos que são utilizados para entendermos os fenômenos contingentes para compreendermos os fenômenos perenes, visto que, tal atitude pode nos levar a enganos tremendos.

Um exemplo que o mesmo nos dá é quanto aos estudos antropológicos do fenômeno religioso e, mais especificamente, quanto ao casamento. A olhos nus podemos ver que existem inúmeras formas de se celebrar o matrimônio, devido a grande diversidade da fauna cultural que há nesta pérola perdida no Universo. Aí, lá vai o antropólogo que chega a conclusão de que devido a diversidade dos ritos, não podemos de modo algum afirmar que exista uma lei universal que reja a união entre um homem e uma mulher.

Mas, se este mesmo antropólogo compreende-se que o que estava a sua vista era apenas um aspecto contingente ele conseguiria despertar a sua percepção para um fenômeno universal entre os membros da espécie humana, que é a legitimação da união conjugal.

O que os relativista não consegue atinar é para fato de que as leis perenes não estão visíveis, mas sim, imersas e fundidas em nós a tal ponto, que uma visão distraída não só é incapaz de encontrá-la como também, quando se defronta com ela, sua mente se torna incapaz de reconhecê-la como tal.

Provavelmente, creio eu, seja devido a profunda disseminação do multiculturalismo que leve as pessoas a não perceberem coisas óbvias, como a lei universal do amor. A pessoa imbuída de tal força, deseja sempre tudo de bom para toda e qualquer criatura sem distinção alguma.

Diante desta regra universal, como podemos afirmar que uma facção política que quer ver boa parte da humanidade morta pelo simples fato de estes serem mais afortunados que os demais, como sendo boa? Como podemos dizer que um regime político como o que se faz vigente na Coréia do Norte e na China, onde milhares de crianças são mortas, e outras milhares de pessoas são colocadas para trabalharem como legítimas escravas, seja um bom regime?

Por fim, como pode um grupo político arrotar em nossas faces com trejeitos de dignidade e com ares de democrata, chamando os que não comungam de suas convicções políticas de fascistas ou coisas do gênero, sendo que o que eles entendem por democracia é a posse absoluta do poder político e econômico em suas mãos?

É claro que pode. Para um grupo de pessoas que acreditam que tudo é relativo, o valor da vida humana pode variar também. Ou por um variação de sua cotação nas bolsas de valores ou, por um decreto de um grande timoneiro da vida. Tudo depende dos ventos que sopram em nossas faces e do que nós queremos aceitar naquele dado momento.

Por fim, se o adágio popular estiver correto quando afirma que o maior truque do maligno é ter dito a todos que não existia pergunto-lhes: há truque mais diabólico do que o de afirmar que tudo é variável e relativo?

 

 


A nudez da Visão

 

Nihil est extra hominem introiens in eum, quod possit eum coinquinare; sed quae de homine procedunt, illa sunt, quae coinquinant hominem!”.
(Marcos, 7;15)

 

Há um conto infantil que nos fala que certa vez havia um Rei que teria contratado os serviços de um costureiro para lhe fazer uma roupa, e que esta fosse a mais bela possível. Aí, os costureiros apresentam para os ministros do Rei um suposto tecido. Ambos nada viram, visto que o tecido não existia, não passando tudo de uma encenação barata, mas, não deixavam de louvar as qualidades do mesmo pois não queriam ser taxados de loucos ou coisas do gênero. Quando o Rei foi ao encontro dos seus mais novos costureiros, também, ao invés de dizer que nada estava vendo louvou as qualidades do tecido e além de tudo disse que o tecido era azul, contrariando as duas cores apontadas pelos seus ministros. Típicos capachos, sombras do Poder.

Os costureiros confeccionaram uma suposta roupa com o tecido imaginário para a majestade e esta convocou todo o reino para lhe ver de roupa nova, a desfilar pelas ruas e vielas da cidade.

E lá foi o grande rei com a suposta roupa a desfilar e a multidão após um breve silêncio, passou a aplaudir o Rei tecendo melosos elogios a sua roupa que se apresentava tão bela até que, uma pequena criança que se pós diante do Rei, olhou bem para ele e disse: “o Rei está nu!”. Dito isso, a multidão caiu em um momentâneo silêncio e logo, todo mundo começou a rir da majestade que naquele momento teve a sua ignomia, que por sua vez, era fruto de sua vaidade, revelada pelo olhar direto da sinceridade de um inocente e enquanto isso, o costureiro fugia com uma grande jóia que pertencia ao Rei e bem como ao Reino.

Pois bem, entendamos a roupa, as vestimentas como um hábito, e este por sua deixa fazem parte de nossa personalidade, de nossa persona. Esta categoria do edifício conceitual jungueano é uma peça fundamental para compreensão da psique humana e este pequena aventura da literatura infantil a qual assisti a pouco tempo em um canal de televisão, muito bem reflete a condição humana em meio a este grande baile de máscaras que é um pleito eleitoral.

E como já fora dito acima, persona etimologicamente quer dizer máscara ou disfarce, semelhante a utilizada pelos atores gregos da Antigüidade as quais eram trocadas de acordo com o personagem que se iria interpretar.

Esta representaria uma função superficial por ser a que mantém o contato mais direto com o universo social, que seria a nossa platéia, e assim o local onde residimos, onde vivemos, passa a ser o nosso palco de atuação, assim como nos lembra Willian Shakespeare: “Todo o mundo é um palco, e todos os homens e mulheres apenas atores; Eles tem suas saídas e suas entradas, e cada um desempenha vários papéis em seu tempo, para seus atos ficarem por sete gerações.”

Podemos assim dizer, que a persona é o reflexo de nosso nome, como nos fala J. O. de Meira Penna e que por sua vez, também nos ensina que este sistema complexo de relações entre a consciência individual e a sociedade, tem como objetivo fazer germinar uma impressão sobre os demais, nosso público, mas também e principalmente, creio eu, para esconder o Eu, a verdade da natureza do indivíduo. Por de trás da máscara esta a nossa vida íntima, a nossa vida pessoal, o nosso diário não escrito que só nós conhecemos e que muitas das vezes, nem mesmo nós conhecemos direito e que infelizmente, há muitos que preferem ignorar, olhar com desdém para as páginas marcadas de sua alma. Talvez por fraqueza e medo, ou talvez...

Mas e o Rei e sua “bela” vestimenta? Este nada mais seria que uma bela caricatura dos nossos candidatos a cadeira da Presidência da República. Durante o período de propaganda eleitoral que está para ter início, os candidatos procuram ao máximo encomendar uma roupa nova, uma persona que convença o eleitorado de que ele é a pessoa mais apta a estar a frente desta complicadíssima República, só que, lá estão eles, todos nus, não como vieram ao mundo mas sim como se fizeram no mundo.

E nós, o eleitorado, por nossa deixa, estamos vendo com estes olhos que a terra há de comer o que todos eles são realmente. Mas lá estamos nós a querermos nos iludir com nossos incubos ideológicos, negando a realidade que nossos olhos estão vendo e que nossos ouvidos estão a escutar pelo simples fato de esta, não se enquadrar com nossos desejos infames e egoístas, forjados na forma de uma singela utopia, que é singela apenas em nossa imaginação doentia, um paraíso semelhante com A ILHA, de Aldous Huxley.

Por isso, nada direi sobre os mesmos, visto que basta que todos nós façamos como o pequeno infante que ficou diante do Rei e o viu como ele é, que esperamos que exista e esteja vivo em nosso íntimo para assim, não termos que procurar uma justificativa esdrúxula para explicar a si mesmo que o absurdo que está diante de sua retina é algo normal.

O mais engraçado disso tudo, é quando todos na multidão são solapados pela verdade, estes caem na gargalhada pelo fato de a Grande Majestade estar nua e riem de forma descontrolada apenas da comédia trágica deste pois não conseguem ver a si mesmos por estarem tão bem escondidos por de traz de suas máscaras que não se tocam de sua situação, que é muito mais ridícula do que a da autoridade em pelo.

Bem, e os costureiros? Estes são mais fáceis de serem identificados, basta que tenhamos um olhar bem incisivo. Os costureiros nada mais eram que oportunistas, golpistas mesmo, que teceram e venderam uma idéia para a majestade e bem como para toda a sociedade para distraí-los enquanto estes afanavam o grande tesouro do reino.

Assim sendo, os costureiros nada mais são que os cabos eleitorais, o chefes de campanha Nacional, Estadual, Regional, etc., que estão procurando garantir a sua margem de um tesouro que não é seu, sem se importar com o custo que isso pode vir a trazer para o restante da nação. Estes, os mais mascarados de todos, sempre se apresentam como porta-vozes de soluções miraculosas, soluções as quais são mais eficazes se mantidas dentro de suas embalagens e com o lacre intacto.

Mas, como estas e muitas outras pessoas que, por não meditarem sobre as suas verdades interiores, por não seguir o conselho que se encontrava entalhado na entrada do Templo do Oráculo de Delfos e bem como nas Sagradas Escrituras de todas as Tradições Religiosas que nos diz que devemos nos conhecer a nós mesmos, sempre veremos e participaremos periodicamente deste circo de horrores onde só há palhaços e onde todos desejam estar no centro do picadeiro.

Por fim, quem não se conhece é incapaz de olhar além da própria máscara, não podendo ver o que os outros são, por não saber ao certo que o que somos em nosso íntimo. Nós preocupamos tanto com as pendengas do mundo exterior que nos esquecemos que nossa morada é nosso ser tão desconhecido por nós. Tal desconhecimento, nos leva a este estado que fora descrito no conto infantil: pessoas aceitando algo ridículo com profunda seriedade, pelo simples fato de nunca terem olhado com seriedade para seu íntimo, por medo de chorarem diante a imagem que podem vir a encontrar, ou rir da própria desgraça por falta de lágrimas.

 

 


Fácil é falar

 

“Univérsi, qui te exspéctant, non confundéntur, Domine. Vias tuas, Domine, notas fac mihi: et semitas tuas édoce me. (1)
(Gaspar Lefebvre)

 

Fim de ano é sempre uma loucura. É todo mundo correndo atrás de presentes, todos pedindo presentes. É época que a veia populista dos homens públicos vibra com maior intensidade, é tempo em que você abraça seu irmão desejando-lhe um feliz natal da boca pra fora estando por dentro a se remoer de ódio pelas sacanagens que ele lhe havia feito tempos atrás. É Natal, mas porque continuamos a seguir pela vereda canhota, iníqua, no tempo em que nós deveríamos nos voltar por inteiro a palavra do Nazareno?

Confesso que por muito tempo “reneguei” a aceitar a palavra de Deus. Era o que em filosofia se caracteriza por agnóstico. Afastei-me de uma vida religiosa por algum tempo por dois motivos, um ético e outro por mera fraqueza. O primeiro fora que eu não suportava ver e ouvir as inúmeras hipocrisias ditas e feitas em nome do Altíssimo. Doía-me no âmago de meu ser, ver pessoas falsas usarem o seu Santo nome, enojava-me ver pessoas de almas corrompidas a falar de Santidade. Apesar de afastado da vida religiosa, nunca deixei de amar a Figura e o exemplo dado por Jesus Cristo e por São Francisco de Assis, Santo que de certa maneira eu era (e sou) devoto mesmo sendo descrente. Sempre vi em Cristo, mesmo não crendo em sua divindade (mas sempre em sua mensagem), a bondade e a coragem que meu coração carecia e, como não conseguia vê-la no coração de muitos de seus ditos seguidores, afastei-me Dele ficando apenas com a sua singela imagem em minh’alma.

Mas foi aí, que cometi o meu maior erro, afastei-me de Deus por fraqueza. Não suportava ver tanta hipocrisia a sua volta e por ser uma débil criatura, ao invés de ter me colocado em seu encalço, não, preferi ficar em meio à multidão de seguidores dos Césares a gritar para jogar todos os Cristãos na arena junto aos leões. Este meu ato de fraqueza me cobre de vergonha e, creio eu que deste modo, fortaleceu-me a ponto de ter-me voltado à senda Reta. Não digo que sou Católico praticante, não, pois sou um homem que vê nas Religiões Tradicionais (o Judaísmo, o Cristianismo, o Islamismo, o Budismo, o Hinduismo...), um princípio metafísico que as perpassa. Todas as Religiões tradicionais (não estas blasfêmias modernas), dão a sua maneira o seu testemunho da grandeza do Altíssimo. Muitas vezes nos preocupamos demais com as fileiras de nossa confissão que nos esquecemos que Deus é de uma grandeza tal que se Ele nos falasse bom dia, a sua voz nos destruiria.

Santo Agostinho pedia aos que afirmavam ter visto Deus para que olhassem para o Sol durante dez minutos. Ninguém suportava e então ele perguntava a estes: Como podem afirmar poderem ver a Face do Criador, sendo que nem suportam a face de uma de Suas criaturas?

Digamos que pude ver esta minha posição nas palavras de um Pastor Batista, que se encontra enfermo que, ao visitá-lo, disse-me, com uma lucidez impar que Deus, não tem rótulo, que não entrará no Céu só os Batistas, ou só os Católicos, mas que entrará no Reino Celeste apenas os justos e bem aventurados. Ou Deus é apenas uma mercadoria ou uma bandeira de partido?

Doravante, não sou exemplo de boa conduta e nem almejo ser, pois reconheço minha natureza decaída enquanto humano. Deus livre-me desta hipocrisia de proclamar-me justo! Desejo apenas não ser um mau exemplo. Se conseguir realizar esta façanha, que por sua vez não é das menores, estarei em paz.

Não sou profeta. Sou apenas um pequeno e indigno servo de Deus que gostaria de falar um pouco sobre os tão falados falsos profetas. Bem, para sabermos o que é o falso, temos de saber o que é o verdadeiro. O verdadeiro profeta é aquele que nos anuncia a boa nova, correto? Pois bem, logo o falso profeta é aquele que diz trazer a boa nova.

Deste modo, se formos observar com a devida atenção, não encontraremos em nenhuma das Religiões Tradicionais falsos profetas, apenas profetas, homens e mulheres anunciando a verdade de Deus com as palavras dos homens e, como esta escrito em Corintios I 2;11, que ninguém conhece os pensamentos de Deus a não ser o Espírito de Deus. E assim, como nós podemos afirmar que Deus manifestou-se neste mundo com apenas uma face?

Se esta mera menção ao Evangelho faz parecer-se obscura, então vejamos um outro trecho e comparemos este com as palavras de outras Escrituras sagradas. Em Mateus 6;14-15, esta escrito que se perdoardes aos homens as suas culpas, também vosso Pai Celeste vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, vosso pai não perdoará as vossas. Siddharta Gotama, o Buda, fala-nos há aproximadamente quatro séculos e meio antes de Cristo, em seus ensinamentos que é muito fácil amar o nosso vizinho mas, que nós é muito difícil amar o nosso inimigo. Ou, como está escrito no Bhagavad-Gîtâ cap. 18; 26, que a boa pessoa está livre de todos os apegos materiais e do falso ego e por fim, está no Alcorão Sagrado 1;83 para que tratemos com benevolência a todos os nossos familiares, órfãos e necessitados e que devemos sempre, falar com doçura ao próximo. Ou então, como nos lembra o TAO TE KING p. 33, que o homem que conhece ao outros é inteligente mas, aquele que conhece a si mesmo, é sábio.

Enfim, o que há de falso no que fora escrito até aqui? A meu ver nada. O grande problema, creio eu, está na confusão que se faz com a idéia de falso profeta. O profeta nada mais seria que um servo de Deus que está a anunciar a sua Vontade, a sua mensagem e assim, muitas vezes nos prendemos mais na imagem da pessoa que fala da Verdade de Deus do que em sua mensagem. Prestamos maior atenção a sua forma literária exterior do que em sua forma intrínseca.

Por prestarmos atenção em demasia à figura do falso profeta, esquecemos de observar as palavras das profecias. O falso profeta não é de modo algum um homem temente a Deus de uma outra confissão religiosa mas sim, aqueles que anunciam que darão o céu e a terra se lhe ofertarem um voto de confiança. São falsos profetas aqueles que prometem acabar com a corrupção humana sem ao menos corrigir a sua alma e tirá-la da senda da iniqüidade. Falso é aquele que mais se preocupa com os regalo materiais que podem ser conquistados do que com a elevação de sua alma. Falsas são as promessas feitas aos humildes pelos que almejam o poder secular. Os falsos profetas não virão prometendo o Reino dos Céus mas sim, prometendo transformar o reino dos césares no Reino dos Céus. Os falsos profetas prometem transformar o mundo sem transformar a sua alma primeiro porque a única coisa que almejam é tornar o mundo a sua imagem e semelhança e não trazer a Justiça dos Céus.

São Paulo (Cor 13;9-10) afirmava que nosso conhecimento é imperfeito, e nossa profecia também. Mas quando vier o que é perfeito, desaparecerá o que é imperfeito. Se ele que é Santo reconhecia que suas palavras eram imperfeitas, quem somos nós para afirmarmos que somos infalíveis? Quem somos nós para dizermos que Deus falou a seus filhos apenas de uma forma?

O bom Cristão, creio eu, não está a eloqüência da oração mas na pureza e na sinceridade de seu coração, não está na aparência que ostenta mas na retidão de seus passos para a vereda da Verdade.

Neste Natal, não desejemos a paz de Cristo apenas para os Cristãos mas também para os que não o são. Não roguemos nossos votos de felicidades apenas para as pessoas que amamos, visto que é fácil desejarmos o bem para quem queremos bem. Desejemos luz para aqueles que nós proclamamos como sendo nossos inimigos.

Lembremo-nos sempre, que Jesus perdoou a todos. Perdoou aqueles que o condenaram e o humilharam. E nós, seremos incapazes de fazer jus ao seu exemplo? Fácil é falar, como é fácil.

O natal passou mas todo dia é dia de nos lembrarmos que somos insignificantes diante do mistério da vida e que devemos nos abraçar e não destruir para nos tornarmos seres humanos melhores.

 

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(1) “Todos os que esperam em Vós, Senhor, não serão confundidos. Mostrai-me, Senhor, os Vossos caminhos, e ensinai-me as Vossas veredas.”

 

 


Uma breve meditação teológica

 

O contrário em tensão é convergência; da divergência dos contrários, a mais bela harmonia.”
(Heráclito)

 

Nunca o Islã esteve tão pop no ocidente como nos últimos dias, devido ao atentado do dia 11 de setembro. Falam que o Islã não é a guerra, que o Islã é a paz, que não há na doutrina Corânica uma incitação a violência. Realmente, o Islamismo não é uma congregação de alucinados prestes a explodir, mas sim uma religião. De mais a mais, o mesmo teor “belicoso” que há no Alcorão Sagrado há, no antigo testamento sem falar que, toda leitura de um texto Sacro quando feita com relação a uma ação prática (como uma guerra), será distorcida visto que, todas as religiões tem por fim levar o seu fiel a transcender a este mundo e não a transformá-lo de acordo com a sua vaidade e soberba de alguns de seus seguidores.

Mas, quanto ao Islã, o que vejo ser fundamental ressaltar, é a sua proximidade com o cristianismo desde a sua origem. Levantar tal questão se faz basilar devido os pronunciamentos do Sr. Laden onde o mesmo afirmava que o ocidente era a “nação” dos infiéis e que todos os muçulmanos deveriam combatê-los. Bem, primeiramente infiéis para o Alcorão são os idólatras e politeístas e não os cristãos e judeus. Em segundo lugar, como havíamos falado anteriormente, o Islã e o Cristianismo tem mais semelhanças em sua origem mística (quanto ao mistério revelado) e na sua forma e conteúdo do que nós meu caro leitor, possamos imaginar.

Primeiramente, lembremos como fora a revelação do Deus que se fez carne. Eis que o Anjo Gabriel fala a uma moça virgem sexualmente, que respondia pela graça de Maria, que em seu ventre será concebido o Deus na forma de um filho, que tonos nós sabemos que é.

Pois bem, quanto ao profeta Mohamed, a este foi ditado pelo mesmo anjo Gabriel todos os versos do Alcorão Sagrado, que é o Deus revelado na forma da palavra. Detalhe. O Profeta também era virgem. Não das partes pudendas mas sim da palavra. Mohamed era analfabeto. Uma virgem do ventre recebeu o Deus em forma de carne e um virgem da palavra recebeu o Deus em forma de palavra.

A revelação de Deus por intermédio de Cristo à humanidade, é a verdade do Amor e do perdão. A revelação de Deus por intermédio do Alcorão a toda humanidade, é a verdade da sabedoria. Mas o que é a sabedoria senão o amor a verdade? E o que é o amor se não for verdadeiro?

É certo que para os muçulmanos, Cristo é apenas um profeta e não o filho de Deus mas, é reconhecido inúmeras vezes como um profeta de Deus tanto que, inúmeras vezes ele é mencionado no Alcorão. Tudo bem, mais o importante não se o Banco Real da ou não dez dias no cheque especial mas sim, que em ambas as religiões, tanto no Islamismo quanto no Cristianismo, não se preconiza uma transformação por vias belicosas do mundo mas sim e antes de tudo, o amor a verdade revelada que este ato de se religar a infinitude do ser.

Não é transformar o reino de César no reino Celeste mas sim a nossa mansão que é nosso ser, nossa alma.

Santo Agostinho, em sua obra célebre, A cidade Deus, nos dizia que havia duas cidades em que a humanidade se dividia. A Cidade Deus e a Cidade Terrena. Estas duas cidades são de natureza representativa, um símbolo metafísico para se entender a natureza humana. A Cidade Deus seria a cidade da verdade e do bem. A Cidade Terrena seria, por sua vez, a cidade da iniqüidade, do mal.

Para o Santo Doutor, tanto os seres humanos como os seres celestes foram constituídos da mesma matéria: o livre arbítrio. O Sapientíssimo, deu aos homens o direito de escolher entre o Seu reino e o reino Terreno. E o que nós fazemos? Ora, optamos entre um e outro. Diz Agostinho que “enquanto uns se manifestam no bem, comum a todos, que é para eles seu próprio Deus, e em sua eternidade, verdade e caridade, os outros, embriagados por seu próprio poder, como se fossem o seu próprio bem, declinaram do bem beático, superior e comum a todos, aos seus particulares.”

Por sua vez, Harun Yahya, nos diz que os infiéis tomam o seu lado negativo da alma como o seu único guia e objetivo de sua vida. Toda a sua vida é motivada a satisfazer os seus desejos e paixões e, deste modo se tornam incapazes de compreender as verdades intrínsecas da religião. Diz-nos o Alcorão que tais pessoas são prisioneiras da futilidade de seus desejos o que leva-as a não compreender a mensagem Corânica.

Pois bem, este conflito não uma guerra Santa nem aqui e muito menos na tal terra onde Judas está coçando o seu calo. Esta não é uma empreitada para se edificar a Cidade Deus pois não é da vontade deste, ou então por que este nos deu o direito a escolher entre as duas sendas? A contenda armada nada mais é que mais uma disputa pela hegemonia da Cidade Terrena, do reino dos Cézares.

E eis aí, o cerne de um problema que, permeia a nossa sociedade também, que é uso da religião para fins políticos, o uso da trilha da beatitude para servir a disputa pelo poder temporal.

Da mesma forma que dói em minha alma, e muito mais nas almas dos muçulmanos devotos, ouvir as blasfêmias de Laden, da mesma forma dói-me ouvir e ver as cenas diabólicas de políticos a fazerem uso da fé de uma maneira fútil para se obter o poder que, no fundo, é o seu objeto de máxima apresso. Dói ver uma senhora rezar três Terços Bizantinos por dia e ao mesmo tempo continuar a condenar uma pessoa pelos seus defeitos que são menores que sua língua, diga-se de passagem. Terrível é uma pessoa, ao mesmo tempo, que diz estar comovido com as vítimas e ao mesmo tempo acha que foi bom por que os gringos mereciam.

É fato que os EUA realizaram inúmeras intervenções bélicas pelo mundo a fora e que, como em todo conflito acabou por matar inúmeros soldados inimigos e bem como, vários civis. O conflito que trouxe maior carga negativa a sua imagem fora o do Vietnã, onde os estadunidenses mataram aproximadamente mais de 200.000 vietcongs. O que a mídia esquece de avisar que, até a intervenção estadunidense, estes coitadinhos dos vietcongs já haviam matado apenas 1.600.000 de seus próprios compatriotas.

A trama e a farsa são os maiores ardis das trevas da iniquidade. Eis aí meus caros, a raiz de nossos enganos. Aquele que propõe acabar com a Cidade Terrena, da iniquidade e do mal não é nenhum cidadão da cidade Deus, mas apenas mais um possível candidato a posse do trono do Reino dos Cézares. E, deste modo, tanto Laden, como outros candidatos a cargos de poder, quando falam das Escrituras Sagradas e do Santo Nome de Seu inspirador, nada mais estão do que falando em nome da obscuridade de suas paixões funestas.

E nós, quantas vezes fazemos isso, não incorremos no erro de não sabermos distinguirmos entre as duas Cidades? Quantas e quantas vezes não nos portamos como um Judas diante da verdade por pura vaidade?

 

 


Meditações pedagógicas

 

Você não conseguirá pensar decentemente se não quiser ferir-se a si próprio
(Ludwig Wittgenstein)

 

Eça de Queiroz dizia-nos que para ensinar algo era necessário apenas uma única competência: saber. Ao ouvir este aforismo com toda a certeza uma multidão de educadores deve de encher os seus pulmões e afirmarem para si próprios: “eu sei, pois eu ensino”. É óbvio que todos sabem alguma coisa sobre algo, o que é questionável e muito, é o nível de conhecimento que você tem sobre determinados assuntos e o nível que você imagina ter sobre estes. Eis aí, a raiz da mais nefasta doença do espírito contemporâneo: o auto-engano.

O auto-engano começa primeiro com a preguiça intelectual, que é dotada de uma surdez e de uma cegueira que chaga dar dó e termina, com a arrogância e a presunção dignas de um néscio. E através destas posturas, o vírus desta enfermidade vão sendo transmitidos para toda a humanidade porém, esta não é uma doença que vem do sertão ou das matas, muito menos dos guetos e dos subúrbios. Esta é uma doença que é emanada das cátedras, das Universidades (salve as raras exceções) e irradiadas para a sociedade e o pior, é que os mesmos que nos contagiam com esta doença nos dizem que tem a cura.

Podemos citar inúmeras pérolas desta patologia que sofre a inteligentzia brasileira, todas as quais presenciei assombrado tamanho pedantismo e outras tantas, era eu o infectado e, como nos lembra Goethe citado por Olavo de Carvalho, contra nada somos mais severos do que contra os erros que abandonamos.

Comecemos com uma bem atual, que é o ensino de filosofia para os alunos do ensino médio. Com a filosofia não há nada de errado. O que há de errado é com os pretensos professores de filosofia e com a formação que estes tem. Nas Universidades brasileiras, o livro O mundo de Sofia, do escritor norueguês Jostein Gaarder, é usado largamente para o ensino de filosofia. É em muitos casos o único livro de cunho filosófico que um acadêmico lê no correr de sua formação. Mas o que há de errado com isso? Ora, O mundo de Sofia é um livro para adolescentes e não para servir de base para uma formação acadêmica! Aí me respondam: qual o respaldo gnosciológico (de conhecimento) que um professor terá para ensinar filosofia para estes jovens? E o pior, tanto ele, como o Sr. que diz que lhe ensinou filosofia diz que “manja” do assunto.
Mas o pior é que a loucura não para na graduação, ela continua na especialização, onde aliás, presenciei cenas que fariam o Oráculo de Delfos ruir. Uma delas, a que julgo mais cômica e mais grave, foi quando um professor afirmou com todas as letras, que durante a Idade Média não havia filosofia mas, fazendo uso de um neologismo, apenas uma “teosofia”. Bem, para começo de conversa, teosofia foi um termo criado pelos neoplatônicos para denominar o conhecimento das coisas divinas, emanadas direto de Deus e só irão ser retomados pelos místicos da Reforma Protestante como Jacob Böhme (1620, aproximadamente). Mas, a teosofia se consolida como “disciplina” autônoma apenas em 1875, com o surgimento da sociedade teosófica que nada mais é que uma mistura de ocultismo e crenças orientais que pretensamente estariam fundadas em uma inspiração divina. Em outras palavras, teosofia, não é um mero neologismo que pode ser usado de forma irresponsável mas um conceito que aliás, não cabe justamente no recorte temporal que o dito professor utilizou.

O que é mais duro nisso tudo, é que o indivíduo acredita piamente que sabe e os seus ouvintes também crêem que ele seja uma sumidade e pior, passam a repassar os engodos ouvidos como sendo uma beática evidência da verdade.

Isso é o auto engano. Nós nos indignamos com a hipocrisia alheia, nos retorcemos com uma urticária avassaladora diante da safadeza de outrem mas, convivemos de bem com o hipócrita que habita o nosso íntimo. E mais, o auto-engano não é um fenômeno isolado, se assim o fosse, não seria tão grave. O problema maior são suas manifestações coletivas que acabam por gerar tragédias congênitas ao próprio ato que as deflagrou. São as multidões convictas que seus enganos sejam certezas que acabam por cometer erros descomunais e por isso, não é atoa que se diz que toda unanimidade seja burra.

Deste modo, lembra-nos o filósofo espanhol Xavier Zubiri, que saber, é mais que discernir a aparência da realidade, mas sim, saber é definir. E mais, saber não se restringe apenas a isso. Saber é mais que discernir e definir. Só sabemos plenamente o que é algo quando sabemos o ‘por que’ este algo é assim.

Aí, o troço fedeu! Se ouve das bocas de educadores e se lê em seus projetos e em livros de intelectuais renomados constantemente a afirmação de que devemos ensinar as crianças a aprender a aprender. Aí eu pergunto: definam o que é aprender a aprender e expliquem-me o que é isso e por que isso é assim?

Depois o doido sou eu, tudo bem, mas esse é um bom exemplo de auto-engano que esta impregnado em todos os orifícios dos membros do sistema educacional brasileiro, seja ele público ou privado. Pessoas enganas, convictas que seus erros são luzes de certeza, enganam outras crendo piamente que estão elucidando a vida de seus ouvintes.

É difícil olhar para dentro de nossas almas, com toda certeza. Erasmo garantia-nos que o homem que ousasse olhar para dentro de si sem parcialidade, iria feder nas suas próprias narinas mas, é apenas esta postura que a milênios o Oráculo de Delfos nos receita como um ungüento para este mal: conheça a ti mesmo. Mas, a impressão que se tem é que as pessoas preferem mentir para si mesmas e acreditar em suas mentiras para evitar o desprezo de si mesmas, como nos lembra Giannetti.

E mais, quando temos nossa vida envolta desta telenovela mexicana que é o auto-engano, isso acaba por afetar a nossa própria inteligência, a nossa capacidade de diferenciar o certo do errado, o bem do mal, etc.. Nós na maioria das vezes não procuramos a face da verdade mas o conforto das palavras que evocam o que gostaríamos de ouvir. Deste modo, confundimos freqüentemente nossa vaidade presunçosa com a inteligência, que nos casos mais graves, já se perdeu a muitos anos.

O problema começa no fato de nós não desejarmos estar certos em que estamos fazendo mas apenas em fazer. E se estivermos errados nós não nos preocupamos com os males gerados por nossos atos mas sim, se alguém irá saber que formos nós os autores da cagada.

Pois bem, se observarmos em todas as culturas tradicionais, desde a Grécia até o Cristianismo e o Islamismo, o ser humano é descrito como aquele que esquece, como um ser esquecente. O problema, é que nos dias de hoje ele não só se esquece como se esqueceu que esquece, vivendo a enganar aos outros sem saber que esta se enganando. O auto-engano nada mais é que uma mentira que nós contamos para nós mesmos e nos esquecemos que há proferimos como tal, passando a crer nela como uma verdade inabalável. Aí, a lucidez nestes momentos se faz parecer como uma excentricidade.

Para ensinar não basta um papel imundo que lhe autorize para tanto, faz-se necessário saber. Mas, o que se faz necessário para se aprender? E depois tem gente que não sabe o porque que não se leva a sério a educação neste país. (Continua)

 

 


Meditações pedagógicas
Parte II

 

A mente humana inclina-se, mediante os sentidos, a fazer-se visível no corpo, e, com muita dificuldade, por meio da reflexão, a entender-se a si própria.
(Giambattista Vico)

 

Nós vivemos em uma sociedade de omissos e de mal criados. Não estou dizendo que seu filho seja mal criado, o que talvez seja possível mas, que todos nós de nossa geração somos um bando de malcriados omissos, isso sim. Aliás, não há coisa que mais nos deixe feliz que uma boa malcriação. Que não seja direcionada para a nossa pessoa, é óbvio.

Dentro destes termos, podemos classificar as posturas de pais e professores, sem medo de errar, entre os passivos, os agressivos e os alternativos, como nos lembra Paulo Gaudencio. Podemos dizer que os pais e professores passivos, são como um barqueiro que se vê diante de uma queda d’água e ao sentir o perigo, deita-se no fundo da canoa e deixa que ela se arrebente. O agressivo, seria o barqueiro que se vê diante do perigo eminente da cachoeira e, começa a remar intensamente contra a correnteza. Ele não fala pelos cotovelos sobre os problemas, ele procura uma resolução.

Mas, há ainda o barqueiro alternativo, que quando se vê diante do perigo de uma queda d’água, ao invés de deitar dentro da canoa ou de remar contra a correnteza, ele toma uma terceira via: fica em pé na canoa e começa xingar a cachoeira. Este é o tal que não quer saber de fazer nada e de se comprometer com nada. Só quer saber de falar pelos cotovelos. E como há pais e professores que falam pelos cotovelos, pelos calcanhares, pelos...enfim, como falam.

Muito se fala e se queixa o professorado o que por sua vez, torna difícil qualquer discussão séria quanto a pontos basilares da educação pelo simples fato de que este deveria ser o ambiente onde se deveria imperar a verdade e a sinceridade e é justamente onde mais há intriga e falsidade. Eu bem que poderia ser mais um demagogo a alizar a cabeça do professorado tecendo pomposos e pegajosos elogios mas, como prefiro ser sincero e, devido a isso, muitas vezes sou um tanto ríspido no uso das palavras mas, recuso-me a ser mais uma destas víboras que traem com um beijo. Muitas vezes por uma questão de distribuição de aulas, ou por causa de um pai que pensa que seu filho é um Santo, outras tantas por questões políticas e até mesmo pessoais, uma escola vira um inferno, ou Não? Ah! Por favor, sejamos ao menos autênticos conosco mesmo, não se preocupe, ninguém ficará sabendo.
A verdade para poder se revelar a nós necessita apenas de sinceridade e como é difícil sermos sinceros uns para com os outros e muito mais, consigo mesmo, ou não? Toda discussão referente a educação começa sempre pelo avesso. É sempre difícil falar de nossas falhas, nem que seja só para nós mesmos, não é?

Pois bem, partamos então para questões maiores, como o que seria a educação em si? O conceito educação vem do latim ex ducere, que quer dizer guiar para fora. E o que isso significa? Vemos um pequeno exemplo: Um bebê de colo tem apenas as informações referentes ao estado de seu organismo, apenas informações internas, correto? Por isso que toda vez que este se manifesta para o mundo externo é devido a alguma informação emitida pelo seu mundo interno como por exemplo: estou com fome, sede, cansado, com as fraudas cheias, etc. Para este bebê de colo, o mundo é apenas o seu organismo e os seus apelos. Gradativamente, sua capacidade de ação se amplia na medida em que este bebê de colo vai adquirindo conhecimento da linguagem e eis aí o sentido do real. A realidade nada mais é que sua capacidade de ação no mundo e esta capacidade de ação é maior ou menor, na medida em que você conhece o mundo, e o por isso da afirmação dos escolásticos de que quanto mais eu seu mais eu sou. Eis aí o sentido do barqueiro agressivo.

Quando se diz que um determinado livro ou assunto não tem nenhuma conexão com a realidade, está se afirmando uma grande bobagem! A realidade de um indivíduo se determina pela sua capacidade compreensão do mundo e não do mundo se reduzir a sua significação para se enquadrar em nossa insignificância. Não se trás um conhecimento para a realidade de uma pessoa mas apenas se amplia a capacidade de ação de uma pessoa através da aquisição de um determinado saber.

Este papo que circula pelo meio pedagógico de que se deve procurar contextualizar todos os conteúdos escolares de acordo com a realidade do aluno não passa de uma grande embromação e perigosa, diga-se de passagem. Quando falamos em algo que se relaciona com o cotidiano, estamos a procurar a praticidade, a utilidade de um certo conhecimento, correto?

Muito bem, se continuarmos por esta senda, veremos também juntamente com este discurso que se faz corrente no magistério de que se deve apenas ensinar saberes que os alunos possam utilizar no seu dia a dia, certo? Pois bem, então me digam qual a praticidade de uma poesia? Ou de um sistema filosófico? Qual a utilidade da obra de Machado de Assis? E da Bíblia Sagrada e demais Santas Escrituras? Qual a praticidade que a história nos oferta?

Nenhuma, Dio Madona! Todos estes saberes não tem uma utilidade prática no nosso dia a dia, são inúteis! Mas quem disse que a grandeza da alma humana está nas coisas úteis? São justamente estas coisas inúteis que dão sentido a nossa vida, que nos tornam maiores que a rispidez do nosso dia a dia. São estas inutilidades que nos fazem sermos maiores que a tragédia cômica que é nossa existência. Nós nos tornamos mais dignos não quando nos tornamos pessoas pragmáticas e utilitaristas mas sim, quando somos capazes de transcender estas vilezas. Ou por que será que sempre a pena vence a espada, e a Cruz dobra o aço?

Este negócio de trazer o conhecimento para a realidade do aluno não passa de um grande falácia, pois há determinados saberes que estão além da praticidade e são eles que nos levam ao limiar do infinito. Ou vocês vão me dizer que foram as preocupações do dia a dia que levaram Einstei a formular a sua teoria da relatividade, por exemplo? Ou que Leibniz propunha um esquema prático como uma betoneira? Não. Todas as grandes criações da mente humana não nasceram de uma preocupação com este nosso limitado mundo do dia a dia mas sim em transcendê-lo ao infinito.

Mas não, o que procuramos ensinar para nossos jovens? Sejam pessoas práticas, nós só lhes ensinaremos o que vocês poderão utilizar nos seu dia a dia. E é o que estamos a fazer desde o século XVIII de forma gradativa, a dar maior valor aos saberes práticos sobre os que estão além disso. Aí nos perguntamos por que está havendo um declínio tão grande dos valores que norteiam a nossa sociedade?

Um bom exemplo disso é o Natal, data Sagrada para os Cristão, momento o qual se deveria celebrar o nascimento de Jesus Cristo, o filho unigênito de Deus. Um momento em que nós deveríamos refletir sobre nossa postura enquanto Cristão mas, o que vemos muitas vezes em nossas famílias? Unicamente uma preocupação com a ceia, com os presentes, com os regalos carnais da festa. Ou isso só acontece comigo e com minha família?

Ensine a um homem apenas os segredos da praticidade de uma máquina, e ele um dia pode vir a matá-lo com os engenhos que você lhe revelou. Mas se além disso, você revelar os segredos do universo da alma humana e de seu criador e este não só salvara a sua vida, mas dará a dele para salvar a sua.
Deste modo, o que será que estamos ensinando para nossos jovens? E nós, que exemplo de vida somos para eles? Será que somos dignos e bons o suficiente para cobrarmos deles que sejam melhores do que nós? Talvez não passemos de um bando de loucos perdidos dentro de sua própria camisa de força. (continua, mas só ano que vem. Boas festas)

 

 


Meditações Pedagógicas
Parte III

 

As soluções coletivas, a que muitos se apegam com tanta fé, nunca são adequadas
(Aldous Huxley)

 

É típico no nosso sistema educacional e bem como em toda a nossa sociedade o ufanismo em cima do direito de opinião, como também é típico se ouvir da boca de um adolescente ou até mesmo de uma pessoa de idade mediana, adulta, que você deve respeitar o que ela disse porque esta é sua opinião, mesmo que seja um amontoado de bobagens.

Todos, obviamente tem o direito de expressar a sua opinião desde que, tenha uma. Uma coisa só é sua quando você a conhece em sua inteireza, por exemplo: se tem realmente um amigo quando você o conhece ao ponto de confiar nele de forma absoluta, correto? Pois bem, como se pode afirmar que um amontoado de palavras faladas da boca pra fora sobre um determinado assunto que foram baseadas apenas no que se ouviu falar sobre ele, como sendo uma opinião formada? Aí, um infeliz começa a lhe interrogar sobre o assunto e este normalmente pode vir a tomar duas posições: ou enrola mais ainda o seu interlocutor ou, enfim, toma uma postura “digna”: parte para a violência verbal. E é deste modo que muitas pessoas expressam o que elas acreditam ser a sua opinião sobre um determinado assunto. Se perguntassem para minha nona o que é clonagem, ela responderia que não tem uma opinião formada sobre o assunto mas hoje, todo mundo tem alguma “coisinha interessante” para dizer sobre o assunto.

E justamente quanto a este assunto, há um conto do saudoso Humberto Campos onde um padre estava em um navio que estava vindo para o Brasil. Quando próximo da Baia de Guanabara, este fica no convés a contemplar a beleza de nossa costa e eis que duas moças se aproximam dele e este começa a lhes falar que ele já andou por várias partes do mundo mas que não existe país mais belo que o Brasil. Em seguida as moças lhe perguntam se a fiscalização no desembarque era rígida e este afirma positivamente. Aí as moças lhes revelam que elas estão vindo para o Brasil para assumir a herança que receberam de um tio e que estavam a trazer as jóias da família. Só que estas eram muitas e elas tinham medo de que as jóias fossem confiscadas como se fossem contrabando. Deste modo, elas pediram ao distinto sacerdote que lhes ajudasse escondendo algumas jóias debaixo de sua batina.

Após ter meditado sobre o assunto o padre concordou em ajudar as moças.

Descendo do navio, foi até o posto de fiscalização com as duas moças logo atrás dele. Chegando lá os fiscais lhe revistaram a mala e os bolsos e nada encontraram. Aí, um dos fiscais lhe pergunta baixinho ao pé de seu ouvido: — O Sr. não tem nada escondido debaixo de sua batina? O padre ficou assustado! Já pensou o escândalo! Um padre mentindo e com jóias escondidas em suas vestes! Para evitar maiores complicações resolveu falar a verdade, se aproximou do fiscal e sussurrou em seus ouvidos: _ Sr. Fiscal, o que tenho debaixo de minha batina é destas duas moças que estão atrás de mim. O fiscal apenas riu, e o deixou prosseguir.

Este pequeno conto, nada mais é que o retrato de nossas opiniões. Muitas das vezes não conseguimos ver com clareza a verdade por deixarmos a malícia se sobrepor à sabedoria, que foi o caso do fiscal que por malícia não quis ver as jóias embaixo da batina, que eram a verdade, preferindo ficar a imaginar que os ... do padre eram objeto de uso fruto das moças.

Quando nós ensinamos as nossas crianças que devemos expressar a nossa opinião sobre tudo sem antes formar, construir uma opinião, nós estamos ensinando a elas o caminho do auto-engano, da malícia e não a senda da sapiência.

Afirma-se que incitando aos alunos a se falar pelos cotovelos sobre assuntos obscurecidos pela mídia e, em nossas cabeças, estamos a ensinar os nossos jovens a pensar, que estes estão a desenvolver o que se passou a chamar pelo cacoete de “pensamento crítico”.

Pois bem, primeiramente para que uma pessoa possa desenvolver o seu intelecto, faz-se necessário que ela se encontre em silêncio para que ela possa se concentrar no objeto de sua atenção para que ela possa concentrar-se naquele dado objeto para desvendar os seus meandros. É difícil se falar em concentração em um mundo como o nosso onde as pessoas são profundamente distraídas e que alias não suportam o silêncio. Em todo e qualquer local, seja em um bar, em um terminal rodoviário ou até mesmo em nosso lar, sempre há uma televisão ou um aparelho de som fazendo seu espetáculo. Em todo lugar há um barulhinho para que possamos nos distrair e não nos concertarmos, para não nos centrarmos.

Cabe lembrar que a palavra distração na Idade Média queria dizer ser despedaçado por cavalos e, deste modo, como que uma pessoa consegue ter uma opinião sobre um determinado assunto sendo que ela nem consegue se concentrar nele para conhecê-lo? E aí, este indivíduo de mente dispersa quando vai expor o que ele chama de opinião, a única coisa que tem em mente é expor “o que ele acha” sem conhecer a dura e desagradável verdade.

A educação e o mundo em si, se transformou em um mar de achismos. Podemos pegar a própria educação como exemplo. A maioria absoluta dos educadores “acham” que o dito construtivismo é a melhor das teorias educacionais mas nunca estudaram uma outra teoria a fundo e muito menos os críticos desta. Também fala-se muito do ensino tradicional mas desconhecem por completo as obras dos autores que seriam denominados como tradicionais.

Mas é aí justamente que está o X da questão. Basta se afirmar que uma teoria foi supostamente superada, ou que ela é reacionária, conservadora ou tradicional que ganha ao invés de um devido estudo, recebe um sinistro desprezo. Digamos que estes sinônimos que são apregoados a determinados assuntos e pessoas é o mesmo que as fofoqueiras falam de uma mulher que elas mal conhecem. Somos acostumados a tachar, o que desconhecemos e principalmente o que nos ameaça. Por preguiça, nos agarramos a um degrau da escadaria do saber e afirmamos a todos que aquele único degrau é toda a escadaria da sabedoria.

Para se entender algo com a devida clareza, nós temos que mergulhar nas profundezas de suas águas pois se ficarmos apenas a boiar nestas, a única coisa que veremos é a superficialidade das águas, com suas espumas e ondulações.

Hugo de São Vítor, grande educador do século XIII, nos ensina que o homem que se dedica aos estudos não deve procurar nele a satisfação dos desejos de suas paixões mas sim libertar-se através da busca da verdade. E eis aí o que podemos chamar de um patamar mais elevado de consciência, quando uma pessoa consegue elevar o seu intelecto acima desta estreita visão de mundo que nos é imposta pelas nossas paixões e pela nossa vaidade. As pessoas não desejam entender o mundo e a si mesmas mas transmutá-los a imagem e semelhança de suas fraquezas e é a isso que chamamos hoje de educação.

Nos deixamos mover pelas nossas paixões e o pior é que ensinamos isso como sendo uma alta virtude.

 

 


O Coração fingido dos revoltados

 

...as coisas se denominam verdadeiras segundo a verdade que habita na inteligência...
(Sto. Tomás de Aquino)

 

Dias atrás, encontrei-me com uma amiga minha em Guarapuava e esta havia me dito que leu o meu último artigo publicado neste jornal e que, havia apreciado este com algumas ressalvas. Estas por sua vez, segundo ela, seriam que eu havia criticado o ódio dos terroristas e de seus simpatizantes mas, que ela podia sentir uma certa raiva por trás de minhas palavras.

Não sei se foi só ela que pensou isso de minhas palavras e consequentemente de minha pessoa mas, um comentário deste é digno de algumas ponderações.

Certa vez, conta-nos Nelson Rodrigues, que um militante de esquerda, amigo seu, estava indignado com um artigo de Gustavo Corção, um conservador, onde o mesmo havia escrito um artigo amorosíssimo sobre seu filho e ele não conseguia entender como que um homem que ele odiava tanto poderia ter escrito algo como aquele texto. Aí Nelson Rodrigues lhe diz que o amor que transparece no dito texto, está presente em todos os seus escritos. Mesmo naqueles onde Corção fazia uso das palavras mais ásperas, o que havia por trás da tinta era apenas amor, porque ele era todo amor. Nelson Rodrigues dizia que Corção em seus artigos, mesmo nos mais ríspidos, era sempre como um pai, sempre querendo o bem para a sua prole.

Neste sentido é que vejo minhas palavras pois o meu único intuito é compartilhar estes fragmentos de mim, deste meu jeito de ser com as letras, um tanto atrapalhado do mesmo modo que sou em meu andar. Ao contrário de Laden, não tenho a pretensão de mudar o mundo e a maneira das pessoas viverem. No máximo falar-lhes da minha maneira de ver vida e nada mais.
Deste modo, também vejo neste comentário uma profunda confusão que se faz entre o que seja amor ao próximo com sentimentalismo barato. Este é um estado perigoso e daninho da personalidade que obscurece a nossa compreensão da vida, nos afastando da sabedoria.

O sentimentalismo pode ser entendido como as emoções que fogem ao olhar vigilante da sabedoria, deixando a pessoa ao relento da pulsão do sabor de suas emoções. O que há de errado neste tipo de postura, o sentimentalismo, é que ele emerge de uma convicção ignorante. O sentimentalismo não procura compreender a realidade mas sim, em um desespero patético anseia que ela se transforme para que assim ela possa saber onde está.

Uma pessoa imbuída pelo sentimentalismo não suporta ouvir os clarins da verdade porque estes estouram os seus tímpanos que estavam acostumado com as palavras pegajosas de bajuladores, pessoas estúpidas tanto quanto os bajulados. Um bom exemplo disso, são as manifestações de estudantes, das quais já participei.

Lá estão os membros da UNE (União Nacional dos Estudantes), a protestarem contra o governo, contra o FMI, ficando peladinho enfrente ao Palácio do Planalto, ou ateando fogo no Relógio da Globo (um dos relógios da comemoração dos 500 anos) em Porto Alegre, e aí a lista vai correndo. Após todo o protesto, todos vão para um butiquim tomar umas e outras, se embebedam e caem na noite. E o pior de tudo é que eles acreditam que a humanidade deveria se sentir grata pelo que eles estão fazendo. Não são lindinhos?!

Não sou contra manifestações mas sim, contra este sentimentalismo fútil. Ora, os mesmos estudantes que protestavam nas ruas contra a exclusão social, em sua maioria nunca colocou os pés em uma favela. Isso é o que nós temos de melhor a oferecer?

Antes que me chamem de fascista, menciono apenas um exemplo dado pelo falecido Roberto Campos em seu último artigo, onde citava o exemplo de um rapaz inglês, chamado Craig Alden. Uma pessoa saudável que gosta de futebol, religioso sem fanatismo, ficou profundamente impressionado com os maus tratos dados a crianças em um lugarejo de Brasília. Diante disso, ele resolveu se juntar com outros colegas seus e passaram a marchar com bandeiras e faixas pelas ruas e vielas londrinas, protestando, exigindo que alguém tomasse alguma providência. Não, pelo contrário. Ele resolveu, em silêncio e sem fazer algazarra, deixar o seu país e vir para o Brasil ajudar de alguma forma aquelas crianças.

Este moço hoje toma conta de 43 crianças, com todas as dificuldades que você possa imaginar. Ele não é um visionário, nem mesmo defensor de alguma ideologia esdrúxula, mas apenas uma pessoa que diante da imagem do sofrimento humano, não quis projetar esta dor que lhe comia as entranhas para um terceiro sujeito, que normalmente é o Estado, o governo, o sistema, etc.. Ele resolveu aliviar a sua dor, procurando ajudar aqueles que faziam parte da imagem que lhe invadiu a alma mostrando-lhe a dura e fria face da vida. Ele procurou aliviar o sofrimento de sua alma adentrando a imagem que lhe apertou o peito.

Ele poderia simplesmente fazer uma manifestação em Londres e ficar conhecido na mídia inglesa, como fazem os desocupados da UNE, e sair candidato a deputado nas próximas eleições. Mas não, ele preferiu ficar na beatitude do anonimato, fazendo a sua parte. Eis aí a diferença entre o sentimentalismo furtivo e o amor ao próximo.

Eis aí o que torna a democracia uma lona de circo, que passa a acobertar e a justificar toda e qualquer palhaçada. Aliás, nos últimos anos nosso país só tem vivido disso, de queixas de um lado e de bajulações sem fim do outro.

Somos perseverantes em chorar o leite derramado mas apáticos para ordenhar a vaca. Como nos diz o Alcorão Sagrado: “Em verdade, premiaremos os perseverantes com uma recompensa, de acordo com a melhor de suas ações.” (16:96)

Se, ao invés de empinar bandeiras pelas ruas como uma criança que empina uma pipa, por que muitos destes jovens não tiram algumas horas por semana para atender crianças carentes, cegos, idosos e enfermos, como fazem alguns jovens na Europa e nos EUA? Tal atitude não depende de sua convicção religiosa ou ideológica, apenas de uma atitude madura.

Tal gesto não mudará o mundo como alias não significará nada para este. De mais a mais, as multidões não sabem ver, nem ouvir, somente falar pelos cotovelos. Por isso, diante da grandeza de um pequeno gesto, os aplausos das multidões não é relevante. O que importa é que você seja algo para aquela pessoa, como o garoto da parábola foi para algumas estrelas do mar.

Se você tem uma alma madura, ao invés de gritar indignada (o) com os ataques Americanos ao Afeganistão, antes de qualquer coisa, se indigne com você mesmo que fica envolto de um falatório abestalhado. Não façamos do auto-engano o âmago de nosso ser, não deixemos a nossa inteligência torpe com os véus de um sentimentalismo barato pois ser humilde é ter senso de realidade e não mascará-la com simplicidade sofística.

A simplismo do olhar faz a complexidade do erro.

 

 


Atentado à inteligência

 

Temos criado para o inferno numerosos gênios e humanos com corações com os quais não compreendem, olhos com os quais não vêem, e ouvidos com os quais não ouvem.
(Alcorão 7:179)

 

Sempre quando ocorre um incidente da magnitude do ocorrido em Nova Iorque, o que mais chama a minha atenção não é o fato em si mas sim, a reação das pessoas entorno do ocorrido. No passar destes dias, ouvi inúmeras opiniões quanto ao assunto onde as donas destas expressavam um profundo sentimento de ódio aos EUA.

Todavia, não o mesmo ódio que moveu os terroristas a atirarem contra o WTC aquelas duas aeronaves mas um de tipo mais vil. Os terroristas cometeram um ato extremo. Quando uma pessoa tira a vida de milhares de pessoas acreditando que isso irá trazer alguma melhoria para o mundo, é porque este já perdeu toda a sensatez, toda a lucidez e, de mais a mais, toda a derrocada de uma sociedade violenta por vias violentas, irá gerar uma sociedade muito mais violenta que a que há, como nos lembra o cientista político Norberto Bobbio.

E, como sempre digo, eu não temo o insensato, mesmo que esteja armado, pois quando um indivíduo que se vê neste estado, ele não mais agem por via racional, portando-se como um animal e como tal, os animais irracionais, mesmo que com uma certa dificuldade são subjugados por um ser provido de razão.

Pois bem, o que me assusta, são as ditas pessoas lúcidas e até muitas ditas letradas, que opinam sobre o assunto, festejando de uma forma sarcástica a morte deste milhares de civis inocentes. Há quase que um coro unanime em meio as vozes da população pró-atentado sem saber ao certo o porque de seu ódio. Ora, quando uma pessoa comete um ato estremo de ódio como um atentado é porque este já não consegue mais ver nenhuma possibilidade de ação senão a bestialidade da violência mas, o que leva uma pessoa que leva uma vida tranqüila a se excitar com a morte de milhares de pessoas, as quais, ela não conhece?

O horror maior não está em Nova Iorque e nem no Afeganistão, mas aqui mesmo, bem junto de nós. Há coisa mais sinistra do que comemorar a desgraça alheia? É isso que contamina o mundo com toda espécie de males. Todo mal que afeta a sociedade e que trás pesar a nós, não emana do nada ou das coisas, mas sim, de nossos corações (Marcos 7:20-23). O grande mal não esta nas ruínas do WTC e nas milhares de vidas apagadas, mas sim em nossos corações que através de nossa visão míope vê em Bin Laden um símbolo de redenção da humanidade contra a tirania americana.

Como que uma pessoa inteligente pode ver neste homem um justiceiro, um homem que multiplicou a sua fortuna fazendo uso do sistema que ele pretensamente diz querer destruir? Ora, se o seu intento é realmente beneficiar o seu povo oprimido, causticado, porque que ele não usou a sua fortuna de aproximadamente mais de U$ 300.000.000 para obras que não fossem belicosas? E o Taliban, um grupo de homens que mata mulheres a pedrada, que torna a vida dos civis um verdadeiro inferno e ainda, mantém campos de genocídio para eliminar os Hindus? É este tipo de gente que quer acabar com a tirania no mundo.

Da mesma forma que Hitler manipulou o povo alemão contra os judeus Laden, está tentando manipular o mundo Islâmico para que parta para a loucura da guerra. Ou melhor, como um Guevara, que diziam que todo revolucionário deveria ser uma máquina de matar, que deveria não só haver um Vietnã, mas um, dois, três, vários Vietnãs. E deste modo, com o mesmo cinismo e presunção, Laden age e nós, com a mesma simpatia com que admiramos este cultuador da violência que foi Guevara, muitos de nós olham para Laden.

Por isso, frente a estas situações é que fico com Madre Tereza que dizia que o inferno está cheio de boas intenções como as de Guevara, Hitler e a de Laden. Ora, os maiores crápulas da humanidade diziam defender causas justas e emancipadoras e nós, como sempre, nos deixamos muitas das vezes nos influenciar de foram leviana pelas palavras falazes destes pretensos redentores.

Não estou a dizer que os EUA é um Estado Beático como também não é o grande front de Satanás. Não devemos confundir o Estado Nação com a população civil. Quem apoiou a criação do Estado de Israel não foi o povo estadunidense e judeu mas sim, seus governantes e, não é só aqui nestas terras abaixo da Linha do Equador que a sociedade Civil é mal representada.

Doravante, ao mesmo tempo que vejo inúmeras pessoas a verem com bons olhos a figura deste Saudita, vejo as mesmas pessoas preocupadas com o crescente aumento da violência em nosso país, principalmente por parte de crianças e adolescentes e em como estes fatos podem vir a influenciar estes.

Isso sim, é o cúmulo da hipocrisia. Vejam só: primeiramente um professor ensina a criança que devemos respeitar a vida, que ela é uma dádiva divina, bla bla bla. Depois, comentamos empolgados a queda WTC e que tal ato é corretíssimo, que foi bom e que estava mais do que na hora disso Ter acontecido. Ma Dio Madona, não é o atentado em si ou qualquer imagem violenta que irá incitar uma criança a violência mas sim, a nossa posição frente a estes atos.

Você não precisa agredir alguém para estimular a violência, basta você reagir de forma positiva frente a ela porque a violência em si é assustadora e não “legal”, ou alguma delas sorri quando o pai vem para o seu lado para castigá-la dizendo: “que legal, que legal, eu vou apanhar!”. Todavia, o olhar de satisfação e contento que dirigimos para um acontecimento como este do dia 11/09/2001 é que leva a criança a ver a violência não só como sendo algo positivo, mas prazeroso.

Mas e quanto ao Islam, eles não dizem que o Jihad (a guerra santa) deve ser realizada contra todas as potestades das trevas? Isso não é também um estímulo a violência, uma religião instigar os seus fiéis a violência? Depende como que você lê o Alcorão e para que você recorre a ele. Você pode lê-lo literal e rasa ou dentro de uma perspectiva noológica (espiritual) que é o caráter de qualquer Escritura Sagrada pois, as religiões não nós falam das coisas mundanas mas sim, do indizível, do Sagrado.

Neste sentido, o Jihad, é antes uma guerra do fiel contra as suas fraquezas e paixões obscuras do que contra os infiéis. No Hadihs do profeta diz que, logo após Mohamed e seus seguidores terem tomado Meca, um deles lhe perguntou: Profeta, nós vencemos o Jihad? E este lhe respondeu: Este é apenas um pequeno Jihad pois fora travado em um pequeno campo de batalha. O grande Jihad deverá ser travado no grande campo de batalha que está dentro de você. Isso sem falar, que o Alcorão e a declaração dos direitos humanos do Islam condena expressamente a morte de qualquer inocente e, de mais a mais o mesmo teor belicoso que há no Alcorão há, no Antigo testamento.

Por fim, olho com tristeza, a morte das milhares de pessoas no WTC bem como me compadeço com a morte de qualquer inocente mas, me correi as entranhas ver, é esta hipócrita postura de preocupar-se com a agressividade de nossos jovens e ao mesmo tempo aplaudir os protagonistas de um atentado genocida.

No fundo, o que move este ódio aos estadunidenses não é uma ânsia por justiça mas sim, a inveja irmanada da mais pura vaidade. Odiamos os gringos pelo simples fato de eles terem tudo o que achamos que deveria ser nosso. Toda idolatria da desgraça é nada mais que um lobo vestido de vovozinha. O resto é conversa para camelo dormir.

 

 


Algumas considerações sobre a idéia do pecar

 

Nos dias de hoje se tem um forte para não dizer absoluto preconceito quanto a idéia de pecado. Contra as pessoas que admitem serem pecadoras vem uma multidão de psicólogos, sociólogos, pseudo-filósofos e aquela multidão de jovens e adultos (em termos biológicos) a condenar como falsos moralistas todo aquele que defende que somos culpados por nossos atos e que, fazer o que quer não é liberdade mas o ato mais vil, por se entregar a escravidão dos impulsos da carne.

Sempre ouso disserem nos círculos acadêmicos que o pobre do indivíduo não tem culpa de nada. Que ou ele é vítima de um trauma ou distúrbio psicológico ou, que ele foi induzido pelo sistema injusto em que vive ou, que seus atos são frutos da influência da mídia ou por que a sociedade não lhe proporcional uma chance merecida.

Mas que cúmulo é este? Será que a idiotice da classe dita culta chegou a este patamar e achamos ainda que nós, indivíduos humanos dotados de inteligência não temos culpa de nada? De quem é a culpa afinal?

Sempre foi e sempre será nossa. Uma coisa que a meu ver os ditos intelectuais universitários se esqueceram (ou são estúpidos em demasia para compreender) é que a noção de responsabilidade e culpa se fundem e que, só existe liberdade onde há responsabilidade.

Sem falar que, a idéia de liberdade não é o de fazer o que bem entende, mas sim a de se elevar noologicamente (espiritualmente). Quanto mais você se eleva e se liberta das suas paixões, de seus vícios mais liberto você se torna e não este “fazer o que se bem entende”. Isso não é liberdade mas sim livre arbítrio ou, no falar modernizado: direito de escolha.

Deste modo, este proclamar que devemos viver sem culpas, que é proibido proibir, não é um grito de liberdade mas sim um apelo a escravidão.

Mas onde entra o pecado nesta história toda? A questão não é o pecado em si mas, a responsabilidade pela falta mas sim, é reconhecer que se peca mas se arrepender do erro e se redimir. Esta noção, de reconhecer que errou e se arrepender do seus ato é um sentimento que cada dia mais vem a se extinguir.

Mas em que consiste o pecado? A partir do momento em que você escolhe a criatura e não o caminho que leva ao criador (entenda-se canto criador tanto o Deus pessoa dos religiosos como o Deus verdade absoluta dos filósofos). Entenda-se por criatura as riquezas, o poder, o sexo que para a pessoa que não tem afinidades com o conceito de pecado, são valores muito mais importantes que a Verdade de si.

O que vale mais: uma carteira cheia de papel sujo ou ser justo? Uma noitada em um bordel ou uma vida respeitosa? Ser um político canastro ou ser uma pessoa leal aos seus princípios? Ser desonesto ou honesto consigo mesmo? Ser depravado ou ser puro de espírito? Odiar algumas pessoas do fundo do seu coração ou perdoá-las com a mesma intensidade que você pretendia amaldiçoá-las?

A escolha por um destes caminhos pode significar a sua libertação ou a sua escravidão. Lembre-se com que ofertas Satanás tentava Jesus e qual caminho que ele escolheu? Lembra-se?

Por fim, eu não sou Santo e neste sentido minhas palavras não são tão dignas quanto eu gostaria que fossem. Mas as de Sócrates, que era homem de vida Pia e digna são e este dizia-nos que uma vida não é revista é uma vida que não vale a pena ser vivida. E sendo assim, quantas vezes você reviu e refletiu sobre a sua vida meu ilustre leitor?

Se você não o fez até hoje procure fazer pois as grandes contendas da humanidade são travadas dentro da alma de cada um e, o maior adversário de uma pessoa é justamente estes desatinos que temos por sermos imperfeitos e finitos.

E por mais que você não queira enfrentar as suas fraquezas e as lembranças de sua vida que mostram quem você realmente é, não se preocupe, porque elas não vem até você. Elas vivem dentro de você. Desta maneira, quando você estiver no recosto de seus berço esplêndido com seu travesseiro de pena de ganso, imerso no silêncio da noite, você sentira a profunda solidão que é característica do ser humano e terá que ouvir a voz de sua consciência.

Esta é a grande batalha do ser humano: superar a si mesmo afim de se tornar maior que sua própria existência. Enfim, a vida é isso: um ótimo momento para nos melhorar-mos.

Se você quer corrigir um erro, assuma-o! Não queira enganar aos outros pois estes são o seu reflexo.

 

 


De Alfa à Omega

 

Sempre se ouve nas vozes dos ditados populares que a única certeza que nós temos em nossa vida é que um dia nós iremos falecer. De outro lado, eis que nos fala o grande Sócrates, nos afirma que filosofar é aprender a morrer.

Por senda semelhante, o filósofo alemão Martin Heidegger no diz que o passar dos anos, não nos leva ao dia em que morremos, mas sim, ao dia em que nós terminamos de morrer, pois para este, a vida nada mais é que um devir para o fatídico dia. A partir do momento em que nascemos, nós começamos a morrer, a vitalidade vai dia a dia escorrendo por entre nossos dedos e a cada novo nascer do sol vamos nos dando conta de que conhecemos mais pessoas falecidas do que vivas. Pessoas as quais nos deixarão a sua impressão e que, acabaram por levar parte de nós com o apagar de sua chama vital. Isso nada mais é que a jornada humana, este caminhar solitário para um destino fatídico, onde algumas vozes do passado nos chamam a lembrar do que nós somos. Situação esta que é um privilégio ímpar na vida, situação que nós leva a nos banhar nas brumas da lucidez após ter singrado pelas águas da loucura do devir de nossa comédia humana.

Quando nós nos damos conta de que a vida é por demais breve para ser desperdiçada (uns de maneira precoce outros mais tardiamente), emergem no âmago de nosso ser a angustia por sabermos que estamos dia após dia nos aproximando do nosso Ômega. E é justamente quando vemos nossa carne já envelhecida a refletir no aço do espelho, que encontramos mais próximo do Alfa de nossa alma.

Podemos afirmar que o maior prêmio que se possa ser conferido ao ser humano seja este: o de vislumbrar do alto dos montes de uma vida vivida, as suas próprias marcas deixadas na aventura trilhada neste mundo por esta triunfante criatura que é o ser humano não mais na arrogância de sua mocidade.

Não é atoa que lemos, em um diálogo entre o patrono da filosofia e Céfalo, no livro I da República de Platão, onde Sócrates diz a este: “Em verdade, Céfalo, eu prefiro conversar com os velhos. Penso que devemos aprender com eles, pois são pessoas que nos antecederam num caminho que também iremos trilhar, para assim conhecermos como é: áspero e árduo ou tranqüilo e cômodo. Com certeza, ser-me-ia agradável conhecer tua opinião, porquanto já alcançaste a fase da existência que os poetas denominam ‘o limiar da velhice’.” (p.06, 2000)

A partir destes ditos de Sócrates, o que visualizamos na sociedade pós-moderna, é uma profunda segregação entre jovens e idosos em nosso tecido social, um mundo do imediato e um outro do “ultrapassado”. Há nos dias de hoje, ao contrário das chamadas sociedades tradicionais, um grande rompimento com o conhecimento da experiência vivida, com a tradição. Se chegarmos em uma comunidade interiorana, relativamente isolada e procurarmos conversar com as pessoas deste local, poderemos verificar que estas tem um profundo conhecimento da história de sua comunidade. Eles não vêem em seu passado algo dotado apenas de um aspecto museológico, mas vivem a sua memória de forma intensa, como parte integrante de seu ser.

Neste caso, vemos o quando que a figura do idoso é basilar para organizar o meio social. Ele não é apenas uma pessoa de idade avançada, ele é mais do que isso. Ele é a memória viva da comunidade, ele é o conselheiro dos aflitos, o porta voz dos valores que guia os pequenos, ele é o ancião, aquele que conquistou o respeito não frente aos outros por intermédio de grandes feitos, mas por ter singrado pelos mares da vida, águas as quais muitos de nós estão começando a se aventurar.

Agora, se formos observar um idoso em meio a nossa sociedade, o situação é outra. Em nossa sociedade, a base da organização de nosso tecido social não é o conhecimento tradicional adquirido pela experiência de vida mas sim, pela velocidade das informações que emergem de imediato todos os dias, a toda hora. O centro de nossa sociedade é a substância amorfa e sem sentido do imediatismo. Neste mundo, não há lugar para o conhecimento tradicional, pois não dá tempo para este tipo de saber pois, o presente urge por mais presente. O depoimento da historiadora Silvia Mello nos ilustra bem este estado de nossa sociedade onde a mesma diz que apesar de ser neta de costureira ela, não sabe nem costurar um botão.

Deste modo, vislumbramos o quanto que a fluidez do imediatismo acaba por projetar as pessoas para longe de si e próximas de algo amorfo como a volúpia do devir. Mas como assim longe de si? Neste sentido, vemo-nos mergulhado em uma sociedade que tem por base a informação mas informação do que? O que nós acrescemos a nossa alma que nos torna melhor? Nada. Tudo gira entorno do que seja ligado ao presente, em função da necessidade ungida pelo momento imediato. Deste modo, em que um idoso poderia vir a contribuir para organização do tecido social, sendo que o saber que se procura hoje diverge das palavras dos Santos Doutores? Como nos falavam os Escolásticos: quando mais eu sei, mais eu sou.

Doravante, toda criança e bem como todo jovem, tem a necessidade de encontrar alguém para se espelhar. Tal gesto é inerente a nossa natureza e não há como negar. Temos esta necessidade de procurar arquétipos, modelos de conduta exemplar. Neste sentido, nos dias de hoje, os meios que mais propiciam estes arquétipos para este público infante são os meios de comunicação de massa, através dos seus desenhos animados, telenovelas, cinema, astros da música, etc.. Deste modo vemos ser construída uma verdadeira mitologia entorno destas figuras que passam a representar para esta geração o ideal de ser humano. Cria-se ao redor destes astros midiáticos uma mitologia característica desta geração que, firma as suas mais elevadas metas no mais pueril vulgarismo modal.

Se nós formos olhar de forma mais detida a estas mitologias midiáticas, veremos que os modelos de conduta para os jovens e crianças de hoje são todos identificados com pessoas de aparência jovial que por sua vez rompem com todos os valores tradicionais da sociedade. Os símbolos de conduta dos jovens de hoje não mais propicia uma evocação do que já passou para que estes possam compreender a si mesmos e sua situação no mundo e este por sua vez mas sim, algo que procure negar o legado da sociedade que os receberam.

Estes seus ídolos são impregnados de um profundo historicismo, resumindo o seu significado a um dado momento, a um dado instante de sua vidas. E tal fenômeno se faz transparecer de forma bastante peculiar pois, estes seus ídolos são tão volúveis, tão desprovidos de significado que, no passar de dois ou três anos, estes mesmos ídolos que lhe eram um ideal de conduta, passam a ser um símbolo de vergonha.

Assim sendo, nós nos perguntamos, o que está acontecendo com os nossa sociedade? Nas assim nominadas sociedades tradicionais, todos tinham os seus papeis sociais definidos de forma clara, correto? Pois bem, e no mundo de hoje? Quais os papeis relegados aos pais? Por que a educação da nossa massa infante é relegada ao Estado? Qual o papel destinado aos idosos em nossa sociedade contemporânea? Temos aí uma leque de questionamentos que podem nos levar a continuação de nossa discussão de uma forma salutar.

O que estamos hoje a chamar de trabalho voluntário na terceira idade, nada mais era que a sua obrigação social em tempos passados. Não que os idosos tenham abdicado de suas obrigações com as gerações em idade mais tenra mas, porque a sociedade pós-moderna (nós no caso) lhe usurpou este papel em nome da eficiência deste mundo que requer que as pessoas balizem suas vidas no conhecimento e nas necessidades clamadas pelos presente imediato e não pela necessidade do conhecimento de si.

Muito se fala nos dias de hoje dos excluídos, das minorias relegadas a silenciar-se frente as imposições do sistema. Fala-se dos sem-terra, dos negros, das mulheres, dos gays mas, de longe, todos se esquecem do maior de todos os excluídos que são os idosos com os seus saberes. O idoso é convocado muitas vezes pela sociedade para contribuir com algumas atividades desenvolvidas pela sociedade, para contribuir com o seu trabalho mas, dificilmente este é chamado para contribuir com o seu conhecimento, com a sua experiência de vida. Isso sem falar, que este quando se encontra entre nós, muita das vezes é visto com aquele hediondo olhar de piedade.

Doravante, vemos pelas ruas das cidades, aquelas figuras enrugadas pelo tempo distribuídas de maneira esparsa em meio a multidão e solitários ficam a vagar em silêncio pelas ruas e vielas que tão bem conhecem, que tão bem viveu. E naqueles olhares amendoados, vemos um certo sorrir no semblante de suas íris a rir de nós em nossa estupidez diária dizendo-nos: eu já vi este filme.

Não estamos a afirmar que as pessoas idosas reencontram-se com a pureza da infância mas sim, que estas pessoas tem toda uma experiência de vida a ponto de ser compartilhada conosco e que pode vir a nos enriquecer enquanto seres humanos e que nós, em nossa presunção preferimos ignorar, afinal, ele é apenas um velho cansado de si mesmo. Ou não seriamos nós beberrões enfastiados do vinho do cálice de Baco exaustos na procura de nós mesmos?

A impressão que se tem é que todos se esqueceram que tudo o que nós estamos vivendo em termos de experiência existencial estes, já viveram e muito teriam a contribuir para a nossa formação (sejamos nós jovens ou adultos). Somos uma geração fatigada pela vaidade, uma geração de pessoas que vivem como se fossem ser jovens eternamente, como se fossem viver eternamente.

Deste modo, dá-se para entender o porque da arrogância da maioria dos adolescentes nos dias de hoje. Em tempos passados, o idoso era um símbolo de respeito, de sabedoria para a sociedade. Um jovem que quisesse ser respeitado deveria conquistar o respeito da sociedade no passar dos anos ou, como se dizia: cresça e apareça. Todavia, nos dias de hoje, muitas vezes quem tem que se curvar diante da imaturidade é justamente a experiência vivida.

Tal fenômeno se dá, pela supervalorização do saber técnico que está, por sua vez, intrinsecamente ligado ao presente imediato e, quem tem maior proximidade com tal experiência são as gerações mais novas mas, a vida não se resume a um amontoado de saberes técnicos e muito menos a um amontoado de informações sobre o agora. Fazer isso é reduzir o sentido da vida humana a de um animal.

Como assim? Ora, os animais que animais tem a sua vida reduzida apenas ao conhecimento do mundo em um instante imediato. Quando tem fome este come, quando está cansado este repousa e assim por diante. Já nós, seres humanos, não temos nossa existência resumida ao imediato, não. Nós conseguimos lembrar e relembrar do que se passou, nós acumulamos experiência ao correr da areia da ampulheta de nossa vida como também, nós somos capazes de planejar e prometer feitos que realizaremos em tempos que estão por vir. E mais, nós somos capazes de fazer os nossos atos perpetuarem pelo passar dos anos após a nossa morte. Como por exemplo: a aproximadamente 5.500 anos atrás, havia um cara chamado Moisés, que subiu no monte Sinai, disse que falou com Deus e este, lhe havia entregue as dez leis que nós no mundo ocidental até hoje seguimos (ou pelo menos tentamos). Pois bem, Moisés já a muito esta morto mas, o seu ato ainda esta presente entre nós e a nos influenciar.

Doravante, além de nós lembrarmos do que fizemos e o que outros fizeram, de planejarmos o futuro e de influenciarmos outras pessoas mesmo depois de mortos nós, somos os únicos animais que são cientes de estarem vivos, somos os únicos animais cientes de que existimos. Nós, somos os únicos animais que sabemos que um dia iremos falecer. Eis aí a grandeza e a fraqueza do ser humano.

Sabemos que nossa existência é finita mas, fazemos questão de esquecer este fato capital. Temendo as marcas que o deus Cronos imprime em nossa face, procuramos ao máximo esconder-nos do seu toque na procura da fonte da beleza e juventude eterna. Não só com a nossa imagem mas, afastando toda pessoa que nos faça lembrar que um dia a beldade do frescor e vigor de nossa juventude perderá sua majestade e o que restará, é o que nós somos realmente. Restará apenas o corpo envelhecido e nossa alma saturada com nossa luxuria e vaidade. Mas mesmo assim, procuramos o toque letal do alto engano para aliviar a dores que arrebatam o nosso íntimo.

Tal estado do espírito humano é retratado com grande profundidade no romance A morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói. Este livro é a história de um homem que aos sessenta anos de idade veio a saber que deveria morrer em um prazo máximo de dois dias. Porém, frente a esta notícia, o senhor Ilitch não apenas toma ciência de que sua vida esta por chegar ao fim mas, que toda ela fora em vão, esvaziada de sentido. A partir desta constatação, o mesmo começa rever a sua vida e através deste gesto passa a se elevar acima de si mesmo, cresce para além de si e por meio desta intuição se faz capaz de retroativamente encher a sua vida com um sentido infinito, sentido o qual, era por ele ignorado antes da fatídica notícia. Eis aí a beleza do drama humano.

Procuramos ao máximo fugir da realidade da morte, tememo-la como se ela fosse um funesto castigo. Por isso que Sócrates nos aconselha dizendo que filosofar é aprender a morrer. Ser filósofo implica não apenas um mero esforço do intelecto, mas de todo o ser pois, filosofar é antes de qualquer coisa um estilo de vida onde a sabedoria é o seu fim último e não as volições da carne e, frente a isso, não é atoa que nossa geração teme o envelhecer e repugna a presença do idoso. Literalmente, desaprendemos a morrer e consequentemente, a viver.

Em seguimento, quando uma pessoa chega a uma idade avançada, ela começa a refletir sobre a sua própria vida, sobre tudo que ela fez e deixou de fazer. A velhice antes de mais nada, é a idade da maturação da alma humana pois, é nesta idade que o ser humano se da conta de sua existência e de que a vida não pode como deve ter um sentido maior que ela mesma. Jamais um jovem se pergunta: “o que eu fiz?” . A única pergunta que as gerações infantes fazem é: “o que virá pela frente?” seguida da afirmação de que “eu tenho é mais que aproveitar a vida”.

Os dois momentos são mágicos em nossas vidas. São duas grandes descobertas em nossa existência. No aflorar de nossa existência vivemos o momento mágico de descoberta do mundo a nossa volta e, na nossa velhice, descobrimos o mundo que está em nosso íntimo, que nós mesmos construímos. Duas situações mágicas, com diferenças basilares. A segunda é uma descoberta do que fizemos de nossas vidas e um meditar sobre nossa existência. Esta é pois, a verdade máxima de nossas vidas.

Já a primeira, é na maioria das vezes envolta de desilusões e de ilusões que só são vislumbradas com clareza quando estamos próximos de nossa morte pois, é do alto de nossa obra que vemos a grandeza ou a insignificância de nossos atos.

Podemos dizer que a juventude pode muito bem ser comparada ao mito indiano onde um asceta foi a procura do deus Mirtra para que este lhe mostra-se o seu maya (ilusão). Antes de atender ao seu pedido, pediu ao jovem asceta que fosse por um determinado caminho e lhe trouxesse um copo d’água.

O jovem asceta foi seguido o caminho indicado por Mirtra onde caminhou por um longo tempo até que, encontrou uma casa. Este bateu em sua porta e, eis que uma bela moça a abre e o convida para entrar. Ela apresenta ele a seus pais e este, acaba por se apaixonar pela moça e casa-se com ela formando uma família. Passou-se o tempo e os seus sogros morreram e ele assumiu a responsabilidade pelas terras que eram destes.

Todavia, um certo tempo depois, aquela região fora assolada por uma forte tempestade que a tudo inundou. O rapaz em um gesto de desespero tentava salvar a sua esposa e seus filhos mas, tanto eles como ele foram arrastados pela correnteza.

De repente ele acorda só a beira da inundação e se da conta de que sua família havia falecido e assim, caiu em pranto. E em meio as suas lágrimas, eis que ele ouve uma voz que vinha do infinito dizendo: onde está o copo d’água que eu lhe pedi a meia hora atrás meu filho? Ora, tudo não passava de um maya, de uma ilusão. E muitas vezes nós em nossa idade infante nos perguntamos o que estamos a fazer neste mundo e qual o sentido da vida e, certas vezes acabamos por nos apegar a uma ilusão que apenas nos leva pela senda da frustração e do arrependimento.

Mas, tais experiências são novidades na vida dos que estão na tenra mocidade, mas não para o idoso que já passou por todos estes caminhos e descaminhos. Todavia, como já havíamos apontado linhas atrás, os nossos anciões se vêem usurpados de seu papel de conselheiros e, ao mesmo tempo que as gerações mais jovens enchem as suas almas com o torpor das novidades que nada mais são que analgésicos para o instante imediato, mas jamais a senda curativa de Esculápio.

Continuamos a clamar pelos Mayas de uma juventude eterna e nos esquecemos que de um jeito ou de outro, Cronos continua a devorar os seus filhos. Podemos até prolongar por um tempo mais a mascara de imortalidade carnal mas, Cronos em sua paciência cedo ou tarde apresenta a sua presença nas marcas que transparecem em nosso reflexo no espelho.

Sendo assim, podemos afirmar que a velhice é o ponto máximo, o auge de nossa existência. O momento em que nos iluminamos frente aos nossos feitos neste mundo, feitos os quais edificaram nosso ser. Deste modo a questão temática que fora proposta: o trabalho voluntário como promoção de integração social do idoso está completamente equivocada.

Mas como assim? O historiador francês Lucian Febrve nos dizia que uma questão mal formulada não nos leva a lugar algum a não ser a darmos voltas ao redor um ponto que nada quer nos dizer. Um bom exemplo disso, é a forte rotulação do pensamento aristotélico como sendo burguês. Aqueles que afirmam isso, julgam Aristóteles como se ele tivesse lido Rousseau, Kant ou Marx. Em outras palavras, se cometeu um anacronismo, uma projeção da situação do observador no fenômeno observado. O problema tem que ser reformulado. Quanto a afirmação de Aristóteles ser ou não burguês ou aristocrático, temos que nos perguntar se alguém que viveu a mesma época que ele o caracterizava como tal. Aí nós temos um problema bem formulado, que em si só, já nos traz a luz de uma possível resposta.

Ora, os idosos já viveram o frescor e a maturidade de suas vidas e estão na idade mais profundamente misteriosa e sábia que um ser humano pode vir a atingir. Eles como o Ivan Ilitch de Tolstói estão totalmente integrados consigo mesmo e com o legado da sociedade em que estão inseridos. A única coisa que lhe fora usurpado fora o seu papel ativo de ancião dentro dela. Quem está desintegrado da sociedade e mergulhado na volúpia modal do imediato somos nós e não eles. Neste sentido ao invés de nos perguntarmos sobre as vantagens do trabalho voluntário para a promoção e integração social do idoso deveríamos nos perguntar dos benefícios que nós receberemos com a presença constante destas pessoas junto de nossos filhos.

É óbvio que em toda relação humana a uma troca de experiências. Mas nesta relação, quem que estará recebendo o benefício maior, as gerações mais tenras ou as mais maduras? Quem terá que ficar ainda mais tempo neste mundo nós ou eles? Nós desejamos tanto socorrer os idosos largados a margem da sociedade e não nos damos conta de quem necessita de nosso socorro não são eles mas nós é que carecemos de seu amparo o qual, nos renegamos a aceitar.

Deste modo, quando nos referimos a integração social do idoso, vemos uma profunda contradição pois, pressupondo que quem está a mais tempo neste mundo esteja mais integrado a ele do que quem está a iniciar a sua jornada neste aventura que é a vida. Assim sendo, nos perguntamos, quem é que não está integrado ao mundo: os jovens ou os idosos?

Ora, o que vemos somos nós tentando construir um mundo a nossa imagem e semelhança e desejando que a geração que nos antecedeu se adapte a este mundo que construímos se ao menos conhecer o mundo que nos antecedeu. Edificamos dia a dia novos valores em detrimento dos que aqui já estavam sem ao menos conhecê-los e compreendê-los. Passamos a assinalar apenas um compromisso volúvel para com a nossa volúpia presente, sem a menor preocupação para com o que legaremos as gerações futuras e, muito menos, sem procurarmos saber o que nos foi legado pelas gerações que nos antecederam.

Este desprezo chegou a tal ponto que passamos a idolatrar a nossa própria miséria existencial. É típico ouvir das bocas de adolescentes posições pejorativas quanto ao conhecimento histórico e noológico de nossa sociedade. É como é típico da arrogância de todo e qualquer jovem néscio, acreditam que os que nos antecederam apenas cometeram erros e leviandades e que nós, a nova geração deve edificar uma nova sociedade e que estes, devem se redimir frente a seus erros e se enquadrar ao mundo “POP” destes tempos.

O inexperiente reformador do mundo cala a voz que já a mais tempo caminha junto de Cronos para assim fazer o seu mundo de acordo com a sua “justiça”. O que muitas vezes se esquece é que foram jovens insensatos que cometeram as maiores atrocidades do século XX por se acharem os senhores da experiência e da verdade e que, na sua ânsia de reformar o mundo fazendo-o a sua imagem e semelhança, acabaram por gerarem apenas e tão somente mais de 200.000.000 de mortos.

Mas como assim? É simples, um demagogo chegava para um grupo de jovens e ao invés de educá-los, massageava os seus egos já inchados pelos seus hormônios dizendo-lhes que eles eram os renovadores do mundo. E daí? Ora, entregavam-lhe um fuzil e este ia fazer a revolução. Hitler, Stalin, Pol Pot, e tuti quanti fizeram isso. E quantos mais não continuam a fazer uso dos mesmos sortilégios?

Calar a voz da idade não é um crime contra os idosos mas sim, um crime contra toda a sociedade, contra a civilização! O rompimento para com os nossos laços com as gerações que nos antecederam é um descaso para conosco mesmo. Somente uma figura como o Supla (roqueiro filho do casal Suplici, digo, ex-casal) não entende porque as pessoas deixam de ser revoltadas. Ora as pessoas se revoltam com o mundo somente quando elas não o conhecem, quando não entendem nem a si mesmo. Deste modo, toda revolta e bem como todo ímpeto de destruição surgem da ignorância, da incompreensão do mundo.

Deste modo, como já frisamos anteriormente, vemos na terceira idade o cume da maturação humana. Podemos dizer que quando se chega a uma certa idade, nós chegamos ao cume da montanha da vida e vemos, as pessoas escalarem os seus frontões passando pelos mesmos caminhos que nós passamos. Quando chegamos a esta idade vemos as palavras do Eclesiastes ecoarem em nossas almas lembrando-nos o que muitas vezes fazemos questão de esquecer antes do auge de nossas finitas vidas, de que o que há neste mundo é apenas vaidade, e nada mais.

Sendo assim , não há em nós um boa pitada de vaidade ao crermos que são os idosos que carecem de nosso auxílio? Quem deixa uma impressão maior: nós na alma dos idosos ou os idosos em nossas almas? Quem que, neste convívio irá ensinar o outro a viver? Quem?

Queremos muito tirar o cisco dos olhos do outro e esquecemos de ver a trave que há no nosso. Deste modo, uma participação mais efetiva de idosos em trabalhos voluntários não irá promover a integração social do idoso mas sim, reintegrá-lo ao papel que a modernidade lhe havia usurpado. Em segundo lugar, trará a nós, gerações mais tenras um benefício imensurável que é, uma consciência maior de nós e de nossa existência, tornando-nos seres mais elevados espiritualmente não por sermos de uma geração “moderninha”, mas porque tivemos tempo para ouvir o depoimento de pessoas que viveram a vida em sua plenitude e que sabem, que em sua plenitude a carne nada é diante do espírito.

O maior beneficiando na participação somos nós, e nem nos damos conta disso. Talvez, pela cegueira de nossa vaidade. este nosso pensar, este nosso achismo de que o conhecimento que nos basta para nossas vidas é o do tempo presente imediato, como se este fosse suficiente em si mesmo. É hora de abrirmos os nossos olhos e voltá-los para a fronte dos que nos antecederam e nos perguntar-mos o que é o ser humano e estes, sem terem ouvido a nossa pergunta irão nos responder com as palavras que emanam de seus olhos, de sua face.

Passaremos a ver que o mundo vai além dos jardins de Afrodite, que a vida é maior que os deleites de Narciso a beira das águas. Basta que aprendamos a ouvir estas vozes cansadas pelo tempo e que próximas agora próximas da eternidade, tem muito a nos falar de nossa natureza, mesmo sem nada falar. Muitas vezes uma rápida troca de olhares nos falam mais sobre a vida e nossa existência do que mil palavras. Basta sermos sensíveis a presença de Persival e ao sussurrar de seus lábios em meio a multidão envolta pelos braços do vento dizendo-nos: cadê o Graal?

Onde esta a sabedoria da vida? Já procuras-te no reflexo futuro de ti? Então procure pois é em Ômega que nos encontramos com nosso alfa.

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_________. Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates; tradução Enrico Corvisieri Mirtes Coscodai. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

 

 


A República das Cores

 

Nuvens e vento sem chuva: tal quem se gloria fazendo promessas falazes.
(Provérbios — 24;14)

 

Não existe no mundo coisa mais imunda do que o apego a uma ideologia. Vocês já repararam que os maiores genocídios de nosso século como de toda história da humanidade foram realizados em nome de um grande ideal, em nome de uma grande causa.

Mas como que um conjunto de idéias e de promessas aparentemente tão boas e eloqüentes pode vir a causar tantos males? Pelo simples fato de que todo ideólogo confunde o que pertence a categoria da substância com o que é da categoria da paixão. Tá, mas o que isso quer dizer? Bem, Aristóteles definia como substância o que uma coisa é, por exemplo: um bebê é o que é, um bebê. Já a categoria da paixão se refere a potência da coisa, ao que ela pode vir a ser, por exemplo: um bebê pode estar cagado.

E aí esta o angu. Quando nós confundimos o que uma coisa é com o que ela pode vir a ser, nós estamos a confundir a ordem lógica das coisas. Os apologistas de toda e qualquer ideologia procuram motivar as pessoas para que ajam não de acordo com o que está ocorrendo mas em função do que aparenta estar ocorrendo.

Neste sentido, todo ideólogo tenta convencer as pessoas a sua volta que o seu ideal de uma boa sociedade é melhor do que a atual. Mas sempre, um mundo ideal irá ser melhor que o mundo real porque no mundo imaginário tudo é possível. Por isso que eu sempre falo para os meus colegas socialistas para que ao invés de compararem o nosso Brasil atual com os seu ideal de mundo, comparem primeiro as condições de nosso país com a situação dos países que adotaram o modelo que eles defendem. Desta maneira estaremos a comparar realidade com realidade e não realidade com sonho.

Estes, por sua vez responderam que isso que há não é socialismo pois o socialismo não só é como tem que ser melhor que o capitalismo. Bem, mas aí nós temos um debate perdido, viciado pois, comparar o mundo real com um mundo possível é uma perda de tempo já que no segundo vale tudo pois este está em sua imaginação. Todavia, no mundo real, a realização de qualquer coisa depende da decisão de milhares de pessoas e não da imaginação doentia de meia dúzia.

Neste ponto é que se desmascara o gentil defensor dos frascos e comprimidos pois, os defensores das grandes causas no fundo de suas personalidades, são as criaturas mais egoístas que existem pois, o seu maior sonho não é melhorar o mundo, mas sim, moldar o mundo a sua imagem e semelhança. E me digam: existe atitude mais fútil?

Pois bem, se nós formos encarar as ideologias deste modo, olhando no fundo de seus olhos, o que nós iremos ver é apenas a sua nuca. Toda ideologia é vazia pois nada mais é que um artifício utilizado para convencer as pessoas a agirem prontamente para que eles, os ideólogos, cheguem ao poder. Ou como nos fala Karl Marx, o pai da ideologia mais genocida da história da humanidade, que uma ideologia é como um véu que encobre a realidade.

Em se falando de Marx, este é um bom exemplo do fingimento cínico de um ideólogo. Marx, o homem que escrevia criticando a forma que os patrões tratavam os seus empregados e por fazerem uso sexual de suas empregadas, tinha feito um filho na sua e, além de não assumi-lo jamais permitiu que o mesmo se senta-se para jantar junto com ele. O mesmo que criticava o culto ao capital, quando sua mãe morreu, teve como única preocupação, o tamanho da herança que esta lhe iria deixar (em suas cartas, vê-se tal postura frente a morte de todos os seus parentes).

Mas Dio Santo, isso nada mais é do que o arroto falando do peido não é?

Este dualismo moral contamina não só o cenário político como o nosso dia a dia. A hipocrisia nos devora pelos cotovelos. Nós conseguimos defender a família como sendo uma instituição sagrada e ao mesmo tempo ser infiel a ela; os homens públicos conseguem ao mesmo tempo acusar os seus adversários por desvio de verbas públicas ao mesmo tempo que fazem o seu caixa dois e, o eleitor, sem deixar por menos, consegue acusar um político de ladrão ao mesmo tempo que este espera um benefício pessoal do candidato o qual ele apoiou.

Deste modo, uma ideologia ajuda esta pessoa com esta sua duplicidade moral a achar um consolo pois, tudo o que ela fizer, irá justificar em nome desta. Ela dirá que tudo que ele esta fazendo é em nome de “nossa grande causa”, que tudo que ele faz é em nome do “povo oprimido e miserável”. Até mesmo as noitadas para este indivíduo tem uma boa razão porque ele tem uma ideologia e esta o torna melhor que o restante das pessoas mesmo que ele seja um canalha.

Uma pessoa nesta situação não se vê mais como ela é, mas como ela pensa ser e, além de querer enganar a todos ela passa a enganar a si mesmo, não sabendo mais a diferença do que real e do que é ilusão. E é com este espírito imundo que muitas pessoas se envolvem e se gabam. Por isso, toda grande campanha nada mais é que uma palhaçada perigosa. As grandes causas nada mais são do que desculpas esfarrapadas para grandes erros.

E afirmo isso categoricamente pois, toda multidão que se vê envolta de uma campanha, em nenhum momento se pergunta se o que ela esta fazendo é correto, pensa apenas no possível bem que ela receberá em pouco tempo. Foi assim que ocorreu na Alemanha nazista. Nenhum alemão se perguntou se o que ele estava fazendo era correto mas estavam apenas preocupados com o fim da recessão que o país enfrentava mesmo que isso custasse a vida de milhares de pessoas.

Ou, como falava Shakespeare com muito mais competência que eu: “Vêde como sopro esta pena e do meu rosto a afasto, e depois como o vento a traz de volta. Agora ao meu impulso ela obedece, para depois obedecer a força estranha, sempre do lado mais forte sopro. Desse modo, leviano, é sempre o povo.”

E assim somos muitas vezes em nossas vidas, nos deixamos levar pela loucura e pela burrice da unanimidade. Os ideólogos bem como os grandes lideres, não passam de grandes bajuladores que ficam a massagear o ego dos medíocres. E estes aceitam estas palavras ocas como sendo o alento de um amigo. Se é por este tipo de pessoa que você costuma ter amizade eu, no seu lugar, os trocaria pelos seus inimigos que pelo menos estes, seriam um pouco mais sinceros.

Enfim, toda esta campanha pela ética, as CPI’s, etc., não passam de slogans políticos ideológicos antes de qualquer coisa.
Sempre quando se tenta jogar uma multidão contra um pequeno grupo de pessoas, a ética, a justiça e a verdade entram em ebulição, principalmente quando os seus nomes são constantemente evocados na forma de bandeiras.

E o que fazem os defensores de grandes causas senão isso? Resolve algum problema focalizar o ódio de uma multidão em uma pessoa? A desconfiança generalizada trás alguma verdade redentora?

Por isso que digo: quanto mais inflamado o discurso, maior o canalha; quanto mais acalorada a multidão, maior a ignorância; quanto maior a certeza em uma utopia estúpida, maior a tragédia.

 

 


A República das Letras

 

...acontece que toda alma desregrada seja para si mesma o seu castigo
(Sto. Agostinho)

 

Carl Schmitt sintetizou a idéia de política como sendo apenas um grupo A que se confronta com um grupo B afim de obter o único objeto de interesse neste campo de pelejas que nada mais é que o poder ou, como também nos lembra Carl von Clausewitz que a política nada mais é que a continuação da guerra por outros meios e vice-versa.

Doravante, dentre os grandes lideres políticos da história universal, um em especial que viveu no século XIX nos profetizou dias obscuros dizendo-nos que no futuro, o homens não apenas iriam tornar a política a atividade central de suas vidas, mas que eles estariam condenados a este fim. Este profeta maldito era Napoleão.

A algum tempo atrás eu não conseguia compreender de forma clara estas palavras do sanguinário general francês mas hoje, elas surgem em minha mente de forma clara e translúcida, como as águas de uma fonte.

Toda contenda política sempre trás divisões no seio das comunidades, sempre acaba por provocar intrigas onde antes havia apenas o convívio pacífico. Todos acabam por se dividirem em grupos distintos ávidos de obter o poder e esmagar os inimigos que dias antes de se iniciar esta maldita peleja eram amigos confessos de tomar chimarrão cachaça no bar juntos.

Haverão aqueles que dirão que a política é o único viés que há para se resolver ou pelo menos amenizar o sofrimento do povo. Mas qual candidato ou político eleito que não fala que irá fazer tal feito? Pois bem, esta é a essência do discurso político: prometer o que se sabe que não é possível dar e que, na pior das hipóteses nunca teve a intenção de dar.

A política neste sentido, é idêntica a um torneio de futebol com uma vaca e uma caixa de cerveja como prêmios. As pessoas se dividem em grupos e assim, acirram as suas rivalidades. Fazem jogadas ilícitas, partem para as vias de fato, falam para o juiz que a mãe dele está vendendo cerveja a “cincão”, etc.

E se isso não basta-se, a torcida que no final das contas não está a disputar nada, simpatiza por um dos times, vai até o ginásio, elogiam as mães dos adversários e novamente a do infeliz do juiz, jogam objetos na quadra e todas aqueles atos que nós muito bem conhecemos.

Aqueles que estão na arena a disputar o prêmio fazem das tripas coração para vencer, e a multidão, também faz das tripas coração, mas para vencer o que afinal?

Todavia, não endosso aquele papo chinfrim de moralizar a política pois, ela é esta baixaria mesmo. Alex de Tocqueville nos advertia que apesar da democracia ser o melhor regime político, ele sempre virá impregnado de atitudes corruptas pois as pessoas não medem esforços para vencer quando há poder em disputa (ou qualquer coisa que simbolize superioridade) ou, como sempre falava para meus alunos: que democracia e corrupção são como atleta e chulé: nasceram um para o outro.

Afirmo isso de forma categórica pois é da natureza humana se degradar por pouco, é da natureza humana se entregar facilmente as suas paixões e a sua vaidade.

De mais a mais, toda multidão é irracional. Lembro-me bem da última eleição para o governo do Estado quando perguntei a um adolescente por que ele iria votar em determinada pessoa para deputado Estadual. A única resposta que obtive era porque ele o conheceu e o achou um “cara legal”. São raras as vezes que nós não agimos no calor da emoção, e são raras as vezes que nestes momentos impensados nós não cometemos os maiores erros de nossas vidas.

E a política é feita desta forma, a guiar as pulsões emocionais da multidão afim de obter o poder de mando e, a multidão segue cegamente afim de obter um espaço pra também mamá deitada. E o pior de tudo isso, é que são destes atos impensados e furtivos que nesciamente decidimos os rumos de nossa nação.

Deste modo, dificilmente poderemos levar a sério um homem público, quando ele falar em justiça pois, a idéia que estes tem de justiça é simples: tudo que há de melhor para meus afetos e todo o veneno do mundo para os meus desafetos. No linguajar dos que são sedentos por poder isso é chamado toscamente de justiça, de postura ética. Que nojo.

A ética na política consiste em apenas isso: politizar a ética. E esta é a pior das corrupções que já existiu. Tal feito acaba por levar a uma profunda inversão e redução dos valores. Ser ético não é perseguir inimigos políticos afim de satisfazer a sua sanha devassa. Ser ético não é apontar o dedo acusador para as faltas alheias mas prestar muitíssima atenção para os três que se voltam contra nós.

Sempre é bom lembrar que os homens que em nossa história condenaram determinados grupos de pessoas como sendo corruptos dizendo que após tal condenação a justiça estaria feita e a prosperidade reinaria, na verdade, foram os que cometeram as maiores injustiças de toda a história da humanidade.

Estes crápulas foram e são muitos, mas fiquemos apenas com o exemplo de Hitler. O que Hitler fez senão acusar os judeus e seus demais desafetos de serem corruptos e serem, consequentemente, a causa do mal que afligia toda a Alemanha? o que fez Hitler senão reivindicar uma maior moralização da política? Bem, o final de sua cruzada contra os que ele chamava de corruptos todos nós conhecemos, todavia, nós aqui no Brasil continuamos a louvar posturas semelhantes, continuamos a louvar esta coisa grotesca de acusar as faltas dos outros, especialmente dos nossos inimigos, como sendo ética.

A verdadeira ética consiste em discernir com sabedoria os nossos próprios atos e apenas depois, os atos de outrem se formos convocados por uma força, por um dever inerente à posição que ocupamos em nossa vida. Por exemplo: os pais não só podem como dever julgar os atos de seus filhos mas estes, não podem e nem devem julgar os atos uns dos outros.

Por este simples motivo que justiça e ética dificilmente se casam com política. Onde exista um interesse que seja maior que o de conhecer a verdade não há ética e muito menos justiça pois, se a verdade não é o fim último de uma busca, não há sabedoria. Não havendo esta, toda e qualquer falação sobre ética e justiça é conversa de bêbado pra convencer o dono do boteco a servir outra vez a tal da saidera.

A sanha pelo poder não é símbolo de sabedoria pois esta esvai o indivíduo em sua loucura.

Lembremos sempre que se conhece a saúde de uma planta pela sua raiz e o seu valor, pelos seus frutos. E vejam esta planta chamada disputa política: suas raízes são o engano e a cobiça. E seus frutos, mais inveja e vingança.

Como será que esta a nossa alma que para tudo recorre a esta planta e a seus frutos? Com que tinta forjamos as páginas de nossas vidas? Com que letras se escreve as desventuras de nossa República?

 

 


Barbearia Brasilis

 

A nação brasileira se faz ver como uma grande barbearia onde sempre, todo freguês tanto como o barbeiro, tem algumas palavrinhas para falar sobre a situação do mesmo. Todo bom brasileiro tem sua língua bem amolada para proferir suas palavras envoltas de fel sobre todo e sobre todos. Ao contrário das cobras do Butantã, o bom cidadão brasileiro libera seu veneno em qualquer frasco com a maior boa vontade.

Ao mesmo tempo, este mesmo indivíduo entregou de forma prelada sua alma aos sacerdotes midiáticos e seu corpo a mundanidade dos deleites materiais, fazendo-se assim escravo de seus vícios e desejos. E assim, neste transe hipnótico auto-sugestivo vive a população brasileira, atirando seu veneno e suas palavras em forma fecal no ventilador que sopra os ventos que tanto sua alma viciada ama.

E no correr de sua vida, eis que vai esta cobra nanica, a morder sua língua a cada cachimbada que dá sem se importar, pois crê, que seu inócuo veneno é o melhor remédio para pestilência nacional sem saber este, que a alma de uma nação é a alma de cada cidadão, que está empapuçado até as ventas com seu letal licor que, é a raiz de tudo o que lhe causa repugnância.

Envenenamos o mundo para morrermos de nosso próprio veneno ou, afogados em nossas palavras defecadas pela nossa língua. Será que nós não temos nada de melhor para ofertar ao mundo?

 

 


In memória: Tomás de Aquino

 

Sou um tanto que suspeito em falar sobre o Aquinatense pois, além de ser um fiel leitor de sua obra nasci, no dia em que lhe é consagrado. Mas o por que de se render homenagens a um homem? Bem, não se trata de render homenagens a ninguém, mas sim, conhecer um pouco da vida e da obra de um dos maiores intelectuais que estas terras mundanas já presenciaram, e assim, a partir deste breve depoimento, quem sabe, podermos refletir sobre as posturas que os intelectuais (quer dizer, os ditos) vem tomando frente ao mundo nos dias que se fazem presentes.

Tomás de Aquino nasceu por volta de 1225-1227, em Rocasecca, cidade perto de Nápoles. Já jovem se empreita nos estudos, aderindo a uma ordem religiosa. Era uma pessoa totalmente voltada para a contemplação e a procura da verdade. Seus biógrafos nos contam que este era capaz de uma capacidade de concentração tal que, quando estava a orar, as pessoas a sua volta presenciavam a consumação toda da vela pelas chamas em sua mão e este, sem alterar o seu estado. Era um homem que se entregou de corpo e alma aos altos estudos e, apesar das parcas bibliotecas, e das longas distâncias que tinham que ser percorridas a pé ou no lombo de um jumento, este nos legou uma obra ímpar, em termos filosóficos e teológicos.

Este distinto sábio, costumava sempre acordar mais cedo que os demais e, numa dada ocasião, um jovem frade acordou junto e segui-o até a capela onde estava a orar e viu Aquino a levitar e ouviu uma misteriosa voz junto ao crucifixo que ecoava pelo interior da mesma dizendo-lhe: “Tomás, escreveste bem sobre mim. Que receberás de mim como recompensa pelo seu trabalho?”, e o Aquinatense modesta e sabiamente lhe responde: “Senhor, nada senão vós!”.

Em 06 de dezembro de 1273, quando celebrava uma Missa na capela de São Nicolau, de forma brusca lhe opera uma grande mudança que a todos os presentes chama a atenção. Finda a missa e, não volta mais a escrever. Seu secretário, Reginaldo de Piperno, desgostoso de ver seu mestre afastado de seus trabalhos habituais, vai ao seu encalço e lhe interroga sobre tal atitude. E este lhe responde: “Tudo que escrevi até hoje, parece-me, unicamente, palha, em comparação com aquilo que vi e me foi revelado.”, pedindo que silencia-se estas suas palavras enquanto vivesse. Um ano depois, vem a falecer.

Sua obra, por sua vez é vastíssima e de valor imensurável. Todavia, cabe ressaltar alguns pontos de seu pensamento que são singulares como as suas Cinco Vias para Deus. Tomás de Aquino, prova por meios racionais à existência de Deus. A primeira prova é extraída do movimento. Partindo do pressuposto de que tudo que se move é movido por outra coisa. Se, tudo que se move, é movido por outro, logo, não se tem como ir até o infinito, devendo de haver um motor primeiro, e a este você nomeia Deus. A Segunda é pela causa primeira universal. Existe no mundo várias causas eficientes porém, é impossível que uma coisa seja a causa eficiente de si própria, pois deste modo, esta existiria antes de existir, o que não tem o menor sentido. Do mesmo modo, não é possível proceder até o infinito pois, em qualquer série de causas coordenadas, a primeira seria uma causa intermediária e não a causa universal. Se esta não houver, se fossemos regredir ao infinito dentro das causas eficientes, não haveria causa primeira, como também não haveria efeito nem causa intermediária, o que por sua vez é ridículo. Logo, deve de haver uma causa primeira universal, que você pode vir a chamar de Deus.

Doravante, temos a prova pela contingência. Bem, tudo que há neste mundo perece e, depende da existência de terceiros para garantir a sua existência neste mundo. Tudo que há neste mundo é criado e destruído por outrem. Deste modo, deve de haver um ser necessário, um ser que exista por sua própria natureza, que não dependa de uma natureza externa para existir. E este você sabe como nominar.

Por sua vez, temos a prova pelos graus dos seres onde, o Aquinatense diz que os seres são mais ou menos verdadeiros, mais ou menos bons, etc. Ora, diz-se que algo é mais ou menos em relação a sua proximidade de um máximo, correto? Este máximo, que por sua deixa é causa (pois entendo, que procuramos nortear nossas vidas pelo brilho das estrelas e não pelo fosco reflexo de seu brilho em uma possa d’água lamacenta) de ser, de benevolência e de toda a perfeição, nomeamo-lo Deus.

E, por fim, a quinta via, que pela prova é da ordenação do cosmo. Percebemos no mundo uma ordem. Para que haja uma determinada ordem se faz necessário um ser inteligente (ou causa inteligente), que adapte os maios aos fins e ordene os elementos de forma que levem benesses a todos. Sendo assim, deve de haver uma inteligência ordenadora que transcenda todo o universo. Esta você chama de Deus.

Terão aqueles que dirão que esta última é “furada” porque nós vemos a nossa volta uma multidão de pessoas necessitas e maltrapilhas. Não deveria este ser inteligente beneficiar a todos? E beneficiou pois, este mundo tem regalos suficientes para todos. O que degrada o ser humano não é a ordenação divina mas, a ordenação dos Césares! O que traz a desgraça ao homem são as sete faltas capitais que se fazem estampadas na alma de toda e quer liderança política como também no âmago de cada um de nós. Vocês já pararam para refletir sobre seus atos a partir dos Sete pecados capitais? Você já parou para pensar sobre a natureza de sua existência? Pois, Tomás de Aquino dedicou a sua vida toda a estas e outras questões insólitas e nós, somos incapazes de dedicar algumas horas (ou minutos que sejam) a estas . Talvez por preguiça, ou que sabe por soberba ou luxuria. Ou então, quem sabe, por estarmos imersos na gula e na inveja, estando incapacitados de vermos nosso reflexo no lago da alma. Talvez pela cobiça mundana que nos move para outros horizontes (obscuros, diga-se de passagem) ou, que sabe, por nos causar uma considerável ira conhecermos a nós mesmos.

Porém, Santo Tomás de Aquino nunca tergiversou e venceu a dúvida. Superou a dor da solidão sem nunca trair a verdade. Lotou incansavelmente contra o erro, entregando toda a potência e genialidade de sua alma. Leão XIII o definiu como homem “de espírito aberto e penetrante, de memória fácil e segura, de perfeita integridade de costumes, não tendo outro amor senão o da verdade, riquíssimo de ciência tanto divina quanto humana, justamente comparado ao sol ele aqueceu a terra pela irradiação de suas virtudes e encheu-as de esplendor de sua doutrina” (Encíclica Aeterni Patris, 1879).

E nós, quando nos preocupamos em sermos melhores do que somos? Aliás, sempre procuramos um motivo para justificar as nossas faltas e nunca, motivos para justificar a necessidade de mudarmos (não o mundo, mas a nós mesmos). Aquino sempre procurou o máximo, procurou sempre transcender e superar este mundo em si, em sua alma. Nós porém, nos contentamos com nossas formas rasas. Afinal, nós nascemos para imundice ou para luz? Para ignorância ou para sabedoria? Então, por que a toda volta se vê o ser humano imerso na lama, e como a um porco, apenas preocupado em fartar-se com o que há de menor? O que Tomás de Aquino teria a nos dizer sobre o mundo atual?

Questões estas que fazem de sua vida um exemplo e de sua obra uma peça basilar para melhor entendermos a nós mesmos e ao Leviatã que criamos para nossa ruína.

 

 


Sobre a Inquisição

 

“A instituição mais injustiçada da história da humanidade é Igreja Católica e, sendo mais específico, o Santo Ofício (a inquisição)”. Sempre que se fala nesta, o que se ouve é: “foi a maior barbárie de todos os tempos, intolerantes, ignorantes, etc.. Mas com base em que estas pessoas que condenam de forma tão impiedosa uma instituição? Quantos livros sobre o assunto será que leram? Bem, aí o ignorante e o intolerante são aqueles que acusam, pois condenam sem conhecimento de causa.

Pois bem, para começo de conversa, boa parte da produção historiográfica sobre a inquisição (como também sobre os medievalistas)que mais se divulga no mercado livresco, fora produzida por historiadores e filósofos que se opunham a igreja e, consequentemente, tem mais amor a possível destruição desta do que pela verdade (1). “Mas então o que há de errado com o que sabemos sobre a inquisição?” O que há de errado é a forma como é exposta. Como assim?

Primeiramente, quando vamos ler algo sobre a Inquisição, lemos com a vulgar idéia de que nós, seres humanos filhos da modernidade, do século XX, vivemos na época mais justa e mais próspera da história da humanidade e que, tudo que nos antecedeu fora apenas barbárie. Neste sentido, a Inquisição e, consequentemente a Igreja Católica Medieval, são acusadas de intolerância e ignorância por: Ter realizado o maior massacre da história (Inquisição Espanhola), perseguir “inocentes cientistas” (caso clássico é o de Galileu Galilei), por perseguir judeus e mulheres a acusadas de bruxaria.

Bem, quanto ao primeiro ponto, a tão terrível e famigerada Inquisição Espanhola matou após julgamento aproximadamente 20.000 pessoas em aproximadamente quatro séculos, em média 50 pessoas por ano. Todavia, os comunistas, em nome dos trabalhadores mataram cerca de 20.000.000 de pessoas na ex URSS, 65.000.000 na China, 2.000.000 no Camboja, 1.000.000 no Leste Europeu, 1.700.000 na África, 1.500.000 no Afeganistão e, 10.000.000 mortos pelos movimentos comunistas que não acenderam ao poder. Tudo isso, em menos de 70 anos (2). Sei que terão aqueles que dirão que todo este aumento de mortos é devido ao aumento da população. Tudo bem, mas em quanto a população aumentou deste os séculos XIII e XXVII até o século XX? Nos séculos XIII à XVII tínhamos uma população mundial de aproximadamente 545.000 de habitantes, já no início do século XX tínhamos uma população de 1.608.000 e em meados da década de 1960, 2.295.000 de pessoas no mundo, ou seja, a população mundial apenas aumentou em uma proporção média de 3 à 4 vezes e o morticídio, por sua vez, aumentou 5.000 vezes (3).

Doravante, a inquisição só condenava a morte um indivíduo após julgamento. Mas o julgamento não era sob tortura? Mas por que se aplicava um método tão ignóbil? Para a teologia cristã, a carne era e é a fonte e causa do pecado e, deste modo, a tortura do corpo seria uma forma de purificar a alma do condenado afim, de salvá-lo. Não estou a dizer que aprovo tal ato mas, que este era o motivo do torturar para os inquisidores. Eles acreditavam piamente que estava a salvar uma alma por meio deste procedimento porém, quando se torturava no século XX (digo o mesmo nos dias de hoje), não era para salvar ninguém mas sim, para extorquir a verdade, e nada mais (4).

Se ainda houver alguém que esteja ainda a crer na idoneidade da sociedade moderna, vejamos então o seu grande marco: A revolução Francesa. Só no tribunal da Ditadura do Terror que durou apenas um ano (1793-1794), matou-se aproximadamente 40.000 pessoas. 17.000 na guilhotina e o restante nas prisões. E mais, é a partir da revolução francesa que temos o início dos morticídios em massa que é uma característica da modernidade e não, da inquisição.

E quanto a perseguição aos cientistas? Qual o motivo da perseguição a estes homens? É simples, o que se repudiava nos experimentalistas (cientistas da época), é que estes realizavam algumas experiências e logo divulgavam as hipóteses obtidas por meio desta, como uma verdade concreta criando assim, uma confusão nas mentes despreparadas, como foi o caso da afirmação de que o fogo era produzido por uma substância (logístico) e, da afirmação de que o sêmen continha um pequeno homenzinho que se desenvolvia durante a gestação. Era isso que os grandes filósofos e teólogos Cristãos combatiam (os Santos Doutores, como são chamados): afirmações sobre hipóteses mal fundadas que eram declaradas como verdades definitivas (5), ou seja, os cientistas não eram tão inocentes como se fala (6).

Mas quanto a Galilei? Para começar o seu processo inquisitorial fora uma armação criada pelo papa, que era seu padrinho, para protegê-lo de um grupo de fanáticos (7); segundo, no seu processo consta três teses que foram condenadas: de que a terra se movia, que o sol é estático e de que a terra não é o centro do universo. A primeira tese de Galilei é errônea pois, a terra não se move a si mesma, mas é movida pela força de gravitação do sol; a segunda também pois, o sol não é estático como nada no universo é estático e por fim, se a terra é ou não é o centro do universo é algo que você não tem como provar? Podemos dizer que algo é centro de algo em relação a um referente. Para a humanidade, mesmo daqui a 1000 anos a terra continuará sendo o centro do universo pois, foi nesta pérola que surgimos e será desta que partiremos para, quem sabe, para o desconhecido espaço sideral.

Em se falando de universo, no livro A dança do Universo (cia das letras), o autor afirma que a maior acusação contra Galilei fora de que ele disse que a lua era responsável (causa) pelas mares e não Deus. Bem, o autor pode conhecer muito de física mas, entende bolhufas de teologia. Ora, segundo uma das cinco vias para Deus de Tomás de Aquino, tudo é movido por alguma algo (causa). Já que há em tudo uma causa, deve de haver uma causa primeira, que seria Deus e, deste modo, tal acusação alegada a Igreja é totalmente sem fundamento pois, a maré ser causada pela lua é irrelevante pois, para teologia Deus é a causa primeira e não uma causa secundária (8).

E quantos aos judeus? Estes eram condenados pelo fato de negarem a divindade de Cristo mas, no meio do processo Inquisitorial lhe era ofertada a “chance” de se converter ao cristianismo. Se compararmos com as perseguições nosso século, será que veremos os Nazistas darem a chance aos Judeus de se filiares ao partido Nazista ao invés de serem enviados para câmara de gás? Quantas chances de arrependimento eram ofertados para aqueles que eram enviados para os Gulag?

No âmago da questão, os maiores intolerantes foram e são aqueles que aferiram críticas a Inquisição e aos Santos Doutores sem ao menos conhecer as suas obras. Como nas palavras profeta Mohammad (9): Jesus disse: não me foi impossível ressuscitar os mortos, mas me foi impossível salvar os néscios (ignorantes).

Por fim, os grandes pensadores medievais, apesar da escassez de bibliotecas (10), de terem de percorrer grandes distâncias a pé ou no lombo de um burro, eles nos legaram uma vasta obra. E hoje, com toda a facilidade que temos para acessar a informação, continuamos a julgar sem conhecer. A inquisição condenou e matou muita gente? Sim, mas procurou conhecê-las primeiro e nós, continuamos a condenar sem conhecer e muitas vezes a matar e a apoiar o assassino sem saber o porque que se mata. Afinal, em que evoluímos intelectualmente e espiritualmente? Em que?

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NOTAS

(1) – sobre a verdade ver o ensaio QUID VERITAS? De minha autoria em minha home page: www.oantileviata.hpg.com.br

(2) – Uso apenas o exemplo dos assassinatos cometidos pelos comunistas, por estes julgarem tudo e a todos em nome de seus ideais. Pois a inquisição antes de mais nada era um tribunal que julgava os atos humanos perante os princípios das sagradas escrituras.

(3) – Os comunistas, que se diziam e se dizem defensores dos trabalhadores mataram em menos de um século 100.000.000. A humanidade, no século XX, em nome do progresso, matou mais de 200.000.000 de pessoas (somando-se com os 100 dos comunistas). Mais informações ver: O livro negro do comunismo (Bertrand Brasil), A era dos Extremos (cia das letras) e Modernidade e holocausto (Bertrand Brasil), livros os quais dão um bom panorama do que é o ser humano do século XX.

(4) – Na próxima edição do FATOS DO IGUAÇU, escreverei um artigo sobre a tortura no século XX como também, indicarei alguns livros e sites interessantes sobre o assunto.

(5) – ver: SANTOS, Mário Ferreira. História e filosofia da cultura — tomo II. São Paulo: Logos, 1962.

(6) – Cabe lembrar até, a crença cega na evolução que, com as últimas descobertas da engenharia genética, recoloca no centro das discussões o darwinismo que até então, era praticamente um dogma entre os biólogos.

(7) – ver: REDONDI, Pietro. Galileu herético. São Paulo: Cia das letras, 1991.

(8) – Terão aqueles que se perguntarão: mas as pessoas nesta época não acreditavam que a Terra era plana? Sim, a população de modo geral, em sua ignorância acreditava nisso, não os Grandes filósofos e os grandes teólogos que, eram profundos estudiosos dos clássicos greco-romanos e árabes (já na antigüidade se sabia que a terra era redonda e os árabes se dedicavam em muito a astronomia), tanto que, Cristovam Colombo antes de propor uma viagem as índias orientais pelo ocidente (uma circo navegação), ele havia estudado em mosteiros cristãos.

(9) – Maomé como é conhecido no Brasil porém, este nome é incorreto pois deriva do francês Mahomet e não do Árabe Mohammad.

(10) – Pois a imprensa fora só inventada no final do século XV e, boa parte das bibliotecas que havia foram preservadas pelos monges e, foram nestas bibliotecas que pensadores como Galilei, Giordano Bruno, realizavam seus estudos. O que conhecemos sobre a Antigüidade é graças a “cruel” Igreja medieval que protegeu as bibliotecas dos ataques dos Bárbaros.

 

 


chutando o balde

 

Em uma recente palestra, o Sr. que estava a proferir a palestra afirmou que o povo do Estado do Paraná já havia decidido a muito tempo privatizar a COPEL quando havia escolhido o Sr. Jaime Lerner para continuar o seu mandato, que isso é democracia. Não, isso é safadeza! Tanto por parte do eleito como por parte dos eleitores. Como assim? É certo que a propaganda é a alma do negócio, mas não do produto que está sendo ofertado. Se o governador quando candidato mostrasse o que ele é, ele não seria eleito jamais, pelos simples fato dos eleitores iriam se ver em seu semblante.

De mais a mais, só há democracia realmente onde as pessoas sejam cultas, assim já nos lembrava Abraão Lincon. Deste modo, como a população de nosso Estado, como de toda a nação se deixam ser levados por seus impulsos e desejos mundanos, vemos a perambular pela avenida Brasil uma nação de idiotas eternamente insatisfeitos representados por demagogos da mesma estirpe.

Amigos, a inteligência não serve para endossar as nossos impulsos mais sim impedi-los, se assim for necessário. Pensar não é fácil mas, não é difícil fingir que pensa. É só ver a população paranaense indignada agora com o que está ocorrendo.

 

 


A frivolidade do olhar

 

De técnico de futebol e Presidente da República todo brasileiro tem um pouco. Quanto ao primeiro não tenho nada a dizer mas, quanto ao segundo, eis que vejo o porque do nosso país estar na situação que está. Mas como assim? Nós sempre costumamos nos colocar no lugar de uma pessoa em posição de poder em nossa imaginação, da mesma forma que um garoto de seis anos de idade faz uso do aparelho de barbear de seu pai ou da menina que vestes as roupas de sua mãe, pensando que desta forma se elevaram ao status de adulto, de gente grande.

Nós, em nossa mediocridade costumamos sempre dizer o que deveria ser feito, o que nós faríamos se estivéssemos no lugar do “incompetente” que esta a reger uma nação. Todos nós temos um projeto para governar a nação! Mas quantos tem um projeto a nível pessoal? Quantos realmente procuram melhorar o seu desempenho profissional para melhor servir a comunidade? O escritor e filósofo Gustavo Corção quando vivo, em um de seus ensaios comentava uma cena de seu tempo que até hoje nos é comum: a de uma pessoa inerte em frente a um aparelho de televisão, onde o indivíduo esta a par de tudo que esta a ocorrer no mundo nos últimos dias, está “super informado”. Mas em que estas informações o tonaram melhor?

Em uma inocência de dar dó, nós nos achamos que nossas idéias quanto a gestão de uma nação sejam imprescindíveis sem nunca nos termo colocado no lugar da pessoa que preside a república para compreender o porque de uma determinada atitude sua. Já pararam para pensar o que é estar no centro das tensões políticas de uma nação? Se a solução para os problemas do mundo como de nosso país, fossem tão simples como as soluções pensadas por muitos de nós, aqui seria o Éden!

Já estou a ouvir aqueles que dirão: “olha só a deste imbecil, ele está a defender o presidente!”. Não propriamente. Não estou a defender o presidente mas sim, estou a acusar os hipocrisia que existe em nós. O maior problema que há em nossa nação não é a escolha de um mau representante público, mas sim a de um bom Judas para atear fogo, para apedrejar! Como assim? A culpa de todos os males que assolam o nosso país é sempre dos representantes públicos (o que em suas devidas proporções é), mas nunca nossa.

Apresentamos sempre soluções para todos os problemas do país em nossas conversas de butiquim mas jamais, apresentamos uma solução para nossos problemas pessoais e, muito menos para as nossas faltas para com os outros. Para este, sempre encontramos um pretexto, sempre damos um jeitinho. Como também, não estou a falar apenas de problemas de ordem econômica pois, a única coisa que nos deixa indignados é quando mexem em nossos bolsos e em nosso conforto. O que eu estou a afirmar é que como que nós, seres imperfeitos, muitas vezes injustos, limitados por natureza, podemos julgar e condenar algo que não temos uma noção clara, que só conhecemos através de um telejornal? Como que meia dúzia podem ser responsáveis por um erro que afeta milhões? Será que os milhões não tem culpa em nada? Os outros é que são os maiores culpado por minha desgraça?

Mas, é sempre bom nós depositarmos as nossas culpas em alguém, não é? É melhor empurrarmos com a barriga e apontarmos com os nossos dedos acusadores nossas faltas para aqueles que estão no centro das atenções aí, ninguém vai perceber que nós temos uma parcela desta culpa. Nem nós mesmo. Não é? Como é difícil nos olharmos no espelho pela manhã e de rosto lavado olharmos no fundo de nossos olhos. Ou não é?

 

 


Eu já vi este filme...

 

O grande mal do assim dito cidadão brasileiro, é que ele crê piamente que protestar é única e a melhor forma de este dar a sua contribuição para a melhoria da nação. Este vai para o meio da rua, ostenta uma faixa (estilo FORA FHC E O FMI), e assim acredita de deu o melhor de si para resolver os problemas da nação. E eu não estou a falar dos humildes trabalhadores rurais sem terra que, na maioria das vezes são utilizados como massa de manobra por grupos políticos. Estou a falar de estudantes que, ao invés de darem o melhor de si nos estudos, para se tornarem grandes profissionais e excelentes seres humanos para melhor servir ao próximo, ficam a participar passeatas durante o dia e, a bebemorar (quando não estão a se drogar) a noite a sua pseudo batalha contra o sistema. E o pior, eles acham que isso é o melhor que eles podem fazer e que, o restante da humanidade deve se sentir grata pelo que eles estão fazendo.

 

 


Racismo e consciência negra

 

“No Brasil existe muito racismo!” Esta é talvez, a afirmação mais estúpida que já se ouviu falar. Como assim? Primeiro, vamos por partes: racismo é quando se vê presente no seio de uma sociedade uma apartação racial (apartheid), onde você tem um grupo racial a querer destruir um outro grupo racial. Este é o caso típico dos EUA, onde você tem uma KLUN KLUTS KLA (movimento de brancos que persegue negros e doutrinam o ódio contra eles) e um BLACK POWER. Existe algo nestas dimensões aqui no Brasil? Não, porque no Brasil nós não temos racismo, o que temos são preconceitos e não só raciais.

Ter preconceitos é ruim, com toda a certeza, mas este é um mal que o ser humano terá que carregar por toda a sua vida pois um preconceito nada mais é que uma idéia mal concebida, pré-concebida, da mesma forma que o movimento de consciência negra que impinge sobre a nação brasileira uma característica que não é nossa, fazendo uma interpretação pré-conceitual (preconceituosa) da integração racial que há em nosso país. Isso mesmo, não somos uma nação de negros, como costuma-se afirmar mas sim, somos uma nação de mestiços (1).

Mas de onde vem esta visão deturpada de nossa nação? A resposta é bem simples. Os intelectuais militantes do movimento de consciência negra (como os intelectuais em geral), absorvem por demais as teorias que explicam a realidade dos EUA, a qual, não só em termos raciais é bem distinta da nossa.

Aí, estes “copiam” o discursos dos intelectuais militantes dos EUA e aplicam aqui. Em outras palavras, querem fazer uma bola se encaixar em um orifício quadrado.

Aí terão aqueles que dirão, “mas os negros foram escravizados no Brasil durante três séculos”. Muito bem, concordo que a escravidão é algo inadmissível mas, como que se gestou, como que se processou a escravidão no mundo? Primeiramente, quem irá “ensinar” os europeus o tráfego de escravos (como fora gestado no Brasil), foram os Mouros, que por sua vez eram negros. Doravante, os traficantes de escravos nunca adentraram no interior da África para casar escravos, quem fazia tal atividade era justamente tribos de negros que, visando destruir uma tribo inimiga (e um bom regalo), atacavam e os vendiam para os traficantes os seus estimados “irmãos” (2). Se voltarmos um pouquinho mais no tempo, veremos os Egípcios, que era uma grandiosa civilização de negros, a escravizar os Hebreus, por mais de um milênio, ou todos se esqueceram desta passagem da história da humanidade?

Cabe ressaltar que durante o primeiro e segundo império, quem dominava o Brasil não era uma elite de brancos mas sim, uma elite de mulatos e, se fossemos fazer a árvore genealógica das celebridades de hoje veremos que muitos deles tem descendência a Africana (3). Fala-se por demais em preconceito racial mas, o que nos temos mesmo no nosso país é um forte preconceito social, visível pelo apartheid social que existe em nosso país (4). Deste modo, a impressão que temos é que se quer criar um novo problema para que fechemos os olhos para os que são concretos.

Para solucionarmos estes enganos que cometemos devemos parar de julgar as coisas com dois pesos e duas medidas. Como assim? Vamos supor que um Sr. resolve-se fundar um movimento intitulado de consciência ariana. Este por sua vez, iria ser chamado de “nazista”, de “racista”. Mas, quando se fala em consciência negra, não temos aí a formula invertida? Mas, a aceitação de uma e a proibição da outra não está conotando a presença de dois pesos e duas medidas? Por que um pode e o não? Deu para perceber?

Enfim, não temos que ficar a ufanar nenhuma consciência raça, nenhuma consciência étnica, como também nenhuma consciência classista. Para que fomentarmos o ódio entre nós? O ódio presente não liquida com as dívidas nem resolve os erros do passado. Devemos para de pensar que o errado é sempre o outro, de que o mal está sempre no outro e, começarmos a observar mais a nossa própria pessoa, nossos erros e limitações, porque nós somos humanos e consequentemente somos limitados e cometemos inúmeros erros.

Conheça a ti mesmo e você passará a melhor conhecer e compreender a si mesmo, os outros e o mundo. (5)

____________________
NOTAS:

(1) – Só se nós formos adotar a postura racial norte americana onde uma gota de sangue negro o torna negro, pelo simples fato de a mestiçagem ser repudiada pelos mesmos.

(2) – Os europeus só vão adentrar o interior da África durante o século XIX, que é quando se dá início ao imperialismo econômico. Até então, o interior da África era um total desconhecido para os Europeus ficando estes, apenas a circular pela margem do continente.

(3) – Por exemplo: o Sr. Fernando Henrique Cardoso e o Sr. Roberto Marinho têm descendência negra. Não que todos os donos do poder sejam mestiços mas, está muito longe de todos serem brancos. Ver: CARVALHO, Olavo de. O imbecil coletivo — tomo I. Rio de Janeiro: Faculdade da cidade.

(4) – Do modo como se fala do preconceito racial no Brasil, a impressão que nos dá é que só tem negro pobre e que todos os brancos são ricos, o que é, por sua vez, um grande equívoco. De mais a mais, você percebe claramente na organização das cidades bairros de classe alta, média e baixa mas, você não vê no Brasil bairros só de negros e bairros só de Brancos, ou vê?

(5) – Para aqueles que quiserem se ater mais sobre esta página de nossa história, sugiro a leitura na trilogia de Gilberto Freire (Casa grade e Senzala, Mocambos e Sobrados e Ordem e Progresso), o volume dois da História da Vida Privada no Brasil (org.: Luiz Felipe de Alencastro), o que é apartação social (Cristovam Buarque), O Povo Brasileiro e O mestiço que é o bom (Darci Ribeiro).

 

 


QUID VERITAS?

 

O meio intelectual brasileiro e consequentemente a sociedade brasileira, está infesta doentiamente de um grande mal que é, o relativismo da verdade. Sempre quando se pergunta: o que é a verdade? E o outro responde: depende do ponto de vista, dá-se por encerrado o debate. Mas este não é o fim da contenda mas sim, apenas o seu começo. Como assim? As pessoas acham que reduzir, minimizar um problema é resolvê-lo. Muito pelo contrário, apenas o agrava ou é possível tapar o sol com uma peneira?

Primeiramente, que a noção de verdade é uma noção eidética (do espírito) e, se partirmos do pressuposto de que tudo que há neste mundo é imperfeito, uma parte imperfeita da perfeição, a verdade não poderia ser um mero falatório. Logo, esta deveria estar e um plano superior da compreensão humana. Como assim? Você consegue apreender todo o que existe no universo ou no mundo?

Não. Mas não porque a idéia de verdade sege falsa mas, porque nós somos limitados e por isso, só conseguimos ter uma impressão parcial do universo que, consequentemente, não descarta a existência do absoluto. Mas o que é este absoluto? É algo superior a materialidade, que pode ser o que Platão denominava como mundo das idéias perfeitas ou, Deus como os teólogos afirmam.

Mas qual a importância disso? É simples, uma pessoa que não tem um norte seguro em sua vida, acaba por se desnortear. Se você não crê que existe a possibilidade de você acender (não em termos econômicos, mas sim em termos espirituais e intelectuais), você não se torna jamais um ser humano melhor, pelo simples fato de não ter ao menos a noção do que sege melhor.

Terão aqueles que dirão: eu sei o que é melhor para mim, sei que um bom salário e um carrão são bons para mim, que é melhor eu tê-los. Mais aí eu lhe pergunto meu caro, estes bens lhe fizeram se sentir melhor mas, em que eles o tornaram um ser humano melhor? Nós nos contentamos na melhora de nossa aparência e jamais nos preocupamos em aperfeiçoar a nosso íntimo, a nossa alma. Aí é que esta o grande mal da ausência da idéia de verdade enquanto algo absoluto.

Mas nós somos capasses que chegar a compreensão da verdade em sua forma absoluta? Não. Porém, o que importa não é que se chegue a este fim, o que importa é o caminho que se faz para se chegar até ele e aí esta, o outro grande mal da modernidade: nós só cremos no que seja possível se atingir, em que se possa possuir. Mas a verdade não é algo que se pode possuir. Ela é no máximo, algo que podemos visar, que desejemos atingir, mas nunca compreender, possuir. Como assim? Se a verdade é o absoluto pode, uma parte deste absoluto (que somos nós), compreender a sua natureza, possuí-la?

Uma pessoa pode vir a compreender o que é uma lombriga mas um lombriga jamais compreenderá o que é um ser humano pois, ela (momentaneamente) apenas faz parte do todo humano. Nós, como a lombriga, não podemos compreender a natureza absoluta do universo (que é a verdade), mas, ao contrário da lombriga, temos consciência da sua existência.

O problema de não se crer na existência da verdade enquanto ser absoluto, não é o de não crer em nada, é que esta pessoa passa a acreditar e a seguir qualquer coisa que aparente ser verdade.

Por fim, vivemos neste mundo de absurdos, onde qualquer afirmativa vulgar (sem provas), condena ou ridiculariza uma pessoa só porque esta sege um desafeto seu. Quando colocamos nossas paixões a frente da razão, a única coisa que conseguiremos é um engano, jamais a verdade.

O momento jamais substituirá o eterno. E é devido a um momento enganoso que cometemos as maiores besteiras, os maiores erros de nossas vidas, não é? Pense nisso meu caro(a).

 

 


Aos trabalhadores sem demagogia

 

Quando se fala em primeiro de maio, dia do trabalhador, só se fala do trabalhador e de sua triste labuta, de sua dura sina, etc., e como em outras datas comemorativas, pouco se reflete sobre o assunto (a data). Não estou a falar da situação do trabalhador mas, daqueles que se usam de sua situação para galgar postos políticos, no caso, os demagogos. Mas o que é um demagogo? Segundo a sua etimologia, ela é formada pelas palavras gregas demos (novo) ago (conduzir), que era utilizada para denominar os líderes de facções populares que, se utilizavam da insatisfação das massas para chegarem ao tão desejado poder.

Nesse sentido todo político é um demagogo, pois digam-me caro amigo, qual homem público quando em campanha se coloca contra os anseios da população menos abastada? Qual candidato não promete o paraíso na terra? Digam-me quem que se coloca contra uma reivindicação denominada popular? Quem ousa falar o que é necessário, o que é realmente possível?

Aqueles que se dizem nossos defensores se fazem uso de nossa situação para chegarem onde querem, independente de filiação partidária. Querem trágicos exemplos, então vejamos: os líderes da revolução francesa prometeram terras para todos sob suas bandeiras de liberdade, igualdade e fraternidade. O que fizeram? Confiscaram as terras comunais (que eram antes usadas pelos camponeses em relação de vassalagem) da Igreja e tomaram para si. Outro é o caso da revolução Russa que em nome do bem estar de todos os trabalhadores matou em um curto prazo de tempo mais de 20 milhões de trabalhadores. Na China, para o bem dos trabalhadores chineses, muitos são escravizados. Em poucas palavras, aqueles que prometem os céus, são incapazes de dar a terra, porque esta nunca fora a sua intenção.

E isso vem de longe. Por que será que o povo adora Libertar e seguir Barrabas? Por que adoramos o Reino de César onde homem mata o homem para dominar homens? Por que nós sempre caímos nesta ladainha destes falsos messias que prometem resolver todos os nossos problemas?

Vou lhes dizer porque. Porque somos criaturas ignóbeis. Acreditamos penas naquelas pessoas que nos dizem o que queremos ouvir, pois para nós isso é a verdade. Mas, se uma pessoa lhe apresenta os fatos como realmente são sem lhe paparicar, este além de estar mentindo é desumano, cruel, conservador. Todavia quem cometeu os maiores crimes contra os humildes forma justamente os que falavam em seu nome.

Diante destas palavras, a primeira reação deste indivíduos (que se dizem representantes da vontade do povo) é de indignação, revolta, mais espera aí, eu estou mentindo? Ou então, vamos um pouco mais longe, vamos fazer um teste com essa gente (conosco também). Pergunte a toda esta horda de pessoas, que se conclamam contra a globalização como esta sendo o grande Satanás, façam-lhes esta pergunta para estes fervorosos “defensores da humanidade”: peçam para eles citarem, pelo menos cinco estudos, cinco livros sobre a tal globalização que eles tenham lido? Ou cinco sobre o neoliberalismo? Ou cinco livros de neoliberais? Aí vão me dizer que sabem contra o que estão lutando, quer dizer, que dizem lutar?

Deste modo, este indivíduo sem saber responder a questão, começa a dissimular e a ficar rosnando ou a lhe mostrar uma imagem retratando a tragédia humana, ou a falar que você não pode agir assim mas, ela não te responde a questão levantada porque a única coisa que ele sabe fazer é falar da boca pra fora mas, provar o que fala é algo que lhe foge ao alcance de seu intelecto, porque a única coisa que este elemento sabe fazer é repetir chavões e palavras de ordem e, como estes não sabem responder uma pergunta de forma séria, pois quando eles são encostados na parede, se dissimulam, te desdenham, te insultam mas não respondem a dita questão.

Amigos, se queremos realmente que nós, não enquanto trabalhadores, mas enquanto pessoas, possamos ter uma vida melhor, primeiramente temos que parar de dar ouvidos a essa gente e, temos que nos tornar melhor do que somos, temos que sermos melhor que este mundo que nos oprime. O oprimido tem que deixar de querer ser opressor e começar a querer ser melhor do que ele é, pois a vida deve ser uma momento para nos aperfeiçoarmos e não para destruirmos uns aos outros.

De nada adianta apedrejar Lalaus, ACMs e cia. se nos não nos tornarmos melhor.

Erico Malatesta, um grande pensador italiano dizia que o maior inimigo dos trabalhadores são eles mesmos. Quem que fura a greve? Quem que bate ou isola o fura greve? Cabe lembrar que este homem (Malatesta) vendeu tudo que tinha, para dar aos necessitados e, passou a viver como sapateiro como também, Tolstoi que, deixou de ser nobre, dando as suas terras aos necessitados e passou a levar uma vida modesta e cheia de privações e ambos, nunca deixaram de se dedicar ao conhecimento, a sabedoria pois, a compreensão que estes homens tinham do mundo e da vida, os tornou maior que eles mesmos. Aí, meu amigo, peça para um político, para um líder sindical, para um “intelectual”, para estes defensores dos oprimidos para fazer o mesmo e vejam o que eles te respondem.

Por fim, já diziam os escolásticos que quanto mais eu sei, mais eu sou e, mudar a organização do mundo sem nos tornarmos mais sábios é apenas tapar o sol com a peneira. É total perda de tempo querermos mudar o mundo e apedrejarmos os outros sem mudarmos a nós mesmos. Mas, nós sempre achemos que o erro esta no mundo, nos outros, principalmente nas elites, na burguesia, nunca nossa.

Mas, se vocês acham que isso é bobagem então, que atire a primeira pedra quem não tem nenhum pecado.

 

 


Introdução à história da loucura

 

Brutalidade de ontem,
violência de hoje,
máscara trágica do moderno sem passado,
a fazer-nos perder o gosto pelo bom e pelo bonito...

(Roberto Vecchi)

 

Uma coisa que é fato na sociedade humana, é a sua diversidade cultural, onde vemos inúmeras representações de mundo, tradições, habitus, enfim, uma verdadeira constelação de luzes que brilham com diferentes intecidades e em cores multiforme. Por sua vez, este dado é deveras positivo pois, nos mostra o quanto que o ser humano é infinito em suas capacidades, o que se espelha neste mosaico cultural que é esta pérola habitada por nós, perdida no oceano da Via-láctea.

A compreensão da totalidade da produção cultural da humanidade é algo humanamente impossível. É algo como a Frankistain, onde o criador perde o controle sob sua criatura. O por que disso? Partamos da premissa de que o que dá sentido a realidade presente de um determinado grupo humano é, a sua experiência história, o conhecimento que esta comunidade presente tem de seu passado é que dará um sentido para existência da mesma. Podemos dizer que uma sociedade ou uma pessoa, que não zelam pela sua memória e, por sua vez não procuram refletir sobre ela, estará muito próxima de uma pessoa que perdeu a sua memória durante o sono e ao acordar, acaba aceitando o seu sonho (ou pesadelo), como sendo seu passado, tornando a sua realidade presente uma grande ilusão. O esquecimento, o não conhecimento do passado nos levam a uma vida de enganos frente a realidade ou, nas palavras do grande historiador mineiro José Carlos Reis que diz que: “O passado é o dia/vivido; o presente é noite reflexão. O presente é ambíguo: em relação a si próprio é sonhador, noturno; em relação ao passado, assume uma posição reflexiva, interrogadora, procurando lançar indiretamente luzes sobre ele próprio. O passado é referência de realidade, sem a qual o presente é pura irreflexão.”

Deste modo, partamos do princípio de que todos nós conhecemos e refletimos sobre a nossa história pessoal e que, por sua vez conhecemos bem a história de nossa comunidade (pena que seja só uma hipótese). Podemos (e até devemos) conhecer outras realidades históricas, mas por termos uma existência finita, não podemos a tudo conhecer. Logo, o mundo além de ser um grande mosaico de culturas é também um grande saguão repleto de estranhos, que convivem juntos, que falam uns dos outros mas, que pouco se conhecem e a maior parte do que sabem um do outro, nada mais é do que o que um pensa do outro e não o que um é e o outro não é, como se a vida em sociedade fosse um grande baile de máscaras onde nos colocamos máscaras uns nos outros e umas sobre as outras.

Nesse sentido, temos por costume projetar idéias e valores sobre algo sem a priori procurar saber o que este algo é em si, ou então nas palavras do filósofo e poeta Frederich Nietzsche que nos diz que: “não existem fenômenos morais, mas uma interpretação moral dos fenômenos. ” Cometemos interpretações enganosas por não procurarmos nos aproximar para conhecer este outro que nos parece estranho e desconhecido, aceitando uma visão superficial de algo, como sendo a “essência” deste algo.

Procurando ver a nossa realidade deste modo, podemos constatar inúmeros anacronismos neste sentido mas, o modelo clássico deste é a do louco. Jean-Paul Sartre nos falava que o irracional é sempre o outro, que o louco é sempre o outro, mas quem é este outro que tanto nos assusta com sua imagem exuberante e exótica ao mesmo tempo? Mannoni salienta que a loucura é uma questão problemática ligada a identidade de um ser humano ou de um grupo humano, pois dentro de uma perspectiva histórica a loucura é antes um desvio social e depois uma perturbação psíquica. A problemática da loucura enquanto um fenômeno de incompreensão do outro, do estranho, está em nossas bocas quando vemos uma pessoa com um vestir ou um agir que não são compatíveis com os nossos valores: “olha lá o louco”, ou “mais que loucura”, ou “até parece doido”. Há aí, um desencontro entre os diferentes, um desencontro taxativo dos diferentes, que ocorre a partir de um preconceito que, segundo um verbete de Diderot é uma “enfermidade do entendimento que favorece a superstição e mil erros populares.” O louco é sempre visto como algo mal, como um invasor do que se denomina de normalidade, que nada mais é que um conjunto de valores aceitos como corretos por um determinado grupo humano e, tudo o que foge a esta passa a ser taxado de anormal ou, loucura.

Mas, a doença, a insanidade, a demência, ela não existe? Bem, devemos mudar primeiramente a questão e perguntar desde quando um desvio social ou uma perturbação psíquica são encaradas como sendo uma patologia? Até os últimos séculos da Idade Média havia um diálogo entre as pessoas inclusas e as desviadas das regras e valores sociais no ocidente mas, a partir do século XVI, este diálogo começa lentamente a cessar devido o começo das grandes das grandes internações, que vão se tornar mais abrangentes nos séculos XVII e XVIII. Após a Revolução francesa cabe a psiquiatria o trato com os loucos e o que temos é um total isolamento destas pessoas e, o que passaremos a saber delas é o que os médicos psiquiatras nos falam delas. Rompe-se totalmente a ligação destas pessoas com a sociedade perdendo assim, os laços de sociabilidade. E mais, nós sabemos o que os médicos falam dos loucos mas não sabemos o que os loucos (pacientes) falariam dos médicos.

No mundo moderno ao contrário da Antigüidade e da Idade Média, os doentes mentais e as pessoas com desvio social são impedidas de se comunicar com a sociedade e esta com eles. Entre o homem de razão e o homem de loucura não há mais uma linguagem comum. Segundo Michel Foucault a história da loucura não seria uma história do discurso dos psiquiatras sobre a loucura mas, uma história do silêncio destes aplicados sobre os assim classificados loucos, que nada mais são que pessoas capturadas pelo saber médico como seu objeto de conhecimento.

Machado de Assis constrói uma firme e lúcida crítica a esta postura dos médicos psiquiatras de seu tempo em seu conto O alienista, onde o asilo da Casa Verde funcionava como uma alegoria a destruir o fundamento próprio da nosologia psiquiátrica, elidindo, no desajuste das teorias médicas modernas com a realidade, a segurança de qualquer fronteira entre razão e desrazão. Podemos deste modo dizer que identidade do louco é formada de um monólogo dirigido e interpretado pelo médico.

Mas em que vai se fundamentar esta idéia de exílio dos loucos como sendo uma face do mal? Durante toda Alta Idade Média até o fim das Santas Cruzadas, a loucura era algo cotidiano que era antes exaltada que dominada (como é o caso da festa dos loucos, o Carnaval). Durante muito tempo a loucura foi acolhida pelos europeus cujo polimorfismo não possuía nenhum caráter patológico, um caráter médico. Neste período a imagem do mal era representada pelos leprosos que, eram exilados das cidades, por serem personagens envoltos de um caráter sacro e, por sua vez, eram temidos como sendo expressão, um símbolo da cólera e da bondade de Deus. A lepra era vista ao mesmo tempo como símbolo de sofrimento, purificação e castigo do pecador. Doravante a sua exclusão era compreendida como uma forma de salvação, pois o seu sofrimento e distanciamento lhe trariam a salvação.

Com o fim das Santas Cruzadas, o contato com os focos de lepra no Oriente se rompe e em virtude do isolamento dos leprosos a lepra desaparece mas, os valores e as imagens ligadas a lepra não. Outros personagens vão ocupar o lugar vazio deixado por esta e passaram a representar os mesmos valores que eram representados pelos leprosos. E o que os médicos a partir dos séculos dezesseis irão fazer? Irão confinar, segregar, isolar, irão tomar os mesmos procedimentos que eram utilizados para com os leprosos afim de “purificá-los”, de “salvá-los” de sua insanidade e, os que em princípio eram classificados como loucos, como seres impuros eram indigentes, vagabundos, prostitutas, “cabeças alienadas”. Isso a princípio foi a identificação da loucura como doença.

É óbvio que o trato com os doentes mentais e os processos de internação mudaram muito, mas da mesma forma que a imagem do louco passou a ser associada aos valores que eram atribuídos aos leprosos, estes, por sua vez estão até hoje bem vivos e vividos por nós em nosso forma de nos relacionar com grupos humanos desconhecidos ou simplesmente com o nosso vizinho de hábitos estranhos.

O espanto é mais que saudável, é necessário desde que este procure o esclarecimento, o reconhecimento do objeto que causou o espanto pois, como nos falava João do Rio que, todos os loucos tem suas razões e que todas as pessoas normais tem suas manias. Se nós juntarmos as manias de uma pessoa normal com as razões de um louco, nós teremos uma pessoa normal.

Vocês já pararam para pensar quantas insanidades uma pessoa normal comete diariamente? Qual o sentido racional de assistir eufórico uma partida de futebol? E o que dizer daqueles 22 homens a correr de forma incansável a disputar a posse de uma bola afim de enquadrá-la em uma trave? Claro, as pessoas fazem isso para se divertir. Mas o que diriam as pessoas que não compreendessem os valores que norteiam este nosso jeito de se divertir? Eis a loucura de nossa incompreensão do diferente. O que dizer então da insanidade de uma campanha política? Quer coisa mais insana que a obstinação pelo poder? E a guerra, onde pessoas que se desconhecem estão a se matar sem saber ao certo se há uma razão plausível para a matança? E o culto ao carro, é coisa de gente “certa da cabeça”? O que podemos escrever sobre uma pessoa que gasta horrores para comprar uma calça só por causa de sua etiqueta? E as meninas que se apaixonam pelo cantor e/ou ator bonitinho a ponto de transformar o seu quarto em um local de culto a este? Eis a loucura nossa de cada dia.

 

 


Breve história das dimensões da Liberdade
na Experiência Jurídica e Social Brasileira

 

A liberdade! Estado da existência humana que ninguém explica mas, que todos entendem. Será? Dentro de uma perspectiva rasa sim, mas se nós formos realizar uma reflexão mais fecunda com conceitos definidos de forma mais apurada veremos que a liberdade tem explicação, tanto dentro de uma abordagem filosófica ontológica como dentro de uma perspectiva histórica.

Liberdade, segundo o filósofo Mário Ferreira dos Santos é a capacidade que temos de nos afastar dos laços que nos prendem à vã materialidade, à mera animalidade, podem assim, optar por valores superiores, que é, em suma a vontade, faculdade de afirmar ou de tender aos valores intelectualmente apreendidos. Não se deve confundir com o querer inconsciente , mero impulso, que é animal . Definição a qual se faz extremamente atual, pois no entender da maioria de nós, principalmente dos jovens, ser livre é meramente se apegar ao primeiro desejo que lhe salta as mãos. Nós somos os únicos animais que recusamos a animalidade e, é esta recusa que faz de nós humanos e não o apego a leviandades.

Doravante, haverão aqueles que procuraram afirmar em uma “preguiçosa perspicácia” que ser livre é poder fazer tudo que bem entende a hora que quiser, quando quiser, a onde e com quem quiser. Uma forma vulgar de se auto afirmar, mas procuremos também, pensar dentro desta perspectiva, sob a luz das palavras de um outro pensador, o filósofo francês Jean-Paul Sartre, que nos afirma que o ser humano não é simplesmente livre, ele está condenado a ser livre . Todo ato realizado por um único indivíduo abre a possibilidade de toda a humanidade de fazer o mesmo. Por exemplo: se você, caro(a) leitor(a) decidir matar uma pessoa, você acaba de abrir uma possibilidade a toda humanidade de cada indivíduo cometer um homicídio, incluindo a possibilidade de ter a sua própria vida tirada, devido ao apego a um mero impulso (raiva desatinada, desgosto desenfreado, indignação momentânea ou similar) fruto de nossa de animalidade. Todavia, como nós somos animais dotados de uma capacidade ímpar que é a razão, nós optaremos por uma renúncia, por um valor superior, que é o mandamento de não matar . Sendo assim, podemos definir a liberdade, de um modo geral, como sendo uma potencialidade de um indivíduo poder abrir para toda humanidade a possibilidade de contemplar e construir um mundo superior, a partir de uma mudança de si consigo. Quando aos atos potenciais que podem nos servir de modelo para cairmos na barbárie, não são exemplos de liberdade mas sim, de recusa à liberdade. Não suportando a idéia de que está condenado a ser livre e a ter que galgar a sua elevação intelectual/espiritual, o indivíduo atira sua alma a deriva nas lamacentas águas da preguiça, da violência, da indiferença, da impotência, procurando retornar ao conforto da animalidade. Em poucas palavras, alguns seres humanos não suportando o fardo da “escravidão da liberdade” preferem cair na animalidade, na “liberdade da escravidão”.

Doravante, cabe lembrar que o ser humano, enquanto um ser natural e social, é o único que tem consciência de sua historicidade, é o único ser que tem consciência de sua existência e de sua história. Nós somos os únicos seres com a capacidade de projetar sua consciência para o tempo passado e para um tempo futuro, somos os únicos capazes de lembrar e prometer, de refletir e sonhar. Em seguimento, nós temos nossas consciência alicerçada em um fragmento de espaço e tempo, que por sua vez acaba por moldar o conteúdo de nossas lembranças e reflexões, como também nossas promessas e sonhos.

Por exemplo: Santo Agostinho em seu tempo, na sua obra civita Dei descreve uma promessa de um mundo melhor, que é totalmente diferente da Nova Atlântida de Francis Bacon, que por sua vez também difere do manifesto do partido comunista de Karl Marx e, não fugindo a esta regra a obra Admirável mundo novo de Aldous Huxley.

Hoje ninguém sonha em provar que a Terra é redonda e que é possível chegar as Índias orientais através de uma circunavegação como também, Colombo por sua vez nunca pensou em subir até a lua com um foguete. Desta forma, a liberdade além de ser objeto de especulações filosóficas, também pode ser contemplada dentro de uma perspectiva histórica, pois esta também é uma experiência humana, que por sua vez esta situado em um pequeno pedaço do tempo e do espaço, que por sua vez varia de acordo com os anseios dos seres humanos que estão vivendo nesta faixa de tempo e de espaço. Pensando desta forma, podemos constatar grandes variações quando as dimensões da liberdade na experiência jurídica e social brasileira.

Entendamos a experiência jurídica como uma experiência da liberdade desde a fundamental liberdade de consciência até a compreensão da liberdade como efetiva e concreta participação do indivíduo no que a realidade possa realizar de mais alto, como assim nos lembra Miguel Reale. Partindo deste pressuposto, procuraremos vislumbrar as várias máscaras da liberdade ao longo de nosso processo histórico.

Sendo assim, contemplemos primeiramente o período de nossa história denominado América Portuguesa (vulgo, Brasil colônia), onde durante três séculos e meio, veremos uma sociedade organizada em núcleos de produção extensiva, os assim chamados engenhos. Estas unidades exerciam uma função política, econômica, social e até mesmo religiosa, fechada em si, onde por sua vez, a influência das ordenações jurídicas de Portugal pouca ou nenhuma influência exerciam. Desta forma podemos apresentar duas máscaras da liberdade nestas unidades de produção: a primeira apresentada pelo senhor de engenho que exercia o poder de mando dentro desta, que por sua vez era incontestável e, uma Segunda, que era exercida por aqueles que prestavam serviços ao senhor de engenho sem ser escravos, podendo romper seus vínculos de trabalho quando este não mais lhe fosse conveniente (esta autonomia era variável). Cabe lembrar que, não tecemos comentários quanto a liberdade jurídica do escravo, pois este era destituído de qualquer direito, logo, não era visto como sujeito jurídico, mais sim, como coisa.

Doravante, temos as bandeiras, que eram organizações de uma constituição basicamente militar, onde a liberdade do indivíduo era cerceada pela integridade do grupo, ou como nas palavras de Miguel Reale um liberdade grupal, onde o exercício da liderança era conquistado mediante as virtudes de um bom comandante de guerra. Para estes, seus destinos eram norteados por uma máscara de liberdade moldada pelo sentimento de aventura e desbravamento.

Durante estes três séculos e meio, podemos afirmar que a liberdade na América Portuguesa fora expressada dentro de um contexto geopolítico onde não se havia a figura do poder central, tendo apenas a idéia de uma poder na forma de “mando”, seja este do senhor de engenho ou do comandante da bandeira.

Mais adiante, por volta do final do século XVIII, a idéia de liberdade passará a ter uma dimensão reflexiva. É neste período que, devido a descoberta de ouro em grande quantidade, na região onde é hoje o Estado de Minas Gerais e, devido a prosperidade da produção açucareira na região onde nos dias atuais é o Estado de Pernambuco. Observamos aí um fecundo processo de urbanização regado com a importação de idéias vidas da Europa, no caso, obras de pensadores Iluministas. Somado a isso, podemos caracterizar as cidades como habitat da liberdade por excelência deste período e nesse sentido, a palavra liberdade passará a ter uma conotação de “libertação” ou “ruptura” com o Reino de Portugal, sentimento o qual tem o seu cume em 1822.

Consolidado o Império Brasileiro, nos teremos uma monarquia parlamentar, submissa a um poder moderador, encarnado na figura do Imperador D. Pedro I. neste período a liberdade significara autonomia individual, tendo como sentido complementar a idéia de descentralização político-administrativa, ponto o qual era considerado basilar para o pleno exercício dos direito individuais.

Descentralizar-se significava libertar-se do poder centralizador. Este sentimento, por sua vez alimentava e estimulava os ideais federalistas que por sua vez alimentava a idéia de República. Podemos constatar tal sentimento nas palavras de Rui Barbosa, ao converter-se de monarquista em republicano por acreditar que só poderia haver federação com uma república.

Ainda nesse período (próximo do final do segundo império), a liberdade terá novamente a conotação de libertação e ruptura, frente ao trabalho escravo, reunindo as melhores intelectuais do país em torno do ideal abolicionista. A idéia de liberdade se funde aos ideais abolicionistas. Eis aí mais uma máscara da liberdade.

Durante a primeira República, a liberdade política se vê restrita em cada Estado, onde as organizações político-partidárias eram republicanas e ao mesmo tempo imbuídas de um caráter regional. Estes, bem ou mal, correspondiam as opções dos cidadãos, que por sua vez eram fiéis aos partidos aos quais davam o seu apoio porém, não indo além das fronteiras Estaduais . Doravante, neste período era freqüente os abusos por parte dos estamentos burocráticos, passando-se a reivindicar uma maior autonomia para os indivíduos para se colocarem contra as ilícitas interferências da Administração Pública. Aí a liberdade irá ser mascarar com a salvaguarda de ir e vir, de agir, em suma, a posse dos direitos pessoais.

Durante a Revolução de 1930, a liberdade fora trajada de uma nova fantasia, que era a de uma libertação política, na forma de uma justiça eleitoral e do voto secreto permeada de uma libertação social frente a valorização do trabalho. Para a concreção disso, reclamava-se um Estado forte para assim, ampliar as igualdades entre as regiões, os grupos corporativos e o indivíduos. Porém, esta máscara de liberdade apenas servil para legitimar o movimento de 1930 pois, por paradoxal que pareça, a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, matou mais de 10.000 pessoas por reivindicarem máscaras liberdade semelhantes a que ele e seus pares embandeiraram.

A seguir, com o fim da ditadura do Estado Novo, o pêndulo político oscilou do Estado para sociedade, com a promulgação da constituição de 1946, que era uma cópia parcial da constituição da República de Weimar, assim como a de 1891 fora uma cópia “literal” da Magna Carta norte-americana. A liberdade nesse período é visualizada como sendo a participação, mais efetiva na vida sócio-econômica, contemplada com a declaração dos direitos políticos e sociais.

Doravante, com Juscelino Kubitcheck, a liberdade irá se mascarar com a fria face do desenvolvimentismo, como promessa de consolidação da democracia. Durante os Governos militares, o que visualizamos é uma vitória da tecnocracia. Neste período, vemos o cerceamento dos direitos políticos e da liberdade de expressão, fato este, que levará a idéia de liberdade mascarar-se com o anseio da anistia política e mais a frente, com camisetas amarelas das diretas já que será seguida do grito de impeachem.

Durante toda a década de oitenta até meados da década de noventa, o sentimento de liberdade será permeado pelo desejo de estabilidade econômica ao mesmo tempo que esta se expressará no anseio de justiça social.

Por fim, chegamos ao tempo presente onde a liberdade mascara-se nas reivindicação feministas, dos homossexuais, dos trabalhadores de um modo geral, nas CPI’s, nos processos políticos, enfim, esta espontaneidade vital que é a liberdade em sua essência se apresenta a nos em máscaras multiformes mas, cabe a nós nos indagarmos até que ponto estas máscaras de liberdade estão a aparentar a frente da face da liberdade? Será que, os gritos de libertação de um grupo não estão a querer suprimir a liberdade de outros? Não serão as grandes promessas de liberdade apenas uma mudança de feitor? Eis aí, mais uma das grandes desventuras humanas.

 

 


Jonas e as eleições em 2000

 

Mais um pleito eleitoral e mais um festival de horror. Estava eu em minha residência sentado, lendo um livro, quando ouço a campanhia e vou até a porta e vejo alguns santinhos que foram atirados pelo vão da porta, abro a porta e o primeiro grande assombro: não havia ninguém! Não que eu deseja-se que o pretenso candidato ao cargo de legislador municipal ficasse ali a me bajular com aquela velha ladainha populista, dizendo-me que irá lutar pelo povo, pelos direitos da maioria, enfim, aquele bla bla bla bem chinfrim, não, mais sim, o que causou-me um verdadeiro mal-estar foi pegar aquele punhado de santinhos (que nada mais são, a meu ver, que pequenos diabetes), apenas com um retrato do elemento, com seu número e sem nenhuma proposta, sem um curriculum ou algo do gênero! Digo isso, pois quando qualquer trabalhador brasileiro vai a caça de um emprego, ele é obrigado a apresentar um breve curriculum, onde se possa visualizar a experiência e a sua personalidade o qual, vem sempre acompanhado de uma ligeira entrevista para que o contratante tenha pelo menos um perfil das pretensões do candidato ao cargo oferecido. Outrora, muitos candidatos a um cargo público, para não dizer a maioria absoluta, se apresenta ao exercício deste ofício, sem apresentar um breve curriculum por mais falso que este o seja. Quanto as propostas, seria bom perguntar se estes as tem ou se pelo menos sabem o que é uma proposta pois uma outra pequena minoria, apresenta um pequeno panfleto propondo projetos que visam a preservação do meio ambiente, sem tem a menor noção sobre o assunto ao qual imagina apresentar uma solução. Pior ainda, é ver um grande montante destes filiados em partidos políticos, os quais estes desconhecem o estatuto do mesmo. Se dizem preocupados com os problemas da nação e do mundo, todavia estes não conhecem nem mesmo a plataforma política a qual defendem, o que o diga dos problemas locais. Bem, gostaria em uma certa deixa sentar para conversar com estes homens e mulheres a respeito de suas proposta e de suas idéias, se estas houverem. Só que, não tornemos também este grupo de pessoas em uma horda de anjos decaídos regidos pelas forças das trevas, não. São apenas uma pequena parte da humanidade (como o restante dela e nós por sua vez), que se deixa embalar pela vaidade e pela luxúria. O ser humano nada mais é que um fraco que se deixa facilmente embalar e se enganar pelos seus desejos, como nós fala o Sr. Rorty (filósofo norte-americano), desejos os quais são tão fúteis e vazios quanto a programação de Domingo a tarde que são transmitidos nos canais abertos de televisão. Estes são apedrejados por estarem em evidência, pois, são pessoas públicas, mas o candidato é sempre a cara do seu eleitor. Vejo com um certo descrédito o assim chamado cidadão. A impressão que tenho da maioria da população brasileira é a de um pseudo cidadão, uma espécie de mistura entre vassalo medieval com consumidor, que neste período ficam a flertar com os candidatos afim de obter algum benefício, ou ônus pessoal. Estes depositam uma confiança sem fim em uma pessoa, a qual, conhece apenas de butiquim, do local de trabalho quando muito. Amigos e amigas, a vida em sociedade está envolta de uma responsabilidade sem fim, de um ser humano pelo outro. Sem a existência de tal postura este período ao qual estamos vivendo nada mais será que mais um período onde se terá bajulações e alfinetadas. Pensemos bem na escolha de nosso representante, procuremos interrogá-los para ficarmos mais próximos da lavoura de trigo, afim de distinguirmos o joio do trigo, tarefa a qual, não é simples. É um tanto que complicado definir o que é o exercício da cidadania, é fácil sim, dizer o que não é o seu exercício. Não tenho a pretensão de ser a consciência de ninguém, e como nada impede que uma pessoa não leia minhas palavras, nada me impede de falar o que penso. A meu ver uma pessoa que resume o exercício da cidadania apenas na escolha de uma pessoa para representá-la, não passa de um irresponsável que procura alguém para descarregar sua porcentagem de culpa junto a humanidade, uma espécie de Judas para apedrejar e atear fogo, ou de um sádico masoquista que adora servir de marionete nas mãos de pessoas tão incrédulas quanto ela e de ver outros definharem junto com sigo nesta torre de marfim que é a vaidade humana. No meu entendimento o bom cidadão é aquele que assume a sua porcentagem de responsabilidade frente aos problemas que afligem a sua comunidade e consequentemente o mundo; é aquele que questiona os pretensos aos cargos que estão sendo ofertados, cargos estes que existem para servi-lo com a dignidade que lhe cabe; o bom cidadão é aquele que fala por si mesmo, não aquele que escolhe alguém para calá-lo. O exercício da palavra é o exercício da cidadania, e o conhecimento, a espada da consciência de um bom membro da sociedade humana. O bom cidadão não é um Jonas escondido do mundo, apavorado na barriga de uma baleia, mais sim, quem sabe, um garoto a tentar salvar estrelas do mar, solitário e desacreditado na grandeza de seu pequeno ato. São de pequenos atos que são feitas as grandes obras.

 

 


IGNOLI NULLA CUPÍDO

 

A comédia humana é realmente fascinante! Vivemos em um país muito engraçado, onde todos estão, ou pelo menos se dizem preocupados com o futuro da nação, e principalmente agora, parece que foi encontrado o remédio para todos os nossos males: “a educação”.

É incrível que sempre temos apenas uma chaga a nos incomodar, apesar de nosso corpo social estar recoberto dos mais variados males e pestilência. E mais, crêem fervorosamente que este novo ungüento, ira banir com todas as demais enfermidades que habitam o seio da sociedade humana, como as guerras, a miséria, a exclusão social, o machismo..., enfim estamos salvos!

Viva! Viva! Nosso país em um curto prazo irá sair do subdesenvolvimento e enfim, abraçar e se banhar nas águas calmas e caudalosas do bem-estar social!

Que bobagem. Não estou dizendo que a educação não é um remédio que pode vir a tratar, a longo prazo os nossos problemas, todavia este não é o único remédio, a ampola milagrosa que irá resolver nossos problemas, mas que temos que perceber que a complexidade dos problemas de nossa sociedade não se resolvem com soluções tão simples, e mais, se nossos problemas fossem assim tão simples de serem resolvidos, nós já não mais o teríamos.

Digo isso, não me referindo unicamente ao Estado, mas a todo o corpo social, pois também temos que procurar definir o que entendemos por processo educativo. A meu ver, o processo de aprendizagem se dá, antes de mais nada por exemplos de posturas e de atitudes e não simplesmente por um ato vago de uma lição. E neste sentido, cabe a nós, membros da sociedade em geral, olharmos para dentro de nós e parar um pouco para pensar se estamos realmente preocupados com a resolução das chagas que habitam o corpo de nossa sociedade.

Digo isso pois não se deseja aquilo que se ignora (IGNOLI NULLA CUPÍDO), pois o que me vem aos olhos não é uma sociedade preocupada com o equilíbrio do organismo social, muito menos envolvida dentro de uma causa comum, mas sim, vejo cada vez mais pessoas se fechando em seus universos particulares. E neste sentido, se o raciocínio que estamos desenvolvendo neste pequeno texto estiver correto, de que o processo educativo, se faz pelo meio da formação de exemplos de postura para os jovens, creio que este discurso que esta sendo vinculado pelos veículos de mídia e que por sua vez está sendo reapropriado por nós, está se fazendo parecer uma grande falácia, pois basta pararmos para pensar e fazermos uma auto crítica e vermos se estamos realmente fazendo de nossos discursos um ato concreto.

Gandhi dizia em sua simplicidade e sabedoria que: “eu não tenho mensagem, faço de minha vida minha mensagem”. E neste sentido, antes de querermos dar uma lição ao mundo, vamos ver se conseguimos dar uma lição a nós mesmos, e procurarmos ser melhor do que somos agora, e sermos melhores dos que por aqui passaram, para que o amanhã seja mais generoso para os que estão por vir.

Digo tudo isso, se apenas falamos em algo sem torná-lo parte de nossa vida, estamos apenas enganando a nos mesmos. Uma ilusão fatal se não desmascarada. Não ignoremos a nossa vida, não façamos de uma ilusão nossa realidade.

 

 


AOS PUROS DE CORAÇÃO

 

Estava nestes dias a ouvir uma das canções de João Bosco, e um fragmento desta dizia em suave e tímida harmonia: “...Ah! Como é difícil ser herói, lutar contra Satã apenas com orações...”. Mas, o que podemos refletir e questionar sobre a existência humana a partir deste fragmento de música? Sobre que pontos e óticas podemos questionar nossa natureza? A primeira vez que a ouvi fora na voz de Elis Regina e em uma Segunda oportunidade estava a ouvir na voz do compositor da mesma, aí então senti uma profunda angustia diante das imagens que vejo a minha volta e diante de minha postura junto a sociedade enquanto educador. Lutar contra o mal sem o fazê-lo, eis o grande problema de nossa natureza e o nosso dilema existencial.

Não tenho o intuito de pregar nada, pois, como diz o próprio Joseph Campbell, somente os pregadores se enganam, tentando impor a sua fé aos outros como se fosse a única verdade. Não estou aqui querendo apresentar nenhuma verdade, pois não tenho nenhuma resposta para dar, mas nada me impede de vir aqui compartilhar de minhas dúvidas, minhas aflições enquanto ser humano.

Nós em nossa breve caminhada existencial, sempre procuramos uma melhor posição junto ao sol das alegrias passageiras e dos contentos desejados por nossa vaidade e sempre, procuramos a realização destes nossos anseios com todo o afinco possível. Digo isto, não apenas quanto as questões materiais, que a meu ver não são anseios da alma mais sim, meras futilidades da preguiça humana, estou sim, a me referir a todos aquelas ruminações de nossas almas quanto a ânsia por justiça, por paz.

Nietzsche, pensador o qual tenho um especial carinho, em uma de suas passagens dizia que ao combatermos um monstro devemos tomar cuidado para não nos tornarmos ele, pois quando desejamos um abismo este também nos deseja. Cuidado basilar em qualquer empreitada humana, cuidado o qual não jamais tomamos, o qual nunca nos preocupamos. Sempre quando vamos reivindicar que a justiça se faça presente, utilizamos sempre as mesmas armas que nossos inimigos utilizam, olho por olho, dente por dente.

Enfim, a nossa pétrea natureza! Somos animais irracionais, bestiais como qualquer outro animal que exista. Sempre quando vejo duas pessoas a brigar, onde se trocam alguns golpes e alguns sintomas destas agressões, não sei quanto a você que esta a ler estas palavras, mais a imagem que me vem a mente é de dois cães, ou de dois touros, enfim, de dois animais a se agredirem mutuamente. Aí, as pessoas dizem, sempre quando estão de fronte a estes ocorridos que isto é a coisa mais natural que existo, toma lá da cá, bateu levou..., ou seja, essa é a natureza da coisa humana, pois, a meu ver, natural é tudo aquilo que se faz mostrar fácil, ao alcance das mãos, e seguirmos nossos instintos naturais não é ser humano, é ser animal.

Albert Camus, dizia que o ser humano é o único animal que nega a sua natureza, e é isso que nos torna melhores que os outros animais, o ato de usar o pensar e não a de usar espancar, pois quanto derrubamos um estandarte que simboliza a violência com violência, estamos levantando um outro símbolo de violência.

O caminho de se humanizar é difícil, nunca ninguém disse que era fácil. Buda dizia que amar o próximo é fácil, difícil é amar o seu inimigo, ou então recorrendo ao evangelho cristão, que diz que devemos fazer o bem sem saber a quem. Ser bom não é um dom de nossa natureza, pelo contrário, é de nossa natureza a crueldade, o desejo de ver sangue, pois para o nosso instinto apenas se vislumbra justiça quando se vê sangue. Ser bom talvez seja difícil devido ao fato de a bondade não ser um fato, mais sim um exercício, e os regalos de um exercícios não se fazem presentes em nossas mãos, nem junto aos nossos olhos.

É difícil de negarmos este animal que habita nossa alma, pois a sociedade é fruto do âmago de nossa alma. Bem, se um animal só vive em uma selva, o que é a “sociedade humana” se não uma selva de pedra? Quem primeiro reivindica de nós uma postura animalesca é a própria sociedade. Matar se for preciso, pois sobreviver é necessário. Ser competitivo! Não é esta a lei do mundo animal?

Negar! A meu ver isso é que nos torna humanos, negar esta crueza de sentidos que nos devora. Ou então, parafraseando com a doce melodia de João Bosco: ah! Como é difícil ser humano! lutar contra a sociedade apenas com palavras. Uma nova sociedade só se edificará com palavras e diálogo, não com trincheiras e barricadas. Domar e negar nossa natureza para que possamos ser humanos.

Tudo o que eu disse, parece ser absurdo. Talvez porque realmente seja, mas, tomando de empréstimo as palavras de Santo Agostinho: credo quia absurdum est . Entre o absurdo da sociedade que vivemos com naturalidade e o absurdo em sonhar uma sociedade que não seja esta barbárie, eu prefiro trabalhar pela concretude de um sonho do que viver a lutar no vazio de uma realidade sem sentido. E você dá a face teria coragem de dar a outra face? Ousaria negar sua animalidade?

 

 


Sobre os direitos e restaurantes da vida

 

Vivemos hoje, no final deste século, o que podemos chamar de era dos direitos, onde todas as lutas giram em torno da reivindicação de novas concessões e pela garantia das já conquistadas. Todavia, eu em minha posição, enquanto uma pessoa que pensa a sociedade, fico um tanto atônito com a forma que as pessoas fazem uso da palavra direito, principalmente no que tange o direito a educação.

Primeiramente, o que podemos entender por direito, é um espaço de concessão conquistado por um grupo social ou por diversos grupos sociais. Esta por sua vez lhe a garantia de uma opção, de livre escolha, por exemplo: o direito a liberdade religiosa garante a todo cidadão brasileiro o direito de exercer qualquer religião ou de exercer nenhuma; o direito de livre imprensa que garante que todo e qualquer cidadão a liberdade de pronunciar a sua opinião, independente de qual seja.

Outrora, o exercício de todo e qualquer direito deve partir de determinadas condições prévias, o que poderíamos chamar de “condição de cidadania” que, nas palavras de Pedro Demo seriam as condições básicas de existência, a qual a maioria da população brasileira não tem e, quando tem acesso a um quesito como atendimento médico hospitalar, alimentação... , obtém este através de uma relação paternalista e de clientelismo.

Comparemos o saguão dos direitos com um restaurante de nível mediano ou a uma churrascaria, tanto faz. Para se adentrar a um destes ambientes se requer algumas condições prévias: dinheiro, estar bem alinhado e conhecer algumas regras básicas de etiqueta social. Ao sentar-se a mesa, um homem bem trajado que é um garçom, lhe apresenta um cardápio de opções ao qual o seu cliente pode optar, onde este terá o direito de escolha de acordo com a quantia de dinheiro que este possui e é claro, que este distinto senhor irá atender o seu cliente de acordo com a imagem social do mesmo. E aqueles que não tem condições econômicas para freqüentar um restaurante como este, parte para opções similares de acordo com o recheio de seu bolso, e quando este é como um “pastel de rodoviária”, cabe-lhe a paciência de aguardar nas portas dos fundos, a aguardar as sobras do restaurante, sobra a qual é muitas vezes até compartilhada com animais, isso se os deuses estiverem conspirando a seu favor.

Pois bem, a escola pública é um restaurante as avessas como o discurso salvacionista que está envolta da educação. Primeiro que, discutamos a idéia de educação como direito. Se ter um direito é ter um espaço para poder escolher entre uma situação e outra a educação esta é muito longe de ser um direito e sim, próxima de uma imposição totalitária, pois o que vejo são casos de crianças que são praticamente preadas no seio de suas famílias para irem a escola, como que tal situação de ser chamada de direito? Pequenos que vão a escola para “estudar” laçados pelo estômago (em troca de uma cesta básica).

Vocês já pararam para pensar no impacto que isto causa no imaginário de uma criança? A clara imagem que me vem a mente é de que o correto e estarmos junto as instituições como clientes ao em vez de trabalhar. Seria o mesmo que o garçom força-se o seus fregueses a comer um prato, digo, que o gerente do restaurante força-se as pessoas que não tem condições financeiras a entrar para comer. Bem, tal hipótese esta longe de ocorrer, pois qualquer empresário quer um retorno pelos seus serviços, o qual é direcionado a um clientela específica. Ai então eu me pergunto, qual é o retorno que o gerente desta rede de restaurantes chamada escola pública quer?

Parece-me um tanto confuso se reduzir a função social da escola a uma mera preparação para um suposto emprego. Milhares de pessoas a correr para as escolas para obter um diploma de conclusão do ensino fundamental e médio literalmente e não para beber da fonte do saber. Podemos dizer que a maioria das pessoas entram neste suposto restaurante observam os pratos em exposição, sentem o aroma dos mesmos, beliscam uma e outra amostra grátis, e na saída pegam um cartão do mesmo para comprovar que estiveram dentro deste, apesar de terem saído de estômago vazio ou levemente forrado.

Aí então eu lhes pergunto, de que serviu estes onze anos para esta criança? Qual foi o ganho que esta pessoa adulta teve ao retornar ou calçar pela primeira vez seus pés neste espaço?

Normalmente se perguntarmos a uma pessoa o que ela está indo fazer em um restaurante ela lhe responderá com a clareza de um dia de sol, e inclusive lhe descrevera o prato que deseja saborear, todavia, quando se trata do restaurante escola, a pessoa esta a ir para esta afim de apenas obter aquele cartão de visitas (o diploma) e só.

Estamos a reduzir imensidão do conhecimento humano a uma mera garantia de prática de sobrevivência, que é o emprego. Mas se reduzirmos as nossas vidas a uma mera prática de sobrevivência nós não estaremos reduzindo o ser humano a sua animalidade? É este tipo de educação que garantirá a uma mais ampla emancipação humana?

 

 


Diálogos para um novo milênio

 

Há mais coisas entre o céu e a terra que nossa vã ignorância . Por fim, o que será este tal novo milênio, o que será de nossas vidas neste novo tempo que se faz como um buraco de agulha para dois terços da humanidade, ou melhor, o que fazemos e o que faremos de nossas vidas? Como diria o filósofo Romeno Cosntantin Noica: somos todos, afinal de contas, humildes insetos no insetário da humanidade, e, quanto tentamos pensar a vida dos outros servimos melhor como objeto a ser pensado do que um alguém pensando em um objeto. No final das contas não passamos de moscas metidas a besta e como tal, deixe este inseto servir de objeto de observação por suas observações.

No último dia 31 de dezembro, recebi a visita de um amigo que a muito não via, e resolvi de levá-lo conhecer a cachoeira próxima a capela de Nossa Senhora Aparecida, cegando lá o que vemos? Um local sagrado, todo decorado com os rastros putrefos da passagem de algumas moscas como eu. E aliás todo fim de evento naquele local é contemplado com aquele visual, isso sem falar que, quando descemos ao pé da cachoeira encontramos restos de festas passadas, restos mortais de uma vaca (ou boi se for o caso), que por sinal esta lá a descansar há muito tempo isso, sem falar dos pratos de papelão, latas, e faixas plásticas (aquelas que vão na parte superior do bar em dia de festa). E o mais engraçado é a placa que há neste local dizendo “área de preservação ambiental”. Aí eu fica a pensar, se estas pessoas fazem isso neste local, que é tido por muitos como sacro, o que será que eles fazem em suas camas quando estão a orar na plenitude do silêncio da noite?

Escolhi este local para comentar, pois foi lá que muitas pessoas escolheram para passar a virada do ano, e sempre que se chega a passagem de uma ano para o outro, nós desejamos que o mundo melhore, que as portas da oportunidade se abram para nós, enfim, desejamos que o mundo mude para melhor para que possamos viver melhor nele. Desejamos sempre a vinda de uma cocanha , de que o mundo se transforme diante de nossos olhos e sob nossos pés. Mas todo fim de ano desejamos que isso ocorra? O que há de errado no mundo que essa transmutação não ocorre?

Se o ser humano, se nós, parasse-mos para pensar o quanto somos infinitos, quem sabe o mundo muda-se ou, pelo menos nossas vidas. Ao invés de querermos mudar o infinito mundo procurasse-mos mudar o nosso infinito ser?

Nos portamos na maioria das vezes como o príncipe de uma lenda indiana, que desejava cobrir o mundo com couro para não sujar os seus pés com a terra. Para tanto o príncipe consultou um sábio , e este lhe disse: se não queres sujar seus pés com a terra deste mundo em suas caminhadas, ao invés de cobrir o mundo com couro, cubra seus pés. Se você quer que o mundo melhore, que sua vida melhore, não queira culpar os outros por sua desventura. Culpe primeiramente a si mesmo. O espírito do mundo só muda se a alma humana se inunda de sinceridade de gentileza.

Tá, aí neste momento, com certeza haverá um leitor pensando, “de isso adianta, se o sistema não muda”. Mais que bobagem! O que é que dá sentido e forma para esta entidade abstrata que é o sistema senão seres humanos de carne e ossos, senão nós! Vivemos depositando a culpa de nossa desventura terrena em entidades abstratas, que não assumem a culpa de nada, que não resolveram o problema de ninguém se nós não nos reconhecermos dentro dela e mudarmos primeiramente a pecinha que esta atrás do jornal neste momento.

Mas o que mudar? Podemos por exemplo, ao invés de nos preocuparmos tanto com a sedução, como normalmente homens e mulheres se preocupam afim de atrair um parceiro(a), para lhe trazer o contento que a solidão não lhes oferta.

Tudo no mundo de hoje tem de ter ao menos um Q de sedução, mas o que é seduzir? A palavra seduzir vem do latim, sub ducere, que quer dizer guiar, atrair por baixo. Ao invés de querermos ser sedutores, por que não sermos sinceros? Com certeza muita coisa deixaria de ser vendida e muitas pessoas deixariam de ser interessante.

 

 


Algumas considerações sobre a ética

 

o senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal. E o senhor arrependeu-se de ter criado o homem sobre a terra, e seu coração sofreu amargamente
(Gênesis, VI)

 

Não existe coisa com a qual sejamos mais severos do que, com os erros que abandonamos, como nos dizia Goethe, e, não existe a to mais difícil do que ser sincero consigo mesmo, ou seja, reconhecer a falibilidade de seus atos. Esta sinceridade consigo mesmo, é o que as mente sadias denominam consciência moral. Sem essa se torna impossível chegar a uma verdade objetiva pois, como você pode pretender chegar até uma verdade sendo que você começou sua caminhada mentindo para si mesmo. Por sua vez, a sinceridade consigo e com o mundo para se chegar a uma verdade formam um nexo que é a responsabilidade. Esta é a base para uma autoconsciência, que é base para uma postura ética.

Por isso, aquele que pretende mudar a opinião de outrem de qualquer modo, é nada mais que um interesseiro, de um vigarista. Quem foge ao debate, aqueles que procuram o consenso a qualquer custo são a priore falsários que não merecem o mínimo de respeito, pois este primeiramente quer mudar o mundo a sua volta, quer mudar tudo, menos a si mesmo. E mais. Estes imbecis que querem fazer do mundo a sua imagem e semelhança chamam isso de postura ética. É só na cabeça destes dementes que corrigir o mal do mundo com o mal de sua alma é ética.

E destes tipinhos o mundo está cheio por um simples fato: hoje em dia, a maioria das pessoas cria as suas opiniões como animais de estimação, em um sucedâneo de afeto deslavado. Quando a mim, lhes digo que trato as minhas idéias e opiniões na base de pão e água, na base de muita porrada, tortura, flertando com seções de chibatadas, ginástica sueca e choques elétricos.

Algumas eu mato no berço a machadadas. Fico apenas com as que sobrevivem.

Para se chegar a uma autoconsciência moral, primeiramente e unicamente devemos ser rígidos conosco, com nossas opiniões, pois só assim podemos ter uma postura reta, ser um homem por inteiro como nos falava Machado de Assis. Ou então, podemos optar em acreditar em uma mentira esquecida.

O que as pessoas nos dias de hoje chamam de ética, na Antigüidade e na Idade Média, seria chamado de vingança pura e simplesmente. A ética é esta autoconsciência de seus atos, é o saber a diferença entre o bem e o mal e não, uma perseguição furtiva a um grupo ou a uma pessoa só por serem um desafeto. É ético uma vaca reclamar da sujeira do potreiro sem primeiramente limpar o sua cola? O que as pessoas hoje identificam por ética é um apontar de dedos uns nos erros dos outros e negando os seus para o público e para si mesmo.

Deste modo, caminhamos rumo a demência e a morte da autoconsciência. Não é atoa que as pessoas acreditem mais em uma boa entonação ou elevação de voz, na euforia de uma pessoa que defende os interesses da maioria. Pois argumentos e provas não precisam de encenação nem de um dedo acusador e, como diz o ditado popular: quando você aponta para o erro de outrem três dedos voltam-se contra você. E isso não é ética. É sim safadeza.

A ética virou fofoca da vida alheia. As pessoas sabem da vida de todos, dos defeitos de todos, se preocupam com as faltas de todos menos com as suas.

Deste modo, se a ética (nos tempos quando esta existia), era a disciplina da filosofia que se preocupava com a conduta do ser humano, com o fim que se orienta a conduta de um ser humano, como avaliara eticamente a conduta “ética” das pessoas no Brasil atual? O que dizer de uma pessoa que vive a bisbilhotar a vida alheia e a querer ver cabeças rolarem em um tribunal ou, de ver uma pessoa ser humilhada em público? Que postura ética é esta em que acredita que a justiça é uma vingança satisfeita? Isso é ser justo?

Não, ser justo é orientar a sua vida pelo caminho do certo, corrigindo seus erros constantemente afim de se aprimorar e não ver a condenação de seus inimigos. Isso é vingança e esta, tem parentesco com a inveja e não com a ética.

Por fim, uma coisa que a maioria das pessoas não se dão conta é que o ser humano é infinito em sua grandeza como em sua mediocridade. Encenar condenações como gestos de justiça sem interiorizar em nossa alma o sentido do bem que é o ser justo, de nada adianta pois, apenas trocamos a roupa suja por uma nova sem nos lavar. Porém, se crermos que o ser humano é potencialmente infinito, o gesto de mudar a si mesmo, sendo sincero consigo mesmo, não seria um grande passo para mudar o mundo?

As melhorias só ocorrem quando emanam de dentro para fora. Querer mudar a conduta do outro de nada adiantará pois esta deve vir de dentro para fora, como a beleza de uma flor, como o nascer de qualquer forma de vida. E como qualquer nascimento, esta auto-avaliação é desconfortável, pois reconhecer nossos erros é abandonar a proteção do ventre materno e se retratar ao mundo. Persistir no erro e querer mudar o mundo a sua volta é o mesmo que querer construir uma casa segura sem ter nascido.

Não estou a defender a impunidade dos transgressores mas sim, defendo a punição do maior de todos que somos nós e nossa falsa consciência.

 

 


IN FORO CONSCIENTIAE(*)
— notas sobre o jornalismo e a verdade

 

O mais importante serviço prestado pelos jornais e revistas é educar as pessoas a encarar matéria impressa com desconfiança.
(Samuel Butler)

 

É comum se ouvir pelas ruas as pessoas reclamarem que um determinado médico se aparenta ser mais com um açougueiro que outra coisa, que um determinado comerciante é “ladrão” por cobrar elevados presos por suas mercadorias, que fulano e beltrano são maus pagadores de contas e, que os jornais só publicam mentiras (ou inverdades se preferirem)ou, que o tal jornal se vendeu para determinado grupo político.

Bem, quanto aos casos apontados acima, em especial esta última ponderação temos em questão a idéia de livre imprensa que por sua vez, engloba dois problemas: um de propriedade e outro de consciência.

O direito de liberdade de imprensa só tem sentido diante do direito de propriedade. Quando você quer expressar a sua opinião quanto a um determinado assunto, você pode locar um auditório, ou publicar um panfleto, ou fundar um jornal. Em todos os casos nós temos presente a presença do direito de propriedade.

Sem direito de propriedade não há de jeito nenhum liberdade de imprensa. O que me permite publicar os meus artigos neste jornal é a concessão do seu proprietário e, se este de uma hora para outra não quiser mais meus préstimos, terei que procurar um outro veículo de imprensa ou fundar um. Um jornal não é obrigado a publicar o que você quer pelo simples fato de o jornal ser de alguém e, da mesma forma que você veta a entrada de pessoas indesejadas em sua casa este pode vetar a entrada de palavras indesejadas em suas páginas e isso, não é censura. Nada mais é do que direito de propriedade. Se você acha que o que você tem a dizer é por demais importante, faça um panfleto ou funde um jornal.

Para se ter uma idéia de como o direito a propriedade é basilar para que exista a livre expressão, vejamos o exemplo do México anos atrás, o governo para poder controlar os jornais não os censurou diretamente mas, simplesmente monopolizou a produção de papel. Como que um desafeto do governo poderia publicar um jornal sendo que o único produtor de papel (o Estado) não lhe vende? Nada impedia que um mexicano expressa-se a sua opinião senão o impedimento de poder comprar papel.

Quanto ao exemplo de Cuba creio que não há nem a necessidade de mencionar já que, tudo que há neste país é de propriedade do Estado Fidelista. Logo, se dá para imaginar o que um cubano ou simpatizante deste regime entende por liberdade de imprensa.

Tudo bem, ainda terão aqueles que dirão: mais os jornalistas ainda mentem! Bem, quanto a isso não discordarei pois, cada um é consciente de seus atos, correto? Pois bem, é neste ponto que eu gostaria de chegar.

Uma mentira só tem relevância se você a encara como sendo uma verdade. Simone Weil já nos dizia que Estar no inferno é acreditar, por engano, que se está no céu e, quem determina esta escolha não seriam ninguém senão você mesmo. Toda e qualquer escolha parte da consciência individual do sujeito.

Ninguém é enganado por outrem mas sim, se deixa enganar.

A veracidade do que está escrito nas páginas de um jornal é da responsabilidade do jornalista sim, mas é responsável pelo que está sendo aceito como verdade quem o lê pois é você meu caro que irá aceitar ou repudiar a veracidade de determinadas notícias, e não o jornalista. Quem que determina a condenação de uma pessoa: os advogados ou o júri? Ora, os advogados, tentam apenas persuadir o júri mas, quem determinará o destino do desgraçado que está no banco dos réus é o júri do mesmo modo com os jornais. Dane-se se o jornal não tem veracidade pois quem determina a aceitação do que está escrito em suas páginas é a consciência do leitor, a sua no caso.

Quanto a isso, lembrei-me de uma passagem do filme Advogado do Diabo, onde o advogado acusava Lúcifer de tê-lo enganado. No mesmo instante o demônio ri e diz que ele não o obrigou a nada que fora ele que escolheu, que ele não o forçou a fazer aquela escolha, ele apenas o convidou.

A vida é um campo de testes, de provações para nos aperfeiçoarmos, como nos fala o Alcorão Sagrado. O caminho para a verdade é o caminho da vontade de se conhecer a verdade e não uma mera olhadela em um jornal. Se a verdade fosse tão simples nós não teríamos tantos problemas.

Todavia, nós temos o péssimo habito de responsabilizar os outros pelas nossas falhas, de relegar a terceiros a nossa responsabilidade.

Um jornal não é consciência de ninguém pois o que determina a consciência é a capacidade de escolha, de distinguir o certo do errado, o belo do feio...e neste sentido quem que faz a escolha? Quem que confirma e legitima o que está escrito? O jornal que escolhe o leitor ou o leitor que escolhe jornal? Você crê no que está escrito no jornal por que ele te obrigou ou por que lhe convêm acreditar no que está escrito? Apenas lugares como a antiga URSS é que os jornais, digo, o jornal (pois só havia o do governo), se fazia parecer como a verdade absoluta e “ontológica”, a ponto de se chamar PRAVDA (A Verdade), pelo simples fato de o Estado ser o proprietário de tudo inclusive, do direito ao uso da palavra.

Todavia, aqui em nosso país não há um só jornal. Há vários, pelo simples fato de você Ter o direito de adquirir um espaço para divulgar suas idéias e opiniões. Um bom exemplo de atitude, é a do jornalista anarquista Astrogildo Pereira que, no começo do século produzia um jornal de circulação semanal chamado A Crônica Subversiva, no qual ele era o redator único. Ele era um pobre operário paulistano, autodidata, com apenas a terceiro ano ginasial mas nem por isso deixou de cultivar um profundo amor pelas letras. Amava a literatura em especial a obra de Machado de Assis e, mesmo frente a todas as limitações que a vida lhe impôs, em 1918 lançou A Crônica Subversiva que aparecia sempre aos sábados.

Vejam só, um homem de recursos limitados não calou sua voz e jamais virou as costas para o conhecimento. E nós? A única coisa que fazemos é nos queixarmos da vida, da situação em que nos encontramos e entre os culpados pelo nosso fracasso pessoal, muitas vezes elegemos o jornal como responsável pela nossa consciência distorcida.

Sêneca nos dizia que aquele que se põe atrás de outro nada encontra, digo, nada busca. E o que mais se vê nos dias de hoje são pessoas a se colocarem atrás de outras, a penalizar outros por suas faltas.

Por fim, apesar do passar dos anos em nossas vidas, sempre ansiamos por viver uma eterna infância, livre de preocupações e de responsabilidades porém, nos esquecemos que a maturidade nada mais é do que o reencontro de um homem com a seriedade que ele quando criança colocava nos jogos e brincadeiras, lembra-nos sabiamente Nietzsche. Por isso, não sejamos irresponsáveis a ponto de culpar a mídia (tanto impressa como televisiva)pela nossa incapacidade de distinguir o bem do mal, a verdade e a falsidade.

Procuremos ler um jornal com a mesma seriedade que um garoto joga bola de gude pois, se a impressa brasileira não é séria não seria porque nós não somos sérios?

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(*) – no tribunal da consciência

 

 


Elogio à Filosofia

 

Deus não criou nada melhor, nem mais perfeito,
nem mais belo que a inteligência,
e Sua ira cai sobre aquele que a despreza.

(Mohamed)

o néscio se julga sábio, mas o sábio se reconhece néscio.
(William Shakespeare)

 

Descartes dizia que uma vida sem filosofar é uma vida de olhos fechados e, por sua vez, Cícero afirmava que jamais os benefícios da filosofia serão suficientemente enaltecidos. O primeiro homem a utilizar o título de filósofo fora Pitágoras de Samos, que quando interrogado se ele era um sábio, respondeu de não dizendo que era apenas um filósofo, um amante da sabedoria. Ele acreditava que seria de uma profunda arrogância de sua parte afirmar ser um sábio por isso, ele preferia esta posição de inferioridade em relação a sabedoria. Nesta relação, caberia ao homem enquanto ser inferior em poder e sentido para aquele que é superior (a sabedoria).

Doravante, Pitágoras fora interrogado sobre o que fazia este dito amante da sabedoria e este disse que o filósofo é um contemplador do mundo. O filósofo seria aquele homem que vai aos Jogos Olímpicos sem nenhum outro interesse senão contemplar o que está acontecendo. O candidato a ser um filósofo teria que Ter, como pré requisito, preparado para desprezar o sucesso mundano. O filósofo deveria ser um homem que observa-se o seu autodomínio pois, o ato de permanecer em silêncio para ouvir a sua voz interior era considerado por ele, uma das mais difíceis práticas.

Neste sentido, a filosofia é a expressão mais alta da amizade pela sabedoria, onde o filósofo procura não uma resposta rasa (contigente) para os problemas mas sim as suas causas primeiras e suas razões últimas. A filosofia é mais uma inclinação ou orientação perene para a verdade última, do que a verdade plena, como bem nos lembra o Sr. Miguel Reale.

Deste modo, a filosofia é um conhecimento essencialmente teorético, contemplativo. Mas qual a utilidade da filosofia para vida? Nenhuma, ela é inútil. Tão inútil como a Poesia, como a Literatura, como a História ou como a Religião.

Como assim? Você usa no dia a dia estes conhecimentos do mesmo modo que um engenheiro ou como um técnico? É óbvio que não. Tanto a filosofia como os demais conhecimentos acima citados são inúteis por estarem além da utilidade.

Vocês já pararam para pensar que as coisas que dão sentido a nossas vidas, as coisas mais importantes para nossas almas são inúteis, não têm a menor praticidade?

O que nos diferencia dos animais é justamente isso, estas preocupações. Tudo o que é prático tem uma ligação direta com nossa sobrevivência, com o suprimento de nossas necessidades materiais e, se nós reduzimos as nossas preocupações apenas a nossa sobrevivência, nós e um cão não teremos muita diferença.

Mas, como sempre há aqueles que vivem reduzidos a realidade bestial da sobrevivência, daqueles que crêem que qualquer estudo só vale a pena se a resposta financeira não for pequena, ainda perguntaram de forma céptica para que serve um estudo puramente teorético? Ora, para tudo e para nada, ou melhor, para tudo porque para nada, como nos fala Ricardo Rizek.

Ainda fazendo uso das palavras do Sr. Ricardo Rizek, ele nos diz que se esta resposta não bastar, faz-nos bem lembrar da parábola de Chuang Tzu sobre a árvore inútil, que possuía um tronco tão torto que era tão cheio de nós que ninguém conseguia tirar dela uma só tábua. “Inútil”, pergunta Chuang Tzu. ”Plante-a então em seu jardim, caminhe sozinho entorno dela e descanse à sua sobra. Nenhum machado ou decreto proclamará o seu fim. Inútil? O que me importa?”

Filósofo não é um homem que possui um diploma de bacharel em filosofia mas sim aquele que ama com toda a intensidade de sua alma a sabedoria. A filosofia não é uma profissão mas sim um estilo de vida, um caminho que se escolhe para trilhar e o que determina o adepto do filosofar não é um canudo mas sim a sua vontade individual, o seu desejo, o seu amor pela sabedoria. Ou vai me dizer que certidão de casamento é atestado de um coração apaixonado?

Ser filósofo é ser um homem por inteiro, fazendo uso das palavras de Machado de Assis. É ser o que se pensa é viver o que se prega. A um filósofo cabe uma postura de profunda sinceridade intelectual. Um filósofo deve ser maior que ele mesmo, maior que sua dor, que sua vaidade, de suas ambições, que suas paixões mundanas enfim, ele deve almejar ser maior que sua própria existência. Eis aí um caminho tortuoso, mas quem disse que o caminho da virtude é um caminho agradável e tranqüilo? O que você acha que a sabedoria é: uma meretriz oferecida ou uma dama resguardada? Nem uma nem outra. Ela é como uma Santa que só se pode ser amada sem nunca tê-la vista ou tocado em sua face.

O filosofar não começa pela dúvida mas sim pela recusa do que é secundário para se apegar ao que é essencial.

Sendo assim, qual o espaço que cabe a filosofia em nossa sociedade que é extremamente utilitarista? Imenso e nulo eu diria. Como assim? A atitude filosófica não é uma atitude coletiva mas sim solitária, que parte do âmago de nosso ser. Nesse sentido, as possibilidades da prática do filosofar são imensas e nulas pois, depende da escolha que você fizer pois, é a escolha que fazemos que determina o nosso destino e não o mundo que o impõe.

Há imbecis que afirmam que o mundo clama por filosofia. O que eu ouço é a multidão clamar por mudanças no quatro político, por uma melhor distribuição de renda, para que prendam determinado elemento, etc.. Porém, eu jamais ouvi um grupo de manifestantes a calmarem: “nós queremos a sabedoria, ser sábios! Nós estamos sedentos de conhecimento!”, pelo simples fato que esta não se dá a ninguém mas sim, se vai até ela. O mundo jamais clamou e jamais clamará por sabedoria. O que ocorre como sempre ocorreu, são alguns indivíduos solitários que trilham seu destino a procura desta sem se preocupar se tal caminho vai lhe trazer reconhecimento ou não pois, o filósofo recusa o mundo da ignomia para mais próximo ficar da sabedoria.

Por fim antes de perguntar se algo é útil o inútil, pergunte-se primeiramente em que este algo o tornará melhor. Antes de se perguntar de forma arrogante quais as causas dos males que assolam o mundo pergunte-se quais as raízes malignas que suplantam a sua alma. Trilhando por estas questões, aos outras se revelarão por si só. Quanto mais me conheço, melhor compreendo o mundo. Quanto mais sincero se é consigo mesmo, melhor se compreende e se julga a falsidade do mundo.

Viver é encontrar-se no mundo. Viver é constantemente decidir o que seremos, lembrando as palavras de Heidegger. Mas como encontrar-se no mundo se não nos encontramos conosco mesmo? Como decidir o que seremos se nós apenas nos preocupamos com o que fazemos e como que os outros nos vêem? Como melhorar nossas vidas se nós nos recusamos a abdicar dos vícios da alma (mentira, prepotência, hipocrisia, etc.)?

Em poucas palavras, o caminho do filósofo é o caminho da sinceridade consigo mesmo. Ser filósofo é colocar a verdade acima de todo e de qualquer interesse (seja ele político, social, ideológico). Pois “quando o homem julga estar no fim, esta apenas no começo; quando para, não sabe o que pensar” (Siracides, 18-07). Como é difícil fazer a verdade prevalecer em nossas vidas.

Pare, pense e conheça-se.

Tal atitude é desconfortável? Óbvio. Como a cura das doenças da carne e do sangue, as da alma também o são.

 

 


Notas sobre a caridade

 

Uma marca inconfundível da sociedade moderna é este constante legar de responsabilidades para o Estado ou para terceiros. Nos dias de hoje, quando fala-se em caridade, algumas pessoas procuram fazer as sua doações (contribuições) para instituições, afim de que este problema seja amenizado. É um gesto de “beleza inefável”, as inúmeras contribuições dos brasileiros de todos os cantos do país para socorrer os flagelados do sertão nordestino. mas até que ponto estas doações são de bom coração?

Frente a isso, é bom lembrar uma passagem em uma das obras de Charles Baudelaire, onde este retrata um rapaz junto com uma bela mulher, sentados em uma mesa de um Café de Paris. De repente, eis que se postam diante dos dois, do outro lado da vidraça um pequeno grupo de indigentes. A moça sem demora chama o garçom e pede para que ele enxote eles da frente desta pois sua presença a incomodava. O rapaz de subto deixa a mesa enfurecido e deixa a moça mas, não com ódio dela em si, mas de si mesmo. O que ele não suportou naquela situação é que quando a moça chamou o garçom e pediu para enxotar os indigentes, era a sua vontade que ele via no ato dela e, naquele momento este passou a sentir uma profunda repugnância. Não dela, mas de si mesmo.

Diante disso, os gestos de doação perdem seu caráter angelical pois, o sentimento que muitos de nós temos ao ver as mazelas deste mundo, não é de socorrê-las mas, se possível tirá-las de nossa vista. O que fere o coração de muitos não é saber da que existe pessoas que definham a minguam mas, ter a sua imagem próxima a seus olhos.

Tal fato é levantado por Olavo de Carvalho em um de seus ensaios (Fariseus e Hipócritas), onde este descreve uma lembrança de sua infância. Dizia ele que quando pequeno, havia em seu bairro um dono de armazém que, quando chegava um ou outro indigente em seu estabelecimento comercial, este tratava de expulsá-los a ponta pés e depois, quando via uma campanha de caridade, este tratava de ajudar o mais que rápido, sem tardar.

Nós além de legarmos ao Estado quase todas a nossas responsabilidades agora, também estamos a legar a nossa responsabilidade com o nosso próximo ao Estado e/ou a terceiros. Estamos a entregar a nossa alma ao Estado.

Mas como assim? Bem, o que mais nos humaniza é o contato direto uns com os outros, correto? Não há momento em que mais crescemos e nos tornamos melhores do que quando entramos em contato direto com o sofrimento humano, concorda comigo? Quem que após a uma visita a um enfermo ou a uma pessoa privada de recursos materiais não ficou a se sentir pequeno e passou a refletir sobre a sua existência mesquinha?

Não estou com estas palavras a justificar a existência da miséria mas sim, a apontar o quanto que nós estamos a nos tornar insensíveis frente aos flagelados que estão a nossa volta.

Quanto a este ponto vemos em meio ao progresso tecnológico, mais um forte retrocesso de nossos valores. Frente a isso, cabe ouvir as vozes do passado afim de refletirmos. Deste modo, vemos que durante toda a Idade Média, não se via bairros só de ricos e bairros só de pobres. Não havia segregação social. em um mesmo bairro conviviam um fidalgo e uma família de indigentes e, muitas vezes no mesmo edifício, como nos fala George Duby. O nobre podia até gozar de suas riquezas em detrimento da desgraça alheia mas, teria que ficar sendo atormentado por sua consciência dia e noite, sabendo que os regalos que a vida lhe provia eram negados a muitos.

Todavia, hoje nós pagamos para que não tenhamos perto de nós estas presenças desagradáveis. Procuramos viver em Bairros que fiquem afastados dos miseráveis, costumamos a nos portar como o rapaz que nos falava Baudelaire e, como o dono da mercearia da infância de Olavo. Está dando para perceber o quanto que nossa consciência moral está ficando rasa? Somos defensores dos pobres desde que, não precisemos vê-los na nossa frente. Vocês não acham esta postura deprimente?

Se isso não basta-se, mas tudo esta nossa postura ainda acaba por gerar um outro grande mal que é, o representante público degradado. Como assim? Bem, se nós não assumimos o nosso compromisso com o próximo, se nos recusamos a admitir que nós temos uma grande responsabilidade frente a sociedade, esta vai ser depositada em algum lugar, que é nas costas do poder público, certo?

Muito bem, agora digam-me, em defesa de quem que em todas as eleições os candidatos se arrogam lutar? Existe coisa mais cínica que um candidato que sai as ruas a beijar e abraçar pessoas desvalidas em troca de sua confiança?

O pior de tudo isso é que nós geramos estes Fariseus. A demagogia destes é fruto de nossa hipocrisia.

Quando nós negamos nossa responsabilidade frente a sociedade nós automaticamente livramos os outros destas, inclusive aqueles os quais nós depositamos nossa responsabilidade. A corrupção política não é a causa primeira dos males da sociedade mas a consequência da morte de nossa consciência moral. Esta é que é a causa primeira dos males que assolam o nosso país.

Não, então diga-me: se você em uma partida de futebol acabou por dar um carrinho em um dos adversários e, o “safado” do juiz não marcou a falta por que este é seu amigo e você molhou a sua mão para beneficiar o seu time. Qual é a causa primeira deste mal? Quem que primeiro negou sua responsabilidade frente o bom andamento do espetáculo?

O mesmo ocorre conosco frente aos poderes públicos. Nós depositamos tantas responsabilidades ao governo que, dentro em pouco, muitos pais irão depositar ao Estado a responsabilidade de educar e criar seus filhos.

Nós criamos a cobra para nos morder e, sem percebermos, ao depositarmos no Estado esta responsabilidade paternal pelos cidadãos, estamos a criar a maior das tiranias pois, se liberdade está ligada diretamente a idéia de responsabilidade e de elevação espiritual do ser humano, o que podemos dizer a respeito de nossa pessoa frente a uma situação como esta?

Esta é que é a grande luta que o ser humano tem de travar. E não é contra a corrupção política, contra as faltas dos outros, mas sim e antes de qualquer coisa lutar contra si mesmo do mesmo modo que sufis em sua jihad al akbar, que é a guerra santa. Mas entenda-se que a guerra santa que Mohamend se referia não é uma guerra entre homens mas sim, uma guerra contra as próprias paixões, vícios, fraquezas e limitações de nosso ego.

O grande campo de batalha contra todos os males que afligem a humanidade nada é que a nossa alma e, nos dias de hoje é o campo de batalha onde muitos se recusam , se negam a pelejar. Fala-se muito em combate a corrupção externa a nós mas, quando que nós paramos para nos julgar com a mesma rigidez que condenamos os outros?

Concluo dizendo que, não estou a dizer que você meu caro, é uma pessoa de consciência moral fraca e débil pois, cada um é senhor de sua consciência e de seus atos. A única pessoa que poderá dizer isso a você é você mesmo, e é isso que é o mais difícil, não é? Como é duro olhar-se para o espelho e saber que nós não somos tudo aquilo que acreditamos ser? A presença do indigente nos incomoda por isso. Porque sua imagem faz-nos ver a nossa imagem interior. Será que somos tão horríveis assim por dentro ao ponto de recusarmos a voltar nosso olhar para o espelho da alma?

A verdade é dura e é por isso que nos negamos a ela.

 

 


Sobre a tortura — carta enviada a um amigo em 28/07/2002

 

Há quem diga que o otimismo é uma atitude de filosofia barata. Mas há algo mais barato que o pessimismo? Olhem para o mundo. Quantos os que se queixam, quantos os que se angustiam, açulados pela imaginação doentia; quantos proclamam angústias (as famosas angústias físicas e metafísicas de tantos intelectuais)! Quantos procuram mágoas para explorá-las? Há coisa mais barata por este mundo?”
(Mário Ferreira dos Santos)

 

Caro amigo, após a última visita que fiz em sua casa e após aquela conversa que tivemos, pensei que seria fecundo a abertura de um debate e como dizem as crianças: quem deu a idéia que comece.

Primeiramente, gostaria de atontar que, há em todos os fenômenos, uma causa primeira a qual antecede a todo o desenrolar de um dado acontecimento. Tal causa é difícil de se precisar mas, não é impossível se seguirmos a ordem dos fatos através de várias fontes, compreendo um determinado a partir de dele mesmo e não a partir da nossa realidade pois deste modo, estaremos caindo em abstratismo.

Neste sentido, cabe lembrar que a década de 60 era período em que o mundo estava sob a tenção da guerra fria e, todos os partidos comunistas do mundo eram extensões do PC da URSS e, por sua vez, todas as ações dos comunistas em qualquer país do mundo eram orientadas diretamente de Moscou (1) .

Doravante, em 1961, a situação no Brasil estava se tornando insustentável. De um lado os comunistas começam a organizar a guerrilha no campo e do outro, Carlos Lacerda no Rio de Janeiro e Ademar de Barros em São Paulo estão a organizar um exercito para-militar (2). Bem meu caro, você sabe muito bem o que isso significava na década de 60? Esta era a receita para construir um Vietnã aqui no Brasil. Se estes dois grupos para-militares se confrontassem a URSS teria enviado armas para os guerrilheiros e os EUA iria enviar mais armas para as tropas de Lacerda e Ademar, do jeitinho que Che Guevara sonhava, “vários Vietnãs (3).

Ou então, no livro da professora Denise Rollemberg, encontramos as seguintes afirmações: “Após 1964, a esquerda tendeu, e tende ainda, a construir uma memória de sua luta, sobretudo, como resistência ao autoritarismo do novo regime...No entanto a interpretação da luta armada como essencialmente de resistência deixa a sombra aspectos centrais da experiência nos embates travados pelos movimentos sociais de esquerda no período anterior a 1964.” (4). Em português bem falado (que não é meu forte mas bem que eu me esforço), quer dizer que bem antes do golpe de 1964 a esquerda já pretendiam tomar o poder por vias violentas (5).

Em decorrência desta situação eis que vem o golpe militar e devido a contínua pressão dos guerrilheiros eis que surge o AI-5 e toda a situação hedionda de sequestro e tortura.

Agora meu amigo, responda-me: você se fosse um militar, o que faria: (a)faria vistas grossas sobre a existência de exércitos para-militares no país e deixaria que estoura-se uma guerra civil no mesmo? Ou então, após o golpe montaria um enquete para entrevistar as pessoas na rua para saber se eram ou não comunistas e se confirmada convidaria este para tomar um café para ver se conseguia alguma informação deste (6)? Como você preferiria ser lembrado: como o General ditador ou como o mocorongo que vil o Brasil entrar em uma guerra civil e não fez nada?

A esta altura você deve estar se perguntado: “como que o Dartagnan pode estar a defender a tortura?”. Em algum momento eu fiz alguma apologia a tortura ou a ditadura? Não, pois eu não estou a defendê-la mas sim, procurando entender uma conjuntura histórica e, como nos fala o filósofo Alain Finkielkraul: “O passado não é explorado por ele mesmo, mas colonizado pelo presente, que impõe direitos humanos em tudo o que se faz. É preciso saber o que se passou. (...) O passado é evocado de forma simplista e como argumento político. (7)” ou então fazendo uso das palavras do historiador mineiro José Carlos Reis: “...Cada presente seleciona um passado que deseja e lhe interessa conhecer. (8)

Agora meu caro, analise a forma como que este livro que o Sr. havia me mostrado e veja como que este “grupo de pessoas idôneas e sérias” como o Sr. mesmo nominou apresenta o passado e se você acha que estes não crer que estes não procuram enaltecer a esquerda, reflita então no que eu vou lhe dizer: se a repressão surgi em decorrência da continuidade das atividades dos guerrilheiros, por que, estes pseudo humanistas também não auferem acusações aos guerrilheiros que estão hoje presentes tanto no Senado como na Câmara dos Deputados da República (9)? Não se esqueça meu amigo que eles (os ex-guerrilheiros), não são simplesmente co-responsáveis pela tortura mas causa desta (10).

Por fim, você pode até dizer que eu esteja a defender os militares mas responda-me, quem que não os condena? Lembra-se do que nós conversamos sobre o conceito de Bode Expiatório de René Girard?

E se bem o conheço você irá também alegar que os militares mataram a produção cultural no Brasil. Antes de falar isso, de uma visitada a biblioteca da UNICENTRO e você verá inúmeros clássicos tanto da filosofia, da sociologia, da economia, de história e do pensamento político publicados neste período. Depois, quando você vier me visitar eu lhe mostrarei inúmero periódicos publicados na época (11). A censura fora explícita nos meios de comunicação de massa e, fora política e não cultural. Quer dizer, isso só acaba coma cultura se você pensar que cultura é apenas manifestos políticos (12).

E mesmo com todo este controle sobre os meios de massa, nós tínhamos novelistas como Janete Cler e Dias Gomes (dois comunistas de carteirinha) a escrever novelas como Pecado Capital e Irmãos Coragem. Eram inspecionadas pela censura sim, mas estava lá produzindo novelas com o dito fundo social, em plena ditadura, diga-se de passagem.

E sem mais delongas, finalizo por hora com as seguintes indagação: como que pessoas envolvidas até a goela neste acontecido podem se achar capazes de julgar os militares? Você não acha que estas pessoas não estão a confundir vingança (política e pessoal) com justiça? Você me perguntou o que eu achava da condenação capital do responsável pelo atentado a bomba de Oklahoma (não sei se é assim que se escreve). Eu agora lhe respondo mas primeiramente lhe pergunto: ele era torturador ou guerrilheiro (13)? Se formas seguir a sua sugestão nós não deveríamos julgar e condenar o deputado José Dirceu no lugar de um Munis Cruz?

O que você preferiria amigo: 20 anos de ditadura ou 20 anos de guerra civil? Viver hoje num Brasil semelhante a China (que poderia ser o fruto da guerra civil) ou no nosso Brasil corrompido?

Como que um grupo de pessoas que defendem regimes que já mataram mais de 100.000.000 de pessoas em menos de 70 anos podem achar-se moralmente superiores ao ponto de condenar um regime que matou 5.000 afim de evitar uma guerra civil que estava sendo impelida por partidários da primeira? (14) Como que aqueles que causam um mau podem condenar o mal?

Os familiares não sabem onde foram parar os seus entes queridos mas, sabiam muito bem e muitas vezes (creio eu) advertiam quanto ao que eles estavam fazendo. Por isso digo que se for para julgar e condenar os militares temos primeiro que tirar esta gente que esta impelida nesta empreitada por fins meramente políticos (15) e colocar no banco dos réus os ex-guerrilheiros para também serem julgados e condenados pois, foi a sua ação que levou a tortura muitos “inocentes”. Ou não?

Concluo dizendo que ser crítico não é apedrejar quem está no poder mas ser o mais sereno possível nas ponderações dos fatos para assim, chegar a veracidade destes. Ser crítico não é ser críca.

Aguardo a sua resposta meu amigo.

Com os melhores votos.

D.

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NOTAS:

(1) – Para averiguar tal fato meu amigo, não há a necessidade de consultar um livro desconhecido, basta assistir o documentário “O VELHO”, sobre o Sr. Luiz Carlos Prestes, onde constantemente se aponta para o recebimento ou não de autorização por parte de Moscou para se agir. Ou então, indico os livros do Sr. Tomas Skidmore — de Getulio à Castelo e de Castelo a Tancredo.
(2) – Ver: CARVALHO, Olavo de. Reparando dívidas pessoais — discurso proferido no clube militar. Disponível na Internet: www.olavodecarvalho.org.
(3) – Tanto é que, após o golpe de 1964, Carlos Lacerda e Ademar de Barros tiveram os seus direitos político casados. De mais a mais, Castelo Branco antes do Golpe de 64, em seus discurso nunca falou “devemos acabar com os guerrilheiros”, mas sim pronunciava tanto em seus discursos como em sua correspondência pessoa de forma temerosa quanto a presença de exércitos para-militares no território nacional. Quanto a este ponto basta ver o livro Governo Castelo Branco — tomo I, da biblioteca do exercito.
(4) – CARVALHO, Olavo de. Traição sem fim. O Globo, 05 de maio de 2001.
(5) – Ver: GORENDER, Jacob. Combate nas trevas.
(6) – Não se esqueça meu amigo que, todo o guerrilheiro era bem treinado para a possível situação de ser preso e tortura. De mais a mais como nos lembra o sábio Zun Tsu que em situações extremas se faz necessário medidas extremas.
(7) – REVISTA REPÚBLICA, n.° 56 — junho de 2001, p.69.
(8) – REIS, José Carlos. As identidades do Brasil — de Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro: FGV, 1999. p. 09.
(9) – Aliás, estes apresentam esta passagem de suas vidas como louros auríferos em seus currículos político.
(10) – E se você ainda aja que os membros do tortura nunca mais não fazem uso político desta página de nossa história, veja apenas afiliação partidária deles e relacione com a forma que estes descrevem “pobres vítimas” como Mariguela e Lamarca.
(11) – Aliás, não sei se você sabe mas a coleção OS PENSADORES, foi lançada em 1973, sobre a direção do professor José Américo Motta Pessanha.
(12) – De mais a mais, a universidade estava como está até hoje nas mãos de militantes de esquerda como a dona Marilena Chaui, Muniz Sodré, o já citado José Américo Motta Pessanha e cia.
(13) – O conceito de guerrilha é atribuído a qualquer atividade de conflito entre uma formação irregular de combates e um exercito regular. Por sua vez os objetivos destas são mais políticos que militares. Ver: BOBBIO, Norberto. Dicionário de política, A-J — tomo I. Brasília: UnB.
(14) – Você leu já algum artigo do frei Beto acusando o regime de Fidel Castro por crimes? Ou acusando as FARCs de violar os direitos humanos? Se tiver, me mostre para mandar-mos ao papa pois, aí terá surgido um novo São Pedro.
(15) – Não se esqueça meu amigo que os atos do presente se justificam com os feitos do passado. E que melhor forma de justificar-se no presente construindo heróis e mártires.

 

 


A hipocrisia petista

 

Fui ontem visitar meus pais e lá, em meio a conversa, eis que passa mais uma propaganda política. Só que esta era especial. Era a do PT. E nunca vi tanta demagogia e hipocrisia em um só lugar.

Não pretendo abordar todos as pautas levantadas em seu discursos populista, apenas a que está mais em volga. Falavam os petista que sempre alertavam o governo de que era necessário a construção de novas barragens, que o país corria sério risco de viver uma situação como a de hoje, bla bla bla.

Bem, se não me falha a memória, dos tempos em que eu tinha uma certa simpatia por este partido, que era justamente este que diz que alertava o governo da necessidade da construção de mais usinas que, anos atrás protestava contra a construção de novas barragens, alardeando para possíveis hecatombes ecológicas ou, que estas obras iriam inundar áreas férteis, etc.. E agora, os mesmo me vem dizer que eles a muito vinham alertando o governo do risco que o país corria! se há neste país um grupo de culpados, é a própria oposição que por fins de interesses políticos embargava muitas das obras e dos projetos do governo (falo isso pois só testemunha de algumas).

Omne quod non est es fide, peccatum est (tudo que não é de boa fé, é uma falta), e por um acaso há algo de mais falso do que ser co-autor de um incidente e além de atirar a culpa nas costas de apenas um dos envolvidos querer, tirar proveito político disso? Dio Santo, como podem pessoas desta índole vir pedir que as pessoas de bem que confiem nelas?

Lembrar pode ser resistir como também pode ser esquecer. Assim pensam os petistas: lembrar feitos que nunca fizeram para resistirmos no momento presente para que as pessoas esqueçam as faltas que cometeram.

E pensar que dia eu fui simpatizante disto. Porém, de minha parte recuso-me a esquecer esta minha falta pessoal para não voltar a cometer erro similar e é para isso meus amigos, que serve a lembrança.

 

 


A dama da noite

 

Recentemente, eis que resolvi assistir a um dos capítulos finais da novela das oito da Rede Globo de Televisão, onde, num enredo tão concreto como um conto de fadas, fiquei pasmo com uma fala de uma cena das personagens desta, uma prostituta, afirmando categoricamente ao outro (um típico cafajeste com ares de madrasta malvada), que mulheres como ela, enquanto sendo uma prostituta, desejavam apenas ser respeitadas como um outro profissional qualquer, como a um dentista, um médico, enfim, como um profissional digno de seu labor diário.

Na mesma hora veio-me a mente uma passagem de Walter Benjamim que dizia em seus escritos que, a prostituta era o símbolo da decadência da pessoa humana de nossa sociedade, pois ela encarnava ao mesmo tempo o mercador e a mercadoria. A que ponto de degradação chegou a existência humana.

Uma moça ou um rapaz, procura um ofício (quer dizer, deveria) que os realize enquanto um ser humano, que os dignifique e desenvolva ao máximo suas faculdades. Por sua vez a auto realização de uma pessoa se faz através de um longo caminho de labuta, de encontros e desencontros, onde este vai amadurecendo e revendo as suas tenras paixões, refletindo sobre estas afim de lapidar seu espírito, alcançando assim um nível mais elevado de consciência de si. Mas, tal transformação só pode se ser efetuada no interior de nossa alma, ou então, como nos falam os escolásticos, que quanto mais eu conheço, mais sou.

Todavia, uma atitude deste quilate, exige de nós paciência, dedicação e desprendimento da realização material em relação a sociedade. E isso é mais uma ausente entre nós, pois a opção da maioria dos jovens em relação a um ofício, está justamente no retorno financeiro que este pode lhe trazer para assim, se apresentar futuramente a sociedade como uma pessoa bem sucedida, que venceu na vida. Aí, é que vem-me a preocupação com aquela fala que citei de início, pois a prostituta não deve em hipótese alguma, ser respeitada como uma profissional, como nenhum ser humano, mais sim, como um ser humano que tem a sua existência degradada, por viver a margem da sociedade, à sombra de uma vil sociedade materialista (em sua acepção vulgar).

Uma profissão não é um fim a ser alcançado. Um fim em si mesmo deve ser objeto de contemplação, de amor, sem utilidade prática ou uma explicação, apenas um ponto elevado a ser alcançado. Por sua vez, os meios são as ferramentas que utilizamos para a concretização dos fins que almejamos, que por sua vez deve ser entendido em sua utilidade, em como este nos facilita a chegada ao cume elevado dos fins, que ao contrário do primeiro, estes não só podem mas devem ser entendidos, explicados.

Como dizia Miguel de Unamuno: “o bonde é útil porque me serve para levar-me à casa de minha amada; mas esta para que me serve?” Se ele dissesse que ela serve para conversar, para satisfazer suas fantasias sexuais, ele estaria a reduzindo a um mero instrumento, não estando mais presente o amor pela dama mas unicamente o interesse pelo prazer que esta pode lhe proporcionar.

Sendo assim, toda profissão é um meio de se chegar a algo elevado, que é o de se realizar enquanto ser criativo e pensante e tal estado denominamos felicidade. Assim sendo a prostituição (como o roubo, o enriquecimento a qualquer custo, o tráfico de drogas...) são ofícios sim, são meios, porém, de degradação. Como também, uma pessoa que coloca como um fim, um meio e este por sua vez é escolhido pelo seu mero status social, perdoe-me mas, este indivíduo está também em um rumo similar.

E aí, vejam só no que virou nosso mundo. O fim último da modernidade é um ofício rentoso, um meio. Me assombra, quando ouço meninas e meninos na mais tenra idade quando indagados por seus pais o que eles pretendem ser quando crescer respondem: médico, advogado, engenheiro, etc., e em um dia em sala de aula dirigi esta pergunta (dentro de uma dinâmica) aos alunos de uma turma que lecionei, com respostas similares as mencionadas acima até que um garoto disse que gostaria de ser carpinteiro.

A reação da turma vocês podem imaginar (um misto de descaso e cinismo por parte de crianças de aproximadamente 12 anos de idade), pois o ser carpinteiro é um ofício que não traz grande status frente ao olhar atento e malicioso da sociedade. Eis aí os meios travestidos de fins.

Mas a causa desta moléstia da civilização não está nestes pequenos, mas em nós. Durante muito tempo, a sociedade ocidental ofertava aos jovens modelos de conduta superior, pessoas que deram suas vidas por uma causa (um fim) superior a eles próprios. Estes mesmos modelos, eram expostos como o que havia de melhor entre nós. Estes eram os Santos e os heróis, e quanto a este ponto, a etimologia destas palavras é deveras interessante. Santo vem do latim beatus, que quer dizer feliz e herói vem do latim heroe, que quer dizer homem com atos divinizados. E hoje, o que nós ofertamos como modelos de conduta para esta geração?

Estes arquétipos têm uma profunda influência em nossas vidas pois nos apontam para modelos de conduta exemplares de pessoas que se realizaram ao almejarem fins maiores que nossa própria finita existência e hoje, torturamos nossos filhos desde a mais tenra idade com o fantasma do bom ofício.

Vou dar-lhes um exemplo do tamanho do poder que um arquétipo tem em nossa conduta durante nossas vidas. Houve uma vez um nadador norte-americano que fora várias vezes campeão Olímpico chamado Johnny Weismuller que, no início de sua carreira não conseguia nadar em linha reta, até que um dia, o seu treinador colocou o seu chapéu no fim desta e mandou o rapaz fechar os olhos e mentalizar a imagem do chapéu no fim desta e, de olhos fechados, pôs-se a nadar, em linha reta. Tamanho é poder de uma imagem, de um modelo em nossas mentes.

Nos dias atuais, nossos jovens tiram seus modelos de conduta da telinha, e estes por sua vez acabam como nos demais casos servindo de farol, como luz para guiá-lo até o fim de sua jornada e, todos estes, por sua vez, tem como pano de fundo, a realização da existência humana no mero ter bens materiais.

Não é atoa que o mundo cada vez mais tem pessoas sofrendo de depressão como também, não me assustará que daqui a algum tempo quando uma criança for interrogada por seus pais sobre que ofício deseja exercer em sua maturidade (o que ela quer ser quando crescer) ela responda a gaguejar de forma tímida, que queira ser prostituta, e os pais respondam aliviados: ufa!

Pensei que você queria ser professora!

Mas, também sonho com o dia, apesar deste sonho parecer cada vez mais distante, mas sonho, com o dia em que quando uma criança for interrogado sobre o que deseje ser quando crescer, esta responda: ser honesto; ser uma pessoa sensata; ser sábio; ser bom para com os outros ou, simplesmente, ser digno.

É, isso não passa de um sonho, aparentemente impossível diante do nosso contexto, mas, nunca podemos esquecer que, muitas vezes basta a chama de uma pequena vela, para quebrar com a escuridão e que, na maioria das vezes, a maior sombra é projetada por nós, por nossa falta de luz própria.

Não inverta meios e fins, não acenda uma vela para iluminar os caminhos da vida, seja uma.

 

 


ÁCTIO SEMEL EXSTINCTA NO REVIVÍSCIT

 

certas pessoas não abdicam do erro porque devem a ele a sua subsistência.
(Goethe)

Quem quer que considere com atenção, encontrará que a diversidade das coisas se completa gradativamente, ficando manifesto que a diversidade das coisas exige que elas não sejam todas iguais, mas que haja ordem e graus nas mesmas
(Tomás de Aquino)

 

A vida é uma grande oportunidade de aperfeiçoamento, já nos dizia Jackson de Figueiredo e nos dias de hoje, mais do que em qualquer outra época, a educação é vista como um processo de aperfeiçoamento do ser, da alma humana. Mas o que significa para uma pessoa estar sendo educada? Bem, em primeiro lugar educação vem do latim ex ducere, que quer dizer guiar para fora, libertar o ser humano da prisão de seu mundo subjetivo, de sua caverna pessoal (lembrando o “mito” da caverna de Platão) e, em segundo lugar, que ninguém ensina nada a ninguém pois a única pessoa que sabe a onde você quer ir e o que você quer em um determinado lugar é você e não o guia. A única coisa que este pode fazer é lhe mostrar o caminho para chegar a este lugar mas, o que ele significa, o que ele é, é algo que só o viajante pode descobrir.

Como assim? Se entendermos a educação como um processo de transformação do ser humano, este só tem início a partir do sujeito que está se transformando e não a partir do professor, ou da escola, ou da sociedade. É como a semente de uma árvore: o que vai torná-la um grande pinheiro araucária não é a floresta mas sim o pinheiro que existe em potencial no pinhão e, a gralha azul nada mais faria que proporcionar ao pinhão um melhor lugar, digo, um melhor caminho para desenvolver a sua potencialidade de tornar-se maior do que se é mas, não é a gralha que irá tornar o pinhão pequeno no imponente pinheiro mas, a gralha pode destruir o pinheiro que há no pinhão deixando apenas uma casca vazia. O mesmo é com o ser humano.

Assim como nos fala o filósofo Olavo de Carvalho que “Somente a consciência individual do agente dá testemunho dos atos sem testemunha, e não há ato mais desprovido de testemunha externa do que o ato de conhecer.” Por este motivo, não vejo com bons olhos a excessiva vigilância da autoridade de alguns educadores pelo simples fado de ser inútil, para não dizer patético.

Lá esta um típico adolescente. Não quer nada como a vida, mas lá está ele, em uma sala de aula, com um professor projetando com o uso de um quadro negro e de sua voz algumas informações sobre o conteúdo de um determinado assunto e, junto com o professor, um supervisor ou simplesmente um adulto a mais na sala para se responsabilizar pela disciplina. E lá estão os típicos adolescentes, com olhares direcionados ao professor a frente e, ao mesmo tempo, com medo do supervisor, da prova e, pensando onde ele vai a tarde brincar e assim por diante (todo mundo um dia foi aluno apenas esquece disso).

E aí, vão me dizer que isso é prestar atenção? Não, isso é puro ouro de tolo, mas como para muitos a aparência é tudo.

Pois bem, mas o que podemos entender por atenção? Atenção é o ato em que o espírito humano toma posse de um objeto por um determinado período de tempo e, desta forma a compenetrar-se neste. Jamais alguém vai saber o que se está passando na cabeça de uma outra pessoa se ela não lhe expuser com boa vontade e, fingir que se está aprendendo é uma das grandes especialidades dos alunos. Eles respondem as avaliações, ficam até pendurados, mas tiram dita nota, mas tudo isso em nada os tornou melhor do que eram. Continuam pequenos, menores que sua existência, apáticos a tudo que tenha uma expressão superior, ou seja, o ex ducere falou.

As crianças realizam suas atividades em um colégio em função da nota e da aprovação apenas e não pelo conhecimento superior que ela possa construir porque em nenhum momento quebrou-se a dormência de sua alma para nascer e frutificar a árvore da grandeza humana, pois a única coisa que elas vêem diante de si são idéias isoladas em um quadro negro ou em um jogo, que tem como único propósito a obtenção de uma nota, e nada mais.

Mas então como quebrar esta dormência? É mero acaso. As grandes mudanças que ocorrem em nossas vidas ocorrem por um acontecimento casual e, a rotina de uma escola tende a prejudicar do que a beneficiar este acaso, este momento de transformação em que nos encontramos com este algo maior que completará nossa miudeza existencial e, a melhor forma de nos depararmos com este momento de despertar é na diversidade dos momentos de nossa vida e não em uma vida presa a esta soturna rotina.

Mas como fazer isso? Primeiro, que uma aula não deveria jamais se resumir a uma exposição de um assunto para depois ser avaliado pelo simples motivo de que são dois processos bem distintos o de apreender uma informação e o de explicá-la (que é o caso da avaliação). Quantas vezes vocês já não se depararam com esta situação de ter compreendido algo, mas não conseguir explicar este algo? Mesmo Santo Agostinho, dizia se você não me perguntar o que é o tempo eu sei, agora se você me perguntar o que é o tempo, eu já não sei.

Deste modo, a maior crueldade da avaliação (além de sua existência) é que ela é marcada no mesmo tempo para todos, sendo que o ritmo de aprendizagem das pessoas são distintos e, de mais a mais, aqueles papeis não refletem o que estas crianças podem vir a ser, refletem apenas a burocracia de nossa sociedade. Podemos dizer que a aprendizagem é como ver um filme e a avaliação é aquele irmão pé no saco que chega na metade deste perguntando sobre o mesmo. Pessoalmente, isso em mim desperta um instinto assassino.

Mas, agora pense na avaliação. O máximo de benefício que esta pode proporcionar a uma criança é não prejudicá-la. Quanto aos malefícios, estes são vários. Primeiro, simplesmente o medo a ansiedade que a maioria das crianças tem nestes dias. Ao invés desta despertar sua alma a algo maior, enche-a apenas com um pavor, com um medo profundo de errar, ou estou a mentir? Já fui educador e cansei de ver rostinhos com medo de errar, descredulos de si, de seu potencial. Isso sem falar dos cínicos que com um ar de superioridade desdenham o professor, superioridade a qual está só na aparência, como todo o resto.

A única função visível de uma avaliação é a de uma norma burocrática e nada mais. Um papel para obter um número (nota) que vai para outro papel (boletim) que vai para outro papel (histórico) que, por sua vez não falam nada da pessoa a qual se refere mas, que pode ser a causa da danação de uma vida. Alias, burocracia não faz bem a ninguém.

Doravante, não cabe colocarmos toda a culpa da delinqüência de muitos adolescentes de hoje nos educadores pois, estes passam apenas quatro horas com estes por dia, vinte horas por semana. Por sua vez, a família, ainda mais nos dias de hoje, passa poucas horas com estes. Ah! A televisão! As crianças passam a maior parte do tempo com esta babá eletrônica. Mas será só isto?

Cabe lembrar um pequeno detalhe. Não é tão só o baixo nível da programação dos canais que pervertem as crianças mas, primeiramente, a falta de postura, de respeito e de sinceridade de nós adultos frente ao mundo. O exemplo que damos para as crianças é que as torna cínicas e arrogantes! Por isso friso, não estou a falar apenas de professores mas de todos nós, principalmente de nós.

Doravante, este não é o ponto mais crítico. O que esta a tornar a o processo educacional um caos é justamente o estatuto do criança e do adolescente. Por que? Em nossa sociedade toda e qualquer infração regulamentada deve ser corrigida por uma sanção, certo. Com as crianças, não mais. A impressão que dá é de que os adultos são uma horda de demônios prestes a mutilar estes pequenos e, quanto a isso, lembro-me de uma conversa que tive com um policial, onde este confidenciou para mim que em um dia, ele e um colega seu, prenderam um garoto que estava tentando roubar um colégio na cidade de Guarapuava. Então eles o levaram para o Conselho tutelar. Chegando lá, ao invés da conselheira primeiramente perguntar aos policiais o que o garoto havia feito de errado, ela foi ver se o garoto tinha algum hematoma! Agora me respondam, quem naquele momento ficou na posição de autoridade?

Errou quem falou a conselheira, e errou que falou que era a criança. A autoridade era ali o Estado e não a lei. Espera aí, pela lógica, quem deveria ter maior autoridade sobre uma criança são os pais e estes por sua vez deveria Ter o direito de escolher como educar os seus filhos. Agora não, se um pai achar conveniente dar uma palmadas ou deixar de castigo o seu filho por ele ter faltado com o respeito as regras mais elementares do convívio humano, eles podem ser denunciados a burocracia Estatal pelos vizinhos ou pelos próprios filhos, por maus tratos , isso sem o mínimo de provas. Vocês percebem o quanto que isso é perverso. Através deste estatuto não se esta garantindo a integridade da personalidade da criança mas sim, pervertendo-a e , ao mesmo tempo controlando a vida privada das pessoas.

Leis não existem para proteger um grupo A de um grupo B, mas para garantir o mínimo de harmonia em uma sociedade. Doravante, também é ensinado constantemente as crianças via escola e via mídia que elas devem reivindicar os seus direitos junto ao Estado, ou seja mais leis que protejam o grupo A do grupo B. E o que isso significa? Quanto mais leis e direitos, mais burocracia; quanto maior a burocracia, maior o poder do Estado sobre nossas vidas; quanto maior o poder do Estado, menor a nossa liberdade.

Dio Madona! O que nós estamos fazendo com estes jovens? Estamos simplesmente corrompendo suas almas ao invés de guiá-los para fora (ex ducere). Transformamos a lei em uma garantia pessoal e não em uma norma que garanta a integridade da sociedade, pois as leis nada mais são que modelos ideais do que a sociedade deve ser e não um sucedâneo de “direitos” que acabam por jogar pais contra filhos, negros contra brancos, etc., mas sim, garantir a ordem do corpo social. Por exemplo: os hebreus tinham as suas leis que garantiam a ordem em sua comunidade, certo? Quantas instituições existiam para garantir a ordem? Quantos direitos haviam nas leis hebraicas? Haviam regras a serem cumpridas por todos. Todavia nós ensinamos as nossas crianças que existe uma constituição e esta lhe garante direitos inclusive o direito de reivindicar mais direitos e, como já havia dito acima, quando mais direitos, maior a burocracia e consequentemente maior o controle do Estado sobre nós e menor a harmonia entre as pessoas pois, as leis espelham nossa responsabilidade.

Não precisamos de mais instituições que nos protejam uns dos outros, simplesmente porque não somos inimigos uns dos outros, precisamos sim de regras a serem seguidas por todos nós. Precisamos ensinar as nossas crianças a procurar o unidade em sociedade, devemos ensiná-las que podemos tornar a vida maior que a nossa existência, pois deste modo, estamos apenas a ensiná-las a conviver com as coisas miúdas e mundanas da existência humana.

Sendo assim, como nos fala a sentença latina que nomeia este ensaio: “se a ação for extinta, ela não pode mais ser revivida” e, se a função da educação, em princípio era de guiar as crianças para fora de sua pequena existência presa as emoções momentâneas e mundanas para a grandiosidade da sapiência, muito me assusta os dias que estão por vir.

 

 


Para que te serve?

 

Para que serve a filosofia? Uma pergunta totalmente errônea a qual intelectuais de renome como a Sra. Marilena Chaui procuram dar uma resposta. Filosofia não serve para nada visto que ela não é um saber prático mas sim teorético. A filosofia é o caminho de amor a sabedoria, da verdade e deste modo, não pode ser nivelada ao mesmo patamar que um conhecimento prático visto que suas naturezas são totalmente distintas.

Até hoje, sempre acreditei que a filosofia tinha como maior legado, proporcionar a capacidade de tornar o ser humano melhor, de tornar-nos maior que nós mesmos e nossos pesares mas, cheguei a conclusão que ela, tem dois fins mais “interessantes”, mas quais? O que fazer-nos melhor rir da vida e de nós mesmos. Quanto mais me elevo na escada de Jacó, com melhor clareza vejo o palco do espetáculo da vida e melhor entendo o meu papel e deste modo, mais motivos tenho para rir e, dependendo do meu estado de espírito, para chorar.

O ser humano realmente é uma piada e, não sei como que os Deuses nos levavam a sério. Fazemos graça de tudo sem nunca nos dar-mos conta de que o idiota no centro da roda somos nós e que, não paramos de falar abobrinhas a respeito de nós mesmos e se isso não bastasse, abobrinhamos a respeito de tudo e achamos que tudo isso deve ser digno de louvor.

 

 


Visita ao seu José — Domingo, 10 de fevereiro de 2002

 

Certa vez, em um curso de especialização que participei, disse a um professor marxista de corpo e alma (quer dizer, de carne e banha, visto que estes não acreditam na transcendência do ser humano) que este papo de revolução não passa de um lorota de mal gosto pois, o que o oprimido mais anseia é se tornar o opressor e também disse, lembrando as palavras de F. Engels que quando se entregar o poder na mão dos mesmos, se teria a maior de todas as tiranias.

Bem, como é típico destes doutrinadores vulgares, a única coisa que ele conseguiu fazer foi me insultar. Até me chamou de fascista, justamente eu, um anarquista construtivo. Mas tudo bem, ele não pediu para que eu provasse o que eu disse, mas bastava que ele olhasse os exemplos que tivemos em nossa história e ele veria o resultado das revoluções. Quer dizer, ele sabe o resultado dos grandes ideais revolucionários, apenas lhe faltou sinceridade intelectual para aceitar tão dura verdade.

Também havia dito a ele que se alguém deseja transformar a sociedade, este deve primeiro transformar a si mesmo pois a mudança do mundo dependa da vontade de milhões de pessoas e não apenas da sua. Aí o homem babou de raiva. Pensei que ele ia me pular no pescoço. Sorte minha que não, visto que o cara era bem grande.

Só que hoje, quando em uma visita as terras de meu sogro, vi uma cena que vale a pena relatar e que cai como uma luva, como resposta a aquele louco enfurecido que quase me engoliu e me regurgitou de raiva.

Próximo as terras do meu sogro havia um rapaz com a sua família (7 pessoas), que moram em uma tapera de aproximadamente 15 m2 e que recebem R$ 30,00 por mês do proprietário para cuidar e cultivar as terras do dono. E detalhe, este rapaz não pode arrancar nem um pé de mandioca que ele plantou para o proprietário destes 5 alqueires de terra.

Este humilde rapaz convidou-me para sentar numa baqueta ao lado de sua moradia para conversarmos. Ofertou-me uma cuia de chimarrão e um copo de suco. Conversamos (sobre o conteúdo de nossa conversa, irei comentar em um outro artigo em uma outra oportunidade) e ao fim ele entrou em sua casa pegou a Bíblia que ele tinha em sua casa (que era emprestada) par que eu lê-se um trecho para ele. Após ter lido um trecho do Evangelho de São Lucas (20;20-25) e um Salmo (100), fomos embora.

Mas o que isso tem haver com o início deste texto? Ora, este proprietário de terras não é um grande latifundiário não. Era um pé rapado até alguns anos atrás que vivia de favor dos familiares para ter o que comer e muitas vezes para ter onde morar. Era um oprimido e hoje, que tem uma vida abastada (dono de um pequeno restaurante, de uma sala comercial e de uma pousada de aproximadamente 18 quartos), ao invés de se solidarizar com aqueles que estão em uma situação em que ele um dia esteve e realizar o mesmo gesto que um dia outras pessoas lhe fizeram, não, fica mergulhado em sua avareza a pagar apenas R$ 30,00 reais para uma família para cuidar de seu grande latifúndio de 5 alqueires.

E mais, este ex-oprimido não obteve estes seus bens trabalhando mas sim de sua sogra, tendo apenas que em troca destes cuidar da velhinha. E o que ele faz? Trata a velha como se fosse a sua escrava. Isso mesmo. Ela cozinha e lava toda a louça do restaurante, faz pão e não recebe um tostão sequer pelos seus serviços. Isso sem falar que ela é ridicularizada pela sua fé (ela é católica e a sua filha e seu genro evangélicos).

Por isso repito aos quatro ventos o que certa vez disse para este professor enraivecido: gritos de comoção entorno de ideologias que prometem o paraíso celeste no mundo dos cézares não passa de canção para boi dormir entoadas por uma sinfonia do inferno, e nada mais que isso.

Lutar para querer corrigir os erros do mundo de nada adianta se não corrigir se nós não fazemos o menor esforço para observarmos e corrigirmos os nossos. Como está no evangelho: Somos muito bons para enxergar o cisco nos olhos dos outros mas somos incapazes de ver a trave nos nossos olhos.

Todo revolucionário é muito bom para ver os erros do mundo mas quanto aos seus... não, eles não tem faltas, visto que eles pensam ser os Santos dos últimos dias que libertaram a humanidade, do mesmo modo que Lúcifer pensa ser a luz.

 

 


Conversa com o Sr. José
(continuação)

 

Em minha última carta havia eu falado que em uma outra ocasião falaria a respeito de minha conversa com o Sr. José, o Sr. da tapera que eu havia visitado.

Pois bem, este homem humilde convidou-me para se achegar em sua moradia afirmando que a casa é simples e que não tem tramela na porta ou em outras palavras, que eu sempre seria bem vindo.

Doravante ele começou a falar-me de seus planos. Dizia ele que ele pretende colocar seu filho para estudar este ano, que ele pretende voltas a estudar e que vai. falando-me que se Deus quiser ele vai fazer uma rocinha para ele em um outro terreno que um Sr. lhe havia emprestado, também, estava a aguardar ansioso que seu pai receba um terreno que será passado no nome do mesmo, para ele sair das terras onde ele fica a cuidar por R$ 30,00 por mês, para se mudar em algo seja seu. Enfim, apesar de toda a angustia que é sua vida, é um homem que é pura esperança.

Durante todo o tempo em que estivemos junto com ele, o Sr. José em nenhum momento queixou-se da vida, em nenhum momento amaldiçoou o mundo pela sua situação, apenas acreditava que sua vida poderia vir a melhorar, ou melhor, que ele fará sua vida melhorar.

Confesso que fiquei imerso em vergonha depois de ter saído daquele local e, por duas razões. A Primeira é simples e obvia, eu levo uma vida relativamente abastada e ainda arranjo tempo para me queixar, para reclamar da vida e, naquele instante em que esta face a face com aquele Sr. frente a sua realidade, eu me senti uma titica de galinha.

A segunda razão e esta mais complexa e a qual, é uma característica de toda intelectualidade de modo geral. Quando eu era acadêmico, principalmente nos primeiros anos do curso, eu era um defensor confesso dos ideais de esquerda, do povo. Vivíamos eu e meu comparsas a beber nos botecos e a discutir todos os problemas da miséria do mundo e a resolvê-los em nossa mente entorpecida. Mas o detalhe: nós nunca trocamos um final de semana de uma boa farra para ir em uma favela, para visitar uma família na periferia. Nunca gastamos nosso dinheiro que era destinado a torpeza da alma para ajudar uma pessoa sequer.

E agora eu fico a pensar, nós éramos ditos defensores de pessoas as quais preferíamos manter uma certa distância. Vivíamos com o coração partido mas nunca realizamos uma ação realmente concreta frente a isso mas sempre estávamos dispostos a armar um protesto contra as forças governamentais através do movimento estudantil, que aliás não passa de uma grande piada de mal gosto dizerem que enfiando um aluno em algo como isso que eu presenciei é preparar alguém para o exercício da cidadania (1).

E pior, os nossos digníssimos mestres viam isso com bons olhos e aliás, estes não fugiam a regra. No fundo nós nada mais éramos que o reflexo da impotência e da hipocrisia deles. Eu, que fui acadêmico de História, recebi um forte bombardeio do pensamento esquerdista e tive como professores figuras ímpares as quais não desgastarei suas vistas para lerem tais pontos.

Todavia, encerro estas linhas dizendo o seguinte: o pouco tempo que convivi com intelectuais que se dizem defensores dos excluídos foi o suficiente para que eu pudesse perceber uma verdade clara e evidente: estes ditos não passam de incompetentes que se fazem uso da miséria alheia e através desta, se ufanam em um apelo populista para legitimarem os seus cargos e bem como a sua existência. Os defensores do povo que o mais próximo que chegam destes é quando um ambulante vem lhes oferecer uma latinha de cerveja na beira de alguma praia onde eles descansam o seu intelecto aturdido de tanto trabalharem durante o ano (quanto a este ponto, em uma outra ocasião conversamos).

Enfim, me envergonho de certos momentos de minha vida, principalmente quando converso com uma pessoa como o Sr. José a qual é pura esperança e que eu, em meu tempo de militante e pseudo-intelectual, dizia-me seu defensor apesar de achar ridículo aquilo que há de mais nobre nos humildes, que é sua capacidade de resistir e de acreditar que dias melhores estão a lhes aguardar. Chamava-o de alienado visto que eu e meus pares éramos os cegos.

Estas pessoas são maiores que a vida, maiores que a dor e a desventura dela enquanto eu, era menor que meu orgulho. Por isso digo, não usemos a miséria alheia desculpa para preguiça e para insinceridade intelectual que habita em nós.

Esta mania das Cátedras de mentirem para si mesmas é que me fez descrer de sua legitimidade. Aliás, se a sinceridade é ponto chave para que aja inteligência como pode um grande grupo de mentirosos vaidosos que mente uns para os outros ser chamado de Inteligência nacional?

Não é atoa que o corpo da nação está enfermo visto que sua alma padece.

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NOTA
(1) – Irei confessar minha experiência com o movimento estudantil em um artigo exclusivo aliás, em outros artigos visto que é muita palhaçada para uma carta só.

 

 


Sombra e luz em ômega

 

... a volúpia corrompe o julgamento,
perturba a razão,
turva os olhos do espírito.

(Caio Túlio Cícero)

 

Lembro-me até hoje da morte de minha avó. Eu deveria ter no máximo uns cinco anos de idade. Lembro que na noite em que ela havia falecido ou um ou dois dias antes, eu havia pernoitado no hospital onde ela estava a passar as seus últimos instantes neste mundo. Estava eu a andar por aqueles corredores turvos, com quartos e leitos vazios até que chequei a uma porta onde a vi. Ela estava imóvel, rodeada de aparelhos e junto de um homem e uma mulher de branco. Mais que depressa, a moça de branco que estava no encalço do leito de minha avó retirou-me de junto dela, levando-me a um quarto vazio para dormir, visto que já era tarde da noite.

Lembro-me também da visão de seu corpo sendo velado com todos os familiares e amigos a sua volta a lamentar a sua morte e eu, fiquei naquele instante sem nada entender pois ninguém ousava me explicar o que estava acontecendo. Algum tempo depois vim a compreender o que havia ocorrido e aprendido a grande verdade: nossa estadia nesta pousada é breve.

O ser humano sempre terá que se colocar diante da morte, visto que este é nosso destino. O que variará sempre, é nossa postura diante dela. Não importa quem você seja, um dia você terá que estar diante de seu juízo ao qual, por mais que muitos o queiram, não há escapatória. E mais, nós somos os únicos animais que somos cientes de nossa finitude, nós somos os únicos seres que sabemos que vamos morrer. A experiência tempo para nós não é simplesmente algo imediato como o é para os animais de modo geral. O tempo para nós é tribio, fazendo uso do conceito proustiano de tempo de Gilberto Freire.

Mas o que seria este tempo tribio? Nossa consciência não age simplesmente em relação ao tempo imediato, ao instante vivido, nossa consciência age simultaneamente em relação a lembranças (passado), em função de promessas (futuro), tudo isso, em um momento só. Nossa alma, se assim posso me referir, é tridimensional. Sempre queremos saber de onde viemos e sem nos deixar de nos preocupar para onde vamos. Somente nós, seres humanos, agimos assim.

Doravante, uma das inúmeras ilusões que se divulga ao relento é de que todos nós somos iguais perante esta Dama, a morte. Nós não somos de modo algum iguais perante a morte mas sim e apenas o seu julgo é o mesmo para todos nós.

Primeiramente, a morte não é um ato consumado. Nós, não chegamos no dia em que morremos mas sim, no dia em que terminamos de morrer. A partir do momento em que nascemos, nós não começamos simplesmente a viver mas sim, começamos a morrer visto que viver nada mais é que um lento definhar da existência como nos lembra Martin Heidegger. A vida não é um fim em si mas um veículo para algo e, sendo assim, a forma como vivemos é, a forma como morremos e deste modo, muitos morrem de uma maneira agradável, com relação aos regalos materiais e outros, não morrem por teimosia, esta teimosia que nos torna superior a todo e qualquer golpe que estas duas moças (a vida e a morte) costumam nos aplicar.

Mas é a morte um castigo? Não tenho eu a competência para responder a esta pergunta e creio também que ninguém a tenha. Mesmo o grande Sócrates em sua condenação afirmou aos seus algozes que ele não temia a sua condenação visto que ninguém sabe com absoluta certeza o que há após ela e desta maneira ninguém pode afirmar que a condenação a morte seja uma punição ou uma libertação. Do mesmo modo, os julgamentos efetuados pelo Santo Ofício, não condenavam simplesmente o herege a fogueira mas sim, acreditavam piamente que estavam aliviando a sua alma das penas que este teria que pagar após a morte, que o martírio de sua carne aliviaria o fardo de sua alma. E aí, o que me dizem?

Pois bem, doravante a morte em si, não é um mero fenômeno biológico, mas também um fenômeno de dimensões metafísicas recoberto de aspectos psico-históricos e antropológicos e aliás, são estes aspectos e sua dimensão metafísica que a tornam algo curioso, para não dizer fascinante.

Como assim? Vejamos dois exemplos então do que as pessoas consideram uma morte boa. Para um homem do século XIII, uma boa morte era uma morte demorada, lenta e dolorosa pois este acreditava que assim ele teria tempo de arrepender-se de seus pecados. Do mesmo modo, para um Rarekrsna, uma boa morte é uma morte lenta pois assim, crêem eles, que estarão podendo lentamente ir tomando consciência de Krsna.

E para nós do mundo moderno, isso é um exemplo de morte desejável? Creio que não. É comum ouvirmos as pessoas dizerem que elas gostariam de morrer dormindo ou de uma forma fulminante, sem sofrer, sem senti-la. Para um homem do século XIII, isto era a sua maior preocupação. Já pensou, morrer sem ter tempo de ter a extrema unção? Morrer sem ter consciência do que está acontecendo? Isto seria um horror! Não para o homem moderno que na verdade treme de medo de ter que acabar por definhar em uma cama. Como mudamos nossa postura diante da morte, como modificamos os papeis de uma mesma peça de teatro, o homem diante da morte?

É, mas o homem moderno neste sentido, é uma criatura muito frágil, débil para dizer a verdade. O que nos diferencia das demais criaturas é justamente esta consciência de nossa existência, deste meditar sobre o post mortem, e nós, fazemos isso ou nos negamos?

Chegamos a ser cômicos diante da distinta Dama aliás, em nosso lento definhar que é a nossa vida, nos portamos muitas das vezes de uma maneira patética. O exemplo mais interessante é esta febre de procurar uma eterna juventude. Mocidade não apenas na aparência mas nas atitudes e nos valores.

Agem e vivem com um medo funesto de envelhecer. Tem calafrios em ser tratado como uma pessoa idosa. Mas porque este medo?

A velhice sempre foi um símbolo de sabedoria, visto que, segundo Platão, a idade da razão seria os quarenta. Alguns antes, outros depois e muitos nunca mas, somente o tempo vivido e as vivências apreendidas através deste tempo percorrido é que podem nos trazem a maturidade. Há pessoas que vivem cem anos e não aprendem nada com seus passos. Cometem os mesmo erros e sempre se lamentam da mesma maneira. Ou não?

Mas o que nos leva a esta situação é justamente este nosso medo (seja ele consciente ou inconsciente) que nos impede de aproveitarmos a melhor de todas as idades, a velhice.

Nossa sociedade e bem como nós, vivemos muitas vezes como as filhas de Pélias, que sob a instigação de Medéia, despedaçaram o seu pai e colocaram o seu corpo despedaçado para ferver em um caldeirão, acreditando poder assim rejuvenescê-lo.

Despedaçamos a nossa alma na ânsia de perpetuar os regalos, ou melhor, os vícios da juventude da carne. Agimos muitas vezes como rogava Epicuro, acreditando que os prazeres que a vida nos proporciona sejam os fins maiores de nossa existência.

Morremos lentamente nesta comédia, que vivemos como se fosse uma tragédia épica, nos esquivando da razão, a olhar para o horizonte da vida como um palhaço, que esta diante da platéia que se faz rir de seu sorriso amarelo e de seu olhar trêmulo.

Saber viver é saber envelhecer. O resto nada mais é que as labaredas a queimar o circo da vida para fazer o palhaço rir de si. Um riso de desespero.

 

 


Reserva do Iguaçu, quinta-feira 07 de fevereiro de 2001.

 

É gozado como que nós somos não. Estava eu a ver mais um pronunciamento do Sr. José Serra, ministro da saúde, falando todo entusiasmado sobre a sua campanha anti-tabaco. Eu, em minha simplória posição de ouvinte de seu pronunciamento, gostaria apenas de saber se ele fosse um fabricante de cigarros, se ele acharia interessante colocar aquelas imagens em sua própria mercadoria? Ora, quem é o Estado para ditar o que você deve fazer com a sua saúde? É verdade que muitos fumantes são inconvenientes e falo isso de carteirinha visto que, eu já fui um mas este tipo de problema pode muito bem ser resolvido através de um diálogo racional entre as pessoas sem haver a necessidade de uma intervenção estatal desta arbitrariedade.

E mais. Agora está proibido a circulação de propaganda de cigarros nos meios de comunicação. Eu só gostaria de saber quem irá patrocinar os inúmeros eventos culturais e desportivos que eram patrocinados pela indústria do tabaco? O Estado ou o Sr. José Serra?

Será que fechar o cerco contra os fumantes irá resolver os problemas da saúde pública? É, provavelmente pintando o sete com as carteiras de cigarro, quem sabe a imagem da saúde não fique melhor.

Todo cidadão é livre e o Sr. Ministro da Saúde parece que esqueceu deste direito fundamental do ser humano. Alguns podem alegar que as propagandas de cigarros são enganosas mas qual não é? Talvez, no seu discernimento o exercício que cada cidadão faz de sua liberdade individual de ir e vir e de ser soberano sobre si seja mais maléfico que a ação despótica do Estado a regulamentar a vida privada das pessoas.

 

 


A Letra Morta

 

Os Grandes eventos não são nossas horas mais ruidosas,
mas nossos instantes mais silenciosos.

(F. Nietzsche)

 

Uma das coisas mais depreciadas em nossos dias é a compreensão do sentido das palavras e bem como do sentido que um determinado conjunto de palavras tem. Ao invés de uma pessoa desejar compreender o sentido que o autor destas quis transmitir através delas, ao invés de meditar as idéias que estas evocam, o indivíduo prefere auferir através de uma leitura superficial e apenas através de sua ótica o que um texto pode vir a significar. Ao invés de extrair-lhe o significado, o sujeito simplesmente lhe diz o que ele acha que este deve significar. Em outras palavras, achou tudo e não entendeu nada.

E isso não só percebemos no ato da leitura de determinados textos mas também do outro lado, dos que estão a escrever. O uso impróprio das palavras é um fenômeno aparentemente inocente mas, apenas aparentemente visto que, a nossa forma de pensar é moldada e pode ser mensurada de acordo com a forma de nossa linguagem, como nos ensina Ernst Cassirer.

Todavia, quando nos referimos a forma de linguagem não estamos a remeter simplesmente ao número de vocábulos que uma pessoa conhece mas sim, ao grau de compreensão da significação que este indivíduo tem das palavras que usa para explanar as suas idéias. Muitas pessoas fazem uso de um vocábulo extremamente rico mas não sabem ao certo o que estão dizendo visto que suas idéias acabam ficando obscurecidas pelas palavras que eles usam sem compreender o seu sentido visto que, as palavras não são meramente um amontoado de letras mortas. Uma palavra é um ente vivo que tanto pode nos re-ligar a verdade como pode mortalmente nos guiar a uma ilusão. Pode tanto nos libertar, como nos lembra São João Apóstolo, como podemos nos iludir e nos deixar escravizar pelos nossos impulsos mais baixos.

Por exemplo, certa vez, estava eu em uma livraria na cidade de Guarapuava quando no correr de uma conversa com um velho mestre onde dialogávamos sobre alguns dos absurdos humanos eis que este me aponta um livro que estava na estante com o seguinte título: Raciocínio Lógico. Más, o que há de errado em um título como este? Tudo. Este Senhor lembrava-me que a palavra raciocínio vem do latim RATIO, que é equivalente a razão e a palavra lógico, por sua vez vem do grego LOGOS, que também pode ser traduzido como razão. Em outras palavras o título aparentemente eloqüente do livro poderia muito bem ser Razão razão ou Raciocínio racional.

Um outro exemplo e este mais grave, é o uso indiscriminado de conceitos juntamente com a agregação de significados N sobre este, como o conceito de democracia que de acordo a literatura voltada para área pedagógica e política, passou a ter alguns entes supostamente superiores, que seria o que estes chamam de democracia popular, participativa, direta, etc.. Ora, mas já não seria a democracia o governo do povo?

E mais, o sentido de uma palavra não é meramente um significado que um indivíduo dá a esta. Uma palavra sempre carrega em sue âmago a idéia de um objeto e ao mesmo tempo o sentimento, um desejo, um anseio, uma advertência do indivíduo que a pronuncia. Por exemplo: uma criança pede um pirulito. A palavra pirulito ao mesmo tempo remete a um dado objetivo (o doce) e a um estado subjetivo (o desejo da criança de alimentar as suas cáries).

Deste modo o que nós conseguimos evocar com a palavra sinceridade nos nossos dias? Será que esta palavra realmente expressa um estado subjetivo de algumas pessoas e será, que ela corresponde a um dado objetivo, que no caso seria uma relação sincera entre um grupo de pessoas. Será que é possível se falar de sinceridade dentro de uma escola? De um modo geral, é possível se falar em confiança em nossa sociedade?

Aí meus queridos, as coisas começam a descambar, a sociedade a entrar em um tornado confuso onde os valores se desmancham como se estes focem uma singela escultura de areia e as pessoas não sabem o porque de toda a loucura de nossos dias. O homem moderno perdeu totalmente sua ligação com a civilização.

A cultura de um povo não só é o reflexo de suas almas mas sim e ao mesmo tempo, o fruto e o alimento da mesma. Para que um bom fruto se desenvolva faz-se necessário um solo apropriado e, no que tange os frutos da cultura, o solo fértil nada mais seria que o legado que as gerações que nos antecederam nos confiaram. Nós só conseguimos compreender as razões do homem contemporâneo quando conhecemos o berço do qual este foi amamentado.

Mas, ao invés de balizarmos nosso ser em nosso legado, ao invés de firmarmos nossos pés no conhecimento do que nos foi legado, como um bando de loucos preferimos plantar bananeiras e firmar nossos pés nas nuvens do imediatismo do tempo presente. Edificamos a mansão de nossa alma não mais na rocha mas sim na lama, preferimos balizar o nosso Ser em promessas insólitas em nome do fulgor do imediato, do progresso sem sentido, no vazio da incerteza do Caos.

Tudo o que foi dito até aqui pode parecer um “abobrá” só. Pois bem, então vejamos um exemplo extremo do que o culto ao progresso pode nos trazer, o que a ânsia pela inovação, pelo inusitado pode nos presentear e como, simples palavras nos alertam sobre nossos atos.

Às 5:30 da manhã de 16 de julho de 1945, em uma área deserta conhecida como Jornada del Muerto o céu e a terra cobriram-se com uma bola de fogo e luz que rapidamente ia rasgando o raiar daquela manhã. Há aproximadamente umas 10.000 léguas um grupo de cientistas observava em um misto de fascínio e terror aquela bola de luz que parecia querer engolir a atmosfera e o mundo. Era a primeira bomba nuclear bem sucedida.

Naquele momento, devido a forma que aqueles homens viam a sociedade humana (em um progresso sem fim), estes nos presentearam do mesmo modo que a serpente presenteou a Eva com o fruto proibido dizendo-lhe: “E sereis como Deuses.” Um ato executado apenas em função do momento condenou-nos a guerra Fria e, a sabe lá a que horrores que podem ainda surgir. Não que esta forma de energia seja má, não mesmo. Nós é que não somos maduros o suficiente para desfrutar dela. Somos ainda como crianças que após mascar um chiclete, ao invés de jogá-lo no lixo preferimos grudá-lo na parte inferior da carteira ou, no cabelo de um colega que não gostamos.

Pois bem, mas naquele mesmo instante, um deles, Robert Oppenheimer, o principal coordenador do experimento, começou a recitar a meia-voz alguns versos que havia aprendido quando estudava sânscrito: Se o clarão de mil sóis/Explodisse no céu/Talvez fosse como/O esplendor do todo poderoso. (...)Eu me torno a morte/ A destruidora de Mundos. Era um trecho do Bhagavad Gita. Estes versos Sacros nada mais que revelaram para ele, o perigo do que ele criou ou melhor, estes sempre o advertiram mas ele não soube ouvi-los a tempo.

No mesmo instante que Oppenheimer viu a sua criação temeu-a e arrependeu-se de seu ato. Após o primeiro ato de seu concerto ele percebeu que ele condenou a humanidade a arcar com as conseqüências de seus atos inconseqüentes. E, mais tarde quando esta máquina da morte foi utilizada nas duas cidades japonesas, este homem repetia para si mesmo: “minhas mãos estão sujas de sangue”. Ele sabia que não havia sido ele o mandante destas tragédias mas sabia, que havia sido ele o pai da criatura nefanda.

As palavras que evocam as vozes do passado, seja ele distante, seja ele próximo, sempre nos advertem quanto aos nossos atos. Sejam elas vindas da Bíblia, do Alcorão, ou de uma obra Dante, Platão ou Machado de Assis. As vozes contidas nas palavras quando bem ouvidas nos revelam o universo em sua grandeza mas nós, ao contrário, preferimos escravizá-las, agrilhoá-las a nossa volúpia. Agimos como adolescentes: cremos ser os senhores do mundo sem conhecê-lo.

Silêncio! Ousamos os ecos da grandeza da alma humana para que a grandeza da mediocridade de nossas almas não nos condene.

 

 


Agenda mínima

 

No verdadeiro homem medíocre, a cabeça é um simples adorno.
(José Ingenieros)

 

Conta-nos as Sagradas Escrituras no Livro do Gênesis (28; 12-13): “E sonhou: e eis uma escada, cuja a base está na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E eis que o Senhor estava no alto e disse: — Eu sou o Senhor.” Eis aí o sonho de Jacó, sonho o qual simboliza a jornada humana em sua busca pela verdade, em sua jornada em busca da senda da sabedoria.

A elevação de nosso olhar se dá pela elevação que a vontade de nossas pernas podem vir a nos propiciar que por sua vez é nos dado pela nosso anseio de querer ver a luz ao longe e de elevar o nosso ser pelos degraus desta sinuosa escadaria. Quando procuramos elevar o nosso olhar, quando procuramos ver as coisas de um prisma superior as nossas fraquezas e desejos menores nós, por um pequeno instante que seja, temos em nossas mãos a oportunidade de mudar as nossas vidas e até quem sabem contagiar alguns que estão a nossa volta com esta benesse.

Tal postura se faz necessária sempre em nossas vidas mas mais do que nunca no momento em que estamos a nos aproximar. No caso seria o pleito eleitoral de 2002 que acabará por decidir os rumos que nossa nação irá tomar nos próximos anos. Podemos tentar subir a escadaria da sabedoria para melhor compreender esta situação para só depois tomar uma decisão ou, permanecer no degrau em que nos encontramos e até quem sabe descer alguns.

Se preferirmos ficar nos degraus inferiores da escadaria a única coisa que poderemos ver diante de nós, serão os traseiros dos candidatos a Presidência da República, com suas causas arriadas e a balançar sua protuberância dizendo nhê nhê nhê nhê. Como toda decisão leviana esta é uma postura fácil de se tomar. Essa coisa de ficar a torcer pelo seu timinho quando ele entra em campo, a gritar feito um histérico na arquibancada sem se perguntar o que ele e a sua comunidade estão ganhado com isso. Aliás, já que fizemos esta breve analogia entre política e futebol, o brasileiro de modo geral porta-se de maneira muito semelhante em ambas as situações. A seriedade em ambas as situações somem e a única coisa que fica é a euforia gratuita que, no final das contas sai mais cara que a vergonha.

Mas lá está a multidão nas ruas a ficar pedindo por Romário para jogar na crença de que um homem é capaz de desatolar um time e do mesmo modo, durante o pleito eleitoral acabamos por nos portar de forma similar. Não descarto que um líder com qualidades superiores não seja basilar para o bom andamento de nosso país mas, não vai ser a escolha de A ou B que irá determinar de forma decisiva os rumos de nossa nação, não mesmo. Como disse, não que a escolha de um bom timoneiro para comandar a caravela brasilis não seja algo relevante para o destino pátria mátria mas que este não é o fator decisivo para que nosso país passe a caminhar a passos largos, definitivamente não o é.

Primeiro passo, creio eu, antes de examinarmos as propostas dos candidatos faz-se necessário que primeiramente façamos um exame de nossa consciência (que coisa chata). Um indivíduo de consciência viciada poderá apenas tomar decisões viciadas e o maior vício em uma escolha como esta é a impaciência e o desejo de ganhar, quer dizer, de ver o seu candidato ganhar. Aliás, sinceramente, você já parou para ponderar os prós e os contras de seu possível candidato? Nunca podemos nos esquecer dos quinze minutos de bobeira em nossas vidas.

Bem, desta modo, sempre o político é tido como o único ser corrompido por usar de artifícios como a compra de votos mas nunca o cidadão é tachado como um corrupto por ter aceitado esta forma de propina. Aliás, este se justifica das mais inúmeras maneiras sobre o porque de sua atitude. Tudo bem, então reformulemos a pergunta: uma pessoa não se sente corrompida por ter vendido o seu voto mas, como então esta pessoa se sente por ter vendido o seu destino e o de seus filhos por uma fraqueza do momento? Como que uma pessoa se sente por ter vendido a sua alma, visto que o destino é a trilha da alma? Deste modo, examinemos a nossa consciência, vejamos se realmente não temos nenhum pecado visto que, somos ótimos atiradores de pedras. A partir do momento em que começarmos a tomar este tipo de postura diante não só da vida pública, com toda a certeza, os rumos de nossa sociedade irão enveredar por outras águas.

Deste modo, problema não está na mediocridade pública que todos nós vemos e que, em um gesto patético, ficamos a espernear de indignação querendo purificar o congresso nacional e bem como passar uma soda em todo o Palácio do Planalto. O problema maior não está no que todo mundo vê mas sim, naquilo que passa desapercebido diante de nossos olhos e que nós não vemos ou que, nos negamos a ver. A raiz da mediocridade pública está justamente na mediocridade íntima, em nossa mediocridade, que em nossa sanha de escondê-la de todos acabamos por enganarmos a nós mesmos.

Certa vez, ainda na época do pânico de apagão, um garotinho havia dito se ele fosse o Presidente ele resolveria o problema bem rápido. No seu entender bastava construir um monte de usinas, que ele contrataria milhões de operários e em menos de um mês não haveria o risco da falta de energia. Já outro, havia dito que para que tudo começasse a dar certo era necessário trancar o Lalau na cadeia. Como é simples acabar com a falta de energia no país e bem como com a corrupção, não? Detalhe importante, é que este segundo garoto dias atrás havia se vangloriado para alguns de seus colegas de afanar fichas nas máquinas de fliperama.

Estes dois inocentes (não tanto) nada mais são do que espelhos de nossa postura enquanto cidadãos. Vemos os problemas complexos que assolam o nosso país com um olhar tão simplório que faz uma criança com um Lego parecer um Estadista. Sabemos que a administração das finanças domésticas são extremamente complicadas e mesmo assim olhamos para a administração pública como se esta fosse simples como brincar de casinha. De longe vemos o cisco nos olhos de quem está em público mas somos incapaz de mover a trave que está em nossos olhos, como nos lembra o Evangelho.

Por isso e por fim, que o Filósofo francês Eric Weil, nos dizia que sempre devemos nos colocar no lugar de um estadista antes de condená-lo aliás, alguém faz isso? Não estou dizendo para você imaginar-se meramente como administrador público em sua administração utópica do país de Alice mas sim, imaginar-se no lugar dele, com os mesmos problemas que ele esteja tendo de enfrentar.

Parece até uma ironia do destino mas o destino de todo estadista é o mesmo que a de um técnico de futebol: ser odiado por uma multidão que, por não encontrar uma razão para explicar a tragédia de sua paixão, de sua vida, justifica-a odiando alguém que está afrente de algo que eles não compreendem e que aliás, se consideram especialista no assunto.

Deixemos o falso especialismo de lado ver toda a conjuntura em que nos encontramos e nos ver nela e aí, nós veremos que nós não somos o que achamos ser, que nós não somos melhores do que aquelas pessoas que tanto condenamos.

Feliz páscoa!

 

 


A insustentável leveza da má vontade

 

...A convivência com os homens perverte o caráter,
especialmente os que não tem caráter.

(F. Nietzsche)

 

Adolf Hitler em sua obra Mein Kampf diz-nos que, é mais fácil enganar o povo com grandes mentiras do que, com pequenas. É certo que este senhor de bigodinho de gradear... foi um crápula mas que, temos de concordar: neste trecho de sua obra (p. 153), ele disse uma grande e infeliz verdade. Do mesmo modo que um outro crápula que tinha a mania de ficar com a mão dentro da casaca, o Sr. Napoleão Bonaparte, havia dito que é muito mais fácil dominar os homens pelos seus vícios do que pelas suas virtudes.

Assim sendo, se voltarmos nossos olhos para as grandes promessas feitas ao léu veremos que estas nunca moveram montanhas, com toda certeza. Mas, por sua vez e não de forma insignificante, estas acabaram por deslocar multidões imensas a bestialização coletiva e nada mais. Doravante, o começo destes tipos de agravantes sempre foi desencadeado pelo véu púrpura que encobre a nossa retina, o véu da inveja.

Do mesmo modo que nos lembra o filósofo Artur Schopenhauer, a raiz de muitos de nossos problemas é devido a nossa facilidade de confundirmos as virtudes com os vícios, as qualidades humanas com as falhas e vice-versa. Quando uma pessoa é econômica, achamos que ela é avarenta, mão-de-vaca; quando ela é rígida, dizemos que é injusta e autoritária ou, se ela é séria é metida a besta. Ou então, se ela é sincera ela é estúpida, grossa; se esta for auto-confiante ela é arrogante, esnobe e assim por diante.

Pois bem, partindo deste princípio, as multidões só fazem isso e nada mais que isso. Confundem tudo visto que, elas não param para ponderar o que está ocorrendo, apenas vão na onda, como dizem a molecada. Certa vez uma Doutora em História amiga minha, havia me confessado após algumas garrafas de vinho que na época das diretas ela pulou a janela para ir nas manifestações.

Ela não sabia ao certo o que era, dizia ela, mas parecia legal. Do mesmo modo que um outro Sr. que dizia-me outrora que quando ele era estudante ele, saia pelas ruas a protestar, a gritar as palavras de ordem, sem saber o que significava tudo aquilo. Ele dizia que estava lá apenas pela festa. Eu também, participei de manifestos e pior, eu achava que sabia o que estava fazendo. Acabei por me decepcionar comigo mesmo por não ver o erro em tempo.

Na maioria das vezes, as pessoas não desejam justiça mas sim e apenas a doçura do mel homérico da vingança, o que o oprimido mais deseja, no fundo de seu ser é apenas ocupar o lugar do opressor e por esta razão que, é mais fácil iludir o povo com mentiras colossais do que com as diminutas, controlá-los pelos através de seus piores desejos do que através de suas mais elevadas qualidades. As multidões sempre são irracionais.

E, antes que qualquer devoto de uma ideologia coletivista ou mesmo qualquer homo politicus sintam-se feridos em suas partes, sensíveis, visto que eles necessitam um rebanho de sonâmbulos que pensam estar acordados para se sustentarem em suas posições, voltemos nossos olhos para a história e vejamos alguns exemplos que mais do que comprovam o que eu estou tentando dizer.

A Revolução Francesa, por exemplo, com a brilhante idéia que os jacobinos tiveram, criaram a famigerada Ditadura do Terror onde foram mortos aproximadamente 40.000 pessoas em pouco menos de um ano, onde mais da metade destas pessoas foram executadas na guilhotina (criada nestes dias para estes fins, os espetáculos de “justiça revolucionária”), em praça pública, para o deleite do povo. Não havia coisa que os sans-culotte mais adorassem do que ver, a cabeça de um nobre ser decepada e depois exposta pelo carrasco.

Os jacobinos sabiam que a inveja era maior que qualquer sentimento de justiça e através deste malicioso ardil conseguiram controlar o povo que, por algum tempo se esqueceu de suas promessas visto que, a ânsia maior da plebe francesa não era serem justiçados mas sim, apenas ver os vagabundos do palácio de Versalhes perderem suas cabeças e ficarem numa pior visto que o mel homérico da vingança é mais saboroso que a fria lâmina da espada da justiça. Não havia a necessidade de conquistarem uma vida melhor, bastava apenas que o que estava bem se ferra-se, ou vão me dizer que este sentimento escroto não permeia até hoje nossa sociedade?

O ser humano tem esta pitada de maldade intrínseca em sua alma, é incrível! Esta maldade que nos deixa cego para o mundo e para a sua complexidade. A preguiça é suave e com facilidade guia uma alma ao ódio desmedido e sem razão aparente visto que a ira trás um conforto muito mais rápido para os fracos do que as pedras do caminho da verdade.

Um bom exemplo deste nosso aspecto doloso ouvi em uma conversa com uma pessoa que tenho profundo respeito, em uma conversa informal onde ela disse-me em poucas palavras o seguinte: se você chegar e resolver ir de casa em casa para convidar a comunidade para fazer um mutirão para arrumar algo, como por exemplo o gramado do clube dos trinta (Clube de uma comunidade de Reserva do Iguaçu), ou coisa deste gênero, você não conseguirá ninguém mas, se você ao invés disso passar de casa em casa falando: — vejam só que vergonha esta situação do gramado do clube dos trinta, esta administração não serve para nada e blá blá blá, aí meu amigo, você pode ter certeza que você vai ser ouvido e será bem visto até. Será considerado alguém preocupado com o patrimônio público e poderá ser o novo presidente do clube e aí, aquele que o fora na gestão anterior passará a ser o novo homem preocupado com o bem estar dos associados.

Ai meu São João do pau oco, não sei onde reside o maior cinismo, se é na população que acredita nas ilusões por mero oportunismo ou nos oportunistas de ocasiões que sabem como manipular os ânimos dos medíocres. Já perceberam que neste país todo mundo pensa que é Santo? É um país de coitadinhos e de líderes injustiçados, mal compreendidos. Um país de mascaras de gesso onde o cinismo vasa pelas rachaduras de sua fantasia existencial. Não, então responda-me, quantas vezes você é sincera com as pessoas durante o dia? Quantas vezes você é sincera consigo mesma?

No fundo não passamos de queixosos cínicos. Cínicos ao ponto de acharmos os programas de auditório um lixo e seus apresentadores uns patetas mas, somos incapazes de desligar o televisor para fazer algo que julguemos ser mais elevado, visto que não sabemos o que poderia ser mais elevado. Aí, preferimos nos deleitar no sofá e falar mal do nosso mal gosto, visto que a televisão nada mais é que um espelho de Narciso pois, no fundo, não é que nós achemos os programas um lixo, é que nós adoraríamos estar no lugar dos sujeitos que lá estão.

Mas a inveja nunca se apresenta nua e crua frente a sociedade, não. A inveja é como um fungo e necessita de lugares úmidos e escuros para poder sobreviver. É como uma micose que nos come pelos garrões e como tal, ela é contagiosa e todos nós, corremos o risco de sermos infectados por ela e, para curá-la basta que tenhamos vontade de expurgá-la visto que seu diagnóstico é fácil e seu tratamento mais ainda. Basta que sejamos capazes de olharmos para nós mesmos uma vez ou outra.

Fácil não? O problema é que tem gente que acha gostosa aquela coceirinha que dá entre os dedos. Aquele que acredita em suas pequenas mentiras, acredita com facilidade nas grandes visto que não sabem mais diferenciar o verdadeiro do falso. Pensa que não há ninguém neste mundo que possa enganá-los, a não ser eles mesmos.

 

 


Quem morre por último?
— sexta-feira, 16 de fevereiro de 2002.

 

Hoje em visita a livraria a qual represento comercialmente, me reencontrei com uma ex-professora minha e de forma rápida conversamos e logo ficamos detidos nas leituras que nos interessavam. Logo, um conhecido meu entrou na livraria e cumprimentou-me com os seguintes dizeres: “E aí, meu amigo marxista, tudo bem?” e foi diretamente para prateleira de livros da área de educação. Cocei a cabeça e murmurei algo que me inquieta já a muito tempo: por que todo mundo insiste em me taxar de marxista?! Será que as pessoas não percebem a diferença que há entre um marxista e um Anarquista construtivo?

E pior. A impressão que dá é que nas relações que existem entre os militantes marxistas não há uma relação entre indivíduos mas sim um conluio entre consciências perturbadas que já perderam de vista a diferença entre uma personalidade e uma ideologia. Um ótimo exemplo disso é uma passagem que uma amiga minha viveu em um destes encontros do movimento estudantil onde todos não paravam de apurrinhá-la perguntado-lhe: “ei, qual é a tua tendência?” E ela mais que sarcasticamente respondia: GAY.

A preocupação destes elementos era única e exclusivamente com a manutenção de sua cobiça pelo poder do movimento e a manutenção de seu estatus quo. Eles não queriam saber quem ela era, de onde ela veio, por que ela escolheu o curso que estava fazendo, como é o lugar onde ela mora, por que ela estava no movimeto estudantil. É, creio que esta seria a pergunta mortal para os militantes do movimento estudantil pois, das Três uma: ou teriam vergonha de responder tamanha a canalhice que os impelia a estarem participando tão ativamente da militância estudantil (um fundo de verbas para o partido ao qual é filiado — PC do B, PT e cia.) ou, não saberia responder visto que nem sabe ao certo o que ele está fazendo ali e o por que do encontro mas que, está a curtir um monte. Ou, responderia na maior cara de pau que ele milita no movimento estudantil com tanto afinco por puro idealismo, visto que ele anseia edificar em nosso país a dita ditadura do proletariado e aquele bla bla bla que todos estão cansados de ouvir.

Quem diria, os estudantes que acusam os poderosos de não serem sinceros para com os mais humildes não são sinceros entre eles próprios que são membros de uma mesma confraria. E pior, eles que rogam que a população deve tomar consciência da situação não tem consciência de si mesmos e de sua situação ensaio de inteligência artificial.

Como é engraçada esta geração. Sempre tive por inteligência saber diferenciar o verdadeiro do falso e hoje, ser inteligente nada mais é que saber como fazer uma bandeira do PSTU em um bandeiraço gritando palavras de ordem sem parar e sem saber o por que sem, perder a Malhação com aqueles pedaços de mal caminho visto que, para eles transar e se masturbar loucamente regado a drogas nada mais é, que uma forma de emancipação social e que, o restante da humanidade deve ficar grata a eles por estes estarem colaborando por um mundo melhor.

Perguntem a estes revolucionários com a camiseta suja de danoninho quantas vezes eles estiveram em um bairro de periferia perguntem, quantas amizades eles cultivam com um pé rapado?

Ainda bem que a esperança é a última que morre.

 

 


O Homem Medíocre

 

O equilíbrio entre dois pratos com pesos não pode ser comparado com a quietude de uma balança vazia. O homem sem personalidade não é um modelo, mas uma Sombra.
(José Ingenieros)

 

Hegel, um dos grandes filósofos Alemães do século XIX, quando já em sua idade avançada em seu leito de morte, rodeado por alguns de sues discípulos mais queridos, vê um deles colocar sua mão em seu ombro e lhe disse: “não se preocupe mestre, nós daremos continuidade a sua obra”. No mesmo instante Hegel, olhou nos olhos do rapaz e disse: “enfim um discípulo que me entendeu”, e voltando sua cabeça para o lado continuou: “e me entendeu mal”.

Mas o que levou este distinto discípulo de tão representativo filósofo ter compreendido mal a obra e a vida de seu mestre? Simplesmente o mesmo que nos faz muitas vezes não compreender obviedades que estão diante de nós: a mediocridade, e quem nunca foi medíocre, que atire a primeira garrafa.

Bem, o primeiro sintoma do ser medíocre é acreditar que se esta acima de todas as coisas e que tem o poder de julgar a tudo, menos o próprio rabo. São aqueles elementos que mal compreendem as suas próprias vidas e suas funções em um determinado local e mesmo assim se acham capazes, digo, competentes o bastante para dar pitacos na vida e no ofício alheio.

Esta espécie de homem medíocre pode ser muito bem averiguada na figura de supervisores escolares que vivem a cobrar dos professores de sua instituição que leiam mais, todavia estes não praticam tal ato e quando o fazem pouco entendem o que acabaram de ler. Nunca esqueço uma passagem que um amigo meu me contou de um supervisor (não escolar), ao ver de seus subordinados ter escorregado foi querer ensinar-lhe a caminhar. Dizia este para o rapaz distraído: quando você for caminhar você deve sempre dar paços firmes, assim..., e o distinto homem, em sua medíocre elegância levou um pealo que foi bonito de ver.

O medíocre também e sempre tudo sabe, apesar de nada ou pouco conhecer do assunto a que se está referindo. E mais, ele não só não sabe nada sobre o assunto, como não quer saber mais e não quer abdicar de seu sacro santo direito de opinar sobre o assunto. O engraçado e aliás, adoraria que um dia uma destas singelas criaturas me explicasse como que elas conseguem formular uma opinião sobre um assunto que elas desconhecem?

Mas, como fala o pessoal das organizações TABAJARA: e não é só isso! O medíocre não se contenta em ser medíocre. Ele quer que todos sejam como ele, um medíocre. Eles não suportam a presença de ninguém ou de algo que seja superior a sua pessoa. Quando se defrontam com algo que não entendem, eles não se sentem desafiados a forçar o seu intelecto para compreender o que está diante de seu nariz, não. Eles se sentem sim insultados! Onde já se vil um indivíduo fazer uma coisa desta! Isto é um absurdo! Bem foi uma situação semelhante a esta que o grande Maestro Heitor Villa Lobos teve de enfrentar quando pela primeira vez executou uma de suas peças. Do mesmo modo que Franz Kafka, que só teve suas obras literárias reconhecidas após a sua morte!

Se estes homens fossem tomar como medida a mediocridade dos que estavam a sua volta eles jamais teriam deixado o legado que nos deixaram e que alias, ainda hoje existem medíocres aos borbotões que chamariam as composições do primeiro um lixo e as obras do segundo uma m. (sem ter lido uma sequer, é claro).

Mas a mediocridade humana não para por aí não. Este tipo ainda se vê como uma criatura imprensidível! Este elemento seria capaz de chegar para um poeta da envergadura do Bruno Tolentino e dizer: eu não entendi nada do que você escreveu. E o poeta poderia responder-lhe: tudo bem, mas eu tenho quem aprecie minha obra. E o medíocre com toda certeza responderia: não de minha parte...,com ares de como se ele fosse o ser mais importante da face da Terra e que, se o Grande poeta, no caso do Sr. Tolentino, quisesse que seus versos fossem lidos e elogiados pelo seu “crítico”, ele teria acabar com sua obra.

São como criaturas da noite que não suportam a luz e que procuram fazer de tudo para se esconder dela quando não, para destruí-la. Todo homem medíocre costuma se encher de pompa, costuma sempre demonstrar um certo ar de superioridade perante os outros, se enche com tons variados de arrogância para no fundo, ocultar o imenso vazio que há no seu íntimo, em sua cavidade craniana.

E mais, os medíocres sempre procuram passar um certo ar de seriedade, patética diga-se por sinal e que a qual, sustenta com um repertório de palavras que ele nem mesmo compreende a que estas remetem. E estes sempre em suas considerações sobre os problemas do mundo, chegam a conclusão que a causa de todos os males são sempre terceiros, de preferência entidades mas nunca, um sujeito. Para eles o sistema corrompe as pessoa ou que sociedade é uma m.. Todavia, o sistema não nos corrompe, ele apenas revela a nossa verdadeira personalidade, ele simplesmente tira as nossas máscaras perante todos; segundo, tanto a sociedade como o sistema são uma m. sim, mas pelo simples fato de que ambos são compostos por pessoas que são incapazes de enxergar as suas falhas e corrigi-las. O medíocre sempre esquece ou faz questão de não se lembrar que ele faz parte da sociedade e que é um dos braços do sistema. Pequeno, mas é.

Mas o sério problema é que a mediocridade do mesmo modo que a bem aventurança contagiam. O problema é que há em maior quantidade neste angu chamado humanidade mais medíocres do que qualquer outra coisa e o pior é que acham que está tudo ruim, que tudo deve mudar menos o seu umbigo!

Estes também fazem questão de esquecer que a grandeza do espírito exige a cumplicidade de seu coração.

O Reino dos medíocres é o Reino da desconfiança. Um medíocre jamais confia em outro, muito menos em um que não o seja. O medíocre não tem amigos, tem apenas aliados, companheiros, camaradas, colegas mas jamais um amigo.

Ele pode até vir a chamá-lo de amigo mas como bom medíocre que é, não confia nele de modo algum, pelo simples fato de que ele crê que todos sejam como ele mas ao mesmo tempo, se denominam diferentes dos demais.

Sempre quando se pergunta a um indivíduo deste naipe quais são os responsáveis pelos problemas da nação, por exemplo, este sempre responderá que ou é do povo, ou dos políticos, ou de ambos. Mas e ele é o que? Um Travesti existencial?

Bem, é isso que é um ser medíocre, um travesti existencial, que não sabe os certo o que é e que não faz a menor questão de se definir. Adora ser o que não é mas não tem coragem de assumir ou de negar quem realmente é chegando ao ponto de nem ele reconhecer mais diferenciar as suas máscaras de sua face, mergulhando em uma profunda confusão que ele passa a chamar de serenidade.

Isso é um homem medíocre.

 

 


Mais a final de Contas: O que é uma Universidade?

 

O conhecimento só nos salva se nos engajar tudo o que somos, apenas quando é algo que trabalha, transforma e fere nossa natureza, como o arado fere o solo — o conhecimento metafísico é sagrado. E as coisas sagradas têm o direito de exigir do homem tudo o que ele é.” — (Schuon Frithjof)

 

Não há na face da terra algo que tenha mudado tanto a sua forma e continuado com a mesma identidade do que as UNIVERSIDADES. Com o passar dos séculos, estas instituições sofreram verdadeiras metamorfoses que a transformaram da água para vinho e do vinho para a cachaça ou vodka. Atribui-se inúmeras funções e prerrogativas para as Universidades sem ao menos se perguntar o que era uma Universidade quando estas surgiram. Podemos dizer que a Universidade dos dias de hoje é como um homem que era monge e que, em um determinado momento de sua vida resolveu abandonar a vida monástica para casar-se e ter filhos e que, mais tarde, resolveu soltar a franga tornando-se um travesti, fazendo ponto na rua Padre Chagas de Guarapuava. Todavia, este homem mesmo após ter se casado, tido filhos e após isso, ter abandonado o matrimônio e se tornado um travesti, continua a declarar que é um monge Dominicano.

O mesmo ocorre com as Universidades, onde podemos ver quase que de forma clara, três fases muito semelhantes a metáfora descrita acima. No nosso entender, a função basilar de uma Universidade seria e de preparar e formar uma elite intelectual, todavia e, sem a menor compreensão da formação histórica desta instituição, o debate fica dividido em dois pólos midiáticos e imediatistas. De um lado estão os que crêem os que defendem as Universidades privadas e a preparação de profissionais para o mercado de trabalho; do outro, estão aqueles que defendem que todas as Universidades devem ser públicas e devem formar militantes políticos, intelectuais orgânicos gramscinianos.

Afirmamos que a discussão está fora de foco pois, ela só se vê polarizada quanto as suas dimensões pública e privada que por sua vez, é uma discussão vaga pois ambas tem estrutura o suficiente para realizar a atividade basilar de uma Universidade que é a formação de um elite pensante. O que não se discute é justamente a profundidade da problemática que seria nos perguntar se o estado em que estão as Universidades são o de Universidades. Para que possamos compreender a situação do sistema educacional de nosso país, procuraremos tentar apontar alguns tópicos que julgamos serem indispensáveis para compreender o que são, o que eram e como estão as Universidades.

Para Antônio Gramsci, o intelectual deve ser a priori um militante do partido e, deve priorisar as demandas deste. O intelectual deve procurar construir estratégias para tomar o poder dos atuais donos do poder e nada mais. Nesta perspectiva, a cultura fica reduzida a estratagemas políticos e cacoetes de campanha. Reduz-se a dimensão ontológica da cultura a vil dimensão maniqueista da política. Em outras, na desculpa de se moralizar a política, os intelectuais orgânicos politizam a moral (as campanhas de ética), como também a religião (a teologia da libertação), as relações entre marido e mulher e as relações entre negros e brancos (os movimentos do politicamente correto), etc. Deste modo, estes elementos não apenas fazem uma inversão de valores como também uma profunda perversão destes. Poderíamos citar como exemplo desta postura pervertida, os NEXO MURIAS da UNE (União Nacional dos Estudantes), onde todo o corpo estudantil envolvido nesta agremiação, gritam em um só tom de voz, que são contra o neoliberalismo, que querem FORA FHC, etc. todavia, nunca leram um von Mises ou algum clássico do liberalismo como Adam Smith, ou Alex de Tocqueville como jamais pararam para ponderar e analisar a atual conjuntura política brasileira frente o cenário mundial. A única coisa que estes pseudo acadêmicos fazem é gritar pelas ruas palavras de ordem feitas pelos membros do PC do B (como “fora FHC e o FMI, ou “Fernando um, Fernando dois, qual é a merda que vem depois?!”) entoando ao alto bandeiras e faixas, como também, cantarolando canções como esta: “Eu só quero é ser feliz, pegar Fernando Henrique e tirar sangue do nariz/ E poder me orgulhar, pegar Paulo Renato e dar porrada até matar!”. Sem falar que nos congressos da UNE, especialmente nas eleições, o que se vê não é grupo de estudantes a disputar a direção do órgão estudantil mas sim e apenas, militantes de partido políticos de esquerda de olho na massa de manobra e nos cofres da mesma (exemplo é o financiamento da campanha do Gomide com o dinheiro das carteirinhas e, os famosos estudantes de profissão que nada mais são que militantes que são pagos para estudar em uma Universidade para poder controlar os CA’s — Centros Acadêmicos — e os DCE’s) . Sem saber ao certo em que ele está a se envolver, o cordeiro revoltado sai pelas ruas a gritas pelo mundo palavras de ordem que nem ele compreende mas, já que é só gente “esclarecida” que as grita, eles seguem o andar da boiada. E isso é a formação de nossa “nata intelectual”.

Vemos um exacerbado culto a cultura popular por parte dos intelectuais ao mesmo tempo que os mesmo olham com um certo desdém para a cultura superior. Tal postura acaba por afetar todo o restante do corpo social pois estes sempre procuravam apontar para o que havia de melhor e hoje, faz-se um culto do que há de mais medíocre insolente.

Um bom exemplo disso, é a apologia que os cientistas sociais fazem a movimentos como o RIP ROP, a bandas que fazem constantemente apologias ao uso de drogas, ao narcotráfico e a violência. Que tipo de horizonte uma cultura reduzida a este patamar pode propiciar aos nossos jovens e adolescentes? Mas os cientistas sociais acham elas o máximo pois, como dizem eles, é uma forma de resistência a opressão da sociedade. Foi-se o tempo em que os homens Santos eram símbolo de conduta.

Pois bem, mas se a atual situação dos intelectuais universitários está muito distante do que eram os intelectuais no florescer das Universidades, como estas eram?

Antes de qualquer coisa, as Universidades não nascerem como instituições oficiais mas sim, como clubes de aficionados que eram movidos unicamente pelo anseio de conhecimento. Era nada mais que grupos de estudos onde não se media esforços para se obter o que havia sido criado de melhor pela alma humana. Todavia, o que se vê nos dias de hoje, é uma massa de intelectuais que se movem unicamente pelo anseio ou de realizar a manutenção da eficácia do aparto tecnológico e a divisão do poder político. Tudo que se diz em público tem apenas duas finalidades: a manutenção da ordem político-econômica ou a sua alteração.

Doravante, o sentimento que movia os intelectuais do final da Idade Média ao estudo era uma profunda devoção religiosa que absorvia por inteiro as suas almas em um movimento de ascensão. São homens animados por estes sentimentos que irão fundar as Universidades.

Os estudantes vinham em grandes grupos para estes centro de estudos e estes, eram designados como discere turba volens (do latim: massa dos que querem aprender). Para estas pessoas a atividade mais alta para a alma humana era a vida contemplativa, teorética, se sobrepondo em grau de importância à atividades práticas e políticas. Tal era o valor que se dava aos estudantes que estes eram isentos das demais atividades para que pudessem se dedicar de corpo e alma nos estudos, independente dos resultados que estes poderiam vir a proporcionar de sua atividade discente. Não obstante, esta “inutilidade”, era sustentada não pela igreja ou pela nobreza, mas sim pelos homens ricos das cidades e pelos feirantes dos mercados os quais, não exigiam destes nenhum retorno prático ou financeiro pois sabiam da importância de se procurar elevar a alma humana (a cultura, no caso). O mecenato era uma prática corriqueira e sem se preocupar com a origem do estudante (pois as Universidades não eram ligadas a nenhum grupo político ou nação, eles eram um grupo universal. Aquele que se torna-se um universitário deixava de lado a sua identidade regional e se tornava um universitário orgulhoso de sê-lo), os mecenas os amparavam.

Outro ponto de basilar importância a ser levantado é de que, a noção de Universidade como transmissora do conhecimento não existia neste momento de seu nascimento como também era ausente tal idéia no correr dos próximos três séculos a contar, da criação da Universidade de Bolonha, a pioneira em 1143. O que havia era apenas a Universitas magistrorum es scholiarum (do latim: o conjunto dos professores e estudantes). O que movia as universidades não era a idéia de ser uma transmissora de conhecimento mas sim, a idéia de ser um centro de procura do conhecimento. Esta pretensão totalitária só surgirá com o aparecimento dos Estados nacionais e das monarquias absolutistas, quando serão fundadas as primeiras Universidades mantidas pelo Estado.

Doravante, ao contrário de nossos dias, a Universidade não era a única detentora da palavra, não era a entidade oficial incumbida da manutenção do estado da alma humana, não era ela a toda poderosa senhora do saber como é hoje. Além dos Universitários havia as ordens religiosas isoladas, as ordens místicas, os monastérios, que também exerciam uma forte influencia junto a opinião pública, tendo os mesmos méritos que eram cabidos aos universitários. Como também havia os poetas e trovadores errantes que iam de cidade em cidade levando além de sentimentos novos também idéias. Havia também sábios independentes, que geralmente eram alquimistas, que se ocupavam de investigações que raramente um universitário se arriscaria empreitar. Não podemos nos esquecer também das corporações de ofícios, detentoras de conhecimentos espirituais, científicos e técnicos que escapavam aos dedos das mãos da Universidade.

Neste cenário, a universidade era apenas mais uma fonte de conhecimento, mais um grupo de pessoas responsável pelo ensino que eram apenas maior em número de membros integrantes, mas não a mais poderosa e importante. E era esta posição que lhe fazia saltar a sua grandeza e das demais entidades e pessoas, não era o nome da instituição que garantiria a um homem o título de sábio mas sim o que ele era. A Universidade não era e nem tenha a pretensão de ser naqueles tempos a senhora do saber mas sim, apenas procurar o saber.

Doravante, este tipo de relação que havia entre as Universidades e demais entidades passa a se esfacelar com o advento do Estado Absolutista e, irá apenas ressurgir no século XIX com o advento das democracias, todavia, não mais como uma prática real e cotidiana, agora somente como um ideal, e nada mais. Porém, como que se desencadeará todo este processo de decadência das Universidades?

Com o passar dos anos, a comunidade universitária fora crescendo muito em número de integrantes o que despertou o interesse dos senhores do poder dos séculos XIV e XVII, devido ao potencial apoio político que estes homens representavam. Devido a este fenômeno, novas concepções de ensino foram sendo implantadas nas universidades, de fora para dentro delas. Destes acontecimentos em diante a discere turba volens passou a ser um foco de influencia política onde, de um lado estará o Sacro Império e do outro, os Estados Absolutistas nascentes. Este fenômeno foi lentamente sufocando a criatividade e a iniciativa espontânea que imperava no seio deste centro de saber.

As novas Universidades criadas pelas monarquias Absolutistas irão direcionar as suas energias para a construção de novos valores e crenças, ligados a idéia de nação. No que tange este ponto, a Universidade se descaracteriza por completo que ela era essencialmente quando ela surgiu, que era o internacionalismo, o universalismo. A verdade não tem fronteiras, nem cor e muito menos bandeira nacional ou política porém, a partir daí, para que uma verdade possa ser dita terá ela de se maquiar, de se fantasiar de mascote de uma comunidade imaginária que são as nações e, mais tarde terá ela até de ser silenciada para o bom andamento da marcha para o poder de uma facção política. A verdade que era o fim último de qualquer estudo passa a ser vista nem como um questão secundária, mas como uma vaidade de nossos ancestrais, chegando ao cinismo de hoje vermos textos acadêmicos reconhecidos como a obra de Paulo Freire onde o mesmo evoca a palavra verdade para perolar suas idéia políticas coloca-as entre aspas. A impressão que se tem é que nem ele acredita no que ele está a afirmar e defender.

Todavia, a problemática aí levantada é mais ampla pois, se você afirma que o que você esta dizendo é relativamente verdadeiro, você não está solapando apenas a suas idéias mas, a de todos, inclusive a própria concepção de verdade.

Deste modo, as universidades irão perder a sua capacidade de ascensão intelectual e, em compensação irão ganhar em poder de influência política. Trocou-se a criatividade, o poder intelectual pelo guiamento ideológico de toda a sociedade. “Tal como nos ensina as antigas escrituras hindus, a perda ascensional (sattwa) é seguida de uma expansão ‘horizontal’ (rajas) que a compensa de uma maneira mais ou menos ilusória; será preciso aguardar o século XX para que o movimento se complete, numa grande e abissal queda (tamas) que transformará as Universidades em quartéis-generais de movimentos totalitários (fascismo, nazismo, comunismo, fundamentalismo).”
Doravante, o que é mais incrível nisto tudo, é como que algo que sofreu tantas metamorfoses, transformando-se em coisas distintas e muitas das vezes antagônicas, continue a se afirmar sendo uma coisa só. Como enquadrar em uma mesma denominação a discere turba volens medieval, sedenta de contemplação teorética, os elegantes institutos de formação da classe governamental das Coroas Absolutistas, os núcleos de treinamento de mão-de-obra e de distribuição de slogans ideológicos como se vê nos dias de hoje. Como falar que vinho, conhaque, uísque e cachaça tem o mesmo aroma e sabor do primeiro?

A Universidade com a passar dos séculos foi mudando toda a sua composição substancial e continuou a se identificar com o que ela era no princípio, como no exemplo acima das bebidas. Passa ao longe das mentes acadêmicas fazer uma auto crítica refletindo sobre a sua formação histórica. Ao invés disso, ela procura se imbuir da mundanidade do tempo presente e, procura pensar a sua existência a partir dos problemas externos a ela e, ao invés de procurarem meios de reafirmar o seu estatuto originário procuram sim, e cada vez com mais afinco servir as potestades das trevas que tanto São Paulo nos advertia.

Cada vez mais as Universidades procuram ou servirem de forma prática para formar profissionais que irão atuar na indústria e no comércio ou, para servirem de maneira útil como divulgadores e porta vozes dos slogans políticos de grupos que ou estão ávidos de chegar ao poder. As Universidades se auto-bajulam e crêem que isto seja autocrítica.

Entidades como o exército, a polícia, as Igrejas, a família, os parlamentos, o empresariado, os sindicatos, as organizações e sociedades secretas, os partidos políticos (e o recordista deles, o partido comunista), todas estas entidades tiveram que um dia enfrentar a hipótese de um fracasso essencial e a eventualidade de uma auto-extinção. Todas elas tiveram que responder as questões que os sucessivos momentos históricos lhe impunham afim de se auto-avaliar e se refazer das cinzas da pós autocrítica afim de recompor a suas forças, aprendendo com a experiência o significado da modéstia e muitas vezes do silêncio. A única entidade que nunca duvidou de si mesma, trocando na maioria das vezes a sua missão sacrossanta de seu estatuto de origem por algum papel de ocasião, despindo-se deste quando não mais conviesse aos seus interesses como a um ator vulgar inundado de vaidade e soberba. Esta sim, nada mais é que um recôncavo de oportunistas, especialista em sobrevivência e marketing da própria alma como também um monumento de auto-engano e que se ufana de tal feito.

Na gênese de seu berço esplendido toda e qualquer idéia para ser aceita deveria passar por um rigoroso estudo e debate filosófico. Um bom exemplo desta postura fora a entrada das idéias Aristotélicas em seu bojo que, primeiramente fora estudadas e profundamente discutidas em debates públicos (para todo público universitário) para só depois, ser aceita e consolidada com a celebre obra de Santos doutores como São Tomas de Aquino e Duns Scot. Tal postura nos dias de hoje pareceria cena de “ficção científica” no seio das universidades contemporâneas pois hoje, ao contrário do esplendor os áureos dias de sua gênese, quando surge algum intelectual que traga a tona e erga alguma acusação contra as potestades da “sapiência”, ao contrário de seus antecessores, eles fazem questão de acobertar o brilho das idéias deste para assim garantir a manutenção de sua inteligência postiça.

Um exemplo de tal postura é o da Filósofa Marilena Chaui que quando estava a ministrar uma palestra em Goiânia, no momento reservado aos questionamentos, fora interpelada por um jornalista que lhe perguntou o que ela teria a dizer das ponderações feitas a ela (em decorrência do lançamento de seu último trabalho — A nervura do Real) pelo filósofo Olavo de Carvalho. Esta ao invés de fazer uma decomposição analítica do discurso de seu crítico ou, dizer que não conhecia tais ponderações (atitude a qual teria sido mais digno de sua parte), preferiu dirigir a este modesto jornalista a afirmação de que não conhecia a pessoa do filósofo Olavo e que, não fazia a menor questão de conhecê-lo pois para ela, ele não passava de um canalha. Depois disso, seguiu-se uma seqüência de insultos que o mesmo preferiu não apontar no seu ensaio. Pode-se aceitar que uma filósofa de renome tome tal postura? Como pode uma pessoa afirmar ao mesmo tempo que desconhece alguém e que a conhece intimamente?

Pois este é o cenário da Universidade brasileira. Um ambiente mais preocupado com a sua autopromoção do que com o conhecimento da verdade. Para estes, a sua função se reduz as dimensões funcionais em torno de questões políticas (Utilizamos aqui o conceito de política dado por Carl Schmitt, onde o mesmo define a essência da política. Para este o fenômeno político pode ser resumido na confrontação de um grupo A com um grupo B para a obtenção do poder. O debate cultural como as preocupações por parte dos intelectuais apenas com os fenômenos que permeiem estas dimensões, não apenas é uma piada como uma grande perversão. Quanto a este problema, procuraremos discuti-lo no próximo sob capítulo) e/ou ligadas ao desenvolvimento econômico.

Os universitários brasileiros não só acreditam ser os poderosos senhores do conhecimento como também os senhores dos caminhos e descaminhos da humanidade, do destino das pessoas. Acusam a todos de serem alienados, todavia, se vêem imersos na sua própria loucura e em sua vaidade de se auto-enganarem com uma retórica rasa sustentadas por argumentos vazios e falsos. Esquecem-se eles que o destino da humanidade é determinado pela decisão tomada pelos milhões de seres humanos que habitam este planeta. Frente a isso, não nos propomos a dar uma resposta que venha trazer uma resolução a todos os percaustos pedagógicos mas sim, abrir uma discussão. Esperamos que este estudo possa servir como um analgésico serve para um neurastênico. Esperamos que aquele que refletir e ponderar as palavras que estão nestas páginas possa tomar uma atitude diferente frente aos problemas que se apresentam a nós no nosso dia a dia ou, que não lhe sirva para nada e que ela possa continuar a seguir o destino que ela mesma escolheu.

 

 


O estilo Facão sem cabo

 

É comum se ouvir falar, ou melhor, se pregar palas ruas e pelos corredores de nossa sociedade algumas pessoas falarem que todos devemos ser críticos, que devemos ter um raciocínio crítico quanto ao mundo a nossa volta, etc. Todavia, é sempre bom lembrar que ser crítico não é sinônimo de ser crica, e vice-versa.

Doravante, muitas das vezes se você interrogar o que esta pessoa está querendo insinuar o que venha a ser o tal do indivíduo crítico, acabará por sair um amontoado de palavras onde muitas delas não têm a menor conexão uma com a outra e que por sua vez, acaba por formar um significado adverso com o que seja em si a criticidade.

Um bom exemplo disso é a nossa canhota política que tem como compreensão de criticidade ser contra tudo o que venha a ser programa político de direita e ser sempre a favor de tudo o que seja de esquerda. Para estes ser crítico é observar as minúcias dos tropeços de seus adversários e fazer vistas grossas quanto aos seus de bêbado.

Para estes ser crítico é observar os acontecimentos e a si mesmo a partir de sua autojustificação que no caso seria a sua doutrina política. Em outras palavras, estes em suas análises dos acontecimentos humanos em todas as suas dimensões não estão à procura da veracidade dos fatos, da verdade que emana no desvelar das palavras mas sim, justificar a sua posição política e bem como o seu projeto ideológico. Você pode ser até um crápula, um safado, mas desde que se lute pela grande causa da revolução, ta valendo. É o caso do Sr. Fidel Castro na ilha de Cuba que é aqui idolatrado pela canhota como exemplo de estadistas.

O erro nesta forma de raciocínio dito crítico é justamente o fato de se eximir à verdade quando ela pisa no seu calo e tal postura não é privilégio único e exclusivo dos militantes de esquerda. Tal postura também é comum entre pessoas devotas da forma mais elevada da cultura humana: a religião. Só é fiel de nosso credo todo aquele que mantém aquela aparência de bom elemento, mas, a partir do momento em que esta toma uma postura que venha a envergonhar a comunidade de fiéis ele já não mais é dito como um praticante fervoroso mais como um fiel relapso. Diriam: “Não é como nós, este indivíduo não tem Deus”. Oh! Santa presunção.

Deste modo o que está à frente destes tipos de homo religiosus não é a presença de Deus no coração e na imagem do próximo, mas sim, simplesmente a aparente ligação com alguns estereótipos que muitas das vezes nada tem a ver com palavra em si.

Pois bem, mas então o que seria este ser crítico? Ser crítico é algo simples. Ser crítico é simplesmente saber apreciar as coisas e os acontecimentos a partir de sua consciência individual e apresentar um parecer quanto ao referido.

É como provar vinho. Muitos bebem e se embebedam de vinho como loucos em uma oblação a Dionísio do mesmo modo que inúmeras pessoas que falam até pelos cotovelos como beberrões em um botequim de esquina. E como são numerosos os indivíduos que por serem cricas se auto proclamam seres dotados de uma visão aguçada não por ver melhor as coisas, mas, pelo simples fato de distorcê-las.

Sendo assim, poucos sabem apreciar o seu aroma, distinguir seus odores. Poucos são dotados de papilas gustativas apuradas, ávidas a degustar e apreciar o sabor de uma determinada safra deste Sacro líquido. Uma apreciação do paladar de uma taça de vinho não se dá a partir do de uma outra safra mas sim, a partir da taça que está em sua frente, em suas mãos. Não estamos a afirmar que as comparações sejam errôneas, mas sim que, quando a realizamos antes de uma apreciação apenas do sabor da coisa em si, nós a invés de estarmos conhecendo e apreciando o que está diante de nossos olhos nós acabamos na verdade por sobrepor o que sabemos sobre o que está a ser conhecido. Em outras palavras, a pessoa não está a apreciar a safra do vinho que está em seu cálice, mas sim a relembrar do gosto do vinho que havia degustado no ano passado ou tentando imaginar como deve ser gostosa a safra que ainda será produzida por uma nova sociedade vinícola.

Outra coisa que se faz necessário lembrar: ser crítico também não é sinônimo de ser oportunista e muito menos gigolô da desgraça do próximo. Se proclamar a favor de toda e qualquer reforma e/ou projeto de cunho social não é sinônimo de sensatez, mas sim de insanidade mental da braba. Quanto a este ponto faz-se salutar relatar um acontecimento deveras curioso. Dias atrás, em conversa com um amigo meu que mora na cidade de Alvarães-AM, contava-me que a promotora de justiça do município de Tefé esteve a palestrar sobre o ECA — Estatuto da Criança e do Adolescente — para um grupo de professores e para a comunidade de um modo geral.

Sua explanação fora deveras interessante com brilhantes intervenções até que uma professora resolveu interpelá-la com uma pergunta que no caso seria: se a escola poderia aplicar uma punição como trabalhos prestados a escola e a comunidade aos alunos que faltam com o respeito em sala de aula para com os professores e seus demais colegas r bem como aquele que não quer nada com nada?

A promotora respondeu positivamente. E realmente, uma coisa que muitas pessoas se esquecem é que educar também é impor limites, pois a vida social exige isso. Mas, o que me chamou a atenção foi à observação feita por um senhor que disse o seguinte: que a escola não poderia fazer isso pois caracterizaria exploração do trabalho infantil.

Porca miséria, mas que é isso? Em primeiro lugar, um pouco de trabalho não mata ninguém e muito menos é equivalente a humilhação. Humilhante é dizer que o joio e o trigo são a mesma coisa, isso sim. Ou querem nos convencer que o mau aluno tem o “direito” de não ser punido pelos seus atos errôneos e o bom aluno merece ser punido com a imagem da impunidade?

E mais, exploração do trabalho infantil é o que ocorre em outros âmbitos de nossa sociedade isso sim. Mas então por que este senhor tão preocupado com a situação da infância não vai fiscalizar e denunciar onde realmente há exploração destes pequenos infantes? Ora, pelo simples fato de este ser um oportunista de ocasião e que, creio eu, pretende apenas promover o seu nome e nada mais. Este é o verdadeiro facão sem cabo, o indivíduo que adora se meter no que não é de sua alçada e o que caberia a este não é feito, pelo simples fato de que fazer o que nos cabe dá trabalho e se meter no do outro é fácil, visto que é só falar.

Não estou a dizer que as pessoas de variados ofícios não devam dialogar entre sim sobre assuntos referentes aos seus afazeres, mas sim, que quando um indivíduo que nada ou pouco sabe sobre algo quer ensinar o que é correto a outrem que a longa data exerce este trabalho nós temos diante de nós um exemplar clássico da pessoa que apenas tem o intuito de promover a sua pessoa, a sua imagem mais nunca o de contribuir positivamente para a comunidade. Todavia, este acredita ser um Cidadão Crítico!

Por fim, ser crítico nada tem haver com o fato de estar ligado a uma corrente de idéias e muito menos o fato de ser o defensor dos frascos e comprimidos. Ser crítico não é simplesmente dizer como as coisas deveriam ser, mas compreender por que as coisas são do jeito que são. O indivíduo crítico não é aquele que se move pela ânsia de querer mudar a natureza do mundo, mas sim, é aquele que almeja aprimorar a sua para não se deixar ser corrompido pelas suas próprias fraquezas, pois como nos lembra o filósofo alemão F. Nietzsche que quando nós desejamos destruir um monstro, devemos tomar cuidado para não nos tornarmos ele, pois, quando nós desejamos um abismo, este também nos deseja.

Ser crítico é isso. Basta nos olharmos no espelho antes de apontarmos as rugas na face alheia. O crítico antes de qualquer coisa procura conhecer e procura dominar, aprimorar a sua natureza e se possível ajudar ao próximo a traçar o seu próprio caminho. E isso, não é fácil. Já ser crica...

 

 


Da telinha para corrupção

 

Quase tudo transcende à nossa compreensão, mas nada transcende à nossa vaidade.
(Matias Aires)

 

Para os Gregos, a verdade sempre se encontrava encoberta por inúmeros véus, que deveriam ser removidos para que ela pudesse ser vislumbrada.

Deste modo estes entendiam que a verdade estava no Ser das coisas e não meramente no que estas aparentavam ser. Desta maneira, os juízos apenas podem ser considerados verdadeiros quando dizem algo que se refira ao que a coisa é realmente, ou seja, o que ela é realmente em seu interior.

A verdade a respeito das coisas e bem como das pessoas se revela não pelo que elas apresentam em público, nos palcos da vida mas sim, o que elas apresentam na vida íntima, no dia a dia, nos locais onde apenas existem poucas testemunhas ou apenas a pessoa a presenciar a sua sordidez.

Muitos de nós hoje em dia costumamos nos esconder por trás de um falso moralismo que chega a causar asco e não há falso moralismo maior que este blá blá blá de combate a corrupção. As pessoas que defendem tal empreitada são tão vazias de conteúdo interior que crêem que apenas se criando mecanismos de controle institucionais se poderá acabar com a corrupção em nosso país. Balela.

A corrupção nada mais é que uma escolha individual e só poderá ser destruída pelo indivíduo que a comete se este vir a tomar consciência do grande mal que está a fazer mas, como estes são “conscientes” quanto a importância do próprio umbigo, a corrupção continuará a existir por longos e longos anos. E o pior de tudo é que eles sabem muito bem o que estão fazendo.

E mais, para que alguém possa acusar, julgar e condenar alguém pelo fato de ser corrupto espera-se que este seja totalmente idôneo, correto? Então responda-me: você acredita que os membros de toda e qualquer CPI sejam pessoas idôneas, límpidas e puras ao ponto de poderem acusar os seus pares de serem corruptos e safados? Deste modo meu caro, se você acredita que a criação de instituições para que se combata a corrupção seja algo essencial para se aprimorar o sistema político de nosso país, eu só consigo pensar em dois adjetivos para você: ou a sua pessoa é completamente idiota ou você não passa de mais um destes falsos moralistas que tanto encontramos em a nossa sociedade.

O ser corrupto não se restringe apenas no ato de desviar verbas públicas mas também no de vender o voto, no negar contas, no gastar o dinheiro do sustento da família em bebida ou nas cartas e em se ufanar de sua própria ignomia e ostentá-la como um troféu. Também é corromper-se o ato de colar nas provas, o ato de falar da vida alheia, de falar de mais e bem como o de se omitir e o de se calar. Em outras palavras, o ato de corromper-se é um sinônimo do ato pecar, todavia ciente do que está fazendo e sem se arrepender. Não me refiro ao arrependimento fingido mas sim àquele que vemos com tão pouca freqüência entre nós.

Pois bem, quanto a este tema que me propus a refletir vem a calhar algumas passagens de um filme que vi neste final de semana que tive a felicidade de rever e relembrar de minha infância, que no caso era O IMPÉRIO CONTRA-ATACA de Jorge Lucas onde logo no início do filme o mestre jedai Ioda ensina para Luck que uma vez que você se envolveu com o lado negro da força você jamais poderá se livrar de seu domínio. Doravante, no momento em que este personagem (Luck) estava com seu pai Anaquim (Lord Weider) diante do Imperador, este último sempre no intuito de querer corrompê-lo, degradá-lo, procurava falar-lhe, tentar-lhe não com sortilégios exteriores e superficiais a sua pessoa mas sim e constatemente procurava tocar em suas fraquezas internas pois foram por estas fraquezas e vaidades que seu pai havia se entregue para o lado negro da Força, o que não foi o seu caso.

Já Lord Weider, é o caso típico de todo aquele que está envolvido neste meio e bem como de nossa sociedade de um modo geral. Um homem de alma totalmente degradada, corrompida a tal ponto que tem de viver encoberto por uma máscara para que as pessoas não vejam a sua verdadeira face visto que este já é terrível sem mostrar a sua verdadeira face.

Ou então, lembrando um outro filme, no caso o ADVOGADO DO DIABO, onde o demônio o tempo todo apenas instiga na alma do advogado os sentimentos e desejos que todo ser humano tem e quando este se vê com sua mulher louca a se suicidar e em um ato de revolta vai de encontro ao demônio (que no filme era um Senador) e o acusa de ter forçado ele a fazer tudo isso, a trocar a sua família e os seus princípios pelo jogo poder e aí este diz com toda ironia: “eu não o forcei a nada, foi você que escolheu este caminho.”

Não é incrível como a arte nos revela nossa forma de ser? Não é atoa que a arte é e sempre será o espelho de nossa alma aliás, as nossa preferências, gostos e atitudes de um modo geral sempre revelam o que somos e a literatura, o cinema e demais expressões artísticas sempre nos colocam nua nossa natureza. E assim podemos nos espantar conosco mesmo ou, fechar os olhos e rir de nós mesmos em nossa insana condição humana.

Do mesmo modo e como havíamos afirmado no início deste artigo que os nossos atos mais cotidianos revelam muito de nossa personalidade e nos últimos dias, não presenciei ato que mais revela-se o nosso ethos que a partida de futebol que fora disputada contra a Turquia. De todas as pessoas com quem conversei não houve uma que afirmasse o contrário. Em um só tom todos diziam: “que o que interessa é ganhar. Não interessa se o juiz puxou ou não a sardinha para o nosso lado (roubar no português bem claro), o que interessa é ganhar. De que adianta jogar uma partida bonita, um futebol arte se você perder no final? O que interessa é ganhar!”

E ao mesmo tempo, creio que todas estas pessoas dizem primar por valores superiores, pregando que todos nós devemos ter uma postura ética, reta perante Deus e os desafios da vida. Por isso friso novamente: de nada adianta combater simplesmente a corrupção alheia pois na verdade em todas as encenações de justiça que se vê e se faz em nossa sociedade não se verifica um combatente que vise o cerne da corrupção mas apenas a seu ato final. O cerne do corromper está em nosso âmago, em nossos gestos mais cotidianos pois são nestes pequenos atos que deixamos nossa máscara de Lord Weider deslizar e mostramos uma parte da nossa verdade, tão forte e obscura que nos negamos a vê-la pois não suportamos nos conhecer e assim preferimos acreditar que estas fogueiras da vaidade que são as campanhas moralizantes de combate a corrupção pois através destas se conseguem enxergar bem o cisco nos olhos alheios mas nos deixa incapazes de ver o travessão no nosso próprio olho, como nos ensina os Evangelhos.

Nossa sociedade é realmente superficial mas não por causa do sistema capitalista ou por causa dos excessos das propagandas midiáticas mas sim por que as pessoas, nós no caso, é que nos portamos de modo superficial a tal ponto que acreditamos que a raiz do mal está sempre nos outros nunca em nós. Mas como já nos ensinavam os Cézares de Roma, que enquanto houver pão e circo o império vai bem.

Assim sendo, o que são as campanhas pela ética e pela moral na política senão um grande circo onde os palhaços ao invés de ficarem no picadeiro estão na platéia a ver o espetáculo das chamas da fogueira deste Espetáculo Maldito a espera de que o circo pegue fogo visto que esta é a única alegria do palhaço.

Aí terá aquele mané de classe média que dirá: “ o povo se deixa levar por coisas pequenas sempre mesmo, que ele sempre é manipulado pela mídia e bla bla bla”. Mas o engraçado é que todo mundo fala que é o tal do POVO mas quem é este tal de povo tão falado? E este indivíduo é o que? É justamente aquele que acredita que a solução para o os males de nosso sistema político é este. É ele que adora jogar a todos nesta fogueira de palha, que adora ver o circo pegar fogo para dar risada da própria desgraça e ainda falar que a culpa é toda do macaco que não quis ir para gaiola.

 

 


As mãos que balançam o berço

 

Qualquer ato reiterado é, por si mesmo, prova da sua intenção.
(Olavo de Carvalho)

 

A nossa sociedade se encontra enferma. Mas este paciente, não é de um tipo qualquer. É daqueles teimosos, certas horas semelhantes àqueles velhinhos que se crêem fortes como um palanque (no banhado, é claro), vez por outra, se portam como aquelas crianças mimadas que fazem aquele escarcéu quando se defrontam pela primeira vez com uma agulha nas mãos de um enfermeiro que exige que o pequeno lhe mostre a poupança.

E o pior de tudo é que o paciente em questão está sofrendo de lesões múltiplas que procuraremos diagnosticar neste breve receituário. Primeiramente, nosso paciente tem sérios problemas de miopia e estigmatismo. Em outras palavras, o coitado enxerga de um jeito que chega a dar dó. Devido a sua parcial cegueira, ele procura criar ilusões de ótica para assim poder caminhar por entre os vultos que nada mais são que a vida como ela é, mas este, firmasse na crença de que todas estas imagens nebulosas sejam coisas falaciosas criadas para que o enganem.

Um bom exemplo disso, é a recente comoção da sociedade liderada pela mídia frente à morte do jornalista Tim Lopes. Este jornalista não foi o primeiro a ser assassinado de forma brutal e nem será o último. Milhares de pessoas já foram executadas com os mesmos requintes de crueldade senão com primores mais refinados de sadismo. Só que até a morte de Lopes, a sociedade nada via e pouca atenção dirigia (para não dizer nenhuma) aos que iam engrossando os cemitérios particulares dos traficantes. Talvez por que muitos dos executados fossem pessoas comuns, de uma favela comum, um desconhecido comum, um alguém comum sem relevância para os corações fingidos da sociedade, mas que dói a sua falta para os comuns que ficam em meio a uma multidão de comuns que continuaram a não chamar atenção alguma, pelo simples fato de serem comuns.

A sociedade só consegue ver o inusitado, o exótico, o que é escandaloso. Só se choca com as desgraças célebres. O dia a dia que é onde a vida se torna um verdadeiro inferno ninguém vê, pois nesta não tem gente famosa para ilustrar a novela da realidade, pois naquele cenário havia e há apenas atores coadjuvantes.

A vida só nos chama a atenção quando ela se torna um show. Se assim não o for não tem muito que ser visto no o dia a dia destas pessoas que vivem em meio desta penúria, que além de ser um inferno, é um tédio, para os olhos do nosso paciente.

E pior que a parcial cegueira do paciente são suas explicações para o que ele supõe ver. Lá está a classe jornalística a espalhar aos quatro ventos que o crime organizado chegou em um estágio tal que se tornou um Estado dentro do próprio Estado e que este acaba por suprir as funções do primeiro.

Diante desta afirmação exposta acima, apresento outra. Afirma enfaticamente que o tráfico nada mais é que a mão canhota do Estado, sua sombra e não uma organização paralela a este e digo-lhes o porque disso. Primeiramente, todos sabemos que já à muito tempo que o narcotráfico está a controlar os morros do Rio de Janeiro, correto? Então o por que as “otoridades” já não tomaram uma atitude condizente com a situação? Doravante, temos a campanha encampada pelo senhor Antoni Garotinho para desarmar a sociedade. Espera aí, desarmara a sociedade jamais irá reduzir a violência visto que quem faz da arma uma ferramenta para este fim jamais irá entregar de boa vontade seu arsenal belicoso, que não se restringe a um simples três oitão. Quem entregou e está a entregar as suas armas eram e são justamente aqueles que nunca a utilizaram para outro fim senão a sua defesa pessoal e lembrando que a população não tem a menor confiança na polícia e diante disso lhes pergunto: quem irá proteger-nos do crime organizado?

Max Weber já a muito nos havia advertido que uma das características do Estado Moderno é justamente o monopólio da violência e, o que é o desarmamento da sociedade senão deixar a população a mercê do tráfico e do Estado? Parece loucura estas afirmações, mas então apenas vejam todos os casos em que temos quadrilhas de traficantes, de ladrões de cargas de caminhão, de desmanche de carros, de contrabandistas e digam-me se não temos um representante público envolvido?

Caso notório é o do Governador do Rio Grande do Sul, que recebe os lideres das FARCs para reuniões a portas fechadas no palácio do Governo Estadual com todas as honras dignas de um chefe de Estado. Nãopodemos nos esquecer, é claro, da relação íntima destes com os traficantes do Rio de Janeiro, como Fernandinho Beira Mar que em seu cárcere tem direito a um bandeco com salmão e outras iguarias.

Se isso não bastasse, os narco-guerrilheiros são levados em colégios para dar palestras aos pequenos guris e gurias e a abrir a primeira versão do Fórum Social que foi orquestrado no intuito de discutir uma proposta de um mundo melhor. Que “meda”! Isso sem falar que a violência no Estado aumentou imensamente e a única coisa que o Secretário Estadual de Segurança Pública diz é que a violência é uma questão social e que seqüestros e assaltos são apenas manifestações sociais e que devem ser compreendidos.

E mais, caro leitor. Você não acha estranho, por exemplo, que um dirigente político que diz ser contra a violência que é impingida sobre a população mais carente (O PT no caso), ter entre suas mentes pensantes, um tal de César Benjamin, biógrafo e apologista do fundador do Comando Vermelho? O teórico petista, escreveu um livro onde faz uma clara apologia ao crime organizado e a pessoa do senhor William Lima da Silva, fundador do Comando Vermelho que foi publicado pela Editora Vozes e lançado com direito a uma grande noite de autógrafos bem requintada na sede da ABI em 199l.

E aí querem nos convencer que o crime organizado é uma organização paralela ao Estado? Francamente, eu não consigo crer nisso.

Deste modo, os membros da burocracia Estatal, em especial as pessoas que compõe a destes Estados, sofrem também de uma grave enfermidade, que seria: ou um leve grau de esquizofrenia que em resumidas palavras, seria quando uma pessoa conta uma mentira e após passado algum tempo ela se esquece que à pronunciou e passa a acreditar nela piamente ou, e que talvez seja o diagnóstico mais provável, que estes elementos sofram simplesmente de cinismo e má fé.

E o que me causa sempre um verdadeiro desarranjo intestinal é quando ouço esta gente falar em ética e moralidade. Estes com seu falatório retórico reduzem a ética a um joguinho maniqueísta onde todo mundo que seja seu desafeto passa a ser do mal e eles, obviamente, sempre serão os mocinhos sem nunca terem feito um exame de consciência. Quanto a moral, esta se reduz a um palavrório politicamente correto que obviamente, corresponde aos seus interesses frente ao jogo do poder e nada mais que isso.

E estas são as mãos que embalam o nosso sono entoando suaves cantigas de ninar. E assim segue a nação, louca e insana em seu berço esplêndido.

 

 


Notas sobre meus tempos de cadeira

 

Após ter escrito o artigo A MAMADEIRA DE STALIN, estive a lembrar-me do tempo em que militava no movimento estudantil, todo empolgado, querendo reformar o mundo, corrigir todas as fissuras da sociedade. Sorte minha que este surto patético de revolucionário, que aliás foi bem agudo, foi breve e logo percebi o covil de víboras em que eu estava enfiado e o que eu me tornaria se não direcionasse minhas energias intelectuais para elevação de minha alma. Já no final do segundo ano de minha graduação (1998) comecei a meditar de forma mais detida quanto algumas peculiaridades da militância política de esquerda a qual, eu estava imerso e bem como os tipos de personalidades que compunham o movimento estudantil. No primeiro EREH (Encontro Regional dos Estudantes de História) havíamos feito uma determinação de que todos deveríamos, em uma forma de se opor e ao mesmo tempo de complementar o projeto da celebração do Brasil 5oo anos de que todos deveriam realizar palestras e seminários em suas cidades onde se procura abordar aspectos da História nacional a fim de levar as pessoas a meditarem sobre o ETHOS brasileiro, sobre essa Epopéia que é a formação de nossa Nação. Eu e uma amiga organizamos uma mesa redonda sobre o conceito de celebração e realizando uma profunda crítica intelectuária tupiniquim. Doravante, realizamos uma série de palestras em um colégio (Eng. Michel Reydams) da cidade onde moro (Reserva do Iguaçu–PR). É óbvio que muitas das posições por mim adotadas na época, submeto-as hoje a uma dura autocrítica (atitude fundamental para o amadurecimento intelectual de um indivíduo), mas o x da questão é que no II EREH, eu e minha amiga éramos os únicos que cumpriram com a determinação que havíamos todos nos comprometido no primeiro EREH em Tramandaí-RS. E pior, nesta época havia sido incendiado um dos relógios da Rede Globo na cidade de Porto Alegre e meus pares estavam todos ansiosos para fazer o mesmo em Florianópolis. Sei que a chupetinha para acalmar o choro insólito dos filhos de Lênin é a destruição de tudo o que os desagrada mas resolvi me pronunciar e em meio à assembléia. Tomei uso da palavra e lembrei que nós deveríamos exercer o nosso papel primeiro que é o de futuros professores de história e que incendiar um relógio não iria acabar com a fome de nosso país e que não iria de modo algum motivar a nação em um ato de transformação positivo. E lembrei também, parafraseando com Nietzsche que sempre que nós combatemos um monstro nós devemos tomar cuidado para não nos tornarmos ele pois quando nós desejamos um abismo este também nos deseja. Mais que depressa um dos membros da assembléia tachou-me de pequeno burguês e de alienado. Postura mais óbvia impossível.

Após este insulto ainda quis discutir com o mesmo, que fora profundamente ovacionado, lembrando as palavras de Albert Camus quanto a superficialidade da fúria revolucionária e da animalidade do homem revoltado e lembrando também o velho ditado popular que violência só gera... Em vão. Novamente fui taxado com jargões tipicamente marxistas e pude sentir os olhares sedentos pelo meu pescoço. Mas o que me impressionou foi uma explicação dada por um dos meus interlocutores. Disse-me ele que: “tal atitude pode ser um ato selvagem, de vandalismo e barbárie mas, nós não podemos esquecer que foram os bárbaros que derrubaram o Império Romano.” Fiquei pasmo tanto pela sua interpretação e bem como pelo seu mui profundo conhecimento de história. Depois disso resolvi me calar, pois depois de dito isso, outras pérolas foram vomitadas em meus ouvidos. Todavia, nenhum dos revoltadinhos tinham realizado uma palestra sequer, como havíamos determinados no primeiro encontro. É óbvio, realizar palestras e seminários dá trabalho e não é tão divertido quanto atear fogo em um monumento ou fechar uma rua com faixas e bandeiras a gritar paródias e palavras de ordem. No fundo, é isso que é uma pessoa indignada com a situação das mazelas do mundo: uma pessoa que quer ver o “fervo” e fazê-lo, que quer transformar o mundo, sem saber no que ao certo. Mas se o que esta criatura fizer não der certo e se o mundo ficar pior do que está, não importa. O IMPORTANTE É TER TENTADO. Ah Tentação!

 

 


Duas Cidades e um Pleito

 

quidem ignorantes Deum, his, qui natura non sunt dii, servistis...
(GALATAS; 4,8)

 

O período eleitoral desperta estranhos ânimos na população brasileira quase que de modo geral e eu, obviamente, não sou o primeiro a constatar isso e não serei o último. Há muitos anos atrás Oliveira Viana já constatava no eleitorado de seu tempo que este se comportavam em um pleito eleitoral como se após as eleições o Brasil fosse dar uma guinada de 180°. Pia ingenuidade!

Todavia o que nos interessa nestas linhas não é tanto analisar as propostas demagógicas dos candidatos desta peleja de gogó mas sim, tentar compreender um pouco do por que sempre o mundo das disputas políticas se vêem envoltas de tantas ações obscuras? E por quê, apesar de vermos pleito após pleito que plataformas populistas não passam de engodos que ao invés de nos levarem as alturas prometidas nos afundam cada vez mais neste poço de lodo nós ainda continuamos a depositar nossa confiança em pessoas desta estirpe.

Claro que não podemos obter uma visão clara e definitiva em um breve artigo como este, mas podemos abrir uma discussão fundada em princípios claros ao invés do falatório de comício e das palavras de ordem de comícios e manifestações.

Em continuidade, podemos dizer que sempre acabamos por cair nas mesmas arapucas pelo simples fato de agirmos do mesmo modo que Rousseau, de sentirmos antes de pensarmos. Aliás, falamos demais, abrimos a boca sem ao menos meditarmos sobre as palavras que estamos a pronunciar, como nos aponta J. O. de Meira Penna em seu livro Cândido Pafúncio. E em continuidade, o mesmo nos lembra da gravidade deste tipo de atitude dizendo-nos que as palavras são para os pensamentos o que o ouro é para os diamantes. Deste modo, durante não só estes sessenta dias que virão, ouviremos e veremos muito ouro de tolo sendo manuseado por joalheiros estrábicos a nos dizer que cacos de vidro são pedras de valor inestimáveis. E pior que isso, será ver estas bijuterias serem ofertadas, ovacionadas e compradas como tal, tornando-se motivo de discórdia entre amigos e até mesmo entre familiares.

Diante deste parecer, para podermos dar continuidade com nosso intento, recorremos a algumas meditações, estas sim, jóias que não tem preço, do escritor Gustavo Corção, que no vol. 01 de sua obra Dois Amores — Duas Cidades, que logo no início, discute algumas questões em torno do homem político e de seus percaustos.

Comecemos pela idéia de homem político. Todos nós somos como um animal que por natureza tendem a vida política, como assevera Aristóteles. Mas o que seria este ser político para o Estagirita? A vida política está estritamente ligado com a vida na polis, na cidade, mas não a cidade no em um sentido simplesmente urbanístico mas sim, no sentido de um aglomerado humano organizado, aglomerado no qual todos comungam de valores em comum. Doravante, para que este aglomerado possa existir de forma organizada é basilar que se exista entre os membros da polis um forte sentido de sociabilidade.

Deste modo, o bom andamento de um grupo humano depende dos valores em que este grupo toma como norte e qual o sentido de sociabilidade que há entre as pessoas.

Podemos afirmar que existe duas formas essenciais de sociabilidade, que no caso seria a sociabilidade do homem exterior e a do homem interior. Na sociabilidade do homem exterior, o indivíduo se vê descomprometido para com o próximo, visando o mínimo de reciprocidade. Se você paga um professor particular para seu filho, ou uma empregada doméstica, ou um rapaz para lhe cortar a grama do quintal de sua casa, logo após o serviço prestado, só é pago a importância tratada e pronto. Não se há mais nenhuma obrigação de uma para com o outro.

Bem como a mera ajuda que se propicia a uma família que esta passando por necessidades, simplesmente devido ao estado de penúria em que estas pessoas estão passando e este bom feitor, por sua deixa, quer algo em troca do amparo por ele ofertado ou, da parte do socorrido que se entrega ao pedantismo ao invés de acolher a benesse ofertada para se elevar desta enfadonha situação. Tal tipo de sociabilidade visa apenas um minus, levando os indivíduos a uma profunda solidão, imersos em um lamaçal de egoísmo. Todavia, cabe lembrar que o egoísmo no sentido Cristão, é a postura do homem que direciona os ânimos de sua alma para os bens do mundo exterior a alma humana em detrimento do mundo interior da alma, como nos ensina Santo Tomás de Aquino (Suma Teológica) e o Apóstolo Paulo (Cor.II, 4;16).

Sempre que enganamos, tramamos, corrompemos, toda vez que visamos destruir e humilhar o nosso semelhante em nome de algo que pretensamente julgamos ser superior a tudo que há, não estamos a visar a elevação do homem interior, dos mais estimáveis valores que se manifestam em nosso ser mais sim e simplesmente, elevando o que há de mais sedutor no homem exterior. Um exemplo bem comum é o da mulher que de forma doentia vive a limpar a sua casa ou a que vive a se preocupar com o que as suas amigas irão falar de sua roupa ou de seu cabelo. Como também os homens que vivem se preocupando se as pessoas vão ver nele um homem bem sucedido economicamente e quando não o é, passa a invejar o sucesso alheio e ambos os tipos vivendo a cobiçar tudo o que não é seu como se fosse deles por direito.

Doravante, cabe lembrar que a pessoa que valoriza o ser interior não é aquele que simplesmente vive a falar de espiritualidade ou que vive a se “importar com a penúria do próximo”. A sociabilidade do homem interior não visa simplesmente a nossa melhoria econômica e social. Esta tem por fim último a elevação cultural da sociedade, mas não simplesmente do todo mas sim, das partes que compõe este conjunto. Neste caso, ao contrário do primeiro, o indivíduo quando contrata os préstimos de terceiros e após tê-los pago, este continua a se ver comprometido, pois vê em seu filho as marcas deixadas pelo mestre, senti a presença da doméstica que deixou o seu lar inundado de bons ares e olha para o jardim ao redor de sua casa como para tudo, com ares de gratidão para com estas pessoas, eternizando a sua presença em sua vida e mesmo depois que estas partam desta vida, tudo que elas lhe fizeram continuará a ter um significado especial, pois tudo que tocamos passa a ter parte de nós e a ser parte de nós, visto que tudo que todos os nossos atos (e principalmente os mais cotidianos) refletem o nosso Ser.

E estas pessoas que ofertaram seus préstimos passaram também a se sentirem gratos e ambos comprometidos um para com o outro pelo simples fato que ambos além de terem se auxiliado deixaram, uma marca em suas vidas.

Por fim, quanto às eleições que estão por vir, esperamos, mesmo que a esperança seja pouca quanto a isso, que tanto os candidatos como os eleitores procurem ver a sociedade não com olhos tolhidos por uma visão meramente utilitarista e oportunista e bem como não se prendam a um messianismo chinfrim que prometa o Éden aqui nos trópicos, atitudes as quais, são típicas de homem voltado para a sua sombra, para o seu “ser” exterior.

Deste modo, não tomemos a nossa cobiça e o nosso egoísmo como medida para nossas escolhas e especialmente a que está por vir, visto que, as conseqüências sejam elas positivas ou negativas, não cairão somente sobre você e seus pares mas sobre todos nós. Por isso, pensem bem no preço que atribuiremos a nossa palavra, a um possível conchavo, a uma promessa e coisas do gênero, pois estes atos serão nada mais que o valor da nossa pessoa.

 

 


PT — O Partido dos Traficantes

 

Estava eu no dia 10 de julho de 2002, como de costume, durante o horário do almoço, a assistir televisão para assim dar uma olhadela no noticiário e eis que vejo a senhora Governadora do Estado do Rio de Janeiro a dar uma declaração a imprensa onde apresentava o programa de seu Governo para controlar a Violência endêmica que assola o Estado o qual governa.

De olhos e ouvidos atentos peço silêncio para minha querida mãe para ouvir a solução salvífica e eis que ela diz que seu governo encampará como medidas para reduzir a violência nos morros, programas de cunho social e profissionalizante. Diante de tal declaração, eu não sabia se ria do dito ou se chorava.

Para completar, logo a tarde fui a uma reunião onde se iria discutir meditas para amenizar o problema com os narcóticos em no município onde presto serviço e ao invés de a polícia se dispor a acabar com o problema, constantemente falavam aquela frase programada: “temos que ver que o problema das drogas é um problema social... e bla bla bla.” É óbvio que o delegado não mencionou os casos em que os policiais militares deste Município apreendiam narcóticos com pequenos traficantes e iam consumir com o putedo (perdoem a expressão) e muitas vezes na própria delegacia.

Doravante, quando a desigualdade social, esta não é em si a causa prima da violência e do tráfego, mas sim a circunstância em que o problema ocorre visto que, a muitas pessoas envolvidas até os gorgomilos em todos os grupos sociais e, aliás, tomando como exemplo a reunião que participei onde o delegado que havia afirmado com toda a pompa populista que eram as famílias mais carentes que eram responsáveis pelo tráfico, uma professora logo em seguida lhe cala a boca afirmando que os casos de alunos que estão envolvidos com isso eram filhos de famílias de classe média.

Quando a este segundo caso, estava na cara e na pança do delegado que o mesmo não estava a fim de se incomodar, visto que lutar contra bandido é um trabalho extremamente incômodo e ficar na delegacia a jogar paciência no computador para uma pessoa do seu intelecto, uma atividade bem mais interessante.

Mas o que me assustou mesmo foi à postura da Governadora que é filiada a um partido que se auto declara legítimo representante dos interesses da classe trabalhadora. Os trabalhadores honestos que vivem nos morros, nas favelas do Rio de Janeiro, não estão a clamar por programas sociais e profissionalizantes para acabar com o tráfico visto que quem está envolvido com este não está a procura de uma profissão. O que os trabalhadores que moram nestas áreas é que a limpem desta escória que são os traficantes.

Todavia, a impressão que temos é que a Governadora e bem como o delegado de Foz do Jordão acham (porque provavelmente não pensam) que ser pobre é sinônimo de ser bandido. Obviamente que isso assim o é apenas na cabeça doentia destas duas personas e infelizmente na de muitos outros.

É curioso quando vejo o noticiário na televisão onde os repórteres declaram que as pessoas que morram na redondeza de tal favela não conseguiram dormir devido ao tiroteio que houve durante a noite com se as pessoas honestas (que aliás não são poucas) que vivem na favela conseguissem dormir como anjos.

E mais, se não bastasse isso, hoje dia 12 de julho de 2002, será realizada uma destruição em massa de armamentos apreendidos pela polícia como um ato simbólico contra a crescente violência. É bom desarmar a população mesmo para os cordeiros ficarem nas garras dos lobos e de bandeja, pois após esta reportagem lá aprece outra onde o exército esta sofrendo problemas com seu orçamento a ponto de até mesmo extinguir alguns de seus grupos de ação.

As forças armadas à mingua, a população se desarmando, as forças policiais corrompidas. Tudo do jeitinho que o diabo gosta com os representantes públicos à frente e estes com seus atos aprovados pela população dita esclarecida.

 

 


A Mamadeira de Stalin

 

Et si quis audierit verba mea et non custodierit, ego non iudico eum; non enim veni, ut iudicem mundum, sed ut salvificem mundum.
(João, 21;47)

 

A algum tempo, fiz um curso de pós-graduação na área de educação e em meio a uma discussão quanto a política nacional, discussão a qual era dominada por cacoetes marxistas, resolvi levantar um aspecto capcioso da propaganda política e em especial, a do Sacrossanto PT. Na época passava-se aquelas chamadas com cenas como uma senhora vestida de trapos a dar de mamar a uma criança e uma adolescente que estava indo para a boemia via aquela cena e ficava em um profundo silêncio reflexivo. Aí eis que surgia um senhor de barba grisalha e dizia: “se cenas como esta tocam você...Você também é meio PT.”

Logo em seguida argumentei para os meus distintos colegas que isso nada mais era que uma técnica gramisciniana onde se sobrepunha o sentimentalismo as categorias lógicas. Em outras palavras, se comover com a desgraça do próximo não é sinônimo de ser petista. Eu posso ser Budista, Muçulmano, Católico, Liberal, ... e me comover com a desgraça humana não pelo fato de pertencer a um grupo mas pelo fato de ser uma pessoa sensível e empática para a tragédia que ocorre a minha volta.

Mas uma alma despreparada, pode muito bem correlacionar este sentimento com a identificação com esta coletividade sem perceber que este grupo de seres sensíveis à tragédia humana defendem com todos os dentes a Tirania Castrista como um mundo ideal e os narcogerrilheiros das FARC como se estes fossem centuriões do Arcanjo Gabriel.

Doravante, após uma breve exposição semelhante a esta deu-se um pequeno momento de silêncio quando ouvi o seguinte argumento: “Ah! Mas a direita também faz isso!”, e o restante da multidão no auditório concordou de forma enfática.

Neste momento, silenciei-me pois já havia até aquela altura do curso sido mordido várias vezes por aquela parte de Behemot que se fazia presente (pois até de fascista e agente da CIA eu fora chamado em uma outra ocasião), mas esta atitude mais que comprovou algo que a tempos eu tinha certeza mas que nunca havia visto um exemplo tão enfático como este: o marxismo é uma doutrina para nenezões! E não é atoa que deixei-me fascinar por ela em minha adolescência.

Como assim? Ora, vejam só a resposta do “camarada” em outras palavras: se o fulano pode eu também posso (não podemos nos esquecer do beicinho)! Cansei de ver este tipo de comportamento em alunos de quinta série do ensino fundamental mas em um grupo de adultos que tinham suas idades variando entre 24 e 50 anos, foi a primeira, ou não?

Bem, basta nós voltarmos nossos olhos para as manifestações de rua que estão a ocorrer em nosso país e o que veremos é um bando de bebês chorões, como células do Behemot clamando por um afago do Leviathan.

Não digo que o ato de reivindicar seja algo incorreto, pelo contrário. Mas, desde que se saiba claramente o que se está reivindicado visto que, o debate democrático deve se fazer encima de argumentos concretos e não através de multidões embebidas em um sentimentalismo barato. Aliás, estas manifestações tanto em recintos restritos como em meio as avenidas são mais uma ameaça a ordem democrática do que um aspecto saudável de sua cútis.

E digo mais! Uma sociedade justa só se faz se todos os indivíduos que a compõe se reconhecerem como falhos, como pecadores e procurarem corrigir as suas limitações para melhor servir ao próximo. Não para querer condená-lo, mas sim, para servir de exemplo, mostrando que só se faz um mundo melhor com pessoas de boa vontade e não com multidões histéricas.

 

 


A “marvada” Carne

 

Nós, seres humanos somos facilmente corruptíveis por natureza. Somos egoístas muitas das vezes, cobiçamos o que não é de nossa posse, e em muitos casos, somos hipócritas, por acreditarmos que estes adjetivos cabem apenas na figura alheia, principalmente se não formos com sua feição, mas nunca na nossa. A tendência aos vícios da carne e do espírito são inerentes ao nosso Ser e, como tudo que constitui o nosso modo de existir, e no caso a nossa tendência de nos corromper, só pode ser inibida a partir do momento em que tomamos a decisão de nos corrigir, policiando-nos deste grande vício que o hábito de nos darmos bem em toda e qualquer circunstância, não nos importando o custo e muito menos quem venha a pagar a conta.

E assim, muitas das pessoas que encabeçavam as ditas campanhas pela moralização da política e mesmo os membros das CPIs de safados que, procuravam enquadrar outros parlamentares, também safados, mais se parecem com aquelas mulheres obesas que ficam vendo aqueles comerciais na televisão de produtos miraculosos para deixá-las uma tetéia, e que os compram para colocar no canto do seu quarto, para servir de cabideiro de roupa suja. Ou então, se prometem para si mesmas: segunda-feira eu começo o meu regime, desde que minha “querida” amiga comece também.

Da mesma forma patética, inúmeras pessoas, como nós, crêem nos poderes salvadores da ação dos agentes Estatais, ou de pessoas que almejam ter este poder em suas mãos, Estatólatra de plantão, para acabar com a corrupção que habita o corpo canceroso do Leviatham. Mas, do mesmo modo que em um comercial de produtos para emagrecer, no meio político se apresenta uma dita plataforma de governo, como a melhor das soluções, quando não dizem que é a única. E o pior de tudo é que muitos destes distintos senhores, e senhoras, acreditam piamente que estão fazendo algo de bom para a sociedade.

E este tipo de mentalidade tribal, primitiva mesmo, foi certa vez descrito por Jung quando em visita a África, e perguntou para um ôba qual a diferença entre o bem e o mal. Este ficou algum tempo em silêncio e logo lhe respondeu que: “Quanto roubo a mulher de meu vizinho, isso é bom. Quando ele rouba uma de minhas mulheres, isso é muito ruim.”

E nós, em muitas de nossas ações e percepções da realidade, temos esta mesma noção tribal de bem e mal, e deste modo, estando afastados de uma noção abstrata destas duas categorias metafísicas, torna-se difícil erradicar os males que habitam o âmago de nosso ser, pois, quando procuramos fazer palpável algo que é apenas inteligível, acabamos por cair em maniqueísmo, e deste modo, a nos equivocar mais e mais, quanto a nossa própria natureza e bem como com o que é da natureza de outrem e os males que fustigam a todos nós, visto que, placebo não é o melhor tratamento um tumor de câncer, como também de nada adiante achar que o seu é benigno que isso, não é sinônimo de cura, ou como diz meu amigo Ricardo Bergamini: quebrar o termômetro não extirpa a febre.

Do mesmo modo que não se acaba com os males que degradam nossa sociedade com um bando de corrompidos tentando curar outro tanto. Necessitamos, como nos lembrava Capistrano de Abreu, apenas de um pouco de vergonha na cara, e nada mais.

 

 


E agora José?

 

A algum tempo atrás, quando estava cursando um curso de pós-graduação latu senso, tive um professor que havia me taxado de fascista, imperialista e até mesmo de agente da CIA (pobre de mim), devido eu ter sido o único a expressar algumas opiniões em suas aulas e que, por sua vez, divergiam das suas que eram baseadas em um marxismo vulgar.

Entre as opiniões que eu havia expressado em suas aulas, destaco aqui as observações positivas que fiz quanto à posição do sociólogo italiano Domenico de Masi, onde o mesmo em uma entrevista concedida ao Roda Vida, este havia sido interpelado por um dos entrevistadores sobre uma possível solução para o problema do analfabetismo gritante de nosso país. Este havia dito que, se toda a pessoa que tivesse uma formação acadêmica procura-se socorrer uma pessoa que desconhece-se as letras, em um prazo de aproximadamente dois anos poderíamos acabar com o analfabetismo nestas terras de Pindorama.

Este parou a fita e pediu para que nós déssemos um parecer quando ao que fora dito. Como ninguém falou, lá fui eu mais uma vez para apanhar, e disse que esta seria a atitude mais sensata que a sociedade brasileira tomaria, quebrando com o mito hegeliano de que o Estado é o fim de tudo, como se este tivesse em sua alçada a responsabilidade da resolução de todos os males que assolam a nossa sociedade, como se ele não fosse o maior mal gerado pela iniqüidade de nossas almas. Não preciso nem dizer os adjetivos que recebi por ter dito isso, não é? Mas, o que ele disse que aqui posso reproduzir que tenha importância, é aquela velha ladainha de que isso é responsabilidade do Estado, como se este pressuposto fosse um valor perene e imutável.

Passado algum tempo, gostaria muito de hoje me encontrar com este professor, petista de carteirinha, para lhe perguntar o que ele pensa a respeito do plano do Ministro da Educação Cristovam Buarque, para erradicação do analfabetismo. Será que agora que o PT está no poder, uma atitude similar deva ser tida como ótima? E agora José: aquela ladainha toda continua válida ou a garrafa do vinho azedo petista mudou mais uma vez de garrafa e rótulo?

Por que será que as idéias dos adversários políticos são sempre tidas como uma possibilidade de tragédia, mas, quando a canhota está no alto da torre, estas passam a serem apontadas como soluções salvíficas?

É. Enquanto imperar este oportunismo palanqueiro em meio aos nossos políticos tanto da destra (ou melhor, os que se dizem ou são tidos como tal) como da sinistra, não poderemos ter muita esperança quanto ao futuro de nossa Pátria Brasilis, pois é nas mãos destes tipos humanos que está a educação da maioria da população de nação.

O que esperar do amanhã quando as ovelhas são observadas por chacais em pelo de cão pastor?

 

 


Terra de Cães e Lobos

 

As sociedades democráticas sempre se vêem ameaçadas pela própria forma de se constituir. Pelo fato destas serem sociedades abertas, onde a liberdade de expressão é um direito de fato, é inevitável que nos deparemos sempre com demagogos de plantão, os quais desejam a todo e qualquer custo solapar as bases de nossas liberdades para assim passar a governar de acordo com o peso de sua mão sob a pena que empunhará no redigir de seus decretos e vetos.

E, como o homem tem uma forte tendência moralista, ou melhor, falso moralista, como nos lembra Frank Hyneman Knight, estes demagogos de plantão sempre procurarão para assim concretizar os seus objetivos, culpar alguém pelos males que fustigam o povo ao qual se propõe a governar. O bom demagogo, ao contrário do bom pai e do bom professor, é aquele que fala não aquilo que você deve ouvir, mas simplesmente aquilo que você quer ouvir para alentar nossos desejos. Não é aquele que diz o que você deve fazer, mas simplesmente aquele que lhe diz que irá fazer tudo por você e para você.

E mais. Estes sempre dizem que nunca deixaram de lutar pela liberdade e em nome dela e que, em hipótese alguma admitiriam que esta fosse violada por outrem. Todavia, uma das primeiras medidas tomadas por estes tipos humanos é o de calar toda e qualquer voz que ouse dizer que ele esteja fazendo algo de errado ou, que ele não esteja a cumprir com o que ele havia proposto antes de deter em suas mãos as rédias desta carruagem nação.

Ou, como nos lembra o autor acima citado, em sua obra Inteligência e Ação Democrática, que: “...quanto mais a sociedade enfatiza a liberdade, a mobilidade, a mudança e a diversidade, mais se multiplicam e se elaboram as funções governamentais, e mais se caminha, inevitavelmente, nos detalhes, na direção de um governo por meio de homens e não de leis”. Em português bem tosco, estes, em nome da ampliação das liberdades passam cada vez mais a governar pela autoridade de seus arbítrios do que pela autoridade da lei e passam, a criar organismos estatais para se certificar, ou melhor, policiar os cidadãos para verificar se os cidadãos estão realmente caminhando para o caminho que ele aponta como sendo o da libertacion, como é o caso de Cuba com os seus Comitês Revolucionários.

Quantos excessos e ultrajes em nome da liberdade. E quantos mais teremos que ouvir e até mesmo sentirmos em nossa própria carne, pois sempre em nome do pão que alimenta e sustenta a carcaça de milhares e que a eles lhes falta, outros tiranos emergirão em meio as multidões insanas e cegas pelos seus próprios desejos por estarem imersas na compulsão da vontade da multidão, esquecendo, ou mesmo desconhecendo, da força do logos, da razão que tem o poder de iluminar e libertar sua alma da escuridão que envolveu as suas vistas, pois, nestes momentos sempre nos esquecemos de que todos os homens ditos libertários que desejam o poder em suas mãos, não passam de propensos tiranos, que se aproveitam de nossa ignomia e de nossas fraquezas para edificar o mundo que mais lhe apraz em detrimento dos indivíduos e seus respectivos planos, mas sempre fazendo isso em nome do “bem” da maioria, é claro.

E mesmo se todos os cidadãos fossem cultos, será que nós estaríamos livres destes crápulas e de sua corja? Será que uma Assembléia Legislativa que fosse compostas apenas por homens tão Virtuosos e Sábios como o fora Sócrates, não deixaria de cair no populacho que temos de ver em nossas Câmaras Municipais?

A nossa democracia é assim: frágil e débil como nós, que ao nos vermos no reflexo de um espelho e, a única coisa que somos capazes de enxergar é nosso tosco reflexo. Apenas uma imagem e um conjunto vazio, que por sua vez é a base de nossa sociedade.

 

 

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Abril 2003

 

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